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Aspectos

Socioantropológicos

Antropologia e Educação
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
LÍSIA M. MACEDO SOARES
AUTORIA
Lísia M. Macedo Soares
Sou formada em Psicologia, especialista em Gestão da Saúde Mental
e Mestre em Administração. Tenho experiência técnico-profissional como
docente nos cursos de Enfermagem, Ciências Contábeis, Engenharias
e Administração. Nos cursos de graduação, tive o prazer de lecionar a
disciplina Estudos Socioantropológicos. Na minha última experiência,
fundei um núcleo de Atendimento Educacional ao discente – NAED, no
qual atuei como psicóloga, oferecendo aos alunos apoio psicopedagógico.
Sou apaixonada pelo que faço e adoro compartilhar minha experiência
de vida com aqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso
fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores
independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você, nesta fase de
muito estudo e trabalho. Conte comigo!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

OBJETIVO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova compe- novo conceito;
tência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou dis-
mento; cutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Antropologia e seu Campo de Estudo................................................ 10
O Nascimento da Antropologia.............................................................................................10

O que é Antropologia ............................................................................................... 13

Campo de Atuação da Antropologia.............................................................. 13

Antropologia e Ciências Afins................................................................................................. 15

Etnocentrismo............................................................................................... 18
O que é Etnocentrismo ?............................................................................................................ 19

Relativismo Cultural................................................................................... 23
Relativismo Cultural: Conceito e Aplicabilidade.......................................................23

Antropologia Educacional........................................................................ 27
Conexão entre Antropologia e Educação......................................................................27

Antropologia Educacional: Suas Origens.......................................................................29


Aspectos Socioantropológicos 7

02
UNIDADE
8 Aspectos Socioantropológicos

INTRODUÇÃO
Por que é importante estudar Antropologia? Porque é uma ciência
que pesquisa o homem em sua totalidade, visa compreender os aspectos
biológicos e culturais da sua existência. Portanto, a Antropologia está
relacionada a entender a pluralidade dos modos de viver da humanidade,
bem como conhecer as suas crenças, evolução da espécie, rituais, sua
cultura e comportamentos na sociedade. Etimologicamente, a palavra
antropologia deriva do grego anthropos (homem) e logos (razão/lógica),
ou seja, estudo do homem. Sua marca principal consiste em compreender
as semelhanças e as diferenças físicas, sociais e culturais entre grupos
humanos (MARCONI; PRESOTTO, 2010). Nesta unidade, você irá assimilar
a definição da Antropologia, seus conceitos, objeto de estudo, as técnicas
de pesquisas e também a contribuição da Antropologia Educacional para
a prática pedagógica. Entendeu? Ao longo desta unidade letiva, você vai
mergulhar nesse universo. Avante!
Aspectos Socioantropológicos 9

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à UNIDADE 2- ANTROPOLOGIA E
EDUCAÇÃO. Nosso objetivo é auxiliar você a alcançar os seguintes objetivos
de aprendizagem, até o término dessa etapa de estudos:

1. Definir o conceito de antropologia, entendendo seu objeto de


análise.

2. Definir os conceitos antropológicos do etnocentrismo e do


relativismo cultural.

3. Aplicar as técnicas de pesquisa da antropologia.

4. Entender a contribuição da antropologia educacional na prática


pedagógica.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento?


Ao trabalho!
10 Aspectos Socioantropológicos

Antropologia e seu Campo de Estudo

OBJETIVO:

A Antropologia pode ser definida com uma ciência que


estuda a humanidade, suas convicções, seu comportamento
e a sua cultura. De acordo com Marconi e Presotto (2010),
visa compreender a existência do homem na sua totalidade,
dividido como membro de grupos organizados, com a sua
história, crença, linguagem e também na evolução da sua
espécie.

Ao término deste capítulo, você será capaz de entender as


semelhanças e a diversidade existente nas inúmeras culturas humanas.
Será fundamental para o exercício de sua profissão. As pessoas que não
aceitam a heterogeneidade do homem têm problemas ao se depararem
com o oposto. E então? Motivado para desenvolver competência? Então
vamos lá. Avante!

O Nascimento da Antropologia
Desde a antiguidade, o homem sempre questionou e observou a si
mesmo e a seus semelhantes. A descoberta da América pelos europeus
- o Novo Mundo marca a origem da reflexão antropológica sobre os
habitantes que viviam naquelas terras, ainda, desconhecidas. Pode-se
afirmar que o contato com os povos distintos provocou um dos primeiros
questionamentos antropológicos: E povos pertencem à humanidade?
Têm alma?

Naquela época, utilizava-se a religião para regulamentar o indivíduo


como humano. As primeiras observações sobre os povos “distantes” eram
trazidas pelos viajantes e missionários jesuítas. Além do critério religioso,
os europeus utilizaram, a partir do século XIV, alguns julgamentos para
definir, se os índios encontrados eram humanos. São eles: andavam nus
ou vestidos com “peles de animais”; se alimentavam com “carne crua” e
utilizavam uma linguagem que não era compreendida, denominada como
“uma língua ininteligível”.
Aspectos Socioantropológicos 11

Percebe-se, portanto que, o encontro dos europeus com os índios


marcam a grande dificuldade humana de aceitar e entender a disparidade
entre os seus semelhantes. Na carta intitulada História das Índias, Cornelius
de Pauw (1955) escreve que os índios por sua natureza são ociosos, sujos,
de má condição, mentirosos, pecadores e que por isso, o Senhor permitiria
que fossem banidos da terra.

Por outro lado, havia também curiosidade por parte dos índios
sobre os comportamentos, vestimentas e crenças dos desbravadores. O
autor Lévi- Strauss (1961, apud Laplantine, 2003) destaca que enquanto os
espanhóis pesquisavam, se os índios tinham ou não uma alma, e os índios
afundavam os corpos dos europeus na água, por um longo período, e
observavam se os seus cadáveres também iriam passar pelo processo
de putrefação, como aconteciam com os corpos dos seus semelhantes.
Percebe-se, portanto, que a curiosidade de classificar os sujeitos europeu
e o índio como humanos ou que não pertenciam aos dois grupos,
simultaneamente, ou seja, aquilo que é diferente, sempre instigou o
homem a encontrar respostas.
Figura 1- Costumes indígenas

Fonte: Pixabay
12 Aspectos Socioantropológicos

Em meados do século XVIII, a versão de que os selvagens eram de


“natureza má” é lentamente transformada em possível “bom selvagem”. Os
primeiros viajantes começaram a destacar características positivas sobre
os indígenas, classificando-os como pessoas bonitas, mansas, de corpo
elegante, ingênuos, afáveis, liberais e felizes. Desse modo, a imagem que
os europeus tinham com as diferenças entre os indígenas começaram a
oscilar entre dois pêndulos: uma vertente positiva – representada pelo
encantamento pelo exótico e outra, negativa – como uma rejeição à
disparidade.

Diante desse paradoxo, iniciaram-se vários questionamentos,


entre os quais, um merece destaque que é levar em consideração que a
civilização indígena não é inferior ou superior, e sim, diferente. Os viajantes
do século XVI e XVII coletavam “curiosidades” sobre eles. Já no século
XVIII, a preocupação voltou-se para de que forma se poderia coletar e
interpretar o que foi coletado dessas curiosidades. Com a Revolução
Industrial inglesa e a revolução política francesa, houve mudanças
significativas na sociedade francesa. No século XIX, em um contexto
geopolítico novo, período colonial e emigração em massa, a Antropologia
deu os primeiros passos para ser uma disciplina científica.

Com os progressos da civilização, o indígena, antes denominado


como “selvagem”, tornou-se o “primitivo”, ou seja, o antecessor do
civilizado. Dessa forma, a Antropologia destina, inicialmente, os seus
estudos ao conhecimento do primitivo, da origem humana, considerando
o progresso técnico e econômico das cidades coloniais como prova da
evolução histórica dos europeus. Dessa forma, os pioneiros pesquisadores
definiram como objeto de pesquisa as sociedades primitivas e não
ocidentalizadas.

EXPLICANDO MELHOR:
Vale ressaltar que, na segunda metade do século XIX,
ainda não existiam antropólogos. Os pesquisadores não
eram especialistas e se julgavam como observadores
conscientes, guiados por cientistas preocupados em
criticar fontes.
Aspectos Socioantropológicos 13

Deduz-se que os estudos rudimentares da Antropologia consistiam


em analisar grupos “diferentes” e distantes da sua cultura. O primeiro
objeto de estudo da corrente antropológica foram as sociedades
primitivas e o método de pesquisa, inicialmente utilizado, foram os dados
coletados pelos observadores e, posteriormente, instaurou-se a técnica
do trabalho de campo que consiste no contato intenso e prolongado entre
o pesquisador e as pessoas ou grupos, escolhidos para serem estudados.
Dessa forma, o trabalho do antropólogo consiste em estar em contato
com a pessoa que é diferente e transformar essa diferença em um fazer
científico.

O que é Antropologia
Pode-se definir Antropologia em uma abordagem mais ampla da
seguinte maneira:
[...] ciência que estuda o homem, suas produções e seu
comportamento. O seu interesse está no homem como
um todo [...]. Tenta compreender a existência humana em
todos os seus aspectos, no espaço e no tempo, partindo
do princípio de uma estrutura biopsíquica. (MARCONI;
PRESOTTO, 2010, p. 2)

A Antropologia iniciou os seus estudos, visando os grupos


primitivos “diferentes”, aqueles que não pertenciam à sociedade ocidental.
Acreditava-se que ao entender a sua linguagem, comportamento, modo
de viver, estariam identificando a origem humana, como o ser humano
vivia antes da civilização.

Campo de Atuação da Antropologia


Portanto, o objetivo da Antropologia, no estudo do homem em
sua plenitude, avalia o ser como biopsicocultural – como ser biológico
pensante e como produtor de cultura e elemento integrante da sociedade.
Como a esfera de investigação é extensa, a Antropologia é dividida em
dois campos de atuação: Antropologia Física ou Biológica e Antropologia
Cultural.

Na Antropologia física ou biológica são investigadas as características


físicas do homem, que compreende a estrutura anatômica, sua origem e
14 Aspectos Socioantropológicos

evolução, a estrutura, os processos fisiológicos e características raciais


do ser humano, ancestral e civilizado. Como uma ciência interdisciplinar,
a Antropologia se apoia na Medicina, Fisiologia, Zoologia, entre outras
(MARCONI ; PRESOTTO, 2010).

Para facilitar o entendimento do campo de atuação da Antropologia,


vejamos a Figura 2 que mostra as áreas e subáreas da ciência.
Figura 2 – Campos de atuação da Antropologia Física ou Biológica

Fonte: Elaborado pela autora com base em Marconi e Presotto (2010).

Verifica-se, portanto que, a Antropologia Física ou Biológica é


decomposta em cinco subáreas: Paleontologia humana – estuda a
origem e evolução humana por meio dos fósseis; Somatologia – avalia
as diferenças individuais físicas e sexuais; Raciologia – classificação
da espécie humana em raça; Antropometria – utiliza-se de técnicas
quantitativas para medir o corpo humano; Estudos comparativos do
crescimento – ampliação da somatologia com o intuito de conhecer as
diferenças grupais relativas ao crescimento convergentes com atividade
física, alimentação etc.

A Antropologia Cultural consiste na análise do homem como ser


promotor de sua própria cultura. A sua essência abarca conhecer e
analisar o conhecimento cultural humano, adquirido por aprendizado,
em todas as suas proporções. É considerado o campo mais extenso na
ciência antropológica.

Observe a Figura 3, representando as subáreas do campo de


atuação da Antropologia Cultural.
Aspectos Socioantropológicos 15

Figura 3 – Campos de atuação da Antropologia Cultural

Fonte: Elaborado pela autora com base em Marconi e Presotto (2010).

O campo da Antropologia Cultural é subdividido em sete subáreas:


a Arqueologia – análise das culturas do passado, de reestruturação
de amostras duráveis ao longo do tempo; Etnografia – descrição/
conhecimento material e imaterial das sociedades que apresentam
culturas simples e “diferentes”; Etnologia – consiste na análise,
interpretação e comparação entre múltiplas culturas, ressaltando suas
semelhanças e diferenças; Linguística – pesquisa a linguagem (meio de
comunicação) em culturas diversas; Folclore – avalia a cultura autêntica
de grupos humanos urbanizados ou rurais; Antropologia Social – explora
os processos culturais e da estrutura social das instituições e sociedades;
Cultura e personalidade – examina as inter-relações entre cultura e
personalidade do indivíduo.

É possível perceber a variedade dos campos de atuação da


Antropologia que está correlacionada com diversos outros campos do
saber, o que fundamenta a sua eficiência como ciência ao estudar o
homem em sua totalidade.

Antropologia e Ciências Afins


Como já detalhado, a Antropologia para realizar um estudo do ser
humano integrado busca fundamentação teórica e prática em outras
ciências.

Vale ressaltar que existem outras disciplinas que também tem o


ser humano como objeto de estudo. Sociologia, Psicologia, Economia,
Política, Geografia e Biologia estão entre as ciências que perpetuam uma
relação multidisciplinar com a Antropologia. Todas emprestam e trocam
16 Aspectos Socioantropológicos

dados de pesquisa, mutuamente, respeitando a fundamentação teórica


de cada uma delas.

O Quadro 1 irá detalhar a contribuição, a importância e a correlação


de cada área para o campo do saber da Antropologia.
Quadro 1 - Antropologia e sua relação com ciências afins

- Enfatiza o conceito de sociedade e compreensão


Sociologia
dos fatos práticos e presentes.
- Interpretação das diferenças individuais que
Psicologia determinam os inúmeros tipos de personalidade
básicos da cultura.
- Avaliar a organização econômica de grupos, com
Economia
base no seu trabalho e recursos disponíveis.
- Compreender a organização política de um grupo
Política
(poder, ordem e integridade).
- Investiga a reconstrução de culturas passadas,
História revelando fenômenos que estão ligados à origem
humana.
- Adaptação e modificação do homem em seu meio
Geografia
ambiente físico.
Fonte: Elaborado pela autora com base em Marconi e Presotto (2010).

IMPORTANTE:

Apesar da Antropologia ser reconhecida como ciência do


homem, a cooperação de outras ciências nas suas análises
é de extrema importância, já que estudos de problemas
específicos, relacionados ao ser humano, requisitam
a utilização de técnicas de diálogo entre as ciências,
contribuindo para agregar valor de dados mensuráveis
e embasamento teórico reflexivo, acerca do estudo mais
detalhado e profundo sobre o indivíduo.
Aspectos Socioantropológicos 17

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo


tudinho? Agora, só para termos certeza de que você
realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo,
vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido
que a Antropologia é uma ciência que estuda o ser humano
em sua totalidade, ou seja, visa examiná-lo em todas as suas
dimensões bio-psíquico-social. Foi relatado, também, no
capítulo, um breve histórico do surgimento da Antropologia
no qual explicamos a definição do seu objeto de estudo
que foram os povos indígenas. A Antropologia surgiu
para explicar o “outro” distante, aquilo que era “diferente”
da civilização europeia, ou seja, entender como existiam
pessoas que se alimentavam, se vestiam, se reproduziam,
tinham rituais religiosos excêntricos e se comunicavam de
outra forma. Em seguida, foram demonstrados os diversos
campos de atuação da Antropologia como ciência e, por
fim, foi explicitada a sua inter-relação com outras ciências
que contribuem para uma compreensão técnico-científica
mais precisa do homem e seu meio.
18 Aspectos Socioantropológicos

Etnocentrismo

OBJETIVO:

Ao término deste capítulo, você será capaz de compreender


o conceito de etnocentrismo, de relativismo cultural, e por
fim, correlacionar os dois temas com exemplos práticos da
sociedade contemporânea..

Já foi abordada a dificuldade que o ser humano apresenta desde


a época da colonização em aceitar a diferença. A intolerância em
admitir o “outro”, com suas particularidades, se enquadra no conceito de
etnocentrismo, definido por Rocha (1988) como uma visão de mundo no
qual um grupo considera os seus valores, modelos e definições no centro
de tudo.
Figura 4 - Olhar etnocêntrico

Fonte: Freepik (2019).


Aspectos Socioantropológicos 19

O que é Etnocentrismo ?
O etnocentrismo pode ser definido como um choque cultural
entre grupos diferentes. A dificuldade em encarar e aceitar o excêntrico
acompanha o homem desde a sua origem. O autor Rocha (1988) elucida o
etnocentrismo da seguinte forma:
De um lado, conhecemos um grupo do “eu”, o “nosso”
grupo, que come igual, veste igual, gosta de coisas
parecidas, conhece problemas do mesmo tipo, acredita
nos mesmos deuses, [...]. Aí, então, de repente nos
deparamos com um “outro”, o grupo do “diferente” que, às
vezes, nem sequer faz coisas como as nossas ou quando as
faz é de forma tal que não reconhecemos como possíveis.
E, mais grave ainda, este “outro” também sobrevive à sua
maneira, gosta dela, também está no mundo e, ainda que
diferente, também existe. [...] O grupo do “eu” faz, então, da
sua visão a única possível ou, mais discretamente, se for
o caso, a melhor, a natural, a superior, a certa. O grupo do
“outro” fica, nessa lógica, como sendo engraçado, absurdo,
anormal ou ininteligível. (ROCHA, 1998, p.5.)

Portanto, é possível perceber a falta de compreensão do ser


humano com a disparidade entre os seus semelhantes. Essa visão de que
a maneira como o “nosso” grupo se comporta, veste e se comunicam é a
melhor e única. O que vem do “outro” é estranho, incompreensível e até
mesmo, considerado errado e fora da normalidade.

EXPLICANDO MELHOR:

Lembra-se de como os europeus interpretaram o estilo de


vida e hábitos dos índios americanos? O julgamento era
como se eles não fossem humanos, apenas pelo fato de se
vestirem, se alimentarem e se comunicarem de uma forma,
totalmente, diferente da civilização europeia.
20 Aspectos Socioantropológicos

O etnocentrismo defende a ideia de que as diferenças do grupo


A em relação ao grupo B, tornam-se padrões de julgamentos no qual o
primeiro se considera superior ao segundo e que pode ser intitulado como
estranho, sem inteligência, inferiorizado, entre outras características.
Portanto, o etnocentrismo analisa o outro, conforme sua visão e de seu
grupo de valores culturais e morais, o que é diferente do ponto de vista é
taxado com o julgamento de inferioridade.

REFLITA:

Atualmente, qual atitude da nossa sociedade


contemporânea pode ser classificada como etnocêntrica?

A atitude ou visão etnocêntrica ocorre, quando há um bloqueio de


aceitação da heterogeneidade do outro. Dessa forma, o preconceito está
intimamente, relacionado ao etnocentrismo. Quando se julga que a cultura
dos índios no Brasil é “atrasada” porque não sabe utilizar a tecnologia,
ou quando consideramos que as pessoas do nordeste brasileiro são
“intelectualmente menos favorecidas” que a região do sudeste, estamos
praticando o etnocentrismo.
Figura 5 - Índios da floresta amazônica

Fonte: Pixabay
Aspectos Socioantropológicos 21

Portanto, todas as vezes que não se respeitam as características


particularizadas do outro, a individualidade, o seu sotaque, a sua forma
de vestir, o seu jeito de falar é considerada uma prática etnocêntrica.
Atrelado a isso, temos exemplos atuais de bullying, machismo, racismo,
entre outros.

Outro exemplo bem contemporâneo sobre etnocentrismo são os


discursos do ex-presidente dos Estados Unidos – Donald Trump. Todas as
opiniões, conceitos, ações e estilo de vida que se distanciam do sistema
de valores do presidente são taxados de maneira preconceituosa. Trump
rotulou os mexicanos de “criminosos” e instaurou no seu governo uma
batalha contra os imigrantes ilegais, chamando-os de “animais”.
Figura 6 – Discurso etnocêntrico

Fonte: Pixabay
22 Aspectos Socioantropológicos

De acordo com Rocha (1988):


Nossas próprias atitudes frente a grupos sociais nas
grandes cidades são, muitas vezes, repletas de atitudes
etnocêntricas. Rotulamos e aplicamos estereótipos por
meio dos quais nos guiamos para o confronto cotidiano
com a diferença. Portanto, há limite tênue entre a aceitação
do outro com suas particularidades e o preconceito
explícito com a disparidade entre grupos sociais. (ROCHA,
1988, p.9)

ACESSE:

Para entender melhor o que é etnocentrismo, assista ao


vídeo Cultura: etnocentrismo e relativismo cultural, clicando
aqui.

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu


mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de
que você realmente entendeu o tema de estudo deste
capítulo, vamos resumir algo do que vimos. Você deve
ter compreendido a definir o conceito de antropologia,
entendendo o seu objeto de análise. Definir os conceitos
antropológicos do etnocentrismo e do relativismo cultural.
Aplicar as técnicas de pesquisa da antropologia e deve ter
compreendido a contribuição da antropologia educacional
na prática pedagógica.
Aspectos Socioantropológicos 23

Relativismo Cultural

OBJETIVO:

Ao término deste capítulo você entenderá o que é relativismo


cultural em uma linguagem simples e que ocorre quando
há a compreensão do “outro, sem julgamento de valores.
É uma ideia que se contrapõe a do etnocentrismo. Os
autores Marconi e Presotto (2010, p. 17) destacam que “este
princípio permite ao observador ter uma visão objetiva das
culturas cujos padrões e valores são tidos como próprios e
convenientes nos seus integrantes”, ou seja, é visualizar e
respeitar o “outro” e sua cultura com suas particularidades,
sem hierarquizar as diferenças encontradas como melhor
ou pior, superior ou inferior etc..

Relativismo Cultural: Conceito e


Aplicabilidade
O conceito de relativismo nos ensina que uma cultura deve ser
compreendida nos seus padrões de comportamentos e regras morais
únicos, mesmo que ao olhar dos “outros” grupos, tais esquemas de vida
se pareçam “estranhas” ou “exóticas”.

A significância do relativismo para a Antropologia consiste em


respeitar outras culturas e sociedades – em vez de taxar os costumes
próprios como “incomuns”, aprender algo novo sobre o ser e a sociedade.
A prudência com a objetividade – o pesquisador fica imerso na cultura a
ser estudada com o objetivo de captar o sentido da sua organização e por
último a não interferência entre tentativas de modificar seus costumes e
tradições. (MENESES, 1999).

O homem como produtor de sua própria cultura construiu de


maneira única e particular as suas crenças, regras de convivência em
grupo e rituais específicos de cada comunidade, ou seja, peculiaridades
da sua maneira de viver e de se relacionar com a natureza e com o “outro”.
24 Aspectos Socioantropológicos

Tais propriedades tornam possível a existência de inúmeras culturas


distintas. Os autores Hoebel e Frost (1981) destacam que, os padrões de
valores (certo/errado) e os costumes são inerentes ao seu respectivo
meio cultural.
Figura 7 – Mulheres-girafas – Tribo Padaung

Fonte: Pixabay

A figura ilustra uma das integrantes da Tribo Padaung, localizada no


norte da Tailândia. Pelo fato de por muitos anos, evitarem contato com a
sociedade, porque viviam escondidas, as mulheres foram consideradas
por muito tempo, como figuras mitológicas. A tribo tem a tradição cultural
milenar que são colocar argolas de cobre no pescoço das mulheres. Afinal
de contas, por que utilizam estas argolas? Não se sabe ao certo porque
esse ritual começou, para muitos estudiosos seriam uma competição de
beleza, quanto mais argolas, o pescoço mais longo e assim teriam mais
admiradores, em contrapartida, outros pesquisadores ressaltam que as
argolas seriam uma proteção, no passado, contra ataques de tigres. Na
tribo, são as mulheres que sustentam a casa, vendendo os artesanatos
que produzem. Os homens ficam em casa, cuidam das crianças e vestem
saias. A tradição é, ainda, preservada nos tempos atuais e as mulheres são
visitadas como atração turística da região.
Aspectos Socioantropológicos 25

ACESSE:

Para saber mais detalhes sobre a cultura da Tribo Padaung,


assista ao vídeo mulheres-girafa são atração na Tailândia,
exibido pelo programa Fantástico em 2002, clicando aqui.

REFLITA:

Sobre a tradição das argolas da tribo Padaung, qual a sua


opinião sobre a utilização das argolas nas mulheres da
tribo?

Entre as características do relativismo cultural, vale destacar que,


os elementos de uma cultura só têm validade, quando estão inseridos
no seu meio, ou seja, imerso em um contexto. As culturas, também, são
relativas, cada uma traz em si o seu padrão, não existe uma referência
universal a ser seguida e, por último, suspensão de juízo (MENESES, 1999).

Os valores culturais e normativos de cada sociedade têm sentido


apenas para os integrantes que convivem em seu meio. A compreensão
pelo viés da antropologia só é possível, quando o pesquisador se coloca
no lugar do “outro” e vivencia junto com os demais todos os rituais da sua
cultura, sem critérios de julgamentos do que é certo ou errado.

Marconi e Presotto (2010) destacam que o relativismo cultural


proporciona ao antropólogo atitude mais neutras e leva em consideração
princípios humanitários:
Direito à autonomia tribal – Os grupos humanos têm
direito de ter e fazer desenvolver a própria cultura, sem
interferências externas. [...] Valores culturais – As formas de
pensar e agir de grupos diferentes devem merecer o maior
respeito possível e, por isso, seria injusta a introdução
deliberada de mudanças no interior dessas culturas. [...]
Da mesma forma, os costumes que diferem muito dos da
sociedade civilizada devem ser considerados e avaliados
dentro da configuração cultural a que pertencem.
(MARCONI; PRESOTTO, 2010, p.17-18)
26 Aspectos Socioantropológicos

Por mais excêntrico que possa parecer, cada cultura desenvolvida


pelo ser humano é única e deve ser respeitada em todas as suas
singularidades. Nenhuma deve se sobrepor às demais e todas devem
conviver em harmonia e aceitação mútua. Assim, não existem comunidades
com culturas melhores ou piores que as outras, o que há são inúmeras e
ricas culturas no Brasil e no mundo.

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo


tudinho? Agora, só para termos certeza de que você
realmente entendeu o tema de estudo neste capítulo,
vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido
que o relativismo cultural representa a oposição ao conceito
de etnocentrismo. No relativismo, não há julgamento de
valor com outras culturas que não é semelhante à sua,
que existem inúmeras culturas com diversidades únicas
e que é característica central do homem criar estilos de
vida para organizar a comunidade, conviver em harmonia
com os seus semelhantes e com a natureza. Foi aprendido
também que para o antropólogo pesquisar e entender
outras culturas, ele deve vivenciar a cultura do “outro” em
seu próprio contexto cultural, já que apenas, dessa forma,
serão interpretados os significados verdadeiros. Além disso,
o antropólogo não deve colocar a sua cultura como centro
de tudo, a sua visão deve ser neutra e livre de julgamentos.
Assim, o conceito antropológico de relativismo cultural nos
ensina a entender e aceitar as diferenças para vivermos em
harmonia com a nossa sociedade.

REFLITA:

Será que a escola atual está preparada para lidar e aceitar


diferentes culturas?
Aspectos Socioantropológicos 27

Antropologia Educacional

OBJETIVO:

Ao término deste capítulo, você será capaz de entender


a importância da antropologia educacional, o seu objeto
de estudo e as considerações práticas desta disciplina.
E então? Motivado para desenvolver esta competência?
Então vamos lá. Avante!.

A visão de que a Antropologia é a ciência que estuda o ser humano


em sua totalidade e que o respeito primordial é alteridade entre as
culturas, já foi amplamente discutido. Neste capítulo será abordada a
essência da Antropologia Educacional e como esta, se relaciona com as
teorias contemporâneas da educação.

Conexão entre Antropologia e Educação


Torna-se válido iniciar este capítulo ressaltando a semelhança entre
o conceito de antropologia e educação. Ambas lidam com a intenção
de compreender um conhecimento que não é nosso, as duas devem
visualizar o olhar do “outro” e, para que isso aconteça é primordial ser
empático, ou seja, se colocar no lugar desse “outro” (GUSMÃO, 1997). Tais
características são fundamentais tanto para o antropólogo como para o
educador.

Para compreender a comunicação entre antropologia e educação


torna-se necessário ressaltar alguns pontos históricos marcantes. Já
estudamos o nascimento da antropologia. Ela surge como ciência
em meados do século XIX, na Europa, e tem como objeto de estudo a
compreensão do “outro” que fica distante e é diferente do “nosso”. De
acordo com Gusmão (1997, p. 4), a educação nesse período consistia em
uma “modalidade de ajustamento psicossocial que resulta numa forma
de controle social, com base na organização social e no horizonte cultural
partilhado por um grupo”, ou seja, por meio de regras de condutas e
28 Aspectos Socioantropológicos

técnicas educativas, as sociedades elaboravam mecanismos com o


objetivo de incentivar e punir o comportamento de seus integrantes,
desde o período da infância até a fase adulta.

Dessa forma, historicamente, tanto a antropologia quanto à


educação por meio do desenvolvimento colonial tentaram impor a “sua”
cultura tida como única e correta ao “outro”. Com o intuito de eliminar
qualquer alteridade, visavam padronizar uma sociedade com o modelo
de vida cultural unificado.

O discurso entre a antropologia e a educação se instaura, após


a crítica ao etnocentrismo, e início do relativismo cultural no qual
a antropologia busca compreender outras sociedades e culturas.
Gusmão(1997) ressalta que:
[...] O diálogo revela como ponto comum a cultura,
entendida como instrumento necessário para o homem
viver a vida, distinguir os mundos da natureza e da cultura
e, ainda, como lugar a partir do qual o homem constrói
um saber que envolve processos de socialização e
aprendizagem. No primeiro caso, trata-se de diferentes
formas de transmissão de conhecimento, de habilidades
e aspirações sociais; no segundo, trata-se das formas de
transmissão de herança cultural, por meio de gerações
implicando processos de apropriação de conhecimentos,
técnicas, tradições e valores. Tudo em acordo com a
criação dos homens em situações sociais, concretas e
historicamente determinadas. (GUSMÃO, 1997, p.5)

Percebe-se, portanto que, a cultura representa a interseção entre


a antropologia e a educação. Na vertente antropológica, está relacionada
a uma ferramenta, utilizada pelo homem para viver, harmoniosamente,
entre os seus semelhantes do grupo ao qual pertencem. Já no âmbito
da educação, a cultura está associada à aprendizagem de técnicas
tradicionais de um povo e, também, ao processo de socialização –
pertencimento de um grupo.

O conceito de cultura será mais detalhado. Agora, serão abordadas


as bases teóricas que sustentam a ciência antropológica e sua evolução
no conceito de antropologia educacional.
Aspectos Socioantropológicos 29

Antropologia Educacional: Suas Origens


A Antropologia firmada como ciência instituiu a alteridade como
questão norteadora de seus princípios. E, como uma disciplina, ela busca
se basear em diferentes teorias que fornecem amparo técnico-científico.

O evolucionismo foi uma das primeiras teorias antropológicas


que considerava o modelo europeu como único no mundo. Tinha como
base o etnocentrismo, no qual colocava a cultura no centro do universo,
como “modelo” a ser seguido e as demais culturas eram consideradas
como “atrasadas” e inferiores”. Lewis Morgan e seu aluno Frans Boas eram
importantes evolucionistas, em meados do século XIX (GUSMÃO, 1997).

REVISANDO:

E você? Está se lembrado do conceito etnocêntrico? Caso tenha


esquecido, não se preocupe e faça uma revisão no tema.

No princípio do século XX, Boas entra em oposição com o seu


mestre Morgan ao considerar a teoria de que cada grupo tem sua história
e cultura singular. Boas introduziu o conceito de culturalismo no qual
defendia a ideia de que não existia somente uma cultura e sim,
culturas diferentes com hábitos, costumes e valores
individualizados. Ainda no mesmo século, a Antropologia
afirmava que [..]) a condição humana só poderia ser
pensada no interior da cultura [...]. Cultura como realidade
múltipla, plural e diversa. (GUSMÃO, 2008, p.60)

A cultura, portanto, se torna uma ferramenta essencial para


compreensão das condutas humanas. Por meio dela, o ser humano se
diferencia dos animais, define o seu papel na natureza e ainda, utiliza
de costumes, padrões, hábitos, desenvolvidos pelo próprio ser humano
como meio para dar sentido à vida.

SAIBA MAIS:
Caso queira se aprofundar no assunto, assista o vídeo
Cultura: O que é Cultura? Tylor, Malinowski, Franz Boas e
Lévi Strauss, disponível aqui.
30 Aspectos Socioantropológicos

Nesse mesmo período, apesar da evolução da vertente de


conhecimento da Antropologia, na área educacional, os recursos
pedagógicos ainda seguiam os regulamentos de uma educação, marcada
por um modelo único, na qual a escola estava inserida. Diante disso, Boas
iniciou também críticas aos sistemas educativos e práticas pedagógicas
das escolas americanas. O antropólogo alegava que o sistema de ensino
americano não possibilitava independência e autonomia aos indivíduos
no seu contexto. A escola desconsiderava a pluralidade da comunidade
escolar, tinha como centro um aluno-modelo e utilizava do autoritarismo
para sua contenção.

REFLITA:
As instituições de ensino atuais reconhecem a diversidade
cultural dos seus alunos?

Também em oposição ao conceito evolucionista, entre os anos de


1920 e 1930, surge um novo conceito de origem inglesa, o funcionalismo
e tem como fundador o antropólogo Bronislaw Malinowski.
Centrado na concepção de função e de sistema, o
funcionalismo compreende a sociedade de uma forma
integrada, em que o todo resulta de partes integradas, ao
mesmo tempo em que as partes contêm em si o todo. Os
procedimentos de análise do social podem então, eleger
a parte e, por dedução, explicar a totalidade da vida social.
(GUSMÃO, 2008, p.62).

Assim sendo, o funcionalismo tem como pilar o estudo de outras


culturas. Malinowski por meio do trabalho de campo, que consiste na
observação, coleta de dados e interpretação dos acontecimentos que
acontecem no contexto de cada grupo pesquisado, identificou que as
sociedades tinham problemas básicos semelhantes (por exemplo, na
alimentação e na organização do grupo) e que cada sociedade encontrava
soluções diferentes para os mesmos problemas de sobrevivência da
humanidade. E que cada atitude que a sociedade faz em sua cultura tem
uma função, daí o nome de funcionalismo. Portanto, as necessidades de
um grupo ou sociedade e suas respostas encontradas estão intimamente
relacionadas com a sua cultura.
Aspectos Socioantropológicos 31

ACESSE:

Para saber mais sobre as aventuras do antropólogo


Bronislaw Malinowski e das suas descobertas com a
pesquisa de campo leia, de Everardo Rocha - O que é
etnocentrismo”, capítulo Voando Alto.

Sob o incentivo do funcionalismo, a Antropologia da educação


ganha força, ainda, no interior dos sistemas coloniais vigentes, entre os
anos de 1920 e 1930. Nesse período histórico, as culturas populares eram
consideradas como obstáculos à modernização da sociedade. Visando
o desenvolvimento da comunidade, a escola surge como tentativa de
uma ordem em mudança. Seria necessário que se instalasse uma cultura
significativa que tinha por objetivo impor “ordem” à civilização. Geralmente,
o sentido da “mudança” baseava-se nos objetivos do estado que visava
o progresso e a modernização na sociedade urbana. A escola, nesse
contexto de mudanças, do mesmo modo que fundamentava a estrutura
funcionalista, era organizada em um sistema de ensino integrado por
suas partes que era constituída por: pais, alunos e funcionários (GUSMÃO,
2008).

Note, portanto que apesar de já aceita a ideia da existência de


múltiplas culturas humanas, a escola surge como uma instituição que
visava instaurar a ordem e a mudança, preconizando a instauração de
um modelo de cultura homogêneo, com vista a garantir a modernização
da sociedade, desconsiderando a riqueza e pluralidade das culturas
populares.
32 Aspectos Socioantropológicos

RESUMINDO:

Em vista dos aspectos abordados acima, vale destacar


que a relação entre educação e antropologia é essencial
para o desenvolvimento da civilização humana. As duas
lidam com o ensinar – conhecimento e aprender – novas
culturas. No decorrer dos anos, tanto a Antropologia
como a educação passaram por muitas transformações.
A Antropologia ampliou a sua vertente e atualmente visa
entender a pluralidade humana e estudar grupos sociais
diferentes. A educação, inicialmente ainda atrelada à época
colonial, buscava homogeneizar as culturas com o objetivo
de instaurar a ordem e modernização das comunidades.
Atualmente, a educação tem como desafio pedagógico
absorver e dialogar com as diferenças e diversidade social
e cultural do nosso povo. E então, caro aluno, será que a
escola moderna conseguiu atingir esse objetivo?
Aspectos Socioantropológicos 33

REFERÊNCIAS
GUSMÃO, N.M.M.de. Antropologia e educação: origens de um
diálogo. Cad. CEDES, Campinas, v. 18, n. 43, p. 8-25, Dec. 1997 Disponível
em:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
32621997000200002&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 20 jun 2019.

GUSMÃO, N.M.M.de. Antropologia, estudos culturais e educação:


desafios da modernidade. Pro-posições, v.19, n.3,2008. Disponível em: http://
www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-73072008000300004&script=sci_
abstract&tlng=pt. Acesso em: 21 jun 2019.

HOEBEL, E. A.; FROST, E. L. Antropologia cultural e social. São


Paulo: Cultrix, 1981.

ROCHA, G.; TOSTA S. P. Antropologia & Educação. Coleção Temas


& Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.

LAPLANTINE, F. Aprender antropologia. São Paulo: Editora


Brasiliense, 2003.

MARCONI, M.de A.; PRESOTTO, Z. M. N. Antropologia: uma


introdução. São Paulo: Atlas, 2010.

MENESES, P. Etnocentrismo e relativismo cultural: algumas


reflexões. Revista Symposium. Ano 3, 1999. Disponível em: https://www.
maxwell.vrac.puc-rio.br/3152/3152.PDF. Acesso em: 19 jun 2019.

ROCHA, E. P. G. O que é etnocentrismo. São Paulo: Editora


Brasiliense, 1988.

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