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Licitações Públicas

Unidade 1
Fundamentos Licitatórios
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
ELAINE CHRISTINE PESSOA DELGADO
MILENA BARBOSA DE MELO
AUTORIA
Elaine Christine Pessoa Delgado
Sou formada em Administração de Empresas pela Universidade
Federal de Campina Grande (2007) e pós-graduada em Direito
Administrativo pela Faculdade Campos Elíseos (SP), com experiência
técnico-profissional na área de gerência de empresas há mais de 10 anos.

Milena Barbosa de Melo


Sou graduada em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba,
mestre e especialista em Direito Comunitário e doutora em Direito
Internacional pela Universidade de Coimbra. Atualmente, sou professora
universitária e conteudista. Como jurista, atuo principalmente nas
seguintes áreas: Direito à Saúde, Direito Internacional Público e Privado,
Jurisdição Internacional, Direito Empresarial, Direito do Desenvolvimento,
Direito da Propriedade Intelectual e Direito Digital.

Desse modo, fomos convidadas pela Editora Telesapiens a integrar


seu elenco de autores independentes. Estamos muito felizes em poder
ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte conosco.
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

OBJETIVO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova compe- novo conceito;
tência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou dis-
mento; cutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Conceito - finalidade - objeto - destinatários e obrigatoriedade
de licitar........................................................................................................... 12
Conceito ................................................................................................................................................ 12

Objetivos da licitação.................................................................................................................... 14

Objeto da licitação........................................................................................................................... 16

Destinatários e obrigatoriedade de licitar...................................................................... 18

Legislação e princípios licitatórios....................................................... 24


Legislação da licitação.................................................................................................................24

Princípios licitatórios......................................................................................................................25

Legalidade.........................................................................................................................26

Impessoalidade e igualdade................................................................................26

Interesse público...........................................................................................................27

Moralidade e probidade administrativa........................................................27

Publicidade e transparência.................................................................................28

Julgamento objetivo...................................................................................................29

Vinculação ao edital....................................................................................................29

Razoabilidade e proporcionalidade................................................................ 30

Motivação.......................................................................................................................... 30

Celeridade.......................................................................................................................... 31

Competitividade............................................................................................................. 31

Eficiência, eficácia e efetividade........................................................................ 31

Segregação de funções........................................................................32

Segurança jurídica.....................................................................................32
Planejamento................................................................................................33

Desenvolvimento nacional sustentável ...................................33

Modalidades de licitação......................................................................... 35
Modalidades........................................................................................................................................35

Concorrência................................................................................................................... 36

Concurso.............................................................................................................................37

Leilão..................................................................................................................................... 39

Pregão.................................................................................................................................. 40

Diálogo competitivo.................................................................................................... 41

Tipos de licitação e Sistema de Registro de Preços.....................44


Critérios de julgamento de licitação..................................................................................44

Sistema de Registro de Preços..............................................................................................47


Licitações Públicas 9

01
UNIDADE
10 Licitações Públicas

INTRODUÇÃO
A Administração Pública antes de realizar uma contratação de
determinados objetos deve efetuar um procedimento chamado de
licitação. Para isso, devem ser seguidas regras que estão dispostas na Lei
nº 14.133/2021, que trata exclusivamente das licitações e dos contratos
administrativos.

Você sabia que que as licitações públicas têm grande importância


para a Administração Pública e para todos os cidadãos que buscam
transparência e legalidade nos procedimentos de compras e serviços
públicos? Nesta unidade iremos conhecer os conceitos iniciais da
licitação, assim como as leis importantíssimas que regulam essas
licitações públicas e várias medidas que devem ser tomadas tanto pela
Administração Pública como pelos licitantes interessados.

E as modalidades de licitação e os critérios de julgamento de


licitação, você conhece? Vamos entender também como é importante
saber distingui-los e conhecê-los. Mas não fica por aí, o Sistema de
Registro de Preços é uma importante ferramenta para as licitações
públicas e suas principais características serão analisadas também. Ao
longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo!
Licitações Públicas 11

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso objetivo é auxiliar
você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até
o término desta etapa de estudos:

1. Entender o conceito, a finalidade, o objeto, os destinatários e a


obrigatoriedade de licitar.

2. Conhecer a legislação e os princípios específicos da licitação.

3. Caracterizar as modalidades licitatórias.

4. Identificar os tipos de licitação e compreender o Sistema de Registro


de Preços.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento? Ao trabalho!
12 Licitações Públicas

Conceito - finalidade - objeto - destinatários


e obrigatoriedade de licitar
OBJETIVO:

Ao término deste capítulo você será capaz de entender o


significado das licitações públicas e o seu objeto principal.
Conhecerá para quais destinatários as licitações são
propostas e quem é obrigado licitar. Isso será fundamental
para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para
desenvolver esta competência? Vamos lá.

Conceito
Vamos iniciar nosso estudo conceituando licitação. Você sabe o
que significa? Para Alexandrino e Paulo (2012), licitação é conceituada
como um procedimento administrativo que deve ser obrigatoriamente
observado pelos entes governamentais, buscando a melhor proposta
diante das apresentadas pelos interessados em como elas tomam
determinadas relações de cunho patrimonial, desde que preenchidas
as condições mínimas à boa execução das obrigações a que eles se
propõem, observando sempre a igualdade entre os participantes.

Segundo Scatolino e Trindade (2016, p. 525), “trata-se de uma


sucessão de atos, encadeados entre si, em que todos os atos a
serem praticados são definidos por lei. Por ser uma sequência de atos
coordenados, tem natureza de procedimento administrativo”.

Dessa forma, a licitação se apresenta como um procedimento


administrativo, tendo como principal característica a de ser formada por
uma série de atos administrativos em que a Administração Pública escolhe
a proposta mais vantajosa para um futuro contrato que tenha interesse.

Mello (2012, p. 532) confirma quando estabelece que “a licitação


estriba-se na ideia de competição a ser travada isonomicamente entre
os que preencham os atributos e as aptidões necessários ao bom
cumprimento das obrigações que se propõem assumir”.
Licitações Públicas 13

Alexandrino e Paulo (2012) destacam ainda que a licitação traz


gravada a ideia de disputa isonômica que ao final será selecionada a
proposta mais vantajosa de acordo com os interesses da administração,
com o objetivo de celebrar um contrato administrativo (Figura 1) para
a realização de obras, serviços, concessões, permissões, compras,
alienações ou locações, tendo de um lado desse contrato a administração
e do outro o vencedor do certame.
Figura 1 - Contrato administrativo

Fonte: Pixabay

A licitação ainda estará relacionada com a função administrativa, como


conceitua Di Pietro (2013, p. 370):

Pode-se definir a licitação como o procedimento administrativo


pelo qual um ente público, no exercício da função
administrativa, abre a todos os interessados, que se sujeitem às
condições fixadas no instrumento convocatório, possibilidade
de formularem propostas dentre as quais selecionará e aceitará
a mais conveniente para a celebração de contrato.

A licitação apresenta-se como um procedimento usado para conceder


a possibilidade aos vários interessados em oferecer propostas para, ao final,
escolher aquela considerada a mais vantajosa para a Administração.
14 Licitações Públicas

Di Pietro (2013) comenta sobre alguns pontos referentes ao conceito


que se faz necessário observarmos. Vejamos: A administração abre, a
todos os interessados que se sujeitem às condições fixadas no instrumento
convocatório, a possibilidade de apresentação de proposta. Dessa forma,
o atendimento da convocação implica na aceitação das condições
ali estabelecidas. E essa abertura é dirigida a toda a coletividade que
preencha os requisitos legais e regulamentares. Por fim, o ente público
deverá selecionar a proposta que seja mais conveniente para resguardar
o interesse público, dentro das condições fixadas no ato convocatório.

Objetivos da licitação
O objetivo (Figura 2) ou destinação da licitação está totalmente
interligada com o seu conceito e está disciplinada na Lei nº 14.133/2021 em
seu art. 11, a qual dispõe que a licitação possui quatro objetivos, que são:

I - Assegurar a seleção da proposta que seja capaz de


originar um resultado de contratação mais vantajoso para a
Administração Pública, até mesmo referente ao ciclo de vida
do projeto;

II - Assegurar tratamento isonômico entre os licitantes, assim


como uma justa competição;

III - evitar contratações com sobrepreço ou com preços


manifestamente inexequíveis e superfaturamento na execução
dos contratos;

IV - incentivar a inovação e o desenvolvimento nacional


sustentável. (BRASIL, 2021)

Exemplo: João é primo do prefeito da cidade de Senhor dos Anjos


e possui uma construtora com interesse em fechar um contrato com a
Administração Pública da cidade. Para que tenha mais chance de vencer
o procedimento licitatório, o prefeito enviou para João o edital antes
de ser publicado, para que ele tivesse mais tempo para preparar sua
proposta. Aqui percebe-se que o tratamento dado a João fere o objetivo
do tratamento isonômico e da justa competição.
Licitações Públicas 15

Figura 2 - Objetivos da licitação

Assegurar

Seleção da proposta que seja capaz de originar um resultado de contratação mais


vantajoso para a Administração Pública.

Tratamento isonômico entre os licitantes.

Justa competição.

Evitar

Sobrepreço.

Preços manifestamente inexequíveis.

Superfaturamento.

Incentivar

Inovação.

Desenvolvimento nacional sustentável.

Fonte: Elaborado pelas autoras com base na Lei nº 14.133/2021.

Vejamos a seguir cada ponto desses objetivos em separado para


uma melhor compreensão.

• Escolha da proposta mais vantajosa para a administração –


selecionar a proposta mais vantajosa nem sempre coincide com
a proposta de menor preço, pois deverá ser aquela que atenda
da melhor forma às necessidades da administração, como a
qualidade do produto.

• Observância do princípio constitucional da isonomia – deve ser


proporcionado igualdade entre os participantes no procedimento
licitatório, ou seja, a lei garante o mesmo tratamento para todos
aqueles que participam da licitação, tanto em diretos como
também em obrigações.

• Sobrepreço – relaciona-se com o orçamento, isto é, o preço


estimado para licitação ou contratado em valor superior de forma
expressiva aos preços referenciais de mercado, sendo ele de
apenas um item, caso a licitação ou a contratação seja por preços
unitários de serviço, ou do valor global do objeto, caso a licitação
16 Licitações Públicas

ou a contratação seja por tarefa, empreitada por preço global ou


empreitada integral, semi-integrada ou integrada (BRASIL, 2021).

Exemplo: Quando a Administração contrata a compra de


calculadoras por R$ 200,00 quando o preço de mercado é R$ 15,00.

• Preços manifestamente inexequíveis – para obras e serviços de


engenharia, a Lei nº 14.133/2021 considera como inexequíveis as
propostas que possuírem valores inferiores a 75% do valor orçado.

• Superfaturamento – dano provocado ao patrimônio da


Administração, que podem ser por medições inadequadas em
valores superiores, deficiência na execução que leve à redução
da qualidade ou até mesmo segurança das obras e serviços de
engenharia, alterações no orçamento provocando desequilíbrios
em favor do contratado e alterações que venham a trazer custos
adicionais para a Administração ou pagamentos antecipados
(BRASIL, 2021).

Exemplo: A Administração paga pela construção de uma obra de


800 metros quadrados, mas na verdade a construção foi de apenas 200
metros quadrados.

• Promoção do desenvolvimento nacional sustentável – segundo


Scatolino & Trindade (2016), apesar desse objeto estar voltado
principalmente para aspectos ambientais, também devem estar
incluídos nele todos os aspectos que envolvem uma licitação,
como questões de ordem econômica e desenvolvimento regionais.
Além disso, deve buscar o fortalecimento de cadeias produtivas de
bens e serviços domésticos e o desenvolvimento econômico com
o objetivo de instituir incentivos à pesquisa e inovação. Apresenta-
se como de grande importância pelo fato do considerável impacto
que as compras governamentais têm na economia.

Objeto da licitação
Conforme Scatolino e Trindade (2016), a licitação possui o objeto
imediato que se estabelece através da seleção de determinada proposta
para o atendimento de um fim público e o objeto mediato constituído na
Licitações Públicas 17

obtenção de um proveito para o Poder Público, como uma obra, serviço,


compra, alienação, concessão, permissão, entre outros.

A Lei nº 14.133, de 01 de abril de 2021, em seu art. 2º estabelece que


essa lei se aplica a:

I - alienação e concessão de direito real de uso de bens;

II - compra, inclusive por encomenda;

III - locação;

IV - concessão e permissão de uso de bens públicos;

V - prestação de serviços, inclusive os técnico-profissionais


especializados;

VI - obras e serviços de arquitetura e engenharia;

VII - contratações de tecnologia da informação e de


comunicação. (BRASIL, 2021)

Para melhor entendimento, vamos conhecer algumas definições


que estão apresentadas nessa mesma em seu art. 6º:

Compra: toda aquisição remunerada de bens para fornecimento


de uma só vez ou parceladamente;

Serviço: toda atividade ou conjunto de atividades destinadas


a obter determinada utilidade intelectual ou material de
interesse da administração;

Obra: toda atividade privativa da profissão de arquiteto e


engenheiro que provoca intervenção no meio ambiente
através de ações que inova o espaço físico da natureza ou
ocasiona alteração substancial das características originais do
bem imóvel;

Alienação: transferência de domínio de bens a terceiros.


(BRASIL, 2021)

Concessão e permissão são definidas por Alexandrino e Paulo


(2012) como:
18 Licitações Públicas

• Concessão de serviço público – delegação da prestação feita


pelo poder concedente, por meio de licitação à pessoa jurídica
ou consórcio de empresas que demonstrem capacidade para seu
desempenho, por sua conta e risco e por prazo determinado

• Permissão de serviço público – delegação, por meio de licitação,


da prestação de serviços públicos, feita pelo poder concedente
à pessoa física ou jurídica que demonstre capacidade para seu
desempenho por sua conta e risco.

IMPORTANTE:

Em todas as situações de permissão e concessão de


serviços públicos é obrigatória a licitação de acordo com a
Constituição Federal em seu art. 175 (BRASIL, 1988).

Necessário ainda compreendermos os casos em que não se


aplicam a lei de licitações, que estão descritos no seu art. 3º:

I - contratos que tenham por objeto operação de crédito,


interno ou externo, e gestão de dívida pública, incluídas as
contratações de agente financeiro e a concessão de garantia
relacionadas a esses contratos;

II - contratações sujeitas a normas previstas em legislação própria.

Nos casos de concessão e permissão de serviços públicos, Parcerias


Público-Privadas e serviços de publicidade com agência de propaganda,
a utilização da Lei nº 14.133/2021 será de forma subsidiária.

Destinatários e obrigatoriedade de licitar


Como regra geral, o dever de licitar é obrigatório para toda a
Administração Pública, em todos os níveis da federação (União, Estados,
Municípios, e Distrito Federal), incluindo os três poderes (Executivo, Legislativo
e Judiciário), assim como o Ministério Público e Tribunal de Contas.

Vejamos o que diz o art. 1º da Lei nº 14.133/2021, chamada de Lei


de Licitações:
Licitações Públicas 19

Art. 1º  Esta Lei estabelece normas gerais de licitação


e contratação para as Administrações Públicas diretas,
autárquicas e fundacionais da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, e abrange:

I - os órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário da União,


dos Estados e do Distrito Federal e os órgãos do Poder
Legislativo dos Municípios, quando no desempenho de função
administrativa;

II - os fundos especiais e as demais entidades controladas direta


ou indiretamente pela Administração Pública. (BRASIL, 2021)

SAIBA MAIS:

Para se aprofundar mais sobre os destinatários e


obrigatoriedade de licitar, assista ao vídeo “Âmbito de
aplicação da Lei 14.133/21”. Clique aqui.

De acordo com Scatolino e Trindade (2016), a regra para órgãos


e entidades administrativas é a realização de procedimento licitatório
antes das futuras contratações, de maneira a se alcançar a proposta mais
vantajosa para o contrato a ser firmado.

Mas por que se fala em regra? Existe exceção?

A Constituição Federal, em seu art. 37, inciso XXI (BRASIL, 1988,


p. 21), destaca que: “ressalvados os casos especificados na legislação,
as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante
processo de licitação que assegure igualdade de condições a todos
os concorrentes[...]”. Assim, quando a Constituição fala “ressalvados os
casos especificados na legislação”, ela permite que em determinadas
situações não seja obrigatório o procedimento licitatório, são os casos de
contratação direta.

Em momento oportuno iremos explicar com mais profundidade


esses casos, por ora só é preciso que você saiba que existem hipóteses
nas quais não é necessária a realização de contratos que não sejam
precedidos de licitação.
20 Licitações Públicas

Scatolino e Trindade (2016) ainda destacam o inciso 1º do art. 173


da Constituição Federal em que prevê que a Lei estabelecerá o estatuto
jurídico da empresa pública, da sociedade de economia mista e de
suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou
comercialização de bens ou prestação de serviços, dispondo inclusive
sobre o seu regime licitatório.

Assim, nem toda a Administração Pública deverá se subordinar à


Lei nº 14.133/2021, como o § 1º determina que as empresas públicas, as
sociedades de economia mista e suas subsidiárias serão regidas pela
Lei nº 13.303/2016, exceto quanto às disposições penais, aos critérios de
desempate e à modalidade pregão (BRASIL, 2021).

A Lei nº 13.303/2016 surgiu para suprir essa exigência da Constituição.


Ela apresenta um regime licitatório específico para as empresas públicas,
as sociedades de economia mista e suas subsidiárias, exploradoras de
atividade econômica, ainda que a atividade econômica esteja sujeita ao
regime de monopólio da União ou prestadoras de serviços públicos.

As sociedades de economia mista são sociedades anônimas de


regime jurídico privado que exploram atividade econômica e que possui
o capital distribuído entre o governo e particulares, que normalmente são
investidores:

Art. 4º Sociedade de economia mista é a entidade dotada


de personalidade jurídica de direito privado, com criação
autorizada por lei, sob a forma de sociedade anônima, cujas
ações com direito a voto pertençam em sua maioria à União,
aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios ou a entidade
da administração indireta. (BRASIL, 2016)

Já as empresas públicas têm seu capital pertencente apenas ao


governo, mas também possui o regime jurídico privado:

Art. 3º Empresa pública é a entidade dotada de personalidade


jurídica de direito privado, com criação autorizada por lei e
com patrimônio próprio, cujo capital social é integralmente
detido pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou
pelos Municípios. (BRASIL, 2016)
Licitações Públicas 21

IMPORTANTE:

Não é que a Constituição desobriga as empresas públicas


e sociedades de economia mista de licitarem, de acordo
com o artigo 173 da Constituição, elas podem observar
regras mais simples com a finalidade de possibilitar essas
empresas a ter mais eficiência na sua natureza empresarial,
proporcionando assim uma atuação em situação de
igualdade com as demais empresas privadas.

Existe alguma pessoa jurídica que está desobrigada a licitar


segundo a constituição, que não esteja incluída na regra da empresa
pública e sociedade de economia mista?

Existem casos especiais, segundo o entendimento atual do Tribunal


de Contas da União. Scatolino e Trindade (2016) destacam as seguintes
situações:

• Os Serviços Sociais Autônomos – o Sistema “S” (SESC, SENAT,


SENAI, SENAC) – não necessitam fazer licitação nos padrões da
lei de licitações, porém devem antes das contratações realizar
procedimento que observe os princípios da licitação.

• As entidades privadas que recebem recursos oriundos de


convênios celebrados com entes da Administração Federal, como
as ONGs, não estão obrigadas a realizar licitação propriamente dita
para aquisição de bens e serviços. Podem adotar procedimentos
simplificados, desde que observem os princípios da igualdade,
legalidade, moralidade, publicidade e eficiência administrativa.

• As Organizações Sociais (OS) e as Organizações Sociais Civis


de Interesse Público (OSCIP) devem realizar licitação quando
utilizarem recursos públicos nas contratações, contudo nas demais
contratações, ou seja, naquelas em que os recursos públicos não
estejam envolvidos, estão as entidades dispensadas da obrigação
de licitar.
22 Licitações Públicas

DEFINIÇÃO:

As organizações sociais são pessoas jurídicas de


direito privado, sem fins lucrativos, cujas atividades
sejam orientadas ao ensino, à pesquisa científica, ao
desenvolvimento tecnológico, à proteção e preservação
do meio ambiente, à cultura e à saúde no qual o Poder
Executivo poderá qualificar como organizações sociais,
desde que atendidos os requisitos previstos na Lei nº
9637/1998.

• Concessionárias e Permissionárias de serviços públicos – não


estão obrigadas a licitar quando no exercício das suas atividades,
porém se realizarem, o fazem por interesse próprio e com objetivos
particulares.

NOTA:

Não confunda os casos em que a Administração Pública


contrata as concessionárias ou permissionárias, pois essa
sim, ela é obrigada a licitar. Assim como a contratação das
organizações sociais, visto que nesse caso a Administração
não firma um contrato propriamente dito, mas sim um
regime de parceria por meio de um contrato de gestão.

• Conselhos de Classes e a OAB – por integrarem a administração


indireta dos entes federativos, todos os conselhos de classe
devem se sujeitar às regras de licitação, porém a única exceção é
a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), por ser de natureza sui
generis e por não integrar a Administração Pública, não está sujeita
às regras da Lei de licitações.

Dessa forma, podemos perceber que existem situações que mesmo


que não exista a obrigatoriedade de seguir a Lei nº 14.133/2021, devem
ser observados seus princípios ou até mesmo realizarem procedimentos
simplificados.
Licitações Públicas 23

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo


tudinho? Agora, só para termos certeza de que você
realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo,
vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido
que a licitação pública é um procedimento administrativo
que busca a melhor proposta para a celebração de um
contrato administrativo entre vários interessados que
possuam características necessárias ao bom cumprimento
das obrigações que se propõem a assumir e tem quatro
objetivos explícitos na lei de licitações. Você deve ter
compreendido também que os objetos da licitação são as
obras, os serviços, as compras, as alienações, entre outros.
Por fim, você conheceu que a regra é licitar e que todos
os entes dos três poderes da Administração Pública estão
obrigados a licitar, que existem exceções, mas a regra é a
licitação pública.
24 Licitações Públicas

Legislação e princípios licitatórios


OBJETIVO:

Neste capítulo você conhecerá a legislação pertinente às


licitações públicas e as normas gerais. Entenderá também
quais são os princípios relacionados com as licitações,
determinados explicitamente na legislação, e suas
principais características. Vamos lá?

Legislação da licitação
A estrutura jurídica relacionada à licitação é encontrada de
forma bem ampla, pois ela inicia-se através da nossa Carta Magna – a
Constituição Federal de 1988 – em seu art. 37, inciso XXI, onde está a
base da obrigatoriedade de licitar. Já em seu art. 22, é estabelecido que é
competência privativa da União legislar sobre:

XXVII – normas gerais de licitação e contratação, em todas


as modalidades, para as administrações públicas diretas,
autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal
e Municípios, obedecidos o disposto no art. 37, XXI, e para
as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos
termos do art. 173, inciso 1º, III. (BRASIL, 1988, p. 16)

Assim, Alexandrino e Paulo (2012) destacam que cabe à União legislar


sobre normas gerais e aos Estados e Distrito Federal, e os Municípios
legislarem sobre causas específicas acerca de licitações públicas, desde
que essas leis não contrariem as normas gerais editadas pela União.

IMPORTANTE:

Na legislação infraconstitucional encontramos a chamada


“Lei de Licitações e Contratos Administrativos”, a Lei nº
14.133/2021. Nela encontramos normas gerais sobre
licitações e contratos administrativos, sendo de observância
obrigatória por parte de todos os entes federados (União,
Estados, Distrito Federal e Municípios).
Licitações Públicas 25

No decorrer do nosso estudo iremos falar muito sobre essa Lei nº


14.133/2021.

Princípios licitatórios
A Lei 14.133/2021, em seu art. 5º expressa os princípios que o
procedimento licitatório deverá estar em conformidade, sendo os
seguintes: legalidade, impessoalidade, igualdade, publicidade, moralidade,
probidade administrativa, vinculação ao edital, da eficiência, do interesse
público, da probidade administrativa, do planejamento, da transparência,
da eficácia, da segregação de funções, da motivação, do julgamento
objetivo, da segurança jurídica, da razoabilidade, da competitividade, da
proporcionalidade, da celeridade, da economicidade e do desenvolvimento
nacional sustentável, assim como as disposições constantes na Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro (BRASIL, 2021).
Figura 3 - Princípios Licitatórios

Princípios Licitatórios

Legalidade Desenvolvimento Nacional Sustentável

Impessoalidade Vinculação ao edital

Publicidade Celeridade

Moralidade Planejamento

Transparência Interesse público

Eficiência Segurança jurídica

Eficácia Julgamento objetivo

Economicidade Segregação de funções

Probidade Administrativa Razoabilidade

Motivação Proporcionalidade

Igualdade Competitividade

Fonte: Elaborado pelas autoras com base na Lei nº 14.133/2021.

Carvalho Filho (2009, p. 263) afirma que “tais princípios definem os


lineamentos em que se deve situar o procedimento, não raras a verificação
da validade ou invalidade de atos do procedimento leva em consideração
esses princípios”.
26 Licitações Públicas

Legalidade
De acordo com Scatolino e Trindade (2012), o princípio da legalidade
é aplicável a todo o direito administrativo e significa que o agente só pode
fazer aquilo que a lei autoriza, pois sua função é cumprir a lei. Dessa forma,
o agente público que atua no ramo das licitações está ligado aos limites
definidos em lei e toda sua atividade deve ser pautada nela.

NOTA:

Toda atuação deve ser pautada no que é estabelecido pela


lei e não pela vontade do administrador.

Assim, a Administração Pública deve seguir as regras determinadas


em lei, bem como o devido processo legal nas licitações.

Impessoalidade e igualdade
Alguns autores chamam esse princípio de igualdade entre os
participantes e afirmam que ele está intimamente ligado ao princípio
da isonomia e do julgamento objetivo. Scatolino e Trindade (2016)
explicam que todos os participantes da licitação devem ter o mesmo
tratamento, porquanto a lei proíbe o tratamento diferenciado de natureza
comercial, previdenciária, legal, trabalhista, ou de qualquer outra forma
entre empresas brasileiras e estrangeiras, inclusive referente à moeda,
modalidade ou local de pagamento, mesmo quando envolvidos
financiamentos de agências internacionais, assim como critérios de
preferências ou distinções relacionadas com a naturalidade, da sede ou
domicílio dos licitantes ou qualquer outra circunstância impertinente ou
irrelevante para o objeto do contrato especificado.

NOTA:

A administração não pode levar em conta as condições


pessoais dos licitantes, pois suas decisões devem estar
pautadas em critérios objetivos.
Licitações Públicas 27

Esse princípio comporta exceções, pois nos processos de licitação


poderá ser estabelecida margens de preferência. Vejamos algumas delas
que estão contidas na Lei nº 14.133/2021, em seu art. 26:

Art. 26. No processo de licitação, poderá ser estabelecida


margem de preferência para:

I - bens manufaturados e serviços nacionais que atendam a


normas técnicas brasileiras;

II - bens reciclados, recicláveis ou biodegradáveis, conforme


regulamento. (BRASIL, 2021)

Interesse público
O princípio do interesse público pode estar relacionado com o da
impessoalidade, que vimos anteriormente, pelo fato deste requerer da
Administração Pública uma atuação pautada no atendimento do interesse
público e não nos interesses dos agentes que conduzirão o processo
licitatório ou qualquer outro que não seja o público. Assim, a Administração
não pode levar em conta as condições pessoais dos licitantes, pois suas
decisões devem estar pautadas nas necessidades da coletividade, com a
noção da supremacia do interesse público sobre o privado.

Moralidade e probidade administrativa


Conforme Alexandrino e Paulo (2012), esse princípio se manifesta
na exigência da atuação de forma ética dos agentes da administração
em todas as etapas do procedimento, sendo essa exigência bastante
ressaltada na lei que, reiterando o princípio da moralidade, refere-se à
probidade como princípio referente às licitações.

Segundo Scatolino e Trindade (2016, p. 537), “exige que todos


aqueles que participem da licitação pautem suas condutas conforme a
ética, a boa-fé, os bons costumes e, acima de tudo, a honestidade”.

A não observação do dever de moralidade pode ensejar uma


ação de improbidade, de acordo com a Constituição Federal e a Lei de
Improbidade Administrativa.
28 Licitações Públicas

Publicidade e transparência
Mello (2012) explica que o princípio da publicidade impõe que os
atos e termos da licitação, inclusive a motivação das suas decisões, devem
ser efetivamente expostos ao conhecimento de qualquer interessado,
sendo um dever de transparência em favor não apenas dos participantes
do procedimento, mas de qualquer cidadão.

“Os atos praticados no processo licitatório são públicos, ressalvadas


as hipóteses de informações cujo sigilo seja imprescindível à segurança
da sociedade e do Estado, na forma da lei” (BRASIL, 2021).

Dessa forma, pode-se perceber que a publicidade é a regra,


mas existem exceções que além dos atos que sejam imprescindíveis à
segurança da sociedade e do Estado, a própria Lei nº 14.133/2021 traz
outras hipóteses, que são quanto ao:

• Conteúdo das propostas até a sua abertura.

• Orçamento da Administração.

O objetivo evidente da determinação de observância do princípio


da publicidade (Figura 4) nas licitações é admitir o acompanhamento e a
fiscalização do procedimento, não só pelos licitantes, mas também pelos
vários órgãos de controle interno e externo e pelos administrados em
geral, segundo o entendimento de Alexandrino e Paulo (2012).
Figura 4 - Publicidade

Fonte: Pixabay
Licitações Públicas 29

Já Scatolino e Trindade (2016) ainda destacam que a licitação é um


procedimento que exige ampla divulgação, não apenas pelo instrumento
convocatório, como também em todas as suas fases, pois quanto maior
o número de participantes, maiores são as chances de a Administração
obter uma proposta mais vantajosa.

Podemos entender que o princípio da publicidade está relacionado


com o da transparência, mas não são a mesma coisa, pois as informações
precisam ser divulgadas, ou seja, existir a publicidade. Mas elas também
precisam ser transparentes, isto é, serem disponibilizadas de forma clara,
para que qualquer cidadão consiga compreendê-las para que assim
possam acompanhar a atuação pública.

Julgamento objetivo
Segundo Alexandrino e Paulo (2012), o julgamento objetivo está
baseado no critério apontado no edital e nos termos específicos das
propostas. Por via de regra, não pode haver qualquer discricionariedade
na análise das propostas. Devendo essas serem analisadas de forma
objetiva, restringindo ou eliminando a subjetividade.

Vinculação ao edital

Scatolino e Trindade (2016) afirmam que de acordo com a vinculação


ao edital (Figura 5), a licitação é o procedimento vinculado não apenas
à lei, mas também ao edital, pois esse é o instrumento que divulga a
licitação e determina as regras que deverão ser cumpridas, tanto pelos
licitantes como pela própria Administração que o elaborou, dessa forma,
ninguém poderá descumpri-lo.
Figura 5 - Vinculação ao edital

→ Subordinado à lei
Vinculação ao edital
→ Subordinado ao edital
Fonte: Elaborado pelas autoras com base na Lei nº 14.133/2021.
30 Licitações Públicas

O edital pode ser considerado como a lei interna da licitação, no


qual deverão conter as informações necessárias para que o procedimento
licitatório obedeça aos objetivos e princípios estabelecidos na Lei nº
14.133/2021, e conter os elementos obrigatórios para cada modalidade a
ser utilizada.

Razoabilidade e proporcionalidade
O princípio da razoabilidade segundo Alexandrino e Paulo (2012) é
conexo à adequação e à necessidade do ato ou da atuação da Administração
Pública, portanto não satisfaz que o ato tenha uma finalidade legítima, é preciso
ainda que os meios empregados pela Administração sejam adequados
à consecução do fim almejado e que sua utilização seja necessária,
principalmente quando se trate de medidas restritivas ou punitivas.

NOTA:

O princípio da proporcionalidade representa uma das


vertentes do princípio da razoabilidade.

Já o princípio da proporcionalidade é conhecido como o “princípio


da proibição dos excessos”, ele impossibilita que a Administração limite
os direitos do particular além do que seria necessário, pois ditar medidas
com intensidade ou extensão excessiva, desnecessárias, influencia à
ilegalidade do ato, por abuso de poder, conforme explicam Alexandrino
e Paulo (2012).

Motivação
De acordo com Scatolino e Trindade (2016), a motivação é a
indicação dos fatos e fundamentos jurídicos que causaram a prática do
ato administrativo. Ela se apresenta como a justificação do ato cometido,
tratando-se da explicação da conduta administrativa, com a apresentação
da sua justificativa.

Di Pietro (2013) afirma que em regra a motivação não exige formas


específicas, podendo ou não ser concomitante com o ato, além de ser
realizada, muitas vezes, por órgão distinto daquele que proferiu a decisão.
Licitações Públicas 31

Celeridade
De acordo com o princípio da celeridade, os atos da licitação
devem ser realizados dentro de um prazo razoável, devendo-se buscar
o cumprimento dos prazos estabelecidos, sem atrasos injustificados,
pois a demora excessiva pode trazer prejuízos para as partes envolvidas,
especialmente para a administração pública.

O prazo razoável não quer dizer que seja rápido, mas sim que não
tenha protelações desnecessárias, ou seja, deverão ser seguidos os
prazos estabelecidos no edital e caso venha a ocorrer algum problema
que precise adiar alguma fase, que se busque agilidade na resolução para
que seja cumprido.

Competitividade
Mello (2009) destaca que a competitividade é da mesma essência
do procedimento, sendo ela um dos princípios norteadores das licitações
públicas.

Alexandrino e Paulo (2012) complementam afirmando que somente


o procedimento em que exista efetiva competição entre os participantes,
impedindo manipulações de preços, terá capacidade de garantir à
administração a obtenção da proposta mais vantajosa para a consecução
de seus fins.

Eficiência, eficácia e efetividade


A eficiência se refere à relação entre os custos e os produtos de
forma racional e utilização dos recursos. Segundo Di Pietro (2020), pode ser
vista como o modo de organizar, estruturar e disciplinar a administração
pública com o objetivo de obter melhores resultados na prestação do
serviço público.

A economicidade se refere à aplicação da relação custo-benefício,


devendo-se buscar a minimização dos custos sem comprometer a
qualidade. Já a eficácia trata-se do cumprimento dos objetivos, buscando-
se alcançar os resultados esperados.
32 Licitações Públicas

Podemos observar na prática, por meio do exemplo de contratação


de um novo sistema informatizado, da área da saúde, que objetiva analisar
os principais locais de incidência de focos de mosquitos da dengue em
determinada região.

Se levarmos em consideração que a contratação do software


dispendeu R$ 1 milhão de recursos públicos em uma equipe de 30
servidores e agentes de combate à endemia durante 6 meses, para
analisar uma região de 3.000km2, estamos examinando sob o aspecto da
eficiência.

Contudo, quando dizemos que a utilização do sistema permitiu


atingir o objetivo de mapear as regiões com maior incidência de focos
de mosquitos de dengue e a quantidade de pessoas doentes naquela
região, o enfoque está na eficácia.

Mas quando consideramos que o sistema informatizado foi


licitado por um custo de R$ 1 milhão, estaremos diante do princípio da
economicidade.

Segregação de funções
É definida pela própria Lei nº 14.133/2021, na qual o mesmo agente
público não deve atuar de forma simultânea em funções mais propensas
a riscos, com a finalidade de diminuir a possibilidade de ocultação de
erros e que ocorram fraudes na respectiva contratação.

Segurança jurídica
Tem como finalidade dar mais estabilidade às situações jurídicas e
garantir a aplicação justa da lei. Possui muita relação com a ideia de respeito
à boa-fé, pois caso a Administração adote determinada interpretação
como correta e a aplique em casos concretos, ela não pode depois anular
atos anteriores sob o pretexto de que foram realizados baseados em uma
interpretação errada (DI PIETRO, 2020).
Licitações Públicas 33

Planejamento
Deve existir um planejamento em todas as contratações,
independentemente do nível. Sendo essa uma das características da
fase preparatória, na qual deve existir a compatibilização com o plano de
contratações anual e com as leis orçamentárias.

A Lei nº 14.133/2021 determina que na fase preparatória deve existir


um aprofundamento dos estudos para que se conheça melhor o objeto
que se pretende adquirir, com detalhes das reais necessidades, com o
propósito de aumentar as chances de alcançar os resultados pretendidos
com a respectiva contratação (BRASIL, 2021).

Desenvolvimento nacional sustentável


Está voltado principalmente para aspectos ambientais, assim, deve
estar incluído nele todos os aspectos que envolvem uma licitação, como
questões de ordem econômica e desenvolvimento regionais. Assim
como deve buscar o fortalecimento de cadeias produtivas de bens e
serviços domésticos e o desenvolvimento econômico com o objetivo
de instituir incentivos à pesquisa e à inovação. Apresenta-se como de
grande importância pelo fato do considerável impacto que as compras
governamentais têm na economia (SCATOLINO; TRINDADE, 2016).

Assim, podemos perceber que a Lei nº 14.133/2021 tem uma grande


preocupação para que o procedimento licitatório consiga alcançar os
objetivos estabelecidos, trazendo princípios presentes na Constituição
Federal, como a legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência, bem como vários outros com o mesmo grau de importância.
34 Licitações Públicas

RESUMINDO:

Neste capítulo você deve ter compreendido que é


competência da União legislar sobre as normas gerais de
licitações, mas que os Estados, Distrito Federal e Municípios
podem legislar sobre questões específicas. Você também
conheceu qual a lei que rege o procedimento licitatório,
sendo uma das mais importantes a 14.133/2021. Por fim,
conheceu os princípios licitatórios que estão expressos
na Lei 14.133/2021, que são legalidade, impessoalidade,
igualdade, publicidade, moralidade, probidade
administrativa, vinculação ao edital, da eficiência, do
interesse público, da probidade administrativa, do
planejamento, da transparência, da eficácia, da segregação
de funções, da motivação, do julgamento objetivo, da
segurança jurídica, da razoabilidade, da competitividade,
da proporcionalidade, da celeridade, da economicidade e
do desenvolvimento nacional sustentável, como também
suas principais características.
Licitações Públicas 35

Modalidades de licitação
OBJETIVO:

Neste capítulo você conhecerá a classificação das


modalidades licitatórias existentes, principais características
e como e quando devem ser usadas cada uma delas.
Vamos juntos nessa!

Modalidades
Você sabe o que significa uma modalidade de licitação?

Modalidades de licitação de acordo com Scatolino e Trindade (2016)


são os procedimentos para a escolha da proposta mais vantajosa para a
celebração do futuro contrato. São previstos em lei e são normas gerais
para as licitações.

NOTA:

Você não deve confundir modalidades de licitação com


critérios de julgamento de licitação, mas não se preocupe,
ainda veremos o que significa os tipos de licitação.

As modalidades de licitação estão descritas na Lei nº 14.133/2021,


em seu art. 28, sendo cinco: concorrência, pregão, concurso, diálogo
competitivo e leilão. Elas são determinadas pela natureza do objeto e
definem o procedimento da licitação pública.

Importante destacar que ainda na Lei nº 14.133/2021, art. 28, §2º, é


estabelecido que “é vedada a criação de outras modalidades de licitação
ou, ainda, a combinação daquelas referidas no caput deste artigo”
(BRASIL, 2021). Ou seja, os entes não podem criar novas modalidades,
apenas a União.

Agora, vamos estudar as características de cada uma dessas


modalidades em separado.
36 Licitações Públicas

Concorrência
De acordo com a Lei nº 14.133/2021, art. 6, XXXVIII, a concorrência é
a modalidade de licitação para contratação de bens e serviços especiais
e de obras e serviços comuns e especiais de engenharia, que poderão ser
utilizados os critérios de julgamentos:

Menor preço;

Melhor técnica ou conteúdo artístico;

Técnica e preço;

Maior retorno econômico;

Maio desconto. (BRASIL, 2021)

Logo, o único critério de julgamento que não é admitido na


concorrência é o maior lance.

Na concorrência (Figura 6) será utilizado o rito procedimental


comum constante no art. 17 da Lei nº 14.133/2021, que é primeiramente
a preparatória, seguindo da de divulgação do edital de licitação; de
apresentação de propostas e lances (quando for o caso); de julgamento;
de habilitação; recursal e finalizando com a homologação.
Figura 6 - Concorrência

Concorrência

Procedimento Critérios de
Objeto
comum julgamento

Bens e
Serviços de Todos, exceto
serviços Obras
engenharia maior lance
especiais

Fonte: Elaborado pelas autoras com baseado na Lei nº 14.133/2021.


Licitações Públicas 37

Importante também compreendermos o que vem a ser considerado


como bens e serviços especiais e bens e serviços comuns. Os bens e
serviços especiais são aqueles que não podem ser descritos facilmente,
ou pelo menos de forma objetiva pela ausência de heterogeneidade ou
complexidade. Por exemplo, a necessidade de contratação de um pintor
inovador para o desenvolvimento de um projeto de pintura de escolas
que terá características especiais e que não poderão ser definidos
objetivamente.

Já os bens e serviços comuns são aqueles em que as características,


como padrões de desempenho e qualidade, podem ser definidas de
forma objetiva, como no caso de compra de computadores mencionando
a capacidade da memória, do HD etc.

Concurso
O concurso trata-se da modalidade de licitação para escolha de
trabalho técnico, científico ou artístico, devendo ser utilizado como
critério de julgamento o de melhor técnica ou conteúdo artístico, e será
concedido prêmio ou remuneração ao vencedor (BRASIL, 2021).

O edital irá conter regras e condições que deverão ser observadas


na modalidade concurso, como a indicação:

• Da qualificação que os participantes deverão ter.

• Das diretrizes e maneiras que o trabalho deverá ser apresentado.

• Das condições de realização e o prêmio ou remuneração que será


conferida ao vencedor.

O procedimento a ser utilizado no concurso (Figura 7) será o especial,


de acordo com as regras e condições indicadas no edital, devendo o
edital ser divulgado com antecedência mínima de 35 dias úteis.
38 Licitações Públicas

Figura 7 - Concurso

→ Escolha de trabalho técnico, científico, artístico


Concurso

→ Concessão de prêmio ou remuneração

→ Critério de julgamento: melhor técnica ou conteúdo artístico

→ Procedimento especial
Fonte: Elaborado pelas autoras com base na Lei nº 14.133/2021.

Um ponto muito importante sobre a modalidade concurso é sobre


a cessão de direitos, como estabelece a lei:

Art. 93. Nas contratações de projetos ou de serviços técnicos


especializados, inclusive daqueles que contemplem o
desenvolvimento de programas e aplicações de internet
para computadores, máquinas, equipamentos e dispositivos
de tratamento e de comunicação da informação (software)
- e a respectiva documentação técnica associada -, o autor
deverá ceder todos os direitos patrimoniais a eles relativos
para a Administração Pública, hipótese em que poderão ser
livremente utilizados e alterados por ela em outras ocasiões,
sem necessidade de nova autorização de seu autor.

§ 1º Quando o projeto se referir a obra imaterial de caráter


tecnológico, insuscetível de privilégio, a cessão dos direitos
a que se refere o  caput  deste artigo incluirá o fornecimento
de todos os dados, documentos e elementos de informação
pertinentes à tecnologia de concepção, desenvolvimento,
fixação em suporte físico de qualquer natureza e aplicação da
obra.

§ 2º É facultado à Administração Pública deixar de exigir


a cessão de direitos a que se refere o  caput  deste artigo
quando o objeto da contratação envolver atividade de
pesquisa e desenvolvimento de caráter científico, tecnológico
ou de inovação, considerados os princípios e os mecanismos
instituídos pela Lei nº 10.973, de 2 de dezembro de 2004.
Licitações Públicas 39

§ 3º Na hipótese de posterior alteração do projeto pela


Administração Pública, o autor deverá ser comunicado, e
os registros serão promovidos nos órgãos ou entidades
competentes. (BRASIL, 2021)

Assim, a Lei 14.133/2021 dispõe que nos concursos designados


para elaboração de projeto, deverá ser cedido para a Administração
Pública pelo vencedor todos os direitos patrimoniais referentes ao projeto
e autorizada sua realização, de acordo com o juízo de conveniência e
oportunidade das autoridades competentes.

Leilão
O leilão é a modalidade de licitação para alienação de bens imóveis
ou de bens móveis inservíveis ou legalmente apreendidos a quem
oferecer o maior lance (BRASIL, 2021).

Os bens móveis inservíveis que poderão ser vendidos mediante


leilão (Figura 8) não são bens deteriorados, mas sim bens que não
possuem mais serventia pela Administração, que podem ser móveis,
veículos, materiais de escritório, entre outros. Os produtos legalmente
apreendidos são casos, por exemplo, de apreensões da receita federal,
afirmam Scatolino e Trindade (2016).

Será utilizado o critério de julgamento do maior lance, e o


procedimento será o especial, previsto em regulamento.

IMPORTANTE:

Não será necessário registro cadastral prévio, nem fase


de habilitação, sendo a homologação realizada logo que
concluídos os lances e os recursos e realizado o pagamento
pelo vencedor.

O leilão será conduzido por um leiloeiro oficial ou por um servidor


indicado pela autoridade competente da Administração. No caso de ser um
leiloeiro oficial, este deverá ser selecionado por meio do credenciamento
ou de licitação na modalidade pregão, cujo critério de julgamento será
o de maior desconto para as comissões a serem cobradas, servindo
40 Licitações Públicas

como parâmetro máximo os percentuais determinados na lei que regula


a profissão citada e observados os valores dos bens a serem leiloados
(BRASIL, 2021).
Figura 8 - Leilão

→ Bens imóveis
→ Alienação
→ Bens móveis inservíveis ou apreendidos

Leilão Critério de
→ → Maior lance
julgamento

→ Procedimento
especial

Fonte: Elaborado pelas autoras com base na Lei nº 14.133/2021.

A divulgação do edital do leilão deverá ser em sítio eletrônico


oficial e, segundo a Lei nº 4.133/2021, deverá conter informações como
a descrição e as características do bem; e para os imóveis, a situação
e divisas, com remissão à matrícula e aos registros, o valor que o bem
foi avaliado, o preço mínimo que poderá ser alienado, as condições de
pagamento e, a depender do caso, a comissão do leiloeiro; a designação
do lugar em que estiverem os móveis, veículos e semoventes; o sítio da
internet e o horário que acontecerá o leilão, a especificação de possíveis
pendências ou ônus relacionados aos bens a serem leiloados.

O edital também deverá ser afixado em local de ampla circulação


de pessoas na sede da Administração, bem como deve-se utilizar outros
meios que sirvam para aumentar a publicidade e a competitividade da
licitação. A divulgação do edital deverá ter antecedência mínima de 15
dias úteis.

Pregão
O pregão (Figura 9) é a modalidade de licitação obrigatória para
aquisição de bens e serviços comuns, o qual poderá utilizar o critério de
julgamento o de menor preço ou o de maior desconto (BRASIL, 2021).
Licitações Públicas 41

Figura 9 - Pregão

Pregão

Critério de Procedimento
Aquisição
julgamento comum

Bens e Menor preço


serviços ou maior
comuns desconto

Fonte: Elaborado pelas autoras com base na Lei nº 14.133/2021.

Scatolino e Trindade (2016, p. 573) definem bens e serviços


comuns como sendo “aqueles de fácil especificação”. Podem ser usados
como exemplo: materiais de escritório, aquisição e instalação de ar-
condicionado, compra de café etc.

A Lei nº 14.133/2021 ainda traz as situações em que o pregão não


deve ser aplicado, como nos casos de contratações de serviços técnicos
especializados de natureza predominantemente intelectual e de obras e
serviços de engenharia, exceto os serviços comuns de engenharia que
poderão ser realizados pela modalidade pregão ou concorrência.

Na modalidade pregão, o agente responsável pela condução


do certame será denominado pregoeiro e será realizado pelo rito
procedimental comum.

Diálogo competitivo
O diálogo competitivo é a modalidade de licitação para contratação
de obras, serviços e compras em que a Administração Pública efetua
diálogos com licitantes selecionados de forma prévia através de critérios
objetivos, com o propósito de desenvolver uma ou mais alternativas
capazes de atender às suas necessidades, devendo os licitantes apresentar
proposta final após o encerramento dos diálogos (BRASIL, 2021).
42 Licitações Públicas

Entretanto, as contratações nessa modalidade são restritas


para algumas hipóteses descritas pela Lei nº 14.133/2021, em que a
Administração:

• Tenha intenção de contratar objeto que compreenda inovação


tecnológica ou técnica; impossibilidade de satisfazer sua
necessidade sem adaptações de soluções disponíveis o mercado;
e impossibilidade de definir as especificações técnicas de forma
precisa.

• Apure a necessidade de definir e identificar as alternativas para


que suas necessidades sejam satisfeitas, como com a solução
técnica mais apropriada; os requisitos técnicos que sejam capazes
de executar a solução definida; a estrutura jurídica ou financeira
do contrato.

No diálogo competitivo o procedimento seguirá de forma especial,


pois primeiramente é realizada uma pré-seleção, depois serão efetuados
diálogos para em seguida ter uma fase competitiva.
Figura 10 - Diálogo competitivo

Pré-seleção Diálogo Fase competitiva

Fonte: Elaborado pelas autoras com base na Lei nº 14.133/2021.

Na fase de pré-seleção serão admitidos todos os interessados que


preencherem os requisitos determinados. Essa fase servirá para verificar
quem atende a esses requisitos objetivos determinados. O edital de pré-
seleção será divulgado em sítio eletrônico oficial no prazo mínimo de 25
dias úteis para manifestação de interesse na participação da licitação.

Depois será realizado um diálogo entre os licitantes e a Administração


com a finalidade de identificar uma ou mais soluções. Essas reuniões
deverão ser registradas em ata e gravadas por meio do emprego de
recursos tecnológicos de áudio e vídeo.
Licitações Públicas 43

Após a conclusão do diálogo, a Administração deverá juntar os


autos do processo licitatório, os registros e as gravações e dar início à fase
competitiva. Será divulgado um edital com as especificações da solução
que seja capaz de atender às necessidades e os critérios empregados
para selecionar a proposta mais vantajosa. Será disponibilizado um
prazo de 60 dias úteis para a apresentação das propostas, na qual será a
vencedora aquela definida pela Administração que contenha os critérios
de acordo com os estabelecidos no início da fase competitiva, bem como
seja a mais vantajosa (BRASIL, 2021).

IMPORTANTE:

Os critérios utilizados na modalidade diálogo competitivo


são próprios e serão definidos no edital.

A Lei nº 14.133/2021 ainda determina que a comissão nessa


modalidade seja formada por pelo menos três servidores efetivos ou
empregados públicos que façam parte do quadro permanente da
Administração, podendo ainda serem contratados profissionais para
assessoramento técnico, devendo esses assinarem um termo de
confidencialidade e afastar-se de qualquer atividade que venha gerar
conflito de interesse.

RESUMINDO:

Você deve ter compreendido neste capítulo que


modalidades são os procedimentos utilizados para a
condução do certame licitatório e que as modalidades
de licitação, de acordo com a Lei nº 14.133/2021, são
concorrência, pregão, diálogo competitivo, concurso
e leilão, devendo cada uma delas serem utilizadas de
acordo com o objeto a ser licitado. Você também deve ter
entendido que é vedado criar novas modalidades, a não
ser a própria União, que é quem possui essa competência,
ou combiná-las. Por fim, você conheceu as especificidades
de cada modalidade, seus conceitos, os procedimentos,
objetos e critérios de julgamento que devem ser utilizados
em cada caso.
44 Licitações Públicas

Tipos de licitação e Sistema de Registro


de Preços
OBJETIVO:

Neste capítulo iremos conhecer quais os critérios de


julgamento de licitação e as principais características de
cada uma delas. Compreenderemos também o que é o
Sistema de Registro de Preços e como ele é utilizado nas
licitações públicas. Avante!

Critérios de julgamento de licitação


Os critérios de julgamento são as referências utilizadas para avaliar
as propostas dos licitantes, e como o próprio nome diz, deverão ser
observados no julgamento das propostas no procedimento licitatório.

Lembra que falamos para não confundir modalidades com critérios


de julgamento? Pois bem, modalidades são os procedimentos para a
escolha da proposta mais vantajosa, já os critérios de julgamento são
os critérios que serão utilizados para julgar e selecionar a proposta mais
vantajosa.

De acordo com a Lei nº 14.133/2021, art. 33, o julgamento das


propostas será efetuado conforme os critérios (Figura 11):

Menor preço;

Maior desconto;

Técnica e preço;

Melhor técnica ou conteúdo artístico;

Maior lance, no caso de leilão;

Maior retorno econômico. (BRASIL, 2021)


Licitações Públicas 45

Figura 11 - Critérios de julgamento

Melhor retorno
Menor preço Maior desconto
econômico

Melhor técnica
Técnica e preço Maior lance
ou conteúdo

Fonte: Elaborado pelas autoras com base na Lei nº 14.133/2021.

A Lei nº 14.133/2021 determina que no julgamento por menor


preço ou maior desconto ou nos casos de técnica e preço, deverá ser
considerado o menor dispêndio para a Administração, ou seja, aquele em
que se pagará menos ou terá menos custos e despesas e ainda seguidos
os padrões mínimos de qualidade estabelecidos no edital.

Na determinação do menor dispêndio, podem ser levados em


consideração os custos indiretos vinculados ao ciclo de vida do objeto
licitado, como manutenção e impacto ambiental, desde que objetivamente
definidos. As modalidades que podem usar esse critério são o pregão e a
concorrência.

No julgamento por melhor técnica ou conteúdo artístico, levará


em consideração exclusivamente propostas técnicas ou artísticas
apresentadas pelos licitantes e será atribuído um prêmio ou uma
remuneração ao vencedor definido no edital. Esse critério poderá ser
empregado para a contratação de projetos e trabalhos de natureza técnica,
cientifica e artística através da modalidade concurso ou concorrência
(BRASIL, 2021).

O julgamento por técnica e preço será por meio da ponderação das


notas atribuídas à técnica e ao preço da proposta, de acordo com fatores
definidos no edital, devendo ser avaliadas e ponderadas as propostas
técnicas e depois as propostas de preço pelo fator máximo de 70%. A Lei
nº 14.133/2021, em seu art. 36, ainda estabelece que:
46 Licitações Públicas

§ 1º O critério de julgamento de que trata o caput deste


artigo será escolhido quando estudo técnico preliminar
demonstrar que a avaliação e a ponderação da qualidade
técnica das propostas que superarem os requisitos mínimos
estabelecidos no edital forem relevantes aos fins pretendidos
pela Administração nas licitações para contratação de:

I - serviços técnicos especializados de natureza


predominantemente intelectual, caso em que o critério de
julgamento de técnica e preço deverá ser preferencialmente
empregado;

II - serviços majoritariamente dependentes de tecnologia


sofisticada e de domínio restrito, conforme atestado por
autoridades técnicas de reconhecida qualificação;

III - bens e serviços especiais de tecnologia da informação e


de comunicação;

IV - obras e serviços especiais de engenharia;

V - objetos que admitam soluções específicas e alternativas


e variações de execução, com repercussões significativas
e concretamente mensuráveis sobre sua qualidade,
produtividade, rendimento e durabilidade, quando essas
soluções e variações puderem ser adotadas à livre escolha
dos licitantes, conforme critérios objetivamente definidos no
edital de licitação. (BRASIL, 2021)

O julgamento por melhor técnica ou conteúdo artístico, ou por


técnica e preço terá sua proposta avaliada através de:

• Avaliação da capacitação e da experiência através da apresentação


de atestados de obras, produtos ou serviços já realizados.

• Atribuição de notas referentes aos quesitos qualitativos da


proposta.

• Atribuição de notas sobre o desempenho em contratações


anteriores, de acordo com a fiscalização de contratos e registro
cadastral do licitante.
Licitações Públicas 47

Para a avaliação dos quesitos qualitativos, nesse caso, a banca


será formada por no mínimo três membros que poderão ser servidores
efetivos ou empregados públicos, ou ainda por profissionais contratados
que possuam conhecimento, experiência e ainda sejam supervisionados
por agentes públicos.

NOTA:

Você deve ter percebido que a única ressalva está no


critério de maior lance, pois este só será utilizado para a
modalidade leilão, e como o próprio nome diz, deverá ser
dado o maior lance na proposta.

O julgamento por maior retorno econômico deverá ser empregado


apenas para a celebração de contrato de eficiência e levará em
consideração a maior economia para a Administração. O contrato de
eficiência é aquele em que o objeto é a prestação de serviços, que pode
abranger a realização de obras e o fornecimento de bens, com o objetivo
de proporcionar economia ao contratante, na forma de diminuição
de despesas correntes, tendo o contratado como remuneração um
percentual em relação à economia gerada (BRASIL, 2021).

Assim, os licitantes deverão apresentar a proposta de trabalho que


incluirão as obras, os serviços ou bens, os prazos e a economia estimada,
bem como a proposta de preço que será um percentual sobre a economia.

Caso não ocorra a economia prevista, será esta descontada da


remuneração do contratado, e na hipótese de a diferença entre o que
foi contratado com o que realmente foi obtido for superior ao limite
máximo, poderão ser aplicadas sanções ao contratado. Para o critério de
julgamento do maior retorno econômico, a modalidade a ser utilizada será
a concorrência.

Sistema de Registro de Preços


O Sistema de Registro de Preços, de acordo com a Lei nº 14.133/2021,
trata-se de um conjunto de procedimentos para realização, através da
contratação direta ou licitação nas modalidades pregão ou concorrência,
48 Licitações Públicas

de registro formal de preços concernentes à prestação de serviços, a


obras e à aquisição e locação de bens para contratações futuras.

Ele poderá ser utilizado para contratação de bens e serviços, até


mesmo de obras e serviços de engenharia, desde que:

• Seja realizada pesquisa de mercado de forma prévia.

• Selecionados conforme os procedimentos constantes no


regulamento.

• Exista o desenvolvimento de rotina de controle.

• Os preços registrados sejam atualizados periodicamente.

• Estabelecido um período de validade do registro de preços.

• Na ata de registro de preços seja incluída a aceitação pelo licitante


da cotação de bens e serviços iguais ao do licitante vencedor.
Figura 12 - Registro de preço

Contratações futuras.

Prestação de serviços, obras,

SRP aquisição e locação de bens.

Contratação direta, pregão ou


concorrência.

Fonte: Elaborado pelas autoras com base na Lei nº 14.133/2021.

Insta destacar que para Alexandrino e Paulo (2012), ele é utilizado por
órgãos ou entidades que realizam compras frequentes de determinado
bem (ou serviço), ou quando não é previamente conhecida a quantidade
que será necessário comprar. Algumas vantagens são:

• Tornar ágeis as contratações.

• Evitar a necessidade de formação de estoques.

• Proporcionar transparência quanto aos preços pagos pela


administração pelos bens e serviços que contrata frequentemente.
Licitações Públicas 49

Para a realização de obras e serviços de engenharia por esse sistema,


deve existir um projeto padronizado, que não possua complexidade
técnica e operacional e ainda a necessidade permanente ou frequente da
obra ou serviço a ser contratado (BRASIL, 2021).

De acordo com a definição dada ao Sistema de Registro de Preços


pela própria lei, podemos verificar que é possível a contratação direta
nesse sistema, ou seja, poderá ser através do processo de dispensa de
licitação ou de inexigibilidade, contudo será para aquisição de bens ou
para a contratação de serviços por mais de um órgão ou entidade.

Para as modalidades concorrência e pregão, que poderão ser


utilizadas no Sistema de Registro de Preços, o critério de julgamento
será o de menor preço ou maior desconto conforme tabela de preços
adotada no mercado. No entanto, o menor preço quando empregado
para grupos de itens só será aceito caso seja demonstrada a inviabilidade
de promoção da adjudicação por item e existam evidências da vantagem
técnica e econômica, devendo o critério de aceitabilidade de preços
unitários máximos constarem no edital. Conforme a Lei nº 14.133/2021, art.
6º, XLVI, a ata de registro de preços é um:

documento vinculativo e obrigacional, com característica de


compromisso para futura contratação, no qual são registrados
o objeto, os preços, os fornecedores, os órgãos participantes
e as condições a serem praticadas, conforme as disposições
contidas no edital da licitação, no aviso ou instrumento de
contratação direta e nas propostas apresentadas. (BRASIL, 2021)

O prazo de validade dessa ata será de doze meses e poderá ser


prorrogado, caso seja comprovado que o preço é vantajoso, por igual
período. E o prazo do contrato será determinado com as disposições nela
incluídas. Existem ainda alguns órgãos e entidades que fazem parte do
Sistema de Registro de Preços (Figura 13), que são o órgão gerenciador,
que é aquele que conduz o procedimento e gerencia a ata; o órgão
participante, que integra a ata e participa dos procedimentos iniciais; e o
órgão não participante, que não integra e não participa dos procedimentos
iniciais (BRASIL, 2021).
50 Licitações Públicas

Figura 13 - Órgãos e entidades do Sistema de Registro de Preços

Órgãos e
Não
entidades Participante Gerenciador
participante
do SRP

Fonte: Elaborado pelas autoras com base na Lei nº 14.133/2021.

Na fase preparatória do procedimento licitatório, o órgão


gerenciador deverá efetuar um processo público de intenção de registro
de preços, para que no prazo de oito dias úteis seja possível que outros
órgãos possam participar nessa ata, bem como definir a estimativa total
da quantidade a ser contratada.

IMPORTANTE:

A existência de preços registrados obriga o fornecedor, mas


não obriga a Administração a consolidar as contratações
que deles poderão ocorrer, facultando-se a realização
de licitação específica para a aquisição pretendida,
sendo garantida ao beneficiário do registro a preferência
de fornecimento em igualdade de condições, afirmam
Scatolino e Trindade (2016).

O edital de licitação do Sistema de Registro de Preços deverá trazer


várias informações, como as características do objeto e da licitação, a
quantidade máxima de cada item a ser adquirida, a quantidade mínima
de unidades a ser cotada, as possibilidades de preços distintos e
oferecimento de proposta que contenha quantitativo inferior ao máximo
definido no edital, o critério de julgamento a ser utilizado, as situações
de cancelamento da ata e suas respectivas consequências, entre outros
(BRASIL, 2021).

Scatolino e Trindade (2016) complementam afirmando que os


órgãos e as entidades que não participaram do registro de preços, quando
desejarem fazer uso da ata de Registro de Preços, deverão manifestar
seu interesse junto ao órgão gerenciador. Mas caberá ao fornecedor
beneficiário e o do órgão gerenciador da ata de registro de preços,
Licitações Públicas 51

observadas as condições nela estabelecidas, optar pela aceitação ou


não do fornecimento decorrente de adesão, desde que não prejudique
as obrigações presentes e futuras decorrentes da ata, assumidas com o
órgão gerenciador e órgãos participantes.

SAIBA MAIS:

Aprofunde-se mais nesse assunto lendo o artigo: “Sistema


de Registro de Preços: vantagens e desvantagens e a
polêmica figura do carona” (CHARPINEL, 2018). Clique aqui.

Esse é o chamado “carona” por diversos autores. Entretanto, de


acordo com a Lei nº 14.133/2021, alguns pontos devem ser observados
nessas hipóteses, como:

• É vedada aos órgãos e entidades da administração pública federal


a adesão à ata de registro de preços gerenciada por órgão ou
entidade municipal, distrital ou estadual, mas o inverso é facultada.

• As aquisições e contratações não podem exceder por órgão ou


entidade 50% dos quantitativos.

• Não poderão exceder na totalidade ao dobro do quantitativo de


cada item registrado.

• A adesão poderá ocorrer para transferências voluntárias, desde


que a ata seja gerenciada por órgão do Executivo Federal e seja
para execução descentralizada de programa ou projeto federal,
não possuindo neste caso, limite total.

• Não possuem limite total quando se tratar de aquisição emergencial


de medicamentos e material de consumo médico-hospitalar,
desde que gerenciada pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2021).
52 Licitações Públicas

RESUMINDO:

Neste capítulo você deve ter conhecido os critérios de


julgamento de uma licitação, que são: menor preço, maior
desconto, técnica e preço, melhor técnica e conteúdo
artístico, maior retorno econômico e maior lance, e que tipo
de licitação é o critério de julgamento das propostas. Você
também deve ter entendido como deverá ser usado cada
tipo licitatório citado. Por fim, você deve ter compreendido
o Sistema de Registro de Preços, que é utilizado para bens
e serviços contratados frequentemente, conveniência
em entrega parcelada, serviços e tarefas remunerados
por unidade, bens e serviços para atender a mais de um
órgão ou entidade e quando houver impossibilidade de
determinar a real demanda. O Sistema de Registro de Preços
pode ser usado na modalidade pregão e na modalidade
concorrência, como também na contratação direta em
casos específicos, no critério de julgamento menor preço e
melhor desconto. A ata registrada no sistema tem validade
de um ano, podendo ser prorrogada por igual período, caso
seja vantajoso. E o SRP ainda conta com órgãos e entidades
que são o gerenciador, o participante e o não participante.
Licitações Públicas 53

REFERÊNCIAS
ALEXANDRINO, M.; PAULO, V. Direito Administrativo
Descomplicado. 20. ed. São Paulo: Grupo GEN, 2012.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: texto
constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988, compilado
até a Emenda Constitucional nº 105/2019. Brasília: Senado Federal,
Coordenação de Edições Técnicas, 2020.
BRASIL. Lei 14.133 de 01 de abril de 2021. Lei de Licitações e
Contratos Administrativos. Disponível em: https://bit.ly/32tgV4G. Acesso
em: 13 abr. 2021.
CARVALHO FILHO, J. S. Manual de Direito Administrativo. 23. ed.
Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009.
CARVALHO FILHO, J. S. Manual de Direito Administrativo. 25. ed.
rev., ampl. atual. São Paulo: Atlas, 2012.
CHARPINEL, M. V. Sistema de registro de preços: vantagens,
desvantagens e a polêmica figura do carona. 2018. Disponível em:
https://bit.ly/3x4odcg. Acesso em: 28 abr. de 2021.
DI PIETRO, M. S. Z. Direito Administrativo. 27. ed. São Paulo: Atlas,
2014.
DI PIETRO, M. S. Z. Direito Administrativo. 33. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2020.
GARCIA, F. A.; RIBEIRO, L. C. Licitações Públicas Sustentáveis. 2012.
Disponível em: https://bit.ly/3vbaejA. Acesso em: 28 abr. de 2021.
MELLO, C. A. B. Curso de Direito Administrativo. 26. ed. São Paulo:
Malheiros, 2009.
MELLO, C. A. B. Curso de Direito Administrativo. 30. ed. São Paulo:
Malheiros, 2013.
MOTTA, C. P. C. Eficácia nas Licitações e Contratos. 9. ed. Belo
Horizonte: Del Rey Editora, 2002.
SCATOLINO, G.; TRINDADE, J. Manual de Direito Administrativo.
Notas de estudo de Direito Administrativo. 4. ed. Salvador: Juspodivm.
Volume único, 2016.

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