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Psicologia do

Desenvolvimento
Tainá Thies

Unidade 3

Bases Biológicas
e Sociais do
Comportamento
Humano
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autora
TAINÁ THIES
A AUTORA
Tainá Thies
Olá! Meu nome é Tainá Thies. Sou formada em Letras, com
especialização em Linguística, mestrado em Teoria da Literatura e,
atualmente, cursando Psicologia, com uma experiência técnico-
profissional na área de Educação e Aprendizagem de mais de 10 anos.
Atuei em empresas que me colocaram em contato com a diversidade do
povo brasileiro e me fizeram amar ainda mais a Educação, a Psicologia
e a Língua Portuguesa. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir
minha experiência de vida àqueles que estão iniciando suas profissões.
Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de
autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase
de muito estudo e trabalho. Conte comigo!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

INTRODUÇÃO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova compe- novo conceito;
tência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou dis-
mento; cutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Os fatores que influenciam no desenvolvimento do psiquismo...12
Fatores biológicos............................................................................................................................ 13

Fatores biológicos de ordem universal......................................................... 13

Fatores biológicos de ordem individual....................................................... 15

Fatores sociais.................................................................................................................................... 16

Fatores individuais.......................................................................................................................... 20

Fatores histórico-culturais.........................................................................................................23

Os processos mentais e a constituição do psiquismo humano.... 26


Sensação................................................................................................................................................27

Percepção..............................................................................................................................................28

O princípio do fechamento ...................................................................................29

Princípio de proximidade .......................................................................................29

Princípio da semelhança ....................................................................................... 30

Princípio da simplicidade ..................................................................................... 31

Princípio da figura e fundo .................................................................................. 31

Memória .................................................................................................................................................32

Memória sensorial .......................................................................................................33

Memória de curto prazo...........................................................................................33

Memória de trabalho .................................................................................................33

Memória de longo prazo ........................................................................................34

Memória declarativa...................................................................................................34

Memória processual ..................................................................................................34


Memória semântica.....................................................................................................34

Memória episódica.......................................................................................................35

Memória explícita ........................................................................................................35

Memória implícita ........................................................................................................35

Memória instantânea ................................................................................................35

Pensamento e raciocínio lógico .......................................................................................... 36

Linguagem............................................................................................................................................37

Atenção.........................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................................... 39

Emoções ............................................................................................................................................... 40

Transtornos mentais e o desenvolvimento da aprendizagem..44


Distúrbios fisiológicos e o desenvolvimento da aprendizagem... 48
Psicologia do Desenvolvimento 9

03
UNIDADE

BASES BIOLÓGICAS E SOCIAIS DO COMPORTAMENTO HUMANO


10 Psicologia do Desenvolvimento

INTRODUÇÃO
Vimos na unidade passada o desenvolvimento da Psicologia da
Educação, as teorias e concepções de desenvolvimento e aprendizagem,
noções sobre a Psicopedagogia e a Neuropsicopedagogia.

Dentro da Psicologia do Desenvolvimento podemos nos aprofundar


em diversos conhecimentos, que se inter-relacionam com aprendizagem.
Dentre eles, destacam-se fatores biológicos, sociais, individuais e, até
mesmo, culturais. Porém, infelizmente, nem sempre o desenvolvimento
segue como o esperado, e para isso temos áreas de estudo que focam
em desvendar os mistérios por trás dos transtornos mentais e distúrbios
fisiológicos que interagem com a aprendizagem.

Assim, nesta unidade, veremos um resumo de todos estes


conhecimentos listados acima para que se tenha uma visão mais ampla
sobre a área da Psicologia do Desenvolvimento.

Vamos começar?
Psicologia do Desenvolvimento 11

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 3. Nosso propósito é auxiliar
você no desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o
término desta etapa de estudos:

1. Diferenciar os fatores que influenciam no desenvolvimento do


psiquismo humano;

2. Identificar os processos cognitivos, o que constituem o ser


humano;

3. Esclarecer os possíveis transtornos mentais em consonância com


a aprendizagem;

4. Descrever distúrbios fisiológicos mais relevantes para o processo


de desenvolvimento da aprendizagem.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento?


Ao trabalho!
12 Psicologia do Desenvolvimento

Os fatores que influenciam no


desenvolvimento do psiquismo
INTRODUÇÃO:

Ao término deste tópico, você será capaz de entender e


diferenciar os fatores que influenciam no desenvolvimento
do psiquismo humano. Estudar o desenvolvimento humano
é tarefa árdua, pois não envolve apenas a observação em
pesquisa do desenvolvimento físico do ser humano, mas
com certeza inicia-se neste ponto desde o nascimento. Os
estudiosos do desenvolvimento tentam compreender como
os seres humanos se transformam ao longo de suas vidas e
quais são os processos envolvidos nessa transformação. E
então? Será que conhecer o desenvolvimento humano auxilia
a compreender os processos cognitivos?

Então, vamos lá!

Que o interesse por estudar o desenvolvimento humano em sua


totalidade, levando-se em consideração o físico, o psicológico e o social,
iniciou-se com as observações do psiquiatra francês Jean-Marc-Gaspard
Itard a respeito de Victor, o menino selvagem da cidade de Aveyron. Para
saber mais sobre essa história, recomendamos assistir ao filme, de 1970,
“O menino selvagem”, dirigido por François Truffaut.

Para estudar o desenvolvimento é preciso saber que há dois tipos


de mudanças que ocorrem com os seres humanos, as quais são de ordem
quantitativa e qualitativa. As mudanças quantitativas podem ser descritas
em termos de números ou medidas, como peso altura, quantidade de
palavras aprendidas e frequência dos comportamentos.

Já as quantitativas são aquelas que não são facilmente mensuradas,


mas que apresenta um salto em relação como a criança era há pouco
tempo, isto é, em pouco tempo pode-se notar a melhoria na fala ou na
motricidade, bem como na aquisição de novas habilidades, que antes a
criança não possuía.
Psicologia do Desenvolvimento 13

Há ainda, outro ponto, que precisamos saber antes de verificarmos


os fatores que influenciam no desenvolvimento: as características que
mudam e outras que são relativamente estáveis ao longo do tempo,
como a personalidade.

Assim, para se observar o desenvolvimento de uma pessoa é


preciso levar em consideração o processo físico como crescimento do
corpo, desenvolvimento do cérebro e habilidades motoras. Além disso,
deve-se levar em conta o desenvolvimento cognitivo, com mudanças
no aprendizado, na linguagem e nos outros processos cognitivos,
bem como o desenvolvimento psicossocial, isto é, a personalidade, os
relacionamentos e as emoções.

Veremos, a seguir, cada uma dessas dimensões, porém, não


ache que elas agem de forma separada, muito pelo contrário, elas
interagem entre si e se afetam mutuamente. Assim, um acontecimento no
desenvolvimento físico pode afetar tanto as dimensões cognitivas quanto
psicossocial, e vice e versa.

Fatores biológicos
Os fatores biológicos são uma série de eventos que ocorrem em
diversos níveis no corpo humano: genético, anatômico e fisiológico. Eles
podem ser de ordem universal ou individual, ou seja, podem determinar
acontecimentos que ocorrem com todos (ou, pelo menos, que deveriam
ocorrer) e acontecimentos que ocorrem com cada indivíduo em específico.

Vamos esclarecer sobre cada um deles.

Fatores biológicos de ordem universal


Tais fatores dizem respeito a processos que ocorrem de forma
natural e que são predeterminados geneticamente para a espécie humana.
Estes fatores foram amplamente explorados por cientistas como Piaget,
quando estudou, em específico, o desenvolvimento motor da criança.

Assim, há na espécie humana um código genético, que


determina que precisaremos de, mais ou menos, 6 meses de vida para
desenvolvermos o tônus muscular capaz de fazer com que fiquemos
14 Psicologia do Desenvolvimento

sentados e, aproximadamente, 11 meses para darmos os primeiros passos,


entre outras características. Da mesma forma, o nosso código genético
determina que a puberdade se inicia por volta dos 11 anos de idade com
o desenvolvimento de feições adultas. O mesmo acontece com o cérebro
humano, que só se desenvolve completamente ao final da adolescência,
terminando o seu processo de mielinização próximo dos 18 anos de idade.

A maior parte dos neurônios possui uma camada de gordura que


envolve seus axônios. Esta substância gordurosa denomina-se a bainha da
mielina e é composta por células de Schwann, que fazem um isolamento
elétrico nos axônios. Assim, a bainha da mielina auxilia na condução
dos impulsos nervosos, aumentando a velocidade de transmissão das
informações. A mielinização é o processo de formação de bainha de
mielina ao redor dos neurônios. Este processo ocorre desde a infância até
o início da vida adulta, começando na parte posterior do cérebro e indo
até a parte frontal, área responsável por raciocínio lógico, linearidade e
personalidade, entre outros.

Figura 1: Comunicação entre neurônios

Fonte: Freepik

Assim, os eventos emocionais que ocorrem durante a adolescência


têm ligação direta com os fatores maturacionais:

Duas importantes mudanças no cérebro do adolescente são


semelhantes a processos que ocorrem antes do nascimento
e durante a infância: o crescimento e a inibição da matéria
cinzenta. Um segundo surto na produção de matéria cinzenta
Psicologia do Desenvolvimento 15

– neurônios, axônios e dendritos – começa pouco antes da


puberdade e pode estar relacionado ao repentino aumento
da produção dos hormônios sexuais nessa época (PAPALIA;
OLDS; FELDMAN, 2010, p. 403).

Logo, percebe-se o quão importante são os eventos


desencadeadores pelo fator biológico, pois eles interferem, como
falamos anteriormente, na cognição, na personalidade e nas emoções.
Logicamente que, mesmo que tenhamos uma determinação genética,
não quer dizer que há uma idade correta e exata para que estes
eventos ocorram, mas existe, sim, uma média que deve ser levada
em consideração para o acompanhamento e verificação de possíveis
problemas do desenvolvimento.

Como vimos no trecho citado acima, há interação entre a anatomia (a


matéria cinzenta) e a fisiologia (os hormônios) corporais, ambas seguindo
um programa de desenvolvimento ditado por um código genético, que é
passado pela nossa espécie.

SAIBA MAIS:

Quer saber mais a respeito de como o código genético é


composto? Recomendamos assistir a aula “Biologia – Código
genético – Visão Geral”, disponível em https://bit.ly/3kpoGQ0.
Acesso em: 16 set. 2020.

Fatores biológicos de ordem individual


Fatores biológicos que podem influenciar o desenvolvimento
podem se apresentar na forma de material genético, com a herança de
genes familiares, que também podem influenciar na maturação física e
cognitiva, como síndromes e características individuais.

Além de outros fatores de ordem individual, como: consumo


de drogas ou medicamentos, doenças e transtornos causados em
decorrência da gestação ou do nascimento, como má formação ou
nascimento prematuro, com defeitos em órgãos vitais, que requeiram
intervenções, como os problemas cardíacos ou pulmonares.
16 Psicologia do Desenvolvimento

• Você sabia? Que ao ingerir álcool durante a gestação, o bebê pode


desenvolver a Síndrome Alcoólica Fetal? Esta síndrome causa déficits
intelectuais no crescimento e no desenvolvimento psicológico e
motor.

Embora tais situações relatadas acima não sejam determinantes


em possíveis atrasos ou problemas no desenvolvimento, elas podem
contribuir para esses quadros.

Porém, tem-se a certeza de que todos esses fatores influenciam a


forma de que como a criança se desenvolve em todas as suas dimensões,
mesmo que tal influência não represente problema ou distúrbio no
desenvolvimento.

ACESSE:

Recomendamos que aprofunde um pouco mais


seus estudos sobre os fatores que influenciam o
desenvolvimento, assistindo ao vídeo “Influências Internas
no Desenvolvimento”, da Psicóloga Mônica Alves, disponível
em https://bit.ly/2H4vmol. Acesso em: 16 set. 2020.

Fatores sociais
O segundo fator de desenvolvimento do ser humano é o social. De
acordo com Papalia, Olds e Feldman:

Seres humanos são seres sociais. Desde o começo, desenvolvem-


se dentro de um contexto social e histórico. Para um bebê, o contexto
imediato normalmente é a família, que, por sua vez, está sujeito às
influências mais amplas e em constante transformação da vizinhança, da
comunidade e da sociedade (2010, p. 15).

Quando falamos que os seres humanos são seres sociais,


compreendemos que, mesmo que haja um código genético que determine
etapas de desenvolvimento, este só é possível caso haja contato com
outros indivíduos da mesma espécie, indivíduos que proporcionem um
Psicologia do Desenvolvimento 17

ambiente propício para que o código genético seja posto em prática e


outras habilidades sejam afloradas.

Assim, os primeiros indivíduos que propiciaram tal ambiente


é a família nuclear. Essa família é a unidade de parentesco, não
necessariamente biológico, mas que contemple a criança e seu(s)
cuidador(es). Desta forma, temos diversas constituições familiares, com
um, dois ou mais adultos na função parental, sejam eles do mesmo sexo
ou de sexos opostos. Além disso, temos famílias constituídas por outras
funções, como aquelas lideradas por ambos ou um dos avós e por outros
adultos que exerçam grau de parentesco.

É nesta família nuclear que a criança terá seus primeiros modelos e


estímulos para se desenvolver. Mesmo que a criança esteja em lares ou
abrigos, haverá um número de estímulos no ambiente aos quais a criança
responderá com o desenvolvimento motor, cognitivo e emocional.

• A constituição familiar e o conceito do que é família mudaram ao longo


do tempo. Hoje, as famílias não se constituem por meio de contrato
entre duas partes, que acordam viver em conjunto (casamento
legalmente falando) como há 50 anos, mas, sim, por união de
pessoas com objetivos e afetos em comum. A respeito desse tema,
recomendamos a leitura do artigo “A evolução da ideia e do conceito
de família”, do Advogado Luiz Augusto,

• Desta forma, convivendo com a família nuclear e, posteriormente,


expandindo o contato da criança para os outros ambientes, como a
escola, promove-se a socialização dela. A socialização se torna possível
quando há uma internalização de padrões, que são ensinados desde
cedo às crianças:

Socialização é o processo pelo qual a criança desenvolve hábitos,


habilidades, valores e motivações que as tornam membros responsáveis
e produtivos de uma sociedade.

[...] A socialização depende da internalização desses padrões.


Crianças bem-sucedidas na socialização não apenas
obedecem a regras ou comandos para obter recompensas
18 Psicologia do Desenvolvimento

ou evitar punições; elas fazem os padrões da sociedade seus


próprios padrões (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2010, p. 215-216).

É por meio da socialização que se desenvolve o comportamento


moral, com respeito a regras e ordens, bem como a cooperação, as
habilidades socioemocionais e o controle de impulsos.

ACESSE:

: Piaget desenvolveu uma teoria sobre o desenvolvimento


moral na criança e descreveu três fases na aquisição das
regras: anomia, heteronomia e autonomia. Saiba mais lendo
o artigo “Piaget e o desenvolvimento moral da criança”,
disponível em https://bit.ly/2H7lcU6. Acesso em: 16 set. 2020.
Caso tenha interesse em se aprofundar nas ideias de Piaget,
recomendamos a leitura de seu livro “O juízo moral na criança”.

Outro fator social que tem grande influência sobre o desenvolvimento


é a condição socioeconômica de sua família. As condições sociais e
econômicas em que as crianças crescem afetam significativamente seu
desenvolvimento, por condições que vão desde o acesso à alimentação
até ao lazer.

É sabido que a pobreza pode ser associada a fatores emocionais na


família, refletir nas más condições de saúde e saneamento, segurança e
educação precárias, que representam fatores de grande importância para
o pleno desenvolvimento do indivíduo.
Psicologia do Desenvolvimento 19

Quadro 1: Os males da pobreza que atingem as crianças

Fonte: Adaptado de Papalia, Olds e Feldman (2010, p. 16).

Em relação aos males que a pobreza pode trazer a uma criança,


Papalia, Olds e Feldman nos mostram que tais crianças estão mais
susceptíveis a problemas de saúde e educação do que as crianças com
acesso a serviços como os descritos anteriormente.

Como podemos verificar no quadro acima, a pobreza afeta tanto


o biológico, quanto o cognitivo e o emocional, sendo estes últimos
envolvidos de forma íntima com o abandono, a repetência e a expulsão
da escola.

Embora não ligado obrigatoriamente a fatores econômicos, os


maus--tratos e abusos podem ser classificados como fatores sociais
subjacentes a problemas no desenvolvimento infantil. Tais abusos podem
20 Psicologia do Desenvolvimento

ser de ordem física, psicológica, assim como de grande impacto na vida


da criança, causando barreiras para seu desenvolvimento e traumas, que
podem ser carregados para a vida.

• É sabido que o maior número de abusos sexuais contra as crianças


ocorre dentro da própria casa, cometido por familiares próximos. Por
este motivo, é tão importante que a escola trabalhe assuntos ligados
à educação sexual, uma vez que, dentro de casa, a criança pode
não conseguir auxílio para sair de situações angustiantes. Entretanto,
muitas vezes, a criança não tem o mínimo discernimento para saber
que o que fazem com ela é errado. A esse respeito, recomendamos a
leitura da entrevista realizada pela ONG do antropólogo Felipe Areda,
disponível em https://bit.ly/3hDaaSX. Acesso em: 16 set. 2020.

Fatores individuais
Entre os fatores individuais de desenvolvimento, encontramos
processos cognitivos: linguagem, memória, atenção, raciocínio lógico e
percepção. Porém, não apenas os fatores de ordem individual devem
ser levados em consideração, mas, sim, a ligação entre eles, a qual
proporciona aprendizagem, pensamento e inteligência.

Outro fator individual de extrema importância para a adaptação do


indivíduo é a personalidade.

• Para complementar seu conhecimento sobre o que é a personalidade,


recomendamos assistir ao vídeo do canal “Minutos psíquicos”,
disponível em https://bit.ly/2RzdtQw. Acesso em: 16 set. 2020.

Para compreendermos o que é personalidade, é preciso,


primeiramente, saber que não há uma visão única a respeito dela na
Psicologia. A definição dela se dá por meio das teorias que a estudam.
Porém, em linhas gerais, Hall, Lindzey e Campbell nos dizem que “a
personalidade consiste concretamente em uma série de valores ou
termos descritivos, que descreve um indivíduo que está sendo estudado”
(2000, p. 33).
Psicologia do Desenvolvimento 21

Segundo as autoras citadas acima, há inúmeras explicações


para o que vem a ser personalidade, porém, tais definições podem ser
subdivididas em algumas categorias, como segue (idem, p. 32):

1. Definição biossocial – as teorias que se encaixam nessa teoria


acreditam que a personalidade não está no sujeito, e sim no que os
outros pensam sobre ele, isto é, a reação dos outros ao indivíduo;

2. Definição biofísica – a personalidade seria o conjunto das qualidades


específicas do sujeito, que teria relação tanto com os processos
internos, quanto com os comportamentos externos observáveis;

3. Definição globalizante – tudo o que se pode ser medido no indivíduo


e que possa descrevê-lo seria a personalidade. Assim, fariam parte
também características como cor de cabelo, pele, olhos, altura, peso,
entre outras.

4. Definição integrativa – a personalidade seria algo que organiza os


comportamentos do indivíduo;

5. Definição de ajustamento – a personalidade é o resultado dos


comportamentos emitidos pelo indivíduo, que servem para se ajustar
ao ambiente;

6. Definição dos aspectos únicos – aquelas características que são


individuais e fazem com que o sujeito seja distinto dos outros e que
formaria uma personalidade;

7. Definição da essência – aquela parte da pessoa que faz dela quem


ela é realmente.

Em todo caso, podemos retirar das teorias que a personalidade é


aquilo que faz com que o indivíduo seja ele mesmo, único, mesmo que
estas características sejam dadas pelos outros. De toda forma, vimos
como se tenta definir o conceito de personalidade. Vamos ver, agora,
como ela se compõe.
22 Psicologia do Desenvolvimento

SAIBA MAIS:

Pesquisadores criaram um teste muito utilizado no meio


corporativo, para realizar a seleção de pessoas com base
nas características dos tipos psicológicos do psicanalista
Jung. Ficou curioso? Acesse o link https://bit.ly/2E8HeVn
e descubra mais sobre o teste e sobre seu perfil! Divirta-se!
Acesso em: 16 set. 2020.

Segundo Papalia, Olds e Feldman, há quatro grandes concepções


que explicam o desenvolvimento da personalidade. Vamos a elas!

Quadro 2: Concepções acerca do desenvolvimento da personalidade humana

Fonte: Elaborado pela autora (2020).


Psicologia do Desenvolvimento 23

Como podemos ver, ainda não há um consenso acerca do que é


e como se forma a personalidade, porém, o que devemos ter em mente
é que ela é parte muito importante do desenvolvimento do ser humano,
pois nos confere a nossa singularidade!

Fatores histórico-culturais
Embora fatores biológicos, sociais e individuais possam vir a ser
estáveis ao longo da história da humanidade, temos um fator de influência
que muda constantemente, interferindo especialmente no fator social: a
história e a cultura em que estamos inseridos.

Os costumes, os hábitos e os valores são diferentes de um país para


o outro e vão se modificando ao longo do tempo. Se pensarmos bem, ao
longo de nossa história, podemos ter contato com diversas influências
culturais, ainda mais atualmente de globalização. Além disso, vemos que
muitos valores que vigoravam antes vêm agora sendo modificados, o que
significa, por um lado, uma evolução da humanidade e, por outro, que
teremos de nos adaptar.

SAIBA MAIS:

Que tal dar um passeio por alguns dos sistemas educacionais


de diferentes países? Recomendamos assistir ao documentário
“Destino: Educação – Diferentes países. Diferentes respostas”,
realizado pelo canal Futura sobre a educação em outros
países, disponível em https://bit.ly/3iECk1d. Acesso em: 16
set. 2020.

Há 30 anos, não tínhamos a influência da tecnologia digital no


desenvolvimento infantil. Mas hoje, quem pensa em ficar sem seu celular?
Embora ainda haja muito a ser pesquisado no uso das tecnologias digitais
no desenvolvimento infantil, é inegável que ela faça parte de nossa
história.

• As tecnologias digitais apresentam benefícios para o desenvolvimento


cognitivo infantil. Para saber quais benefícios, recomendamos a
24 Psicologia do Desenvolvimento

leitura da matéria do site da “Escola da Inteligência”, disponível em


https://bit.ly/32CQ5bp. Acesso em: 16 set. 2020.

Assim, até mesmo o conteúdo escolar tenta acompanhar a


evolução histórico-cultural, embora de forma mais lenta que o restante
da sociedade. Porém, temos que compreender como a sociedade tem
evoluído de forma rápida e quais podem ser os fatores que influenciam no
desenvolvimento dos outros fatores.

Por exemplo, nossa comunicação ficou muito mais efetiva, mas a


socialização entre os jovens vem caindo. Ao mesmo tempo em que as
ferramentas vêm nos auxiliar a buscar diferentes informações, elas nos
jogam dados demais, mais do que nossas cognições conseguem dar
conta neste momento.

• Ao mesmo tempo em que a tecnologia digital traz inúmeros benefícios


para nossas vidas, ela também pode representar um perigo ao
desenvolvimento de algumas funções e habilidades. Saiba mais lendo
o artigo “A influência da tecnologia na infância: Desenvolvimento ou
ameaça?”, dos pesquisadores Natália de Paiva e Jonathan Costa,
disponível em https://bit.ly/2FHonkK. Acesso em: 17 set. 2020.

Entretanto, não são apenas as invenções que influenciam o


desenvolvimento, mas a cultura em que a criança está inserida possui
grande importância para compreendermos o indivíduo como um ser em
sua totalidade.

Segundo Papalia, Olds e Feldman:

Os padrões étnicos e culturais afetam o desenvolvimento


por sua influência na compra, na composição de uma família,
nos recursos econômicos e sociais, no modo com que seus
membros agem em relação uns aos outros, nos alimentos que
comem, nos jogos e nas brincadeiras das crianças, no modo
como aprendem, no aproveitamento escolar, nas profissões
escolhidas pelos adultos e na maneira como os membros da
família pensam e percebem o mundo (2010, p. 17).
Psicologia do Desenvolvimento 25

A educação dada a uma criança no Japão será consideravelmente


distinta da educação dada a uma outra nos Estados Unidos. Culturas
distintas cifraram o desenvolvimento de forma também distinta. Assim,
uma criança no Japão seguirá uma cultura que preza pela comunidade,
ao passo que nos Estados Unidos, a individualidade é mais importante
que o senso de comunidade.

São muitas as características que diferem as duas culturas citadas


acima, como todas as outras ao redor do mundo. Tais características
moldam a personalidade e a interação social entre os indivíduos, mesmo
que o desenvolvimento biológico seja o mesmo para todos os seres
humanos.

• Você acha que ser adolescente hoje é o mesmo que ser adolescente
há 10 anos ou 100 anos? E se compararmos a nossa adolescência
com a de um jovem atualmente? Há diferenças?

RESUMINDO:

Neste tópico, vimos que existem vários fatores que


influenciam no desenvolvimento dos seres humanos, que
são transformados ao longo de suas vidas. Você aprendeu
que existem dois tipos de mudanças que ocorrem com as
pessoas: a quantitativa e a qualitativa. E, por fim, podemos
compreender que existem características que formam os
indivíduos.
26 Psicologia do Desenvolvimento

Os processos mentais e a constituição do


psiquismo humano
INTRODUÇÃO:

Ao término deste tópico, você será capaz de entender


os processos cognitivos que constituem o ser humano. E
então? Será que conhecer os processos mentais auxiliam a
compreender as principais funções cognitivas? Então, vamos
lá!

Para iniciarmos esse capítulo, é preciso fazermos uma distinção


acerca do que é psiquismo pronto, segundo o dicionário Priberam:

Psi.quis.mo

(greo psukhê, -ês, vida, espírito +-ismo)

substantivo masculino

1. Conjunto de fenômenos procedentes da alma a ela relativos.

2.[Psicologia] Conjunto de fenômenos estudados pela


psicologia. =PSIQUE

3.[Psicologia] Conjunto de características psíquicas de um


indivíduo. =PSIQUE

Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3krgVZQ. Acesso em: 16


set. 2020.

Assim, o psiquismo associa-se a uma visão de mente, com uma


estrutura que, embora ligada ao corpo, muitas vezes é descrita como
agindo além do mesmo. Dessa forma, liga-se à psique da Psicanálise.
Porém, aqui, para fins de uma melhor compreensão acerca de como o
psiquismo humano acontece, utilizaremos o termo processos mentais,
que engloba tanto os processos cognitivos quanto os não cognitivos,
fazendo uma relação entre o psiquismo e a cognição, uma vez que esta
se relaciona a “mente”, ou a consciência, ao ponto que a produz, o cérebro.
Psicologia do Desenvolvimento 27

Desta forma, a nossa mente é desenvolvida por todas as instâncias


já discutidas até aqui, por fatores biológicos, sociais, individuais e histórico-
culturais.

Os processos não cognitivos são derivados de nossa personalidade


e demonstram nossas habilidades socioemocionais, como a capacidade
de motivação, perseverança, sociabilidade, entre outras.

SAIBA MAIS:

A relação entre motivação e aprendizagem é muito importante


no contexto escolar. Para saber mais sobre esse assunto,
recomendamos a leitura do artigo “Motivação e aprendizagem
em contexto escolar”, disponível em https://bit.ly/3hG6CPM.
Acesso em: 16 set. 2020.

Veremos, agora, de forma um pouco mais detalhada, as principais


funções cognitivas, que, juntamente com nossa personalidade, dão
origem ao nosso processo de consciência, isto é, que fazem com que
sejamos quem somos.

Sensação
Nossa primeira interação com o mundo se dá pelas sensações –
visão, audição, tato, olfato e paladar.

A sensações mencionadas apenas tocam na superfície da


experiência sensorial. Embora possivelmente você tenha aprendido [...]
que existam apenas cinco sentidos – visão, audição, paladar, olfato e tato
–, essa enumeração é muito modesta. As capacidades sensoriais humanas
vão muito além dos cinco sentidos básicos. Por exemplo, somos sensíveis
não apenas ao toque, mas a um conjunto considerável mais amplos
de estímulos – dor, pressão, temperatura e vibração, para mencionar
apenas alguns. Além disso, a visão tem dois subsistemas relacionados à
visão diurna e noturna – e a orelha corresponde a informações, que nos
28 Psicologia do Desenvolvimento

permitem não somente ouvir, mas manter o equilíbrio (FELDMAN, 2015,


p. 89).

Vimos um pouco a respeito das sensações na primeira unidade e


como elas dependem de estímulos (externos ou internos) para ocorrerem.
Assim, conforme descrito por Feldman no trecho acima, a sensação
de temperatura dependerá de fatores externos, como a temperatura
do ambiente, ou fatores internos, como uma febre provocada por uma
doença.

• Assista à videoaula “Fisiologia dos sentidos” para compreender melhor


como ocorrem as sensações do nosso corpo, disponível em https://
bit.ly/35M6Bb4. Acesso em: 17 set. 2020.

Outro conceito muito importante dentro do campo das sensações é


o de adaptação sensorial. Vamos ver a seguinte situação para compreender
este conceito: o dia está frio lá fora e as janelas das salas estão fechadas;
você entra na sala de aula após o intervalo e trinta crianças que correram
muito no recreio estão lá dentro! A primeira coisa que seu nariz nota é o
odor de suor, não é mesmo? Mas você já percebeu que, após um tempo,
você não sente mais o cheiro? Não é porque ele desapareceu, mas sim
porque seu cérebro realizou uma adaptação sensorial, como se ele
reduzisse a intensidade do odor, para que você não passe mal e possa se
concentrar em outras coisas.

Percepção
As sensações são provenientes de destinos, como acabamos de
ver, porém, elas precisam ser analisadas e interpretadas pelo cérebro.
A esta análise e interpretação chamamos de percepção. Desta forma,
“a percepção é um processo construtivo pelo qual vamos além dos
estímulos que nos são apresentados e tentamos construir uma situação
com sentido”, como diz Feldman (2015, p. 116).

• Assista ao vídeo do link a seguir, que demonstra de forma breve o


conceito de percepção, para que se tenha maior compreensão dessa
Psicologia do Desenvolvimento 29

função mental. Disponível em: https://bit.ly/3iRugu0. Acesso em: 17


set.2020.

Há uma linha de pensamento na Psicologia que deu grande


importância ao estudar a percepção, que foi a Escola da Gestalt. Para
os gestaltistas há princípios que regem as sensações, principalmente as
visuais, e que organizam a percepção. São eles: da Unidade, Semelhança,
Proximidade, Segregação, Fechamento, Continuidade, Pregnância e
Simetria. Vamos ver alguns deles a seguir:

O princípio do fechamento
Nosso cérebro agrupa elementos, para que percebamos figuras
fechadas, completas, como no exemplo abaixo. Você vê linhas que
formam ângulos, porém, você percebe um triângulo e a figura em si não
fecha a forma triangular.

Figura 2: Princípio do fechamento

Fonte: BOOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, A. de L. T. Psicologias: Uma introdução ao


estudo de Psicologia. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 83.

Princípio de proximidade
Nosso cérebro agrupa elementos próximos. Na imagem abaixo
você vê uma linha ou pontos agrupados de dois em dois, normalmente
seu cérebro escolherá a ver o agrupamento.
30 Psicologia do Desenvolvimento

Figura 3: Princípio da proximidade

Fonte: BOOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, A. de L. T. Psicologias: Uma introdução ao


estudo de Psicologia. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 82.

Princípio da semelhança
Da mesma forma, tendemos a agrupar os elementos que são
semelhantes ao invés de visualizar o todo, como na figura a seguir, em
que percebemos melhor as linhas do que as colunas.

Figura 4: Princípio do fechamento

Fonte: BOOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, A. de L. T. Psicologias: Uma introdução ao


estudo de Psicologia. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 82.
Psicologia do Desenvolvimento 31

SAIBA MAIS:

Alguns dos maiores estudiosos da percepção eram de uma


escola psicológica chamada de Gestalt. Eles descreveram os
princípios que estamos vendo aqui. Para saber mais, assista
à aula da Khan Academy sobre os princípios da Gestalt,
disponível em https://bit.ly/32G0QJQ. Acesso em: 17 set. 2020.

Princípio da simplicidade
Quando há um padrão, tendemos a percebê-lo da maneira mais
simples possível. Nosso cérebro normalmente preenche as lacunas, logo,
a imagem abaixo pode ser interpretada como um retângulo no primeiro
momento ou ser uma forma mais simples. Em seguida, pode-se perceber
duas letras K, ou W e M.

Figura 5: Princípio da simplicidade

Fonte: Elaborada pela autora (2020).

Princípio da figura e fundo


O cérebro faz uma distinção entre o fundo e a figura em si,
produzindo diferentes significados, como nas imagens abaixo:
32 Psicologia do Desenvolvimento

Figura 6: Princípio da figura e fundo

Fonte: Pixabay e Wikipedia

Desta forma, temos uma capacidade de constância perceptual,


que nada mais é do que a percepção dos objetos, enquanto constantes,
mesmo que haja mudanças, como quando um carro passa e você o
observa, ele parece diminuir quanto mais longe estiver. Porém, pela
constância perceptual, sabemos que o carro não diminui, e sim que há
uma mudança na sua percepção pelo distanciamento dele.

Você sabia? Que o princípio da figura e fundo deu origem ao


mesmo conceito na Gestalt-terapia? Para os gestaltistas, quando algo é
a figura, significa que está em nosso consciente, como uma ideia ou uma
lembrança. O que não está em nosso consciente, aquilo que não estamos
focando no momento, é o fundo.

Memória
A memória é uma função primordial para sobrevivência, adaptação
e desenvolvimento do indivíduo. Com a memória conseguimos codificar,
armazenar e recuperar as informações sobre nós mesmos e o mundo que
nos rodeia. Não seríamos quem somos sem a nossa memória.

E ela é um processo complexo, o qual podemos subdividir para


compreender suas diferentes funções:
Psicologia do Desenvolvimento 33

Memória sensorial
• A memória sensorial é o primeiro sistema de memória desenvolvida no
ser humano, pois ela representa um retrato breve, como uma imagem
de um raio que entra pela visão, mas que logo se perde se não for
transferida para outro tipo de memória. Assim, é um armazenamento
muito breve das informações processadas, por meio dos órgãos de
sentido.

Memória de curto prazo


A memória sensorial se dá por estímulos sensoriais simples, para
que eles tenham significado, é preciso transferi-los para a memória de
curto prazo. Desta forma, a memória de curto prazo produz um sentido
para as informações recebidas, mas se o processo não continuar, esta
memória também é breve e as informações se perdem.

Acredita-se que as informações permanecem na memória de curto


prazo por, no máximo, 25 segundos. Após esse tempo, se não passar para
outra memória, a informação se perde. Um bom exemplo é que quando
tentamos reter um número de telefone para discar no telefone ou até
anotarmos em um papel, após discar ou anotar, não nos lembramos mais
do número.

SAIBA MAIS:

Que tal saber um pouco mais sobre como funciona a memória?


Recomendamos a leitura do artigo dos pesquisadores Carlos
Alberto Mourão Júnior e Nicole Costa Faria, da Universidade
Federal de Juiz de Fora, disponível em https://bit.ly/3kqrIU5.
Acesso em: 17 set. 2020.

Memória de trabalho
Embora a memória de curto prazo seja mais breve, ela tem
papel importante, seleciona as informações que devem ser guardadas,
34 Psicologia do Desenvolvimento

enviando-as para outras memórias, como a de trabalho. A memória de


trabalho também possui um tempo determinado, porém, um pouco
maior que a da etapa anterior. Ela manipula as informações a partir de
memórias preexistentes. Como exemplo, ao realizarmos uma conta
complexa mentalmente, lembramos dos processos envolvidos no cálculo
e focamos na realização da tarefa, porém, após realizado o cálculo, não
lembramos mais os passos que nos levaram até o resultado.

• Você sabia? Que, de acordo com a Associação Internacional do


Alzheimer, em 2030, aproximadamente, 75 milhões de pessoas
serão acometidas pelo Alzheimer? Saiba um pouco mais sobre essa
doença no site do Hospital Israelita Albert Einstein, disponível em
https://bit.ly/3cfBEwX. Acesso em: 17 set. 2020.

Memória de longo prazo


São as informações que, de fato, estão armazenadas em nosso
“sistema” e são acessadas quando necessitamos. Esta memória pode ser
subdividida em módulos, como caixas de armazenamento de diversos
tipos de informação, como veremos a seguir.

Memória declarativa
Memória que grava fato ou informações sobre pessoas e coisas,
como o nome das pessoas, suas feições, fatos e datas.

Memória processual
Memória de como realizar operações e de habilidades como andar
de bicicleta, dirigir, entre outras. É a memória que guarda informação de
como realizar alguma atividade.

Memória semântica
Informações e conhecimentos sobre fatos, sequências e lógica.
Podemos chamar essa memória de almanaque ou enciclopédia, onde se
armazenam memórias, como saber que a Independência foi declarada às
Psicologia do Desenvolvimento 35

margens de um rio, que se chamava Ipiranga, por um príncipe regente,


entre outras.

Memória episódica
Guarda os eventos, sejam eles passados ou futuros, como data de
comemoração do aniversário de casamento ou marcar e organizar a festa
dos filhos.

Memória explícita
Ocorre quando tentamos recordar algo de forma intencional.

Memória implícita
São aquelas memórias que, às vezes, nos aparecem do nada, sem
querermos recordar, e têm grande influência em nosso estado emocional.

Memória instantânea
Memórias ligadas a eventos muito específicos e importantes e que
podem ser lembradas com detalhes, como você se lembrar de como foi
seu primeiro beijo ou o que estava fazendo no dia em que o World Trade
Center sofreu o ataque terrorista em 11/09/2001. Embora lembremos
com detalhes, nem sempre essa memória é precisa, pois, normalmente,
ela está ligada à emoção, a qual pode alterar nossa percepção dos fatos
ocorridos.

• Você sabia? Que o Alzheimer ainda não tem cura? Porém, há pesquisas
promissoras tanto na descoberta das causas da doença quanto na
produção de medicamentos, que retardem os sintomas. De qualquer
forma, o melhor é cuidar bem do seu corpo e de sua mente. E este
cuidado envolve todos os setores da vida: emocional, nutricional,
exercícios físicos, novas aprendizagens, socialização, entre outros.
Cuide bem da sua memória!
36 Psicologia do Desenvolvimento

Pensamento e raciocínio lógico


Segundo Feldman:

Os psicólogos definem o pensamento como a manipulação das


representações mentais da informação. Uma representação
pode assumir a forma de uma palavra, de uma imagem visual, de
um som ou de dados em qualquer outra modalidade sensorial,
em que estejam armazenados na memória. O pensar transforma
determinada representação da informação em formas novas
e diferentes, permitindo-nos responder perguntas, resolver
problemas ou alcançar objetivos (2015, p. 241).

Desta forma, para transformar as representações, o nosso


pensamento é feito de imagens e de conceitos mentais.

As imagens mentais são produzidas por meio das sensações, e


não significam que devam ser somente visuais, isto é, ao olharmos para
uma cadeira teremos em mente sua imagem, porém, ao escutarmos e
registrarmos mentalmente uma melodia, ela será em imagem mental.
Assim, as imagens mentais são representações dos objetos ou produtos
do mundo real, possibilitadas pelos sentidos e pela memória.

Já os conceitos mentais são a capacidade de agruparmos as


representações em categorias. Por exemplo, conhecemos um gato e
um leão, mesmo que não tenha visto um leão. Assim, temos as imagens
mentais dos dois e sabemos que um é domesticado e o outro não. O
conceito mental permite que classifiquemos o gato como um animal, no
qual podemos passar a mão para fazer carinho, enquanto o leão não.

Por fim, o raciocínio lógico é formado por regras internalizadas


para se chegar à solução de um problema e por atalhos cognitivos, que
auxiliam na busca por novas formas de resolver os problemas.

Você sabia? Que os jogos de celular podem ajudar na melhoria do


raciocínio lógico, tanto de crianças quanto de adultos? Recomendamos
a leitura do artigo “Sete aplicativos para exercitar o cérebro e a função
de cognitiva”, disponível em https://glo.bo/3mvtlBY. Acesso em: 17 de set.
2020.
Psicologia do Desenvolvimento 37

Linguagem
Há inúmeros estudos que se voltam para a linguagem, para
compreender seu funcionamento e sua importância, tanto que há áreas
específicas que se preocupam com as diversas facetas da linguagem,
como a linguística e a fonoaudiologia.

Para Feldman:

O uso da linguagem – a comunicação de informações por


meio de símbolos de organizados, de acordo com regras
sistemáticas – é uma capacidade cognitiva central, que é
indispensável para nos comunicarmos uns com os outros.
Além de ser crucial para a comunicação, ela também está
intimamente vinculada ao modo como pensamos sobre
o mundo e o compreendemos. Sem a linguagem, nossa
capacidade de transmitir informações, adquirir conhecimentos
e colaborar com os outros seria extremamente prejudicada
(2015, p. 257).

Linguagem é diferente de língua! A língua requer uma estrutura fixa,


como uma gramática, entre outros aspectos, para se estabelecer como
tal. A linguagem pode se utilizar de símbolos, como a língua falada, escrita
ou de sinais, mas tem como principal função comunicar. Se pensarmos
em animais, veremos que eles não possuem uma língua, e sim uma
linguagem, a qual possibilita que interajam.

• Leia o artigo “Aquisição e desenvolvimento da linguagem: dificuldades


que podem surgir neste percurso” e aprofunde seus conhecimentos
nos problemas gerados durante o desenvolvimento da linguagem,
disponível em https://bit.ly/2Eeq7l2. Acesso em: 17 set. 2020.

De forma breve, vamos ver no quadro abaixo como se dá o


desenvolvimento da linguagem dos seres humanos:
38 Psicologia do Desenvolvimento

Quadro 3: Desenvolvimento da linguagem

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

É preciso salientar que essas idades são aproximações para que tais
eventos aconteçam, mas não são uma regra. Quem já esteve em contato
com bebês, consegue visualizar as situações relatadas acima e saberá
que, uma vez iniciado o processo de desenvolvimento da linguagem, a
interação com os adultos e outras crianças é fundamental para que o
bebê aumente o seu vocabulário.

Reflita: Quando falamos com crianças, é normal modificarmos


nosso tom de voz e/ou alterarmos algumas palavras. Porém, e quando
os pais e/ou cuidadores utilizam a fala infantilizada constantemente? Isto
Psicologia do Desenvolvimento 39

pode ser um prejuízo no desenvolvimento da linguagem da criança? O


que você acha? Pesquise mais sobre o assunto.

Atenção
Quando temos uma grande quantidade de informações em
nosso ambiente e processamos somente parte dela é porque estamos
colocando em ação a habilidade de atenção! Sem atenção, não temos
como selecionar as informações e retê-las na memória.

SAIBA MAIS:

Há técnicas que trabalham a atenção, entre elas, podemos citar


a meditação. Hoje, uma das áreas promissoras da Psicologia é
domingo de Mindfulness! Esta técnica é uma meditação, que
foca no momento presente e na atenção plena. Saiba mais
sobre ela na reportagem da Superinteressante, disponível em
https://bit.ly/2RypW74. Acesso em: 17 set. 2020.

De acordo com Sternberg, há quatro principais funções de atenção,


conforme quadro a seguir:
40 Psicologia do Desenvolvimento

Quadro 4: Funções da atenção

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

Como vemos no quadro acima, a atenção é a função capaz de


nos manter seguros em nosso ambiente, pois seleciona qual informação
é a mais importante naquele momento, nos preparando para as ações
seguintes.

Emoções
Por fim, não podemos esquecer que somos seres com emoções,
simples e complexas, e que elas atuam tanto em nosso psicológico
quanto em nosso corpo. Para Papalia, Olds e Feldman:
Psicologia do Desenvolvimento 41

O desenvolvimento emocional é um processo ordenado; emoções


complexas se desdobram de emoções mais simples. O padrão de
reações emocionais característicos de uma pessoa começa a se
desenvolver durante a primeira infância, constituindo um elemento básico
da personalidade. Entretanto, quando a criança fica mais velha, algumas
respostas emocionais podem mudar [...] A emoção está intimamente ligada
a outros aspectos do desenvolvimento. Um recém-nascido, por exemplo,
negligenciado emocionalmente – ninguém abraça, acaricia ou fala com
ele –poderá apresentar insuficiência de crescimento não orgânica, isto
é, incapacidade de crescer e ganhar peso, apesar de adequadamente
nutrido (2010, p. 194).

Assim, conforme as autoras, o desenvolvimento emocional inicia-


se com emoções básicas, como tristeza, alegria, medo ou raiva, e, aos
poucos, vai se desenvolvendo em emoções mais complexas, como culpa,
orgulho, vergonha, empatia, entre outras.

• Muitas crianças e jovens apresentam quadros de transtornos de


conduta ou de comportamento. Boa parte dos casos acontece por
uma falha no desenvolvimento emocional do indivíduo, isto é, por
não ter aprendido um repertório diverso das emoções. Assim, muitas
pessoas passam a vida lutando com emoções não compreendidas.
Para isso, e outras tantas situações, é que a psicoterapia existe. Ir ao
psicólogo ainda é um estigma. Porém, reflita: se você sentir dor de
dente, não irá ao dentista? E se você tiver uma dor no peito, fará que
não existe? Por que deve ser diferente com a dor emocional? Saúde
mental deve ser uma prioridade, assim como a saúde física, sempre!

A seguir, veja o quadro produzido pelas autoras a respeito do


desenvolvimento emocional do nascimento aos três anos.
42 Psicologia do Desenvolvimento

Quadro 5: Desenvolvimento emocional de 0-36 meses

Fonte: Elaborado pela autora com base em Papalia, Olds e Feldman (2010, p. 194).

Como podemos perceber pelo quadro acima, os bebês vão se


desenvolvendo emocionalmente em relação com o ambiente e com
seus cuidadores. Por isso, é tão importante que as crianças se relacionem
com outras pessoas desde cedo, para que experimentem e elaborem
diferentes emoções.

• Aprofunde seus conhecimentos acerca do desenvolvimento


emocional com a leitura do artigo “Desenvolvimento da
compreensão emocional”, das pesquisadoras Maria da Glória
Franco e Nathália Santos, da Universidade da Madeira, disponível
em https://bit.ly/2RD6KoQ. Acesso em: 17 set. 2020.
Psicologia do Desenvolvimento 43

• Para melhor compreender os tópicos 3 e 4, assista à aula do professor


Liércio Pinheiro, “Neuropsicologia dos transtornos do desenvolvimento:
Conceito e Teoria”, disponível em https://bit.ly/32EYkU1. Acesso em:
17 set. 2020.

RESUMINDO:

Neste tópico, vimos que com todos estes fatores, assim


como outros derivados da interação deles, formamos a
nossa subjetividade. Embora o desenvolvimento emocional,
do raciocínio, da linguagem, da percepção, da atenção, da
memória e das sensações ocorrem com bases biológicas
e sigam um determinado roteiro, seu conjunto faz com que
cada ser humano seja único e de significados diferentes para
o mundo.
44 Psicologia do Desenvolvimento

Transtornos mentais e o desenvolvimento


da aprendizagem
INTRODUÇÃO:

Ao término deste tópico, você será capaz de entender os


processos de transtornos mentais que constituem e podem
estar relacionados com a aprendizagem. E então? Será que
conhecer os transtornos do neurodesenvolvimento auxiliam
no processo de aprendizagem? Então, vamos lá!

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V)


agrupa os chamados transtornos de desenvolvimento sob a categoria de
“Transtornos de Neurodesenvolvimento”, porém, é preciso ter em mente
que, na maior parte dos casos, os transtornos mentais estão ligados aos
distúrbios fisiológicos, os quais trabalharemos no próximo tópico desta
unidade. Ao mesmo tempo, os transtornos de neurodesenvolvimento
têm, muitas vezes, ligação com o biológico, não apenas o psicológico.
Assim segundo DSM-V:

Os transtornos do neurodesenvolvimento são um grupo


de condições com início no período de desenvolvimento.
Os transtornos tipicamente se manifestam cedo no
desenvolvimento, em geral antes de a criança ingressar na
escola, sendo caracterizados por déficits no desenvolvimento
que acarretam prejuízos no funcionamento pessoal, social,
acadêmico ou profissional. Os déficits de desenvolvimento
variam desde limitações muito específicas na aprendizagem
ou no controle de funções executivas, até prejuízos globais
em habilidades sociais ou inteligência. É frequente a
ocorrência de mais de um transtorno no desenvolvimento
neurodesenvolvimento, por exemplo, indivíduos com
transtorno de espectro autista frequentemente apresentam
deficiência intelectual (transtorno de desenvolvimento
intelectual), e muitas crianças com transtorno de déficit
Psicologia do Desenvolvimento 45

de atenção/hiperatividade (TDAH) apresentam também


transtorno específico da aprendizagem (2014, p. 31).

Como podemos ver, os transtornos de desenvolvimento podem vir


de forma separada ou em conjunto com outro transtorno. Não é apenas
o DSM que orienta sobre tais transtornos, a Classificação Estatística
Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde,
conhecida como CID-10 (pois está em sua décima edição), também
dá diretrizes sobre a saúde mental, porém, é mais amplo que o DSM,
englobando todas as doenças, não apenas as mentais.

Ambos os manuais estabelecem códigos para que a comunidade


científica médica possa se orientar em seus diagnósticos e seus
encaminhamentos. Desta forma, quando a escola recebe algum laudo
a respeito de avaliações neuropsicológicas dos alunos, os códigos
estarão sempre presentes e auxiliam na pesquisa a respeito do transtorno
relacionado.

• Para ter maior clareza sobre o que são DSM-V e CID-10, assista
ao vídeo no canal de Filosofia Psique, disponível em https://bit.
ly/3iOy9Ag. Acesso em: 18 set. 2020.

Assim, conforme a tabela abaixo, podemos ter os seguintes


transtornos relacionados ao neurodesenvolvimento, os quais afetam a
aprendizagem:

Quadro 6: Transtornos do neurodesenvolvimento segundo o DSM-V


46 Psicologia do Desenvolvimento

Fonte: Elaborado pela autora (2020).

Como se pode ver pela tabela acima, são muitos os transtornos


mentais que podem interferir no desenvolvimento da aprendizagem do
indivíduo. Saber as características de cada um deles é importante para ter
noção de como cada indivíduo aprende e quais dificuldades encontrará.

Não menos importante, podemos citar ansiedade e depressão


como quadros que influenciam no desenvolvimento da aprendizagem,
bem como outros tantos transtornos de ordem mental, cada um interferido
por suas próprias razões.

• Não é somente a ansiedade que pode causar prejuízos na


aprendizagem, mas também problemas na autoimagem. As
Psicologia do Desenvolvimento 47

pesquisadoras Monalisa Muniz e Débora Fernandes escreveram


um artigo sobre esses dois fatores e sua relação com a
aprendizagem de alunos do Ensino Fundamental, que está
disponível em: https://bit.ly/3iIgaLv. Acesso: 18 set. 2020.

RESUMINDO:

Neste tópico, vimos que o transtorno mental é um campo


extremamente amplo e a sua relação com aprendizagem. E
o que precisamos ter em mente é que os transtornos não são
iguais entre si e podem apresentar desafios dos mais diversos
em sala de aula.
48 Psicologia do Desenvolvimento

Distúrbios fisiológicos e o desenvolvimento


da aprendizagem
INTRODUÇÃO:

Ao término deste tópico, você será capaz de entender os


distúrbios fisiológicos mais relevantes para o processo de
desenvolvimento da aprendizagem e que muitos transtornos
mentais vêm acompanhados de distúrbios fisiológicos, e
vice-versa. E então? Será que fazer distinção entre eles pode
auxiliar na aprendizagem? Então, vamos lá!

Como dissemos anteriormente, muitos transtornos mentais vêm


acompanhados de distúrbios fisiológicos e vice-versa. Porém, é preciso
que façamos aqui uma distinção entre os problemas, que são de ordem
fisiológica e que interferem na aprendizagem com um déficit, e aqueles
problemas que são, na verdade, de ordem de visão de quem aprende de
forma comum em boa parte da população.

Vamos entender um pouco melhor. Um aluno com deficiência


auditiva, visual ou motora pode, em muitos casos, não apresentar nenhum
déficit cognitivo, apenas necessitará de formas diferentes de ensino para
adquirir os conhecimentos e desenvolver habilidades.

Já os alunos que tenham passado por acidentes envolvendo o


cérebro, como tumores, paralisia cerebral, epilepsia ou outras situações,
que interferem na função cerebral, apresenta, muitas vezes, déficit no
desenvolvimento da aprendizagem. Também entram nesses quadros
algumas síndromes cromossômicas, as quais fazem com que o
funcionamento do cérebro seja atípico, isto é, diferente de uma pessoa
sem síndromes ou distúrbios de zoológicos.

Você sabe o que é a epilepsia? Segundo a Liga Brasileira de


Epilepsia, é uma alteração no funcionamento do cérebro, com emissão
de sinais incorretos durante alguns minutos ou segundos. A epilepsia nem
sempre se apresenta com quadros de convulsões severas, como às vezes
costumamos pensar. Recomendamos a leitura do artigo
Psicologia do Desenvolvimento 49

Assim, para compreendermos alguma dessas situações, vamos


ver a seguir, de forma breve, um pouco mais sobre a epilepsia e paralisia
cerebral.

Segundo Rudimar Riesgo:

Como aprendizado é, na realidade, o primeiro dos três


passos mnemônicos, e como em um cérebro epilético
pode haver perturbação da atividade cerebral como um
todo ou em determinados “focos” de atividade irritativa,
não é surpreendente que crianças epiléticas possam ter,
concomitante, problemas atencionais e de aprendizagem [...]
(ROTTA; OHLWEILER; RIESGO, 2016. p. 410).

Crises de epilepsia podem comprometer tanto a atenção quanto


a memória, ambos responsáveis pela aprendizagem. Além do fator
neurológico, a criança com epilepsia pode sofrer com baixa autoestima,
ansiedade por causa de suas crises convulsivas e dificuldades de
relacionamento.

Já a paralisia cerebral se configura como:

[...] uma sequela predominantemente motora de um


insulto orgânico, ocorrido durante as etapas iniciais do
desenvolvimento psicomotor (DNPM) da criança. Portanto,
por definição, paralisia cerebral não é doença em evolução
(ROTTA; OHLWEILER; RIESGO, 2016. p. 410).

Estes insultos orgânicos podem ser infecções, falta de oxigenação,


malformação do sistema nervoso central, entre outros.

• A respeito da paralisia cerebral, recomendamos a leitura sobre síndromes


de paralisia cerebral (PC), disponível em https://msdmnls.co/2RFR5VU.
Acesso em: 18 set. 2020.

Como se pode perceber, a gama de transtornos ou distúrbios que


podem afetar aprendizagem é imensa e pode ocorrer desde a baixa
autoestima até a uma lesão no sistema nervoso central, quanto afetar
áreas como linguagem, raciocínio, atenção, memória ou percepção.
50 Psicologia do Desenvolvimento

Por isso, se você achou interessante saber sobre como nós


desenvolvemos nossas funções cognitivas, nossa personalidade e quais
são os possíveis déficits na aprendizagem, pesquise mais sobre o assunto
tratado nessa unidade. Tenho certeza de que você ficará maravilhado com
o mundo de conhecimento e áreas de atuação dentro da psicologia do
desenvolvimento!

• Para ampliar seus horizontes de conhecimentos sobre desenvolvimento


humano e aprendizagem, recomendamos o vídeo a seguir, que trata
dos métodos e de fatores adjacentes que interferem no processo de
aprender. Disponível em: https://bit.ly/2RDpXqn. Acesso em: 18 set.
2020.

RESUMINDO:

Neste tópico, vimos que a área de estudos dos Transtornos de


Aprendizagem é muito vasta, e normalmente os pesquisadores
se concentram em alguns pontos dos transtornos, tentando
compreender sua biologia e suas implicações psicológicas e
sociais.
Psicologia do Desenvolvimento 51

REFERÊNCIAS
APA. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos metais. 5. ed.
DSM-V. Porto Alegre: Artmed, 2014, pp. 72-74.

DICIONÁRIO PRIBERAM DA LÍNGUA PORTUGUESA [em linha],


2008-2013. Disponível em: https://bit.ly/3krgVZQ. Acesso em: 16 set. 2020.

FELDMAN, R. S. Introdução à Psicologia. Porto Alegre: AMGH, 2015.

HALL, C.; LINDZEY, G.; CAMPBELL, J. Teorias da Personalidade.


Porto Alegre: Artmed, 2000.

PAPALIA, D. F.; OLDS,................S. W.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento


Humano. Porto Alegre: AMGH, 2010.

ROTTA, N. T.; OHWEILER, L.; RIESGO, R. S. (orgs.). Transtornos


da aprendizagem: abordagem neurobiológica e multidisciplinar. Porto
Alegre: Artmed, 2016.

STERNBERG, R. J. Psicologia Cognitiva. São Paulo: Cengage,


2016.
Psicologia do
Desenvolvimento

Tainá Thies

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