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Acupuntura

Unidade IV
Acupuntura e outras terapias
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
JOÃO PEDRO VIANA RODRIGUES
AUTORIA
João Pedro Viana Rodrigues
Olá! Meu nome é João Pedro Viana Rodrigues. Sou bacharel em
Biotecnologia pela Universidade Federal do Ceará com intercâmbio
acadêmico na University of Florida e Mestre em Ciências Farmacêuticas
também pela Universidade Federal do Ceará. Atualmente, sou
Doutorando em Ciências Farmacêuticas pela Universidade Federal do
Ceará e Associado ao Yale-Proxima Mentorship Program 2021. Tenho
experiência técnico-profissional na área de biotecnologia, nanotecnologia,
desenvolvimento e caracterização de formulações farmacêuticas de mais
de cinco anos. Passei por empresas como a Fundação Oswaldo Cruz. Sou
apaixonado pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida
àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso fui convidado
pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes.
Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e
trabalho. Conte comigo!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

INTRODUÇÃO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova compe- novo conceito;
tência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou dis-
mento; cutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Política nacional de práticas integrativas e complementares
SUS......................................................................................................................12

Implementação da política nacional de práticas complementares e

integrativas do Brasil...................................................................................................................... 12

Formação profissional em práticas integrativas e complementares no

sistema único de saúde............................................................................................................... 15

Estruturação da oferta de práticas integrativas e complementares no

acesso e promoção da saúde................................................................................................ 19

Acupuntura e as emoções........................................................................23

Acupuntura como uma abordagem integrativa........................................................23

Fluxo de energia corporal..........................................................................................................25

Exemplos de abordagem em acupuntura emocional .........................................28

Baço........................................................................................................................................29

Pulmão..................................................................................................................................29

Fígado................................................................................................................................... 30

Coração............................................................................................................................... 30

Rins.......................................................................................................................................... 31

Outras condições relacionadas..........................................................................32

Eficácia..................................................................................................................................32
Aplicabilidade complementar da acupuntura.................................34

Aplicabilidade das terapias complementares ...........................................................34

Acupuntura como terapia complementar ....................................................................35

Análise de custo-efetividade da acupuntura como terapia complementar ......42

Auriculoterapia..............................................................................................45

Auriculoterapia como uma abordagem terapêutica complementar

promissora.............................................................................................................................................45

Aplicabilidade da auriculoterapia como uma abordagem terapêutica

complementar .................................................................................................................................. 50
Acupuntura 9

04
UNIDADE
10 Acupuntura

INTRODUÇÃO
Você seria capaz de discorrer acerca da aplicabilidade da
acupuntura como uma terapia complementar e alternativa aos
tratamentos médico-convencionais e medicamentosos já vigentes e
amplamente massificados? É importante ter em mente que os efeitos
de um tratamento podem ser potencializados com a combinação de
terapias e abordagens que possam potencializar os efeitos dos resultados
esperados com seu emprego. Todavia, isso precisa ser discutido entre os
profissionais envolvidos no caso. A massificação da acupuntura no sistema
de saúde, principalmente no sistema público tem se amplificado nos
últimos anos e tende a aumentar cada vez mais, uma vez que essa pode
ser aplicada como terapia complementar ao tratamento já empregado.
Os efeitos da acupuntura são subjetivos, pois podem tratar as emoções,
que muitas vezes podem ser a causa-raiz de um quadro clínico. Por fim,
devemos considerar não apenas a acupuntura tradicional, mas todas as
derivações dessa como a auriculoterapia, por exemplo, também como
terapia complementar e alternativa a ser adotada. Entendeu? Ao longo
desta unidade letiva você vai mergulhar nesse universo!
Acupuntura 11

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vinda (o). Nosso propósito é auxiliar você no
desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o término
desta etapa de estudos:

1. Discutir sobre a utilização de acupuntura no contexto do SUS;

2. Identificar a relação entre a acupuntura e as emoções;

3. Vislumbrar possibilidades de aplicação complementar da acupuntura;

4. Aplicar as técnicas de auriculoterapia no tratamento pela acupuntura.

De acordo com um provérbio chines, ‘‘é das nuvens mais negras


que cai a água límpida e profunda’’. O equivalente para os nossos ditados
populares é ‘‘há males que vem para bem’’. O provérbio chinês discorre
que alguns problemas inesperados que surgem são essenciais para
tratarmos algo maior pelo qual estamos sendo acometidos. Mesmo nas
situações mais difíceis é possível tirar vantagem. E você, consegue ver o
lado bom mesmo nas situações ruins?
12 Acupuntura

Política nacional de práticas integrativas


e complementares SUS

INTRODUÇÃO:

Ao término deste capítulo você será capaz de discutir de


forma substancial e satisfatória acerca da adoção, aplica-
bilidade e utilização das técnicas de acupuntura pelo Sis-
tema Único de Saúde (SUS). Tornar essa abordagem uni-
versal e acessível a todos é o primeiro passo para melhorar
a qualidade de vida da população. E então? Motivado para
desenvolver esta competência? Então vamos lá.

Implementação da política nacional de práticas


complementares e integrativas do Brasil
Analisando a transição demográfica e epidemiológica vivenciada
no século XX, as doenças crônicas e degenerativas despontaram como a
principal causa de morbidade e mortalidade mundialmente, gerando uma
alteração no paradigma da saúde pública em relação ao qual os cuidados
de saúde primários e a prevenção e promoção da saúde são definidos
como prioridades (CIPRIANO, 2010).

REFLITA:

Na década de 70, outros fatores da saúde (estilo de vida,


fatores ambientais e biológicos) destacaram-se, suscitando
questionamentos acerca da eficácia do modelo biomédico
de atenção à saúde adotado. Essa situação, em consonância
com o alto preço dos procedimentos biomédicos em
vigência, ocasionou um aumento de interesse por terapias
que estão fora dos limites da medicina científica tradicional.

As práticas integrativas e complementares dão precedência à


terapia sobre o diagnóstico e são sustentadas por teorias que enfocam
Acupuntura 13

os determinantes ambientais e comportamentais da saúde, tornando-as


estratégias interessantes para enfrentar os novos desafios da saúde.

Diante do exposto, em 1970, a Organização Mundial da Saúde lançou


seu Programa de Medicina Tradicional, com o objetivo de desenvolver
políticas públicas na área. Em 2002, publicou a “Estratégia de Medicina
Tradicional da OMS”, voltada para apoiar programas nacionais de pesquisa
e treinamento, definindo diretrizes e padrões técnicos, facilitando a troca
de informações e incorporando a Medicina Tradicional e a Medicina
Complementar e Alternativa (MT/MCA) na saúde nacional (WHO et al., 2002).

Diante das demandas destacadas durante as Conferências Nacionais


de Saúde no Brasil e das recomendações da Organização Mundial
de Saúde sobre a Medicina Tradicional e a Medicina Complementar e
Alternativa, em 2006, o Ministério da Saúde emitiu as seguintes políticas
que regem a incorporação das Práticas Integrativas e Complementares
no Sistema Único de Saúde: a “Política Nacional de Plantas Medicinais” e a
“Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no Sistema
Único de Saúde”.

VOCÊ SABIA?

Segundo a Política Nacional de Práticas Integrativas e Com-


plementares no Sistema Único de Saúde, a incorporação
das Práticas Integrativas e Complementares ao sistema de
saúde é garantida pelo princípio da integralidade. O princi-
pal objetivo da política era, portanto, promover maior com-
preensão e apoio às Práticas Integrativas e Complementa-
res já adotadas nos serviços públicos de saúde à época e
promover sua incorporação ao sistema público de saúde
(com ênfase nos serviços de Cuidados de Saúde Primários),
estimulando mecanismos naturais de prevenção, recupe-
ração da saúde e promoção.

Dois anos após a entrada em vigor da Política Nacional de Práticas


Integrativas e Complementares no Sistema Único de Saúde, o Ministério
da Saúde fez uma avaliação do conhecimento, institucionalização e
oferta das Práticas Integrativas e Complementares em todo o Brasil. Esse
14 Acupuntura

estudo identificou os seguintes desafios estratégicos imediatos para a


implementação da política:

1. Treinamento e desenvolvimento de um número adequado de


profissionais do SUS.

2. Monitoramento e avaliação

3. Fornecimento adequado de insumos e materiais (medicamentos


homeopáticos e fitomedicamentos, agulhas para Medicina Tradi-
cional Chinesa e acupuntura).

4. Pesquisas em Práticas Integrativas e Complementares, ampliando


a base de conhecimento em consonância com as necessidades e
diretrizes do SUS (DE SIMONI; BENEVIDES; BARROS. 2008).

Em 2011, o Gabinete Nacional de Coordenação das Práticas


Complementares e Integrativas publicou o seu Relatório de Gestão
2006-2016. O relatório traz um panorama da implantação da Política
Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no Sistema Único
de Saúde nos serviços de Cuidados de Saúde Primários. Os principais
avanços destacados pelo relatório foram o desenvolvimento de normas e
padrões e a institucionalização de experiências com Práticas Integrativas
e Complementares em consonância com as diretrizes estabelecidas no
Tratado Mundial de Saúde da Organização Mundial de Saúde.

Em termos de oportunidades, o relatório destacou a criação


do Centro de Apoio à Saúde da Família (CASF), que ajuda a promover
a integração de homeopatas, acupunturistas e demais profissionais da
medicina alopática nos serviços de atenção primária. O relatório revisita
os desafios apontados na avaliação anterior e identifica novos desafios,
como a estruturação da atenção complementar e integrativa no sistema
público de saúde e o desenvolvimento e reformulação de legislações
específicas voltadas para os serviços prestados no Sistema Único de
Saúde (RODRIGUES et al., 2011).

Em 2017, onze anos após a criação da Política Nacional de


Práticas Integrativas e Complementares no Sistema Único de Saúde, o
Ministério da Saúde emitiu a Portaria nº 849/2017, ampliando o leque
Acupuntura 15

de procedimentos oferecidos pelo Sistema Único de Saúde no âmbito


da política, incluindo meditação, arteterapia, musicoterapia, tratamentos
naturopáticos, tratamentos osteopáticos, tratamentos quiropráticos e
reiki. A terapia comunitária, roda de dança e biodança, ioga, oficinas de
massagem e automassagem, terapia auricular, massoterapia e tratamento
térmico e crenoterapia foram incluídos em abril de 2016. Dados do
Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção
Básica (PMAQ-AB) mostram que esses procedimentos foram oferecidos
por diversas autoridades locais de saúde no Brasil (BRASIL, 2017).

Em 2018, durante o primeiro Congresso Internacional de Medicina


Complementar e Integrativa e Saúde Pública, o Ministério da Saúde
anunciou a inclusão de mais dez práticas via Despacho Ministerial nº
702/2018, são essas: aromaterapia, apiterapia, bioenergética, constelação
familiar, cromoterapia, geoterapia, hipnoterapia, imposição das mãos,
terapia com ozônio e terapia floral. A medicina antroposófica e a
crenoterapia, incluídas em 2016 de forma observacional, foram incluídas de
forma permanente em 2018 (HABIMORAD et al., 2020). Uma década após
a criação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares
no Sistema Único de Saúde, surge o seguinte questionamento: o que a
literatura sobre Procedimentos Integrativos e Complementares no Sistema
Único de Saúde revela em relação à implementação dessa política?

Formação profissional em práticas integrativas


e complementares no sistema único de saúde
O primeiro conjunto de estudos que abordou essa temática
destaca que a equipe do Sistema Único de Saúde está despreparada
no que diz respeito às Práticas Integrativas e Complementares e há
falta de formação nessa área na graduação e na pós-graduação e nos
programas de educação continuada. Os achados desses estudos reiteram
as conclusões dos dois últimos relatórios de gestão da Política Nacional
de Práticas Integrativas e Complementares no Sistema Único de Saúde,
destacando que a formação profissional é um dos principais desafios de
implementação (THIAGO; TESSER, 2011).
16 Acupuntura

Ainda se aponta a falta de acompanhamento por parte dos


profissionais de saúde em relação ao uso de plantas medicinais pelos
usuários dos serviços. Sabe-se que os medicamentos fitoterápicos
baseados nos conhecimentos tradicionais são utilizados há muito tempo
sem apresentar grandes riscos à saúde. Porém, tendo em vista que o
uso indevido de plantas pode causar efeitos adversos relacionados à
overdose, ao uso de plantas de origem duvidosa e erros de prescrição, é
desejável o acompanhamento do uso de plantas medicinais em pacientes
com doenças mais graves (HABIMORAD et al., 2020).

IMPORTANTE:

A falta de conhecimento das Práticas Integrativas e


Complementares entre os profissionais de saúde também
pode gerar equívocos sobre as terapias, resultando em
problemas nas relações médico-paciente e com colegas
que são praticantes alopatas.

No entanto, é interessante notar que alguns estudos mostram que a


falta de formação profissional em Práticas Integrativas e Complementares
pode vir acompanhada de uso pessoal de Política Nacional de Práticas
Integrativas e Complementares no Sistema Único de Saúde por profissionais
do Sistema Único de Saúde, sugerindo que esses profissionais estão
potencialmente interessados em
​​ buscar as habilidades e conhecimentos
necessários para incorporar essas práticas em seu trabalho.

Apesar da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complemen-


tares no Sistema Único de Saúde, dos aparentemente baixos níveis de
formação na área e do potencial interesse dos profissionais de saúde na
busca por habilidades e conhecimentos, a oferta de cursos de formação
da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no Sis-
tema Único de Saúde adaptados às necessidades do Sistema Único de
Saúde ainda é incipiente no Brasil.

A formação em Práticas Integrativas e Complementares no


Brasil é ministrada pela iniciativa privada por meio de cursos de pós-
graduação com carga horária de cerca de 1.200 horas, proporcionando ao
Acupuntura 17

profissional uma qualificação de especialista. Nos cursos de graduação,


o treinamento em Práticas Integrativas e Complementares é geralmente
limitado a módulos opcionais (60 horas-aula e 4 créditos) em algumas
universidades, principalmente ministrados voluntariamente por
especialistas (HABIMORAD et al., 2020).

Em estudo sobre a oferta de treinamento de Práticas Integrativas


e Complementares nos cursos de Enfermagem, Medicina e Fisioterapia
oferecidos por 209 instituições públicas de ensino superior, relatou-se
que apenas 43 das instituições (32,3%) ofereciam cursos sobre Práticas
Integrativas e Complementares. O tipo de curso que mais ofereceu cursos
nessa área foi a Enfermagem (26,4% de todos os cursos), seguido de
Medicina (17,5% de todos os cursos) e Fisioterapia (14,6% de todos os cursos).

Programas de residência envolvendo Práticas Integrativas e


Complementares estão disponíveis principalmente para médicos.
Aprovados em 2002 pela Resolução nº 1634/200238 do Conselho Federal
de Medicina, os programas de residência médica de dois anos (R1 e R2)
são oferecidos em acupuntura (por nove instituições) e homeopatia (por
uma instituição). Para os demais profissionais de saúde, os programas de
residência médica consistem em residências multiprofissionais em saúde
da família que raramente oferecem módulos sobre Práticas Integrativas e
Complementares.

É possível que a falta de cursos e programas de formação em Práticas


Integrativas e Complementares que contemplem os princípios da saúde
coletiva se deva à baixa procura por esse tipo de profissional no Sistema
Único de Saúde, principalmente tendo em vista que a implantação da
Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no Sistema
Único de Saúde é relativamente recente e falta financiamento específico
para a política.

No entanto, um olhar sobre a forma como o movimento de atenção


integral foi incorporado no Brasil também ajuda a compreender essa lacuna
nas instituições públicas de ensino superior. Revisitando a história desse
movimento no Brasil, ao contrário dos Estados Unidos, a integralidade não
foi institucionalizada, mas sim delegada aos Departamentos de Medicina
Preventiva das Faculdades de Medicina. Nesse contexto, a interpretação
18 Acupuntura

subjacente à integralidade da atenção foi reconfigurada e o problema


da fragmentação e do reducionismo na atenção à saúde ganhou uma
perspectiva mais ampla vinculada ao fluxo e à organização do serviço.

VOCÊ SABIA?

Há muito tempo no Brasil, a discussão sobre integralidade


deixou de priorizar as boas práticas médicas, concentrando-se
na estruturação de serviços e práticas, políticas e programas
específicos e acesso aos diversos níveis de atenção.

Apesar da lacuna na formação em Práticas Integrativas e


Complementares, destaca-se a existência de iniciativas de educação
pública promissoras. No que se refere à formação de pós-graduação,
destacam-se laboratórios de pesquisa e grupos de trabalho em Práticas
Integrativas e Complementares vinculados a Universidades, como o
Grupo de Racionalidades Médicas da Universidade Federal Fluminense,
o Laboratório de Pesquisas e Práticas de Assistência Integral à Saúde
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, o Laboratório de Práticas
Complementares, Alternativas e Integrativas de Saúde da Universidade
Estadual de Campinas e o Grupo de Práticas Complementares de Saúde
da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo.

No que diz respeito aos cursos de graduação, chama-se a atenção


para os recém-criados cursos de Saúde Coletiva da Universidade de São
Paulo e da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde se espera que
as Práticas Integrativas e Complementares do Sistema Único de Saúde
sejam contemplados a fim de preencher a lacuna nessa área e incentivar
os profissionais a entrar nesse campo.

No que se refere à formação continuada, o relatório de gestão da


Coordenadoria de Práticas Complementares e Integrativas aponta para
a necessidade do aproveitamento das estratégias desenvolvidas pelo
Ministério da Saúde em sua Política Nacional de Educação em Saúde,
entre elas: o Sistema Universitário Aberto, o Programa Nacional de
Telessaúde, o Programa de Educação Continuada no Trabalho e os Cursos
de Especialização e Mestrado Profissional. No que diz respeito às plantas
Acupuntura 19

medicinais e fitoterápicas, iniciativas locais vêm sendo desenvolvidas em


alguns estados e os cursos de especialização ministrados pelo Ministério
da Saúde incluem módulos sobre o tema.

Embora nossos achados não contemplem esses cursos, entende-


se que tais estratégias são vitais para enfrentar os desafios de formação e
desenvolvimento profissional destacados no relatório de gestão e garantir
um número adequado de profissionais qualificados do SUS nessa área,
visto que proporcionam oportunidades de formação para a saúde de
profissionais que já atuam no Sistema Único de Saúde.

Estruturação da oferta de práticas integrativas e


complementares no acesso e promoção da saúde
Em alguns relatos de profissionais, usuários de serviços e gestores
de atenção secundária sugerem que o acesso às Práticas Integrativas
e Complementares é restrito e que há um alto nível de demanda
reprimida, principalmente devido ao fato das consultas serem realizadas
exclusivamente por médicos.

Uma solução para esse problema parece estar na Política Nacional


de Práticas Integrativas e Complementares no Sistema Único de Saúde,
cuja estratégia é focar as ações nos serviços de Acesso e Promoção à
Saúde, em vista tanto à capilaridade da atenção básica quanto ao fato
de profissionais não médicos poderem realizar as Práticas Integrativas e
Complementares via Centro de Apoio à Saúde da Família.

Estudos recentes que analisaram a incorporação das Práticas


Integrativas e Complementares aos serviços de Acesso e Promoção à
Saúde nos grandes centros brasileiros mostrou que a Estratégia Saúde
da Família acoplada a equipes matriciais é o melhor caminho para a
implementação dessa política no Sistema Único de Saúde. Segundo
os autores, essas equipes prestam atendimento especializado de
retaguarda no Acesso e Promoção à Saúde, diminuindo as filas de espera
e, dependendo da gestão local, promovendo o efetivo trabalho matricial
nas Estratégias de Saúde da Família (HABIMORAD et al., 2020).
20 Acupuntura

É importante notar que as Práticas Integrativas e Complementares são


regulamentados pelos órgãos profissionais que fiscalizam as ocupações
que exercem uma determinada prática. A acupuntura, por exemplo, pode
ser praticada por psicólogos, fisioterapeutas, farmacêuticos, biomédicos,
biólogos e enfermeiros, facilitando a integração dessas ações nos serviços
de Acesso e Promoção à Saúde por meio dos Centro de Apoio à Saúde
da Família. Ainda nessa categoria, estudos trazem relatos de usuários
de Práticas Integrativas e Complementares em serviços de Apoio à
Promoção da Saúde, mostrando a apropriação de técnicas e ferramentas
de autocuidado e mudança de estilo de vida, ou seja, promoção da saúde.

NOTA:

Com base nas concepções atuais, a promoção da saúde


é entendida em uma perspectiva coletiva, onde as ações
devem ser desenvolvidas nos âmbitos político, social,
institucional e comunitário com vistas à formulação e
implementação de políticas de saúde, criando um ambiente
propício à prestação de saúde, fortalecendo a comunidade,
desenvolvimento habilidades pessoais e reorientação do
sistema de saúde.

Embora a promoção da saúde por meio dos Práticas Integrativas


e Complementares geralmente aconteça no âmbito pessoal, defende-
se que essas ações fomentam a socialização e a solidariedade e são
capazes de catalisar o empoderamento coletivo, principalmente quando
essas práticas são oferecidas a grupos.

Atribui-se as Estratégias de Saúde da Família e as Práticas Integrativas


e Complementares ao estatuto de movimento social. O potencial das
Práticas Integrativas e Complementares é particularmente relevante
para a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares
no Sistema Único de Saúde, visto que o fortalecimento dessa política
depende da coordenação e colaboração das pessoas envolvidas na sua
implementação (utentes, profissionais da saúde e gestores, entre outros).
Acupuntura 21

Estratégias como acesso e promoção à saúde e Práticas Integrativas


e Complementares possuem afinidades eletivas ou aspectos comuns que
se potencializam em um contexto de interação. Por isso, defende-se que
o acesso e promoção à saúde é o campo mais fértil para a oferta dessas
práticas, pois possibilita o reestabelecimento da saúde, que está no cerne
das Práticas Integrativas e Complementares.

Portanto, uma vez que a Política Nacional de Práticas Integrativas


e Complementares no Sistema Único é sustentado pelo princípio da
integralidade, o foco da política no Acesso e Promoção à Saúde parece ser
enfático, pois amplia as possibilidades de incluir ativamente os usuários
dos serviços como sujeitos de seu tratamento e, ao mesmo tempo, de
implementação de políticas.

Em consonância com os relatórios de gestão da Política Nacional de


Práticas Integrativas e Complementares no Sistema Único, que apontam
a disseminação como um dos principais desafios da implementação, três
dos estudos mostram que os usuários dos serviços do Sistema Único
de Saúde têm pouco conhecimento e acesso às Práticas Integrativas
e Complementares contempladas pela Política Nacional de Práticas
Integrativas e Complementares no Sistema Único. Vale ressaltar que dois
desses estudos mostraram que os usuários do serviço tinham interesse
em saber mais sobre os Práticas Integrativas e Complementares incluídos
na Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no Sistema
Único (HABIMORAD et al., 2020).
22 Acupuntura

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu


mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que
você realmente entendeu o tema de estudo desse
capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter
aprendido que há necessidade de garantir a capacitação
e o desenvolvimento de um número adequado de
profissionais do Sistema Único de Saúde. Nesse sentido, o
uso pessoal das Práticas Integrativas e Complementares, o
potencial interesse dos profissionais em buscar habilidades
e conhecimentos relevantes e o número considerável
de iniciativas de pesquisa e educação em universidades
públicas poderiam ajudar a catalisar esse processo. Os
achados também demonstram a importância de estruturar
a oferta de Práticas Integrativas e Complementares
oficialmente reconhecidas no Sistema Único de Saúde,
com foco no Acesso e Promoção da Saúde. É nesse nível
de atenção que responde pela maioria das iniciativas
de Práticas Integrativas e Complementares, que essas
terapias atingem seu potencial máximo, potencializando
a promoção da saúde e aumentando a integralidade do
cuidado.
Acupuntura 23

Acupuntura e as emoções

INTRODUÇÃO:

Ao término deste capítulo você será capaz de aplicar


todo seu conhecimento sobre acupuntura adquirido até
aqui aplicado às emoções. Isso será um diferencial para o
exercício de sua profissão. Muitos pacientes apresentam
problemas físicos que se constituem como consequências
psicológicas ou emocionais. Você é capaz de identificar
pacientes assim? Ao final desse capítulo, você será capaz
de relacionar a acupuntura às emoções e auxiliar seus
pacientes com esses problemas. E então? Motivado para
desenvolver esta competência? Então vamos lá.

Acupuntura como uma abordagem integrativa


Na Medicina Tradicional Chinesa (TCM), as emoções e a saúde física
estão intimamente conectadas. Essa abordagem integrada entre mente e
corpo e a cura operam em um ciclo dinâmico, onde as emoções afetam a
saúde do corpo e vice-versa.

Por exemplo, de acordo com a teoria da Medicina Tradicional


Chinesa, irritabilidade e raiva excessivas podem afetar o fígado e resultar
em várias doenças, incluindo dor menstrual, dor de cabeça, vermelhidão
do rosto e dos olhos, tontura e boca seca. Como alternativa, o desequilíbrio
no fígado pode resultar em mau humor. O diagnóstico na Medicina
Tradicional Chinesa é altamente individualizado. Uma vez que um sistema
de órgãos prejudicado ou em desequilíbrio emocional é identificado, os
sintomas únicos do paciente determinam a abordagem de tratamento do
médico (UCHIDA; HOTTA, 2008).

A Medicina Tradicional Chinesa é praticada há mais de 2.000 anos


e seu uso nos Estados Unidos como parte da saúde complementar tem
crescido dramaticamente nas últimas décadas. Na verdade, de 2002 a
2007, houve um aumento de 50% no uso da acupuntura, de cerca de 8
24 Acupuntura

milhões para mais de 14 milhões de pessoas acessando esse tratamento


(SONG; YU; KIM, 2012).

A Medicina Tradicional Chinesa é baseada no princípio de que


o bem-estar físico e mental estão intimamente ligados. Por sua vez, os
praticantes acreditam que a saúde ideal é governada pelo equilíbrio do
Qi (força vital) de uma pessoa com as forças complementares de yin
(passivo) e yang (ativo) e os cinco elementos de fogo, água, terra, madeira
e metal (LEE et al., 2017).

IMPORTANTE:

Na Medicina Tradicional Chinesa, acredita-se que os


desequilíbrios emocionais podem atuar como sintomas
e causas de problemas físicos. Além disso, as condições
de saúde mental estão associadas a doenças físicas
específicas de órgãos essenciais.

De acordo com Lee e colaboradores (2017), na Medicina Tradicional


Chinesa, as emoções são reduzidas a cinco sentimentos básicos, cada um
associado a um elemento e órgão correspondente do corpo:

• Raiva com o fígado.

• Medo com o rim.

• Alegria com o coração.

• Tristeza e pesar com o pulmão.

• Preocupação com o baço.

Por exemplo, segundo a teoria da Medicina Tradicional Chinesa,


a distensão da mama, a dor menstrual e a irritabilidade durante a
menstruação são tratadas com certas ervas e pontos de acupuntura que
visam o fígado. Dores de cabeça, tonturas, raiva excessiva e vermelhidão
do rosto apontam para um tipo alternativo de padrão hepático e são
tratados de maneira diferente (LEE et al., 2017).
Acupuntura 25

Portanto, a acupuntura pode ser considerada como um método


que busca estimular o corpo a promover a cura natural e a melhorar
seu funcionamento. Isso é feito inserindo agulhas finas em pontos muito
precisos do corpo. Esses pontos estão nos canais de Qi, definidos como
energia ou força vital do corpo que sustenta e regula todas as suas
funções. É somente por causa da energia Qi que podemos nos mover,
respirar, digerir os alimentos, pensar e até sentir. Nossa saúde mental,
emocional e física, bem como nossa herança constitucional, afeta a saúde
de nosso Qi.

Fluxo de energia corporal


Os meridianos integram o corpo, ligando diferentes sistemas
e estruturas. A doença e a disfunção se manifestam em bloqueios e
interrupções dessas vias meridianas.

Existem muitas ferramentas de diagnóstico diferentes (como


examinar a língua e o pulso) que podem identificar onde pode estar a raiz
de um problema. Os acupunturistas treinados optam por tratar o meridiano
afetado diretamente ou um meridiano correspondente que eles acham
que será mais eficaz. Por exemplo, problemas de sono geralmente estão
relacionados aos meridianos do coração, baço e fígado. Dependendo
da prioridade do tratamento, eles podem optar por inserir agulhas nos
pontos do fígado na parte superior dos pés entre o dedão e o segundo
dedo do pé para regular a energia do fígado, junto com outros pontos de
acupuntura no canal do baço (a parte inferior da perna) para fortalecer
a energia do baço. Juntos, esses pontos nutrem e acalmam o espírito e
levam a um sono melhor.

As emoções têm um efeito poderoso em nossa mente e corpo.


Em circunstâncias normais, as emoções não são a causa das doenças.
As emoções são processos fisiológicos naturais que ajudam no
processamento de nossos sentimentos e pensamentos.

No entanto, sentimentos excessivos, prolongados e reprimidos


podem causar padrões de desarmonia e doença. Existem sete emoções
26 Acupuntura

principais que observamos na Medicina Tradicional Chinesa: alegria, raiva,


tristeza, pesar, melancolia, medo e felicidade.

Cada emoção se correlaciona com um órgão e canal específicos.


Alegria com o coração, raiva com o fígado, tristeza com os pulmões,
melancolia com o baço e medo com os rins. Quando uma determinada
emoção está em excesso, suprimida ou não expressa, ela pode criar
desequilíbrio.

Com o tempo, esses desequilíbrios provocam desarmonia no corpo


que pode causar dor e tensão, bem como doenças ou enfermidades
potenciais. Por exemplo, alguém com pesar não-expresso e não-
processado pode acabar ficando muito irritado, ansioso e com raiva. Essa
raiva pode afetar a energia do fígado e resultar em dores menstruais,
enxaquecas, vermelhidão do rosto e dos olhos e tonturas. Essa é uma
forma de bloqueio do Qi.

No tratamento, o objetivo seria acalmar e limpar a estagnação do


Qi do fígado, agulhando poderosos pontos de acupuntura conhecidos
por fazer isso. Devem ser utilizados também outros pontos nos canais
do pulmão, coração e baço para limpar a dor subjacente que é a raiz do
problema.

Dependendo da apresentação e da gravidade de cada paciente,


pode-se limpar e resolver essas emoções paralisadas em uma ou várias
sessões. A maioria dos pacientes sentem um grande alívio e mudança, e
ficam surpresos por carregarem emoções tão profundas por tanto tempo.
Essa consciência os ajuda a serem mais proativos no gerenciamento e no
cultivo de sua saúde emocional.

VOCÊ SABIA?

Nosso estilo de vida, sistema de crença e como


processamos nossas emoções têm um impacto enorme
em nossa saúde e bem-estar.

Uma grande parte da prática por acupuntura é ajudar a trazer


a consciência para a importância do autocuidado fora das sessões. A
Acupuntura 27

acupuntura é uma ferramenta poderosa para tratar, resolver e restaurar


a saúde e a vitalidade, mas quando os pacientes começam a incorporar
outras ferramentas, como exercícios, dieta balanceada, meditação e
atenção plena, o resultado é ainda melhor. Eles aumentam a barreira da
cura à longevidade e prevenção de doenças futuras e condições que
possam ocasionar estas doenças. Eles também começam a desfrutar de
boa energia e têm clareza para fazer escolhas melhores e mais saudáveis.

Nosso estilo de vida, sistema de crenças e como processamos


e digerimos nossas emoções acarreta um enorme impacto em nossa
saúde e bem-estar. É fácil se acostumar à pressão, estresse e ansiedade
e operar a partir de um estado de ser cronicamente disperso, caótico e
desintegrado.

Mas isso drena nossas glândulas suprarrenais e a essência dos rins,


um aspecto importante de nosso Qi. Quanto mais drenados nos tornamos,
mais estagnado e bloqueado nosso Qi se torna. Nesse estado, a pessoa
não consegue dormir bem, a digestão é prejudicada e nosso sistema
nervoso e imunológico se torna frágil. A maioria das pessoas começa a
depender fortemente de estimulantes como café, açúcar e outros hábitos
prejudiciais à saúde. Claro, isso não é útil e pode danificar ainda mais o
seu Qi.

A acupuntura é uma modalidade de cura poderosa porque


pode influenciar simultaneamente nossas muitas camadas dinâmicas
como seres humanos, conectar e harmonizar nossas energias mentais,
emocionais, físicas e espirituais e nos ajuda a criar harmonia com o ritmo
da natureza e do mundo ao nosso redor.

O estresse, a ansiedade e a depressão têm sido as principais causas


de muitos problemas físicos que as pessoas apresentam. As pessoas tem
o potencial de não serem só aliviadas de queixas físicas, mas também
se transformarem em indivíduos mais saudáveis ​​e felizes, mais ligados a
si mesmos. Eles têm mais clareza sobre seu propósito e se sentem mais
calmos e confiantes.
28 Acupuntura

Exemplos de abordagem em acupuntura


emocional
O que o fígado tem a ver com enxaquecas ou tensão pré-menstrual?
Os sistemas de órgãos na Medicina Tradicional Chinesa podem incluir as
funções médico-fisiológicas ocidentais, mas também fazem parte do
sistema integrado e holístico do corpo. Assim, toda a mente e o corpo
podem ser avaliados e tratados para melhorar um problema de saúde
específico.

O fígado, por exemplo, garante que a energia e o sangue fluam


suavemente por todo o corpo. Também regula a secreção de bile,
armazena sangue e está conectado aos tendões, unhas e olhos.

Ao compreender essas conexões, os profissionais da Medicina


Tradicional Chinesa explicam como um distúrbio ocular, como a
conjuntivite, pode ser devido a um desequilíbrio no fígado. Ainda, o fluxo
menstrual em excesso pode ser devido a uma disfunção na capacidade
de armazenamento de sangue do fígado.

No lado emocional, o fígado está ligado à raiva, que quando


desequilibrada pode ser expressa nos extremos de excesso de raiva e
irritação ou na falta de sentimento, como na depressão ou no transtorno
por estresse pós-traumático. Esses desequilíbrios de saúde mental
podem ser sintomas ou causas contribuintes de disfunção hepática
(SCHEID, 2013).

IMPORTANTE:

Quando ocorrem doenças, os praticantes da Medicina Tra-


dicional Chinesa procuram desembaraçar os desequilíbrios
da mente e do corpo que contribuem para as condições de
saúde física e mental de uma pessoa usando uma varie-
dade de tratamentos, incluindo acupuntura, medicamentos
fitoterápicos, moxabustão (terapia de calor), ventosas (um
procedimento de sucção que cultiva o fluxo sangue), mas-
sagem terapêutica e nutrição.
Acupuntura 29

Além das emoções, a filosofia da Medicina Tradicional Chinesa


acredita que outros elementos, como fatores dietéticos, ambientais, de
estilo de vida e hereditários, também contribuem para o desenvolvimento
de desequilíbrios e a capacidade do corpo de se curar.

Compreender a interação de cada um dos cinco pares órgão-emoção


é a chave para desbloquear o potencial de cura da Medicina Tradicional
Chinesa. Abaixo, resumimos as crenças da medicina tradicional chinesa
sobre como as conexões e desequilíbrios entre esses órgãos e emoções
contribuem para as preocupações básicas de saúde física e mental.

Baço
O baço desempenha um papel importante no sistema imunológico
do corpo e atua como um filtro de sangue, removendo células velhas
do sangue, bactérias e impurezas do corpo (LYNCH, 2007). Na Medicina
Tradicional Chinesa, o baço está ligado às seguintes emoções e doenças:

• Emoções: trabalho mental excessivo, como preocupação ou


concentração excessiva em um determinado tópico.

• Função do baço: digestão de alimentos e absorção de nutrientes,


auxiliando na formação de sangue e energia e mantendo o sangue
nos vasos sanguíneos, conectado com os músculos, boca e lábios,
também envolvido no pensamento, estudo e memória.

• Sintomas de desequilíbrio do baço: cansaço, perda de apetite,


secreção de muco, má digestão, distensão abdominal, fezes
moles, diarreia, músculos fracos, lábios pálidos, hematomas, fluxo
sanguíneo menstrual excessivo e outros distúrbios hemorrágicos.

• Condições do baço: a deficiência ou diminuição do Qi do baço,


gera deficiência de yang do baço

Pulmão
Os pulmões trazem oxigênio para o corpo e removem o dióxido
de carbono. Na Medicina Tradicional Chinesa, acredita-se que esse órgão
esteja conectado ao luto e às seguintes condições (LYNCH, 2007):
30 Acupuntura

• Emoções: pesar, tristeza e desapego.

• Função pulmonar: a respiração traz energia do ar e ajuda a


distribuí-la por todo o corpo. Os pulmões trabalham com o rim
para regular o metabolismo da água, são importantes no sistema
imunológico e na resistência a vírus e bactérias, eles regulam as
glândulas sudoríparas e os pelos do corpo e fornecem umidade
para a pele.

• Sintomas de desequilíbrio pulmonar: falta de ar e respiração


superficial, suor, fadiga, tosse, resfriados e gripes frequentes,
alergias, asma e outras doenças pulmonares, pele seca, depressão
e choro excessivo.

• Condições pulmonares: deficiência de Qi do pulmão, deficiência


de yin do pulmão e umidade fria obstruindo os pulmões.

Fígado
A digestão e o processamento de nutrientes são funções primárias
desse órgão vital. Na Medicina Tradicional Chinesa, o fígado está associado
à raiva, depressão e aos seguintes sintomas físicos (LYNCH, 2007):

• Emoções: raiva, ressentimento, frustração, irritabilidade, amargura


e “perda do controle”.

• Função do fígado: envolvida no fluxo suave de energia e sangue


por todo o corpo. Regula a secreção de bile e armazena sangue.
Está conectado com os tendões, unhas e olhos.

• Sintomas de desequilíbrio do fígado: distensão da mama, dor


menstrual, dor de cabeça, irritabilidade, raiva inadequada, tontura,
secura, olhos vermelhos e outras doenças oculares e tendinite.

• Condições do fígado: estagnação do Qi do fígado, fogo no fígado.

Coração
O coração bombeia sangue por todo o corpo. Na Medicina Tradicional
Chinesa, esse órgão está relacionado com a alegria, mas o desequilíbrio
Acupuntura 31

da alegria é expresso como excesso (agitação ou inquietação) ou carência


(depressão). Abaixo, estão as doenças mentais e físicas relacionadas com
o coração (LYNCH, 2007):

• Emoções: falta de entusiasmo e vitalidade, inquietação mental,


depressão, insônia e desespero.

• Função cardíaca: regula a circulação sanguínea e os vasos


sanguíneos. Responsável pelo pulso uniforme e regular e influencia
a vitalidade e o espírito, conectado com a língua, pele e artérias.

• Sintomas de desequilíbrio cardíaco: insônia, palpitações cardíacas,


batimento cardíaco irregular, sonhos excessivos, memória de longo
prazo deficiente e distúrbios psicológicos.

• Condições cardíacas: coração yin e coração fogo.

Rins
Os rins removem os resíduos e o excesso de líquido para fazer a
urina. Na Medicina Tradicional Chinesa, o rim está relacionado ao medo,
que pode se manifestar como medo crônico ou ansiedade quando o Qi
desequilibra, bem como resultar em (LYNCH, 2007):

• Emoções: medo, força de vontade fraca, insegurança, condição


indiferente e isolamento.

• Função renal: órgãos essenciais para sustentar a vida,


responsáveis pela reprodução, crescimento, desenvolvimento e
maturação, envolvido com os pulmões no metabolismo da água
e na respiração, conectado com ossos, dentes, orelhas e cabelos.

• Sintomas de desequilíbrio renal: micção frequente, incontinência


urinária, suores noturnos, boca seca, memória fraca de curto
prazo, dor lombar, zumbido nos ouvidos, perda auditiva, outras
doenças de ouvido, cabelos grisalhos prematuros, queda de
cabelo e osteoporose.

• Condições renais: deficiência de yin do rim, deficiência de yang


do rim.
32 Acupuntura

Outras condições relacionadas


Abaixo estão mais algumas condições relacionadas a desequilíbrios
emocionais e de órgãos que os praticantes da medicina tradicional chinesa
podem diagnosticar:

• Estagnação de sangue: dor crônica e aguda.

• Deficiência de sangue: dores de cabeça, tonturas e fadiga.

• Calor do estômago: problemas de digestão.

Eficácia
Apesar da popularidade crescente e das evidências, é importante
observar que muitos tratamentos e filosofias da Medicina Tradicional
Chinesa não foram examinados da mesma forma que o atendimento
médico ocidental convencional. Embora a Medicina Tradicional Chinesa
tenha sido praticada por séculos e tenha se mostrado eficaz no tratamento
de algumas condições, especialmente aquelas relacionadas à dor e ao
estresse, muitas pesquisas são confusas ou pouco claras. Mais pesquisas
precisam ser feitas para determinar a eficácia e segurança dos tratamentos
de Medicina Tradicional Chinesa para problemas específicos de saúde.

Curiosamente, em alguns casos, os benefícios dos tratamentos da


Medicina Tradicional Chinesa estão correlacionados ao efeito placebo. No
entanto, em vez de simplesmente descartar a eficácia dessas práticas,
essas descobertas reforçam a ligação poderosa (e de muitas maneiras,
ainda misteriosa) entre a mente e o corpo no processo de cura, que é a
teoria subjacente da própria Medicina Tradicional Chinesa.
Acupuntura 33

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu


mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que
você realmente entendeu o tema de estudo desse
capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter
aprendido que os sintomas de muitas síndromes e doenças
tratáveis pela Medicina Tradicional Chinesa podem estar
intrinsicamente ligados a uma série de problemas graves de
saúde. É justo e se faz necessário relembrar que é de extrema
importância consultar também seu médico tradicional
para avaliação. O autotratamento de uma condição de
saúde ou evitar ou atrasar o tratamento padrão pode ter
consequências muitíssimo graves em breve. Dito isso, a
Medicina Tradicional Chinesa pode ser um componente
produtivo e bastante valioso de uma abordagem de saúde
integrativa, que muitas pessoas consideram benéfica para
seu bem-estar físico e mental. A adoção da acupuntura
integrada com outros tratamentos tradicionais permite
não apenas tratar os sintomas relacionados à doença que
acomete o paciente, mas identificar e tratar as causas que
levaram o paciente a essa condição, tratando assim a raiz
do problema e evitando que esse possa vir a desenvolver-
se novamente no futuro.
34 Acupuntura

Aplicabilidade complementar da acupuntura

INTRODUÇÃO:

Ao término deste capítulo você será capaz de aplicar


todo seu conhecimento sobre acupuntura adquirido
até aqui para aplicar a técnica como uma abordagem
complementar a um tratamento já em desenvolvimento. A
acupuntura pode potencializar e/ou acelerar o(s) efeito(s)
esperado(s) de tratamentos médico-convencionais já em
utilização pelo paciente. Além do mais, as abordagens
terapêuticas precisam estar alinhadas para que possam ter
um efeito sinérgico. E então? Motivado para desenvolver
esta competência? Então vamos lá.

Aplicabilidade das terapias complementares


As terapias complementares são amplamente utilizadas em todo
o mundo, mas sua eficácia é controversa, uma vez que não há muitos
estudos científicos que corroborem de fato a aplicabilidade dessa
abordagem. No entanto, há muitos adeptos que relatam melhora ao
aderir à essas terapias complementares. Embora essas terapias sejam
claramente pouco pesquisadas em comparação com sua relevância no
atendimento real, o número total de ensaios clínicos em muitas áreas é
considerável. É necessário saber quais evidências estão disponíveis e
quais questões ainda não foram respondidas (EISENBERG et al., 1998).
Acupuntura 35

Figura 1: A utilização de terapias complementares é amplamente massificada


mundialmente, mesmo que sua eficácia não seja comprovada cientificamente

Fonte: Wikimedia Commons

As avaliações sistemáticas são consideradas como o melhor méto-


do disponível para a avaliação das evidências científicas disponíveis. Nos
últimos anos, um crescente número de tais revisões foi realizado em uma
variedade de terapias complementares. O objetivo aqui será fornecer uma
coleção abrangente e resumida das revisões sistemáticas disponíveis de
ensaios clínicos em terapias complementares e especificamente a acu-
puntura.

O objetivo principal aqui não é avaliar a eficácia dos estudos, pois


não se considera uma revisão das avaliações de muitas intervenções
como uma ferramenta apropriada para esse fim. Além do mais, o viés aqui
é mais informativo do que avaliativo. Contudo, ao resumir os resultados
dos estudos, é inevitável não pontuar suas limitações metodológicas para
citar suas conclusões sobre a eficácia.

Acupuntura como terapia complementar


A acupuntura é uma terapia que envolve a estimulação de pontos
definidos na pele normalmente inserindo agulhas. No entanto, técnicas
relacionadas, como a manual (acupressão), a estimulação elétrica ou laser
da acupuntura também são frequentemente resumidos sob esse termo
(MACLENNAN; WILSON; TAYLOR, 1996).
36 Acupuntura

Figura 2: A acupuntura consiste na estimulação por meio de agulhas em pontos pré-


definidos na pele de um indivíduo

Fonte: Wikimedia Commons

A acupuntura é, junto com o uso de medicamentos fitoterápicos


e outras modalidades de tratamento, uma parte da Medicina Tradicional
Chinesa. No Ocidente, é frequentemente usado como um terapia única.
A ideia básica subjacente à acupuntura é que os distúrbios relacionados
ao fluxo de Chi ou Qi (o tradicional conceito chinês traduzido como força
vital ou energia) pode ser prevenido ou tratado, estimulando os pontos
relevantes na superfície do corpo de um indivíduo. Embora um número
considerável de ensaios clínicos sobre a acupuntura esteja disponível, a
evidência até agora é muitas vezes inconclusiva (MACLENNAN; WILSON;
TAYLOR, 1996).

Se algo é inconclusivo, isso significa que não leva a uma conclusão


ou resolução. Inconclusivo geralmente descreve resultados científicos.
Se o resultados acerca dos seus dados sobre um determinado assunto
forem inconclusivos, seus resultados não provam nada. Uma boa maneira
de lembrar o significado de inconclusivo é examinar a raiz da palavra
conclusivo, que significa “definitivo, decisivo e convincente”. Quando
você adiciona in- - que significa “não” - à frente de conclusivo, obtendo-
se uma palavra que significa “não definitivo”. Quando algo é inconclusivo,
não resolve suas dúvidas e deixa espaço para debate. Se você é um
Acupuntura 37

pesquisador, a última coisa que quer ouvir é que suas evidências são
inconclusivas.

Além dos resultados relatados em literatura relativos a náuseas pós-


operatórias (positivo) e cessação do tabagismo (negativo), os pesquisadores
de estudos científicos em acupuntura aparentemente sentiram-se
incapazes de tirar conclusões claras e precisas se a acupuntura foi eficaz
ou não em outras situações estudadas e reportadas em literatura. Este
achado é um pouco frustrante cientificamente. O principal problema nos
estudos de acupuntura parece ser o tamanho da amostra de indivíduos
que é utilizada nos estudos. Na maioria dos estudos a amostra é muito
pequena e não permite conclusões acerca dos resultados encontrados,
apenas especulações dos achados (HARRIS; REES, 2000).

Por exemplo, tamanhos medianos de amostra de ensaios na região


lombar dor, cefaleia e osteoartrite foram 50, 37 e 31, respectivamente. Um
segundo problema relevante é qualidade metodológica. Para estudos
clínicos assim, exigem-se estudos bastante amplos e bem planejados,
com rigorosa padronização.
Figura 3: O delineamento do tamanho da amostra em um estudo clínico é muito importante
para a corroboração dos resultados encontrados

Fonte: Pixabay
38 Acupuntura

Por que são tão poucos assim os estudos disponíveis? Um dos


motivos é provavelmente a falta de financiamento para tais estudos. Há
pouco interesse industrial na acupuntura, então o maior financiamento
tem que provir principalmente de recursos públicos. Em vários países,
um número limitado de estudos maiores em dor lombar com 170
pacientes planejados e em dor de cabeça com 300 pacientes no Reino
Unido financiado pelo National Health System e na osteoartrite com 570
pacientes nos Estados Unidos financiados pelo National Institute of Health
está em andamento, o que pode trazer alguns avanços (HARRIS; REES,
2000).

IMPORTANTE:

Um bom tamanho máximo de amostra é geralmente


de 10%, desde que não exceda 1000. Um bom tamanho
máximo de amostra é geralmente em torno de 10% da
população, desde que não exceda 1000. Por exemplo,
em uma população de 5000, 10% seriam 500. Em uma
população de 200.000, 10% seriam 20.000.

Figura 4: Estudos científicos são importantes para que os pesquisadores possam comprovar suas
hipóteses e esses necessitam de financiamento para realização, seja ele público ou privado

Fonte: Wikimedia Commons


Acupuntura 39

Uma segunda razão parcialmente relacionada é que uma


infraestrutura competente de pesquisa foi desenvolvida, todavia essa se
deu apenas em ritmo muito lento. Uma terceira razão é que a pesquisa
clínica em acupuntura é difícil. Acupuntura, como outras terapias não-
medicamentosas como a fisioterapia, é um termo para descrever um grupo
de intervenções bastante heterogêneas. Alguns provedores claramente
pensam que não é necessário incluir técnicas de agulhamento tradicional
em revisões sistemáticas de acupuntura enquanto aqueles que aplicam
acupressão ou acupuntura a laser costumam ter a opinião de que a questão
crucial é o estímulo do ponto correto, não importa por qual caminho.
Estratégias de acupuntura para o tratamento de uma condição específica
podem ser altamente variáveis pois é preciso levar em consideração uma
infinidade de variáveis inerentes à condição que se busca tratar. Alguns
acupunturistas utilizam-se de abordagens semelhantes em todos os
pacientes que tratam com um determinado diagnóstico ocidental provido
anteriormente por um médico, enquanto outros consideram isso como
inadequado e alegam que o tratamento deve ser individualizado para
cada paciente (ZOLLMAN; VICKERS; RICHARDSON, 2009).

IMPORTANTE:

O financiamento das pesquisas científicas é um dos


principais determinantes da atividade científica. Além disso,
em nível individual, a obtenção de financiamento é um dos
fatores mais importantes para um pesquisador, permitindo-
lhe realizar projetos de pesquisa. No entanto, nem todos
conseguem obter os fundos necessários. O acesso ao
financiamento tem consequências em vários fatores
importantes para a carreira científica de um pesquisador,
como a produtividade, a colaboração científica ou a idade de
carreira dos pesquisadores, no montante de financiamento
que lhes é atribuído.
40 Acupuntura

Figura 5: Tratamentos individualizados mostram-se mais eficazes em atender às demandas


do paciente ao invés de abordagens mais generalistas

Fonte: Pixabay

Um plano de tratamento individualizado é um programa detalhado


que os orienta em sua jornada de recuperação e reabilitação. Planos
de tratamento individualizados em centros de tratamento eficazes são
abrangentes, desde a estabilização até os cuidados posteriores.

Isso é frequentemente mal compreendido: pacientes com o mesmo


diagnóstico por um médico recebem tratamentos diferentes porque têm
diagnósticos diferentes de acordo com a Medicina Tradicional Chinesa
que usa diferentes grupos de doenças.

Além disso, diferentes escolas de acupuntura existem dentro de


abordagens ocidentais e mais tradicionais. Outro problema significativo
na pesquisa de acupuntura é escolher controles de placebo apropriados
se o objetivo for para avaliar efeitos específicos. As técnicas aplicadas
incluem simulação de estimulação nervosa transcutânea, simulação de
acupuntura a laser, agulhamento superficial, agulhamento de pontos
errados ou inadequados etc.

Um placebo é usado em ensaios clínicos para testar a eficácia dos


tratamentos e é mais frequentemente usado em estudos de drogas. Por
exemplo, as pessoas em um grupo recebem o medicamento testado,
Acupuntura 41

enquanto os outros recebem um medicamento falso ou placebo, que


eles acham que é real.

Há algumas evidências de que diferentes tipos de placebos de


acupuntura têm efeitos diferentes. Por exemplo, técnicas que envolvem
agulhamento (e que são menos prováveis ​​de serem distinguíveis e, portanto,
são considerados melhores para placebo) podem causar respostas
fisiológicas relevantes (ZOLLMAN; VICKERS; RICHARDSON, 2009).
Figura 6: Placebo é uma substância sem efeito fisiológico utilizado no organismo em
estudos clínicos como um parâmetro de controle

Fonte: Wikimedia Commons

Vários comentários descreveram uma correlação negativa entre


a qualidade e o resultado do estudo, melhores estudos foram mais
frequentemente negativos, por exemplo. Essa descoberta tem que ser
interpretada com cautela. Muitas revisões incluíram ensaios com grupos
de controle muito diferentes: lista de espera ou não-tratamento, as várias
técnicas de placebo listadas acima e uma variedade de controles ativos.
Se a acupuntura tiver pelo menos algum efeito placebo, atribuível ao
efeito psicológico de ser administrada uma nova terapia, espera-se que
os ensaios controlados com placebo mostrem menores diferenças entre
grupos do que ensaios sem placebo ao controle (ZOLLMAN; VICKERS;
RICHARDSON, 2009).
42 Acupuntura

IMPORTANTE:

Para tanto, a leitura de obras referentes ao tema, como


também observações diretas ou indiretas do fenômeno
(representado pelos fatos ou sujeitos) representam fatores
fundamentais para o bom desenvolvimento da pesquisa. A
determinação dos objetivos definem com precisão o que
se pretende alcançar com a pesquisa.

Ensaios de acupuntura sem controle de placebo não podem ser


cegos e, portanto, normalmente têm pontuação mais baixa em escalas
de qualidade. Devido ao fato de que as ligações entre a qualidade do
estudo e os resultados são confundidos pelas questões de efeitos não-
específicos e devido ao fato de que os ensaios com diferentes grupos
de controle respondem a diferentes perguntas, analisa-se verificando a
influência dos aspectos de qualidade nos resultados que só devem ser
realizados dentro de grupos de ensaios com controles comparáveis.

Análise de custo-efetividade da acupuntura


como terapia complementar
A Medicina Complementar e Alternativa (MAC) tem uma reputação
de bom valor entre os consumidores preocupados com a saúde. Nos
Estados Unidos, por exemplo, os consumidores gastam mais de US$ 34
bilhões por ano em terapias por acupuntura, além dos dólares que são
gastos fora do sistema de financiamento de saúde convencional. Essas
evidências sobre despesas do próprio bolso são uma prova da crença
amplamente difundida de que as terapias complementares e alternativas
têm benefícios que superam seus custos. Independentemente da opinião
pública, muitas vezes há pouco mais do que evidência anedótica sobre
as implicações econômicas e de saúde das terapias complementares e
alternativas (HERMAN; CRAIG; CASPI, 2005).

A escassez de pesquisas de resultados em acupuntura


provavelmente deprimiu o acesso às terapias de acupuntura, impedindo
sua integração em mecanismos financeiros comumente encontrados
Acupuntura 43

em cuidados de saúde convencionais. A maioria dos consumidores


norte-americanos que têm cobertura de seguro saúde, seja por meio de
instituições públicas ou privadas, arca com o custo total das terapias de
acupuntura do próprio bolso. Teoricamente, as terapias de acupuntura
parecem eficazes e boas candidatas à redução de custos porque evitam
a alta tecnologia e aproveitam o poder da vis medicatrix naturae (a
capacidade natural do corpo de se curar).

Como tal, uma revisão completa e externa dos resultados


econômicos e de saúde dessas terapias complementares e alternativas
é necessária para a consideração baseada em evidências das terapias
como uma despesa coberta por planos de saúde. Dito isso, também
se sabe que a evidência afirmativa sobre os resultados econômicos e
de saúde é um passo necessário, mas não suficiente para a cobertura
dessas terapias e não a decisão em si. Outros fatores, como demanda
histórica, conveniência política, demanda do consumidor e entusiasmo do
profissional também podem ser considerados na decisão de incorporá-
las em uma apólice de seguro saúde (HERMAN; CRAIG; CASPI, 2005).

A necessidade de avaliações econômicas também está crescendo


na saúde convencional. Um número crescente de planos de saúde e
hospitais mudou de um simples enfoque orçamentário nas decisões
de formulários para a exigência de evidências detalhadas sobre o valor
econômico das terapias consideradas em relação às alternativas. Além de
seu uso nas decisões relativas à cobertura de seguro saúde, os resultados
econômicos de ambas, terapias convencionais e alternativas, também
influenciam a política de saúde, justificam o licenciamento de médicos,
informam as decisões de investimento da indústria, fornecem evidências
gerais aos consumidores sobre os benefícios econômicos potenciais
e podem orientar os esforços de pesquisas futuras, assim como a
identificação de parâmetros de decisão crítica para pesquisas adicionais
(HERMAN; CRAIG; CASPI, 2005).

Uma possível explicação para a escassez de estudos é que pode


haver menos incentivo para realizar avaliações econômicas de terapias
complementares. Os consumidores já estão gastando grande parte de
sua renda disponível nessas terapias sem prova formal de eficácia ou
44 Acupuntura

custo-benefício. As avaliações econômicas são normalmente necessárias


para a incorporação de terapias sob os mecanismos tradicionais de
financiamento e para o ajuste da cobertura sob esses mecanismos.
Portanto, o mercado para avaliação econômica pode ser pequeno devido
ao envolvimento reduzido de pagadores terceirizados no financiamento
dessas terapias complementares (HERMAN; CRAIG; CASPI, 2005).

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu


mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que
você realmente entendeu o tema de estudo desse
capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter
aprendido que à medida que os custos dos cuidados de
saúde continuam a aumentar, os tomadores de decisão
devem alocar seus recursos cada vez mais escassos em
terapias que ofereçam o maior benefício por unidade de
custo. As avaliações econômicas informam a prática clínica
baseada em evidências e as políticas de saúde. Para serem
consideradas por esses tomadores de decisão, as terapias
complementares e seus resultados devem ser conhecidos
e comparados às abordagens convencionais. No entanto,
os próprios praticantes devem decidir se o custo de realizar
esses estudos vale os impactos potenciais para sua profissão
ao serem considerados no atendimento gerenciado. No
entanto, essas avaliações serão feitas e serão melhor
realizadas com o envolvimento do profissional. Embora o
número e a qualidade desses estudos tenha aumentado
nos últimos anos e mais terapias tenham se mostrado um
bom valor, ainda não há estudos suficientes para medir a
eficácia de custo da maioria.
Acupuntura 45

Auriculoterapia

INTRODUÇÃO:

Ao término deste capítulo você será capaz de compreender


e aplicar todo o seu conhecimento sobre auriculoterapia,
especificamente, como uma abordagem complementar e
terapêutica de tratamento de seus pacientes. Isso será um
diferencial para o seu perfil profissional. Os pacientes estão
procurando cada vez mais alternativas de intervenção não-
medicamentosas, mais naturais, que os aliviem de dores
crônicas decorrentes de ações cotidianas. E então? Motivado
para desenvolver essa competência? Então vamos lá.

Auriculoterapia como uma abordagem


terapêutica complementar promissora
A auriculoterapia é uma técnica terapêutica complementar e
alternativa aplicável à uma ampla variedade de condições. No entanto,
semelhante a qualquer outra intervenção relacionada à saúde, o uso
clínico dessa terapia requer, obviamente, evidências científicas de eficácia
para fundamentar seu uso racional (ANTHWAL; THOMPSON, 2016).

VOCÊ SABIA?

As evidências científicas de eficácia são os achados da


pesquisa científica que servem para apoiar ou contrariar uma
teoria ou hipótese científica. Espera-se que tais evidências
sejam empíricas e interpretáveis de acordo com o método
científico. Ou seja, os elementos que consubstanciam a
hipótese científica do pesquisador devem ser certos, claros
e fornecer-lhe material suficiente para que a evidência seja
eficaz, isto é, que como resultante da prova, o pesquisador
adquira a certeza moral da comprovação dos fatos que
estão sendo apresentados.
46 Acupuntura

A orelha de mamífero é uma estrutura complexa com origem nos


tecidos da crista neural, mesoderme, endoderme e ectodérmico. Essa
estrutura anatômica inclui ossículos, cartilagem, músculos, nervos, vasos
sanguíneos e membranas epiteliais. A compreensão atual dos mecanismos
por trás das diferentes terapias reflexas, como a auriculoterapia, se baseia
na hipótese embriológica, bem como na forte inervação do ouvido. Na
verdade, o ouvido é uma das poucas estruturas anatômicas feitas de
tecido de cada um dos tecidos primários encontrados em um embrião.
Portanto, isso poderia hipoteticamente estar relacionado à representação
do corpo humano nas tabelas de reflexologia auditiva (ANTHWAL;
THOMPSON, 2016).
Figura 7: O ouvido é o órgão da audição e, nos mamíferos, do equilíbrio. Nos mamíferos, é
geralmente descrito como o ouvido externo, o ouvido médio e o ouvido interno

Fonte: Wikimedia commons

IMPORTANTE:

Os pontos de pressão na orelha são chamados de pontos


auriculares. A acupressão envolve colocar pressão nas
mesmas áreas onde uma agulha de acupuntura seria
inserida. Isso indicaria que os pontos de pressão em partes
do corpo que não estão com dor podem tratar e aliviar os
sintomas de dores de cabeça e de ouvido.
Acupuntura 47

Padrões internacionais e nomenclatura foram desenvolvidos pela


primeira vez na década de noventa com a contribuição da Organização
Mundial da Saúde (OMS). Mais recentemente, os pontos de acupuntura
auricular (PAAs) foram aceitos como modelo biomatemáticos da organi-
zação anatômica do cérebro. Essa visão surge ao avaliar as correlações
neurofisiológicas entre as zonas auriculares e suas correspondências ce-
rebrais (ANTHWAL; THOMPSON, 2016).
Figura 8: Auriculoterapia é uma ferramenta segura e eficaz para estimular os pontos de
acupressão no ouvido

Fonte:Wikimedia commons

A inervação sensorial dos centros nervosos vegetativos recebe


informações dos órgãos internos por impulsos elétricos conduzidos pelas
fibras alfa, beta e gama. Por sua vez, são disseminadores de percepções
sensíveis ao toque, pressão, temperatura e propriocepção que atingem os
núcleos sensoriais dos nervos cranianos e do corno posterior da medula
espinhal. As informações fornecidas pelos estímulos térmicos, álgicos e
proprioceptivos são transmitidas do pavilhão auricular pelas fibras dos
seguintes nervos (ANTHWAL; THOMPSON, 2016):
48 Acupuntura

I. nervo auriculotemporal.

II. ramo auricular do nervo vago.

III. nervo occipital menor (ramo sensível do plexo cervical).

IV. nervo auricular maior.

IMPORTANTE:

Existem quatro subdivisões das fibras nervosas do grupo


A: alfa (α), beta (β), gama (γ) e delta (δ). Essas subdivisões
têm diferentes quantidades de mielinização e espessura
do axônio e, portanto, transmitem sinais em velocidades
diferentes. Axônios de diâmetro maior e mais isolamento
de mielina levam a uma propagação de sinal mais rápida.

Figura 9: Compreender a anatomia do ouvido é fundamental para a compreensão a


aplicabilidade da auriculoterapia

Fonte:Wikimedia commons
Acupuntura 49

NOTA:

O sistema nervoso autônomo é um sistema de controle


que atua em grande parte inconscientemente e regula as
funções corporais, como frequência cardíaca, digestão,
frequência respiratória, resposta pupilar, micção e excitação
sexual. A divisão simpática inicia a resposta lutar ou fugir e o
parassimpático inicia as respostas de repouso e digestão ou
alimentação e procriação. Os sistemas nervosos simpático e
parassimpático são importantes para modular muitas funções
vitais, incluindo a respiração e a contratilidade cardíaca.

O nervo auriculotemporal origina-se do ramo mandibular do


nervo trigêmeo, que fornece principalmente às áreas anterossuperior
e anteromedial do ouvido externo. O ramo auricular do nervo vago é o
único ramo periférico do nervo vago, cobrindo uma parte considerável
da concha auricular e a maior parte da área ao redor do canal auditivo.
O nervo occipital menor se origina do ramo C-2 do plexo cervical,
sendo responsável pela inervação sensível do terço superior da orelha.
Finalmente, o nervo auricular principal se origina dos ramos C-2 a C-3
do plexo da coluna cervical, sendo responsável pela inervação da
região inferior do aurículo. Da mesma forma, os impulsos elétricos são
transmitidos a outras estruturas do sistema nervoso superior, como os
núcleos dos nervos cranianos, o sistema límbico, o tálamo, o hipotálamo,
a formação reticular, o cerebelo e o córtex cerebral. Esse processamento
de sinal e controle é a base da regulação neurofisiológica simpática e
parassimpática (ANTHWAL; THOMPSON, 2016).

Nesse cenário, a auriculoterapia tem sido apontada como um


método promissor para tratar condições que vão do abuso de substâncias
à dor, obesidade, ansiedade, epilepsia e distúrbios do sono. No entanto,
a eficácia dessa técnica foi testada em apenas um número relativamente
pequeno de ensaios baseados em evidências.
50 Acupuntura

Aplicabilidade da auriculoterapia
como uma abordagem terapêutica
complementar
A compreensão atual dos mecanismos fisiológicos para além dos
tratamentos de auriculoterapia ainda estão em andamento. Ainda assim,
uma quantidade significativa de trabalhos foi publicada nos quais foram
realizadas avaliações da eficiência da auriculoterapia na gestão de vários
problemas de saúde. Muitos desses trabalhos buscam estabelecer um
paralelo entre o estado atual das evidências sobre o uso terapêutico
da auriculoterapia como uma abordagem terapêutica complementar e
alternativa e, portanto, buscam promover o desenvolvimento de hipóteses
científicas para explicar os aspectos fisiológicos dos mecanismos de ação
envolvidos nas patologias estudadas (CHO et al., 2002)

IMPORTANTE:

Qual é o mecanismo fisiopatológico? A patologia descreve


a condição anormal, enquanto a fisiopatologia procura
explicar os processos fisiológicos pelos quais tal condição se
desenvolve e progride. Em outras palavras, a fisiopatologia
define as alterações funcionais associadas resultantes de
doenças ou lesões.

Atualmente, mais de 200 pontos de acupuntura foram identificados


no ouvido. Esses estão na base do diagnóstico de ouvido, que por meio
da inspeção, palpação e condutância elétrica da pele de áreas relevantes
no ouvido, acredita-se que permita a identificação de distúrbios em
outras partes do corpo. Então, com base nessa ideia, quando uma
doença ou distúrbio está presente, alguns pontos de acupuntura auricular
relacionados mostram uma resistência maior ou menor em comparação
para pontos auriculares de referência próximos (HOU et al., 2015).
Acupuntura 51

Figura 10: Os pontos de pressão em sua orelha são chamados de pontos auriculares. A
auriculoterapia envolve dispor agulhas nesses pontos

Fonte:Pixabay

Os resultados encontrados apontam para efeitos positivos da


auriculoterapia como uma ferramenta terapêutica, particularmente para o
alívio da dor. No entanto, mais pesquisas são necessárias para corroborar
esses achados, bem como incentivar a padronização, sistematização e
estudos de acompanhamento. A acupuntura sistêmica é frequentemente
usado no tratamento da dor, como no tratamento de tensão, de dores
de cabeça e enxaquecas, osteoartrite, dor lombar, entorses de tornozelo,
bem como dor de garganta. Com base em estudos publicados, a
auriculoterapia também se mostra eficaz no tratamento da insônia
(LANDGREN, 2008).

O conceito de dor é bastante subjetivo, pois cada indivíduo tem


uma maior susceptibilidade à dor que outro. A Associação Internacional
para o Estudo da Dor (IASP) define a dor como uma experiência sensorial
e emocional desagradável associada ao dano real ou potencial ao tecido.
A dor aguda dura pouco tempo e ocorre após uma cirurgia, trauma ou
outra condição. Atua como um aviso ao corpo para buscar ajuda.

Embora algumas revisões relatem indicações terapêuticas da


acupuntura na área de neurologia, mais estudos com metodologias
cruzadas envolvendo acupuntura sistêmica e auriculoterapia são
necessários para deixar clara sua utilidade. Os estudos que relacionam
auriculoterapia com saúde mental mostram que a cessação do tabagismo
52 Acupuntura

pode ser beneficiada por essa técnica. Além disso, a acupuntura sistêmica
só é relatada com sucesso no tratamento da depressão e esquizofrenia.
Contudo, a auriculoterapia não apresenta resultados positivos na gestão
da dependência de cocaína. Estudos destacam a baixa qualidade
metodológica de resultados envolvendo 1433 participantes, sugerindo
mais estudos randomizados para superar essas limitações (MERCANTE
et al., 2018).
Figura 11: A auriculoterapia pode ser usada com sucesso sozinha ou em combinação com a
acupuntura de corpo inteiro para melhorar os resultados do tratamento

Fonte: Wikimedia Commons

VOCÊ SABIA?

A saúde mental, definida pela Organização Mundial de Saúde,


é um estado de bem-estar em que o indivíduo percebe suas
próprias habilidades, pode lidar com as tensões normais da
vida, pode trabalhar de forma produtiva e frutífera e é capaz
de fazer uma contribuição para sua comunidade.

Com relação a outras patologias, como glaucoma, constipação, rinite


alérgica, náuseas e vômitos no início da gravidez, é difícil tirar conclusões
confiáveis ​​dos dados disponíveis para apoiar o uso de auriculoterapia.
Acupuntura 53

Precisa-se entender as considerações éticas, os estudos clínicos


randomizados, comparando auriculoterapia sozinha com tratamentos
padrão ou placebo são improváveis ​​de serem justificados em países onde
existe um padrão de atendimento já estabelecido (ALIMI; CHELLY, 2018).

Posteriormente, a maioria dos pacientes atendidos atualmente


por especialidades médicas convencionais não faz uso de terapias não-
tradicionais, portanto, as decisões clínicas de qual prática complementar
e alternativa a ser adotada no tratamento terão que ser baseadas em
julgamentos médicos e nas preferências do paciente, dada a falta de
dados na literatura até o momento (JENKINS, 2017).

Entre as principais limitações metodológicas apresentadas


nos estudos sobre auriculoterapia, descobriu-se que alguns estudos
apresentaram falhas como a heterogeneidade, perda de informações
sobre resultados importantes, análises inadequadas de subgrupos,
conflito com novos dados dos experimentos e duplicação da publicação.
Os estudos apresentaram alguns ensaios clínicos com um pequeno
tamanho de amostra, falta de randomização, baixa heterogeneidade,
pobre revisão de literatura e experimentos de laboratório em animais
(RABISCHONG; TERRAL, 2014).

IMPORTANTE:

A principal limitação dos ensaios clínicos randomizados é


sua restrição a intervenções que supostamente têm um
efeito positivo. Outro limite está relacionado à dificuldade
de interpretação ou generalização dos resultados, pois
a população estudada é muito diferente da população
tratada em vida normal.
54 Acupuntura

Figura 12: A eletroacupuntura é uma forma de acupuntura em que uma pequena corrente
elétrica é passada entre pares de agulhas de acupuntura

Fonte: Pixabay

A diversidade de modalidades de auriculoterapia, como a acupuntura


auricular, também conhecida como acupressão e eletroacupuntura
auricular, bem como o uso de agulhas semipermanentes podem estar
associadas a diferentes efeitos de tratamento, mesmo tratando uma
mesma condição clínica. Isso representa um desafio na pesquisa clínica,
que requer uma maior sistematização. Na realidade, os estudos publicados
até o momento elencam cada abordagem como uma cartografia
específica, o que pode levar à subjetividade na seleção de pontos para
uma determinada indicação (SMITH et al., 2011).

IMPORTANTE:

Para muitas pessoas, eventos adversos e efeitos colaterais


significam a mesma coisa e são usados de forma
intercambiável, o que é incorreto. Os eventos adversos
são efeitos farmacológicos não intencionais que ocorrem
quando um medicamento é administrado corretamente,
enquanto um efeito colateral é um efeito secundário
indesejado que ocorre devido à terapia medicamentosa.
Acupuntura 55

Figura 13: A eletroacupuntura é diversa em suas modalidades e aplicações em tratamentos,


associada a diferentes efeitos de tratamento

Fonte: Wikimedia commons

Da mesma forma, os placebos devem ser indistinguíveis das


intervenções verdadeiras e mais importante, devem ser inertes, o
que significa que eles devem apenas estimular efeitos fisiológicos e
psicológicos não-específicos. A seleção de pontos auditivos fictícios
deve sempre considerar a interação dos dermatomas. Além disso,
no que diz respeito à segurança do paciente, os efeitos adversos de
curto prazo relatados em nosso estudo afetaram apenas uma pequena
proporção dos pacientes e nenhum evento adverso sério foi associado
com a auriculoterapia como ocorreu nos estudos analisados (BAHR;
STRITTMATTER, 2014).

Subsequentemente, a auriculoterapia é uma das formas de terapia


complementar e alternativa mais populares e pode ser vista como uma
intervenção facilmente administrada e segura, também apoiada por outros
estudos. Seguindo esse senso crítico, os pesquisadores devem seguir a
Declaração de Padrões Consolidados de Relatórios de Estudos (CONSORT),
e os Padrões Revisados ​​para Relatórios de Intervenções em Ensaios Clínicos
das Diretrizes de Acupuntura (STRICTA) (AHLBERG et al., 2016).
56 Acupuntura

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo


tudinho? Agora, só para termos certeza de que você
realmente entendeu o tema de estudo desse capítulo,
vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido
que a auriculoterapia é uma ciência empírica que tem
evidências suficientes para ser indicada no tratamento da
dor crônica, principalmente dores de cabeça, enxaquecas,
dores nas costas, dores no pescoço e osteoartrite.
Entretanto, mais pesquisas são necessárias para descobrir
se essa técnica pode ser usada como uma ferramenta
terapêutica eficaz e efetiva na gestão de outras condições
de saúde. Os estudos desenvolvidos até o momento
sugerem que a auriculoterapia pode ser usada como um
adjuvante na terapia do tratamento da dor, bem como no
tratamento de insônia e nas intervenções para parar de
fumar, reduzindo o uso de medicamentos convencionais,
minimizando os potenciais efeitos adversos, e reduzindo o
tempo necessário para obter resultados positivos.
Acupuntura 57

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