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Licitações Públicas

Unidade 4
Contratações Públicas e
Judicialização Licitatória
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
ELAINE CHRISTINE PESSOA DELGADO
MILENA BARBOSA DE MELO
AUTORIA
Elaine Christine Pessoa Delgado
Sou formada em Administração de Empresas pela Universidade
Federal de Campina Grande (2007) e pós-graduada em Direito
Administrativo pela Faculdade Campos Elíseos (SP), com experiência
técnico-profissional na área de gerência de empresas há mais de 10 anos.

Milena Barbosa de Melo


Sou graduada em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba,
mestre e especialista em Direito Comunitário e doutora em Direito
Internacional pela Universidade de Coimbra. Atualmente, sou professora
universitária e conteudista. Como jurista, atuo principalmente nas
seguintes áreas: Direito à Saúde, Direito Internacional Público e Privado,
Jurisdição Internacional, Direito Empresarial, Direito do Desenvolvimento,
Direito da Propriedade Intelectual e Direito Digital.

Desse modo, fomos convidadas pela Editora Telesapiens a integrar


seu elenco de autores independentes. Estamos muito felizes em poder
ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte conosco.
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

OBJETIVO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova compe- novo conceito;
tência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou dis-
mento; cutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Licitações para microempresas, empresas de pequeno porte e
consórcios públicos ................................................................................... 10
Licitações para microempresas e empresas de pequeno porte..................10

Licitações com consórcios públicos.................................................................................. 15

Licitações das empresas públicas e sociedades de economia


mista.................................................................................................................. 18
Diretrizes, modalidades e tipos............................................................................................. 21

Procedimento licitatório..............................................................................................................23

Normas gerais aplicáveis às licitações e às contratações de


serviços de publicidade............................................................................28
Procedimento licitatório.............................................................................................................. 31

Infrações e sanções administrativas...................................................36


Licitações Públicas 7

04
UNIDADE
8 Licitações Públicas

INTRODUÇÃO
O procedimento licitatório tem peculiaridades pertinentes a alguns
tipos de contratação. Você sabia que as microempresas e as empresas
de pequeno porte têm tratamento diferenciado nas licitações públicas? E
que foi instituída uma lei que trata das licitações das empresas públicas
e sociedades de economia mista? Sabia também que as contratações
de serviços de publicidade possuem uma lei especial, trazendo normas
e procedimentos específicos para esse tipo de contratação a serem
prestados através de agências de propaganda?

Além disso, os contratados que cometerem irregularidades no


âmbito das licitações são passíveis de sanções administrativas ou até
mesmo responder a um processo em casos de infrações consideradas
crimes. Nesta unidade iremos tratar das licitações com as microempresas
e empresas de pequeno porte, das licitações das empresas públicas e
sociedades de economia mista, das normas aplicáveis às contratações
de serviços de publicidade e das infrações e sanções administrativas nas
licitações. Esse é o mundo que iremos atravessar nesta unidade. Vamos
juntos?
Licitações Públicas 9

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 4. Nosso objetivo é auxiliar
você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até
o término desta etapa de estudos:

1. Entender as licitações para microempresas, empresas de


pequeno porte e consórcios públicos.

2. Compreender o Regime Diferenciado de Contratações Públicas.

3. Identificar as normas gerais aplicáveis às licitações e às


contratações de serviços de publicidade.

4. Assimilar as sanções administrativas e a tutela judicial.

Então? Vamos juntos para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento?
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Licitações para microempresas - empresas


de pequeno porte e consórcios públicos
OBJETIVO:

Ao término deste capítulo você será capaz de entender


como funciona as licitações com as microempresas e as
empresas de pequeno porte, quem elas são e por que
recebem tratamento diferenciado. Compreenderá também
como são as licitações com os consórcios públicos e
as principais características. E então? Motivado para
desenvolver essa competência? Então, vamos lá. Avante!

Licitações para microempresas e empresas


de pequeno porte
Conforme Scatolino e Trindade (2016), é estabelecido na Constituição
Federal, em seu art. 170, IX, como princípio da ordem econômica, o
tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas
sob as leis brasileiras e que possuam sede e Administração no país.

A Constituição Federal, em seu art. 179, ainda determina:

Art. 179. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios


dispensarão às microempresas e às empresas de pequeno
porte, assim definidas em lei, tratamento jurídico diferenciado,
visando a incentivá-las pela simplificação de suas obrigações
administrativas, tributárias, previdenciárias e creditícias, ou
pela eliminação ou redução destas por meio de lei. (BRASIL,
1988, p. 57)

A partir da determinação da própria Constituição Federal, foi


instituído o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno
Porte, a Lei Complementar nº 123/2006.

De acordo com Alexandrino e Paulo (2012), a Lei Complementar


nº 123/2006 – Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de
Pequeno Porte – prevê em seu artigo 47, a possibilidade de a União,
Licitações Públicas 11

os estados e os municípios, nas contratações públicas, conferirem


tratamento diferenciado e simplificado para microempresas e empresas
de pequeno porte com o objetivo de promover o desenvolvimento
econômico e social no âmbito municipal e regional, a ampliação da
eficiência das políticas públicas e o estímulo à inovação tecnológica,
desde que previsto e regulamentado na legislação do respectivo ente.

Vejamos como é a definição de microempresa e empresa de


pequeno porte segundo a Lei Complementar nº 123/2006, art. 3º.

Consideram-se microempresas ou empresas de pequeno porte


(Figura 1) a sociedade empresária, a sociedade simples, a empresa
individual de responsabilidade limitada e o empresário a que se refere
o art. 966 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil - Art.
966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade
econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de
serviço), devidamente registrados no Registro de Empresas Mercantis ou
no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, de acordo com o caso, desde que:

• No caso da microempresa, receba, em cada ano-calendário,


receita bruta igual ou inferior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta
mil reais).

• No caso de empresa de pequeno porte, receba, em cada ano-


calendário, receita bruta superior a R$ 360.000,00 (trezentos e
sessenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 4.800.000,00 (quatro
milhões e oitocentos mil reais).
Figura 1 - Microempresa e empresa de pequeno porte

Receita bruta anual igual ou


Microempresa
inferior: R$ 360.000,00

Receita bruta anual superior


Empresa de
a R$ 360.000,00 e igual ou
pequeno porte
inferior a R$ 4.800.000,00

Fonte: Elaborado pelas autoras com base na Lei Complementar nº 123/2006.


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Scatolino e Trindade (2016) destacam que a LC 123/2006 estabelece


que nas licitações públicas a comprovação de regularidade fiscal das
microempresas e empresas de pequeno porte somente será exigida para
efeito de assinatura do contrato.

Para instrumentalizar essa regra, a lei determina que essas


sociedades apresentem, no momento da participação em certames
licitatórios, toda a documentação exigida para comprovação de
regularidade fiscal, mesmo que esta contenha alguma restrição. Caso
exista alguma falha na documentação, deverá ser assegurado às
microempresas e empresas de pequeno porte o prazo de cinco dias
úteis para regularização dos documentos, contados do momento em
que o proponente for declarado vencedor do certame. Esse prazo poderá
ser prorrogado por igual período, a critério da Administração, explica o
Tribunal de Contas da União (2010).

São previstos como possibilidades de concessão de tratamento


diferenciados às microempresas e empresas de pequeno porte a
realização de processo licitatório, de acordo com a Lei Complementar nº
123/2006:

• Deverá realizar processo licitatório destinado exclusivamente à


participação de microempresas e empresas de pequeno porte nos
itens de contratação cujo valor seja de até R$ 80.000,00 (oitenta
mil reais).

• Poderá, em relação aos processos licitatórios destinados à


aquisição de obras e serviços, exigir dos licitantes a subcontratação
de microempresa ou empresa de pequeno porte.

IMPORTANTE:

Nessa hipótese, os empenhos e pagamentos do órgão ou


entidade da administração pública poderão ser destinados
diretamente às microempresas e empresas de pequeno
porte subcontratadas, determina a LC 123/2006:
Licitações Públicas 13

• deverá estabelecer, em certames para aquisição de bens de


natureza divisível, cota de até 25% (vinte e cinco por cento) do
objeto para a contratação de microempresas e empresas de
pequeno porte.
Figura 2: Possibilidades de concessão de tratamento diferenciado

Realização de procedimento licitatório exclusivo


para ME e EPP para contratações até R$ 80.000,00

Microempresa
Poderá nos casos de aquisição de obras e
e empresa de
serviços exigir subcontratação de ME e EPP
pequeno porte

Para bens de natureza divisível, cota de até 25% do


objeto para contratação de ME e EPP

Fonte: Elaborado pelas autoras com base na Lei Complementar nº 123/2006.

O valor somado dos objetos das licitações em que são aplicados


esses tratamentos diferenciados previstos nessas situações, não poderá
exceder 25% do total licitado em cada ano civil. Apesar de a LC não
explicitar, o limite deve ser calculado separadamente para cada ente
federado, ou seja, com base no valor das licitações que o ente federado
tenha realizado no ano civil, explica Alexandrino e Paulo (2012).

A Lei Complementar nº 123/2006, em seu art. 49, ainda estabelece


que em qualquer caso não se aplica tratamento diferenciado e
simplificados nas seguintes situações:

• Não houver um mínimo de 3 (três) fornecedores competitivos


enquadrados como microempresas ou empresas de pequeno
porte sediados local ou regionalmente e capazes de cumprir as
exigências estabelecidas no instrumento convocatório.

• O tratamento diferenciado e simplificado para as microempresas e


empresas de pequeno porte não for vantajoso para a administração
pública ou representar prejuízo ao conjunto ou complexo do objeto
a ser contratado.
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• A licitação for dispensável ou inexigível, de acordo com a Lei nº


14.133, de 01 de abril de 2021, excetuando-se as dispensas de
pequeno valor tratadas na mesma Lei, nas quais a compra deverá
ser feita preferencialmente de microempresas e empresas de
pequeno porte, aplicando-se o disposto no inciso I do art. 48.

I - deverá realizar processo licitatório destinado exclusivamente


à participação de microempresas e empresas de pequeno
porte nos itens de contratação cujo valor seja de até R$
80.000,00 (oitenta mil reais). (BRASIL, 2006)

SAIBA MAIS:

Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o


acesso à seguinte fonte de consulta e aprofundamento:
“As licitações exclusivas para microempresas e empresas
de pequeno porte: regra e exceções” (PEREIRA JUNIOR;
DOTTI, 2012). Clique aqui.

Outro ponto muito importante é o tratamento nos casos de desempate.


Segundo Scatolino e Trindade (2016), o Estatuto da microempresa e
empresa de pequeno porte fixa como critério de desempate a preferência
de contratação para microempresas e empresas de pequeno porte. Nesse
caso, entende-se como empate aquelas situações em que as propostas
apresentadas pelas microempresas e empresas de pequeno porte sejam
iguais ou até 10% superiores à proposta mais bem classificada.

Na modalidade pregão, o intervalo percentual será de 5% superior


ao melhor preço. A Lei Complementar nº 123/2006 determina que nas
hipóteses de empate proceder-se-á da seguinte forma:

• A microempresa ou empresa de pequeno porte mais bem


classificada poderá apresentar proposta de preço inferior àquela
considerada vencedora do certame, situação em que será
adjudicado em seu favor o objeto licitado.

• Não ocorrendo a contratação da microempresa ou empresa


de pequeno porte, de acordo com a situação anterior, serão
convocadas as remanescentes que porventura se enquadrem na
Licitações Públicas 15

hipótese dos §§ 1º e 2º do art. 44 da Lei Complementar (situações


em que as propostas apresentadas pelas microempresas e
empresas de pequeno porte sejam iguais ou até 10% superiores
à proposta mais bem classificada ou no caso do pregão 5%), na
ordem classificatória, para o exercício do mesmo direito.

• No caso de equivalência dos valores apresentados pelas


microempresas e empresas de pequeno porte que se encontrem
nos intervalos estabelecidos nos §§ 1º e 2º do art. 44 da Lei
Complementar, será realizado sorteio entre elas para que se
identifique aquela que primeiro poderá apresentar melhor oferta.

Esse “direito de preferência” somente será aplicado quando a melhor


oferta inicial não tiver sido apresentada por microempresa ou empresa de
pequeno porte, menciona o Tribunal de Contas da União (2010).

Na modalidade pregão, a microempresa ou empresa de pequeno


porte mais bem classificada será convocada para apresentar nova
proposta no prazo máximo de 5 minutos após o encerramento dos lances,
sob pena de preclusão, estabelece a LC 123/2006.

Cabe destacar ainda que nos pagamentos que a Administração


efetuar, deve ser exigido das empresas optantes pelo Sistema Integrado
de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das
Empresas de Pequeno Porte – Simples, juntamente com a nota fiscal/
fatura, o encaminhamento de declaração que comprove essa opção,
explica o Tribunal de Contas da União (2010).

Licitações com consórcios públicos


Segundo o Tribunal de Contas da União (2010), quando permitido no
ato convocatório, podem participar da licitação consórcios de licitantes,
qualquer que seja a forma de constituição.

Mas o que é um consórcio, você sabe? Scatolino e Trindade


(2016) explicam que o consórcio público é a pessoa jurídica formada,
exclusivamente, por entes federativos, para a prestação de serviços na
forma de gestão associada, nos termos do art. 241 da CF.
16 Licitações Públicas

Art. 241. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios


disciplinarão por meio de lei os consórcios públicos e
os convênios de cooperação entre os entes federados,
autorizando a gestão associada de serviços públicos, bem
como a transferência total ou parcial de encargos, serviços,
pessoal e bens essenciais à continuidade dos serviços
transferidos. (BRASIL, 1988, p. 69)

Em consórcio composto por empresas brasileiras e estrangeiras,


a liderança competirá obrigatoriamente à empresa brasileira, e essas
condições de liderança devem estar fixadas no ato convocatório, conforme
determina o Tribunal de Contas da União (2010).

Quando permitida na licitação a participação de empresas em


consórcio, as seguintes exigências devem ser cumpridas, de acordo com
o Tribunal de Contas da União (2010):

• Comprovação de compromisso público ou particular de


constituição de consórcio, assinado pelos consorciados.

• Indicação da empresa responsável pelo consórcio que deverá


atender às condições de empresa líder, obrigatoriamente fixadas
no ato convocatório.

• Apresentação dos documentos exigidos nos arts. 62 a 70 da Lei


nº 14.133/2021 (documentação para habilitação dos licitantes), por
parte de cada consorciado. Admite-se, para efeito de qualificação
técnica, o somatório dos quantitativos de cada consorciado e,
para efeito de qualificação econômico-financeira, o somatório
dos valores de cada consorciado, na proporção da respectiva
participação. Nesse caso, a Administração pode estabelecer
acréscimo de até 30% dos valores exigidos para licitante não
consorciado. É inexigível esse acréscimo para consórcios
compostos, na totalidade, por micro e pequenas empresas.

• Impedimento de participação de empresa consorciada, na mesma


licitação, em mais de um consórcio ou isoladamente.
Licitações Públicas 17

• Responsabilidade solidária dos integrantes pelos atos praticados


em consórcio, tanto na fase de licitação quanto na de execução
do contrato.

É obrigação do vencedor promover, antes da celebração do contrato,


a constituição e o registro do consórcio, nos termos do compromisso
firmado pelos consorciados.

SAIBA MAIS:

Aprofunde-se mais nesse tema lendo o artigo “A participação


de consórcios empresariais em procedimentos licitatórios:
Livre escolha da Administração licitante?” (RIBEIRO;
TEIXEIRA, 2015). Clique aqui.

O Tribunal de Contas da União (2010) ainda cita que nas contratações


para aquisição de bens e serviços comuns para entes públicos ou
privados, realizadas com recursos públicos da União, repassados por
meio de celebração de convênios ou instrumentos congêneres ou
consórcios públicos será obrigatório o emprego da modalidade pregão,
preferencialmente na forma eletrônica.

RESUMINDO:

Agora, só para termos certeza de que você realmente


entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos
resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que
a Constituição Federal estabelece que deverá ser dado
tratamento diferenciado para as microempresas e empresas
de pequeno porte. Assim surgiu a Lei Complementar nº
123/2006, conferindo esse tratamento e com objetivos
específicos para essas empresas, incluindo nesses a
participação das microempresas e empresas de pequeno
porte nas licitações, com situações que incluem o valor
da contratação, a subcontratação e cotas para bens de
natureza indivisível, assim como hipóteses de empate que
demonstram esse tratamento diferenciado. Por fim, você
compreendeu as licitações com consórcios públicos e as
exigências que deverão ser cumpridas nesses casos.
18 Licitações Públicas

Licitações das empresas públicas e


sociedades de economia mista
OBJETIVO:

Neste capítulo você irá compreender quais as características


e os principais pontos sobre o procedimento licitatório
das empresas públicas e sociedades de economia mista.
Avante!

A competência para dispor sobre normas gerais de licitações e


contratos pertence à União de acordo com o art. 22, XXVII da Constituição
Federal de 1988:

XXVII - normas gerais de licitação e contratação, em todas


as modalidades, para as administrações públicas diretas,
autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal
e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as
empresas públicas e sociedades de economia mista, nos
termos do art. 173, § 1°, III. (BRASIL, 1988, p. 16)

Já o art. 173 determina que a lei estabelecerá o estatuto jurídico da


empresa pública, da sociedade de economia mista e suas subsidiárias
devendo dispor sobre licitação e contratação de obras, serviços, compras
e alienações.

Essa lei trata-se da Lei nº 13.303/2016 (Estatuto das Empresas


Públicas e Sociedades de Economia Mista), sendo essa de aplicabilidade
imediata para essas entidades, cabendo ao Estatuto geral (Lei nº
14.133/2021) a aplicabilidade subsidiária.

Também se aplicam a essas empresas e sociedades as disposições


sobre aquisições públicas do Estatuto da Microempresa e da Empresa de
Pequeno Porte (LC 123/2006).

Esse estatuto alcança toda e qualquer empresa pública e sociedade


de economia mista de todos os entes federativos (União, Estados, Distrito
Federal e Municípios), “que explore atividade econômica de produção
Licitações Públicas 19

ou comercialização de bens ou de prestação de serviços ainda que a


atividade econômica esteja sujeita ao regime de monopólio da União ou
seja de prestação de serviços públicos” (BRASIL, 2016).

A exigência de licitação com as empresas públicas e sociedades


de economia mista, segundo a Lei nº 13.303/2016, incluem como objeto
(Figura 3):

• Contratos com terceiros destinados à prestação de serviços,


inclusive de engenharia e publicidade.

• Aquisição e locação de bens.

• Alienação de bens e ativos integrantes do respectivo patrimônio.

• Execução de obras a serem integradas a esse patrimônio.

• Implementação de ônus real sobre seus bens.


Figura 3 - Objeto

Prestação
de serviços,
engenharia e
publicidade

Aquisição
Alienação de Lei nº
e locação
bens e ativos 13.303/2016
de bens

Implementação Execução
de ônus real de de obras
bens

Fonte: Elaborado pelas autoras com base na Lei nº 13.303/2016.


20 Licitações Públicas

Conforme Carvalho (2020), é necessário ressaltar que são


estabelecidas situações de contratações diretas mediante dispensa e
inexigibilidade de licitação. As hipóteses de licitação dispensável estão
taxativamente definidas no art. 29, já as de inexigibilidade constam no art.
30, que são:

Art. 30. A contratação direta será feita quando houver


inviabilidade de competição, em especial na hipótese de:

I - aquisição de materiais, equipamentos ou gêneros que só


possam ser fornecidos por produtor, empresa ou representante
comercial exclusivo;

II - contratação dos seguintes serviços técnicos especializados,


com profissionais ou empresas de notória especialização, vedada
a inexigibilidade para serviços de publicidade e divulgação:

a) estudos técnicos, planejamentos e projetos básicos ou


executivos;

b) pareceres, perícias e avaliações em geral;

c) assessorias ou consultorias técnicas e auditorias financeiras


ou tributárias;

d) fiscalização, supervisão ou gerenciamento de obras ou serviços;

e) patrocínio ou defesa de causas judiciais ou administrativas;

f) treinamento e aperfeiçoamento de pessoal;

g) restauração de obras de arte e bens de valor histórico.


(BRASIL, 2016)

Os casos de dispensa trata-se de um rol taxativo, não podendo


ser ampliado por entendimento da Administração Pública ou doutrina.
Já os casos de inexigibilidade são apenas exemplificativos, podendo
ser utilizado nas situações em que seja demonstrada a inviabilidade de
competição (CARVALHO, 2020).

Quando for realizada a contratação direta, o processo deverá ser


instruído com a caracterização da situação emergencial ou calamitosa
Licitações Públicas 21

que a justifique, quando couber; a razão da escolha do fornecedor ou de


quem irá realizar; e a justificativa do preço.

Diretrizes, modalidades e tipos


A Lei nº 13.303/2016 traz uma série de diretrizes que devem ser
observadas nas licitações e contratos, que são:

• Padronização do objeto de contratação, dos instrumentos


convocatórios e das minutas de contratos.

• Busca de maior vantagem competitiva considerando aspectos


como custos e benefícios diretos e indiretos, entre outros.

• Parcelamento do objeto, com vistas a ampliar a participação de


licitantes.

• Adoção preferencial da modalidade pregão.

• Política de integridade nas transações (BRASIL, 2016).

Diretrizes são os rumos a serem seguidos pelas entidades para


atingir as metas programadas, sendo formalizadas por instruções e
orientações veiculadas pelos respectivos órgãos diretivos (CARVALHO
FILHO, 2019).

Carvalho (2020) explica que o art. 32, IV da Lei nº 13.303/2016 prevê


que preferencialmente o pregão deverá ser a modalidade licitatória
empregada nas contratações realizadas pelas empresas públicas e
sociedades de economia mista. Perceba que a lei deixa claro o caráter
preferencial, e não exclusivo dessa modalidade licitatória, que apenas
será escolhida quando for cabível, nos moldes da legislação vigente, isto
é, para aquisição de bens e serviços comuns.

Baltar Neto et al. (2020) destacam que essa lei adota um modelo
procedimental flexível no qual não existem modalidades estáticas. Dessa
forma, apesar de o texto legal indicar a adoção preferencial do pregão,
não existem outras modalidades licitatórias indicadas pela lei a serem
preteridas. Interpretação adequada dessa regra parece ser que, na
modelagem do processo licitatório, a estatal deve usar, preferencialmente,
procedimento assemelhado ao do pregão.
22 Licitações Públicas

SAIBA MAIS:

Aprofunde-se neste tema lendo o artigo “A lei das estatais


contribui para simplificar e elevar a segurança jurídica de
licitações e contratos?” (PEREIRA JUNIOR, DOTTI, 2018).
Clique aqui.

As regras e os princípios aplicáveis às licitações devem ser seguidos


pelas empresas estatais em seus procedimentos de seleção, razão
pela qual o instrumento convocatório deve trazer critérios objetivos de
julgamento, evitando a escolha do vencedor com base em parâmetros
pessoais. (CARVALHO, 2020). Os critérios de escolha do vencedor (Figura
4), admitidos na Lei nº 13.303/2021, são:

• Menor preço.

• Maior desconto.

• Melhor combinação de técnica e preço.

• Melhor técnica.

• Melhor conteúdo artístico.

• Maior oferta de preço.

• Maior retorno econômico.

• Melhor destinação de bens alienados (BRASIL, 2021).


Figura 4 - Critérios de escolha do vencedor

Melhor combinação
Menor preço Maior desconto
de técnica e preço

Melhor conteúdo
Melhor técnica Maior oferta de preço
artítico

Maior retorno Melhor destinação de


econômico bens alienados

Fonte: Elaborado pelas autoras com base na Lei nº 13.303/2016.


Licitações Públicas 23

Nesse sentido, a lei determina que as licitações das estatais poderão


prever esses critérios de escolha do vencedor, sendo que um deles deve
estar explícito no edital.

Procedimento licitatório
O procedimento licitatório se desenvolve em dez fases, em que a
primeira se trata da preparação, que é uma fase interna na qual é elaborado
o instrumento convocatório e a minuta do contrato. A segunda fase é a
divulgação e logo depois vem a apresentação de lances ou propostas,
que poderão ser adotados os modelos de disputa aberto ou fechado, ou
até mesmo a combinação dos dois (CARVALHO, 2020).

Com relação à divulgação do instrumento convocatório, a Lei


nº 13.303/2016 define um prazo entre a efetiva publicidade desse
instrumento e a apresentação das propostas ou dos lances, a fim de
garantir a publicidade, competitividade e possibilitar aos participantes a
elaboração das suas propostas. Podemos observar os prazos mínimos, a
contar da divulgação do instrumento até a apresentação das propostas ou
dos lances, no quadro a seguir:
Quadro 1 - Prazos de divulgação do instrumento convocatório

Critério de julgamento menor preço ou


Aquisição de bens maior desconto: 5 dias úteis
Demais hipóteses: 10 dias úteis

Critério de julgamento menor preço ou


Obras e serviços maior desconto: 15 dias úteis
Demais hipóteses: 30 dias úteis

Critério de julgamento
melhor técnica ou
melhor combinação
de técnica e preço e Mínimo de 45 dias úteis
para licitações com
contratação semi-
integrada ou integrada

Fonte: Elaborado pelas autoras com base na Lei nº 14.133/2021.


24 Licitações Públicas

Através da adoção da junção da licitação clássica e do pregão,


a lei admitiu os modos de disputa aberto e fechado, assim como sua
combinação. No primeiro, os licitantes apresentam lances públicos e
sucessivos, podendo ser crescentes ou decrescentes, de acordo com
o caso. No segundo, as propostas são sigilosas até o momento em que
devem ser divulgadas (CARVALHO FILHO, 2019).

A quarta fase é o julgamento e será utilizado o critério previamente


estabelecido no instrumento convocatório e em seguida ocorrerá a
verificação da efetividade dos lances ou das propostas, para depois haver
a negociação. A sétima será a habilitação que deverá preencher requisitos,
como habilitação jurídica, qualificação técnica, capacidade econômica e
financeira, entre outros (CARVALHO, 2020).

A fase da verificação da efetividade é aquela em que obriga ao


exame da legitimidade da proposta ou do lance, podendo provocar a
desclassificação do licitante.

Será aberto prazo para os recursos na fase recursal, que deverá


ser interposto no prazo de cinco dias úteis a contar da habilitação, para
depois haver a adjudicação do objeto e logo após a homologação ou a
revogação, se for o caso.

Carvalho (2020) afirma que na última fase do procedimento


licitatório (Figura 5), a autoridade máxima do órgão irá analisar se houve
regularidade no procedimento, para então homologá-lo e encerrá-lo.
Também se admite a revogação do procedimento com base em razões
de interesse público supervenientes ao início do certame e anulação em
casos de vícios devidamente comprovados.
Licitações Públicas 25

Figura 5 - Fases do procedimento licitatório

Apresentação lances/
Preparação Divulgação
propostas

Julgamento Verificação Negociação

Habilitação Recursos Adjudicação

Homologação ou
revogação

Fonte: Elaborado pelas autoras com base na Lei nº 13.303/2016.

Em caso de empate na licitação, a lei define em seu art. 55 que


deverão ser utilizados critérios sucessivos de desempate, quais sejam:

• Disputa final, cujos licitantes empatados poderão apresentar nova


proposta fechada.

• Avaliação do desempenho contratual prévio dos licitantes desde


que existam sistema objetivo de avaliação instituído.

• Bens produzidos no país.

• Bens ou serviços produzidos ou prestados por empresa brasileira.

• Bens ou serviços produzidos ou prestados por empresas que


invistam em pesquisa e no desenvolvimento de tecnologia no país.

• Produzidos ou prestados por empresas que comprovem


cumprimento de reserva de cargos prevista em lei para pessoa
com deficiência ou para reabilitado da Previdência Social e que
atendam às regras de acessibilidade previstas na legislação.

• Sorteio.
26 Licitações Públicas

Podem ser utilizados ainda procedimentos auxiliares, que são as


ferramentas que podem ser utilizadas para dar suporte às licitações e
tornar mais efetivo o certame nas empresas públicas e sociedades de
economia mista.

São procedimentos auxiliares das licitações, conforme a Lei nº


13.303/2016:

• Pré-qualificação permanente – busca identificar fornecedores


devidamente habilitados e produtos com qualidade certificada
para futuras licitações.

• Cadastramento – será realizado nos registros cadastrais.

• Registro de preços – são adotadas as mesmas linhas tratadas na


Lei nº 14.133/2021.

• Catálogo eletrônico de padronização – trata-se de um sistema


informatizado e centralizado que possibilita a padronização dos
itens a serem adquiridos pelas entidades.

Os atos e procedimentos, das licitações das estatais, serão


realizados preferencialmente através de meio eletrônico, segundo o
edital, devendo os avisos conter os resumos dos editais das licitações
e contratos ser previamente publicados no Diário Oficial da União, do
Estado ou do Município e na internet, em portal específico mantido pela
estatal (BALTAR NETO, 2020).

Entretanto, existem casos em que se terá caráter sigiloso, pois


de acordo com a Lei nº 13.303/2016 o valor estimado do contrato a ser
celebrado pela empresa pública ou pela sociedade de economia mista
será, em regra, sigiloso (ou fechado) para o público em geral, mas sendo
disponibilizado permanentemente aos órgãos de controle externo e
interno. De qualquer forma, é possível dar publicidade ao valor estimado,
desde que com justificativa. Desse modo, embora preferencial, a adoção
do orçamento sigiloso não é obrigatória, podendo ser, justificadamente,
afastada complementa o autor.
Licitações Públicas 27

Importante também compreender que os crimes em licitações


e contratos presentes no Código Penal abrangem aqueles praticados
contra empresas públicas e sociedade de economia mista.

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo


tudinho? Neste capítulo você deve ter compreendido
como funciona as licitações nas empresas públicas e
sociedades de economia mista, seu objeto, as hipóteses de
contratação direta por dispensa e por inexigibilidade. Que a
Lei nº 13.303/2016 traz diretrizes a serem seguidas nessas
licitações, sendo uma delas a preferência pela modalidade
pregão. Conheceu os critérios de escolha do vencedor e as
fases do procedimento licitatório, dentre eles a divulgação
do instrumento convocatório e a forma de julgamento das
propostas e como proceder em caso de empate. Por fim,
você viu quais os procedimentos auxiliares que podem ser
utilizados no procedimento licitatório e os casos de sigilo.
28 Licitações Públicas

Normas gerais aplicáveis às licitações e às


contratações de serviços de publicidade
OBJETIVO:

Nesta unidade você irá identificar as normas gerais e os


procedimentos que são aplicados nas contratações de
serviços de publicidade de acordo com a Lei nº 14.133/2021
e a Lei nº 12.232/2010. Vamos juntos?

A Lei nº 14.133/2021 estabelece normas gerais sobre licitações e


contratos. Isso não é nenhuma novidade para nós nesse momento, não
é mesmo? Mas o que quero mostrar é que essa lei determina que não se
subordinam ao seu regime as contratações sujeitas a normas previstas
em legislação própria. Entretanto, em seu art. 186, define que se aplicam
as disposições dessa lei subsidiariamente à Lei nº 12.232, de 29 de abril de
2010. Mas nem sempre foi assim. Antes as contratações de publicidade se
sujeitavam a regras gerais dos procedimentos licitatórios.

Conforme Alexandrino e Paulo (2012), foi demonstrada grande


preocupação em mencionar a sujeição obrigatória dos contratos de
publicidade e divulgação à exigência de licitação, segundo leis anteriores
de licitações. Contudo, essas preocupações não foram impedimentos
para que, em todas as esferas de governo, as contratações de agências
de propaganda para prestação de serviços de publicidade aos órgãos
e entidades da administração pública fossem frequentes focos de
denúncias de favorecimentos a publicitários responsáveis pelas
campanhas de políticos vencedores das eleições da vez, de escândalos
de superfaturamento etc., fazendo com que a sociedade enxergasse com
desconfiança esses tipos de contratações.

Dessa forma, foi instituída a Lei nº 12.232/2010 com o intuito de dispor


sobre as normas gerais para licitação e contratação pela administração
pública de serviços de publicidade prestados por intermédio de agências
de propaganda, trazendo normas e procedimentos específicos para esse
tipo de contratação, sendo observadas apenas de forma complementar
à Lei nº 14.133/2021.
Licitações Públicas 29

A Lei nº 12.232/2010 é de observância obrigatória por parte de


todos os órgãos e entidades da administração direta e indireta de todos
os entes federados, inclusive pelas entidades por eles controladas direta
ou indiretamente, destaca Alexandrino e Paulo (2012). É sobre essa Lei
que iremos abordar neste capítulo. Alexandrino e Paulo (2012) explicam
que para os efeitos dessa lei, os serviços de publicidade (Figura 6)
são a criação de publicidade (execução interna) e a intermediação
e a supervisão da execução externa, assim como a distribuição de
publicidade a quaisquer veículos de divulgação, com o objetivo de
promover a venda de bens ou serviços de qualquer natureza, difundir
ideias ou informar o público em geral.
Figura 6 - Serviços de publicidade

Serviços de
publicidade

Atividades
complementares

Intermediação
Criação de Criação de
e supervisão da
publicidade publicidade
execução externa

Fonte: Elaborado pelas autoras com base em Alexandrino e Paulo (2012).

A Lei nº 12.232/2010 ainda define algumas atividades


complementares:

1o Nas contratações de serviços de publicidade, poderão


ser incluídos como atividades complementares os serviços
especializados pertinentes:

I - ao planejamento e à execução de pesquisas e de outros


instrumentos de avaliação e de geração de conhecimento
sobre o mercado, o público-alvo, os meios de divulgação
nos quais serão difundidas as peças e ações publicitárias ou
sobre os resultados das campanhas realizadas, respeitado o
disposto no art. 3o desta Lei;
30 Licitações Públicas

II - à produção e à execução técnica das peças e projetos


publicitários criados;

III - à criação e ao desenvolvimento de formas inovadoras


de comunicação publicitária, em consonância com novas
tecnologias, visando à expansão dos efeitos das mensagens
e das ações publicitárias. (BRASIL, 2010)

De acordo com Naspolini e Sena Junior (2019), conclui-se que os


contratos de prestação de serviço de publicidade, nos termos da Lei
nº 12.232/2010, necessariamente visarão a um objetivo específico de
comunicação para o qual o certame foi realizado, acumulando desde
o planejamento das ações que serão executadas até a veiculação da
campanha atinente. Ainda, consoante preconizado pela lei, as atividades
a serem desenvolvidas no conceito amplo de publicidade compreendem
as seguintes etapas:

• Planejamento e execução de pesquisas e estudos sobre o


mercado, público-alvo, ações publicitárias e resultados.

• Produção e execução técnica.

• Criação e desenvolvimento de comunicação publicitária.

A Lei nº 12.232/2010 veda a inclusão de qualquer outra atividade


que não esteja inserida nas citadas anteriormente para os contratos
de serviços em especial as de assessoria de imprensa, comunicação e
relações públicas ou as que tenham por finalidade a realização de eventos
festivos de qualquer natureza, as quais serão contratadas por meio de
procedimentos licitatórios próprios, respeitado o disposto na legislação
em vigor.

SAIBA MAIS:

Aprofunde-se mais nesse tema lendo “Lei nº 12.232/10


- Uma conquista da sociedade” da CENP em revista.
Clique aqui.
Licitações Públicas 31

A Lei nº 12.232/2010, em seu art. 14, determina que apenas pessoas


físicas ou jurídicas previamente cadastradas pelo contratante poderão
fornecer ao contratado bens ou serviços especializados relacionados
com as atividades complementares da execução do objeto do contrato.

Procedimento licitatório
Segundo a Lei nº 12.232/2010, serão utilizadas as modalidades
constantes na Lei nº 14.133/2021 e serão obrigatórios o uso dos critérios
de julgamento “melhor técnica” e/ou “técnica e preço”.

Você lembra quais são as modalidades da Lei nº 14.133/2021? Vamos


relembrar: concurso, concorrência, pregão, leilão e diálogo competitivo.

Independentemente do tipo de licitação, segundo Alexandrino e


Paulo (2012) sempre deverá existir (Figura 7):

• Uma proposta técnica, composta:

Por um plano de comunicação publicitária.

Por um conjunto de informações referentes ao proponente,


padronizadas em quesitos destinados a avaliar a sua capacidade
de execução do contrato e o nível dos trabalhos por ele realizados
para seus clientes.

• Uma proposta de preço, que conterá quesitos representativos das


formas de remuneração vigentes no mercado publicitário.
Figura 7 - Deverá existir

Proposta técnica Proposta de preço

Plano de comunicação Quesitos


plubicitária representativos
das formas de
remuneração

Informações sobre o
proponente

Fonte: Elaborado pelas autoras com base em Alexandrino e Paulo (2012).


32 Licitações Públicas

O plano de comunicação publicitária será apresentado em duas


vias, uma sem identificação de sua autoria e outra com a identificação. As
propostas serão apresentadas em um invólucro e as propostas técnicas
em três invólucros distintos, destinados um para a via não identificada do
plano de comunicação publicitária, um para a via identificada do mesmo
plano e o terceiro para as demais informações integrantes da proposta
técnica. Nas licitações do tipo “melhor técnica” devem ser fixados critérios
objetivos e automáticos de identificação da proposta mais vantajosa para
a administração, no caso de empate na soma de pontos das propostas
técnicas, explica Alexandrino e Paulo (2012).

Naspolini e Sena Junior (2019) citam que a licitação que segue


as diretrizes da Lei nº 12.232/2010 será processada e julgada por uma
comissão permanente ou especial e por uma subcomissão técnica.
Essa subcomissão, responsável pela avaliação do conteúdo técnico das
propostas, será constituída por pelo menos três membros, necessariamente
formados em comunicação, publicidade ou marketing ou que atuem em
uma dessas áreas, sendo que pelo menos 1/3 deles não deve manter
vínculo funcional ou contratual com o órgão promotor da licitação.

A formação da subcomissão deve ser feita por sorteio em sessão


pública. A exceção é quanto à modalidade de convite empregada nas
pequenas unidades administrativas, hipótese na qual a subcomissão
técnica específica poderá ser substituída pela comissão de licitação.
Nesse caso, a apreciação dos documentos técnicos competirá à própria
comissão de licitação e, caso esta não exista, a análise técnica deverá
ser realizada por servidor designado e que tenha conhecimentos na área
de comunicação, publicidade ou marketing, mencionam Naspolini e Sena
Junior (2019).

É facultada a adjudicação do objeto da licitação a mais de


uma agência de propaganda, sem a segregação em itens ou contas
publicitárias, mediante justificativa no processo de licitação. Quando
isso ocorrer, a escolha da agência será feita através de procedimento
de seleção interna entre elas, obrigatoriamente instituído pelo órgão ou
entidade contratante, cuja metodologia será aprovada pela administração
e publicada na imprensa oficial, explicitam Alexandrino e Paulo (2012).
Licitações Públicas 33

Alexandrino e Paulo (2012) resumem o procedimento obedecido


no processo e julgamento da licitação das contratações dos serviços de
publicidade da seguinte forma:

I. Abertura do invólucro com a via não identificada do plano de


comunicação e do invólucro que contém as outras informações
integrantes da proposta técnica, em sessão pública pela
comissão permanente ou especial.

II. Encaminhamento das propostas técnicas à subcomissão técnica


para análise e julgamento.

O julgamento das propostas técnicas e de preços e o julgamento


final do certame serão realizados exclusivamente com base nos
critérios especificados no instrumento convocatório, estabelece a Lei nº
12.232/2010:

III. Análise e julgamento pela subcomissão técnica do plano


de comunicação publicitária, desclassificando-se os que
desatenderem as exigências legais ou estabelecidas no
instrumento convocatório.

IV. Encaminhamento à comissão permanente ou especial da


pontuação atribuída a cada plano de comunicação publicitária,
fundamentada uma a uma.

V. Análise e julgamento pela subcomissão técnica dos quesitos


referentes às outras informações integrantes da proposta
técnica, desclassificando-se as que desatenderem quaisquer das
exigências legais ou estabelecidas no instrumento convocatório.

VI. Encaminhamento à comissão permanente ou especial da


pontuação atribuída aos quesitos referidos o item anterior, com a
correspondente fundamentação.

VII. Realização de sessão pública para apuração, pela comissão


permanente ou especial, do resultado geral das propostas na
qual:

• Serão identificadas as autorias dos planos de comunicação


publicitária.
34 Licitações Públicas

• Será elaborada uma planilha com as pontuações atribuídas a cada


um dos quesitos de cada proposta técnica.

• Será proclamado o resultado do julgamento geral das propostas


técnicas, registrando-se em ata as propostas desclassificadas e a
ordem de classificação.

VIII. Abertura dos invólucros com as propostas de preços em sessão


pública, adotando-se, conforme o caso, os procedimentos
previstos na Lei nº 14.133/2021 para os critérios de julgamento
“melhor técnica” e “técnica e preço” de licitação.

Será aberto prazo de 5 dias úteis para interposição de recurso.

IX. Publicação do resultado do julgamento final das propostas.

X. Convocação dos licitantes classificados no julgamento final das


propostas para apresentação dos documentos de habilitação.

XI. Decisão quanto à habilitação ou inabilitação dos licitantes.

XII. Homologação do procedimento e adjudicação do objeto licitado,


cabendo lembrar que, mediante justificativa no processo de
licitação, é possível a adjudicação do seu objeto a mais de uma
agência de propaganda, sem a segregação em itens ou contas
publicitárias.

A Lei nº 12.232/2010, em seu art. 12, estabelece que o


descumprimento, por parte de agente do órgão ou entidade responsável
pela licitação, dos dispositivos da lei destinados a garantir o julgamento
do plano de comunicação publicitária sem o conhecimento de sua
autoria, até a abertura dos invólucros, implicará a anulação do certame,
sem prejuízo da apuração de eventual responsabilidade administrativa,
civil ou criminal dos envolvidos na irregularidade.

As informações sobre a execução dos contratos de serviços de


publicidade, com os nomes dos fornecedores de serviços especializados
e veículos, serão divulgadas (Figura 8) em sítio próprio, aberto para aquele
contrato, na rede mundial de computadores, garantido o livre acesso às
informações por quaisquer interessados. As informações sobre valores
Licitações Públicas 35

pagos serão divulgadas pelos totais de cada tipo de serviço de fornecedores


e de cada meio de divulgação, afirmam Alexandrino e Paulo (2012).
Figura 8 – Divulgação

Fonte: Pixabay

A Lei nº 12.232/2010 ainda determina que as agências contratadas


deverão, durante o período de no mínimo 5 anos após a extinção do
contrato, manter acervo comprobatório da totalidade dos serviços
prestados e das peças publicitárias produzidas.

RESUMINDO:

Neste capítulo você deve ter identificado que existe uma


lei específica que trata das normas gerais para licitação e
contratação pela administração pública de serviços de
publicidade através de agências de propaganda, que é a
Lei nº 12.232/2010. Apesar de a Lei nº 14.133/2021 mencionar
que as contratações deveriam ser licitadas, esta só deverá
ser usada de forma subsidiária. A Lei nº 12.232/2010 explica
quais são os tipos de serviços de publicidade abarcados
por ela e veda a inclusão de outros que não estão inseridos
nas situações descritas, além disso estabelece como deve
ser todo o procedimento licitatório.
36 Licitações Públicas

Infrações e sanções administrativas


OBJETIVO:

Neste capítulo iremos assimilar as infrações e sanções


administrativas constantes na Lei nº 14.133/2021, como
elas são aplicadas no caso concreto e como os licitantes
poderão se defender e reabilitar-se. Vamos nessa?

A Lei nº 14.133/2021 estabelece em seu artigo 156 as sanções


administrativas (Figura 9) que podem ser impostas aos contratados.
Vejamos quais são:

• Advertência.

• Multa.

• Impedimento de licitar e contratar.

• Declaração de inidoneidade para licitar ou contratar.


Figura 9 - Sanções administrativas

Advertência

Multa
Sanções
Administrativas
Lei nº 14.133/2021
Impedimento de licitar e contratar

Declaração de inidoneidade para licitar ou contratar

Fonte: Elaborado pelas autoras com base na Lei nº 14.133/2021.

De acordo com o Tribunal de Contas da União (2010), é dever da


Administração prever no edital ou no contrato a aplicação de multa
por atraso injustificado na execução do objeto contratado, contudo, a
aplicação de multa não impede a Administração de extinguir o contrato e
de impor ao mesmo tempo ao contratado outras sanções previstas na lei.
Licitações Públicas 37

Dessa forma, a Administração Pública poderá extinguir o contrato e


aplicar mais de uma sanção além da multa na hipótese de o contratado
atrasar de forma injustificada a realização do objeto licitado.

Importante também destacar que na lei de licitação anterior existia


a possibilidade de rescindir o contrato, fato que foi modificado na Lei nº
14.133/2021, passando a ser extinção do contrato.

Segundo o Tribunal de Contas da União (2010), quanto à cobrança


de multas, o contrato deve especificar, no mínimo, o seguinte:

• Condições e valores.

• Percentuais e base de cálculo.

• Prazo máximo para recolhimento, após ciência oficial.

A pena de multa é a única que pode ser aplicada cumulativamente


com qualquer uma das outras sanções, menciona Scatolino e Trindade
(2016).

De acordo com a Lei nº 14.133/2021, a multa (Figura 10) será


calculada na forma do edital ou contrato, mas não poderá ser inferior
a 0,5% nem superior a 30% do valor do contrato licitado ou celebrado
com contratação direta e será aplicada ao responsável por qualquer das
infrações administrativas definidas na lei. Essas são conhecidas como
multas por infrações administrativas ou multa compensatória e é esta que
poderá ser aplicada em conjunto com outras sanções.
Figura 10 - Multa

Multa
compensatória

Não inferior a 0,5% Poderá ser aplicada Aplicada ao


nem superior a 30% em conjunto com responsável pelas
do contrato outras sanções infrações

Fonte: Elaborado pelas autoras com base na Lei nº 14.133/2021.


38 Licitações Públicas

Contudo, também poderá ser cobrado outro tipo de multa que é a


multa de mora, a qual será cobrada na hipótese de atraso injustificado na
execução do contrato. Nesse caso, a Administração poderá converter a
multa de mora em multa compensatória e promover a extinção unilateral
do contrato com a aplicação cumulada de outras sanções (BRASIL, 2021).

Portanto, a multa compensatória poderá ser cobrada como forma


de sanção junto com qualquer outro tipo de sanção administrativa, mas
na hipótese de atraso injustificado poderá também ser cobrada a multa
de mora.

Você lembra da garantia que poderá ser solicitada dos licitantes


como condição de habilitação? Elas estão presentes no art. 58 da Lei nº
14.133/2021. O Tribunal de Contas da União (2010) explica que se a garantia
prestada for inferior ao valor da multa, o contratado, além de perder o
valor da garantia, responderá pela diferença, que será descontada dos
pagamentos eventualmente devidos pela Administração ou, quando for o
caso, poderá ser cobrada judicialmente.

Podemos verificar na prática, por exemplo, em uma licitação em


que a empresa Constrói & Constrói atrasa a obra de construção do
hospital municipal da cidade de Vida Feliz. Como forma de penalidade,
a prefeitura poderá reter o valor da garantia do contrato. Contudo, essa
garantia gira em torno de apenas R$ 100.000,00 e a multa aplicada foi no
valor de R$ 150.000,00.

IMPORTANTE:

Além das penalidades citadas, o contratado fica sujeito às


demais sanções civis e penais previstas em lei, destaca o
Tribunal de Contas da União (2010).

Essas sanções serão aplicadas às infrações provocadas nas


licitações. Essas infrações estão elencadas no art. 155 da Lei nº 14.133/2021.
Para uma melhor compreensão, iremos correlacioná-las com as devidas
sanções dispostas no art. 156, e poderão ser:

• Advertência, exceto se não justificar pena mais grave: Dar causa à


inexecução parcial do contrato.
Licitações Públicas 39

• Multa compensatória: Qualquer das infrações administrativas.

• Impedimento de licitar e contratar, exceto se não justificar pena


mais grave:

- Dar causa à inexecução parcial do contrato que cause grave dano


à Administração, ao funcionamento dos serviços públicos ou ao
interesse coletivo.

- Dar causa à inexecução total do contrato.

- Deixar de entregar a documentação exigida para o certame


(BRASIL, 2021).

Exemplo: Você lembra da fase de habilitação? Nela são exigidos


vários documentos necessários para o certame. Desse modo, caso a
empresa Constrói & Constrói não entregue algum desses documentos
indispensáveis, ela poderá ficar impedida de licitar, ou até mesmo ter a
declaração de inidoneidade para licitar e contratar, dependendo do caso,
assim como aplicação de multa.

• Não manter a proposta, salvo em decorrência de fato superveniente


devidamente justificado.

• Não celebrar contrato ou não entregar a documentação exigida


para a contratação, quando convocado dentro do prazo de
validade de sua proposta (BRASIL, 2021).

Exemplo: Caso a empresa Constrói & Constrói participe de todo


o procedimento licitatório e quando convocada para assinar o contrato
dentro do prazo não o faça, estará sujeita à sanção de impedimento
de licitar, ou até mesmo ter a declaração de inidoneidade para licitar e
contratar, a depender da situação, e ainda multa correspondente.

• Ensejar o retardamento da execução ou entrega do objeto da


licitação sem motivo justificado.

Quando aplicada a sanção nesses casos, o participante ficará


impedido de licitar e contratar no âmbito da Administração Pública direta
e indireta do ente federativo que tiver aplicado a sanção no prazo máximo
de três anos (BRASIL, 2021).
40 Licitações Públicas

• Declaração de inidoneidade para licitar ou contratar:

- Apresentar declaração ou documentação falsa exigida para o


certame ou prestar declaração falsa durante a licitação ou a
execução do contrato.

- Fraudar a licitação ou praticar ato fraudulento na execução do


contrato.

- Comportar-se de modo inidôneo ou cometer fraude de qualquer


natureza.

- Praticar atos ilícitos com vistas a frustrar os objetivos da licitação


(BRASIL, 2021).

Exemplo: A empresa Constrói & Constrói foi a vencedora do


procedimento licitatório, entretanto, depois foi descoberto que na
execução do objeto houve uma redução da qualidade da obra fazendo
com que ela se tornasse insegura. Por esse motivo, a Administração
Pública deverá aplicar a sanção de declaração de inidoneidade para licitar
ou contratar e ainda aplicar a multa correspondente.

• Praticar ato lesivo previsto no art. 5º da Lei nº 12.846/2013.

Art. 5º Constituem atos lesivos à administração pública,


nacional ou estrangeira, para os fins desta Lei, todos aqueles
praticados pelas pessoas jurídicas mencionadas no parágrafo
único do art. 1º, que atentem contra o patrimônio público
nacional ou estrangeiro, contra princípios da administração
pública ou contra os compromissos internacionais assumidos
pelo Brasil. (BRASIL, 2013)

Nas infrações citadas como impedimento de licitar e contratar,


caso seja justificada pena mais gravosa, esta será a de declaração de
inidoneidade de licitar e contratar. Para essa sanção, o participante
também ficará impedido de licitar e contratar no âmbito da Administração
Pública direta e indireta do ente federativo que tiver aplicado a sanção, só
que o prazo passa a ser de no mínimo três anos e no máximo de seis anos
(BRASIL, 2021).
Licitações Públicas 41

O Tribunal de Contas da União poderá declarar a inidoneidade do


licitante fraudador para participar de licitação na Administração Pública
Federal quando verificada a ocorrência de fraude comprovada à licitação,
por até cinco anos, em obediência ao disposto no art. 46 da Lei nº
8.443/1992 (Lei Orgânica do Tribunal de Contas da União). Essa sanção não
se confunde com a pena de inidoneidade prevista na Lei nº 14.133/2021,
que pode ser aplicada pela própria Administração contratante, assim
como não interfere na competência da Administração para aplicar demais
sanções decorrentes de inexecução total ou parcial de contrato, explana
o Tribunal de Contas da União (2010).

Pela Lei de Licitações, o licitante declarado inidôneo poderá


buscar reabilitar-se por meio de ressarcimento dos prejuízos
resultantes e após transcurso do prazo de dois anos. Por sua
vez, a declaração de inidoneidade imposta pelo TCU só pode
ser revista mediante utilização, pelo interessado, dos meios
recursais disponíveis nas normas regedoras de processos
do Tribunal de Contas. Além disso, conforme visto, o prazo
de suspensão que o TCU pode impor é de até cinco anos e
não de dois anos, conforme estabelecido na Lei de licitações.
(TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO, 2010, on-line)

Na sanção de declaração de inidoneidade para licitar ou contratar


será precedida de análise jurídica, e conforme a Lei nº 14.133/2021, terá
como competência exclusiva:

• No Poder Executivo – pelo ministro de estado, secretário estadual


ou municipal e nas autarquias ou fundações será a autoridade
máxima da entidade.

• Poder Legislativo, Judiciário, Ministério Público e Defensoria


Pública (na função administrativa) – nível hierárquico equivalente à
autoridade máxima da entidade.

E como serão aplicadas essas sanções (Figura 11)? A Lei 14.133/2021


determina que na aplicação deverão ser considerados:

• A natureza e a gravidade da infração cometida.

• As peculiaridades do caso concreto.


42 Licitações Públicas

• As circunstâncias agravantes ou atenuantes.

• Os danos que afetaram a Administração Pública.

• A implantação ou o aperfeiçoamento do programa de integridade.

Art. 41. [...] Programa de integridade consiste, no âmbito de uma


pessoa jurídica, no conjunto de mecanismos e procedimentos
internos de integridade, auditoria e incentivo à denúncia de
irregularidades e na aplicação efetiva de códigos de ética e de
conduta, políticas e diretrizes com objetivo de detectar e sanar
desvios, fraudes, irregularidades e atos ilícitos praticados contra
a administração pública, nacional ou estrangeira. (BRASIL, 2015)

Para a sanção de multa, o interessado poderá apresentar defesa no


prazo de 15 dias úteis após a intimação. Já para o impedimento de licitar e
contratar ou para a declaração de inidoneidade de licitar ou contratar será
mediante a instauração de processo de responsabilização formada por
uma comissão com dois ou mais servidores estáveis, no qual os fatos e
as circunstâncias serão avaliados e intimará o licitante ou contratado para
apresentar defesa escrita no prazo de quinze dias úteis e apresentar suas
provas (BRASIL, 2021).
Figura 11 - Aplicação das sanções

Multa
compensatória

Impedimento ou
Considerar Multa declaração de
inidoneidade

Natureza e
Processo de
gravidade, Defesa - 15 dias úteis
responsabilização
peculiaridades,
agravantes ou
atenunates, danos,
programa de
integridade Defesa no prazo
de 15 dias úteis

Fonte: Elaborado pelas autoras com base na Lei nº 14.133/2021.


Licitações Públicas 43

No caso de o órgão ou entidade não possuir servidores estatutários,


este deverá ser formado por dois empregados públicos que façam parte
do quadro permanente e que de preferência possuam no mínimo três
anos de tempo de serviço no lugar.

Prescreverá em cinco anos a partir da ciência da infração pela


Administração, e de acordo com a Lei nº 14.133/2021, será:

• Interrompida quando iniciar a instauração do processo de


responsabilização.

• Suspensa quando for celebrado acordo de leniência.

• Suspensa por decisão judicial no qual ficará inviabilizada a


conclusão da apuração administrativa.

Importante compreender que na interrupção o prazo se inicia


novamente, passando a correr novamente desde o princípio, já na
suspensão acontece um tipo de congelamento, assim, quando for sanado
o que deu a causa da suspensão, o prazo volta a correr do momento em
que parou.

SAIBA MAIS:

Para compreender mais sobre o que é o acordo de


leniência, leia o que diz a Lei nº 12.846/2013 em seu
capítulo V. Clique aqui.

Poderá ainda haver a desconsideração da personalidade jurídica,


caso esta seja empegada com abuso de direito para facilitar, encobrir ou
dissimular a prática dos atos ilícitos previstas na Lei nº 14.133/2021 ou para
gerar confusão patrimonial. Desse modo, as sanções aplicadas às pessoas
jurídicas passarão a alcançar também os administradores e sócios que
possuam os poderes de administração, pessoa jurídica sucessora ou a
empresa do mesmo ramo com relação de coligação ou controle, de fato
ou de direito com o sancionado, desde que observados o contraditório e
a ampla defesa e obrigatoriedade de análise jurídica prévia (BRASIL, 2021).
44 Licitações Públicas

Os órgãos e as entidades de todos os poderes de todos os


entes federativos deverão ainda no prazo máximo de 15 dias úteis, a
partir da aplicação da sanção, atualizar os dados no Cadastro Nacional
de Empresas Inidôneas e Suspensas (CEIS) e no Cadastro Nacional de
Empresas Punidas (CNEP) estabelecidos no domínio do Poder Executivo
Federal.

A Lei nº 14.133/2021, em seu art. 163, traz também a possibilidade


de o licitante ou contratado poder ser reabilitado perante a própria
autoridade que aplicou a penalidade, devendo para isso ser exigido de
forma cumulativa:

• Reparação integral do dano gerado à Administração Pública.

• Pagamento de multa.

• Transcurso do prazo mínimo de um ano para a sanção de


impedimento de licitar e contratar, e de três anos na hipótese de
declaração de inidoneidade de licitar ou contratar.

• Cumprimento das condições de reabilitação estabelecidas no ato


punitivo.

• Análise jurídica prévia, com posicionamento conclusivo quanto ao


cumprimento de todos os requisitos.

Para as infrações de apresentação de declaração ou documentação


falsa exigida para o certame ou prestar declaração falsa durante a licitação
ou a execução do contrato e praticar ato lesivo à Administração Pública,
o licitante ou contratado para reabilitar-se deverá ainda implantar ou
aperfeiçoar o programa de integridade (BRASIL, 2021).

Para finalizar, é importante também compreender que os crimes


em licitações e contratos estão dispostos no Código Penal, no capítulo
II – B, e foram incluídos pela Lei nº 14.133/2021.
Licitações Públicas 45

RESUMINDO:

Neste capítulo você deve ter entendido que as sanções


administrativas cabíveis para os contratados podem ser
advertência, multa, impedimento de licitar e contratar
ou a declaração de inidoneidade para licitar ou contratar.
Que apenas a multa pode ser cumulada com outro tipo
de sanção, assim como o contratado fica sujeito ainda às
sanções civis e penais previstas em lei. Que várias infrações
podem ensejar a aplicação dessas sanções, como dar
causa à inexecução parcial do contrato e que o contratado
ou licitante terá o prazo para se defender e poderá ainda
reabilitar-se caso cumpra com as exigências determinadas.
Além disso, ainda poderá haver a desconsideração da
personalidade jurídica e a obrigatoriedade de os poderes
de todos os entes federativos atualizar os dados no CEIS e
no CNEP.
46 Licitações Públicas

REFERÊNCIAS
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Descomplicado. 20. ed. São Paulo: Método, 2012.

BALTAR NETO, F. F.; TORRES, R. C. L. Direito Administrativo. 10. ed.


Salvador: Juspodivm, 2020.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: texto


constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988, compilado
até a Emenda Constitucional nº 105/2019. Brasília: Senado Federal,
Coordenação de Edições Técnicas, 2020.

BRASIL. Decreto nº 8.420, de 18 de março de 2015. Regulamenta a


Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013, que dispõe sobre a responsabilização
administrativa de pessoas jurídicas pela prática de atos contra a
administração pública, nacional ou estrangeira e dá outras providências.
Disponível em: https://bit.ly/3cCvXdM. Acesso em: 28 abr. 2021.

BRASIL. Tribunal de Contas da União. Licitações e Contratos.


Orientações e Jurisprudência do TCU. 4. Ed. Brasília: TCU, Secretaria-
Geral da Presidência: Senado Federal, Secretaria Especial de Editoração
e Publicações, 2010. Disponível em: https://bit.ly/3pAQ8y6. Acesso em: 5
maio 2020.

BRASIL. Lei nº 14.133 de 01 de abr. de 2021. Lei de Licitações e


Contratos Administrativos. Disponível em: https://bit.ly/32tgV4G. Acesso
em: 13 abr. 2021.

BRASIL. Lei nº 12.232 de 29 de abr. de 2010. Dispõe sobre as normas


gerais para licitação e contratação pela administração pública de serviços
de publicidade prestados por intermédio de agências de propaganda e
dá outras providências. Disponível em: https://bit.ly/3xegush. Acesso em:
28 abr. 2021.
Licitações Públicas 47

BRASIL. Lei nº 12.846 de 1º de agosto de 2013. Dispõe sobre a


responsabilização administrativa e civil de pessoas jurídicas pela prática
de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira, e dá
outras providências. Disponível em: https://bit.ly/3zlVqlG. Acesso em: 28
abr. 2021.

BRASIL. Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006.


Institui o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno
Porte; altera dispositivos das Leis no 8.212 e 8.213, ambas de 24 de julho de
1991, da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-
Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, da Lei no 10.189, de 14 de fevereiro de
2001, da Lei Complementar no 63, de 11 de janeiro de 1990; e revoga as
Leis no 9.317, de 5 de dezembro de 1996, e 9.841, de 5 de outubro de 1999.
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CARVALHO FILHO, J. S. Manual de Direito Administrativo. 33. ed.


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PEREIRA JUNIOR, J. T. As licitações exclusivas para microempresas


e empresas de pequeno porte: regra e exceções. Revista do TCU. 2012.
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4. ed. Salvador: Juspodivm, 2016.

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