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Introdução a

Fitoterapia
Luciano Senti da Costa

Unidade 02

Relações entre a
biodiversidade,
biomas, economia e
a flora medicinal
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Diretora Editorial
ANDRÉA CÉSAR PEDROSA
Projeto Gráfico
MANUELA CÉSAR ARRUDA
Autor
LUCIANO SENTI DA COSTA
Desenvolvedor
CAIO BENTO GOMES DOS SANTOS
O autor
LUCIANO SENTI DA COSTA

Olá. Meu nome é Luciano Senti da Costa. Sou formado em Ciências


Biológicas e tenho mestrado e doutorado em Farmacologia. Em minha
carreira acadêmica e profissional atuei em diversas áreas laboratoriais
por aproximadamente 25 anos, na parte experimental, na docência e na
pesquisa científica, dentre estas, a Fitoterapia. Atualmente trabalho como
diretor técnico-científico na empresa Studio Educacional DL, além de
exercer consultorias em assuntos relacionados à Biologia para empresas.
Em minha jornada aprendi que o professor deve ser uma pessoa capaz de
conduzir seus alunos ao conhecimento, indicando os melhores caminhos
e colaborando para seu desenvolvimento acadêmico, profissional e como
cidadão. Seguindo este mesmo ideal, hoje faço parte da equipe da Editora
Telesapiens e o material a seguir foi produzido pensando em você! Desejo
que tenha muito sucesso em seus estudos.
Iconográficos
Olá. Meu nome é Manuela César de Arruda. Sou a responsável pelo pro-
jeto gráfico de seu material. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de
aprendizagem toda vez que:

INTRODUÇÃO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimen- de se apresentar
to de uma nova um novo conceito;
competência;
NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram
vações ou comple- que ser prioriza-
mentações para o das para você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado sobre o tema em
ou detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e sidade de chamar a
links para aprofun- atenção sobre algo
damento do seu a ser refletido ou
conhecimento; discutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso acessar quando for preciso
um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das
assistir vídeos, ler últimas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma ativi- quando o desen-
dade de autoapren- volvimento de uma
dizagem for aplicada; competência for
concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Relações entre a Biodiversidade, biomas, economia e a flora
medicinal...................................................................................12

Biodiversidade da flora brasileira................................................12

Biomas e a flora brasileira...........................................................14

Amazônia.......................................................................17

Cerrado...........................................................................21

Mata Atlântica.................................................................23

Caatinga..........................................................................24

Pantanal..........................................................................26

Pampa.............................................................................28

Aproveitamento econômico da Biodiversidade ...........................29

Uso sustentável da flora...............................................................31

Fundamentos botânicos da planta medicinal ao fitoterápico...33

Noções básicas de anatomia e fisiologia vegetal..........................34

A raiz e o Caule...........................................................................34

A raiz.............................................................................34

Caule..............................................................................40

As folhas e flores.........................................................................41
As folhas.........................................................................41

As flores..........................................................................43

Os frutos e sementes...................................................................45

Elementos bioativos dos vegetais..............................................47

Princípio ativo de plantas............................................................47

Princípio ativo e influência dos elementos externos....................48

Classificações dos princípios ativos de plantas............................50

Produtos Tradicionais Fitoterápicos (PTFs)............................54

Regulamentação dos PTFs..........................................................55

Medicamento fitoterápico x PTF.................................................56

Comprovação por tradicionalidade..............................................57


Introdução a Fitoterapia 9

02
UNIDADE

RELAÇÕES ENTRE A BIODIVERSIDADE,


BIOMAS, ECONOMIA E A FLORA MEDICINAL
10 Introdução a Fitoterapia

INTRODUÇÃO
Nesta unidade estudaremos algumas características biológicas
das plantas medicinais, tendo em vista conhecer um pouco mais a
respeito das influências dos diversos biomas nos mecanismos adaptativos
fisiológicos das plantas. Vamos estudar a biodiversidade da nossa flora ao
longo do nosso extenso e rico país, sempre pensando em uma utilização
sustentável e consciente dos recursos naturais. Veremos se é possível
aliar desenvolvimento econômico com equilíbrio e sustentabilidade.
Estudaremos também um pouco a respeito da anatomia e fisiologia
básica das plantas, bem como as classificações do Reino Plantae. Por
fim estudaremos a origem nos princípios ativos das plantas e como são
formados. Iniciando a parte mais prática da disciplina, iremos estudar os
principais produtos tradicionais fitoterápicos, bem como as legislações
pertinentes ao assunto em nosso país. Lhe desejo sucesso neste estudo!
Bons estudos!
Introdução a Fitoterapia 11

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso propósito é auxiliar
você no desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o
término desta etapa de estudos:
• Compreender as relações entre biodiversidade, ecologia,
economia e a flora medicinal.
• Entender os fundamentos botânicos da planta ao fitoterápico.
• Compreender os fatores de influência externa na composição dos
princípios bioativos das plantas.
• Conhecer os principais princípios ativos vegetais e fitoterápicos
tradicionais.
O câncer é uma doença muito complexa, por isso exige muita
dedicação para conhece-la. Então? Preparado para uma viagem sem volta
rumo ao conhecimento? Ao trabalho!
Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao
conhecimento? Ao trabalho!
12 Introdução a Fitoterapia

Relações entre a Biodiversidade, biomas,


economia e a flora medicinal
OBJETIVO
Vivemos em um país com grande biodiversidade, tanto
de espécies animais quanto de vegetais. A grande maioria
destes seres vivos se encontra nas florestas tropicais, em
nosso país, especificamente na floresta amazônica. Devido
à extensa área geográfica, o Brasil possui uma diversidade
de biomas, separados por regiões e cada uma destas
apresenta características peculiares, principalmente em
relação a flora medicinal. As relações ecológicas entre
os seres vivos são fundamentais para a manutenção da
biodiversidade. O homem retira da natureza diversos
elementos, como alimentos, materiais para uso em diversas
atividades e plantas medicinais. Estima-se que o Brasil
possua cerca de 20% do total de todas as espécies dos
seres vivos do planeta. Sabemos que grande parte destes
seres ainda não foram estudados, como exemplo, a flora
medicinal, perfazendo menos de 1% do total estimado. É de
extrema importância conhecer a flora medicinal, a fim de
que ocorra o melhor aproveitamento das mesmas. Além de
conhecer a respeito das plantas medicinais, é fundamental
a conscientização para o uso sustentável da flora medicinal,
a fim de mantê-las vivas e úteis para a humanidade.

Biodiversidade da flora brasileira


O Brasil detém o título de país com a maior quantidade de
espécies de seres vivos do planeta, como já discutimos anteriormente.
Em relação à flora, estima-se um total da ordem de 1,8 milhões de
espécies e já catalogadas em torno de 350 mil. De fato conhecemos
pouco a respeito da nossa flora brasileira.
Biodiversidade é uma forma resumida das palavras diversidade
biológica. Este termo teve seus primeiros registros nos anos 80 e
apareceu pela primeira vez em uma publicação em 1988, no livro
organizado pelo prestigiado biólogo Edward O. Wilson que trazia os
resultados do National Forum on BioDiversity (Franco, 2013).
Introdução a Fitoterapia 13

DEFINIÇÃO
Portanto, biodiversidade ou diversidade biológica é definida
como a variabilidade entre todos os seres vivos, quer
sejam terrestres ou aquáticos, resumindo todas as formas
de vida no planeta terra. Esta variabilidade contempla a
diversidade genética, dos ecossistemas e espécies de uma
determinada região.

Dentre esta variabilidade incomensurável temos a flora, com suas


infinitas capacidades, principalmente em relação à saúde dos seres vivos.
No Brasil existe a tradição de uso de plantas medicinais em diversas
regiões do país, cada uma com suas regionalidades. Grande parte do
conhecimento a respeito do uso de plantas medicinais se manteve
e foi sendo passado para gerações posteriores, como já discutimos
anteriormente. Talvez esse ponto da história represente um ponto de
encontro entre as rupturas culturais e a manutenção das tradições
populares sobre o uso das plantas medicinais.
Ao estudarmos a história podemos observar que nossa
biodiversidade foi altamente explorada, principalmente os elementos
que eram mais valiosos, como ouro, madeira, pedras preciosas e
também elementos da flora medicinal. Mesmo com tanta exploração e
interferências, o conhecimento sobre as plantas medicinais ainda perdurou
em muitas populações. É provável que o contato dos primeiros indígenas
com outras culturas, como os europeus e africanos, tenha moldado o
conhecimento fitoterápico original, levando a uma incorporação e troca
de saberes e práticas vindas de outras partes do mundo. Portanto, este
processo apresenta uma característica de construção tradicional de uso
das plantas medicinais baseada em saberes multiculturais.
Há que se considerar este ponto importante na composição do
conhecimento a respeito das plantas medicinais em nosso país, pois
existe a tendência natural de não visualizarmos benefícios do período
de colonização do nosso país, mas somente a exploração dos recursos.
Veremos a seguir quais são os biomas brasileiros e um resumo a respeito
da flora medicinal distribuídas nestas regiões do país.
14 Introdução a Fitoterapia

Biomas e a flora brasileira


DEFINIÇÃO
Um bioma pode ser definido como um local específico
que abriga uma determinada homogeneidade de espécies
biológicas. Geralmente no bioma existem elementos
que definem a sua característica, como o macroclima, a
formação do solo, a altitude, etc.

Devido a grande extensão territorial, nosso país é dividido em


seis biomas: Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pantanal e
Pampas.
Figura 1: Distribuição dos biomas brasileiros

Figura 1: Wikimedia Commons


Introdução a Fitoterapia 15

Em cada um destes biomas, existem características


peculiares, principalmente em relação à distribuição da flora. A fim de
compreendermos melhor o assunto e as espécies da flora, faremos uma
breve revisão da classificação das plantas.
O Reino Plantae se divide conforme o esquema abaixo:

Na figura a seguir podemos ver a árvore filogenética das plantas,


com suas derivações evolutivas.
16 Introdução a Fitoterapia

Figura 2: Árvore filogenética das plantas

Autor: Maulucioni

Nos 6 biomas brasileiros temos mais de 46.000 espécies


conhecidas de vegetais. São, aproximadamente, 4.754 Algas, 33.108
Angiospermas, 1.568 Briófitas, 5.719 Fungos, 30 de Gimnospermas e
1.346 de Samambaias e Licófitas. Porém, mais de 2.300 espécies de
vegetais estão ameaçadas de extinção em nosso país. A tabela a seguir
exemplifica o total de espécies no mundo, separadas por grupos e
nomes comuns.
Introdução a Fitoterapia 17

Tabela 1: Diversidade das divisões do Reino Plantae

Grupo Divisão Nome comum Espécies vivas


Algas verdes Chlorophyta algas verdes 3,800
(clorófitas)
Charophyta algas verdes 4,000 - 6,000
(desmídeas &
carófitas)
Briófitas Marchantiophyta hepáticas 6,000 - 8,000
Anthocerotophy- antocerotas 100 - 200
ta
Bryophyta sensu musgos 12,000
stricto
Pteridófitas Lycopodiophyta l i c ó f i t a s 1,200
(licopódios e
selaginelas)
Pteridophyta fetos e 11,000
cavalinhas
Fanerôgamas Cycadophyta cicas 160
Ginkgophyta ginkgo 1
Pinophyta coníferas 630
Gnetophyta gnetófitas 70
Magnoliophyta plantas com 258,650
flor

Amazônia
O ano de 2019 ficará marcado na história mundial devido aos
inúmeros focos de queimadas na floresta amazônica. É provável que uma
infinidade de espécies vegetais tenha desaparecido nestes incêndios.
A maior quantidade das florestas tropicais brasileiras se localiza
na Amazônia, com uma área estimada de 6.000.000 de quilômetros
quadrados de área total, perfazendo aproximadamente 3,6% da
superfície terrestre global e cerca de 60% estão em solo brasileiro.
18 Introdução a Fitoterapia

Tabela 2: Caracterização do bioma Amazônia Brasileira por Região Fitoecológica Agrupada

Região Fitoecológica Área (km2) %


Agrupada
Vegetação Nativa Florestal 3.416.391,23 80,76
Vegetação Nativa Não- 178.821,18 4,23
Florestal
Áreas Antrópicas 401.855,83 9,50
Vegetação Secundária 125.635,01 2,97
Água 107.787,52 2,55
Total 4.230.490,77 100,00

Fonte: Ministério do Meio Ambiente

Segundo dados apresentados pelo Ministério do Meio Ambiente,


no site oficial, A vegetação predominante na Amazônia é a Floresta
Ombrófila Densa, que corresponde a 41,67% do bioma. Cerca de 12,47%
deste foram alterados por ação humana, sendo que 2,97% encontram-se
em recuperação (vegetação secundária) e 9,50% encontram-se com uso
agrícola ou pecuária.

ACESSE
Existe um site que contém um grande número de registros
de plantas brasileiras, você pode procurar pela classificação
da planta, é um site bastante interessante e soma esforços
de aproximadamente 700 pesquisadores, acesse o site em:
https://bit.ly/2rJyQoj.

É provável que você tenha aprendido na escola a respeito


da importância da Amazônia no equilíbrio do clima no planeta terra.
Ultimamente temos ouvido falar bastante a respeito dos créditos de
carbono e só na Amazônia temos fixado mais de 100 trilhões de toneladas
de carbono, em sua vegetação.
Introdução a Fitoterapia 19

Figura 3: Paisagem da Amazônia a Oeste de Manaus

Autor: LecomteB - Wikimedia Commons

Além da fixação de carbono pelas plantas, a massa vegetal através


do mecanismo da fotossíntese, libera oxigênio e também água e estima-
se uma liberação de 7 trilhões de toneladas de água na atmosfera por
ano. Além disso, temos os rios, que despejam no oceano cerca de 20%
do volume total de água doce contida nos rios do globo terrestre.
No ano de 2017 um estudo liderado por pesquisadores brasileiros
realizou um levantamento de estudos das espécies de vegetais na
Amazônia. Este estudo foi idealizado e coordenado pelo botânico
Domingos Cardoso, do Instituto de Biologia da Universidade Federal da
Bahia. Entre inúmeras incoerências em relação aos estudos e relatórios
antigos, foi estimado que a Amazônia possui 14.003 espécies de plantas
com sementes, as chamadas Angiospermas e Gimnospermas, grande
parte são arbustos, cipós, trepadeiras, plantas epífitas e rasteiras. Já
as árvores maiores perfazem um total de 6.727 espécies registradas
(Cardoso, 2017).
20 Introdução a Fitoterapia

ACESSE
Acesse o artigo em sua íntegra e saiba mais a respeito da
biodiversidade da flora Amazônia:
https://bit.ly/2m3W46o.

Uma obra escrita entre os anos de 1840 e 1906, por naturalistas


austríacos e alemães, intitulada Flora Brasiliensis, catalogou 22.767
espécies da flora amazônica em 2.253 gêneros, com mais de 5.689
outras novas espécies botânicas da Amazônia. Os autores escreveram
20.733 páginas, divididas em 15 partes e com 40 volumes. Esta obra
levou 66 anos para ser finalizada e teve a participação de 65 botânicos e
145 especialistas em coletas de plantas de vários países.

Figura 4: Uma das capas da obra Flora Brasiliensis

Autor: Spedona; Missouri Botanical Garden


Introdução a Fitoterapia 21

ACESSE
Um projeto realizado por diversos órgãos e entidades
resgatou partes desta obra e publicou em um site onde é
possível ver as pranchas e algumas informações a respeito
desta obra tão importante para os estudos da flora da
Amazônia. Visite e navegue no site da Flora Brasiliensis em:
https://bit.ly/2GOleKN

Cerrado
Segundo dados oficiais disponibilizados no site do Ministério
do Meio Ambiente do Brasil, o Cerrado é o segundo maior bioma da
América do Sul, ocupando uma área de 2.036.448 km2, cerca de 22%
do território nacional. A sua área contínua incide sobre os estados de
Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia,
Maranhão, Piauí, Rondônia, Paraná, São Paulo e Distrito Federal, além
dos encraves no Amapá, Roraima e Amazonas.
Neste espaço territorial encontram-se as nascentes das três
maiores bacias hidrográficas da América do Sul (Amazônica/Tocantins,
São Francisco e Prata), o que resulta em um elevado potencial aquífero
e favorece a sua biodiversidade. Considerado como um hotspot mundial
de biodiversidade, o Cerrado apresenta extrema abundância de espécies
endêmicas e sofre uma excepcional perda de habitat.

ACESSE
Saiba mais a respeito do desmatamento no Brasil
acessando o site mantido pelo governo e veja os gráficos e
informações a respeito das projeções e metas do governo
sobre esta questão:
https://bit.ly/2Le6zhW
22 Introdução a Fitoterapia

Do ponto de vista da diversidade biológica, o Cerrado brasileiro


é reconhecido como a savana mais rica do mundo, abrigando 11.627
espécies de plantas nativas já catalogadas.
Existe uma infinidade de frutos típicos do cerrado e alguns deles
são mais consumidos pela população e comercializados em feiras,
como os frutos do Pequi (Caryocar brasiliense), Buriti (Mauritia flexuosa),
Mangaba (Hancornia speciosa), Cagaita (Eugenia dysenterica), Bacupari
(Salacia crassifolia), Cajuzinho do cerrado (Anacardium humile), Araticum
(Annona crassifolia) e as sementes do Barú (Dipteryx alata) e algumas
utilizadas para fins terapêuticos, como o velame, a lobeira, a calunga,
o barbatimão e uma infinidade de plantas usadas ancestralmente
pelas populações do Cerrado. O conhecimento dessas comunidades
associado ao uso e à aplicação das plantas medicinais do Cerrado
também se constitui em um patrimônio cultural de grande importância
para este bioma.

Figura 5: Mapa da área do Cerrado conforme delineado pelo World Wide Fund for Nature

Autor: Pfly
Introdução a Fitoterapia 23

Mata Atlântica
De acordo com os dados informados pelo Ministério do Meio
Ambiente, a Mata Atlântica é composta por formações florestais
nativas (Floresta Ombrófila Densa; Floresta Ombrófila Mista, também
denominada de Mata de Araucárias; Floresta Ombrófila Aberta; Floresta
Estacional Semidecidual; e Floresta Estacional Decidual), e ecossistemas
associados (manguezais, vegetações de restingas, campos de altitude,
brejos interioranos e encraves florestais do Nordeste).
Originalmente, o bioma ocupava mais de 1,3 milhões de km²
em 17 estados do território brasileiro, estendendo-se por grande parte
da costa do país. Porém, devido à ocupação e atividades humanas na
região, acredita-se que hoje tenhamos cerca de 5% da floresta original
encontrada pelos colonizadores. Mesmo assim, estima-se que existam
na Mata Atlântica cerca de 20 mil espécies vegetais (35% das espécies
existentes no Brasil, aproximadamente), incluindo diversas espécies
endêmicas e ameaçadas de extinção. Extensas áreas da mata atlântica
foram derrubadas dando lugar ao plantio de cacau, cana-de-açúcar e
banana.

Figura 6: Delimitação do bioma da mata atlântica

Autor: NASA e Miguelrangeljr


24 Introdução a Fitoterapia

Essa riqueza é maior que a de alguns continentes, a exemplo da


América do Norte, que conta com 17 mil espécies vegetais e Europa, com
12,5 mil. Esse é um dos motivos que torna a Mata Atlântica prioritária para
a conservação da biodiversidade mundial. As árvores da mata atlântica
possuem folhas largas e perenes, semelhantes ao que acontece na
Amazônia. A altura máxima das árvores é cerca de 30 a 35 metros. Há
uma grande quantidade de bromélias e orquídeas.
As florestas e demais ecossistemas que compõem a Mata
Atlântica são responsáveis pela produção, regulação e abastecimento
de água; regulação e equilíbrio climáticos; proteção de encostas e
atenuação de desastres; fertilidade e proteção do solo; produção de
alimentos, madeira, fibras, óleos e remédios; além de proporcionar
paisagens cênicas e preservar um patrimônio histórico e cultural imenso.

IMPORTANTE
Incluso no bioma litorâneo temos o manguezal ou mangue,
sendo um bioma presente em regiões de solo lodoso e
salgado. Normalmente encontramos este bioma onde os
rios desembocam no mar, tornando a região semelhante
a baias de águas paradas. Só não existe mangue na região
do litoral rochoso. Neste bioma encontramos 3 tipos de
vegetação arbórea: o mangue-bravo, o mangue-manso e
espécies do gênero Avicennia.

Caatinga
A caatinga ocupa uma área de cerca de 844.453 quilômetros
quadrados, o equivalente a 11% do território brasileiro. Engloba os
estados Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Rio
Grande do Norte, Piauí, Sergipe e o norte de Minas Gerais.
Introdução a Fitoterapia 25

Figura 7: Foto da Caatinga e exemplar de xique-xique

Autor: Diogo Sergio

Os níveis de chuva nestas regiões são baixos, com valores variando


de 500mm até 700mm por ano. Em algumas regiões do Ceará, a média
nos anos chuvosos chega até 1000mm, mas em épocas mais secas não
ultrapassa 200mm ao ano. A temperatura média varia de 24 a 26 graus
Celsius, com variações mínimas. As paisagens são ainda marcadas por
ventos fortes e secos, tornando os ambientes mais áridos.
Em relação à vegetação da Caatinga, temos plantas com
adaptações ao clima seco, com modificação das folhas em espinhos,
revestimentos impermeáveis e caules com alta capacidade de
armazenamento de água. Dentre as principais plantas temos o mandacaru
(Cereus sp.) e o xique-xique (piloereus sp.). Podemos encontrar também
alguns arbustos e árvores baixas como as mimosas, amburanas, acácias,
remetendo a Caatinga uma imagem de ambiente agreste e espinhoso. A
planta mais típica deste bioma é o Juazeiro (Zizyphus joazeiro).
26 Introdução a Fitoterapia

ACESSE
Se você gosta de fotos, acesse o acervo de fotos da
Caatinga. Esta exposição é formada por textos e fotos
que destacam vários aspectos da caatinga (fauna, flora,
sítios arqueológicos, comunidades tradicionais, unidades
de conservação, alternativas de uso sustentável, dentre
outros) e sua importância para o desenvolvimento do país,
disponível em:
https://bit.ly/2nJsS4Y.

Tabela 3: Caracterização do bioma Caatinga por Região Fitoecológica agrupada

Região Fitoecológica Agrupada Área (km2) %


Vegetação Nativa Florestal 201.428,00 24,39
Vegetação Nativa Não-Florestal 316.889,00 38,38
Áreas Antrópicas 299.616,00 36,28
Água 7.817,00 0,95
Total 825.750,00 100,00

Pantanal

VOCÊ SABIA?
O bioma Pantanal é um complexo mosaico de diversos
biomas, sendo considerado uma das maiores extensões
úmidas contínuas do planeta. Este bioma continental é
considerado o de menor extensão territorial no Brasil,
entretanto este dado em nada desmerece a exuberante
riqueza que o referente bioma abriga. A sua área aproximada
é 150.355 km², ocupando assim 1,76% da área total do
território brasileiro. Em seu espaço territorial o bioma, que é
uma planície aluvial, é influenciado por rios que drenam a
bacia do Alto Paraguai.
Introdução a Fitoterapia 27

O Pantanal sofre influência direta de três importantes biomas


brasileiros: Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica. Além disso, sofre
influência do bioma Chaco (nome dado ao Pantanal localizado no norte
do Paraguai e leste da Bolívia. Segundo a Embrapa Pantanal, quase duas
mil espécies de plantas já foram identificadas no bioma e classificadas
de acordo com seu potencial, e algumas apresentam vigoroso potencial
medicinal. Poucas regiões do mundo tem uma comunidade biológica
tão exuberante quanto o pantanal. No Brasil ocupa a parte Oeste dos
estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, já no exterior, se estende
pelo Paraguai, Bolívia e Argentina.

Figura 8: Foto do Pantanal

Autor: Filipe Frazao

ACESSE
Para saber mais a respeito o Pantanal indico para você o
vídeo Pantanal – A flora, disponível em:
https://bit.ly/2maaIJw
Também leia um artigo excelente sobre a Flora, vegetação
e etnobotânica: conservação de recursos vegetais no
pantanal, disponível em :
https://bit.ly/2omPMzG
28 Introdução a Fitoterapia

Pampa
De acordo com informações do Ministério do Meio Ambiente, o
bioma pampa está localizado no estado do Rio Grande do Sul, ocupando
uma área de 176.496 km². Esta área corresponde a 63% do território do
estado e a 2,07% do território nacional. Neste bioma existem paisagens
variadas, desde serras e planícies, morros e coxilhas. Este bioma possui
um imenso patrimônio cultural associado à biodiversidade. Nestas
regiões vivem os indivíduos chamados de Gaúchos, mantendo as raízes
acessas das tradições da região.
Existem cerca de 3.000 espécies de plantas vasculares, das quais
cerca de 450 são gramíneas, como campim-forquilha, grama-tapete,
flechilhas, barbas-de-bode, cabelos-de-porco, dentre outras. Nas áreas
de campo natural, também se destacam as espécies de compostas e de
leguminosas (150 espécies) como a babosa-do-campo, o amendoim-
nativo e o trevo-nativo. Nas áreas de afloramentos rochosos podem ser
encontradas muitas espécies de cactáceas. Tipicamente vale destacar
a presença do Algarrobo (Prosopis algorobilla) e o Nhandavaí (Acacia
farnesiana) arbusto cujos remanescentes podem ser encontrados apenas
no Parque Estadual do Espinilho, no município de Barra do Quaraí.
As paisagens naturais do Pampa se caracterizam pelo predomínio
dos campos nativos, mas há também a presença de matas ciliares,
matas de encosta, matas de pau-ferro, formações arbustivas, butiazais,
banhados, afloramentos rochosos, etc.
Introdução a Fitoterapia 29

Tabela 4: Caracterização do bioma Pampa por Região Fitoecológica agrupada

Região Fitoecológica Agrupada Área (km2) %


Vegetação Nativa Florestal 9.591,05 5,38
Vegetação Nativa Campestre 41.054,61 23,03
Vegetação Nativa - Transição 23.004,08 12,91
Áreas Antrópicas 86.788,70 48,70
Água 17.804,57 9,98
Total 178.243,01 100,00

O Pampa é uma das áreas de campos temperados mais


importantes do planeta. Cerca de 25% da superfície terrestre abrange
regiões cuja fisionomia se caracteriza pela cobertura vegetal como
predomínio dos campos – no entanto, estes ecossistemas estão entre
os menos protegidos em todo o planeta.
A estrutura da vegetação dos campos – se comparada à das
florestas e das savanas – é mais simples e menos exuberante, mas não
menos relevante do ponto de vista da biodiversidade e dos serviços
ambientais. Ao contrário: os campos têm uma importante contribuição
no sequestro de carbono e no controle da erosão, além de serem fonte
de variabilidade genética para diversas espécies que estão na base de
nossa cadeia alimentar.

Figura 9: Foto panorâmica dos pampas

Fonte: Wikimedia

Aproveitamento econômico da
Biodiversidade
Desde os primórdios da humanidade os seres humanos fazem
uso dos recursos terapêuticos naturais, principalmente à flora medicinal.
30 Introdução a Fitoterapia

Mas seria possível aproveitarmos destes recursos para a melhoria das


condições econômicas de determinada população?
É indiscutível a grande biodiversidade de nosso país, mas por
outro lado não se avistam políticas claras para a exploração destes
recursos, principalmente em relação a nossa flora. O potencial é imenso,
mas ainda é um ponto de pouco investimento tanto do governo quanto
de entidades privadas. Avaliando o contexto histórico de nosso país, as
incursões dos europeus buscavam manter uma base extrativista dos
recursos naturais, apoiada no uso da mão de obra dos índios. Nosso
país tem marcas profundas deste tipo de característica e nos dias atuais
ainda podemos ver algumas empresas do exterior explorando nossos
recursos.
No contexto dos produtos naturais com maiores potencialidades
econômicas em nosso país temos as frutas, óleos essenciais e vegetais,
corantes, fibras, resinas e fitoterápicos. O mercado de fitoterápicos é
praticamente aberto e pouco explorado, mesmo com tantas pessoas
que buscam este tipo de tratamento. Notamos uma busca do governo
brasileiro na inserção de políticas para o uso de plantas medicinais e
este pode ser um fator motivador para a economia. Com a implantação
em 2006 da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos e em
2009 com o incentivo de uso de plantas medicinais pelo SUS, sugerindo
o uso terapêutico de 71 plantas medicinais.

ACESSE
O SUS disponibiliza um excelente material a respeito do
uso de plantas medicinais no âmbito público, acesse o
material em:
https://bit.ly/30uHbJy

Nesta época tive o prazer de acompanhar a instalação de diversas


hortas medicinais em terrenos nas Unidades Básicas de Saúde na zona
sul de São Paulo. O governo incentivou os médicos a prescreverem
tratamentos a base de plantas e as unidades de saúde forneciam as
plantas e também mudas para as pessoas plantarem em suas casas.
Introdução a Fitoterapia 31

ACESSE
Saiba mais a respeito da política nacional de uso de plantas
medicinais assistindo ao vídeo Programa Nacional de
Plantas Medicinais e Fitoterápicos, disponível em:
https://bit.ly/2nC8PFV

Quando pensamos em economia e como usar da biodiversidade


para este fim, temos a tendência de pensar em lucros, como ganhar com
a comercialização de produtos fitoterápicos, mas vamos pensar pelo
outro lado da moeda, quanto se economiza com o uso de fitoterápicos?
Uma grande maioria dos brasileiros não tem condições financeiras
de comprar medicamentos caros e muitas vezes acabam não aderindo
um tratamento por falta de recursos financeiros. O uso das plantas
medicinais pode ser um fator importante para redução dos custos com
medicamentos também por parte do governo.

Uso sustentável da flora


O ser humano sempre esteve em busca de melhor qualidade de
vida, criando, inovando, se desenvolvendo em inúmeros aspectos da
vida. É muito claro para todos nós que este desenvolvimento agrega
elementos como segurança, saúde, conforto e bem-estar às pessoas.
Usufruir deste desenvolvimento, pensando nos recursos naturais é um
desafio, tendo em vista que a matéria prima vem da natureza. Mesmo
que nosso pensamento seja vivermos isolados em uma zona rural, ainda
assim estaremos impactando o meio ambiente, pois nossa sobrevivência
depende de elementos da natureza.
Se observarmos os dias atuais e compararmos com um
período mais antigo, veremos que a humanidade teve um alto índice
de desenvolvimento, mas será que a consciência ecológica também
acompanhou este desenvolvimento? Creio que a resposta a esta
pergunta está bastante clara e estampada em inúmeros veículos de
comunicação. O que fazer então? O que estamos fazendo para tornar
nosso ambiente sustentável? Como está sua pegada ecológica?
32 Introdução a Fitoterapia

Além das ações governamentais, precisamos unir esforços


para a criação imediata de uma consciência ecológica. Assistimos
rotineiramente situações de alto impacto em nossa flora, como as
queimadas e desmatamento para venda ilegal de madeira e para uso
das terras na pecuária.

ACESSE
Assista este vídeo sobre sustentabilidade e as coisas e saiba
que ações podem reduzir seu impacto no meio ambiente,
disponível em:
https://bit.ly/1noDpuB

O desenvolvimento sustentável é necessário a fim de mantermos


os recursos naturais vivos, principalmente nossa rica flora. Não
podemos deixar de lado a tecnologia e o que ela trás de positivo para
a humanidade, mas precisamos pensar antes de tomarmos atitudes
impactantes ao meio ambiente. A biodiversidade da flora que temos em
nosso país oferece boas perspectivas para o mercado de fitoterápicos,
mas precisamos ter em vista um olhar da sustentabilidade destes
recursos, fazendo uso destes bens naturais sem o comprometimento
para as gerações futuras.
A figura a seguir exemplifica um modelo de desenvolvimento
sustentável, onde existe o equilíbrio entre às questões econômicas,
sociais e ecológicas, sendo a sustentabilidade o ponto de encontro
entre ambas as partes.
Introdução a Fitoterapia 33

Figura 10: Modelo de desenvolvimento sustentável

Fonte: Wikimedia Commons

Conciliar o uso da flora com sustentabilidade e o desenvolvimento


humano é um grande desafio. É preciso também respeitar o conhecimento
humano e a forma com que interpretam a natureza nos diversos biomas
brasileiros. Mesmo com a extensa devastação da nossa flora, ainda
restam inúmeras espécies a serem estudadas.

Fundamentos botânicos da planta


medicinal ao fitoterápico
É de fundamental importância estudarmos as partes das plantas
a fim de compreendermos o processo de síntese e armazenamento
dos princípios ativos das mesmas. No capítulo seguinte veremos
mais a respeito dos princípios bioativos encontrados nas plantas. No
capítulo presente, iremos abordar algumas noções botânicas básicas,
principalmente voltadas ao estudo anatômico das plantas, com suas
divisões básicas, como a raiz, caule, as folhas, flores, sementes e
frutos. Você saberia responder qual é a função dos diferentes órgãos
das plantas? Nosso principal objetivo nesta parte do estudo é preparar
34 Introdução a Fitoterapia

você para os estudos mais específicos a respeito da fitoterapia que virão


adiante. Bons estudos!

Noções básicas de anatomia e fisiologia


vegetal
A fim de compreendermos melhor os estudos das plantas
medicinais e posterior produção dos fitoterápicos, precisamos estudar
alguns conceitos básicos da botânica das plantas.
A anatomia vegetal é uma ciência que contempla o estudo da
organização dos órgãos e sistemas das plantas, já a fisiologia vegetal
estuda o funcionamento e inter-relações entre estes órgãos e sistemas.
Veremos a seguir quais são as partes de uma planta, as principais
características e funcionamento de alguns sistemas de metabolismo
primários e secundários.

A raiz e o Caule
A raiz
A estrutura das raízes pode ser considerada simples quando
comparada ao caule, por exemplo. Em geral, as raízes encontram-se
enterradas no solo e portanto, não são vistas com facilidade como as
demais partes da planta.
A profundidade das raízes depende de cada espécie, mas de
maneira geral, concentram-se nos primeiros 15 cm de solo. Porém,
exceções ocorrem, como as raízes de algarobeira (Prosopis juliflora),
árvore encontrada no semi-árido nordestino, utilizada na culinária graças
a seus frutos adocicados, cujas raízes alcançam mais de 50 metros de
profundidade.
Introdução a Fitoterapia 35

Figura 11: Pés de algaroba às margens do Rio Piauí

Fonte: Wikimedia Commons

De maneira geral, as raízes possuem formato cilíndrico, não


possuem clorofila, não possuem nós, não formam folhas nem gemas. É a
primeira estrutura que brota da semente, como primeira necessidade da
jovem planta, que precisa de fixação e alimentação. As raízes exercem
importantes funções para a planta, sendo as principais a captação de
água e sais minerais do solo e fixação no solo.
Como funções secundárias temos a condução de água e
nutrientes, armazenamento de reservas e aeração, além da produção
de hormônios e metabólitos secundários. Os tipos mais comuns de
sistemas de raízes das plantas vasculares são o pivotante e o fascicular.
O sistema pivotante cresce diretamente para baixo e possui no seu
eixo central, ramificações. É uma raiz que alcança maiores profundidades
e são encontradas nas eudicotiledôneas e gimnospermas. O sistema
fasciculado não possui um eixo maior, todas as raízes são de tamanho
aproximado e mais superficiais, é encontrado com maior facilidade nas
monocotiledôneas.
36 Introdução a Fitoterapia

Figura 12: Exemplo de raiz pivotante

Fonte: Wikimedia Commons

A raiz pode ser dividida em 3 partes: epiderme, córtex e cilindro


vascular. A epiderme é a camada mais externa, as células tem paredes
finas, possui pelos com função de absorção e pode ter de uma a várias
camadas. O córtex é a maior camada, pode ter vários tipos de células e
armazenar amido.
Tendo em vista a adaptação das plantas e produção de
metabólitos secundários, muitos elementos medicinais de plantas
podem ser encontrados em maior quantidade nas raízes, tendo em vista
ser uma das regiões da planta mais propensas a alterações adaptativas,
devido ao contato direto com o solo.
Introdução a Fitoterapia 37

IMPORTANTE
O metabolismo vegetal pode ser definido como o conjunto
de reações químicas que ocorrem na planta. Pode ser
primário ou secundário. O primário está relacionado à
produção de grande quantidade de moléculas essenciais
à sobrevivência da planta, como a glicose, o ATP, proteínas
e gorduras. Já os metabólitos secundários são produzidos
em pequenas quantidades e que tem um papel específico
como defesa contra herbívoros, proteção contra os
raios ultravioletas e atração de animais polinizadores.
Os secundários geralmente são mais estudados com
interesses fitoterápicos, alimentares e até na indústria de
perfumes.

Entre os exemplos de raízes com propriedades medicinais


encontra-se o ginseng (Panax gingeng), planta de origem asiática, que
já possui eficácia comprovada. Alguns medicamentos fitoterápicos de
ginseng já são liberados pela Anvisa com os nomes comerciais de
Virilon, Senfor e Bioseng. Com indicações para quadros de fraqueza,
exaustão, cansaço e perda da concentração.
Figura 13: Raízes de ginseng (Panax ginseng)

Fonte: Wikimedia
38 Introdução a Fitoterapia

Outros exemplos de raízes medicinais são o gengibre (Zingiber


officinale), planta cultivada também no Brasil, que possui efeitos
antibacterianos, além de ser usado na culinária. Outras raízes com
propriedades medicinais são o inhame (Dioscorea sp.), a galanga (Alpinia
sp.) e equinácea (Echinacea purpúrea).
Figura 14: Raízes de gengibre (Zingiber officinale)

Fonte: Wikimedia Commons

As raízes podem ser classificadas em tipos especiais, que são:


• Tuberosas – armazenam amido com reserva. Exemplos: cenoura
(Daucus carota subsp. Sativus), batata-doce (Ipomoea batatas);
• Aéreas de suporte e escora – dão suporte para que a planta
permaneça de pé, em especial em solos pantanosos, ou servem de
escora. Exemplos: milho (Zea mays) e figueiras (Ficus sp.);
• Áreas respiratórias e pneumotóforos – presentes em plantas
subaquáticas, tem muito espaço vazio para que absorvam mais oxigênio
da água e podem até crescer de forma vertical do solo para fora da água.
Exemplo: mangue-preto (Avicennia schaueriana);
• Sugadoras ou haustórios – são parasitas (sugam água, sais
minerais ou nutrientes) ou hemiparasitas (sugam apenas água e sais
Introdução a Fitoterapia 39

minerais) de outras espécies. Exemplos: cipó-chumbo e erva-de-


passarinho;
• Aquáticas – as raízes aquáticas podem se desenvolver bem
submersas, a dificuldade que encontram é apenas a absorção de
oxigênio, que na água é menor, para isso compensam com estruturas
que facilitam a aeração.

REFLITA
Apesar de a erva-de-passarinho (Struthanthus flexicaulis)
ser classificada pela Fio Cruz como tóxica, é frequentemente
usada de maneira caseira como remédio para doenças
respiratórias.

Figura 15: Ave pousada em galho de erva-de-passarinho (Struthanthus flexicaulis)

Fonte: Wikimedia Commons


40 Introdução a Fitoterapia

Caule

DEFINIÇÃO
Caule é a estrutura vegetal responsável por conduzir as
seivas das plantas e fornecer sustento.

O caule, assim como a raiz, também é muito variável a depender


da espécie. Podem ser grossos e lenhosos, mas também tenros e
frágeis. Vamos aprender um pouco mais sobre eles neste tópico. Ao
observarmos os caules de uma monocotiledônea e uma eudicotiledônea,
percebemos algumas diferenças. Uma delas é em relação ao sistema
vascular interno, ou seja, as estruturas por onde são transportados a
água, sais minerais, nutrientes e glicose produzida. Na eudicotiledônea,
há um cilindro central fácil de observar, mas nas monocotiledôneas as
estruturas de condução ficam dispersas.

Figura 16: Caule da dicotiledônea medicinal salgueiro-branco (Salix alba)

Autor: Jean-Pol GRANDMONT / Wikimedia Commons


Introdução a Fitoterapia 41

A parte vascular das plantas é formada por xilema e floema. O


xilema transporta água e sais minerais (seiva bruta) e o floema transporta
o que a planta produz através da fotossíntese, como a glicose (seiva
elaborada).
No caule também são produzidos os hormônios vegetais
necessários para o crescimento da planta e no desenvolvimento.
Podem ser verticais e acima do solo, como também podem crescer
sobre o solo ou até mesmo enterrados. Podem ser herbáceos (macio),
sublenhoso (rígido apenas em partes) e lenhoso (muito rígido e grande).
Com fins medicinais, o caule também pode ser utilizado. Como exemplo
podemos citar a carqueja (Baccharis trimera), a cavalinha (Equisetum sp.)
e a jurubeba (Solanum paniculatum).

As folhas e flores
As folhas
Em nossa vida diária costumamos utilizar folhas, principalmente
na alimentação. É comum comermos folhas de alface, couve, salsa,
entre outras. Também para fazer diferentes tipos de chás, as folhas de
erva-cidreira, hortelã e mate são muito apreciadas. As folhas são as
estruturas das plantas responsáveis por realizar a fotossíntese.

DEFINIÇÃO
Fotossíntese é um processo químico que ocorre no interior
das folhas, que tem como função transformar a energia do
sol em energia química, ao utilizar gás carbônico e água e
transformar em glicose na presença de luz solar.

Formadas a partir do caule, as folhas são geralmente verdes. Além


da fotossíntese, são responsáveis pela respiração e transpiração vegetal.
Assim como as raízes e caules, as folhas se adaptam ao ambiente em
que vivem e portanto, demonstram muita variedade entre as espécies.
Em geral são finas e com bastante espaço para absorção de luz do
sol. Nas folhas existem os cloroplastos, locais que contém clorofila, o
42 Introdução a Fitoterapia

pigmento responsável por absorver a luz solar. Graças aos estômatos,


pequenos orifícios nas folhas, a planta é capaz de expulsar e recolher
gases e água.
Algumas espécies, como os cactos, não possuem folhas, pois
estas se transformaram em espinhos com o passar do tempo.

Figura 17: Folhas largas e compridas de pacová (Alpinia zerumbet)

Fonte: Wikimedia Commons

As folhas possuem uma cutícula para evitar a perda excessiva


de água ao mesmo tempo que precisam absorver muita luz do sol e
gás carbônico. As folhas também guardam reservas de nutrientes e os
animais herbívoros as consomem para se alimentarem. A parte mais
usada das plantas medicinais certamente é a folha, por ser fácil de colher,
sem danificar o restante da planta e por conter propriedades medicinais.
Introdução a Fitoterapia 43

Figura 18: Folha de babosa (Aloe vera) com gel medicinal interno

Fonte: Wikimedia Commons

As flores
As flores são um espetáculo à parte. Utilizadas para decoração,
a beleza de cada uma delas chama a atenção e o perfume que exalam
é delicioso. Porém, algumas flores também possuem propriedades
medicinais e são utilizadas há bastante tempo.
Nas flores ficam localizadas as estruturas reprodutivas das plantas.
Toda a beleza e perfume não estão lá por acaso, e não são para chamar
a nossa atenção, mas sim dos polinizadores, como abelhas e borboletas.
Sendo assim, a principal função de uma flor é garantir que
a reprodução sexuada da planta ocorra. As flores possuem partes
femininas e masculinas. Algumas possuem as duas partes (flores
monoicas) e algumas apenas a masculina ou apenas a feminina (flores
dioicas). A parte feminina é o gineceu e nela encontram-se os óvulos. A
parte masculina é o androceu e é onde localiza-se o polén. A junção do
polén com o óvulo resulta em um fruto com sementes que darão origem
a novas plantas. Além destas partes, uma flor possui pétalas coloridas e
sépalas, geralmente de cor verde.
44 Introdução a Fitoterapia

As flores de camomila são utilizadas na preparação de chás por


meio de infusão, que além de deliciosos, auxiliam na digestão e reduzem
a ansiedade.

Figura 19: Flor de camomila seca (Matricaria chamomilla)

Fonte: Wikimedia Commons

Não são todas as plantas que produzem flores, apenas as


angiospermas as produzem. Formam um grupo mais moderno, evoluído
das gimnospermas, que não possuem flores ou frutos. Como exemplo
de gimnospermas temos as araucárias (Araucaria angustifolia), ginkgo
biloba (Ginkgo biloba) e cicas (Cycas revoluta).

ACESSE
Para conhecer a classificação das flores acesse o link:
https://bit.ly/2FoRBC7.
Introdução a Fitoterapia 45

Os frutos e sementes
Após a reprodução ter sucesso, originam-se no lugar das flores
os frutos, que contém as sementes, responsáveis pela propagação
da espécie. Assim como as demais partes das plantas, as sementes e
frutos também podem ser utilizados com fins medicinais. Por motivos
didáticos, frutos e sementes serão abordados juntos neste tópico.
Os frutos constituem a parte das plantas angiospermas que
protegem as sementes e auxiliam na dispersão e nutrição das mesmas.
As sementes contém o DNA da planta a ser formada, dará origem a um
novo exemplar.
Os frutos podem assumir diferentes formatos, tamanhos, sabores
e até mesmo texturas. São resultado do ovário da flor que se desenvolveu
após a reprodução. O fruto da papoula (Papaver somniferum) é um
exemplo do uso do fruto com fins medicinais. Até hoje não é possível
produzir a morfina de forma sintética, sendo necessária a extração do
látex do fruto imaturo.

Figura 20: Fruto da papoula (Papaver somniferum) de onde é extraída a morfina e outras
substâncias medicinais

Fonte: Wikimedia Commons


46 Introdução a Fitoterapia

Alguns frutos tornam-se carnosos, doces e suculentos com


objetivo de atrair animais que os comam e através da liberação das fezes,
ocorra a dispersão e nascimento de novas plantas. Outros tornam-se
secos e por diferentes métodos conseguem espalhar as sementes, seja
por possuírem estruturas leves que flutuam e são levadas pelo vento ou
que explodem e espalham as sementes. As sementes são encontradas
dentro dos frutos e aguardam as condições necessárias para brotarem
e formarem uma nova planta completa e dar continuidade ao ciclo de
vida da espécie.
Várias espécies também são utilizadas de forma medicinal. Um
exemplo é a semente do urucum (Bixa orellana), uma espécie nativa do
Brasil utilizada no preparo de alimentos, mas também como fonte de
cálcio, ferro e fósforo, além de substâncias fitoquímicas.

Figura 21: Sementes de urucum (Bixa orellana)

Fonte: Wikimedia Commons

Existem frutos sem sementes, são chamados de partenocárpicos,


ocorrem sem que haja a fecundação.
Introdução a Fitoterapia 47

ACESSE
Para aprender mais profundamente sobre a classificação
dos frutos, acesse o documento no seguinte link:
https://bit.ly/2ANcWTz.

Elementos bioativos dos vegetais


Para a maioria dos fitoterápicos, os elementos específicos que
determinam a função farmacológica do produto são desconhecidos.
De acordo com a RDC número 17 de 24 de fevereiro de 2000, não
é considerado um medicamento fitoterápico aquele que em sua
composição possua substâncias ativas isoladas, de qualquer origem,
nem as associações com extratos vegetais. As plantas podem apresentar
substâncias bioativas ao logo de toda sua estrutura e a variação destes
elementos pode variar sua quantidade em função da área geográfica
onde estão inseridas, estação do ano e condições do ambiente. Neste
capítulo iremos estudar sobre os elementos bioativos vegetais e suas
relações com a anatomia, fisiologia vegetal e o ambiente.

Princípio ativo de plantas

DEFINIÇÃO
Por definição, o princípio ativo fitoterápico é definido como
uma substância ou um grupo de substâncias extraídas
de plantas, caracterizada quimicamente, com ação
farmacológica conhecida e responsável pelos efeitos
terapêuticos totais ou parciais do fitoterápico (Silva, 2010).

O princípio ativo de uma planta normalmente não se distribui


uniformemente ao longo de todas as estruturas da planta, por vezes se
encontram mais concentrados em regiões específicas.
48 Introdução a Fitoterapia

Princípio ativo e influência dos elementos


externos
São inúmeros os fatores que podem influenciar nas características
das plantas, como os fatores climáticos, de composição do solo, altitude,
agentes poluidores, micro-organismos, etc. As plantas respondem
diretamente ao ambiente das quais estão se desenvolvendo. A fim de
ter maior produção e melhor adaptação, são utilizados micro climas
(estufas), a fim de favorecer o desenvolvimento de algumas espécies,
nestes ambientes é possível controlar diversos elementos, como
umidade, temperatura, iluminação, etc.
Um princípio ativo de uma planta medicinal pode ser algum
produto de metabolismo primário ou secundário da mesma, o primeiro
caso é indispensável para a manutenção e sobrevivência da planta e o
segundo, apresenta características individuais da planta. Em sua grande
maioria, as substâncias com atividade medicinal são resultados do
metabolismo secundário e são dependentes do processo de interação
da planta com o local onde ela está inserida.
A grande maioria das plantas sofrem adaptações de elementos
relacionados com sua fisiologia, em função do tipo de solo, clima,
altitude e a presença de elementos predadores, como fungos, bactérias
e vírus. Estes fatores externos possuem um impacto multifatorial nas
plantas, tendo em vista estimularem a adaptação das mesmas aos
inúmeros fatores de interferência. Caso a planta não crie mecanismos
compensatórios e adaptativos ao ambiente onde está inserida, é
provável que não sobreviva.
Este processo adaptativo leva as plantas a uma alteração do
metabolismo secundário, ou até mesmo a criação de um novo perfil de
metabólitos secundários. Este é o ponto principal para a utilização das
plantas para os fins medicinais, tendo em vista que este perfil adaptativo
é o que pode eleger uma planta como um espécime para fins medicinais.
Portanto, se preservarmos as plantas em seus biomas específicos,
podemos considerar que sejam mantidas as características originais de
variabilidade genética e perfil fitoquímico. O plantio direto, em biomas
diferentes, pode causar uma reversão das adaptações, levando a perda
Introdução a Fitoterapia 49

da capacidade medicinal das plantas.


A fim de ser mantido um equilíbrio das funções fisiológicas das
plantas, as mesmas precisam estar em um ambiente que seja favorável
ao seu desenvolvimento como um todo, por exemplo, dos elementos
essenciais, como a água, uma redução ou aumento exagerado são
prejudiciais, podendo causar a morte da planta.
Portanto, o ambiente onde a planta está inserida determina
as respostas adaptativas que serão desenvolvidas, normalmente
encontramos os seguintes tipos de ambientes: úmidos, aquáticos, secos,
manguezais, ambientes com baixa luminosidade, com solos pobres
e também elementos com baixas temperaturas. Alguns destes foram
apresentados anteriormente nos respectivos biomas.
Exemplo: Um exemplo bastante interessante de adaptação aos
solos pobres acontece no caso das plantas carnívoras. Estas plantas não
dependem exclusivamente dos nutrientes advindos do solo e realizam
absorção de nutrientes de outros seres vivos que são capturados pelos
mecanismos adaptados deste tipo de planta.

Figura 22: Exemplar de uma planta carnívora, Espécime de Nepenthes sibuyanensis.

Fonte: Wikimedia Commons


50 Introdução a Fitoterapia

Classificações dos princípios ativos de


plantas
Além das substâncias produzidas nos mecanismos básicos
de manutenção primária, as plantas produzem outros elementos que
auxiliam na sua defesa contra predadores naturais, proteção e até mesmo
para reprodução. Na tabela a seguir está apresentado um resumo dos
principais princípios ativos das plantas, uma breve descrição, efeitos
biológicos e alguns exemplos de cada uma das classes.

Tabela 5: Classificação dos princípios ativos das plantas.

Classificação
Efeitos
do princípio Descrição Exemplos
biológicos
ativo
Substâncias que
por aquecimento
em meio ácido,
ou por ação de Dedaleira,
enzimas liberam trombeteira;
um ou mais glicosídeos
açúcares e outro Aumentam a cianogênicos-
componente capacidade de alta
denominado de contração toxicidade e
1. Glicosídeos
aglicona. Os do coração, que liberam
mesmos são cardiotóxicos e ácido cianídrico,
de ocorrência cardioativos. ex: mandioca-
frequente em brava e
plantas e são pessegueiro-
agrupados de bravo.
acordo com a
estrutura das
agliconas.
Introdução a Fitoterapia 51

São substâncias
químicas
complexas, que
se distribuem
por toda a planta
ou partes da
planta, como
mecanismo
de proteção
Romã e goiaba
a herbívoros.
Vasoconstrito- – antidiarréico
São percebidas
ra, cicatrizante, e antisséptico,
facilmente
2. Substâncias hemostática, boldo, chapéu-
pela sua
tânicas antidiarreica, de-couro
adstringência.
antisséptica e e confrei -
Têm
adstringente adstringente,
propriedades
etc.
de precipitar
proteínas,
formando
uma camada
protetora, em
pequenas
doses. Em doses
maiores podem
causar irritação
São substâncias
oleosas, com
odor intenso
Antisséptica,
e agradável
bactericida,
e que são Hortelã -
diurética, an-
extremamente mentol,
tiespasmódica
voláteis. Os manjericão,
3. Óleos (cólica), an-
principais eucalipto –
voláteis e ti-inflamatória,
componentes eucaliptol,
essenciais expectorante,
deste grupo melissa, erva de
antivirótica, cica-
são substâncias santa maria –
trizante, vermífu-
químicas ascaridiol, etc.
ga, analgésica e
denominadas
sedativa.
terpenos,
monoterpenos e
sesquiterpenos.
52 Introdução a Fitoterapia

É uma secreção
fisiológica da
planta, espe-
cialmente as de
porte arbóreo. É
amorfa, quase
sempre transpar-
ente e insolúvel
em água, entre-
tanto solúvel em Bálsamo-
Anti-inflamatória,
4. Resinas e álcool e sol- brasileiro,
antisséptica e
óleo-resinas ventes orgânic- bálsamo-do-
cicatrizante
os. A categoria peru, etc
engloba gomas-
resinas (go-
ma-laca vegetal,
incenso, etc.)
óleo-resinas e
bálsamos (tere-
bentina, benjoim,
bálsamo-do-pe-
ru, etc.)
São substâncias Podem acar-
nitrogenadas de retar distúrbios
reação alcalina neuropsíquicos,
(de onde vem o como exemplo
Beladona
nome), com um hioscinamina,
(Atropa
ou mais átomos escopolamina,
beladona),
de carbono, atropina. Esta
5. Alcalóides estramônio e
normalmente em última é usada
saia branca
estrutura cíclica. no tratamento
(Datura
Apresentam de envenena-
graveolens)
atividades farma- mento por uso
cológica mar- de agrotóxicos
cantes e muito fosfatados e car-
diversificadas. bamatos.
Introdução a Fitoterapia 53

Atuam na at-
ração de insetos
pelas plantas
para a sua
polinização. De
Substâncias acordo com sua
fenólicas de am- estrutura, apre-
Hortaliças,
pla distribuição sentam ação
frutas, cereais,
no reino vegetal, farmacológica
chás, café,
6. Flavanóides ocorrem de for- diversa como
cacau, vinho,
ma livre (agli- diminuição da
suco de frutas
conas) ou ligadas permeabilidade
e soja.
a açúcares e da fragilidade
(glicosídeos). dos vasos san-
guíneos, ação
anti-inflamatória,
antiespasmódi-
ca, antiviral e
antibacteriana.
São polis-
sacarídeos Protegendo
(condensação de as mucosas
açúcares mais contra irritantes,
simples) que em atenuando in- Folhas e
contato com a flamações, bem sementes de
água incham for- como regulado- linhaça, folhas
7. Mucilagens
mando um com- ras da atividades e sementes de
posto viscoso. As digestiva em tansagem, folha
mucilagens são pequenas doses da babosa, etc.
encontradas em (em doses
sementes, caules, maiores tor-
frutos, raízes e até nam-se laxativas
folhas.
Os ácidos málico
Metabólitos
e tartárico atuam
secundários
como desinfe-
da respiração São
tantes e recon-
8. Ácidos e fotossíntese encontrados em
stituintes da flora
orgânicos das plantas e frutas maduras
intestinal, com
que atuam de em geral.
ação antagôni-
diversas formas
ca a bactérias
no organismo.
estomacais.
54 Introdução a Fitoterapia

São glicosídeos
com propriedade
de formar espu-
Possuem ação
ma abundante
hemolítica
em presença de
(destruição
água (de onde
de glóbulos
provem seu
vermelhos). São
nome, indicando
de ocorrência
propriedades ig- Tansagem,
ampla em plan-
9. Saponinas uais ao do sabão). chapéu de
tas medicinais
São tóxicas para couro, etc.
e comestíveis,
peixes, crustáceos
com atividades
e insetos, mas
fungicida e
não ao homem
antibiótica, ou
devido a sua
anti-inflamatória
baixa capacidade
e antiulcerosa.
de absorção
pelo estômago e
intestino.

Fonte: (Bevilaqua, 2007)

ACESSE
O uso de plantas medicinais causa uma cura segura? Leia
este excelente artigo sobre o assunto de uso das plantas
medicinais. Disponível em:
https://bit.ly/2IS30dj.

Produtos Tradicionais Fitoterápicos


(PTFs)
A Anvisa criou recentemente uma nova classe de fitoterápicos, os
Produtos Tradicionais Fitoterápicos. Com esta regulamentação, objetiva-
se informar a população se o produto que ela está utilizando passou
por todos os testes clínicos de segurança e eficácia ou se foi aprovado
por tempo de uso tradicional seguro e efetivo. Abordaremos neste
capítulo uma síntese a respeito deste assunto recente no mercado dos
fitoterápicos. Bons estudos!
Introdução a Fitoterapia 55

Regulamentação dos PTFs


A Anvisa é um órgão governamental que possui por competência
legal promover a revisão e atualização periódica da Farmacopeia
Brasileira, conforme disposto no inciso XIX do artigo 7º da Lei 9.782 de
26 de janeiro 1999.
A RDC nº 26/2014, separa os fitoterápicos em duas classes,
Medicamentos Fitoterápicos e PTF, traz o conceito de PTF, tendo a
demonstração do tempo de uso por meio de literatura técnico-científica
como a principal forma de comprovação de sua segurança e efetividade.
Recentemente houve uma atualização de registro dos
medicamentos fitoterápicos e a criação de novas instruções para produtos
tradicionais fitoterápicos (PTFs). Conforme informações da Anvisa, a
base de dados de PTFs que podem ser notificados foi atualizada em
24/4/15 e dela constam as espécies vegetais que atendem aos critérios
estabelecidos pelo art. 38 da RDC nº 26, de 2014:
“Art. 38: Somente será permitida a notificação como produto
tradicional fitoterápico daqueles IFAV (Insumo Farmacêutico
Ativo Vegetal) que se encontram listados na última edição
do Formulário de Fitoterápico da Farmacopeia Brasileira
(FFFB) e que possuam monografia específica de controle
da qualidade publicada em farmacopeia reconhecida pela
Anvisa.”

ACESSE
Caso ainda não tenha o link de acesso a farmacopeia
brasileira na sua última versão e demais documentos,
acesse já:
https://bit.ly/2lKJite.

O registro simplificado de fitoterápicos pode ser feito por duas


opções: por meio da lista de medicamentos fitoterápicos de registro
simplificado (IN nº 02/2014), que contém vinte e sete medicamentos
fitoterápicos e dezesseis PTFs e por meio das monografias de
fitoterápicos estabelecidas pela Comunidade Europeia ou reconhecidas
56 Introdução a Fitoterapia

pela Anvisa. Produtos manipulados possuem regras específicas a serem


seguidas: farmácias de manipulação devem seguir as RDC nº 67/2007 e
nº 87/2008; e Farmácias Vivas devem seguir a RDC nº 18/2013.
Figura 23: Resumo das normas aplicáveis ao registro e notificação de fitoterápicos

Fonte: Anvisa

Medicamento fitoterápico x PTF


A tabela a seguir resume a nova categoria para a classificação
dos PTFs.
Introdução a Fitoterapia 57

Tabela 6: Diferenças entre os fitoterápicos tratados pela RDC nº 26/2014

ACESSE
Caso tenha interesse específico neste assunto, sugerimos
a leitura do texto de orientação sobre a Notificação
Simplificada de Produto Tradicional Fitoterápico (PTF):
https://bit.ly/2m5M2Sh

Conforme informações da Anvisa as duas regulamentações


tratam apenas de produtos industrializados a serem regularizados junto
a Anvisa, já para os produtos elaborados por comunidades tradicionais
não existe a necessidade de registro, conforme os princípios da norma.
É provável que a partir destas novas regulamentações o mercado
brasileiro se sinta mais atraído na produção dos fitoterápicos, tendo em
vista o estabelecimento de normas coerentes com o mercado brasileiro
e em harmonia com as regras internacionais.

Comprovação por tradicionalidade


A tradicionalidade de uso é uma forma de comprovação de
segurança e efetividade de fitoterápicos permitida no Brasil desde a
publicação da RDC nº 17/2000, que foi revogada pela RDC nº 48/2004,
que por sua vez foi revogada pela RDC nº 14/2010, todas referentes ao
registro de medicamentos fitoterápicos. A RDC nº 14/2010 foi revogada
com a publicação da RDC nº 26/2014, que se encontra em vigor.
58 Introdução a Fitoterapia

Mesmo com tantas adaptações e discussões a respeito do


assunto, as normas para comprovar a tradicionalidade basicamente não
sofreram alterações, permanecendo os mesmos padrões preconizados
pela Anvisa desde 2000 na RDC nº 17.
Este tipo de comprovação de segurança e efetividade através da
tradicionalidade de uso é uma forma orientada pela Organização Mundial
da Saúde (OMS) e existe nas principais legislações internacionais, como
da Comunidade Europeia, Canadá, Austrália, México e Brasil.
Nesta unidade estudamos a respeito de algumas características
biológicas das plantas medicinais, tendo em vista conhecer um
pouco mais a respeito das influências dos diversos biomas nos
mecanismos adaptativos fisiológicos das plantas. Procuramos mostrar
a biodiversidade da nossa flora ao longo do nosso extenso e rico país,
sempre pensando em uma utilização sustentável e consciente dos
nossos recursos. Verificamos que é possível aliar desenvolvimento
econômico com equilíbrio e sustentabilidade. Estudamos também
um pouco a respeito da anatomia e fisiologia básica das plantas, bem
como as classificações do Reino Plantae. Estamos nos aproximando de
assunto mais específicos da fitoterapia e nos próximos capítulos iremos
abordar alguns mecanismos básicos de extração e utilização de plantas
medicinais. Para tal, na unidade presente inserimos alguns conceitos
que irão lhe auxiliar na compreensão das ultimas duas unidades desta
disciplina. Lhe desejo bons estudos e até a próxima unidade.
Introdução a Fitoterapia 59

BIBLIOGRAFIA
Bevilaqua, G. A. P.; Schiedeck, G.; Schwengber, J. E. Identificação e
tecnologia de plantas medicinais da flora de clima temperado. Pelotas:
Embrapa Clima Temperado, 2007. Nota Técnica.

Cardoso, D. et. al. Amazon plant diversity revealed by a


taxonomically verified species list. Proc Natl Acad Sci U S A. 2017 Oct
3;114(40):10695-10700. doi: 10.1073/pnas.1706756114. Epub 2017 Sep 18.

Silva, Penildon. Farmacologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara


Koogan, 2010.
60 Introdução a Fitoterapia

Introdução a Fitoterapia
Luciano Senti da Costa

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