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Microbiologia

e Imunologia
Clínica
Natália Gindri Fiorenza
Maria Paula de Souza Sampaio

Unidade 3

Livro Didático
Digital
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Diretora Editorial
ANDRÉA CÉSAR PEDROSA
Projeto Gráfico
MANUELA CÉSAR ARRUDA
Autoras
NATÁLIA GINDRI FIORENZA
MARIA PAULA DE SOUZA SAMPAIO
Desenvolvedor
CAIO BENTO GOMES DOS SANTOS
AS AUTORAS
NATÁLIA GINDRI FIORENZA

Olá. Meu nome é Natália Fiorenza. Sou formada em Ciências


Biológicas, com mestrado e doutorado na área de Ciências da Saúde.
Passei por diferentes laboratórios de pesquisa, publicando trabalhos
científicos e participando de muitos congressos e cursos em diferentes
áreas de saúde e educação. Fui professora universitária e tutora durante
4 anos do curso de medicina, onde me conectei com minha paixão pela
docência e por metodologias ativas de ensino. Sou ávida por aprender e
ensinar e por trocar conhecimentos quer na área científico-acadêmica, quer
na área de desenvolvimento humano e autoconhecimento. Recebi com
muita alegria o convite da Editora Telesapiens para integrar seu elenco de
autores independentes, pois tenho como propósito transmitir aquilo que sei
e auxiliar outras pessoas no início de sua jornada profissional. Estarei com
você nessa caminhada de muito estudo e trabalho. Conte comigo!

MARIA PAULA DE SOUZA SAMPAIO

Meu nome é Maria Paula, sou graduada em Biomedicina, habilitada


em Citopatologia. Além da prática com a minha habilitação, pude realizar
um curso avançado em Citopatologia Cérvico-Vaginal. Atualmente, sou
voluntária de um projeto de pesquisa na Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ)
sobre Patologia Mamária Comparada, onde fiz iniciação científica por
um ano. Em minha jornada de estudante pude participar ativamente de
congressos e projetos de estudo, e sempre tive uma paixão por ensinar.
Junto com Natália, pretendo transmitir todo o ensinamento que obtive até
aqui, buscando sempre aprender mais. Estamos juntos nesse aprendizado!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Meu nome é Manuela César de Arruda. Sou a responsável pelo
projeto gráfico de seu material. Esses ícones irão aparecer em sua trilha
de aprendizagem toda vez que:

INTRODUÇÃO: DEFINIÇÃO:
para o início do desen- houver necessida-
volvimento de uma de de se apresentar
nova competência; um novo conceito;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações es-
necessários obser- critas tiveram que ser
vações ou comple- priorizadas para você;
mentações para o
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e inda-
algo precisa ser gações lúdicas sobre
melhor explicado o tema em estudo, se
ou detalhado; forem necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamento atenção sobre algo
do seu conhecimento; a ser refletido ou
discutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das
assistir vídeos, ler últimas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma ativi- quando o desen-
dade de autoaprendi- volvimento de uma
zagem for aplicada; competência for
concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Introdução, conceitos básicos e dogmas imunológicos........11

Uma visão geral da resposta imune..........................................12

Tecidos linfoides.......................................................................13

Complexo de histocompatibilidade...........................................14

Características da resposta imune adaptativa............................15

Tipos de resposta imune adaptativa..........................................16

Imunidade mediada por célula.........................................16

Imunidade humoral..........................................................17

Aspectos básicos da imunorregulação...................................19

Resposta imunológica à infecção por vírus..............................19

Resposta imunológica a infecções bacterianas.........................21

Resposta imunológica a infecção parasitária............................23

Imunologia clínica das alergias..............................................27

Tipos de reações de hipersensibilidade.....................................28


Reação de hipersensibilidade do tipo I............................29

Reação de hipersensibilidade do tipo II...........................32

Reação de sensibilidade do tipo III.................................32

Reação de hipersensibilidade do tipo IV.........................33

Doenças autoimunes...............................................................35

Fatores genéticos na autoimunidade.........................................37

Fatores ambientais e hormonais na autoimunidade..................37

Lúpus eritematoso sistêmico (LES)..........................................38

Miastenia Grave........................................................................39

Diabetes Mellitus......................................................................40

Esclerose múltipla.....................................................................41
8 Microbiologia e Imunologia Clínica

03
UNIDADE
Microbiologia e Imunologia Clínica 9

INTRODUÇÃO
A imunologia é a ciência responsável pelo estudo do sistema
imunológico e suas funções. Esse sistema inclui um conjunto de células,
tecidos, órgãos e moléculas que operam de forma organizada e inter-
relacionada no combate e eliminação de agentes e moléculas estranhas ao
organismo. Quando falamos em imunologia clínica, estamos nos referindo
à subárea responsável pela investigação das estratégias traçadas pelo
Sistema Imune para controlar e/ou eliminar esses diferentes patógenos.
O conhecimento dos mecanismos utilizados pelo organismo no combate
ao agente invasor é fundamental para a compreensão da fisiopatologia
de doenças infecciosas e para a busca de novos tratamentos e formas de
prevenção a essas.
Sendo assim, irei lhe apresentar aqui os principais conceitos
e conhecimentos básicos da imunologia, além dos mecanismos
imunológicos associados à infecção, alergias e doenças autoimunes.
10 Microbiologia e Imunologia Clínica

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 3. Nosso objetivo é auxiliar
você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o
término desta etapa de estudos:
1. Compreender os conceitos básicos de imunologia, com enfoque
em imunologia clínica. Entender os aspectos imunológicos da resposta
adquirida, dos antígenos e tecidos órgãos linfoides, do sistema HLA e das
imunidades humoral e celular.
2. Aprender sobre os mecanismos imunológicos envolvidos na
resposta à agentes infecto parasitários, incluindo as interações neuro-
imuno-endócrinas e a ação regulatória dos anticorpos nessa.
3. Estudar a Imunologia Clínica da anafilaxia e urticária, da alergia a
fármacos e da alergia alimentar.
Integrar os conhecimentos básicos da imunologia com a
4.
fisiopatologia das principais doenças autoimune, tais como lúpus
eritematoso sistêmico e miastenia gravis.

Preparado para embarcar nessa viagem? Ao trabalho!


Microbiologia e Imunologia Clínica 11

Introdução, conceitos básicos e dogmas


imunológicos

OBJETIVOS
Após o término deste capítulo espera-se que você tenha
revisado sobre os principais conceitos em imunologia,
relembrando as diferentes células envolvidas na resposta
inata e adaptativa, e o mecanismo de interação entre
essas células para uma resposta eficaz contra agentes
patogênicos. Esse capítulo servirá como base para o estudo
da imunologia clínica, que se segue. Vamos começar com
nossos estudos? Então adiante!

A imunologia tem sua raiz na palavra latina imunitas, que significa


proteção, defesa. Este termo era utilizado na Roma antiga como uma
forma de proteção aos senadores romanos durante os seus mandatos,
contra processos legais. Assim, ao conjunto de células e mediadores
que realizam a proteção e a defesa do nosso corpo contra o ataque
voraz de microrganismos invasores, damos o nome de sistema imune.
Já a resposta coordenada dessas células e mediadores à entrada de
substâncias estranhas no corpo, recebe o nome de resposta imune.
Como você viu nas unidades anteriores, há uma grande
diversidade de microrganismos aos quais estamos expostos. Ainda,
devido a sua rápida capacidade de mutação e de burlar as respostas
imunes, aumenta a necessidade de que tenhamos um sistema de
defesa altamente dinâmico com uma sofisticada rede de comunicação. A
necessidade de respostas imunitária mais eficazes ativa um mecanismo
específico e seletivo, que apresenta memória imunológica e pode ser
recriado artificialmente, gerando o que conhecemos como vacinas.
Apesar da alta complexidade, responsividade e especificidade
desse sistema, uma ativação inadequada pode levar a quadros de
infecções recorrentes, inflamações crônicas, choque séptico e doenças
autoimunes, estando também associado ao desenvolvimento do câncer.
O estudo dessas doenças causadas por disfunções no sistema imune
recebe o nome de imunologia clínica.
12 Microbiologia e Imunologia Clínica

SAIBA MAIS
Os primeiros estudos documentados em imunologia são
atribuídos à Edward Jenner, que, em 1796, verificou proteção
induzida pelo cowpox (vírus da varíola bovina) contra a
varíola humana, nomeando tal processo da vacinação. Pra
saber mais sobre esse experimento revolucionário, acesse:
http://www.judithscliar.com/2016/06/09/historia-da-
vacina/.

Uma visão geral da resposta imune


Como você já sabe, a resposta imunológica está temporalmente
e funcionalmente dividida em resposta inata ou imediata e resposta
adaptativa ou adquirida (figura 1). Os principais componentes da resposta
inata são: barreiras físico-químicas, células fagocíticas (macrófagos e
neutrófilos), células dendríticas expositoras de antígenos, células natural
killers (NK), algumas células linfoides e proteínas plasmáticas, como
aquelas do sistema complemento e mediadores inflamatórios. Já a
resposta adaptativa envolve os linfócitos (células T e B) e seus produtos
de secreção, os anticorpos.
As reações normais do sistema imunológico podem ser separadas
em quatro etapas principais. Num primeiro momento, ocorre o
reconhecimento das substâncias estranhas, conhecidas como antígenos
pelas células de defesa. Se houver a confirmação de que esse representa
uma ameaça, um grupo de células e de mediadores imunológicos será
quase que instantaneamente ativado, gerando a resposta inflamatória.
Em seguida, o sistema imune integra e coordena diversos sinais para
determinar quais componentes precisam ser envolvidos no processo a
fim de controlar a invasão. A etapa final envolve o retorno à homeostase
tecidual após eliminação completa da ameaça, através da ativação de
mecanismos supressores imunológicos. Todo esse processo é finamente
regulado por mecanismos neuro-imune-endócrinos.
Microbiologia e Imunologia Clínica 13

Figura 1 – As células e moléculas da resposta imune.

Imunidade Inata Imunidade adaptativa

Microorganismo

Barreiras
epiteliais Anticorpos

Fagócitos

Linfócitos T Células T
Complemento Células NK, ILCs efetoras
Horas Dias
0 6 12 1 4 7

Tempo após infecção

Fonte: Freepik (editado)

Tecidos linfoides
Os tecidos linfoides estão divididos em centrais ou primários, que
têm como função a produção e/ou diferenciação dos linfócitos, como a
medula óssea e o timo, e tecidos periféricos ou secundários, especializados
na captura do antígeno, como os nódulos linfáticos difusos ou encapsulados
e não encapsulados, as tonsilas e o baço. As células presentes nesses
(linfócitos T e B) são provenientes dos tecidos primários e chegam através da
circulação sanguínea. Enquanto os linfócitos B (ou células B) completam o
seu amadurecimento na medula óssea, os linfócitos T são enviados ao timo
para continuar sua diferenciação. Uma vez que deixam a medula (linfócitos B)
e o timo (linfócitos T), eles transitam livremente entre os tecidos secundários.
Quando ocorre uma infecção, células dendríticas e macrófagos carreadores
de antígenos chegam até esses órgãos onde células dendríticas maduras
apresentam o antígeno para os linfócitos, dando início a resposta imune
adaptativa. A figura 2 mostra uma representação da estrutura e localização dos
tecidos linfoides humanos, assim como da distribuição dos vasos linfáticos.
14 Microbiologia e Imunologia Clínica

SAIBA MAIS
Os tecidos linfoides não encapsulados são também
conhecidos como tecidos linfoides associados à mucosa
(MALT do inglês mucosal-associated lymphoid tissue) e
estão presentes em regiões subjacentes à mucosa de
alguns órgãos. Seus componentes incluem:

•• Anel de Waldeyer: estruturas linfoides em


forma de anel, formadas pelas tonsilas e adenoides, que
circundam a faringe.
•• Tecido linfoide associado aos brônquios (BALT
do inglês bronchial-associated lymphoid tissue): agregados
linfocitários difusos que protegem o epitélio respiratório.
•• Tecidos linfoides associados ao intestino (GALT
do inglês gut-associated lymphoid tissue) – incluem as
placas de Peyer e folículos linfoides isolados.
•• Tecido linfoide urogenital.

Complexo de histocompatibilidade
O complexo de histocompatibilidade (MHC) desempenha um papel
importante no reconhecimento de agentes patogênicos e na discriminação
entre o que é estranho e o que é próprio do organismo. Em humanos, o
cromossomo 6 apresenta genes que, em conjunto, são denominados
antígenos leucocitário humanos (HLA), que codificam as moléculas do MHC.
De acordo com sua estrutura molecular e função, esses complexos
estão divididos em 4 classes: classes I e II ligados ao processamento e
apresentação de antígenos e classes III e IV que codificam para outras
proteínas, estando algumas relacionadas com a resposta imune, tais
como componentes do sistema complemento e algumas citocinas
inflamatórias. As moléculas de classe I são codificadas por 3 loci humanos,
que recebem o nome de: HLA-A, HLA-B e HLA-C, enquanto as de classe
II são também codificadas por 3 loci e denominadas HLA-DP, HLA-DQ e
HLA-DR. As moléculas do MHC de classe I, que estão presentes na maioria
das células nucleadas, são reconhecidas principalmente pelo receptor de
Microbiologia e Imunologia Clínica 15

células T (TCR) dos linfócitos T CD8+, ao passo que as moléculas de classe


II, presentes principalmente na superfície das células apresentadoras de
antígenos, são reconhecidas pelo TCR dos linfócitos T CD4+.

Características da resposta imune adaptativa


Como você já sabe, a resposta adaptativa é mediada pelos
linfócitos T e B e por moléculas produzidas por esses. Esse tipo de
resposta imune apresenta diversas particularidades que a tornam mais
eficaz na defesa do organismo, se comparada à resposta inata. Essas
características estão resumidas na tabela 1.

Tabela 1 – Principais características das respostas imunes adaptativas

Característica Importância biológica


Especificidade Garante que a resposta ao microrganismo
ou antígeno não microbiano seja
direcionada apenas a esse.
Diversidade Permite que o sistema imune responda à
uma grande variedade de antígenos
Memória Favorece o combate a infecções
repetidas pelo mesmo microrganismo
Expansão clonal Aumenta o número de linfócitos que
respondem especificamente ao antígeno.
Especialização Gera respostas que são ótimas para
a defesa contra diferentes tipos de
microrganismos.
Contração e homeostase Permite que o sistema imune se recupere
rapidamente e possa responder de forma
efetiva a novos antígenos encontrados.
Não reatividade ao Previne o ataque contra auto antígenos.
próprio
16 Microbiologia e Imunologia Clínica

Tipos de resposta imune adaptativa


Se a resposta imunológica inata não for suficiente para bloquear
por completo a ação de um microrganismo invasor, a resposta adaptativa
será acionada. Existem dois tipos de respostas adaptativas que atuam
para eliminar os diferentes tipos de microrganismos: a imunidade
humoral e imunidade mediada por célula. A escolha entre ambas irá
depender da natureza do invasor e da forma como os antígenos são
processados. A seguir vamos compreender os elementos e estruturas
de cada uma delas.

Imunidade mediada por célula


Para compreender a imunidade mediada por células precisamos
primeiro estudar as variações na diferenciação de células T. Eles
pertencem a duas classes: T CD4+ ou células auxiliares, que atuam na
ativação de linfócitos B e macrófagos, e T CD8+ ou células citotóxicas,
que matam as células infectadas. Essa denominação se deve à
expressão de correceptores CD4+ ou CD8+ que se ligam as moléculas
do complexo de histocompatibilidade (MHC), traduzindo seus sinais e
iniciando a ativação das células T.
A imunidade mediada por células se desenvolve através de
uma rede de interações que culmina na defesa contra microrganismos
presentes dentro dos fagócitos ou de outras células. Os antígenos
processados no citosol dessas células são conduzidos até a superfície
celular pelo MHC de classe I e apresentados para as células T CD8+
que as eliminam, enquanto os antígenos de patógenos processados em
vesículas ácidas intracelulares são apresentados pelo MHC de classe II
aos linfócitos CD4+, que se diferenciam, mais uma vez, em CD4+Th1 –
ativam macrófagos e linfócitos – e em CD4+Th2 – induzem a proliferação
e diferenciação de linfócitos B em plasmócitos.
Uma vez que as células T CD8+ sejam ativadas, elas se diferenciam em
linfócitos citolíticos (CTL), que destroem somente as células que apresentam
o antígeno associado a produtos de classe I do MHC. O mecanismo de ação
pode ocorrer pela lise direta através das enzimas perforinas e granzimas,
como também pela estimulação da apoptose celular.
Microbiologia e Imunologia Clínica 17

Imunidade humoral
Quando ativados pelas células CD4+Th2, os linfócitos B proliferam
e se diferenciam em plasmócitos, células efetoras com função de
produzir e secretar anticorpos, os quais são os mediadores desse
tipo de resposta. Os anticorpos são glicoproteínas que pertencem
à superfamília das imunoglobulinas; sua síntese é estimulada pelas
moléculas antigênicas presentes nos microrganismos, os quais são
marcados pelos anticorpos. Esse processo facilita o reconhecimento de
microrganismos por células fagocíticas do sistema imune inato, ativa o
sistema complemento potencializando a opsonização e recrutamento
de mais células inflamatórias para a região.
As imunoglobulinas são formadas por uma região variável de
ligação ao antígeno (região V) e uma parte constante (região C), que
participa da função efetora e não varia entre as diferentes classes de
imunoglobulinas. Estruturalmente são formadas por duas cadeias
leves (L-light-leve), idênticas e duas cadeias pesadas (H- heavy-
pesado), também idênticas entre si, ligadas por pontes dissulfídicas.
O número exato e as posições destas pontes entre as cadeias diferem
entre as classes e subclasses de imunoglobulinas. Além disso, ambas
as cadeias, leves e pesadas, possuem uma região variável e outra
constante. A estrutura de cada uma das classes de imunoglobulinas está
representada na figura 4.

DEFINIÇÃO
Opsonização é um termo usado em imunologia que
se refere ao processo de fixar opsoninas (anticorpos e
moléculas do sistema complemento) na superfície da
bactéria, permitindo que ocorra o reconhecimento dessa
pelas células imunológicas.

Anticorpos de alta afinidade neutralizam toxinas, vírus e bactérias.


Porém, algumas vezes esses agentes podem continuar ativos e devem
ser removidos de outras formas. Assim, o papel dos anticorpos nestas
situações é o de ativar células efetoras acessórias, que tenham receptores
18 Microbiologia e Imunologia Clínica

para o Fc (fragmento cristalizável; figura 4) de imunoglobulinas. Dentre


essas células estão os macrófagos e neutrófilos, que ingerem bactérias
recobertas por IgG; assim como as NK, que lizam diretamente parasitos
recobertos por IgG. Tal fenômeno é conhecido como mecanismo de
citotoxidade celular dependente de anticorpo (ADCC). Além da ADCC, o
mesmo fenômeno pode ser observado por meio da IgE, onde as células
citotóxicas são os eosinófilos. A importância dessa segunda via se deve
ao fato de que alguns parasitas não são mortos via fagocitose, mas sim
por mediadores químicos liberados por estas células.

RESUMINDO
E então? Conseguiu relembrar os mecanismos básicos
do processo imunológico? Para podermos avançar em
imunologia clínica, vamos agora fazer um resumo dos
principais tópicos deste capítulo. Iniciamos fazendo uma
visão geral sobre os mecanismos envolvidos na resposta
imune inata: barreira físico-química, células fagocíticas,
alguns linfócitos, proteínas plasmáticas, células dendríticas
e natural killers; e na resposta adquirida: os linfócitos T e B e
seus anticorpos. Falamos sobre as etapas da resposta imune,
que envolvem reconhecimento do antígeno patogênico,
ativação da resposta inflamatória, controle da invasão
e retorno a homeostase. Abordamos sobre os tecidos
linfoides primários, importantes da produção e maturação
de leucócitos e linfócitos e sobre os tecidos linfoides
secundários, onde ocorre a apresentação do antígeno aos
linfócitos. Vimos que o complexo de histocompatibilidade,
formado pela expressão do sistema HLA, está dividido em
4 classes, responsáveis pela apresentação do antígeno (I
e II) e pelas codificações de outras proteínas associadas à
resposta imune (III e IV). Revisamos sobre a resposta imune
mediada por células, que envolve a ativação de células T
CD4+ e T CD8+ pelo antígeno e a posterior diferenciação
dessas em CD4+Th1 e CD4+Th2 e linfócitos citolíticos.
Também estudamos sobre a diferenciação dos linfócitos
B em plasmócitos secretores de anticorpos, que ocorre
na resposta imune humoral, assim como a estrutura e
diferentes classes das imunoglobulinas.
Microbiologia e Imunologia Clínica 19

Resposta imune aos agentes infecto


parasitários

OBJETIVOS
Neste capítulo, abordaremos os principais mecanismos
de resposta imunológicas às ações dos vírus, bactérias,
protozoários e helmintos que parasitam o organismo
humano. Você aprenderá sobre as diferenças e semelhanças
na resposta inata e adaptativa do sistema imunológico para
cada um desses patógenos. Então, vamos adiante!

Vivemos em um ambiente povoado de microrganismos e apenas


uma pequena parcela tem a capacidade de causar doenças. O sistema
imune evoluiu no sentido de responder especificamente contra estes
microrganismos, promovendo a manutenção da homeostase. Como
você já estudo nas unidades anteriores, os agentes infecto parasitários
diferem em sua patogenicidade e virulência. Nas condições em que o
sistema imunitário se encontra normal, os agentes infecto parasitários
devem ser suficientemente virulentos para se estabelecer e causar
infecção. Porém, quando esse sistema se encontra debilitado ou
enfraquecido, agentes pouco virulentos, tais como os comensais,
podem causar lesões graves.

Resposta imunológica à infecção por vírus


Os vírus dependem de uma célula hospedeira para se desenvolver e
podem causar lesões teciduais e doenças por vários mecanismos distintos.
A replicação viral interfere com a síntese proteica e com as funções normais
das células, podendo levar a perda da homeostase celular e morte. A este
tipo de infecção, damos o nome de lítica e o vírus é do tipo citopático.
Quando se trata de um vírus não citopático, ele causará infecções latentes,
residindo nas células hospedeiras ao mesmo tempo que produz substâncias
que estimulam a imunidade adaptativa. Nesse caso, serão as células CLT
20 Microbiologia e Imunologia Clínica

que, uma vez estimuladas, levarão a morte das células infectadas. As


proteínas virais também podem estimular as reações de hipersensibilidade
tardia (DTH), e a lesão celular acaba sendo uma consequência comum da
resposta imune fisiológica contra o ataque de um vírus.
A estimulação por interferons (IFN), citocinas glicoproteicas que
atuam no controle da replicação celular, representa um dos principais
mecanismos de resposta inata à infecção por vírus. Nesta via, as células
infectadas liberam essa citocina, a qual se liga a receptores específicos
nas células vizinhas e estimula a produção de enzimas que atuam
inibindo a replicação viral e ativam o ataque dessas células infectadas
pelas células NK. Um outro mecanismo importante na defesa contra
vírus é a ativação do sistema complemento e a fagocitose desses,
quando se encontram extracelularmente.
Com relação à imunidade específica, embora os anticorpos sejam
importantes na imunidade contra vírus, eles não são suficientes para eliminá-
los, sendo necessária a combinação da resposta celular com a humoral.
Os anticorpos produzidos após a estimulação dos linfócitos B se ligam às
proteínas do envelope ou do capsídeo, impedindo a fixação e entrada do
vírus na célula hospedeira. Além disso, os anticorpos IgG que atuam como
opsonizantes também podem potencializar a remoção das células fagocitadas
por fagocitose ou sua destruição através da ADCC via células NK. Porém, o
principal mecanismo contra uma infecção viral estabelecida é através da via
de ativação das células CD8+ citolíticas, que destroem as células infectadas,
estimulam a ação de enzimas intracelulares que degradam genomas virais e
secretam citocinas com atividade interferon-like.

ACESSE
Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts
desenvolveram uma nova técnica que parece promissora
para vencer a AIDS e outras doenças infecciosas. A técnica
consiste em injetar proteínas do vírus HIV ou de outro vírus
de interesse dentro dos linfócitos B. Essas células passarão
a produzir anticorpos específicos à essas proteínas.
Para saber mais, acesse: http://www.nanocell.org.br/
nova-tecnica-ajudar-a-vencer-a-aids-e-outras-doencas-
infecciosas/ (acesso em: 15/01/20).
Microbiologia e Imunologia Clínica 21

Resposta imunológica a infecções


bacterianas
As bactérias extracelulares causam doenças através de dois
mecanismos: estimulando a reação inflamatória, a qual leva a destruição
tecidual no local da infecção e produzindo toxinas, que possuem diversos
efeitos patológicos. Por sua vez, estas podem ser componentes da
parede bacteriana – endotoxinas – ou moléculas ativamente secretadas
– exotoxinas. Dessa forma, são necessárias estratégias imunológicas
que visem eliminar a bactéria e o efeito de suas toxinas.
Através da defesa inata neutrófilos, monócitos e macrófagos realizam
a fagocitose e digestão bacteriana, normalmente com a ativação do sistema
complemento, que envolve opsonização da bactéria, via produção de C3b
(produto da clivagem da proteína plasmática C3, que se liga à superfície
bacteriana; figura 6) e recrutamento de leucócitos para a região. Porém, o
sucesso dessa operação é determinado pelo nível de virulência da bactéria.
A imunidade humoral específica torna-se a principal resposta
protetora contra essas bactérias, e consiste do reconhecimento de seus
antígenos por células CD4+ Th2, apresentados via MHC de classe II. Os
anticorpos específicos se ligam às bactérias e suas toxinas neutralizando-
as e ativam o sistema complemento, potencializando sua ação.

VOCÊ SABIA?
O choque séptico é uma das consequências graves da
infecção por bactérias extracelulares Gram-negativas
e Gram-positivas. Esse é caracterizado pelo colapso
circulatório e coagulação intravascular disseminada.
Na fase inicial do choque, os macrófagos são ativados
por componentes da parede bacteriana, como os
lipopolissacarídeos (LPS) e peptideoglicanos e passam a
liberar uma grande quantidade de citocinas inflamatórias.
A presença do fator de necrose tumoral (TNF) e de
interleucinas, como a IL-6 e IL-1, contribuem para a
tempestade de citocinas associada à essa patologia. Nas
fases seguintes, ocorre depleção ou supressão de linfócitos,
resultando em disseminação microbiana não controlada.
Fonte: ABBAS, e col., Imunologia Celular e Molecular. 8ª ed.
22 Microbiologia e Imunologia Clínica

Em se tratando de bactérias que sobrevivem no interior de


células hospedeiras, como as microbactérias que vivem no interior de
macrófagos, sua eliminação requer mecanismos diferentes daqueles
observados para as extracelulares. Pelo fato de serem inacessíveis aos
anticorpos, o principal mecanismo de imunidade inata é mediado por
fagócitos e células NK, que promovem uma defesa precoce contra
essas bactérias antes da resposta específica. A presença de bactérias
intracelulares ativa a produção de citocinas como as interleucinas IL-12 e
IL-15 pelas células dendríticas e macrófagos, as quais ativam as células
NK. Essas, por sua vez, através da produção de interferon gama (IFN-γ)
estimulam os macrófagos e promove a morte da bactéria fagocitada.
A principal resposta específica contra essas bactérias é a
resposta celular, com atuação de células CD4+Th1, que estimulam os
macrófagos a produzirem diversas substâncias bactericidas, e células
citotóxicas CD8+ (CLTs), que destoem as células infectadas, eliminando
os microrganismos que escapam à fagocitose.

IMPORTANTE
A ativação de macrófagos através das células CD4+
também pode causar lesão tecidual, manifestada pela
reação de hipersensibilidade tardia (DTH ou HT), assim
como as observadas nas infecções virais e em outros
agentes infecto parasitários.
Microbiologia e Imunologia Clínica 23

Figura 2 – Imunidade inata e adaptativa às bactérias intracelulares.

Controle da infecção
Células T
Células
NK
CD40L,
IL-12 IFN-γ IFN-γ

Erradicação
da infecção
Neutrófilos Macrófagos Macrófagos
Imunidade inata Imunidade adaptativa

0 7 14
Dias após a infecção

Fonte: ABBAS, e col., Imunologia Celular e Molecular. 8ª ed. | Freepik (editado)

Resposta imunológica a infecção


parasitária
Apesar de diferentes parasitas ativarem respostas inatas distintas
no hospedeiro, essa apresenta-se bastante rudimentar, já que boa parte
dos parasitas estão bem adaptados à essas defesas. Sendo assim,
em termos gerais, a resposta imune contra parasitas extracelulares é
mediada por anticorpos, enquanto contra parasitas intracelulares são
mediados por células CLTs. Além disso, parece haver um predomínio da
resposta mediada por células CD4+Th1 que levam à morte de parasitas
intracelulares e de células CD4+Th2 para patógenos extracelulares.
Porém, o tipo de resposta que irá conferir maior proteção ao organismo
depende da natureza e da fase evolutiva do parasita. A Tabela 2 mostra
os principais mecanismos imunológicos de defesa contra alguns tipos
de parasitas intra e extracelulares.
24 Microbiologia e Imunologia Clínica

Tabela 2 – Respostas imunológicas à diferentes tipos de parasitas intracelulares e


extracelulares (metazoários).

Para que possa se estabelecer dentro do organismo, o parasita


precisa burlar os mecanismos inatos de defesa antes da resposta
adaptativa ser iniciada. Neste momento, é fundamental o papel do
sistema complemento, ativado por moléculas presentes na superfície de
revestimento desses patógenos, que ativam a via alternativa. A presença
de macrófagos e neutrófilos é também uma característica geral dos
estágios iniciais de infecção parasitária. Parasitas extracelulares, podem
ser fagocitados por macrófagos, os quais também liberam substâncias
tóxicas que promovem sua destruição sem internalização. Esses são
ativados principalmente pelo IFN- γ, produzido pelas células NK. Com
relação aos neutrófilos, para além da fagocitose, eles promovem a
destruição extracelular através da produção e liberação de peróxido de
hidrogênio (H2O2).
Os eosinófilos estão associados a infecções por helmintos, que
são grandes demais para serem fagocitados. Essa defesa é mediada por
Microbiologia e Imunologia Clínica 25

células Th2, que resulta na produção de IgE e ativação dos eosinófilos,


para que ocorra a degranulação. Os eosinófilos e os mastócitos podem
agir em conjunto na destruição das larvas de helmintos, onde os produtos
dos mastócitos potencializam a ação dos eosinófilos. A resposta via IgE
pode promover desde efeitos brandos a reações severas no hospedeiro,
visto que a liberação de mediadores inflamatórios pelos mastócitos
pode gerar pruridos, eritemas, dificuldades respiratórias ou mesmo
choque anafilático.
A resposta imune contra protozoários intracelulares, como o
parasita causados da malária, Plasmidium spp., é muito semelhante
àquela gerada contra infecção por vírus citopático, com importante
atuação das células CTL, embora anticorpos específicos sejam
também produzidos contra as formas livres desse protozoário. Porém,
a resposta adaptativa também pode contribuir para a lesão tecidual.
Alguns parasitas, como os ovos do Schistosoma mansoni, causador da
esquistossomose, estimulam a ativação dos macrófagos via T CD4+ que
induzem as reações de hipersensibilidade tardia (DTH). Essas resultam
na formação de granulomas induzidos por Th2, com função de isolar os
ovos, porém associado a formação de fibrose tecidual crônica, a qual
pode resultar em um processo cirrótico. No caso da malária, onde a
formação de complexos imunes é comum, eles podem ser depositados
nos rins, causando doenças como a síndrome nefrótica da malária.

IMPORTANTE
As infecções crônicas normalmente estão associadas
com produção reduzida de IFN- γ pelas células NK e
provavelmente explicam a alta incidência de tuberculose e
toxoplasmose em pacientes com AIDS, os quais possuem
números reduzidos de células T CD4+.
26 Microbiologia e Imunologia Clínica

RESUMINDO
Ufa, acabamos essa unidade. Como foi estudar todos
esses mecanismos do processo imunológico? Para facilitar
seu aprendizado, vamos agora ao nosso resumo. Nós
iniciamos falando sobre a resposta imunológica aos vírus,
onde a estimulação por IFN representa um dos principais
mecanismos de resposta inata. A resposta imunológica
adaptativa à infecção por vírus não citopático é mediada,
principalmente por células CTLs, enquanto a resposta
a vírus citopáticos é mediada por anticorpos, sendo a
fagocitose desempenhada pelos macrófagos, a fase final
desse processo. Com relação à resposta imune contra
bactérias, são necessárias estratégias de neutralização
às bactérias e suas toxinas. Para bactérias extracelulares,
temos a importância do sistema complemento, na resposta
inata e das células CD4+Th2 na imunidade adaptativa. Em
se tratando de bactérias intracelulares, o papel do sistema
NK-IFN-γ-macrófagos e da resposta mediada por células
CD4+Th1 e CD8+ torna-se fundamental. A resposta à infecção
parasitária é bastante complexa e depende da natureza
e fase evolutiva do parasita. Nesse caso, a resposta inata
frequentemente torna-se insuficiente; em caso de parasitas
intracelulares, há predomínio de resposta mediada por
CD4+Th1, enquanto para parasitas extracelulares a resposta
é mediada por CD4+Th2.
Microbiologia e Imunologia Clínica 27

Imunologia clínica das alergias

OBJETIVOS
O objetivo deste capítulo é entender os aspectos
imunológicos associados à anafilaxia e urticária, além de
estudar sobre outras alergias, como alergias a fármacos e a
alimentos, compreendendo os diferentes tipos de reações
de hipersensibilidade. E então? Vamos lá?

Os seres humanos têm desenvolvido, cada vez mais, respostas


alérgicas a diferentes tipos de coisas, sejam alimentos, substâncias,
tinturas, etc... O nosso organismo possui capacidade de distinguir o que
é “intruso” ao corpo e poder expulsar. As alergias têm afetado cada vez
mais as pessoas e existem diversas manifestações alérgicas que podem
aparecer isoladas ou em conjunto.

VOCÊ SABIA?
Em 1993, descobriram que a febre-dos-fenos (rinite
alérgica) era causada pelo pólen, após isso, descobriram
que as reações alérgicas eram produzidas através de uma
substância presente no sangue.

Anos depois desses descobrimentos, conseguiram descobrir sobre


essa substância, que é uma proteína, imunoglobulina E (IgE), que será
comentada mais adiante. A alergia é uma resposta imunológica, porém
de forma excessiva ou inadequada quando as pessoas são sensíveis ao
alérgeno.

VOCÊ SABIA?
Alérgeno é a substância que provoca reação alérgica nas
pessoas, são antígenos não parasitas capazes de estimular
respostas em indivíduos alérgicos.
28 Microbiologia e Imunologia Clínica

A partir do final do século XX começaram a estudar sobre as


reações e os fenômenos que ocorriam com o sistema imune, apesar
de já conhecerem alguns alimentos e substâncias que causavam
reações nas pessoas, como mariscos, ovos, nozes, queijo, pólen, pelos
de animais e poeira. Os órgãos mais afetados pelas reações são a pele
e o sistema respiratório, por serem mais expostos ao ambiente. Para
que uma pessoa desenvolva uma sensibilidade a uma substância vai
depender do tempo de atuação e da quantidade da mesma.
Exemplo: Um indivíduo pode desenvolver uma reação alérgica,
por vários anos, sem saber da existência da reação.
O nosso organismo produz anticorpos que são capazes de
combater agentes patológicos e neutralizam o alérgeno, produzindo
substâncias químicas, como histamina, que serão responsáveis pelos
sintomas. Os sintomas das reações alérgicas podem ser menos ou mais
acentuados, podendo até levar à morte. As reações de hipersensibilidade,
ou seja, as alergias, podem ser desenvolvidas através de uma resposta
imunológica celular ou humoral, e pode ser local, quando há inflamação,
ou sistêmica. Existem hipóteses sobre as alergias serem originadas
pela genética, pela presença de linfócito T supressor, pelo aumento da
industrialização ou até mesmo pela higiene.

Tipos de reações de hipersensibilidade


As reações alérgicas podem ser classificadas em diferentes tipos.
As reações de tipo I são as quais o IgE se fixa em receptores específicos
na superfície celular (mastócitos e basófilos) originando uma exposição
alergênica a sua ativação, e então liberam mediadores da inflamação,
Exemplo: São pertencentes às reações do tipo I: rinite, asma,
urticária, anafilaxia.
As reações do tipo II são as quais o IgG ou IgM, ou ambos ativam o
sistema complemento pela via clássica. Um exemplo desse tipo de reação é
a alergia a fármacos. As reações do tipo III são as quais os anticorpos IgG ou
IgM formam complexos imunes com o antígeno e o sistema complemento,
ativando, então, fatores quimiotáticos, e irá induzir à inflamação tecidual.
Um exemplo desse tipo de reação é a alveolite alérgica extrínseca. As
Microbiologia e Imunologia Clínica 29

reações do tipo IV são as que linfócitos T sensibilizados reagem com o


alérgeno, e, então, liberam linfocinas e recrutam outras células para o local
da resposta. Um exemplo desse tipo de reação é a reação tuberculínica,
que está envolvida na dermatite de contato.

Reação de hipersensibilidade do tipo I


Essa reação ocorre pelo agente causador da alergia que irá
desencadear uma resposta humoral e, como foi dito anteriormente, o
IgE irá segregar à célula e tornará essa resposta humoral diferente. O
IgE, ao se ligar à membrana da célula através do receptor Fc, consegue
sensibilizá-la. Quando houver uma nova exposição ao alérgeno, irá
ocorrer a degranulação da célula, que irá liberar os mediadores e
provocará vasodilatação e contração muscular. Os mediadores liberados
durante a degranulação são agentes farmacologicamente ativos seja em
tecidos ou em células (eosinófilos, neutrófilos, linfócitos T, monócitos e
plaquetas). A sua liberação irá provocar um aumento da permeabilidade
vascular e uma inflamação desnecessária. Esses mediadores podem ser
primários ou secundários, são exemplos dos primários as histaminas,
proteases e heparinas e são exemplos dos secundários citocinas e
fatores de ativação das plaquetas.

DEFINIÇÃO
As citocinas são proteínas produzidas por leucócitos que
produzem a resposta imune.

Quando nos defendemos de parasitas, nós produzimos IgE, que


aumenta a sua quantidade ao sermos expostos e diminui após a eliminação.
Isso ocorre na maioria das pessoas, porém, existem pessoas que
possuem uma predisposição genética para o desenvolvimento imediato
de IgE em exposições. As pessoas atópicas possuem quantidades de
IgE e eosinófilos maiores que o normal, sendo susceptíveis a reações
como asma e eczema. Os alérgenos mais comuns são proteínas, pólen
de plantas, drogas como penicilina, alimentos (amêndoas, ovo, feijão,
30 Microbiologia e Imunologia Clínica

ervilha, leite), produtos de insetos como venenos de abelha, vespa ou


formiga e pelos de animais.
A atividade do Ige depende da sua ligação através da cadeia
pesada E na região no receptor Fc. Os tipos de receptores do IgE podem
ser FceRI, onde há uma maior afinidade de ligação do IgE à célula, ou
FceRII, onde a afinidade é baixa.
As histaminas possuem três tipos de receptores que estão
distribuídos nos tecidos e possuem diferentes efeitos quando ligados à
histamina. Quando ela se liga ao receptor H1, ocorrem os principais efeitos
das reações alérgicas, já na ligação com o receptor H2 a degranulação
das células é suprimida e há vasodilatação. Alguns tipos de citocinas
também contribuem para as reações do tipo I, como TNF, IL-8, IL-4, BRD.
A rinite alérgica é a atopia mais comum e é proveniente da
reação de alérgenos do ar com mastócitos que liberam mediadores
farmacologicamente ativos. Os sintomas não são graves, incluem a
libertação de água de locais como mucosa nasal, conjuntiva e trato
respiratório superior, além de espirros e tosse. A dermatite atópica
(eczema alérgico) é uma doença inflamatória da pele, onde o nível de
IgE é elevado causando erupções cutâneas, infecções e pus.
As reações do tipo I podem ser sistêmicas ou locais, a seguir,
iremos explicar separadamente cada uma.

Anafilaxia sistêmica
Esse tipo de anafilaxia ocorre logo após a reação, similar a um
choque. Os seus sintomas são graves e pode ser letal. Muitos são os
antígenos capazes de provocar essa reação, como venenos advindos de
abelha, vespa, vespão ou formiga; drogas como penicilina ou insulina;
frutos secos e mariscos. Os principais sintomas são respiração ofegante,
pressão arterial baixa, constrição gastrointestinal e bronquial, edemas e
choque.

IMPORTANTE
Quando uma pessoa tem esse tipo de reação, ela precisa
ser tratada rapidamente, pois os sintomas se agravam e
pode levar a morte.
Microbiologia e Imunologia Clínica 31

Anafilaxia local
Nessa anafilaxia, a reação é limitada a um tecido ou órgão. É
uma reação que ocorre devido a hereditariedade e inclui asma, rinites
alérgicas, dermatites atópicas e alergias alimentares. A asma pode ser
provocada por alérgenos do ar ou alérgenos transportados pelo sangue,
como pólen, poeira, fumo, produtos de insetos ou antígenos virais. A
crise asmática também pode ser induzida pelo frio ou por exercícios
físicos, independente da estimulação de alérgenos. A resposta asmática
pode ser dividida em resposta antecipada e resposta retardada, sendo
que a resposta antecipada ocorre após a exposição ao alérgeno e
envolve histaminas, enquanto a resposta retardada ocorre horas após
a exposição e envolve mediadores adicionais, como interleucinas. Os
sintomas mais comuns são: edema e respiração ofegante.
As reações do tipo I são identificadas através de testes na pele.
Esses testes funcionam da seguinte maneira: pequenas porções de
alérgenos são introduzidas na pele e então se observa se a pessoa terá
reação. Se a pessoa for alérgica a algum alérgeno, a desgranulação dos
mastócitos e liberação de mediadores provocarão uma mancha em
menos de 30 minutos.

NOTA
A vantagem desse teste é que pode identificar vários
alérgenos ao mesmo tempo, porém, também pode
provocar um choque anafilático ou provocas novas alergias.

Outro método de detecção é a determinação do nível total de


IgE no soro pelo teste de Rádio Allergo Sorbent test (RAST). Para isso, o
soro do paciente é colocado em contato com um disco de agarose com
anti-IgE. As reações do tipo I podem ser tratadas com medicamentos ou
pela terapia imunológica. A terapia imunológica pode ser feita através
da injeção de quantidades crescentes de alérgenos, pois assim induzem
a formação de linfócitos T que irão suprimir a resposta do IgE. Os anti-
histamínicos também são muito utilizados no tratamento de alergias,
como rinite, atuando como ligantes nos receptores histamínicos das
32 Microbiologia e Imunologia Clínica

células alvos para que a histamina não se ligue. Existem outras drogas
que bloqueiam a liberação dos mediadores.

Reação de hipersensibilidade do tipo II


Esse tipo de reação também é conhecido como reação citotóxica
e envolve anticorpos que destroem as células. O anticorpo é ativado,
seja pelo sistema complemento, criando poros na membrana da célula
estranha, ou pela destruição da célula por um anticorpo que depende de
célula citotóxica. Nesse caso, as células citotóxicas se ligam aos anticorpos
da célula e promovem as suas mortes. O complemento mais comum é o
IgM/IgG. Quando o complemento é ativado moléculas são produzidas
e essas moléculas são quimiotáticas e anafilotoxinas. A ligação entre os
receptores e o Fc pode ser fraca, estimulando a fagocitose (ligação I) ou
fraca, estimulando a citotoxicidade (ligações II e III).
Exemplo: São reações do tipo II: rejeição a órgãos,
incompatibilidade em transfusões sanguíneas, doenças autoimunes
como anemia hemolítica, tireoidite de Hashimoto, diabetes Mellitus
juvenil, lúpus eritematosa sistêmica, etc...

Reação de sensibilidade do tipo III


Essas reações também são conhecidas como imunocomplexos,
onde uma grande quantidade de imunocomplexos pode gerar a
danificação de tecidos. A intensidade da reação irá depender da
quantidade de imunocomplexos e da distribuição deles pelo corpo.
Quando os complexos são depositados nos tecidos, ocorre uma reação
localizada, quando são formados no sangue a reação ocorre no lugar
em que estão sendo depositados. A reação causada por esse depósito
vai gerar o transporte de neutrófilos para o local e, então, o tecido é
destruído pelos grânulos liberados. As reações do tipo III podem ser
locais ou sistêmicas. As reações locais são semi retardadas, pois os
sintomas clínicos surgem 4-6 após a exposição ao alérgeno, e são as
alveolites alérgicas extrínsecas. As reações sistêmicas surgem após uma
semana até 15 dias após a exposição e suas manifestações são febres,
Microbiologia e Imunologia Clínica 33

debilidade, edemas, eritemas e artrites. As doenças autoimunes, reações


a medicamentos e doenças infecciosas são exemplos dessa reação.

Reação de hipersensibilidade do tipo IV


É uma reação retardada (DTH), já que a manifestação ocorre de
24-72 horas após a exposição. Essa reação pode ocorrer através dos
linfócitos T, que identificam determinados antígenos e reagem contra
eles. As reações irão gerar lesões inflamatórias nos tecidos.

IMPORTANTE
As lesões causadas pelas reações do tipo IV podem ser
irreversíveis, como rejeição de transplantes e alergias
cutâneas.

No início da resposta DTH os linfócitos T são ativados e células


dendríticas e macrófagos são ativados em seguida. As células dendríticas
capturam os antígenos que entram pela pele e os transportam. Na maioria
das vezes, os linfócitos ativados nessa fase de sensibilização são os CD4+.
Quando há uma segunda exposição ao antígeno, ocorre a fase efetora da
resposta DTH. Os macrófagos são os principais efetores na resposta DTH
e durante essa etapa, os monócitos se diferenciam em macrófagos ativos.
Essa ativação é importante na defesa de outros parasitas e bactérias que
vivem dentro da célula rodeada por anticorpos que irão atuar sobre ela. As
respostas mais comuns a essa reação são as dermatites e o teste de pele
também pode ser utilizado para identificação.

SAIBA MAIS
Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o
acesso à seguinte fonte de consulta e aprofundamento:
Artigo: “Imunopatologia da dermatite de contato alérgica”
(MARTINS & REIS), acessível pelo link http://www.scielo.br/
pdf/abd/v86n3/v86n3a01.pdf (Acesso em 12/01/2020).
34 Microbiologia e Imunologia Clínica

RESUMINDO
Durante esse capítulo vimos que existem reações
imunológicas que ocorrem no nosso organismo, de forma
diferente das que ocorrem normalmente. Essas reações,
que são conhecidas como reações de hipersensibilidade,
podem ocorrer de diversas maneiras. Você aprendeu que
essas reações podem ser classificadas em quatro tipos,
sendo que a primeira é mediada por IgG, a segunda por
IgM/IgG, a terceira por imunocomplexos e a quarta é
tardia (DTH). Conheceu sobre as principais alergias que
compõem cada grupo de reações e os alérgenos que as
causam. Aprendeu sobre os mecanismos imunológicos e
as células envolvidas em cada uma. Viu que existem testes
que podem ser feitos para identificar os alérgenos e que
existem formas de tratar, seja com medicamentos ou com
terapias. Enfim, conheceu um pouco sobre a imunologia
das alergias e das reações que ocorrem quando uma
substância entra em contato com o nosso corpo, seja
através de alimentos, medicamentos, pólen, venenos de
insetos, entre outros.
Microbiologia e Imunologia Clínica 35

Doenças autoimunes

OBJETIVOS
Ao final deste capítulo, você será capaz de ter o
conhecimento básico da imunologia e fisiopatologia das
principais doenças autoimunes. Então vamos lá finalizar
essa unidade com chave de ouro!

As doenças autoimunes (DAI) são síndromes causadas por lesão


tissular ou alteração funcional que foram desencadeadas através de uma
reposta autoimune. Para melhor entendimento, é um mau funcionamento
do sistema imune, o que faz com que o corpo ataque os seus próprios
tecidos. A autoimunidade é uma resposta imune específica contra um
antígeno ou a vários antígenos próprios. O nosso sistema imune possui
capacidade de distinguir antígenos estranhos, seja qualquer agente
infeccioso ou substâncias estranhas, dos nossos componentes.
Exemplo: Bactérias, parasitas, vírus, células cancerígenas, órgãos
e tecidos transplantados.
Os antígenos podem fazer parte de um vírus ou estar presente na
superfície ou dentro das células, as células dos nossos tecidos também
possuem antígenos, porém, quando o nosso sistema imunológico
funciona de forma incorreta, reconhece os antígenos dos nossos tecidos
como estranhos. A produção de anticorpos anômalos (autoanticorpos)
faz com que haja o ataque às células ou tecidos do organismo. A reação
autoimune resulta em inflamação e dano tecidual. O sistema imune pode
adquirir auto tolerância seja pela deleção clonal de linfócito T ou B auto
reativos ou pela supressão funcional de linfócitos T e B auto reativos.
As reações autoimunes podem ser desencadeadas de diversas formas:
As células B, que controlam a produção de anticorpos, podem
funcionar incorretamente e produzir autoanticorpos que irão atacar as
células do corpo; uma substância estranha semelhante a uma substância
natural do organismo pode penetrar no corpo e então o sistema imune
pode atacar acidentalmente a substância semelhante junto com a
substância estranha.
36 Microbiologia e Imunologia Clínica

Exemplo: O que ocorre na febre reumática, onde as bactérias


que causam infecções na garganta têm um antígeno semelhante a um
antígeno encontrado em células cardíacas humanas.
Também pode ocorrer que uma substância do organismo (que
normalmente se encontra limitada a uma área específica) é liberada na
corrente sanguínea.
Exemplo: Um machucado forte no olho pode levar o líquido do
globo ocular a passar para o fluxo de sangue e esse líquido irá estimular
o sistema imunológico a identificar o olho como estranho e irá atacá-lo.
Outra forma é uma substância normal do organismo sofrer uma
alteração provocada por um vírus. A substância alterada pode parecer
estranha ao sistema imune. Um vírus pode infectar células do organismo
e, então, alterá-las. As células infectadas pelo vírus estimulam o sistema
imune a atacar.
Ainda não se sabe exatamente o que desencadeia as doenças
autoimunes e a sintomatologia varia de acordo com a doença e com
a parte do corpo afetada. Algumas causas são hereditárias e algumas
pessoas podem ter genes que podem fazer com que a pessoa
desenvolva alguma doença autoimune.

VOCÊ SABIA?
Algumas doenças autoimunes são mais frequentes em
mulheres.

Os autoanticorpos podem ser detectados através de exames,


porém, a sua detecção não confirma totalmente o desenvolvimento da
autoimunidade. Por exemplo, a presença de anticorpos contra antígenos
do miocárdio não é a causa do infarto, mas a consequência da liberação
de antígenos devido a lesão isquêmica (os autoanticorpos devem
eliminar os autoantígenos circulantes).
As doenças autoimunes podem ser classificadas em sistêmicas
ou órgão-específico ou pelo tipo de resposta imune responsável pela
doença. A resposta pode ser humoral (autoanticorpos) ou celular
Microbiologia e Imunologia Clínica 37

(linfócitos T auto reativos). Os exemplos de DAI sistêmicas são as


doenças reumáticas, como o lúpus eritematoso sistêmico (LES), a artrite
reumatoide (AR), a artrite reumatoide juvenil, a síndrome de Sjögren,
a esclerose sistêmica e a dermatopolimiosite, enquanto as principais
doenças órgão-específicas são a miastenia gravis, o pênfigo, a anemia
hemolítica autoimune e a púrpura trombocitopenia idiopática. Nas
doenças sistêmicas os antígenos já foram identificados como alvos da
resposta autoimune. As doenças órgão-específicas possuem resposta a
um ou mais antígenos presentes em tecidos ou células específicos.

Fatores genéticos na autoimunidade


Fatores genéticos influenciam na predisposição às doenças
autoimunes. A autoimunidade é geneticamente programada, algumas
DAI se agregam em determinadas famílias.

VOCÊ SABIA?
Os gêmeos idênticos possuem uma prevalência maior das
doenças autoimunes quando comparados aos gêmeos não-
idênticos, ou seja, existe a influência dos fatores genéticos.

A complexidade genética dessas doenças dificulta a identificação


dos genes envolvidos, pois possui poligenia. Porém, os genes do
complexo principal de histocompatibilidade (MHC) estão fortemente
associados a essas doenças. As moléculas do MHC podem predispor
às DAI por diversos mecanismos, o antígeno leucocitário humano (HLA)
também demonstrou relação já que alguns alelos HLA ocorrem com
maior frequência em indivíduos com alguma DAI.

Fatores ambientais e hormonais na


autoimunidade
Os fatores ambientais associados à DAI podem ser infecções,
fármacos, radiação UV, dieta e estresse psicológico. Infecções
38 Microbiologia e Imunologia Clínica

bacterianas, virais ou parasitárias podem participar do desenvolvimento


de diversas DAI, desencadeando a autoimunidade por diversos
mecanismos.
Exemplo: Mimetismo molecular, exposição a antígenos
criptogênicos, persistência do patógeno ou antígenos, superantígenos
bacterianos e retrovírus.

Figura 3 - Bactérias, superantígenos e seus efeitos

Bactéria Toxina Efeitos Biológicos

Staphylococcus A,B,C,D e E Choque, síndrome


Toxina do choque do choque tóxico,
tóxico envenenamento alimentar
e doença de Kawasaki
Streptococcus Endotoxina pirogênica Escarlatina e choque,
e Proteína M febre reumática
Yersinia Mitógeno de Yersinia Doença de Kawasaki

Mycoplasma Mitógeno de Artrite e choque


Mycoplasma arthritidis

Fonte: https://www.researchgate.net/profile/Isabela_Wastowski2/publication/236221011_
Patogenia_das_Doencas_Auto-Imunes/links/02e7e517186ca80139000000/Patogenia-das-
Doencas-Auto-Imunes.pdf.

A evidência de que as DAI são mais frequentes em mulheres


comprova a influência dos fatores hormonais e também há uma diferença
na resposta imune com relação a sua intensidade entre homens e
mulheres. Nas mulheres, a resposta imune celular e humoral são mais
fortes, ou seja, há uma maior concentração de anticorpos.

Lúpus eritematoso sistêmico (LES)


O LES atinge várias regiões do organismo, principalmente a
epiderme, as juntas, o sistema sanguíneo e os rins. A sua etiologia ainda
é desconhecida, porém sabe-se que existe a influência dos fatores
vistos acima. A clássica lesão em asa de borboleta, caracterizada por
Microbiologia e Imunologia Clínica 39

eritema malar e no dorso do nariz, é característica dessa doença, porém


acontece em menos que 50% das pessoas com LES. O lúpus pode
ser discoide, cutâneo subagudo ou sistêmico com comprometimento
de outros órgãos e sistemas. Alguns mecanismos imunológicos estão
envolvidos no LES, como a formação de anticorpos auto reativos,
produção de imunocomplexos, ativação do sistema complemento e
falha na tolerância dos linfócitos T e B. Quando ocorre o desequilíbrio
na regulação da resposta imune há a produção de inúmeros anticorpos
auto reativos. Apesar de existirem esses fatores, não se sabe ainda se
no LES o defeito primário ocorre na tolerância central ou periférica nos
linfócitos T e B, ou até mesmo em ambos, logo, ainda não se conhece o
fator crucial para o desencadeamento da doença.
Os sintomas variam de cada pessoa portadora de LES, mas os
mais frequentes são: mal-estar, febre, perda de peso e apetite, cansaço,
dores nas articulações e manchas avermelhadas.

Miastenia Grave
Essa doença é caracterizada pelo surgimento de debilidade
muscular devido a uma anormalidade na funcionalidade da junção
neuromuscular. O sistema imune produz anticorpos que irão atacar os
receptores da junção neuromuscular e esses receptores são os que
recebem o impulso nervoso da acetilcolina, que é um neurotransmissor.
Os fatores genéticos são muito importantes para o surgimento dessa
doença e a mãe pode transmiti-la para o feto através da placenta.

DEFINIÇÃO
Miastenia neonatal é a condição onde há o surgimento da
debilidade muscular no recém-nascido, que desaparece
em poucos dias após o nascimento.

Os sintomas mais comuns dessa doença são: fraqueza das


pálpebras e da musculatura ocular e fraqueza excessiva de músculo
depois de exercícios.
40 Microbiologia e Imunologia Clínica

Os anticorpos irão se ligar a esses receptores e os degradarão,


impedindo a transmissão do estímulo nervoso por meio de acetilcolina na
região afetada e dificultando a contração muscular. Nem toda a acetilcolina
liberada encontra um receptor, mesmo em pessoas não afetadas pela
doença. Quando esse neurotransmissor não se liga a nenhum receptor,
uma enzima (acetilcolinesterase) quebra as moléculas da acetilcolina.

Diabetes Mellitus
Essa doença é muito comum e conhecida, caracterizada pela
elevação do nível de glicose no sangue, provocando hiperglicemia.
Sabe-se que a insulina possui função de metabolizar a glicose e é
produzida pelo pâncreas. Existem duas condições para a diabetes, que
é a diabetes do tipo 1 e do tipo 2. A diabetes do tipo 1 está relacionada
à destruição das células beta pancreáticas e é mais frequente em
crianças. Essa destruição pode ocorrer por um processo imunológico. A
diabetes do tipo 2 está associada a uma resistência insulínica, já que há a
produção da mesma pelas células beta pancreáticas, mas há um quadro
de resistência devido a sua ação estar dificultada.

VOCÊ SABIA?
Além desses dois tipos de diabetes, existe a diabetes
gestacional, que ocorre durante a gestação, podendo
terminar ao fim da gravidez.

Artrite reumatoide
A Artrite Reumatoide (AR) causa a inflamação crônica das articulações,
afetando as articulações menores no corpo (dedos, polegares, punhos, pés
e tornozelos). A natureza sistêmica da condição significa que também pode
afetar o corpo como um todo, incluindo os órgãos internos e o sistema
vascular. Na AR os processos inflamatórios focam no tecido que circunda
cada articulação (sinovial), levando ao edema e a danos na cartilagem e
ossos das articulações revestidas pela sinovial.
Microbiologia e Imunologia Clínica 41

Esclerose múltipla
A Esclerose Múltipla (EM) é uma doença crônica que apresenta
desmielinização neuronal. Essa desmielinização é progressiva e
incapacitante. Essa doença não apresenta um padrão de evolução, porém
é possível identificar fases de exacerbação da atividade inflamatória,
pois elas se alternam com períodos de remissão ou progressão da
desmielinização ou pela combinação de ambos os quadros. É uma
doença imunomediada, onde ocorre uma resposta autoimune contra
vários antígenos presentes na mielina do sistema nervoso central. Na
fase inicial da doença, as lesões desmielinizantes são resultantes de
processos inflamatórios onde participam vários componentes do sistema
imune inato e adaptativo. As lesões imunes são ativadas e coordenadas
por linfócitos T auxiliares pró-inflamatórios juntos com células TH2
e T reguladoras. Além disso, participam deste processo células
apresentadoras de antígenos (macrófagos e micróglias), linfócitos T
citotóxicos e linfócitos B (que produzem anticorpos antimielina). A EM
é uma doença heterogênea e ainda não possui marcadores biológicos
conhecidos.
O tratamento das DAI deve ser baseado na avaliação dos
mecanismos patogênicos essenciais para as manifestações clínicas de
uma doença específica. Na patogênese da AR ocorre uma interação
complexa entre o sistema imune inato e adaptativo. Ou seja, em AR
há múltiplas formas de modulação ou supressão imunes eficazes. No
LES ocorre a sobreposição desses mecanismos patogênicos, sendo
apenas parcial. Algumas abordagens utilizadas no tratamento de AR
também são eficazes no tratamento de LES, porém, outras abordagens
podem agravar o LES. A complexidade das respostas imunes reflete
na diversidade das DAI e de seus mecanismos. Algumas condições
inflamatórias não necessitam de alterações na imunidade adaptativa,
pois são totalmente acionadas por mecanismos envolvidos em
respostas inatas, são chamadas de doenças auto inflamatórias e incluem
as síndromes de febre periódica.
42 Microbiologia e Imunologia Clínica

SAIBA MAIS
Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso
à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Artigo:
“Doenças autoimunes e autoanticorpos em pacientes
pediátricos e seus parentes de primeiro grau com deficiência
de imunoglobulina” (FAHL et. al), acessível pelo link http://
www.scielo.br/pdf/rbr/v55n3/0482-5004-rbr-55-03-0197.
pdf (Acesso em 14/01/2020).

RESUMINDO
Durante esse capítulo conhecemos um pouco sobre as
doenças autoimunes. Você aprendeu que o nosso corpo
possui um sistema imunológico que funciona corretamente,
porém, podem haver falhas e o sistema pode se virar contra
ele mesmo. Entendeu que nosso sistema imunológico
consegue distinguir substâncias desconhecidas e
patógenos de componentes presentes no nosso
organismo. Aprendeu que quando ele não consegue fazer
isso e produz anticorpos contra o próprio organismo pode
gerar as doenças autoimunes. Entendeu que as doenças
autoimunes podem ser sistêmicas ou órgão-específicas.
Conheceu sobre os fatores ambientais, genéticos e
hormonais que podem influenciar no surgimento dessas
doenças. Percebeu que a causa delas, na maioria das
vezes, é desconhecida, por ser multifatorial ou por outros
fatores. Aprendeu sobre os mecanismos imunológicos
que ocorrem em diversas situações e conheceu também
um pouco sobre as principais doenças autoimunes que
acometem as pessoas.
Microbiologia e Imunologia Clínica 43

BIBLIOGRAFIA
ABBAS, A.K.; LICHTMAN, A.H.; PILLAI, S.; Imunologia Celular e Molecular. 8ª ed.
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JANEWAY, TRVELS, WALPORT, SLOMCHIK. O sistema imunológico na saúde


e na doença. 6ª ed. Porto Alegre. Artmed, 2008.
Microbiologia e Imunologia
Clínica
Natália Gindri Fiorenza
Maria Paula de Souza Sampaio

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