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Parasitologia Geral

Unidade 2
Estudo das Amebas e Parasitas Balantidium
Coli, Plasmodium e Leishmania
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
RAFAELA CRISTINA DE SOUZA DUARTE
AUTORIA
Rafaela Cristina de Souza Duarte
Olá. Meu nome é Rafaela Cristina de Souza Duarte. Sou formada
em Ciências Biológicas, tenho mestrado em Ecologia e Conservação e
Doutorado em Ciências Biológicas com habilitação em Zoologia, com uma
experiência técnico-profissional na área de invertebrados marinhos de
mais de 10 anos. Passei por Instituições, como a Universidade Estadual da
Paraíba, Universidade Federal da Paraíba e Laboratório de Biologia marinha,
nas quais desenvolvi atividade de pesquisa, ensino e extensão nas áreas
de Zoologia e Ecologia de invertebrados. Sou apaixonado pelo que faço e
adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em
suas profissões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar
seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar
você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

INTRODUÇÃO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova compe- novo conceito;
tência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou dis-
mento; cutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Estudo das amebas de importância parasitológica humana ....... 12
Classificação geral das amebas............................................................................................ 12

Aspectos gerais da Entamoeba histolytica.................................................................... 14

Ciclo de vida........................................................................................................................................ 15

Transmissão.......................................................................................................................................... 17

Mecanismos patogênicos e sintomatologia da Amebíase .............................. 18

Diagnóstico........................................................................................................................................... 19

Epidemiologia.................................................................................................................................... 20

Profilaxia ................................................................................................................................................ 20

Tratamento ........................................................................................................................................... 21

Estudo do parasita Balantidium coli - Aspectos morfológicos e


epidemiológicos .......................................................................................... 23
Aspectos gerais do parasita Balantidium coli................................................. 23

Ciclo de vida........................................................................................................................................25

Transmissão..........................................................................................................................................27

Mecanismos patogênicos e sintomatologia da Balantidíase .........................27

Diagnóstico...........................................................................................................................................28

Epidemiologia.....................................................................................................................................28

Profilaxia..................................................................................................................................................29

Tratamento........................................................................................................................................... 30

Estudo de parasitas do gênero Plasmodium - Aspectos


morfológicos e epidemiológicos ......................................................... 32
Aspectos gerais do gênero Plasmodium........................................................................32

Ciclo de vida........................................................................................................................................34
Transmissão......................................................................................................................................... 36

Mecanismos patogênicos e sintomatologia da Malária .................................... 36

Diagnóstico...........................................................................................................................................37

Epidemiologia.................................................................................................................................... 38

Profilaxia................................................................................................................................................. 38

Tratamento........................................................................................................................................... 39

Estudo do gênero de parasita Leishmania - Aspectos


morfológicos e epidemiológicos ......................................................... 41
Aspectos gerais do gênero Leishmania.......................................................................... 41

Ciclo de vida........................................................................................................................................42

Transmissão..........................................................................................................................................44

Mecanismos patogênicos e sintomatologia da Leishmaniose .....................44

Diagnóstico...........................................................................................................................................45

Epidemiologia.....................................................................................................................................47

Profilaxia................................................................................................................................................. 48

Tratamento........................................................................................................................................... 48
Parasitologia Geral 9

02
UNIDADE
10 Parasitologia Geral

INTRODUÇÃO
Olá, querido estudante! Você está pronto para continuarmos
nossos estudos sobre as parasitoses que mais acometem humanos? Aqui
abordaremos mais algumas doenças causadas por organismos parasitas
do grupo dos protozoários. Veremos que cada parasita apresenta
estratégias específicas para desenvolver uma relação parasitária com seu
hospedeiro, no interior do qual desenvolve suas atividades metabólicas
vitais. É necessário compreendermos também como essa doença é
disseminada, levando em consideração o ciclo de vida de seu agente
causador no interior de seus hospedeiros. Além disso, discutiremos acerca
de fatores epidemiológicos das doenças, sua possível endemia, os fatores
ambientais e sociais que podem provocar sua maior ou menor incidência
e de um modo detalhado iremos apresentar protocolos específicos de
diagnóstico e tratamento dessas doenças.
Parasitologia Geral 11

OBJETIVOS
Olá! Seja muito bem-vindo à Unidade 2. Nosso objetivo é auxiliar
você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o
término desta etapa de estudos:

1. Descrever aspectos gerais do grupo de amebas que parasitam


humanos e da doença causada por essas amebas, a Amebíase.

2. Descrever aspectos gerais do parasita protozoário Balantidium coli


e da doença causada por esse organismo, a Balantidíase.

3. Identificar aspectos gerais dos parasitas do gênero Plasmodium e


da doença causada por esses organismos, a Malária.

4. Apontar aspectos gerais do complexo parasitário Leishmania e da


doença causada por esses organismos, a Leishmaniose.

Então? Vamos compartilhar esses conhecimentos!


12 Parasitologia Geral

Estudo das amebas de importância


parasitológica humana
INTRODUÇÃO:

Ao término desse capítulo você será capaz de descrever


os aspectos gerais do grupo de amebas parasitas com
importância médica considerável e da doença causada
por esses organismos, a Amebíase. Está doença acomete
uma boa parcela dos seres humanos, principalmente,
nos países em desenvolvimento. Ao longo do capitulo
serão caracterizados diferentes gêneros de ameba,
dando, porém, uma maior ênfase na principal espécie
de importância médica desse grupo, a Entamoeba
histolytica. Além de aspectos gerais da doença amebíase
como: transmissão, relação entre parasita e hospedeiro,
diagnóstico, tratamento, profilaxia e epidemiologia. Então,
prontos para aprender mais sobre estes organismos e seus
fatores patogênicos? Então vamos lá!

Classificação geral das amebas


O complexo de amebas que utilizam o ser humano como hospedeiro
é composto por protozoários do subgrupo Amoebozoa. Os organismos
pertencentes a esse subgrupo são denominados amebas. Estas se
caracterizam por apresentar locomoção por meio de pseudópodes
grossos e com extremidades arredondadas (Neves, 2002).

Os pseudópodes conferem a esses organismos uma forma


irregular e assimétrica. Sua única célula é provida, basicamente de um
núcleo central e diversos tipos de vacúolos (Rocha, 2013). Indivíduos
desse subgrupo podem ser comensais ou parasitas, apresentam uma
forma móvel, o trofozoíto, que desenvolve suas atividades vitais no
trato gastrointestinal dos seres humanos. A maioria destas amebas
também apresentam estágios císticos, que não desenvolvem atividades
metabólicas e consistem na sua fase infectante. A transmissão desses
organismos geralmente ocorre através de água e alimentos contaminados
por fezes contendo cistos (Rey, 2008).
Parasitologia Geral 13

A estrutura do núcleo de cistos e trofozoítos, assim como a forma


do cisto, são diferentes para cada gênero de ameba, portanto, a sua
identificação auxilia na diferenciação e diagnóstico. Veja essa diferenciação
na figura abaixo.
Figura 1: Desenhos esquemáticos das formas morfológicas que
distinguem os gêneros de amebas que parasitam o hospedeiro humano.
A coluna A - formas de trofozoíto e coluna B - a formas de cisto.

Fonte: Neves (2005, p.148)

Veremos agora as espécies de ameba que habitam o intestino


humano, porém, daremos maior ênfase na única delas que é patogênica
ao homem, a Entamoeba histolytica. Se faz necessário conhecer um
pouco as espécies não patógenas devido às suas semelhanças com a
ameba patogênica, o que pode atrapalhar na hora do diagnóstico correto.

A diferenciação entre espécies de amebas é bem difícil,


principalmente em amostras a seco. Por isso, é importante a observação
de várias estruturas distintivas (tamanho de cistos e trofozoítos, quantidade
de núcleos, vacúolos) para um diagnóstico seguro.

Assim, de acordo com Neves (2002) as espécies de amebas que


ocorrem no homem e podem ser confundidas com a espécie patogênica
Entamoeba histolytica são:

• Entamoeba coli: Esta é uma espécie comensal muito confundida


com a Entamoeba histolytica. No entanto, diferencia-se dessa
pelas seguintes características: núcleo da sua forma de trofozoíto
com espessa cromatina, movimentação lenta, e estágio de cisto
com mais de oito núcleos.
14 Parasitologia Geral

• Entamoeba polecki: Esta pode ser encontrada em animais como


porcos e macacos, porém, pode ser observado no homem e sua
morfologia é bem semelhante à da E. histolytica. Esse fato pode
causar confusão e fazer com que o hospedeiro se submeta a um
tratamento desnecessário, a principal característica distintiva é a
presença de um só núcleo em sua forma cística.

• Entamoeba hartimani: Esta espécie habitat a luz intestinal, numa


relação comensal, não patógena. O núcleo de seu trofozoíto é
semelhante ao da E. histolytica, porém, a estrutura do cisto se
diferencia.

Observe na figura abaixo as diferentes espécies do gênero


Entamoeba e suas estruturas morfológicas de cistos e trofozoítos.
Figura 2: Fotografias em microscopia óptica demonstrando as diferentes morfologias dos
cistos (a fresco) e trofozoítos (corados) dos gêneros de Entamoeba. A coluna (A) forma de
trofozoíto canto superior e forma de cisto canto inferior da espécie Entamoeba histolytica;
coluna (B) forma de trofozoíto canto superior e forma de cisto canto inferior da espécie
Entamoeba hartimani; coluna (C) forma de trofozoíto canto superior e forma de cisto canto
inferior da espécie Entamoeba coli e coluna (D) forma de trofozoíto canto superior e forma
de cisto canto inferior da espécie Entamoeba polecki.

Fonte: Imagens das formas de trofozoítos adaptado dos trabalhos de Fotedar et al. (2007)
pg. 514 e imagens das formas de cistos Tchinda et al. (2015) pg.31.

Aspectos gerais da Entamoeba histolytica


A Entamoeba histolytica é a única do grupo das amebas que
causa prejuízos à saúde do ser humano. De acordo com Rey (2008), este
protozoário apresenta diferentes formas em seu ciclo biológico ou ciclo
de vida:
Parasitologia Geral 15

a. Trofozoíto: Apresenta de 20 a 60 micrômetros de tamanho,


geralmente apenas um núcleo, pouco nítido em formas vivas, mas
bem visível em amostras coradas. Quando analisados a frescos,
eles são ativos com seus pseudópodes grossos deslizando
nas superfícies. No seu citoplasma, estão presentes vacúolos
digestivos e restos de substâncias alimentares. Quando observados
em microscopia eletrônica estes organismos não apresentam
organelas como complexo de Golgi, retículo endoplasmático,
centríolos ou microtúbulos.

b. Pré-cisto: Consiste na fase intermediária do desenvolvimento


entre a forma de cisto e a de trofozoíto, tem formato ovalado ou
arredondado, apresenta diâmetro bem menor que o trofozoíto.

c. Metacisto: Forma morfológica que apresenta vários núcleos


(multinucleada), que emerge do cisto e dará origem ao trofozoíto
assim que chegar ao intestino delgado.

d. Cisto: São estruturas esféricas ou ovais medindo de 8 a 20


micrômetros de tamanho, com núcleos bem visíveis e variando em
número de um a quatro, apresentam em seu citoplasma vacúolos
de reserva contendo glicogênio em seu interior.

Ciclo de vida
A Entamoeba histolytica é o agente causador da doença chamada de
Amebíase. Esse parasita apresenta um tipo monóxeno de ciclo biológico,
que é direto e bem simples. Nesse tipo de ciclo não há hospedeiros
intermediários. A infecção se dá por via oral, pela ingestão do cisto por
parte do ser humano, presente em água ou alimentos contaminados.

As formas morfológicas de cisto passam pelo estômago, resistindo


ao suco gástrico e sofrem desencistamento, com formação do metacisto,
no final do intestino delgado ou início do intestino grosso. Em seguida,
o metacisto sofre quatro e depois oito divisões, originando então oito
trofozoítos, os quais migram para o intestino grosso a fim de canoniza-lo,
reproduzindo-se assexuadamente por divisão binária, fixando-se então,
na mucosa intestinal. Em geral, eles ficam nesta mucosa alimentando-se
16 Parasitologia Geral

de detritos e de bactérias sem causar prejuízos ao hospedeiro, senso por


isso chamados de comensais. No entanto, em certas circunstâncias, que
ainda não são esclarecidas na literatura, eles podem desenvolvem ações
patogênicas, quebrando esse equilíbrio. Então, os trofozoítos (forma
invasiva ou virulenta) invadem a mucosa intestinal, e podem através
da circulação atingir outros órgãos, como o fígado, pulmões, rins e até
cérebro. O ciclo se completa quando os trofozoítos sofrem desidratação
e transformação nos cistos mononucleados, que sofrem sucessivas
divisões formando cistos tetranucleados, que são eliminados com as
fezes formadas, não sendo encontrados em fezes liquefeitas.
Figura 3: Desenho esquemático do ciclo de vida do parasita Entamoeba histolytica
nos seres humanos. Esse é denominado ciclo direto ou monóxeno, ocorrendo apena
do organismo humano.

Fonte: Wikimedia Commons


Parasitologia Geral 17

Descrição do ciclo baseado nos trabalhos de Neves (2002); Rey (2008)


e Rocha (2013): O ciclo se inicia com a ingestão de alimentos ou água
contaminada com cistos do parasita (Figura 3-1). Em seguida, ao chegar
no intestino delgado ocorre o início do processo de desencistamento e
formação do metacisto, este se transforma em oito trofozoítos (Figura
3-2). Dá-se, então, a partir desse momento o processo de reprodução
assexuada do trofozoíto, que ocorre por divisão binária (Figura 3-3). Os
trofozoítos invadem a mucosa intestinal (Figura 3-4). Se a forma infectante
do trofozoíto se desenvolver ela poderá atingir outros órgãos através da
circulação (Figura 3-5). Ocorre o processo de encistamento (Figura 3-6).
Esses cistos são, então, eliminados do hospedeiro por meio de suas fezes,
até encontrarem um novo hospedeiro para se desenvolverem reiniciando
assim o ciclo.

Transmissão
A infecção do hospedeiro por esse parasita se dá por via oral
através da ingestão de cistos maduros, presentes em alimentos líquidos
ou sólidos contaminados com fezes. Estes cistos podem ser transmitidos
através de alguns mecanismos, tais como:

• Ingestão de águas sem tratamento, alguns estudos demonstram


inclusive que a adição apenas de flúor não é capaz de eliminar os
cistos;

• Alimentos contaminados por cistos, como frutas e verduras.


Alguns insetos como baratas e moscas também podem carregar
esses cistos e contaminar alimentos. As moscas também têm uma
capacidade específica de regurgitar cistos que foram ingeridos
anteriormente, contaminando assim alimentos nos quais ela
pousa;

• De pessoa pra pessoa por meio de mãos contaminadas, em locais


com alta aglomeração de pessoas;

• Os portadores assintomáticos dessa doença podem ser os maiores


disseminadores dessas parasitoses, devido a sua alta produção e
consequente eliminação nas fezes.
18 Parasitologia Geral

Por tudo isso, é importante que você caro estudante perceba que
as medidas citadas acima, podem ser de fundamental importância para
evitar a disseminação da doença intestinal Amebíase.

Mecanismos patogênicos e sintomatologia


da Amebíase
A amebíase pode ou não apresentar manifestações clínicas, a
variabilidade quanto a ao potencial patogênico desse parasita ainda é algo
intrigante. Diversos fatores podem contribuir para que o trofozoíto mude
de uma forma comensal para uma agressiva. O início desse processo
invasivo ocorre quando o equilíbrio parasita-hospedeiro é rompido, em
favor do parasita, temos, então, de acordo com Neves (2002), dois tipos
de fatores que podem desencadear este processo:

• Fatores ligados ao hospedeiro: Fatores esses que variam desde


sua localização geográfica, raça, sexo, idade, estado nutricional
até sua resposta imune inata.

• Fatores ligados ao parasita: Fatores ligados ao meio onde eles


vivem, como a flora bacteriana local, que podem ser capazes de
potencializar sua virulência. Assim como reinfecções sucessivas.

O período de incubação da doença pode variar de 7 dias a até quatro


meses. As infecções causadas por esse parasita, na grande maioria, são
assintomáticas. As formas sintomáticas da doença podem se manifestar
por meio de colites disentéricas, caracterizadas por duas a quatro
evacuações, diarréicas ou não, por dia, como fezes moles ou pastosas,
às vezes com a presença de sangue. Quando se instala um modo mais
agudo, observa-se uma desinteria amebiana, caracterizada por cólicas
intestinais e diarreia, como evacuações sanguinolentas.

As complicações da amebíase intestinal são muito variadas e


podem atingir até 4% dos casos. As mais comuns são: perfurações e
peritonite, hemorragias, colites pós-disentéricas e, mais raramente,
estenose, apendicite e ameboma.
Parasitologia Geral 19

Nos casos mais graves podem aparecer lesões intestinais, com


ulcerações na parede intestinal. Quando consegue chegar ao fígado a
amebíase provoca lesões muito pequenas e múltiplas, que podem gerar
dores abdominais, febre intermitente, perda de peso e hepatomegalia
(aumento do fígado), se a infecção alcançar os pulmões pode formar
um abscesso amebiano pulmonar, prejudicando o funcionamento desse
órgão. Em casos mais raros desenvolve-se a amebíase cerebral que
geralmente, consiste numa complicação da forma hepática.

Diagnóstico
Devido à semelhança da sua sintomatologia como a outras doenças,
o diagnóstico clínico da amebíase nem sempre é claro, por isso ele só
pode ser considerado definitivo pelo encontro de parasitas nas fezes.
Para os casos hepáticos ou localizados em outros órgãos, é importante
a realização de raios X, cintilografia, ultrassonografia e tomografia
computadorizada.

O diagnóstico laboratorial é realizado com fezes, soros e exsudados.


Porém, o mais utilizado é o de fezes, que detecta cistos ou trofozoítos. As
fezes devem ser coletadas (pelo menos três amostras) sem contaminação
com qualquer outra substância corpórea. Em seguida, devem ser
colocadas em conservador (álcool, formol a 10%, MIF ou SAF). Antes de
qualquer análise deve ser verificado o aspecto das fezes, se são diarreicas
e sanguinolentas. Para fezes formadas, deve-se aplicar os métodos de
sedimentação espontânea ou centrífugo-flutuação.

Uma curiosidade quanto aos métodos de diagnósticos é


o desenvolvimento de técnicas mais avançadas, baseadas no
reconhecimento do DNA da Ameba, como por exemplo, a técnica de PCR
que está sendo desenvolvida e padronizada para detecção de cistos de
parasitas em veículos (água e alimentos) e fezes contaminados.

Os métodos sorológicos são considerados os mais eficientes


para amebíases extra intestinais, através dos métodos de ELISA ou
hemaglutinação direta.
20 Parasitologia Geral

Epidemiologia
A incidência dessa doença é variável no mundo, podendo estar
relacionada a precárias condições de higiene, educação sanitária
e alimentação dos povos em países subdesenvolvidos. No Brasil, a
prevalência dessa doença também está relacionada a questões sanitárias
precárias. Alguns aspectos devem ser considerados na epidemiologia
dessa parasitose, de acordo com Rocha (2013):

• Transmissão oral através da ingestão de cistos em alimentos e


água contaminados.

• Esse parasita é endêmico em suas regiões de incidência, não


sendo capazes de causarem epidemias.

• Pode atingir indivíduos de várias idades, porém, é mais comum


em crianças;

• Animais como cães, porcos e macacos podem atuar como


reservatório natural dos parasitas.

• Os cistos podem resistir fora dos hospedeiros, em condições de


baixa incidência solar e alta umidade por até vinte dias.

Sendo assim, vale aqui destacar, que estudos epidemiológicos são


de fundamental importância, para o melhor entendimento de importantes
aspectos das doenças, tendo em vista que a partir deles os pesquisadores
são capazes de desenvolver estratégias de combate ou profilaxia.

Profilaxia
Consiste em medidas de prevenção para evitar a infecção por
essa doença parasitária, tendo em vista as formas de transmissão e a
epidemiologia da doença:

• Medidas de higiene pessoal básicas, como lavar as mãos


regularmente com substâncias amebicidas (permanganato de
potássio e iodo);
Parasitologia Geral 21

• Tratamento de água e esgoto e quando não houver tratamento de


água, deve-se fervê-la, uma vez que os cistos não são resistentes
a altas temperaturas;

• Lavar bem e tratar todos os alimentos crus;

Vale destacar ainda, que a vacina contra esse parasita já tem sido
testada em cobaias, e, portanto, continuam e fase de teste.

Tratamento
Seguindo protocolos descritos por Neves (2002), os medicamentos
utilizados no tratamento da amebíase podem ser divididos em três grupos:

1. Amebicidas que atuam na luz intestinal: Esses têm ação


direta sobre o parasita. São os derivados da quinoleína, diiodo-
hidroxiquinoleína, iodocloro-hidroxiquinoleína e cloridroxiquinoleína.
Antibióticos como paramomicina e eritromicina. Outros derivados:
furoato de diloxamina, cloro- betarnida e clorofenoxarnida

2. Amebicidas tissulares: Medicamentos que atuam na parede do


intestino e no fígado. São eles: cloridrato de emetina, cloridrato
de diidroemetina e cloroquina. A emetina e a diidroemetina são
usadas por via intramuscular, porém, são muito tóxicas e só são
usadas quando outros medicamentos não surtem efeito. Os dois
são utilizados por sete dias.

3. Amebicidas que atuam tanto no intestino como nos tecidos;


antibióticos, como a tetraciclinas e seus derivados, clorotetraciclina,
oxitetraciclinas, eritromicina, espirarnicina e pararnomicina
isolados ou combinados com amebicidas. Além de amebicidas
isolados como: metronidazol (Flagyl), ornidazol, nitroimidazol e
seus derivados, secnidazol e tinidazol.

Pode-se destacar aqui, a utilização desses medicamentos de


maneira adequada, utilizando-se os protocolos indicados para cada fase
do ciclo de vida da ameba parasita, a fim de que a ação dos mesmos seja
desenvolvida de forma efetiva.
22 Parasitologia Geral

RESUMINDO:

Bem, caro estudante. Já aprendemos bastante coisa até


agora, não é mesmo? Que tal revisarmos um pouco do
aprendizado deste capítulo. Neste capítulo, estudamos
mais a fundo uma doença parasitária que afeta o intestino
humano, vimos que o parasita E. histolytica apresenta
diversos outros parasitas com morfologia semelhante à
dele, e que é preciso conhecê-los para evitar diagnósticos
errôneos. Entendemos um pouco da morfologia e fisiologia
desse protozoário parasita, além do seu ciclo de vida, assim
como seus principais meios de transmissão. Entendemos
também acerca da epidemiologia de doença causada por
ele, que é chamada de amebíase e das suas formas de
profilaxia e tratamento.
Parasitologia Geral 23

Estudo do parasita Balantidium coli -


Aspectos morfológicos e epidemiológicos
INTRODUÇÃO:

Ao término deste capítulo, você será capaz de identificar os


aspectos gerais do parasita Balantidium coli e da doença
causada por esse organismo. Os aspectos gerais do
parasita que serão vistos neste capitulo envolvem: forma
de infecção da doença no ser humano, ciclo de vida do
parasita no hospedeiro humano, relação entre o parasita e
seu hospedeiro. Já com relação aos aspectos das doenças
teremos: epidemiologia, formas de transmissão, formas de
tratamento, diagnóstico e profilaxia. Então, prontos para
aprender mais?? Então vamos lá!

Aspectos gerais do parasita Balantidium coli


O Balantidium coli é considerado o protozoário parasita de maiores
dimensões já conhecido, medindo em média 60 micrometros. Os
indivíduos dessa espécie apresentam forma ovoide, porém, mais afilada
na porção anterior, onde estão localizadas duas estruturas importantes: o
perístoma, depressão da parede celular que conduz ao citóstoma, que
atua na ingestão de partículas alimentares (Neves, 2002).

Em seu interior esses organismos apresentam diversas organelas


como: vacúolos digestivos e pulsáteis e dois núcleos, sendo um chamado
de macronúcleo e outro de micronúcleo, que coordenada o processo
reprodutivo do organismo (Rey, 2008). A nutrição desses indivíduos se dá
por meio da absorção de partículas de amido e alguns tipos de bactérias
presentes no intestino do hospedeiro, em alguns casos quando já existem
lesões no hospedeiro eles podem se alimentar de células sanguíneas
como as hemácias.

B. coli é o único parasita humano ciliado (que se locomove por meio


de cílios). Os cílios estão espalhados por todo o corpo do indivíduo e
seus batimentos coordenados fazem com que ele se locomova de forma
rápida e direcional. Além disso, eles produzem correntes líquidas no meio,
24 Parasitologia Geral

que dirigem partículas de alimento em direção ao citóstoma, onde se


localizam diversos fagossomos que atuam na digestão. Os resíduos do
processo digestivo são eliminados para o exterior através de um poro
permanente localizado na porção posterior, chamado de citopígio.
Figura 4: Desenho esquemático do protozoário Balantidium coli
indicando suas principais estruturas morfológicas.

Fonte: Rocha (2013, p. 51)

A reprodução desta espécie pode ocorrer de forma assexuada por


divisão binária, onde um indivíduo se divide em dois com características
genéticas iguais ou por brotamento: isso se dá quando as células filhas
aparecem como pequenas protusões que se destacam, progressivamente,
da célula mãe. Em certas condições, eles também podem desenvolver
reprodução do tipo sexuada por conjugação, na qual os indivíduos
permanecem conectados um ao outro pela estrutura denominada
citóstoma. Essa conexão mantém-se por alguns minutos, propiciando o
intercâmbio de material genético, em seguida os trofozoítos separam-se.

SAIBA MAIS:

Assista esse pequeno vídeo demonstrando a reprodução


do tipo conjugação ocorrendo em protozoários de vida livre
(Paramécios) e visualize como este processo ocorre. Para
isso, Clique aqui.
Parasitologia Geral 25

Segundo Neves (2002), esses organismos se apresentam sobre


duas formas morfológicas no seu ciclo de vida:

• Trofozoíto: Alongado com diâmetro maior que o do cisto, apresenta


o macro e o micronúcleo, consiste na forma infectante do protozoário.

• Cistos: Apresentam formato esférico ou ovoide e de dimensões bem


menores, com paredes espessa e hialina e com um macronúcleo
interno, no interior de uma massa de material citoplasmático.
Figura 5: Fotos em microscopia óptica demonstrando as duas formas morfológicas da
espécie Balantidium coli. Legenda: A) forma de trofozoíto e B) forma de cisto.

Fonte: Wikimedia Commons

Contata-se portanto, que tanto as formas de trofozoíto como as de


cistos do parasita Balantidium coli estão adaptadas ao meio em que vivem,
os primeiros irão habitar os intestinos humano e são formas mais sensíveis,
já os cistos serão eliminados ao ambiente, como forma de propagação da
Balantidíase e são mais resistentes a fatores externos. A seguir vermos mais
informações acerca do ciclo de vida deste protozoário parasita.

Ciclo de vida
Esse parasita habita o intestino grosso de seu hospedeiro. Ele não
é capaz de penetrar nas mucosas intestinais quando essas estiverem se
nenhum ferimento anterior. Porém, quando as mesmas estão lesionadas ele
é capaz de se instalar e desenvolver sua patogenicidade, desenvolvendo
no ser humano uma doença chamada de Balantidíase. Animais como
suínos, cães e macacos podem ser considerados potenciais reservatórios
dessa espécie na natureza.
26 Parasitologia Geral

SAIBA MAIS:

Entenda como suínos domésticos podem funcionar como


reservatório do B. coli através da leitura do artigo intitulado:
Avaliação da frequência de Balantidium coli em suínos,
tratadores de suínos e primatas não humanos no estado do
Rio de Janeiro, para tanto, Clique aqui.

O ciclo de vida destes indivíduos é bem simples e do tipo monóxeno,


ou seja, se desenvolve apenas no hospedeiro humano. Apresenta dois
tipos de reprodução: sexuada e assexuada. No ciclo de vida, a forma
cística é ingerida por via oral a partir de alimentos ou água contaminada.
Ao chegar no intestino eles se desenvolvem em trofozoítos, formas
infectantes que ficam alojadas em lesões do intestino grosso; lá eles se
reproduzem de forma sexuada ou assexuada e são eliminados do corpo
do hospedeiro por meio de suas fezes. B. coli é considerado um patógeno
negligenciado, uma vez que é pouco estudado (WALZER et al., 1982) e
seus sintomas podem ser confundidos com outras parasitoses intestinais.
Figura 6: Representação esquemática do ciclo de vida monóxeno do parasita Balantidium colli.

Fonte: Wikimedia Commons


Parasitologia Geral 27

Descrição do clico Descrição do ciclo baseado nos trabalhos de


Neves (2002); Rey (2008) e Rocha (2013): O ciclo tem início com a ingestão
de cistos (Figura 6-1). No intestino os cistos transformam-se em trofozoítos
infectantes (Figura 6-2). Os trofozoítos se reproduzem assexuada ou
sexuadamente (Figura 6-3). Ocorre, antão, a formação de cistos ou
encostamento (Figura 6-4). Estes, por sua vez, são eliminados para o
exterior por meio das fezes do ser humano (Figura 6-5).

Transmissão
A Transmissão da Balantidíase se dá pela ingestão das formas
císticas do Balantidium coli presentes em alimentos ou água contaminada,
ou ainda, por contato direto com hospedeiros infectados com estes cistos
e depois levando as mãos a boca.

Mecanismos patogênicos e sintomatologia


da Balantidíase
Esta doença pode ser assintomática, ocasião na qual o protozoário
permanece como um simples habitante da cavidade intestinal, sem
produzir qualquer quadro de morbidade ou tornar-se patogênico. Por
meio de sua grande capacidade motora ele pode penetrar na mucosa
e até na submucosa intestinal já lesionada, produzindo lesões ainda
maiores, do tipo necróticas.

Essas lesões variam desde uma simples hiperemia até ulcerações


graves. Também podem ser encontradas zonas hemorrágicas. Raramente,
em casos de pessoas imunossuprimidas (sistema imunológico deficiente),
o parasita pode ser encontrado fora do intestino em órgãos como:
pulmões, peritônio e trato urogenital. Nas infecções pulmonares, o
parasita pode alcançar este órgão por meio da corrente sanguínea ou
do sistema linfático, ou mais dificilmente pela inalação direta de formas
císticas do parasita.

Essa doença manifesta um quadro disentérico seguido de dores


abdominais, fraqueza, indisposição geral, anorexia, náuseas, vômitos,
cefaleia e febre. Nos casos mais graves podem haver evacuações
28 Parasitologia Geral

sanguinolentas, hemorragias intestinais, desidratação, emagrecimento,


colite crônica e febre, podendo até ser fatal.

Diagnóstico
O diagnóstico clínico é difícil de ser realizado, uma vez que a
semelhança com a sintomatologia da colite amebiana e outras parasitoses
intestinais é grande.

Por isso, o exame laboratorial é essencial. Sendo realizado o exame


de fezes pelos métodos usuais (a fresco direto ou por concentração).
São necessários para tanto três amostras de fezes, a fim de visualizar
formas de cisto em fezes formadas ou trofozoítos em fezes diarreicas, às
vezes, se faz necessário ainda, realizar uma cultura de fezes para melhor
visualização das formas morfológicas do parasita.

Testes imunológicos para detecção de B. coli já foram desenvolvidos


por alguns autores, mas ainda não são amplamente utilizados.

Segundo Rocha (2013), os meios de cultura utilizados para realização


de métodos sorológicos, podem ser soro de cavalo ou meio de Pavlova. O
parasita se cora intensamente em preparações de coloração permanente.

Epidemiologia
A Balantidíase configura-se como uma doença cosmopolita, pois
já foi registrado e várias partes do mundo. Estudos epidemiológicos
comprovam baixa incidência na população, porém, surtos são registrados
em locais onde existem aglomerados de pessoas e condições precárias
de higiene como prisões e orfanatos. Uma vez que os suínos podem
ser considerados potenciais reservatórios naturais dos parasitas, há um
alto registro de casos em humanos que têm contato com estes animais
como criadores, comerciantes e abatedores de suínos. A transmissão
por trofozoítos é mais rara, tendo em vista a sensibilidade dessas formas
morfológicas a exposição ao meio externo, na maioria das vezes a infecção
se dá pelos cistos, que podem resistir no meio em um período de até
cinco semanas, quando no interior de fezes úmidas.
Parasitologia Geral 29

Profilaxia
Em vista de conhecimentos epidemiológicos ainda insuficientes
sobre esta doença e sua semelhança com a amebíase, sua profilaxia
limita-se aquelas utilizadas para a amebíase, como:

• Medidas de higiene pessoal básicas, como lavar as mãos


regularmente com substâncias amebicidas (permanganato de
potássio e iodo);

• Tratamento de água e esgoto e quando não houver tratamento de


água, deve-se fervê-la, uma vez que os cistos não são resistentes
a altas temperaturas;

• Lavar bem e tratar todos os alimentos crus;

IMPORTANTE:

Como o porco é considerado por muitos estudos como


reservatório natural da doença, ele deve ser tratado como
potencial fonte de infecção para os humanos. Por isso, as
pessoas que mantém contato direto com esses animais,
precisam ficar atentos ao manejo adequado desses animais,
tomando as devidas condições de higiene, passando pelos
seguintes cuidados:

• Higiene adequada para os profissionais que trabalham com suínos,


com utilização de equipamentos de proteção indivíduos na hora
do manuseio do animal ou de excrementos;

• Desenvolver técnicas de engenharia sanitária, a fim de impedir


que excrementos de suínos alcancem os abastecimentos de água
de uso humano;

• Criação de suínos em boas condições sanitárias, impedindo que


suas fezes sejam disseminadas; se possível, as fezes devem ser
armazenadas em locais, para posterior descarte. Com isso, o
processo de fermentação irá matar os cistos presentes evitando
assim o contágio.
30 Parasitologia Geral

É importante, por isso, perceber que as medidas profiláticas como as


citadas acima, que são consideradas simples. Podem ser de fundamental
importância para evitar a disseminação da Balantidíase.

Tratamento
Na maioria das vezes, os casos assintomáticos evoluem para uma
cura espontânea. Porém, nas formas mais graves pode haver hemorragias,
perfurações intestinais e desidratação, levando o paciente inclusive a
morte. Os fármacos utilizados no tratamento são:

• Tetraciclinas: Cerca de 40 a 40 mg/kg de peso ao dia durante


dez dias.

• Nimorazol: Geralmente é prescrito na mesma posologia indicada


para casos de amebíase.

A adoção de uma dieta láctea por alguns dias, pode ser eficiente na
eliminação do B. coli do organismo humano, em casos mais brandos da
doença. A seguir será apresentado um caso clínico encontrado do livro de
Rocha (2013):

• Caso clínico: J. K., sexo masculino, 67 anos de idade, recebeu


diagnóstico de adenocarcinoma intestinal há seis meses, tendo
passado por uma cirurgia e sucessivas sessões de quimioterapia.
Massa tumorais foram detectadas em diversas regiões de seu
intestino e uma nova cirurgia estava marcada para os próximos
dias. Porém, antes da cirurgia, o paciente procurou o serviço
de saúde apresentando diarreia aguda sanguinolenta, cólicas,
flatulência e tenesmo. Por estar em tratamento contra o câncer
de intestino, a princípio acreditou-se que eram os efeitos da
evolução da doença. Uma vez que os sintomas não mostravam
regressão com antidiarreicos, anti-inflamatórios ou antibióticos,
os profissionais de saúde suspeitaram de uma doença parasitária
intestinal. Fonte: Rocha, 2013.
Parasitologia Geral 31

IMPORTANTE:

Observação importante: Pacientes com câncer são


imunossuprimidos (Sistema imunológico deficitário)
e, portanto, se tornam mais vulneráveis a infecções
parasitárias.

RESUMINDO:

Caro estudante. Chegamos ao fim de mais uma etapa da


nossa aprendizagem. Até aqui você já deve estar bem
familiarizado com a doença estudada e seu agente causador,
assim como aspectos gerais de sua patogenicidade. Que
tal revisarmos um pouco do aprendizado deste capítulo?
Neste capítulo, estudamos mais a fundo uma doença
parasitária considerada cosmopolita, por ser registrada
em diversas regiões do mundo. Vimos que muitas vezes
ela pode ser negligenciada, devido à semelhança de sua
sintomatologia com outras parasitoses, principalmente
a amebíase. Vimos que os parasitas causadores desta
doença são os únicos ciliados parasita de humanos, e suas
dimensões são as maiores já registradas entre os demais
protozoários parasitas. Aprendemos sobre o ciclo de vida
desses parasitas, que é bem simples e envolve apenas o
hospedeiro humano. Entendemos como se dá transmissão
dessa doença, assim como seu diagnóstico e profilaxia e
conhecemos um pouco sobre sua epidemiologia.
32 Parasitologia Geral

Estudo de parasitas do gênero


Plasmodium - Aspectos morfológicos e
epidemiológicos
INTRODUÇÃO:

Ao término deste capítulo você será capaz de descrever


os aspectos gerais do gênero Plasmodium, que apresenta
importância médica considerável e da doença causada
pelos organismos pertencentes a este gênero, a Malária.
Dentre os aspectos do parasita estudados destacam-se:
morfologia, ciclo de vida, habitat e a relação entre o parasita
e hospedeiro. Com relação aos aspectos da doença serão
descritos temas como: formas de transmissão, formas de
tratamento, diagnóstico e profilaxia. Então, prontos para
aprender mais sobre esta doença?? Então vamos lá!

Aspectos gerais do gênero Plasmodium


Os parasitas do gênero Plasmodium são causadores da doença
chamada Malária, atualmente são encontradas cerca de 150 espécies
do gênero Plasmodium causadores dessa doença. Dessas apenas
quatro espécies parasitam o homem. São elas: Plasmodium falciparum,
Plasmodium vivax, Plasmodium malariae e Plasmodium ovale. Sendo P.
falciparum causador da forma mais grave da doença.

Os plasmódios variam em tamanho, forma e aparência, de acordo


com seu estágio de desenvolvimento dentro de seus hospedeiros.
Segundo Rey (2008), eles apresentam diversas formas morfológicas, a
saber:

• Esporozoíto: Forma infectante do parasita, é alongada, contém


um único núcleo central, nele há uma estrutura chamada de cone
apical, que corresponde a um sistema de penetração, que orienta
o parasita com relação a posição correta de inserção nas células
hospedeiras.
Parasitologia Geral 33

• Criptozoítos: Forma morfológica que se origina após o


parasita penetrar na célula hospedeira, estas se tornam formas
arredondadas e perdem os componentes do aparelho apical.

• Merozoítos: Semelhantes aos esporozoítos, porém mais curtos


e mais espessos, apresentam um complexo apical. Um núcleo,
mitocôndria, retículo endoplasmático e ribossomos livres estão
presentes em seu interior. Apresenta um envoltório lipoprotéico,
que secreta uma substância adesiva capaz de capturar a hemácia
que será parasitada por ele.

• Trofozoítos sanguíneos: Estruturas que se diferenciam no interior


das hemácias. Têm uma característica ameboide emitindo grandes
pseudópodes. Sua membrana envoltória é fina, não apresenta
envoltório lipoprotéico, e em seu interior estão apenas o núcleo,
vacúolos digestivos, retículo endoplasmático e ribossomos.

• Microgametas: Consistem nos gametas masculinos. Esses são


tipos morfológicos flagelados, constituídos de uma membrana
que envolve o núcleo.

• Macrogametas: São as células reprodutoras (gametas femininos).


Esses apresentam uma estrutura proeminente na superfície, por
onde ocorre a penetração por parte do microgameta, processo
chamado de fecundação.

• Oocineto: Estrutura morfológica de aspecto vermiforme,


produzido a partir da fusão entre o macro e o microgameta. Ele é
móvel e apresenta núcleo bem volumoso.

• Oocisto: Estrutura de aspecto arredondado que consiste no óvulo


fecundado pelo gameta masculino. Está envolto por uma espessa
camada e irá se diferenciar em inúmeros esporozoítos.
34 Parasitologia Geral

Figura 7: Desenhos esquemáticos, demonstrando as diferentes formas morfológicas


apresentadas pelas espécies de Plasmodium causadores da malária, no interior das
hemácias do hospedeiro humano. As linhas referem-se a forma corpórea e as colunas as
espécies do gênero Plasmodium.

Fonte: Adaptado de Reys 2008.

Devido a grande quantidade de formas corpóreas, pode-se notar


que o ciclo de vida dos parasitas do gênero plasmodium é bem complexo
e evolve mais de um hospedeiro, como será visto na próxima seção.

Ciclo de vida
O ciclo de vida desses indivíduos é heteróxeno, ou seja, se
desenvolve com a presença de mais de um hospedeiro. Sendo um deles o
mosquito do gênero Anopheles, que atua como hospedeiro intermediário.
O habitat do parasita varia de acordo como a fase do ciclo de vida dele
no hospedeiro. No homem, eles circulam na corrente sanguínea, nos
hepatócitos e eritrócitos (fase assexuada); já no interior dos insetos eles
desenvolvem-se na hemolinfa e nas glândulas salivares (fase sexuada).

O ciclo de vida desses indivíduos inicia-se no hospedeiro humano,


quando os esporozoítos infectantes são inoculados no seu tecido epitelial
pela fêmea infectada do inseto. Durante a picada o mosquito inocula junto
com sua saliva as formas infectantes (esporozoítos). Estes penetram em
Parasitologia Geral 35

vasos sanguíneos e linfáticos e assim são levados até fígado penetrando


nas células hepáticas (hepatócitos). No interior dessas células inicia-se
o ciclo pré-eritrocítrico no qual os núcleos dos esporozoítos se dividem
originando formas esquizontes. Estes se rompem e dão origem aos
merozoítos que são liberadas na corrente sanguínea e invadem as hemácias
iniciando o ciclo eritrocítico. No interior da hemácia, o parasita transforma-
se em trofozoítos por meio de reprodução assexuada. Então, a hemácia
se rompe liberando os trofozoítos na corrente sanguíneo e invadem novas
hemácias, algumas formas transformam-se em gametófitos.

No hospedeiro inseto ocorre o ciclo de vida sexuado ou


esporogônico do parasita, que tem início quando a fêmea do mosquito,
ao picar o homem infectado ingere as formas sanguíneas do parasita que
chegam ao trato digestivo do mosquito. Lá, as hemácias são digeridas
e os gametócitos são liberados e diferenciam-se em gametas femininos
e masculinos, que se unem por fecundação, originando os zigotos
(oocinetos). Estes irão originar inúmeros esporozoítos que são liberados
na hemolinfa e se alojam nas glândulas salivares dos insetos e de lá serão
inoculados no ser humano durante a próxima picada do mosquito.
Figura 8: Representação do ciclo de vida de parasitas do gênero Plasmodium, que possui
dois hospedeiros, sendo o intermediário o mosquito do gênero Anopheles e o definitivo o
ser humano.

Fonte: Wikimedia Commons


36 Parasitologia Geral

Descrição do ciclo baseado nos trabalhos de Neves (2002); Rey (2008)


e Rocha (2013): O ciclo se inicia com a picada do mosquito no ser humano
inoculado as formas infectantes, esporozoítos (Figura 8-1). Os esporozoítos
chegam até os hepatócitos (Figura 8-2). Em seguida, as formas esquizontes
se rompem (Figura 8-3) liberando os merozoítos na corrente sanguínea
(Figura 8-4). As hemácias se rompem liberando formas (Figura 8-5) que
mais tarde se transformaram em gametas masculinos e femininos (Figura
8-6). O mosquito então pica o humano infectado e adquire todas as formas
morfológicas (Figura 8-7) que chegam até o trato digestivo do mosquito
liberando gametócitos que darão origem aos gametas masculinos e
femininos (Figura 8-8). Em seguida, são formados oocistos repletos de
esporozoítos (Figura 8-9) que mais tarde se rompem (Figura 8-10) e liberam
essas formas infectantes nas glândulas salivares do mosquito, que ao picar
outro ser humano reinicia o ciclo de vida deste parasita.

Como pudemos perceber, o ciclo de vida destes parasitas é bem


complexo, e envolve várias etapas de desenvolvimento, com diferentes
formas corpóreas do parasita se desenvolvendo em diferentes tipos de
hospedeiros.

Transmissão
A Transmissão dessa doença se dá por meio da picada da fêmea do
mosquito do gênero Anopheles contendo formas infectantes dos parasitas
em suas glândulas salivares. Primatas não-humanos podem atuar como
reservatórios desses parasitas. Apesar de raro, pode ocorrer a transmissão
por meio de transfusão sanguínea.

Mecanismos patogênicos e sintomatologia


da Malária
Esta doença pode ser considerada grave ou branda, dependendo
das suas manifestações clínicas. Os sintomas e períodos de incubação
variam de acordo com a espécies de Plasmodium e com a imunidade
inata do paciente, para Neves (2008) essa doença pode se desenvolver
em alguns estágios:
Parasitologia Geral 37

• 1º Estágio: No qual a pessoa sente calafrios, palidez, fortes


tremores, náuseas e até vômitos.

• 2º Estágio: Também chamado de acessos maláricos, nesse estágio


a pessoa sente dores de cabeça, febre alta, com intervalos cada
vez mais regulares.

Outros sintomas podem ser anemia, icterícia e até hemorragias


petéquias (pequeno ponto vermelho no corpo).

Se essa doença atingir o sistema nervoso central pode causar a


malária cerebral, podendo levar a manifestação mais grave da doença,
que pode levar ao coma e até a morte.

A forma mais grave da doença, geralmente é causada pela espécie


Plasmodium falciparum e nela pode ocorrer aglutinação das hemácias,
aumento do tamanho do baço (esplenomegalia), insuficiência renal,
edema pulmonar ou comprometimento da função hepática.

Diagnóstico
O diagnóstico clínico deve levar primeiramente em consideração
se o paciente reside ou estiver em alguma área endêmica ou se recebeu
transfusões sanguíneas recentemente, depois disso, deve-se investigar
alguns sintomas como febre intermitente e anemia.

No entanto, para identificar se o paciente está acometido com está


doença ou não, é necessário o diagnóstico laboratorial que consiste na
investigação de formas infectantes do parasita no sangue. Os exames
devem ser agilizados, pois o quanto antes se identificar a doença melhor,
pois impede a evolução para quadros clínicos mais rápidos.

O exame de ser feito pelo método da gota espessa ou do esfregaço


sanguíneo, colocando ambos em lâminas fixadas e coradas para detecção
das formas parasitárias. Também pode ser utilizados os métodos de
imunofluorescência indireta e análise de anticorpos.

O diagnóstico de malária através da PCR, ainda tem um custo muito


elevado, e, por isso, é restrito aos laboratórios de pesquisa.
38 Parasitologia Geral

Em muitos locais, onde a malária ocorre, existem precariedades de


serviços de saúde. Por isso, nos últimos anos métodos de diagnósticos
rápidos vêm sendo desenvolvidos.

Epidemiologia
Segundo Rocha (2013), a malária afeta mais de 300 milhões no
mundo anualmente, sendo a principal parasitose em áreas tropicais e
subtropicais. Pode ser considerada endêmica em alguns lugares devido
a incidência constante de casos no decorrer de muitos anos. Existem
diversos níveis de endemicidade determinados por fatores que interferem
na transmissão da doença, dentre os fatores estão:

• Fatores Biológicos: Compreendem todos os componentes da


cadeia de transmissão o vetor, o parasita e o homem.

• Fatores ecológicos: Condições ambientais que podem favorecer


ou dificultar a transmissão da doença.

• Fatores socioculturais econômicos e políticos: Envolvem


comportamentos e atitudes de agrupamentos humanos.

SAIBA MAIS:

Entenda mais sobre as formas de controle da malária lendo


este artigo da ciência hoje Intitulado: Diálogo e mobilização
no controle da malária, para tanto, Clique aqui.

Profilaxia
Pra Neves (2002), a profilaxia desta doença pode ser dar em dois
níveis:

INDIVIDUAL

• Evitar o contato com o mosquito, não se aproximando de áreas de


risco após o entardecer ou ao amanhecer.

• Utilização de repelentes quando estiver em área endêmicas;


Parasitologia Geral 39

QUIMIOPROFILAXIA

• Utilização de fármacos, indicado para pessoas que irão viajar a


áreas endêmicas;

• Um dos que tem se demonstrado eficaz é a mefloquina que deve


ser tomada uma semana antes de chegar ao destino. Porém, todo
cuidado deve ser tomado com essa medida devido aos seus
possíveis efeitos colaterais.

MEDIDAS COLETIVAS

• Combate ao mosquito vetor por meio da borrifação de inseticidas


de ação residual.

• Aplicação de larvicidas químicos nos reservatórios de água e mais


atualmente o controle biológico, utilizando organismos como o
Bacilus turigiensis B. sphericus.

• Implementação de medidas de saneamento básico para evitar


formação de criadouros de mosquito.

Vacinas contra a malária têm sido desenvolvidas, incluindo estudos


com as muitas formas evolutivas do parasito. Algumas vacinas, inclusive,
já foram testadas em voluntários humanos, com resultados positivos.
Por isso, é importante que você caro estudante perceba que as medidas
profiláticas citadas acima, que são consideradas simples. Podem ser de
fundamental importância para evitar a disseminação da Malária.

Tratamento
Para um tratamento eficaz é necessário um diagnóstico correto da
doença, identificando em que fase do ciclo de vida o parasita se encontra,
para uma maior eficácia dos medicamentos antimaláricos. Caso o paciente
apresente vômito a medicação deve ser administrada por via venosa.

A malária durante a gravidez constitui um grande risco para a mãe


e o feto, devido à depressão imunológica sofrida pela mãe nessa fase.
Podendo resultar em aborto, prematuridade, baixo peso ao nascer e em
alguns casos até a morte da mãe. A mãe deve ser tratada apenas com
cloroquina que é o fármaco considerado mais seguro para as gestantes.
40 Parasitologia Geral

Dentre os medicamentos antimaláricos conhecidos estão: quinina,


cloridrato de quinina, a cloroquina, as pirimidinas, além de antibióticos
como o cloridrato de tetraciclina. De acordo com Rey (2008), esses
medicamentos antimaláricos podem apresentar as seguintes ações:

• Gametocitocida: Consiste numa ação preventiva, atuando na


interrupção da cadeia de transmissão do parasita. Uma vez, que
ele destrói os gametócitos presentes no sangue do paciente.

• Esporonticida: Também apresenta caráter preventivo, pois atinge


os espozoíto.

• Esquizôntica tissular: Evita as manifestações clínicas da doença,


atuando na fase pré-eritrocítica destruindo os parasitas.

• Esquizôntica tissular: Atuam da fase eritrocítica da doença, pode


não ser tão efetiva no tratamento da malária causada pelo P.
falciparum.

RESUMINDO:

Caro estudante. Chegamos ao fim de mais uma etapa


da nossa aprendizagem. Até aqui, você já deve estar
bem familiarizado com termos da parasitologia. Que tal
revisarmos um pouco do aprendizado deste capítulo?
Neste capítulo, estudamos mais a fundo uma doença
parasitária característica de regiões tropicais e subtropicais
úmidas, com um grande potencial de incidência em áreas
endêmicas. Vimos que os parasitas causadores da malária
pertencem ao gênero Plasmodium e pode ser de diferentes
espécies, sendo a sua forma mais grave causada pelo P.
falciparum. Aprendemos sobre o ciclo de vida desses
parasitas, que é bem mais complexo e envolve um mosquito
do gênero Anopheles como hospedeiro intermediário.
Entendemos como se dá transmissão dessa doença, assim
como seu diagnóstico e profilaxia. Conhecemos também
um pouco da epidemiologia desta doença.
Parasitologia Geral 41

Estudo do gênero de parasita Leishmania -


Aspectos morfológicos e epidemiológicos
INTRODUÇÃO:

Ao término desse capítulo, você será capaz de identificar os


aspectos gerais de um gênero de parasita com importância
médica considerável, que é o da Leishmania e da doença
causada por organismos desse gênero, a Leishmaniose.
Dentre os aspectos do parasita que serão estudados neste
capitulo estão: ciclo de vida, a relação entre o parasita e
hospedeiro, e com relação a malária serão identificadas as
formas de transmissão, tratamento, profilaxia, entre outros
aspectos da doença causada por este agente parasitário.
Então, prontos para aprender mais?? Então vamos lá.

Aspectos gerais do gênero Leishmania


No gênero de protozoários Leishmania existe um complexo de
espécies patogênicas que compreende: Leishmania major, L. tropica, L.
aethiopica, L. donovani, L. infantum, L. amazonenses, L. mexicana. Estas
classificações são baseadas na sintomatologia clínica, localização e
histórico do caso. Todas essas espécies são transmitidas pela fêmea do
mosquito palha infectada, que configura como hospedeiro intermediário.
Figura 9: Digrama esquemáticos dos tipos de Leishmaniose
e as espécies causadoras destas doenças.

Leishmania

Cutânea e Cutânea e
Mucocutânea Visceral Mucocutânea
Velho Mundo Novo Mundo

L. major
L. donovani L. amazonenses
L. tropica
L. infantum L. mexicana
L. aethiopica

Fonte: Elaboração da autora 2020 com base no trabalho de Rocha (2013).


42 Parasitologia Geral

As espécies do gênero Leishmania são protozoários digenéticos ou


dimórficos de forma livre flageladas ou formas intracelulares. De acordo
com Neves (2002) este parasita pode apresentar as seguintes formas:

• Amastigotas: Formas morfológicas ovais, esféricos ou fusiformes,


como um núcleo grande e arredondado além de vacúolos. Está
presente neles uma bolsa flagelar que abriga o flagelo que não
se exterioriza.

• Promastigotas: São formas alongadas que apresentam um flagelo


livre e longo e um núcleo central arredondado.
Figura 10: Fotografia em microscopia eletrônica das formas morfológicas do gênero
Leishmania. A imagem (A) indica a forma amastigota do parasita e (B) forma de
promastigota.

Fonte: Wikimedia Commons

Ciclo de vida
O ciclo de vida desses indivíduos é heteróxeno, ou seja, se desenvolve
com a presença de mais de um hospedeiro. Sendo um deles é o mosquito
flebotomíneo, que atua como hospedeiro intermediário. As formas
promastigotas apresentam duas variantes: as promastigotas procíclicas
que ficam fixadas na parede intestinal do inseto e as formas promastigotas
metacíclica, que constituem a forma infectante do protozoário.

As formas promastigotas procíclicas se multiplicam no trato


digestório do inseto por reprodução assexuada do tipo divisão binária
e em seguida se diferenciam em formas infectantes, os promastigotas
metacíclicas. Durante o repasto sanguíneo (alimentação), as formas
Parasitologia Geral 43

infectantes dos protozoários são regurgitadas na pele do hospedeiro


humano. Neste local esses protozoários são rapidamente englobados por
células de defesa, chamada de macrófagos presentes na derme. No interior
da célula hospedeira, os promastigotas metacíclicas se diferenciam nas
formas amastigotas, que causam o rompimento da célula e disseminação
dos organismos no corpo do vertebrado. As manifestações da doença vão
depender do tipo de Leishmaniose causada.
Figura 11: Representação esquemática do ciclo de vida de parasitas
do gênero Leishmania, que é do tipo Heteróxeno.

Fonte: Wikimedia Commons

Descrição do ciclo baseado nos trabalhos de Neves (2002); Rey (2008)


e Rocha (2013): O ciclo se inicia com a picada do mosquito no ser humano
que regurgita as formas infectantes (promastigotas) na derme do ser
humano (Figura 11-1). Os promastigotas são fagocitados por macrófagos
(11-12). As formas promastogotas transformam-se em formas amastigotas
(11-13). Lise celular e liberação dos protozoários no sangue (11-14). Sucção
do sangue infectado por parte do mosquito (11-15). Ingestão de células
infectadas (11-16). Amastigotas se transformam em promastigotas (11-17).
Reprodução destas formas e migração para a probóscide do mosquito
(11-18).
44 Parasitologia Geral

Transmissão
A Transmissão dessa doença se dá por meio da picada da fêmea
de mosquitos Flebotomíneos, que tem o nome popular de mosquito
palha, que ao se alimentar do sangue humano inocula formas infectante
na derme humana, que são regurgitadas de seu trato digestório. Os
mecanismos de patogenicidade e sintomatologia da Leishmaniose vão
depender da espécie de parasita transmitido.

Mecanismos patogênicos e sintomatologia


da Leishmaniose
A leishmaniose pode demorar um certo tempo para manifestar seus
sintomas, esse é denominado período de incubação e que compreende
o tempo decorrido desde a picada do inseto, até o aparecimento das
primeiras lesões que podem variar de duas semanas a três meses.

A picados do inseto atrai para a região células de defesa do tipo


macrófagos os quais são infectados pelos promastigotas. A lesão inicial
consiste num infiltrado inflamatório repleto de macrófagos parasitados na
derme. Essas lesões iniciais são semelhantes para todas as espécies do
gênero Leishmania.

Para melhorar seu entendimento, dividiremos a sintomatologia de


acordo com os tipos de Leishmaniose, seguindo o exposto no trabalho de
Neves (2002):

• Leishmaniose cutânea: Esta é a forma mais comum e mais


branda da doença e envolve manifestações apenas na pele
humana, localizadas na região onde se deu a picada, geralmente,
na face, braços e pernas. Eventualmente, os parasitas podem
migrar para outras regiões através do sistema linfático produzindo
lesões secundárias. As referidas lesões não são doloridas e
são conhecidas como botão do oriente, devido ao seu formato
avermelhando, porém, elas não afetam o tecido cutâneo.

• Leishmaniose mucocutânea: Esta é uma forma potencialmente


mais agressiva da doença, que pode ser fatal, e, por isso, necessita
Parasitologia Geral 45

de tratamento mais intenso. É chamada, também, de úlcera de


Bauru. Nela ocorre um espalhamento das lesões cutâneas,
principalmente para as regiões da boca e do nariz, provocando
congestão nasal persistente, erosões e úlceras próximas da boca
e lábios. Nos casos mais graves podem se identificar edemas nas
narinas, perfuração do septo nasal, ulceração do palato e edemas
nas gengivas, e podem causar degeneração da cartilagem.

• Leishmaniose visceral: É considerada a forma mais severa da


doença. Existem dois tipos que se classificam de acordo com sua
forma de transmissão: A zoonótica transmitida de um animal (cães)
para o inseto vetor e deste para o ser humano; e a antroponótica
transmitida do ser humano para o mosquito vetor e deste para o
ser humano novamente. Está caracterizada por febre, perda de
peso, fadiga, fraqueza, perda de apetite, aumento de órgãos como
baço e fígado e inchaço nos vasos linfáticos.

Diagnóstico
Para um efetivo diagnóstico é necessário a identificação do parasita,
porém para as formas mais graves esta é uma tarefa mais complicada.
O método mais utilizado para esta identificação é o exame de lâminas
histológicas coradas.

Testes sorológicos são os métodos de imunodiagnóstico mais


utilizados a fim de detectar a imunidade celular humana aos parasitas
do gênero Leishmania. Segundo Rocha (2013), as principais formas de
diagnóstico para todos os tipos de leishmaniose são:

• Exame direto de esfregaços corados: Realização de biópsia


ou curetagem nos bordos da lesão. Nesse caso, retira-se um
fragmento que será observado em microscopia óptica. O material
pode ser corado por: derivados de Romanowsky, Giemsa ou
Leishman.

• Exame histopatológico: O fragmento obtido por meio de técnica


de biópsia é submetido a técnicas histológicas, a fim de se
detectarem formas amastígotas algum infiltrado inflamatório.
46 Parasitologia Geral

• Cultura: Cultura de fragmentos ou de aspirados dos bordos das


lesões ou de áreas próximas, a fim de observar o desenvolvimento
do parasita.

• Teste de Montenegro: Consiste no teste imunológico mais


utilizado, ele avalia a hipersensibilidade retardada do paciente.

• Reação de Imunofluorescência Indireta (RIFI): Consiste em


um teste sorológico. Uma vez que esse tipo de teste não é
espécie-específico, ocorrem reações cruzadas com outros
tripanossomatídeos, em áreas endêmicas onde ocorrem a doença
de Chagas e o calazar.

Para um melhor entendimento das formas de diagnóstico, essas


também serão divididas de acordo com Neves (2002) os tipos de
leishmaniose:

• Leishmaniose cutânea: devido a diversidade de forma


morfológicas encontradas no ciclo de vida desses parasitas os
exames histológicos não são precisos, uma vez que a única forma
detectável neles são os amastigotas. Portanto, são necessários
exames mais elaborados como biópsia, imunodiagnóstico. Testes
sorológicos também não são eficientes, uma vez que os anticorpos
se apresentam em níveis muito baixo neste tipo de doença.

• Leishmaniose mucocutânea: A biópsia e os métodos


histopatológico são os mais eficazes. A PCR, pode ser o método
mais eficiente para detecção dessa doença.

• Leishmaniose visceral: É indicado a realização de biópsia em


vários locais dos organismos como: fígado, baço, linfonodos e
medula óssea.
Parasitologia Geral 47

Figura 12: Fotografias de pessoas acometidas por Leishmaniose cutânea. A imagem (A)
demonstra a fase inicial da doença e a imagem (B) mostra a fase mais grave da doença.

Fonte: Wikimedia Commons

Epidemiologia
As espécies do gênero Leishmania que parasitam o homem estão
distribuídas em várias regiões do mundo, atingindo uma boa parcela da
população mundial. Um grande número de espécies de mamíferos age
como reservatório natural da Leishmania. Os parasitos são comumente
encontrados em roedores, marsupiais, endentados, procionídeos e
primatas. Entre os animais domésticos, os cães são importantes na
epidemiologia da doença, principalmente pelo fato de serem considerados
reservatórios naturais de parasita do gênero Leishmania causadores da
forma mais grave da doença, a leishmaniose visceral.

Um fator que tem acelerado a disseminação dessas doenças nos


seres humanos consiste no desmatamento de extensas áreas de florestas.
Como o mosquito naturalmente é um ser arborícola (habita a copa das
árvores), quando ocorre o desmatamento, ele tende a procura abrigo em
áreas residências próximas.

Atualmente, as leishmanioses são consideradas doenças tropicais


negligenciadas, tendo em vista que mais de um milhão de novos casos
ocorre a cada ano.
48 Parasitologia Geral

Profilaxia
Dentre as medidas de profilaxia mais importantes estão:

• Identificação e eliminação dos reservatórios dos parasitas, a


exemplo dos cães, a fim de reduzir o risco de transmissão em
um raio de no mínimo 500 metros dos locais de incidência da
doença, devido a baixa capacidade de voo do inseto. No Brasil,
muitas regiões adotam a eutanásia dos cães contaminados com o
parasita, medida um tanto controversa.

• Controle e eliminação do inseto vetor. No entanto, os larvicidas


utilizados no combate de outras doenças como a malária, não
se mostram eficientes nestes tipos de parasitas, uma vez que o
habitat das larvas de flebotomíneos não são reservatórios de água
e sim ambientes úmidos. Para o controle das formas adultas, é
recomendado a utilização de inseticidas, mosquiteiros e repelentes
em áreas de incidência da doença.

Tratamento
O fármaco mais utilizado para o tratamento dessa doença é o
antimônio pentavalente. Apesar de ele não ser considerado perfeitamente
eficaz e seguro. Não deve ser utilizado por pacientes com problemas
cardíacos devido a manifestações de alguns efeitos colaterais como:
mialgia, dores abdominais, rigidez articular e alguns efeitos mais danosos
como pancreatite, anemia, até choque anafilático e se utilizado por
mulheres grávidas pode ser abortivo. A via de administração é geralmente
intramuscular, mas também pode ser feito endovenoso ou local.

Segundo Rocha (2013), outros medicamentos podem ser alternativos


ao citado anteriormente, estes são:

• Pentanamida: Medicamento que age no DNA do parasito, é de


fácil aplicação, porém seu custo é alto.

• Anfotericina B: Age alterando a membrana celular do parasito,


gerando um desequilíbrio iônico.
Parasitologia Geral 49

• Milefosina paromomicina: Age na inibição da síntese de RNA dos


ribossomos e nas mitocôndrias dos parasitas.

Além disso, a busca de uma vacina vem sendo realizada em vários


países inclusive no Brasil, alguns testes já mostram uma boa eficiência,
porém, é necessário viabilizar sua utilização em áreas de risco.

Também pode ser utilizado um tratamento local utilizado o


unguento de paramomicina a 15% e cloridrato de metilbenzotônio a 12%.

RESUMINDO:

Caro estudante. Chegamos ao fim de mais uma etapa da


nossa aprendizagem. Até aqui, você já deve estar bem
familiarizado com termos as doenças e seus protozoários
parasitas causadores. Que tal revisarmos um pouco do
aprendizado deste capítulo? Neste capítulo, estudamos
mais a fundo uma doença parasitária característica de
regiões tropicais e subtropicais úmidas, com um grande
potencial de incidência em áreas endêmicas e que tem
sido negligenciada nos últimos anos. Vimos que existem
diversos tipos de parasitas do gênero Leishmania que
causam três tipos de leishmaniose (cutânea, mucocutânea
e visceral). Aprendemos sobre como se dá o ciclo de vida
desses parasitas, que é bem mais complexo e envolve um
mosquito flebotomíneo como hospedeiro intermediário.
Entendemos como se dá transmissão dessa doença,
assim como seu diagnóstico e profilaxia. Conhecemos
também um pouco da epidemiologia dessa doença e que
animais domésticos, como os cães, podem atuar como
reservatórios desses parasitas.
50 Parasitologia Geral

REFERÊNCIAS
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