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Sistema de saúde

e organização da
atenção básica:
saúde da mulher,
da criança e do
adolescente
Ana Cláudia Barreiro Nagy

Livro
Didático
Digital

Unidade 01
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Diretora Editorial
ANDRÉA CÉSAR PEDROSA
Projeto Gráfico
MANUELA CÉSAR ARRUDA
Autora
ANA CLÁUDIA BARREIRO NAGY
Desenvolvedor
CAIO BENTO GOMES DOS SANTOS
A AUTORA
ANA CLÁUDIA BARREIRO NAGY

Olá. Meu nome é Ana Cláudia Barreiro Nagy, pedagoga, bacharel


em Letras, Psicopedagoga e Mestra em Educação, com experiência
na área de ensino de 30 anos. Passei por importantes instituições de
ensino como UNIP e Senac. Sou Coordenadora da Pedagogia EaD na
Universidade São Francisco e conteudista em cursos de graduação e
pós. Apaixonada pela minha profissão, agradeço por transmitir minha
experiência àqueles que estão iniciando em suas profissões ou se
aperfeiçoando. Aprendo bastante com cada material que produzo.
Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco
de autores independentes. Estou muito feliz em ajudá-lo nesta fase de
estudo e trabalho. Conte comigo!
ICONOGRAFIA
Olá. Meu nome é Manuela César de Arruda. Sou a responsável pelo
projeto gráfico de seu material. Esses ícones irão aparecer em sua trilha
de aprendizagem toda vez que:

INTRODUÇÃO: DEFINIÇÃO:
para o início do desen- houver necessidade
volvimento de uma de se apresentar
nova competência; um novo conceito;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações es-
necessários obser- critas tiveram que ser
vações ou comple- priorizadas para você;
mentações para o
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e inda-
algo precisa ser gações lúdicas sobre
melhor explicado o tema em estudo, se
ou detalhado; forem necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamento atenção sobre algo
do seu conhecimento; a ser refletido ou
discutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das
assistir vídeos, ler últimas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma ativi- quando o desen-
dade de autoaprendi- volvimento de uma
zagem for aplicada; competência for
concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Determinantes de morbi-mortalidade no processo
reprodutivo humano e na situação ginecológica .............10
Sobre a morbi-mortalidade feminina..................................10
Tipos de Morbidade............................................................14
Implicações fisiológicas e psicológicas do ciclo menstrual e
da gestação........................................................................16
Sobre o ciclo menstrual (CM)............................................17
Sobre a gestação e as mudanças que ela provoca................21
Implicações fisiológicas e psicológicas do puerpério e do
climatério.........................................................................27
O puerpério........................................................................27
O Climatério.......................................................................30
Assistência de equipes multidisciplinares no pré-natal,
puerpério e climatério nas unidades de ESF...................34
Assistência das equipe multidisciplinares no Pré-natal e
Puerpério...........................................................................34
Assistência das equipes multidisciplinares no climatério......38
Considerações finais..........................................................40
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mulher, da criança e do adolescente

01
UNIDADE
Sistema de saúde e organização da atenção básica: saúde da
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mulher, da criança e do adolescente

INTRODUÇÃO
Olá aluno!
Daremos início a mais uma unidade! Nessa unidade discutiremos
questões relativas à morbi-mortalidade, ao ciclo menstrual, à gestação,
ao puerpério e ao climatério, ao pré-natal e à ESF.
Cada um desses temas é de grande importância quando
analisamos a realidade brasileira e as condições de saúde oferecidas às
mulheres, gestantes ou não.
Há muito que ser discutido e apresentado sobre esse assunto, que
vai fazer parte do seu trabalho em campo.
Sugiro, para maior compreensão das temáticas, que você analise
os esquemas, reflita sobre a leitura e visite as indicações para ampliar
seus conhecimentos.
Bons estudos!
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OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso propósito é auxiliar
você no desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o
término desta etapa de estudos:

1. Conhecer e compreender a morbi-mortalidade no processo


reprodutivo humano na situação ginecológica;
2. Identificar as implicações fisiológicas e psicológicas nas diferentes
fases de vida a mulher, especificamente quanto ao ciclo menstrual e a
gestação;
3. Identificar as implicações fisiológicas e psicológicas nas diferentes
fases de vida a mulher, especificamente, puerpério e climatério;
4. Entender a importância de uma assistência adequada das equipes
multidisciplinares no pré-natal, puerpério e climatério nas unidades de ESF.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento? Ao trabalho!
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mulher, da criança e do adolescente

Determinantes de morbi-mortalidade
no processo reprodutivo humano e na
situação ginecológica
INTRODUÇÃO
Vamos estudar agora sobre a morbi-mortalidade no
processo reprodutivo humano na situação ginecológica.
Esse conceito é muito importante, principalmente porque
estamos falando sobre um grupo muito específico e ainda
que, de certo modo, sofre as consequências da história
do nosso país, que ainda não valoriza a mulher como ela
merece.

Vamos lá, então?

Sobre a morbi-mortalidade feminina


Você já ouviu o termo “morbi-mortalidade”? Esse é o primeiro
tópico que vamos discutir. Para começar, essa palavra nos parece ter a
ver como “mórbido” e “mortalidade”, concorda?
É comum escutar que alguém tem “obesidade mórbida”, por
exemplo. Não vamos falar sobre a obesidade, mas o termo mórbido
dessa expressão nos ajuda a pensar sobre nosso tema.
O Ministério da Saúde elaborou em 2004, o documento intitulado
“Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher – Princípios e
Diretrizes”. Para a construção desse documento houve a participação de
vários setores da sociedade, dentre eles os movimentos de mulheres,
negro e o de trabalhadoras rurais, assim como contou com a participação
de sociedades científicas, pesquisadores e estudiosos da área da saúde,
organizações não-governamentais que defendem o tema, gestores do
SUS e agências de cooperação internacional (BRASIL, 2004).
O ponto de partida foi o fato de se dar importância à saúde da
mulher e considerá-la uma política de garantia dos direitos humanos
das mulheres e a redução da morbi-mortalidade, a qual, muitas vezes,
tem causas que podem ser prevenidas e evitadas desde que as políticas
públicas tenham um olhar direto e pontual sobre a saúde desse grupo.
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Para tal, foi importante considerar a questão do gênero e avançar


no que diz respeito aos direitos sexuais e reprodutivos, com ênfase na
melhoria da atenção obstétrica, no planejamento familiar, na atenção
aos abortos ilegais, realizados sem a menor segurança, em clínicas
clandestinas e sem a consideração de que pode gerar mortes, mutilações
e infertilidade pela falta de profissionais preparados e capacitados para
tal prática (BRASIL, 2004).
Outros pressupostos do documento que foram levados em conta
foram combater a violência doméstica e sexual pela qual muitas passam
cotidianamente e o fato de que muitas mulheres são portadoras do
vírus do HIV e outras doenças transmissíveis ou não para o feto e seus
parceiros.
A “Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher –
Princípios e Diretrizes” ampliou as ações para grupos historicamente
alijados das políticas públicas, nas suas especificidades e necessidades,
a saber, mulheres, crianças e adolescentes. Também considerou a
diversidade dos municípios, estados e do Distrito Federal, os quais
tem diferentes níveis de desenvolvimento e de organização dos seus
sistemas locais de saúde e tipos de gestão (BRASIL, 2015).
É importante ressaltar que homens e mulheres são diferentes
no que diz respeito à violência e às questões de saúde e das doenças
contraídas. Por exemplo, a morbidade atinge muito mais as mulheres
do que os homens, especialmente devido à violência sofrida em casa
– doméstica e sexual. Questões associados ao exercício da sexualidade
vitimiza particularmente as mulheres e, “pela particularidade biológica,
têm como complicação a transmissão vertical de doenças como a sífilis
e o vírus HIV, a mortalidade materna” (BRASIL, 2004, p. 25).
No Brasil, as principais causas de morte da população
feminina são as doenças cardiovasculares, destacando-
se o infarto agudo do miocárdio e o acidente vascular
cerebral; as neoplasias, principalmente o câncer de mama,
de pulmão e o de colo do útero; as doenças do aparelho
respiratório, marcadamente as pneumonias (que podem
estar encobrindo casos de aids não diagnosticados);
doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas, com
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destaque para o diabetes; e as causas externas (BRASIL,


2000 apud BRASIL, 2004).
Para análise da mortalidade feminina, um dado interessante
vem das Razões de Mortalidade Materna (RMM), que indicava que entre
1980 e 1986, era alta, mas teve tendência de queda. De 1987 a 1996
manteve-se estável. Já nos anos de 1997 e 1998, aumentou por conta
de causas obstétricas indiretas, óbitos de difícil registro, sugerindo
uma melhoria desse registro. Entre 1999 e 2001 houve nova queda,
possivelmente associada à melhora na qualidade da atenção obstétrica
e ao planejamento familiar como política pública do Ministério da Saúde
(BRASIL, 2004).
Vamos usar agora o comecinho da nossa conversa. Leia a
definição:

DEFINIÇÃO
Morbi-mortalidade é um conceito da medicina que se
refere ao índice de pessoas mortas em decorrência de
uma doença específica dentro de determinado grupo
populacional. Assim, a morbimortalidade observa o número
de indivíduos que morreram como consequência de uma
enfermidade, em relação ao número de habitantes de dado
lugar e período de tempo.

Pensar sobre a morbi-mortalidade não é nada fácil,


especialmente quando ela atinge um grupo tão específico como é o
caso das mulheres. Vejamos como é grave. Vamos pensar sobre uma
doença, a AIDS (Acquired Immunodeficiency Syndrome) ou Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida, que tomou conta da mídia no fim dos anos
80 e tirou de nosso convívio, inclusive, nomes da música que faziam
bastante sucesso na década citada, como o cantor, compositor, poeta
e letrista brasileiro Cazuza, falecido em 07 de julho de 1990, por um
choque séptico, meses depois de ter declarado ser soropositivo. Cazuza
tinha apenas 32 anos de idade.
Outra vítima à mesma época foi o líder da famosa banda britânica
Queen, Freddie Mercury, diagnosticado soropositivo em abril de 1987 e
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que veio a falecer em 24 de novembro de 1991, aos 45 anos.


No caso da AIDS, ou HIV/AIDS, o primeiro caso que se teve
notícia no Brasil foi em 1980 e o contaminado foi do sexo masculino.
Somente em 1983 a primeira mulher apresentou o vírus. À época,
havia registro de 31 homens infectados (CASTILHO et al., 1992) e, de lá
para cá. Houve um crescimento acelerado de contaminação entre as
mulheres, aumentando em proporção de menos de cinco homens para
cada mulher (AQUINO et al., 2000) e muitas dessas mulheres estavam
casadas e com um único parceiro sexual.
É certo que vivemos em um país machista e que ainda falta muito
para que, qualitativamente, esse quadro seja alterado, o que implica
diretamente na saúde feminina. A mulher, apesar de toda liberdade
sexual que conquistou, ainda é vista como o sexo frágil, como aquela
que não pode se relacionar sexualmente com vários parceiros e que
deve procurar preservar seu relacionamento, mesmo que saiba que o
homem com quem partilha o lar tem relações extraconjugais. Isso ocorre
principalmente nas classes economicamente mais baixas, nas quais
as mulheres têm filhos, nem sempre é a provedora do lar e depende
financeiramente do parceiro.
Esse panorama visou mostrar uma questão séria de morbidade,
a qual foi definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como
“qualquer morbidade ou disfunção do trato reprodutivo (...) consequente
ao comportamento reprodutivo, incluindo gravidez, aborto, parto ou
comportamento sexual, podendo incluir aquelas de natureza psicológica”
(OMS, 1989).

Figura 1: Organização Mundial de Saúde

Fonte: Wikimedia Commons


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Tipos de Morbidade
No contexto dessa definição, Fortney (1995) havia apresentado
anteriormente uma categorização quanto à morbidade reprodutiva,
portanto relacionada às mulheres, em três grandes grupos:
1) Morbidade Obstétrica (ou materna): consiste na consequente
à gravidez ou ao parto ou, ainda, a resultante de tratamento recebido no
decorrer da gravidez ou do parto. Também referindo-se às condições
que ocorrem até 42 dias ou 12 meses após o parto (respectivamente,
como na 9ª e na 10ª revisão da CID). Todavia, inclui problemas que
ultrapassam o puerpério, como o prolapso uterino pós-parto prolongado.
Tradicionalmente, é subdividida em quatro categorias:
a) Morbidade Obstétrica Direta: surgida em consequência
à gravidez ou ao parto; que não ocorreria se a mulher
não estivesse grávida. Ex: hemorragias, septicemias
puerperais, desordens hipertensivas, partos distócicos e
consequências do aborto, infecção pós-cesárea;
b) Morbidade Obstétrica Indireta: não resultante de
gravidez, mas agravada a partir de sua ocorrência (malária,
tuberculose, hipertensão crônica, hepatite, câncer de
mama);
c) Distúrbios Psicológicos: associados ao resultado de
gravidez ou a alterações hormonais consequentes à
gestação.
d) Morbidade Não-Obstétrica: agravos acidentais ou
incidentais durante a gravidez, o parto ou o puerpério.
2) Morbidade Ginecológica: problemas do sistema reprodutivo
não resultantes de gravidez ou parto, ou em consequências destes
problemas ou de seu tratamento, dividida em três subgrupos:
a) Morbidade Ginecológica Direta: doenças sexualmente
transmissíveis e outras infecções do trato reprodutivo;
neoplasias do sistema reprodutivo; distúrbios endócrinos
associados à disfunção menstrual/infertilidade;
malformações congênitas ou danos da genitália feminina;
disfunções sexuais; distúrbios associados à menopausa;
infertilidade primária ou secundária; outros problemas
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ginecológicos;
b) Morbidade Ginecológica Indireta: problemas resultantes
de práticas terapêuticas modernas ou tradicionais, como
fistulas consequentes à terapia por radioterapia do câncer
de colo uterino ou mutilação da genitália feminina por
religião ou culturais;
c) Distúrbios Psicológicos: trauma ginecológico ou sexual
e alterações hormonais, como depressão por infertilidade
ou DSTs.
3) Morbidade Contraceptiva: compreende os danos à saúde
decorrentes do uso de contraceptivos, incluindo efeitos locais (irritações,
reações alérgicas, sangramentos e infecções) e sistêmicos (entre outros,
a carcinogenicidade e os impactos sobre os sistemas cardiovascular e
hormonal) (FORTNEY, 1995 apud BRASIL, 2004).
De acordo com essa classificação, ainda haveria a possibilidade
de ampliação para quatro grupos acrescentando a Morbidade Sexual,
que se sobrepõe ao de morbidade ginecológica.
Em continuidade e atualização a esse trabalho, a OMS em
2018 lançou o “World Health Statistics 2018” . Esse relatório trouxe as
estatísticas mundiais de saúde atualizadas relativas à mortalidade,
morbidade, fatores de risco, cobertura de serviços de saúde e sistemas
de saúde como um todo, destacando progressos voltados aos Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável (ODS) em algumas áreas (OMS, 2018 ).

SAIBA MAIS
Consulte os “Progressos rumo aos ODS: uma seleção de
dados das estatísticas mundiais de 2018” no site da OMS,
disponível em: http://bit.ly/39yMTxR

O documento apresenta propostas para a saúde da mulher, traz


iniciativas para assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar
para todos, em todas as idades, como, por exemplo, até 2030,
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reduzir a taxa de mortalidade materna global para menos


de 70 mortes por 100.000 nascidos vivos (...) reduzir a
taxa de mortalidade materna global para menos de 70
mortes por 100.000 nascidos vivos; (...) reduzir em um
terço a mortalidade prematura por doenças crônicas não
transmissíveis via prevenção e tratamento, e promover
a saúde mental e o bem-estar; (...) assegurar o acesso
universal aos serviços de saúde sexual e reprodutiva,
incluindo o planejamento familiar, informação e educação,
bem como a integração da saúde reprodutiva em
estratégias e programas nacionais (OMS, 2018 ).
O que podemos perceber é que a OMS busca desenvolver um
trabalho que amplie a questão da morbidade reprodutiva, incluindo,
especialmente, o foco nos cuidados com a saúde mental e a sexualidade.
Que tipos de ações podem ser desenvolvidas em comunidades
que você conheça, seu bairro, por exemplo, para evitar que uma doença
atinja um grande grupo de pessoas?

Implicações fisiológicas e psicológicas do


ciclo menstrual e da gestação

INTRODUÇÃO
Nosso objetivo agora é olhar atentamente para o que o
ciclo menstrual e a gestação trazem de consequências
para a vida das mulheres. Vamos entender o CM, suas fases
e as mudanças que ocorrem na gravidez.
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Sobre o ciclo menstrual (CM)


Se você que está lendo esse livro didático é mulher, muito
provavelmente já teve problemas por conta da menstruação, como as
“famosas, porém detestáveis” cólicas menstruais. Se você for homem,
não sentiu isso, mas sabe do que estamos falando, afinal, deve ter
convivido com alguma mulher nesse período que estava mal-humorada,
por exemplo.
Às vezes ouvimos coisas do tipo: “ela fica louca quando está
naqueles dias!” ou “parece que vai matar alguém!”, não é verdade?
É, não é nada fácil lidar com essa questão! Pois bem, há muitas
implicações relacionadas ao CM. Antes de falar delas, vamos entender
fisiologicamente o que é esse período e o que acontece com o corpo
feminino (e a cabeça também).
O período menstrual pode ocorrer entre 21 e 35 dias, sendo mais
comum que ocorra entre 28 e 28 dias. É de suma importância conhecê-
lo para compreender como funciona e o que ocorre no corpo feminino
durante esse tempo, principalmente antes e depois da menstruação,
pois diversas modificações biológicas se realizam a cada novo ciclo e
elas tem repercussão sobre o organismo da mulher.
Há três fases distintas durante esse período. Veja na tabela:
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mulher, da criança e do adolescente

Tabela 1: Organização Mundial de Saúde

Fase folicular Fase ovulatória Fase lútea


O aumento nos
níveis de hormônio
luteinizante e folículo-
estimulante assinalam
Caracterizada
o início da fase
por baixos níveis
ovulatória, na qual
de estradiol e
o nível de estradiol
progesterona, que
atinge seu máximo e a
fazem com que O hormônio
progesterona se eleva
o revestimento luteinizante
(LOUREIRO et al., 2011).
uterino degenere e o folículo-
Vem depois do período
e se desprenda estimulante
de ovulação, momento
na menstruação, diminuem, o
em que os hormônios
marcando o folículo se fecha
femininos começam a
primeiro dia do após soltar-se
reduzir gradativamente
CM (LOUREIRO et do óvulo e forma
sua concentração no
al., 2011). Começa o corpo lúteo,
organismo. O folículo
no primeiro dia que segrega
começa a produzir o
da menstruação progesterona.
hormônio chamado
e vai até o dia da Caso o óvulo não
progesterona.
ovulação tendo seja fertilizado,
Entretanto, se o óvulo
a duração de o corpo lúteo
não for fecundado,
aproximadamente se degenera e
a quantidade desse
12 e 16 dias. Essa deixa de produzir
hormônio diminui junto
fase é assim progesterona, o
com os estrógenos,
chamada pois é o nível de estradiol
o que ocorre em 14
período e que os diminui e inicia
dias, provocando
folículos ovarianos um novo CM
uma descamação nas
crescem (LOUREIRO et al.,
paredes do uterinas,
preparando o 2011).
o que vem seguido
corpo feminino
da menstruação
para uma possível
(AYRES, 2018). É a
gravidez (AYRES,
fase folicular que vai
2018).
determinar a duração
da menstruação, que é
variável de mulher para
mulher.

Fonte: Loureiro et al. (2011); Ayres (2018)


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O objetivo do CM, como vimos, é preparar o corpo da mulher para


uma possível gravidez. Ele ocorre nas mulheres em idade fértil (entre
11 e 45 anos) desenvolvendo dois processos: ovulação e eliminação
do óvulo. Entretanto, o CM pode passar desapercebido ou causar
muitos transtornos para as mulheres pois, embora seja natural ocorrer,
como mencionado, nas mulheres em idade fértil, pode provocar além
de simples incômodo, mudanças de humor, dores, inchaço, enjoos
etc. Na literatura médica há descrição de um período que antecede a
menstruação que costuma dar indícios de que ela está chegando.
Em 2016 foi publicado na revista Acta Obstétrica e Ginecológica
Portuguesa, um estudo intitulado “Síndroma pré-menstrual” , de
autoria de Marta Fernandes e Daniel Pereira da Silva, médica interna
e chefe do serviço do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia do
Hospital S. Teotónio, de Viseu e do Instituto Português de Oncologia, de
Coimbra, que analisou os distúrbios pré-menstruais como a Síndrome
Pré-menstrual (SPM) e o Distúrbio Disfórico Pré-menstrual (DDPM) e os
sintomas pré-menstruais exacerbados.
No artigo, os médicos analisaram a influência biológica significativa
no corpo feminino no CM e suas ramificações físicas e emocionais e
utilizaram como critérios de diagnóstico de SPM os seguintes sintomas:
sensação de tristeza, desespero ou autodepreciação; tensão, ansiedade,
instabilidade emocional, choro fácil ou irritabilidade persistente; fúria;
desinteresse pelas atividades habituais; dificuldade de concentração;
sensação de fadiga; alterações do apetite; insônia ou hipersônia;
sensação de estar sobrecarregado ou fora de controle; físicos como
cefaleias, sensibilidade ou congestão mamária, dores articulares ou
musculares, inchaço ou aumento de peso (FERNANDES; SILVA, 2016).
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DEFINIÇÃO
SPM: aparecimento de sintomas na fase pré-menstrual do
ciclo, com caráter recorrente e suficientemente grave para
causar disfunção na vida da mulher, justificando assim a
procura de cuidados médicos. A expressão mais frustre
de um ou mais sintomas, sem impacto significativo na vida
cotidiana (disfunção), enquadra-se no conceito de sintomas
pré-menstruais exacerbados (INDUSEKHAR; O’BRIEN, 2008).

Fernandes e Silva (2016) constataram que a SPM atinge o maior


número de mulheres em sua versão mais leve. Eles acrescentam que é
importante registrar diariamente o surgimento dos sintomas tendo em vista
um diagnóstico mais rápido e eficaz para a escolha da ação terapêutica a
ser aplicada. Nesse sentido, continuam os pesquisadores, o clínico deve
fornecer aconselhamento sobre exercício, dieta e controle do stress antes
ou concomitante com a introdução de ouras terapias (FERNANDES; SILVA,
2016, p. 190).
Numa primeira fase é adequado associar as terapias
comportamentais aos contraceptivos, de preferência com
drospirenona. Se os sintomas reaparecem na pausa da pílula
com o esquema 21/7, a utilização do regime 24/4, oferece bons
resultados. A associação de SSRIs , na segunda fase do ciclo
ou de forma contínua, está indicada quando a sintomatologia
psíquica tem expressão significativa. As doentes com
marcado componente psiquiátrico, repercussões pessoais e
sociais importantes devem ser referenciadas para orientação
psiquiátrica (FERNANDES; SILVA, 2016, p. 190).
Pelo que podemos perceber, há mulheres que desenvolvem
sintomas mais graves e precisam de atendimento psiquiátrico e uso
contínuo de medicamentos. Embora Fernandes e Silva (2016) descrevam
que esse número é pequeno – e usam, além de sua pesquisa, um estudo
internacional de 2005 realizado em países europeus, como Alemanha,
Espanha, França, Itália, Reino Unido e Hungria, onde constatou-se que de
4.085 mulheres participantes, a expressão moderada da SPM atingia 26% e
as de cunho grave atingiram apenas 2,3%.
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De qualquer forma, há um gasto significativo com consultas médicas


para tratar esses sintomas. Uma proposta que acreditamos ser valiosa são
campanhas de conscientização de que uma boa alimentação e exercícios
físicos podem auxiliar na redução dos sintomas, mas, como atingir esses
objetivos em países subdesenvolvidos em que a mulher se alimenta mal,
principalmente por questões de ordem financeira e gasta um tempo
excessivo em transporte público para se locomover entre sua residência
e o trabalho?
Quais ações você acredita que podem ser feitas com intuito de
promover a assistência adequada à mulher tendo em vista a prevenção
dos sintomas da SPM?

Sobre a gestação e as mudanças que ela


provoca
Em um país como o nosso, de dimensões continentais e com
tanta diversidade nas diversas áreas – econômica, populacional, cultural
– garantir a qualidade no atendimento às grávidas é um grande desafio. É
necessária uma melhoria significativa na qualidade de apoio e transmissão
de informações a esse grupo de mulheres, especialmente vidando a uma
mudança nas formas como elas são tratadas pelos profissionais de saúde
do serviço público para resultar na oferta e presteza dos serviços que as
envolvem.
As unidades de saúde nem sempre têm médicos ginecologistas
e obstetras disponíveis ou hospitais equipados para realizarem um
atendimento rápido e de boa qualidade. Algumas vezes tem a ver com a
formação, outras com o fato de que nem todos os médicos dedicam-se
inteiramente ao serviço público tendo poucas horas dedicadas a essas
futuras mães. Ainda, é importante considerar que os profissionais envolvidos
na área – enfermeiros, assistentes sociais aqui se incluem, precisam estar
conscientes de que a maioria das mulheres recorrem a esse serviço por
não terem condições de outro atendimento (particular) e se percebam sua
atuação como imprescindível para o bem-estar do grupo, que vai além do
período gestacional, mas que começa nele.
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As gestantes devem ser atendidas por pessoas preparadas para


lidarem com suas necessidades, que tenham bom conhecimento técnico
específico e compromisso com um resultado eficiente, ou seja, que cuide
das futuras mães com a atenção que toda mulher precisa, especialmente
pelas questões de saúde, mas também psicológicas que estão relacionadas
a trazer um bebê à vida e dele cuidar de forma adequada.
O início do período gestacional é calculado de acordo com o primeiro
dia do último ciclo menstrual. A partir daí as 40 semanas que compõem a
gestação são fundamentais para a formação do bebê. (Gov.br, s/d)). Nesse
sentido, é preciso que a gestante tenha o acompanhamento necessário
mês a mês, sendo cuidada e medicada adequadamente.
Veja a tabela com as mudanças que ocorrem na gravidez:
Tabela 2: Gravidez mês a mês

2º. Mês:
Formação do sistema
1º. Mês: 3º. Mês:
nervoso e aparelhos
Fecundação Período fetal
digestivo, circulatório e
respiratório
óvulo +
esqueleto,
espermatozoide
coração: bate costelas,
= zigoto, que se
aproximadamente 150 dedos de
instala no útero
vezes/minuto; mãos e pés se
após uma série de
desenvolvem
divisões celulares;
a placenta
começa a
olhos, boca, braços e todos os órgãos
se formar,
pernas começam a se internos se
envolvendo o
desenvolver; formam
embrião com o
líquido amniótico;
Fim do 1º. mês: o Fim do 2º. mês: o
Fim do 3º. mês: o
embrião tem entre embrião chega a ter 4
feto mede 14 cm.
0,4 cm e 0,5 cm. cm.
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6º. Mês:
4º. Mês: 5º. Mês:
Reconhecimento
Bebê Menino ou menina
de sons externos
Surgem primeiros fios
começa a se reconhece a voz
de cabelo, cílios e
movimentar, sugar e a respiração da
sobrancelhas; franze a
e engolir mãe;
testa e chupa o dedo
lábios e
sobrancelhas
percebe as trompas e o útero
ficam mais visíveis
alterações de nas meninas e os
e as pontas dos
luz e diferencia órgãos genitais dos
dedos apresentam
gostos amargos e meninos podem ser
sulcos se tornarão
doces vistos na USG
as impressões
digitais
Fim do 4º. mês: o
Fim do 5º. mês: o bebê Fim do 6º. mês: o
bebê mede cerca
tem 25 cm. bebê mede 32 cm.
de 16 cm.
8º. Mês: 9º. Mês:
7º. Mês:
Se preparando para Pronto para
Movimentação
nascer nascer
todos os
Boceja, abre os se prepara para a
órgãos estão
olhos, dorme, se posição de parto – de
completamente
movimenta cabeça para baixo
formados
uma camada de
os órgãos internos
gordura se forma sob
continuam já controla a
a pele para manter a
crescendo; respiração e pela
temperatura depois
ouve e reage a 40ª. semana, está
do nascimento; os
estímulos sonoros, preparado para
pulmões estão quase
como músicas e nascer
prontos e os ossos
conversas
ficam mais resistentes
Fim do 7º. mês: o Fim do 9º. mês: o
Fim do 8º. mês: o bebê
bebê mede ente bebê mede entre
tem de 40 cm a 45 cm.
36 e 40 cm. 45 cm e 50 cm.
Fonte: Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
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24
mulher, da criança e do adolescente

A cada mês ocorrem muitas mudanças desde que o óvulo


é fecundado. Com as mulheres também. Veja no quadro abaixo as
alterações físicas pelas quais o corpo da gestante passa:

Tabela 3: Alterações no corpo da mulher na gestação

podem surgir manchas pelo corpo devido


ao hormônio melanotrófico, que age
Pele nas células da pigmentação acelerando
a síntese de melanina. Elas tendem a
desaparecer em até um ano após o parto.
ficam muito apurados, possivelmente pelo
aumento da vascularização na boca e nariz.
Olfato e paladar
É um mecanismo de defesa materno quanto
ao que será “consumido” pelo bebê.
afinam pela superprodução de estrógeno
que baixa a testosterona; ao contrário
Cabelos do que ocorre após o parto, quando a
tendência é que a mãe perca um pouco de
cabelo.
as glândulas mamárias se proliferam,
acumulando gordura e os seios crescem
até três vezes de tamanho considerando o
Mamas tamanho inicial dos seios de cada mulher.
A prolactina prepara as mamas para
produzirem leite, que alimentará o bebê nos
primeiros meses de vida.
para sustentá-la com ganho de peso, o
eixo de equilíbrio se desloca e as grávidas
mudam a postura naturalmente. A partir do
Coluna
terceiro trimestre, há uma acentuação da
lordose, pois os ombros são jogados para
trás e as pernas ficam mais afastadas.
podem surgir devido ao aumento da
Estrias gordura sob a pele, pois as fibras da derme
distendem e podem se romper.
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mulher, da criança e do adolescente

local no qual o óvulo fertilizado vai se


implantar e onde o bebê vai se desenvolver.
O volume normal desse órgão em uma
Útero adulta é de 50 cm3 a 90cm3. Como aloja o
bebê, ele pode chegar a 1000 cm3 próximo
ao parto, aumentando seu peso original
cerca de 20 vezes.
pode aumentar até 50% (de 4,5 litros para 6,7
litros). É um esforço que o corpo desenvolve
Fluxo sanguíneo para se adaptar às novas condições
corporais da mulher, o que faz o coração
bater mais rapidamente.
as paredes do intestino, estômago e bexiga
ficam amolecidas devido à progesterona,
o que favorece o acúmulo de líquidos
nos tecidos. No estômago o útero faz
muita pressão e dificulta a digestão, que
é retardada pela secreção de hormônios,
Sistema digestivo
causando enjoos. Outra questão é a
retenção de líquido que, ao atrasar a
passagem do alimento pelo intestino,
causa prisão de ventre. A bexiga fica mais
apertada, razão pela qual as gestantes
precisam urinar com frequência.
a progesterona e o estrógeno relaxam as
Varizes paredes das veias e aumentam o risco de
dilatação, provocando as varizes.
como retém água, devido à progesterona,
a circulação desacelera e o sangue se
Inchaço
acumula nas pernas, pés e tornozelos, que
incham.
Fonte: Redação Saúde é Vital, 2016
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mulher, da criança e do adolescente

Como percebemos, são muitas as mudanças no corpo da mulher


como irritabilidade, desânimo, rotina do sono e de apetite. Mas... e
psicologicamente? Como há uma circulação maior de hormônios, esses
tendem a provocar diversas alterações de cunho emocional nas futuras
mães durante o período gestacional. Já vimos que os níveis de estrógeno
e progesterona duplicam, o que afeta a “racionalidade” feminina. Mesmo
que temporários, os sintomas podem afetar a qualidade da vida das
gestantes.
As mudanças físicas (...) começam a trazer desconforto
e consequências como: cansaço, dor nas costas,
incontinência urinária, transtornos do sono e outros. Todas
estas situações alteram o estado emocional da gestante,
que passa experimentar novamente insegurança, dúvidas,
medos etc. Nesta fase, (...), a gestante começa a pensar se
vai correr tudo bem, se o bebê vai ser totalmente saudável,
se ela vai conseguir amamentar, se já está tudo preparado
e não falta nada para receber o novo integrante da família.
Este turbilhão geralmente acaba numa montanha-russa de
emoções alterando sua rotina (PAZ, 2019, s/p).
O primeiro trimestre é o mais “problemático”, pois é quando as
mulheres ainda estão se adaptando à nova situação, especialmente
aquelas que vivenciam sua primeira gestação. É comum passar por
ansiedade, alterações de humor, dúvidas quanto ao futuro como mães
e profissionais, falta de libido e inseguranças de várias ordens, dentre
outros.
O segundo trimestre é o momento em que esses sentimentos vão
se acalmando e até mesmo o apetite sexual tende a retornar e, inclusive,
aumentar. Podemos afirmar que, em uma gestação sem grandes
percalços, é o período mais “tranquilo” e psicologicamente estável.
Já no terceiro trimestre, quando a barriga está bem maior do
que nos períodos anteriores, afinal o nascimento do bebê está se
aproximando, os sentimentos do início da gravidez retornam e é um
momento muito tenso.
Vamos entender agora o que ocorre nas fases seguintes, o
puerpério, com a chegada do bebê vem ao mundo e o climatério?
Sistema de saúde e organização da atenção básica: saúde da
27
mulher, da criança e do adolescente

Implicações fisiológicas e psicológicas do


puerpério e do climatério

INTRODUÇÃO
Chegou a hora de falar sobre o nascimento do bebê,
que transforma a mãe em puérpera e que acompanha
frequentes mudanças de humor da nova mãe. Também
vamos falar sobre o climatério, fase de grandes alterações
para a vida da mulher.

O puerpério
O declínio hormonal que ocorre de modo intenso e rápido após a
chegada do bebê traz consigo um conflito interno para a mulher quanto
ao papel materno que ela agora precisa desempenhar.

DEFINIÇÃO
Puérpera : Aquela que acabou de dar à luz; mulher que teve
o(a) filho(a) há pouco tempo.

As mulheres que vivenciam problemas de ordem econômica ou


pessoal em suas famílias podem ter dificuldades em relação ao seu
novo papel social. Algumas vezes isso também acontece com aquelas
que já têm filhos.
Cuidar de uma nova vida pode trazer, ainda, cansaço pela falta de
sono e necessidades de atendimento ao bebê e à casa, além de dores
físicas, como dor na região vaginal (períneo) e abdominal, no caso do parto
ter sido cesárea, que tem pontos e precisa de um período de cicatrização
e nas costas e pernas. Associado a isso, não podemos esquecer que os
seios diminuirão e há a possibilidade de que a mulher não tenha leite para
amamentar seu bebê, o que gera culpa e sensação de impotência e de
não conseguir cumprir uma “obrigação” para com o filho e de não ser, por
conta disso, uma “boa” mãe, merecedora desse papel.
Sistema de saúde e organização da atenção básica: saúde da
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mulher, da criança e do adolescente

De acordo com Maldonado, 2000 (apud Frizzo; Piccinini, 2005),


o puerpério, assim como outras fases do ciclo vital, é um período
propenso a crises, por causa das mudanças físicas e psicológicas que
o acompanham. Nesse sentido, é importante que a mãe vivencie sua
“nova” identidade, ao qual o foco passe a ser seu bebê. É necessário
que ela se identifique com o filho e sinta a necessidade de criar laços
emocionais com ele. Winnicott (1978) denomina esse período de
preocupação materna primária, cuja preocupação e objetivo é capacitar
essa mulher a cuidar de se bebê e dar conta de sua nova “atividade” ou
como já citamos, seu novo pape social.
A mãe precisa sobreviver aos ataques de cólera de seu
bebê, à sua indiferença, à sua recusa ou extrema voracidade
de se alimentar, à falta de sono que ele lhe impõe; em
suma, precisa renunciar aos seus próprios interesses para
poder cuidar de seu bebê (AIELLO-VAISBERG; GRANATO,
2002 apud FRIZZO; PICCININI, 2005, p. 48).
Frizzo e Piccinini (2005) indicam que há três tipos distintos de
transtornos de ordem psicológica que ocorrem com as puérperas logo
após o parto, que são as seguintes: ”a melancolia da maternidade (baby
blues), a psicose puerperal e a depressão” (p. 48).
De acordo com os pesquisadores, em trabalho intitulado
“Interação mãe-bebê em contexto de depressão materna: aspectos
teóricos e empíricos”, esses transtornos se caracterizam por:
A melancolia da maternidade parece ser um estado mais
reativo do que um estado de depressão propriamente dito
e pode ser concomitante a mudanças neurofisiológicas
normais no puerpério (Miller, 1997). (...) Já a psicose
puerperal caracteriza-se por ser uma desordem psiquiátrica
rara e grave, que normalmente exige internação (O’Hara,
1997). Quanto à depressão (...) ela ocorre em cerca de 10%
das puérperas e pode levar de seis semanas a três ou
quatro meses para se manifestar (Cooper & Murray, 1995;
Dunnewold, 1997; O’Hara, Zekoski, Phillips, & Wright, 1990).
(FRIZZO e PICCININI, 2005, p. 49).
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mulher, da criança e do adolescente

O puerpério não é uma fase fácil ou simples, mas é importante


enfatizar que não é regra, como tudo que se refere ao ser humano, nem
ocorre com todas as novas mães. De qualquer forma, é necessário que
o profissional que vá trabalhar com esse grupo – de mulheres recém-
mães – tenha conhecimento que pode lidar com essas questões.
Veja trechos da reportagem sobre uma nova mãe, a publicitária
Aline, que recebeu ajuda da prima para ensiná-la a ser mãe e cuidar se
sua filha recém-nascida enquanto ela sofria com a depressão pós-parto.
“Com depressão pós-parto, mãe que rejeitou bebê teve ajuda da
prima para cuidar da filha ”
Quando fala sobre gratidão, Aline (...) lembra da prima, Daiane. Ela
é mãe solteira, e morava com o pai. Após o nascimento da filha Elissa, em
junho de 2018, teve depressão pós-parto. Daiane foi fundamental nesse
período, cuidava da bebê enquanto a prima vivia os dias mais difíceis,
com o conflito de sentimentos causados pela doença nessa fase. (...)
A publicitária conta que, após o parto, chorava muito, e chegou a
rejeitar a filha. Ela relata que a tristeza era tanta, (...), que não conseguia
sentir amor pela criança, um dos sintomas da depressão pós-parto. A
prima, então, (...) cuidou dela, ajudando a cuidar da pequena Elissa.
A mãe conta que, aos poucos, foi entendendo o sentimento e
aprendendo a lidar com tudo. (...) Depois que a sensação de tristeza
diminuiu, tudo voltou ao normal e ela aprendeu a curtir a maternidade.
Dessa fase, a lembrança que fica é a gratidão (...)
Ela disse que, com a ajuda da prima, saiu da casa do pai e hoje
mora com a filha, de 7 meses. Daiane, ainda as visita e cuida da pequena
Elissa como se fosse mãe. (...)
Emocionante, não é? Pois bem, segundo o Ministério da Saúde,
essa doença atinge pelo menos 25% das mães no Brasil. Nesta fase,
o apoio da família e dos amigos é fundamental. O tratamento com
medicamentos e psicoterapia é oferecido gratuitamente pelo Sistema
Único de Saúde (SUS).
No caso citado, a mãe teve um auxílio “milagroso” em um dos
momentos mais difíceis de sua vida. Será que o médico de família não
poderia ajudar nesses casos também?
Sistema de saúde e organização da atenção básica: saúde da
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mulher, da criança e do adolescente

O Climatério
Outra fase complicada para a mulher é o climatério. Nesse
período, há diversas transformações de natureza biológica, psicológica,
social e cultural. Lembra que comentamos que nosso país é machista?
Então, com a chegada do climatério as mulheres sofrem ainda hoje, em
pleno século XXI, muito preconceito por conta disso, como se fosse uma
doença!
Os hormônios diminuem e, com o envelhecimento do corpo, a
mulher é considerada inapta para viver uma vida sexual ativa e pode até
ser considerada “desinteressante” aos olhos masculinos, especialmente
com o fim de muitos casamentos nessa fase com seus ex-maridos
“trocando sua companheira de vida por outra mulher mais jovem.
Embora seja um fenômeno biopsicossocial, historicamente
o enfoque maior tem sido dado aos fatores biológicos, aos sinais e
sintomas, inclusive o climatério algumas vezes sendo considerado como
uma síndrome ou um período patológico e anormal (BRASIL, 2008).
Entretanto, precisamos comentar que essa é “uma etapa normal do ciclo
biológico da mulher, da mesma forma que a adolescência, e não uma
doença que incapacita ou a limita para a vida” (BRASIL, 2008, p. 25).
O que se constata é que há profissionais da área da saúde que,
ao tocar no tema, reforçam essa visão negativa do climatério, inclusive
aconselhando as pacientes a fazerem uso de “terapia medicamentosa,
caracterizando o uso indiscriminado e muitas vezes desnecessário de
medicamentos” (BRASIL, 2008, p. 25).
Climatério é o nome dado ao período de transição entre a fase
reprodutiva e não reprodutiva da vida feminina, que acontece como
consequência do esgotamento da função ovariana. A Menopausa é o
período depois que se passaram 12 meses sem ocorrer menstruações.
A aplicação de medicamentos, contudo, nem sempre é
adequada, ou necessária, para todas as mulheres, o que gera grande
controvérsia entre os médicos. Diante disso, muitas mulheres sentem-
se desamparadas e frustradas com a nova realidade com a qual, de
repente, precisam lidar. Isso ocorre, principalmente, nas culturas que
desvalorizam as pessoas eu chegam à maturidade.
Sistema de saúde e organização da atenção básica: saúde da
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mulher, da criança e do adolescente

A sexualidade da mulher no climatério é carregada de


muitos preconceitos e tabus. Isso porque existem vários
mitos que reforçam a ideia de que, nesse período, a mulher
fica assexuada. Um deles é a identificação da função
reprodutora com a função sexual. Outro é a ideia de que
a atração erótica se faz às custas somente da beleza física
associada à jovialidade. Há ainda um terceiro mito que
considera a sexualidade feminina relacionada diretamente
aos hormônios ovarianos, vinculando a diminuição da
função do ovário com a diminuição da função sexual
(BRASIL, 2008, P. 25).
O que acontece, na verdade, é mais uma série de mudanças
no corpo feminino, na produção dos hormônios e nas atividades que
promovem satisfação e como essa satisfação se dá. Com a diminuição
dos hormônios ovarianos, pode ocorrer “um adelgaçamento dos
tecidos vaginais, que pode levar à dor nas relações sexuais, tornando
a perspectiva do sexo com penetração, motivo de ansiedade e de
falta de satisfação” (BRASIL, 208, p. 25). Se sentimos dor, sentir prazer
é mais difícil e até incômodo, mas isso não significa assexualidade ou
anormalidade. São novas características que o corpo feminino assume e
que precisam ser tratadas como tal.
Climatério e menopausa NÃO são a mesma coisa!
Como cada mulher é de um jeito, certamente essa questão não
é “a” regra, pois há mulheres que, sabendo da condição de que não
mais engravidarão, sentem-se mais plenas e livres para manter relações
sexuais mais livremente. Mas não podemos negar que o ressecamento
vaginal é muito comum, o que pode facilmente ser resolvido com um
lubrificante, que tem a função de facilitar a penetração, o que, certamente,
não vai causar dor e deixar a mulher apta a viver sua sexualidade na
maturidade de forma prazerosa.
O médico Drauzio Varella (2019) contribui com a discussão e
apresenta em seu site, os sintomas do climatério, que precisa ser muito
bem conhecido pelos profissionais da saúde no suporte às mulheres
que entram nessa fase. Veja só:
Sistema de saúde e organização da atenção básica: saúde da
32
mulher, da criança e do adolescente

Tabela 4: Sintomas do climatério

a alteração mais comum é o aumento da


duração dos ciclos, que podem ocorrer
Irregularidade entre 40 a 60 dias e ser abundantes
menstrual (hemorragias disfuncionais). Essas
irregularidades podem preceder meses ou
anos a instalação da menopausa.
episódios súbitos de sensação de calor na
face, pescoço e parte superior do tronco,
duram de meio a cinco minutos, geralmente
acompanhados de rubor facial, sudorese,
palpitações cardíacas, vertigens e fadiga
Fenômenos
muscular. Durante a crise, a temperatura da
vasomotores
face chega a subir cinco graus centígrados
em relação ao resto do corpo, sintoma mais
característico e frequente do climatério;
cerca de ¾ das mulheres queixam-se das
limitações impostas por ele.
a queda na produção de hormônios sexuais
altera a consistência das mucosas da vagina
e da uretra, dos vasos que as irrigam e do
tecido conjuntivo situado abaixo delas.
Podem surgir dificuldades para esvaziar
a bexiga, dor e premência para urinar e
incontinência urinária. A epiderme da vulva e
Manifestações a mucosa vaginal tornam-se mais delgadas,
urogenitais os grandes lábios atrofiam, o volume uterino
diminui e o tônus dos músculos do assoalho
pélvico afrouxa. As infecções urinárias e
ginecológicas tornam-se mais frequentes,
há diminuição da resposta clitoriana à
estimulação, redução da lubrificação vaginal,
dor à penetração e redução da libido. A
qualidade do orgasmo não é alterada.
Sistema de saúde e organização da atenção básica: saúde da
33
mulher, da criança e do adolescente

a redução dos níveis de estrógeno e


progesterona interfere na liberação de
neurotransmissores essenciais para o
funcionamento harmonioso do sistema
Sintomas
nervoso central. Como consequência, muitas
psíquicos
mulheres se queixam de irritabilidade,
labilidade emocional, choro descontrolado,
depressão, distúrbios de ansiedade,
melancolia e alterações do humor.
em média, 2% do colágeno subcutâneo são
perdidos anualmente nos dez primeiros
Alterações da
anos de menopausa. Os pelos, cabelos e
pele
unhas ficam mais finos e quebradiços. A
aparência da pele perde o vigor.
o tecido fibroglandular característico
da mama jovem é substituído
Alterações
progressivamente por tecido gorduroso.
mamárias
O mamilo fica achatado e perde a
contratilidade.
dos 30 anos até a menopausa, a mulher perde
anualmente cerca de 0,18% do tecido ósseo.
Atingida a menopausa, a perda anual aumenta
Rarefação óssea
para 1% a 4%. Corre mais risco de osteoporose
a mulher de baixa estatura, da raça branca ou
amarela, com menor peso corpóreo.
mulheres entre 45 e 49 anos apresentam
1/3 das doenças cardiovasculares dos
Alterações
homens na mesma faixa etária. Com a
cardiovasculares
menopausa, a incidência cresce até igualar a
dos homens depois dos 70 anos
Fonte: Varella, 2019.

Outros fatores de risco são: fumo, excesso de cafeína, vitamina


D, sal, álcool, proteína animal, falta de atividade física, doenças renais,
hipertireoidismo, diabetes e o uso de certos medicamentos.
O que nossa sociedade precisa entender é que a menopausa e o
climatério não são doenças, perda de valor para as mulheres ou qualquer
incapacidade física e psicológica. Ao contrário, são novas etapas da vida.
Sistema de saúde e organização da atenção básica: saúde da
34
mulher, da criança e do adolescente

SAIBA MAIS
SOUZA, J. B. A Melhor idade da mulher: manual prático
para viver com saúde os melhore anos da vida. São Paulo:
Alaúde, 2016.
Precisamos romper com o estereótipo de que a mulher
“deixa” de ser mulher, sexualmente falando, ao entrar nessa
fase!

Assistência de equipes multidisciplinares


no pré-natal, puerpério e climatério nas
unidades de ESF

INTRODUÇÃO
Nosso objetivo nesse tópico é entender a importância
do apoio das equipes multidisciplinares no período
denominado pré-natal, no puerpério e no climatério. Vamos
ver como isso ocorre nas ESF.

Assistência das equipe multidisciplinares


no Pré-natal e Puerpério
Como já estudamos, a gravidez, episódio fisiológico na vida
feminina, é um período cheio de ajustes que a mulher precisa fazer para
se acostumar à sua nova situação de futura mãe. Seu corpo muda, seu
humor se altera e suas necessidades também. Com o nascimento do
bebê lá vem mais mudanças. Assim sendo, ela precisa de cuidados, apoio
e assistência para lidar com os desafios da gravidez e da maternidade.
A assistência pré-natal compreende um conjunto de ações que
busca prevenir, diagnosticar e tratar eventos indesejáveis à gestação, ao
parto e ao recém-nascido.
Sistema de saúde e organização da atenção básica: saúde da
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mulher, da criança e do adolescente

Por conta de tudo isso, ela deve ser incentivada a realizar


mensalmente as consultas de pré-natal, as quais devem cessar apenas
após o 42º dia de puerpério.
É fundamental que, após o nascimento do bebê, o médico pediatra
os acompanhem e oriente a mãe para que ambos se mantenham
saudáveis, afinal, depois do parto a nova mãe não só terá dado à luz à
uma nova vida, como também precisará cuidar do filho recém-nascido
e, para isso deverá estar estável emocionalmente para enfrentar os
desafios da maternidade.
A assistência ao pré-natal deve acolher a gestante na porta
de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS), ou seja, na
Atenção Básica de Saúde (ABS) desde o início, buscando
compreender os múltiplos significados daquela gestação,
oferecendo o cuidado de forma integral. A deficiência
ou mesmo a ausência deste cuidado está relacionada a
maiores índices de morbimortalidade materna e perinatal
(BRITO et al., 2017, pp. 1-2 apud LOUROZA, 2013; LAMY;
MORENO, 2014).
O apoio das equipes multidisciplinares é fundamental: médicos,
enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais e outros profissionais devem
receber a futura mãe com toda a atenção e cuidados competentes para
que nem ela nem seu bebê deixem de passar pelo pré-natal, avaliação
e exames essenciais para acompanhamento da gravidez.
Outro fator necessário é poder contar com a participação do pai
nessa nova situação de vida da família, assim como, se possível, dos
familiares, principalmente aqueles que já passaram por essa experiência
e poderão auxiliá-la na nova “tarefa”.
Desde que ocorre a menarca, com a entrada na puberdade, e até
o momento de maturidade sexual, o organismo da mulher passa por
adaptações contínuas até que esteja pronta para receber em seu corpo
uma nova vida, o bebê.
Sistema de saúde e organização da atenção básica: saúde da
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mulher, da criança e do adolescente

DEFINIÇÃO
A menarca, que comumente ocorre em torno dos 11 ou 12
anos, é encarada como marco importante, porque indica
aptidão à reprodução e mais um passo em direção à vida
adulta, a qual será instaurada definitivamente com o primeiro
filho. Este período de ‘mocinha’ é em geral curto, pois é
comum, nos grupos populares, as moças envolverem-se em
relações sexuais-amorosas que podem resultar em gravidez
ou em casamento ou em ambos, por volta dos 14 ou 15 anos
PAIM (1998, p. 36).

Iniciado esse ciclo - gravídico-puerperal, “o Ministério da Saúde


preconiza uma assistência pré-natal de qualidade e humanizada,
considerando o amplo contexto de vida” (BRITO et al., 2017), que
pressupõe o acompanhamento contínuo, como já mencionamos, que
deve seguir até o 42º dia de puerpério.
Nessa faz, poderão ocorrer fatores que põem em risco a vida
de ambos - mãe e/ou feto e/ou bebê. Com cuidados profissionais
adequados muitos desses fatores podem ser evitados ou prevenidos,
como óbito de um deles ou dos dois.
Segundo o Ministério da Saúde, (...), uma assistência pré-
natal de qualidade requer recursos humanos e técnicos
especializados por meio de prática humanizada, para que
essa assistência produza o máximo de resultados eficazes
considera a mulher e o feto como sujeitos de direitos.
Após a captação da gestante pela unidade de saúde
específica do seu território, por meio de busca ativa ou
demanda espontânea é realizada abordagem composta
por anamnese e exame clínico-obstétrico, exames
laboratoriais (tipagem sanguínea -ABO Rh, hemoglobina,
hematócrito, glicemia de jejum, urina tipo 1, teste rápido
para a detecção de patologias como HIV, Sífilis e hepatite
B), ultrassonografia obstétrica, imunização antitetânica,
seguido do tratamento das intercorrências detectadas na
gestação (BRITO et al., 2017, p. 3 apud BRASIL, 2012).
Sistema de saúde e organização da atenção básica: saúde da
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mulher, da criança e do adolescente

Para que isso ocorra, há algumas fases que devem ser cumpridas
nas unidades de saúde da família. Vejamos quais são elas no esquema
a seguir:

ESQUEMA 1: Etapas para recebimento e cuidados com a gestante

Fonte: BRASIL, 2005.

Acrescentamos a ação de frequentar as consultas até o 42º. dia


do puerpério.
Faça um exercício: coloque-se no lugar da mãe que recebe
esses cuidados e atenção especializados e descreva a importância
dos mesmos para sua saúde e de seu bebê. Em seguida, faça um
contraponto negativo, ou seja, você é uma futura/nova mãe que não
recebe/recebeu o atendimento adequado. Que riscos estarão correndo,
você e seu bebê, nessa situação?
A Secretaria de Atendimento à Saúde de Maringá, assim como
em outras cidades, tem um documento para o acompanhamento desse
processo.
Veja só:
Sistema de saúde e organização da atenção básica: saúde da
38
mulher, da criança e do adolescente

Figura 2: Ficha para Grávida

Procure a ficha de acompanhamento pré-natal e da puérpera de


sua cidade.
Falamos muito aqui sobre o papel do médico, mas é necessário
atentar que as equipes de cuidados às gestantes e puérperas deve contar
com enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, psiquiatras e assistentes
sociais, assim como qualquer outro profissional capacitado para atender
às mulheres e suas famílias nesse momento delicado da vida.
Nesse sentido, nos cabe agora mencionar outro período também
especial, que é o climatério. Vamos lá.

Assistência das equipes multidisciplinares


no climatério
De acordo com as projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) no último Censo, realizado em 2010, “havia 48,1 milhões
de jovens de 0 a 14 anos e 20,9 milhões de idosos com 60 anos ou mais”.
Em 2018, entretanto, foi feita uma revisão que mostrou novos dados: “o
número de jovens caiu para 44,5 milhões e o de idosos subiu para 28
milhões. A proporção era de 63 idosos para cada 100 jovens”.
Sistema de saúde e organização da atenção básica: saúde da
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mulher, da criança e do adolescente

Ainda pelas projeções, em 2031, a quantidade de idosos “vai


ultrapassar a de jovens (...), quando haverá 42,3 milhões de jovens (...) e
43,3 milhões de idosos”.
Por que trazemos esses dados? Porque as mulheres que serão
idosas em 2031 já estão ou entrarão no climatério em 2019/2020. Esse
grupo precisa de atenção especial das equipes multidisciplinares nas
unidades de Estratégia Saúde da Família (ESF).
Lorenzi et al. (2009) afirmam que como consequência desse
envelhecimento populacional,
espera-se (...) um aumento progressivo na procura dos
serviços de saúde por mulheres com queixas relacionadas
ao climatério. Paralelamente, a assistência ao climatério
tem passado por uma modificação de paradigmas,
impondo aos profissionais de saúde uma mudança de
atitude. Reconhece-se que o climatério é influenciado
tanto por fatores biológicos, como por fatores psicossociais
e culturais, cujo conhecimento é fundamental para uma
assistência mais qualificada e humanizada (LORENZI et al.,
2009, p. 287).
Nesse sentido, ter equipes multidisciplinares para promover
o acolhimento satisfatório à essas mulheres com cuidados integrais,
adequados e individualizados, as enxergando com sensibilidade e
atenção se faz necessário com o intuito de auxiliá-las a ter uma qualidade
de vida cada vez melhor.
O acolhimento, a escuta às suas queixas e um atendimento
integral de boa qualidade às mulheres deve fazer parte da rotina de
cuidados dos profissionais da área da saúde, principalmente aqueles
responsáveis pela ABS.
Lembramos que
A Estratégia Saúde da Família (ESF) busca promover a
qualidade de vida da população brasileira e intervir nos fatores
que colocam a saúde em risco, como falta de atividade física,
má alimentação e o uso de tabaco. Com atenção integral,
equânime e contínua, a ESF se fortalece como uma porta de
entrada do Sistema Único de Saúde (SUS) .
Sistema de saúde e organização da atenção básica: saúde da
40
mulher, da criança e do adolescente

As ações desenvolvidas devem contar com equipes compostas


por diversos profissionais e ser planejadas tendo como pauta principal
conhecer suas necessidades particulares dessa população.

Considerações finais
Finalizamos mais uma etapa do nosso curso!
Esperamos que você tenha gostado da leitura e aprendido
bastante sobre as questões que tratamos, referentes às fases da vida
feminina que dizem respeito ao momento em que se torna fisicamente
capaz de gerar um bebê e tudo o que isso traz para a mulher.
São fases necessárias, mas cheias de dúvidas e alterações no
corpo e na cabeça da mulher, mas é importante ressaltar que nada disso
é doença, pelo contrário, é a possibilidade de gerar uma nova vida.
Nem todas as mulheres engravidam, como sabemos, mas isso
não as torna diferentes daquelas que vivenciam essa experiência. O fato
é que, exceto a gestação e o puerpério, todas as mulheres passarão
pelas demais fases, ou seja, a chegada do ciclo menstrual e o climatério
e os cuidados e a atenção profissionais devem ser dirigidas a todas elas.
Daí a necessidade de que as políticas públicas existentes sejam
cumpridas e ajudem as mulheres a passarem por cada uma das etapas
citadas da melhor forma possível.
É exatamente desse tipo de tratamento que as mulheres são
merecedoras e cabe às equipes multidisciplinares promovê-lo no pré-
natal, no puerpério e no climatério nas unidades de ESF.
Bom, vamos terminando aqui essa unidade com a certeza de que
fizemos grandes reflexões sobre os temas que tratamos.
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mulher, da criança e do adolescente

Sistema de saúde e
organização da atenção
básica: saúde da
mulher, da criança e do
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Ana Cláudia Barreiro Nagy

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