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Noções de Direito

Unidade 2
Direito Constitucional e
a Organização do Estado
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
CAMILA COELHO MOREIRA
AUTORIA
Camila Coelho Moreira
Sou formada, pós-graduada e mestre em Direito, com experiência
técnico-profissional na área. Atualmente sou diretora da área de
contencioso civil de um escritório de advocacia no qual eu sou sócia na
cidade de Vitória/ES. Sou apaixonada pelo que faço e adoro transmitir
minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões.
Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de
autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase
de muito estudo e trabalho. Conte comigo!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

OBJETIVO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova compe- novo conceito;
tência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou dis-
mento; cutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
A Constituição: Conceitos, classificações e histórico ..................10

Constitucionalismo ........................................................................................................................10

Conceito e classificações ......................................................................................................... 13

A Constituição de 1988................................................................................................................ 16

Princípios constitucionais, direitos e garantias fundamentais .. 19

Princípios Constitucionais ........................................................................................................ 19

Direitos e garantias fundamentais....................................................................................... 21

Organização do Estado: A União, os Estados, o Distrito Federal e


os Municípios ................................................................................................ 28

União ....................................................................................................................................................... 30

Estados-membros...........................................................................................................................32

Municípios..............................................................................................................................................33

Distrito Federal .................................................................................................................................35

A organização e a separação dos poderes na Constituição de


1988.....................................................................................................................37

Poder Legislativo............................................................................................................................. 38

Poder Executivo . ............................................................................................................................ 40

Poder Judiciário.................................................................................................................................42
Noções de Direito 7

02
UNIDADE
8 Noções de Direito

INTRODUÇÃO
O direito é uma área do conhecimento de extrema relevância, a qual
todos estamos sujeitos até o fim de nossas vidas. Além de sua importância
no mercado de trabalho, atos cotidianos, como atravessar a rua, pegar um
ônibus ou fazer um lanche, estão sujeitos a normas jurídicas que devem
ser observadas e respeitadas, sob pena de sanções. Meu objetivo nessa
unidade é proporcionar conhecimentos jurídicos básicos para que você
possa se destacar como profissional e enfrentar situações do dia a dia que
envolvam essa temática. Isso significa que, ao longo desta unidade letiva,
você vai mergulhar neste universo de leis, doutrinas, jurisprudências...
vamos nessa comigo?
Noções de Direito 9

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vinda (o). Nosso propósito é auxiliar você no
desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o término
desta etapa de estudos:

1. Explicar o que é o direito e sua relação com a moral e com a justiça.

2. Explicar sobre as áreas, os ramos e as fontes do direito.

3. Identificar as espécies normativas e a diferença entre processo e


procedimento

4. Interpretar a teoria geral do Estado e os regimes políticos.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento?


Ao trabalho!
10 Noções de Direito

A Constituição: Conceitos, classificações


e histórico

OBJETIVO:

Ao término deste capítulo, você será capaz de entender


de que modo se encontra estruturada a nossa atual
Constituição, fundamentada na evolução histórica do
constitucionalismo e das classificações das constituições
ao longo dos tempos. Isto será fundamental para que você
possa aprender os próximos conteúdos, considerando
ser a Constituição a lei suprema de um Estado. E então?
Motivado para desenvolver esta competência? Então
vamos lá. Avante!

Constitucionalismo
Antes de iniciarmos o estudo do Direito Constitucional e seus
desdobramentos, é interessante que você saiba sobre o Constitucionalismo.

Definido por alguns como um movimento social, por outros como


uma técnica de limitação de poder, trata-se de um meio de limitar poder
do Estado e assegurar os direitos fundamentais do povo por meio do texto
Constitucional.

O constitucionalismo, ao longo da história, é fruto da luta do


povo contra regimes autoritários que vigoraram desde a Idade Antiga.
Destacamos aqui que na Antiguidade (século V até a tomada do império
Romano pelos bárbaros) surge o marco do Constitucionalismo, por meio
dos hebreus e da limitação imposta aos estados teocráticos da época.

Já na Idade Média (Século V – Século XV) um grande marco do


Constitucionalismo foi a Magna Carta de 1215, redigida pelos nobres
ingleses da época que estabelecia, mesmo diante dos regimes
monarquistas da época, a proteção de alguns direitos do povo (SILVA,
2019). A Magna Carta exigia ao Rei João sem Terra os direitos dos barões,
como eram conhecidos os nobres da época, bem como concedeu à
Noções de Direito 11

mulheres e crianças o direito de herdar propriedades. Além disso, o


referido documento conferiu aos barões o direito de declarar guerra ao
Rei caso ele não cumprisse as disposições presentes no documento.
Figura 1 – Rei João sem Terra assinando a Magna Carta

Fonte: Wikimedia

É na Idade Moderna (1453- 1789) que o movimento ganha forças no


que diz respeito à proteção de direitos individuais da população. Foram
destaques nessa época o Petition of Rights (1628), o Habeas Corpus Act
(1679), o Bill of Rights (1689) e o Act of Settlement (1701) (LENZA, 2018).

ACESSE:

O Bill of Rights foi um grande marco para os direitos


humanos, a partir da Revolução Gloriosa. Para relembrar
alguns conceitos históricos, sugerimos a leitura do texto a
seguir, da historiadora Camila Caldas Petroni, disponível aqui.

Ainda sobre a evolução do constitucionalismo na história, o


constitucionalismo norte-americano possui grande relevância ao ter
estabelecido os contratos de colonização, criados pelos peregrinos que,
12 Noções de Direito

ao chegarem nas terras norte-americanas e não encontrarem nenhum


poder, firmaram contratos de mútuo consenso quanto às regras que
prevaleceriam naquelas regiões, que mais tarde seriam incorporadas
pelos chefes de Estado da época, surgindo daí um dos pilares da
constituição, que consiste em estabelecer e organizar o governo pelos
próprios governados (SILVA, 2019).

Por fim, o constitucionalismo contemporâneo (1789 até os dias


atuais) é marcado pelas constituições escritas como forma soberana
de limitação do poder e com o povo como titular desse poder legítimo.
Os textos constitucionais dessa era marcam um conjunto de direito
sociais traduzidos em palavras, o que se vê presente na Constituição
de 1988, período em que prevalece a soberania constitucional, cujo
constitucionalismo é globalizado, estando presente em quase todos os
Estados do mundo.

Ainda sob a perspectiva evolutiva, doutrinadores e estudiosos


da ciência do Direito desenvolveram uma nova relação com o
constitucionalismo, o denominado neoconstitucionalismo. Estudiosos
integrantes desse movimento acreditam que o constitucionalismo não
está relacionado somente à limitação do poder pela constituição de
um Estado, mas sim com a concretização de direitos fundamentais, de
modo a acreditar em um caráter mais efetivo do texto constitucional e não
meramente retórico. São pontos marcantes do neoconstitucionalismo:

a. Estado Constitucional de Direito – a constituição não é considerada


somente o conjunto das leis de um Estado, mas sim o centro do
sistema estatal cujos valores encontram-se ali reunidos, de modo
que a lei deve ser aplicada e interpretada conforme esses valores.

b. Contexto axiológico – necessidade de se fazer uma leitura moral


do direito com base nos direitos fundamentais e na dignidade
humana e de diferenciar as normas a partir da moral.
Noções de Direito 13

ACESSE:

Para aprender um pouco mais sobre o neoconstitucionalismo,


sugerimos que você assista esse vídeo: AGU Explica –
Neoconstitucionalismo, disponível clicando aqui.

Agora que você já sabe o que é o Constitucionalismo, vamos


aprender um pouco mais sobre a Constituição? Vem comigo!

Conceito e classificações
Acho que você já percebeu como que estabelecer um conceito no
que diz respeito às questões jurídicas é algo delicado e com a Constituição
isso não seria diferente.

Isso se dá, pois o direito como um todo não é uma ciência exata.
Trata-se de um fenômeno multifacetado e cada face desse fenômeno
contribui para uma classificação. Feitas essas considerações, traremos
algumas definições do direito sob as perspectivas sociológica, política,
jurídica e cultural, para que você possa entender bem no que consiste
esse termo.

Sob a perspectiva social, a Constituição, para ser considerada


legítima, deve traduzir o poder de um povo. Segundo Lassale apud Lenza,
a Constituição seria “a somatória dos fatores reais do poder dentro de uma
sociedade” (LENZA, 2018, p. 93).

No sentido político, a constituição difere-se de lei constitucional, de


modo que a Constituição consiste em uma decisão política fundamental,
na qual se estabelecem a estrutura e órgãos do Estado, os direitos
individuais de cada um, o regime democrático e as leis constitucionais
seriam derivadas dessa decisão.

Quanto à definição jurídica da Constituição, pode-se dizer que é um


dever-ser, uma norma de conduta a ser seguida por todos. A Constituição
ocupa posição de destaque na soberania das normas, pois sua criação
não foi sujeita à uma edição do Estado, mas sim como tradução de uma
vontade popular.
14 Noções de Direito

No sentido cultural, a constituição é definida como o produto dos


aspectos econômicos, sociológicos, jurídicos e filosóficos de um povo,
que regulam a existência deste e estrutura o Estado.

Agora que você já aprendeu o que é a constituição, partiremos para


a classificação constitucional sob os seguintes aspectos: origem, forma,
extensão, elaboração, alterabilidade, sistemática e função. Vamos comigo
nessa?

A primeira classificação que vamos fazer será em relação à origem


da Constituição, que se divide em outorgada e promulgada. A constituição
outorgada é autoritária, imposta por um agente revolucionário que
não é legitimado pelo povo para atuar. Já a constituição promulgada é
democrática, votada e possui a iniciativa popular, através da Assembleia
Constituinte, que é eleita pelo povo e em nome dele deve atuar.

Quanto à forma, a constituição pode ser escrita ou costumeira


(consuetudinária). Escrita é a constituição formada por um conjunto de
regras que estão organizadas em um documento único, cujo conteúdo
estabelece as normas de conduta e organização de um Estado. Já a
constituição costumeira é aquela contrária à constituição escrita em
um único texto. Suas previsões encontram-se em textos esparsos que
são baseados no uso, costumes, jurisprudências e convenções. Ex.:
constituição da Inglaterra.

Quanto à extensão, a Constituição pode ser sintética ou analítica.


Sintética é a constituição que carrega somente os princípios fundamentais
de um Estado. Esse modelo constitucional tende a ser mais duradouro,
pois abriga normas mais genéricas que devem nortear as demais normas.
Além de tenderem a ser mais duradouras, essas constituições também
costumam ser mais estáveis, uma vez que, por não estabelecer minúcias,
seu poder de flexibilização e adaptação a casos concretos.

EXEMPLO:

Um exemplo de constituição sintética é a dos Estados Unidos da


América, com sete artigos e vinte e sete emendas constitucionais. A
constituição original possui, ao todo, cinco páginas.
Noções de Direito 15

Já as constituições analíticas são aquelas que abordam de


forma mais completa os assuntos que os constituintes entendem por
fundamentais, estabelecendo detalhes, procedimentos e buscam
englobar em si a maior quantidade de situações possíveis.

Quanto à forma de elaboração, as constituições dividem-se em


dogmáticas ou históricas. Dogmáticas são aquelas que são sempre
escritas e refletem os dogmas estruturais do Estado, elaboradas de uma
só vez, através da Assembleia Constituinte. Já as históricas são aquelas
que são formadas de forma lenta e contínua, ao longo do passar do
tempo, considerando as histórias e as tradições de um povo.

As constituições quanto à alterabilidade classificam-se em rígidas,


flexíveis ou semiflexíveis. A alterabilidade consiste na possibilidade de
alteração de seu texto, de seu conteúdo. As constituições classificadas
como rígidas são aquelas que exigem um processo legislativo mais
complexo e solene em relação à alteração das demais normas. Já as
flexíveis são aquelas que ao contrário das rígidas, não possuem um
processo legislativo rigoroso para sua alteração em relação às normas
infraconstitucionais. É considerada semiflexível a constituição que une as
características das duas classificações anteriores, pois sua rigidez varia de
acordo com o tema a ser abordado.

Além dessas classificações, também existem as constituições que


são imutáveis, ou seja, que pretendem ser eternas.

VOCÊ SABIA?

A nossa atual Constituição é considerada rígida. Tal


determinação encontra-se em seu artigo 60, que estabelece
um quórum específico para sua votação, 3/5 de cada casa
do Congresso, além de exigir dois turnos de votação para
aprovação de qualquer Emenda Constitucional.

Quanto à sistemática, as constituições podem ser reduzidas ou


variadas. Reduzidas são aquelas que se materializam em um só código,
enquanto as variadas estão espalhadas em vários textos e documentos.
16 Noções de Direito

Em relação à função, ela pode se dividir em provisórias ou definitivas.


Provisórias dizem respeito ao período em que a constituição está sendo
elaborada e encontra-se sujeita a modificações, enquanto a constituição
definitiva é definida como aquela que possui uma duração indefinida.

Agora que você já aprendeu que existem diversas formas de


constituição, que tal aprendermos um pouco mais sobre a nossa querida
Constituição que se encontra em vigor no Brasil?

A Constituição de 1988
A partir da classificação que acabamos de aprender, a Constituição
da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/88) pode ser classificada
como promulgada, escrita, analítica, dogmática, rígida, reduzida, eclética
e definitiva.

A CRFB/88 é fruto da evolução histórica do Brasil, sendo a sétima


Constituição da história do país. Denominada por Ulysses Guimarães
como constituição cidadã, um ponto marcante foi a grande participação
popular durante sua elaboração. A Assembleia Constituinte, que deu
origem à nossa querida Constituição, foi integrada por 559 pessoas, teve
duração de dezenove meses e foi promulgada com 245 artigos, sendo
considerada uma das Constituições mais extensas da história.

ACESSE:

Para entender um pouco mais sobre o que foi a assembleia


constituinte, acesse este link.

Uma das principais inovações trazidas foi o sistema presidencialista,


com eleição direta em dois turnos, a assistência social, a viabilização
das Medidas Provisórias, o direito de voto universal, internacionalismo
estatal e nacionalismo econômico e a ampla gama de garantias e direitos
fundamentais (PAULO; ALEXANDRINO, 2018).

Como um todo, uma das características da Constituição de 1988 são


seus aspectos democráticos e liberais, que se destacaram principalmente
Noções de Direito 17

pelo fato de que a Constituição fora promulgada após um período


marcante da história do Brasil, o Golpe Militar de 1964, em que vários dos
direitos e deveres dos cidadãos foram suprimidos pela força do Estado.

Tais características estão presentes na forma de governo escolhida,


que é a república e no sistema presidencialista e a forma de Federação do
Estado, na instituição da capital Brasília, da inexistência de religião oficial,
na organização dos poderes e na declaração dos direitos.

Atualmente a Constituição conta com nove títulos: princípios


fundamentais, direitos e garantias fundamentais, organização do Estado,
organização dos poderes, defesa do Estado e instituições democráticas,
tributação e orçamento, da ordem econômica e financeira, da ordem social
e das disposições constitucionais gerais. Ao todo, integram a Constituição
250 (duzentos e cinquenta) artigos.
Figura 2 – Constituição de 1988

Fonte: Wikipedia.

Até o mês de dezembro de 2019 foram acrescentadas 112 (cento


e doze) emendas, sendo que 104 (cento e quatro) foram emendas
constitucionais ordinárias, 6 (seis) emendas constitucionais de revisão e 2
(dois) tratados internacionais.
18 Noções de Direito

SAIBA MAIS:

Que tal se aprofundar nesse tema? Acesse a Constituição


e veja tudo o que comentamos neste capítulo. O conteúdo
encontra-se disponível clicando aqui.

RESUMINDO:

E então? Gostou de tudo até aqui? Agora, só para termos


certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo
deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você iniciou
esse capítulo aprendendo o que o constitucionalismo
é porque ele é classificado por uns como um momento
social e por outros como uma técnica de limitação de
poder. Aprendemos sobre a origem do Constitucionalismo,
como fruto da luta do povo contra as desigualdades que se
iniciou desde a Idade Média, passando pela Idade Moderna,
o exemplo do Constitucionalismo Norte-americano até
chegarmos no Constitucionalismo Contemporâneo e o
Neoconstitucionalismo. Aprendemos também o conceito
de constituição sob as perspectivas social, política, jurídica
e cultural, além das classificações quanto à origem, forma,
extensão, elaboração, alterabilidade, sistemática e função.
Por fim, você pode conhecer um pouco mais sobre a nossa
atual (e querida) Constituição de 1988 e um pouco do seu
conteúdo dissolvido em seus nove títulos e duzentos e
cinquenta artigos, que aprenderemos um pouco mais
sobre eles a seguir. Vamos continuar nessa jornada incrível
em busca do conhecimento junto comigo?
Noções de Direito 19

Princípios constitucionais, direitos e


garantias fundamentais

OBJETIVO:

Ao término deste capítulo, você conhecerá os direitos e


garantias fundamentais presentes na Constituição. Isto
será fundamental para o seu aprendizado nessa disciplina.
E então? Motivado para desenvolver esta competência?
Então vamos lá. Avante!

Princípios Constitucionais
Os princípios consistem em uma espécie de norma jurídica e
servem como apoio ao operador do direito no sentido de nortear a
interpretação da regra, bem como de limite para o poder do jurista. Os
princípios constitucionais encontram-se elencados nos artigos 1º ao 4º da
Constituição.

Os princípios fundamentais são aqueles que estão presentes no


artigo 1º da CRFB/88, que consistem nos fundamentos da República
Federativa do Brasil. São eles a soberania, a cidadania, a dignidade da
pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o
pluralismo político.

Entre os princípios acima elencados, destacamos o da dignidade


da pessoa humana, muito utilizado para a argumentação, implementação
e efetivação de políticas públicas que visem a salvaguarda dos direitos
humanos. O princípio da dignidade da pessoa humana consiste em
resguardar de forma intrínseca a cada ser o humano seu respeito e a
consideração do Estado e da sociedade em relação à personalidade de
cada indivíduo, no fim de reconhecer cada indivíduo como sujeito de
direitos e deveres fundamentais atribuídos pelo Estado, sem distinção de
qualquer natureza.
20 Noções de Direito

Além disso, o mesmo artigo elenca, em seu parágrafo único, o


seu caráter democrático, o que chamamos de Estado Democrático
de Direito, ao aduzir que “todo o poder emana do povo, que o exerce
por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta
Constituição” (BRASIL, 1988).

Seguindo o texto Constitucional, no artigo 2º da Carta Magna


encontra-se a tripartição dos poderes “são Poderes da União,
independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o
Judiciário” (BRASIL, 1988).

Integrando os princípios constitucionais, o artigo 3º da Carta Magna


elenca os objetivos da República Federativa do Brasil, que são eles:
construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento
nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades
sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos de
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação
(BRASIL, 1988).

Por fim, sob a ótica principiológica, o artigo 4º da Carta Magna


elenca os princípios que regem as relações internacionais do Brasil,
sendo elas: independência nacional; prevalência dos direitos humanos;
autodeterminação dos povos; não intervenção; igualdade entre os Estados;
defesa da paz; solução pacífica dos conflitos; repúdio ao terrorismo e ao
racismo; cooperação entre os povos para o progresso da humanidade e
concessão de asilo político. Vale ressaltar que muitos desses princípios
são fruto de tratados e convenções coletivas assinados pelo Brasil.
Noções de Direito 21

Figura 3 – Princípios básicos das relações internacionais do Brasil

Fonte: Freepik

VOCÊ SABIA?

Que existem temas que jamais poderão ser alterados na


Constituição? Dispostos no art. 60 §4 e denominados de
cláusulas pétreas, são eles: a forma federativa de Estado, o
voto direto, secreto, universal e periódico; a separação dos
Poderes e os direitos e garantias individuais.

Direitos e garantias fundamentais


Os direitos e garantias fundamentais do indivíduo são classificados
pela doutrina conforme sua geração ou dimensão. A primeira ideia de
direitos e garantias fundamentais surgiram na Europa, no século XVIII,
com a passagem do estado autoritário para o estado de direito.

Marcada pela Revolução Industrial e Independência dos Estados


Unidos, a primeira dimensão de direitos a ser protegida foi a liberdade do
indivíduo voltada para proteção de direitos políticos e civis. Esses direitos
só puderam ser conquistados a partir de uma abstenção do Estado, no
sentido de não mais exercer um controle sobre os indivíduos e permitir
22 Noções de Direito

que, através da liberdade de expressão, questionassem ou discordassem


da forma de governo (ALEXY, 2008).

EXEMPLOS:

São marcos dessa geração a Magna Carta de 1215 assinada pelo Rei
João Sem Terra, a Paz de Westfalia, o Habeas Corpus Act, o Bill of
Rights e as Declarações de Direito Americana (1776) e Francesa (1789).

Figura 4 – Revolução Industrial e os direitos da primeira dimensão

Fonte: Pixabay

A segunda dimensão dos direitos humanos é marcada pela


igualdade, por meio da fixação dos direitos sociais, culturais, econômicos
e coletivos. Essa fase surge após a Primeira Guerra Mundial, quando
ocorre uma concepção mundial de Estado de Bem-Estar Social. Essa
segunda dimensão de direitos impõe ao Estado obrigações que devem
ser materializadas por meio das normas constitucionais no sentido de
assegurar aos indivíduos, sob a tutela do Estado, apoio econômico por
meio dos setores públicos.
Noções de Direito 23

VOCÊ SABIA?

No Brasil, os direitos sociais característicos da segunda


dimensão aparecem no artigo 6º da Constituição e são
eles: “a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a
moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência
social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência
aos desamparados, na forma desta Constituição” (BRASIL,
1988, art. 6).

A terceira dimensão dos direitos fundamentais é marcada pela


alteração da sociedade internacional, pelo desenvolvimento da tecnologia
e da ciência e pela mudança das relações econômico-sociais, marcadas
pela desigualdade, consumo, mudanças climáticas e aquecimento global.

A terceira fase é marcada pelas novas preocupações e problemas


que surgiram a partir do crescimento das cidades e da globalização,
como, por exemplo, a preservação ambiental e a proteção do direito
do consumidor. Nesse sentido, essa fase diz respeito à fraternidade
e se traduz por meio dos direitos ao desenvolvimento, à paz, ao meio
ambiente, a propriedade (na ideia de patrimônio comum da humanidade)
e na comunicação (LENZA, 2018; ALEXY 2008).
Figura 5 – Terceira dimensão dos direitos humanos: fraternidade

Fonte: Pixabay
24 Noções de Direito

Há ainda quem acredite que existem direitos de quarta geração,


mas isso ainda não representa a grande maioria da doutrina. Para quem
acredita nos direitos fundamentais da quarta geração, eles seriam
direitos relacionados à bioética e informática, visando proteger assuntos
relacionados a suicídio, aborto, eutanásia, transexualidade, reprodução
artificial e manipulação de DNA – no campo da bioética – e a proteção
de dados, direitos relacionado à comunicação, privacidade, propriedade
intelectual e industrial – no campo da informática.

Os direitos fundamentais não se confundem com as garantias


fundamentais. Apesar de ambos os conceitos estarem relacionados, os
direitos fundamentais consistem em bens e vantagens presentes nas
normas constitucionais na medida que as garantias fundamentais dizem
respeito à proteção desses direitos ou formas de reparação quando da
violação de um direito (LENZA, 2018).

Não há o que se confundir, porém, garantias fundamentais com


remédios constitucionais. Os remédios constitucionais consistem em
uma espécie do gênero garantias, mas, para além dos remédios, as
garantias podem estar presentes na mesma norma que assegura o direito
(LENZA, 2018).

Os remédios constitucionais são os mecanismos garantidos pela


própria Constituição para serem utilizados nos casos em que o Estado
não cumpre na sua função de salvaguardar os direitos fundamentais do
cidadão. São espécies de remédios constitucionais o Habeas corpus,
Habeas data, o Mandado de Segurança, o Mandado de Injunção e a Ação
Popular.

O Habeas corpus, apesar do nome em latim, possui origem na


Inglaterra e pode ser utilizado por qualquer pessoa para garantir seu
direito de liberdade e locomoção, com o fim de evitar qualquer tipo de
prisão ilegal ou arbitrária e abuso de poder.
Noções de Direito 25

Figura 6 – Habeas corpus e o direito de liberdade

Fonte: Pixabay

O Habeas data, por sua vez, consiste em um remédio constitucional


que garante ao cidadão o direito de acesso a informações pessoas, bem
como a retificação, ou seja, a alteração de seus dados. O Habeas corpus
tem base no direito constitucional à inviolabilidade do sigilo de dados,
presente no artigo 5º inciso XII da Constituição Federal.

O Mandado de Segurança consiste em uma espécie de remédio


constitucional que visa resguardar direito líquido e certo de alguém,
violado pelo Estado. Um exemplo de aplicação do Mandado de Segurança
é nos casos de concurso público, no qual são previstas cinco vagas e o
ocupante de quarta vaga não é chamado, por razão única e arbitrária do
Estado. Nesse sentido, considerando o direito líquido e certo do cidadão
de ser nomeado, caberá apelar para o remédio constitucional do Mandado
de Segurança.

O Mandado de Injunção consiste no remédio constitucional utilizado


nos casos em que há necessidade de que o Poder Judiciário leve ao Poder
Legislativo a ciência sobre a ausência de norma regulamentadora sobre
determinado tema capaz de inviabilizar o exercício dos direitos e garantias
fundamentais previstos na Constituição.

Por fim, a Ação Popular consiste em uma espécie de remédio


constitucional que garante ao cidadão o poder de fiscalização de um bem
comum do povo.
26 Noções de Direito

Além dos direitos fundamentais, é importante que você saiba que


existem deveres fundamentais, pois muitas vezes o direito de alguém
depende do dever do outro e, nessa estrutura, os deveres fundamentais
são oponíveis ao Estado e aos indivíduos. Entre esses deveres, destacam-
se o dever de realizar os direitos pelo Estado, do Estado indenizar o
indivíduo por erro do judiciário, o serviço militar obrigatório, entre outros.

Nesse momento é comum que você esteja se perguntando: quem


faz jus a esses direitos e garantias fundamentais? Qualquer pessoa?
Mesmo quem cometeu um crime? E quem não mora no Brasil?

Para responder sua pergunta, usaremos o que se encontra tipificado


no artigo 5º caput da Constituição, que diz que “todos são iguais perante
a lei, sem distinção de qualquer natureza”. Desse modo, independente de
classe social, religião, sexo ou do comportamento moral, todos devem ter
seus direitos e suas garantias asseguradas (BRASIL, 1988).

Ainda no artigo 5º, o legislador vai além e no próprio texto


constitucional elenca espécies de direitos invioláveis “garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade” (BRASIL,
1988).

Em síntese, com base na CRFB/88, podemos classificar os direitos


fundamentais em cinco grupos: direitos individuais (art. 5º); direitos coletivos
(art. 5º); direitos sociais (arts. 6º e 193 e ss.); direitos à nacionalidade (art. 12)
e direitos políticos (arts. 14 a 17).

Ainda sobre o artigo 5º da Constituição, ele divide-se em setenta e


oito incisos, o que não nos permite aqui citar um por um, mas destacam-
se a igualdade entre homens e mulheres; a vedação da tortura; a livre
manifestação do pensamento e expressão; a liberdade religiosa; o acesso
à informação; a função social da propriedade; a defesa do consumidor; o
acesso à justiça; a irretroatividade das decisões; a presunção de inocência;
a proibição de penas cruéis e penas de morte; a integridade física e moral
dos presos; a assistência social do Estado; a gratuidade da justiça para os
pobres na forma da lei (BRASIL, 1988).
Noções de Direito 27

SAIBA MAIS:

Para aprender um pouco mais sobre a dignidade da pessoa


humana, sugerimos o vídeo que traz a fala do Ministro Luiz Fux,
durante uma sessão, disponível aqui.
Caso deseje aprender um pouco mais sobre os remédios
constitucionais, sugerimos que você assista um vídeo sobre
esse tema, disponibilizado pelo portal da Advocacia Geral da
União, disponível aqui.
Após o acesso desses materiais, caso você se interesse muito
sobre esses assuntos, sugiro que você leia um pouco mais
sobre o ativismo judicial, você sabe o que é? Acesse o artigo a
seguir para entender um pouco mais. BARROSO, Luís Roberto.
Judicialização, ativismo judicial e legitimidade democrática,
disponível aqui.

RESUMINDO:

E então? Gostou de tudo até aqui? Agora, só para termos


certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo
deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você iniciou
esse capítulo aprendendo que os princípios constitucionais são
normas jurídicas e servem como apoio na interpretação das leis.
Além disso, vimos que os princípios da Constituição de 1988
encontram-se tipificados no artigo 1º e são eles a soberania,
a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores
sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político.
Aprendemos também que o Brasil é um Estado Democrático
de Direito pois o poder emana do povo. Além disso, vimos que
os objetivos da república se encontram tipificados no artigo 3o
e no artigo 4o aprendemos sobre os princípios que regem as
relações internacionais do Brasil. Juntos, vimos nesse capítulo
o que são os direitos e garantias fundamentais, bem como
acompanhamos o desenvolvimento dos direitos de primeira,
segunda e terceira geração, além de comentarmos sobre
uma quarta dimensão dos direitos humanos citada por alguns
doutrinadores. Tivemos ainda a possibilidade de conhecer o
artigo 5o da Constituição, um dos artigos mais importantes em
vigor hoje no Brasil.
28 Noções de Direito

Organização do Estado: A União, os


Estados, o Distrito Federal e os Municípios

OBJETIVO:

Ao término deste capítulo, você entenderá como o Estado


se organiza, bem como terá a oportunidade de conhecer
um pouco mais sobre os entes federativos que compõem
a República Federativa do Brasil. E então? Motivado para
desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante!

São componentes constitutivos de um Estado a soberania, o


povo e o território, sendo que a soberania consiste em um poder único
concentrado, o povo, que representa sua politicidade, e o território, que
consiste na área limitada de atuação desse Estado.

No Brasil, tais requisitos encontram-se presentes na própria


Constituição, além da organização e estrutura da forma de Estado, que
analisaremos a partir de três perspectivas, a forma de Governo, o sistema
de Governo e a forma de Estado. A forma de Governo que vigora no Brasil
é a república, o sistema de governo é o presidencialismo e a forma de
Estado é a Federação.

A previsão da forma federativa de Estado pela CRFB/88 encontra-


se prevista no artigo 1º, “A República Federativa do Brasil, formada pela
união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-
se em Estado Democrático de Direito” (BRASIL, 1988). Nesse sentido,
podemos concluir que são componentes da República Federativa do
Brasil a União, os Estados e o Distrito Federal e Territórios.

Além de determinar os componentes do Estado, o artigo 1º da Carta


Magna traz, em seus incisos, os fundamentos da República, que são eles:
a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais
do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político (BRASIL, 1988).

O texto constitucional, de forma muito acertada, ocupou-se de


estabelecer objetivos fundamentais a serem perseguidos pela República
Noções de Direito 29

Federativa do Brasil. Tais objetivos não devem ser confundidos com os


fundamentos, pois os fundamentos fazem parte do Estado, enquanto os
objetivos consistem um algo a ser perseguido, alcançado. São objetivos
da República Federativa do Brasil: construir uma sociedade livre, justa e
solidária, garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a
marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover
o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação (BRASIL, 1998).

A Constituição prevê ainda que o idioma oficial do Brasil é a Língua


Portuguesa, mas permite a utilização de línguas maternas indígenas no
processo de aprendizagem dessas comunidades (art. 13, caput, c/c art.
210 CRFB/88). Os símbolos da república são a bandeira, o hino, as armas
e os selos nacionais e há previsão constitucional para que os estados,
distrito e municípios tenham seus próprios símbolos.

VOCÊ SABIA?

Os símbolos brasileiros são tão importantes que existe


uma contravenção penal para quem violá-los, bem como
constitui infração aos militares que o fizerem, por força do
artigo 161 do Código Penal Militar.

O artigo 18 §1º da CRFB/88 estabelece que Brasília é a capital federal


do Brasil e o artigo 19 também da Constituição estabelece vedações, ou
seja, proibições aos integrantes da República. Segundo esse artigo, é
vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I – estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-
los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com
eles ou seus representantes relações de dependência
ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de
interesse público;

II – recusar fé aos documentos públicos;

III – criar distinções entre brasileiros ou preferências entre


si (BRASIL, 1988).
30 Noções de Direito

É importante destacarmos que a Constituição não estabelece


qualquer hierarquia entre os entes federativos, de modo que todos são
autônomos e regidos pela Carta Magna. A repartição da competência de
cada ente encontra-se tipificada no capítulo II da Constituição, entre os
artigos 22 e 24. A seguir, trataremos de forma mais individualizada sobre
cada integrante da República bem como suas funções.

União
Os estados-membros reunidos compõem a Federação. Esse
conjunto é denominado de União Federal. A União, portanto, consiste na
união federativa de partes do Estado (os estados-membros), por meio do
pacto federativo. Tal conceito não deve ser confundido com o conceito
de República Federativa do Brasil, que é formada pelo conjunto da União,
Estados-membros, Distritos e Municípios.

IMPORTANTE:

A República Federativa do Brasil possui soberania no plano


internacional, conforme previsão do art. 1º, I da Constituição,
porém os entes federativos são autônomos entre si,
respeitada a competência de cada um determinada pela
Carta Magna.

A União possui dupla personalidade, uma vez que suas funções


internas e externas se distinguem. Internamente podemos classificar a
União como pessoa jurídica de direito público interno autônoma, capaz
de se auto organizar, autogovernar, auto legislar e auto administrar, de
modo que a União internamente possui autonomia financeira, jurídica e
administrativa (LENZA, 2018).

Já externamente, ou seja, internacionalmente, a União representa a


República Federativa perante os outros Estados do mundo, representado
o Brasil como um todo. Dessa forma, a União pode, ao mesmo tempo, agir
para si em prol de si mesma e em nome de toda a República.
Noções de Direito 31

A Constituição estabelece, em seu conteúdo, a competência


legislativa e não legislativa de cada ente federativo ao longo de seus
artigos. Quanto à União, as competências extralegislativas estão
relacionadas com as funções governamentais, que podem ser exclusivas
ou compartilhadas com outros entes federativos, que é o que chamamos
de competências concorrentes.

As competências exclusivas da União encontram-se tipificadas no


artigo 21 da CRFB/88 e as competências concorrentes encontram-se
tipificadas no artigo 23 também do texto constitucional.

Sobre a competência concorrente, ressaltamos que se a Federação


é a união dos entes federativos, cabe a eles colaborarem e agirem entre
si para alcançar os objetivos da República.

Quanto às competências concorrentes, ressaltamos algumas delas


como a proteção das paisagens naturais, proteção do meio ambiente,
combate à poluição e preservação das florestas, fauna e flora.

ACESSE:

Para conhecer os assuntos de competência privativa da


União, acesse o conteúdo do artigo 21 por meio deste link.

Quanto à competência legislativa da União, ela também se divide


em privativa e concorrente. As competências privativas estão descritas
no artigo 22 da Constituição. O parágrafo primeiro do mesmo dispositivo
legal permite que a União, por meio de Lei Complementar, autorize os
Estados-membros legislarem sobre questões específicas.

Já em relação à competência legislativa concorrente, encontra-


se especificada no artigo 24 da Constituição Federal. É importante
ressaltarmos que, nesse caso, cabe à União estabelecer normas gerais
e a cada estado-membro legislar de acordo com suas particularidades.
32 Noções de Direito

IMPORTANTE:

Caso a União seja inerte e não dite normas gerais sobre


determinado assunto de sua competência, poderá o estado
fazê-la. Se, porém, a União crie essas normas gerais, a lei
elaborada pelo Estado terá sua eficácia suspensa no que
for contrária à Lei Federal.

Estados-membros
Os Estados-membros federados constituem pessoa jurídica de
direito público autônoma, com capacidade de autogestão, autogoverno
e autoadministração interna. Os estados-membros deverão se organizar e
serem regidos pelas leis e constituições que adotarem, dentro da permissão
constitucional. Atualmente o Brasil possui 26 (vinte e seis) estados.

De um modo geral, os estados contarão com um poder legislativo,


por meio das Assembleias Legislativas, um poder executivo, por meio do
Governador do estado e com um poder Judiciário, por meio dos Tribunais
e juízes.

Assim como a União, os estados possuem competências legislativas


e não legislativas. As competências não legislativas podem ser comuns
aos quatro entes ou residuais, ou seja, de competência somente dos
estados-membro.

Já a competência legislativa dos estados divide-se em expressa,


residual, delegada pela União, concorrente e suplementar. Expressa
é a competência legislativa que a Constituição estabelece que seja do
estado, sendo as constantes do artigo 25 da Constituição. A competência
legislativa residual é aquela que não é de competência nem da União e
nem dos Municípios, de modo que resta aos estados-membros legislar
sobre elas.

Quanto à competência legislativa concorrente ocorre nos casos em


que cabe à União legislar sobre as normas gerais e aos estados redigirem
normas específicas. A competência suplementar, por sua vez, ocorre nos
Noções de Direito 33

casos em que cabe à União legislar sobre determinado assunto e ela se


mostra inerte, cabendo aos estados suplementarem a lacuna deixada
pela União.

Ainda sobre a competência legislativa dos estados-membros,


é importante mencionar as regiões metropolitanas. As regiões
metropolitanas consistem em um conjunto de municípios distintos que
possuem uma continuidade urbana em torno de um município polo. A
Constituição determina ser de competência dos Estados a instituição
das regiões metropolitanas, por meio de lei complementar que deve ser
aprovada pela Assembleia Legislativa (art. 25§3º da CRFB/88).

VOCÊ SABIA?

Vitória, capital do Espírito Santo, é um município polo


integrante da Região Metropolitana da Grande Vitória,
juntamente com os municípios de Cariacica, Serra, Vila
Velha, Fundão, Guarapari e Viana.

Municípios
Os municípios constituem entes federativos classificados como
pessoas jurídicas de direito público, com autonomia interna. Antes da
promulgação da Constituição de 1988, muito se questionava se os
municípios poderiam ser considerados ou não entes federados, mas tal
controvérsia restou esclarecida pelo conteúdo dos artigos constitucionais
que garantem a autonomia desses entes.

Os municípios, ao contrário da União e dos Estados-membros,


não possuem Constituição própria, mas organizam-se por meio de
suas Leis-orgânicas, que exercem basicamente a mesma função. Tal lei
deve ser aprovada em dois turnos por dois terços da Câmara Municipal
e devem seguir as regras estabelecidas no artigo 29 da Constituição,
especificamente dos incisos I a XIV. O município é administrado pelos
Prefeitos e Vice-Prefeitos e Vereadores.
34 Noções de Direito

Atualmente no Brasil existem 5.470 (cinco mil quatrocentos e


setenta) municípios, divididos nos 26 estados. A competência legislativa
dos municípios segue a mesma ordem dos demais entes federativos,
dividindo-se em não legislativas e legislativas.

As competências não legislativas dividem-se em comum e


privativa. As competências não legislativas comuns são aquelas que
são concorrentes, compartilhadas com os demais entes federativos
e encontram-se previstas no artigo 23 da Constituição Federal. Já as
competências não legislativas privativas estão previstas no artigo 30 do
Texto Constitucional e são elas:
I – legislar sobre assuntos de interesse local;

II – suplementar a legislação federal e a estadual no que


couber;

III – instituir e arrecadar os tributos de sua competência,


bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da
obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes
nos prazos fixados em lei;

IV – criar, organizar e suprimir distritos, observada a


legislação estadual;

V – organizar e prestar, diretamente ou sob regime de


concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse
local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter
essencial;

VI – manter, com a cooperação técnica e financeira da


União e do Estado, programas de educação pré-escolar e
de ensino fundamental;

VI – manter, com a cooperação técnica e financeira da


União e do Estado, programas de educação infantil e
de ensino fundamental; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 53, de 2006)

VII – prestar, com a cooperação técnica e financeira da


União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da
população;

VIII – promover, no que couber, adequado ordenamento


territorial, mediante planejamento e controle do uso, do
parcelamento e da ocupação do solo urbano;
Noções de Direito 35

IX – promover a proteção do patrimônio histórico-cultural


local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal
e estadual. (BRASIL, 1988)

Distrito Federal
O Distrito Federal, antes de receber essa classificação, era
denominado de Município Neutro, capital da União, cuja sede ficava
localizada no Rio de Janeiro. Com a entrada em vigor da Constituição
de 1988, o Distrito Federal passou a ser em Brasília, deixando de ser
uma autarquia do governo e tornando-se um ente federativo com
personalidade jurídica de direito público.

O Distrito Federal foi construído no Centro-Oeste brasileiro com a


finalidade de ocupar as terras despovoadas daquela região. Brasília foi
construída em 41 meses, durante o governo de Juscelino Kubitsheck. A
capital federal foi inaugurada no dia 21 de abril de 1960.

Atualmente o Distrito Federal é uma unidade federativa autônoma,


com capacidade de auto-organização, autogoverno, autoadministração e
auto legislação, assim como os demais entes federativos.

O artigo 32, caput da Constituição, veda a divisão do Distrito Federal


em municípios, ao contrário do que acontece com os Estados-membros
e territórios, de modo que o Distrito Federal é dividido em 31 (trinta e
uma) microrregiões administrativas. O mesmo dispositivo constitucional,
em seu parágrafo 4º, declara não existir polícia civil, militar e corpo de
bombeiros pertencentes ao Distrito Federal, pois tais instituições, embora
subordinadas ao Governador Distrital, são organizadas e mantidas pela
União. O mesmo se aplica ao Poder Judiciário, Ministério Público e
Defensoria Pública.

A competência do Distrito Federal divide-se em não legislativa


e legislativa. Na categoria não legislativa, ao contrário dos demais
entes, o Distrito Federal possui somente a competência comum, ou
seja, compartilhada com os demais entes federativos. Já em relação
às competências legislativas, essas se dividem em expressa, residual,
delegada, concorrente e suplementar, assim como as dos municípios e
estados.
36 Noções de Direito

Um dos símbolos de Brasília é a praça dos três poderes, sendo esse


inclusive o assunto do nosso próximo capítulo! Continua aqui comigo!

SAIBA MAIS:

Que tal se aprofundar nesse tema? Acesse o vídeo a seguir


e confira uma explicação sobre o assunto abordado nesse
capítulo. O conteúdo encontra-se disponível aqui.

RESUMINDO:

E então? Gostou de tudo até aqui? Agora, só para termos


certeza de que você realmente entendeu o tema de
estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos.
Você iniciou esse capítulo aprendendo conhecendo os
entes federativos que compõem a República Federativa do
Brasil. Começamos entendendo em que consiste o pacto
federativo e os objetivos da República Federativa do Brasil,
que são construir uma sociedade livre, justa e solidária,
garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza
e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e
regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos de
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas
de discriminação. Além disso, aprendemos sobre a língua
oficial, os símbolos, bandeira e armas do Brasil previstos no
texto constitucional. Conhecemos também os três entes
federativos mais a fundo, a União, os Estados e o Distrito
Federal, suas competências legislativas e não legislativas e
sua autonomia perante os demais entes.
Noções de Direito 37

A organização e a separação dos poderes


na Constituição de 1988

OBJETIVO:

Ao término deste capítulo, você aprenderá sobre a


organização e separação dos poderes, incluindo a
organização e finalidade dos poderes Legislativo, Executivo
e Judiciário dentro da estrutura do Estado. E então?
Motivado para desenvolver esta competência? Então
vamos lá. Avante!

Proposta por Montesquieu, a denominada teoria da tripartição dos


poderes, ou como utilizada por alguns autores como tripartição de órgãos,
consiste na separação das funções executivas, legislativas e judiciárias de
um Estado.

Essa separação tem o objetivo de impor uma colaboração e bom


senso entre os órgãos na tomada de decisões, estabelecendo mecanismos
de fiscalização e responsabilidade recíprocas, de uns para com os outros,
a partir do sistema de freios e contrapesos. De forma ilustrada, funcionaria
como se todos os poderes estivessem sob uma balança e devessem
juntos buscar o equilíbrio.

As funções exercidas pelos órgãos, via de regra, funcionam da


seguinte forma:

a. Função legislativa – está relacionada com a edição de leis.

b. Função executiva – está relacionada com a execução das leis


editadas pelo legislativo.

c. Função jurisdicional – relacionada à aplicação das leis ao caso


concreto.

Nesse sentido, quero que você tenha em mente que ao mesmo


tempo que esses três poderes possuem funções típicas, eles possuem
funções atípicas. As funções típicas são aquelas que são inerentes a
própria função, de modo que cabe ao legislativo, legislar; ao executivo,
38 Noções de Direito

executar; e ao judiciário, julgar. Já as funções atípicas são aquelas que


não são inerentes a sua função, mas que são exercidas dentro de suas
atribuições.

EXPLICANDO MELHOR:

É atividade típica do judiciário a função jurisdicional, ou


seja, julgar. Ocorre que cabe ao judiciário, como atividade
atípica, legislar sobre o regimento interno dos tribunais (art.
96, I, “a” da CRFB/88).

Apesar desse sistema ser chamado de tripartição dos poderes, é


importante que você tenha em mente que tais poderes são indivisíveis,
indelegáveis e unos.

Portanto, mesmo que no exercício de suas funções atípicas,


um poder jamais poderá interferir ou substituir o outro sem que
haja uma determinação constitucional que permita, sob pena de
inconstitucionalidade.

EXEMPLO:

O Presidente da República não pode criar uma lei ordinária (que


é atribuição do legislativo), pois a única função atípica que lhe é
permitida é a criação de Medidas Provisórias (art. 62 da CRFB/88).

Bom, agora que você já sabe em que consiste a tripartição dos


poderes, que tal conhecer cada um deles mais de perto? Vamos nessa?

Poder Legislativo
Até esse ponto, você aprendeu que o Poder Legislativo é o
responsável pela elaboração das leis, mas a partir de agora veremos que
não somente por isso.

A primeira coisa que é importante que você saiba é que o Legislativo


está presente em todas as esferas, ou seja, no âmbito federal, estadual,
municipal e distrital.
Noções de Direito 39

No Brasil, atualmente, vigora o bicameralismo federativo


somente no âmbito federal, ou seja, nessa esfera federativa existem
duas casas, a Câmara e o Senado, de modo que a primeira é formada
pelos representantes eleitos pelo povo (deputados) e a segunda pelos
representantes dos estados-membros e Distrito Federal (senadores), de
modo que juntas integram o Congresso Nacional. Já no âmbito estadual,
municipal e distrital vigora o unicameralismo, ou seja, o Poder Legislativo
é composto por uma única casa.

O poder legislativo estadual é composto pela Assembleia


Legislativa, integrada pelos Deputados Estaduais. O mandato dos
Deputados Estaduais é de 4 (quatro) anos e a quantidade de deputados
corresponderá ao triplo da representação de Deputados Estaduais na
Câmara.

O poder legislativo municipal, por sua vez, é composto pela Câmara


Municipal, integrada pelos Vereadores. A quantidade de vereadores é
proporcional ao quantitativo populacional do estado e o mandato dos
vereadores é de 4 (quatro) anos. A competência legislativa dos vereadores
municipais é residual, ou seja, via de regra cabe à Câmara Municipal
legislar sobre o que não é de competência federal ou estadual.

Já o Poder Legislativo Federal é dividido em Senado e Câmara dos


Deputados, que juntas integram o Congresso Nacional.

A Câmara dos Deputados é composta pelo povo, por meio dos


seus representantes, os Deputados Federais, eleitos para defenderem os
interesses dos cidadãos. O número de Deputados Federais é proporcional
ao quantitativo populacional de cada estado, de modo que não pode haver
na Câmara menos de sete e mais de setenta Deputados representando
um mesmo estado (BRASIL, 1988).

O mandato dos Deputados Federais é de 4 (quatro) anos, permitida


a reeleição. A competência da Câmara dos Deputados encontra-se no
artigo 51 da CRFB/88, que além de estarem relacionadas com a criação
de leis, envolvem a instauração de processo contra o Presidente, seu Vice
ou Ministros de Estados, além de fiscalizar suas contas.
40 Noções de Direito

O Senado Federal é composto por representantes dos estados e do


Distrito Federal. Ao contrário dos Deputados, o quantitativo de Senadores
não está proporcionalmente relacionado com a quantitativo populacional
de cada estado e a regra para todos os estados brasileiros é a mesma:
devem ser eleitos três senadores fixos e dois senadores suplentes.

O mandato de um Senador tem duração de oito anos e as eleições


para renovação serão feitas sempre de quatro em quatro anos. A
competência do Senado encontra-se prevista no art. 52 da CRFB.

VOCÊ SABIA?

A renovação dos Senadores é sempre dada na proporção


de 1/3 e 2/3. Por exemplo: existem três cargos no Senado, A,
B e C. Digamos que houveram eleições no ano 2000, essas
eleições serão para substituir os ocupantes dos cargos A
e B e na eleição seguinte, ou seja, em 2004, será apenas
para o cargo C, de modo que sempre há três senadores e
eleições de quatro em quatro anos.

Tanto Deputados Federais quanto Senadores, para se elegerem,


não precisam necessariamente serem brasileiros natos, ou seja, terem
nascido no Brasil, sendo tal condição indispensável para ocupar a
presidência de uma das casas (Câmara ou Senado).

A idade mínima para ser Deputado Federal é de 21 (vinte e um) anos,


sendo que só poderá assumir a presidência da casa aquele que for maior
de 35 (trinta e cinco anos). Já em relação aos Senadores, existe previsão
constitucional que determina que para serem eleitos, precisam contar
com mais de 35 (trinta e cinco) anos.

Poder Executivo
Em suas funções típicas, o Poder Executivo é o responsável pelos
atos de chefia do Estado, do governo e atos da administração. O sistema
legislativo adotado pelo Brasil é o presidencialista e por esse motivo
as funções de Chefe de Estado e Chefe de Governo. A Constituição
Noções de Direito 41

estabelece, em seu artigo 76, que o Poder Executivo no Brasil é exercido


pelo Presidente da República auxiliado pelos Ministros de Estado.

O Poder Executivo em âmbito estadual é exercido pelo Governador


de Estado e Vice-Governador e auxiliado pelos Secretários de Estado.
O Governador é escolhido por meio de eleições diretas e o mandato do
governador é de quatro anos. A mesma regra vale para o Governador
Distrital.

No âmbito municipal, o Poder Executivo é exercido por meio


dos Prefeitos e Vice-Prefeitos. Os Prefeitos são escolhidos por meio de
eleições diretas e o mandato dos prefeitos também é de quatro anos.

Sobre o Executivo Federal, o art. 84 da CRFB/88 estabelece as


competências privativas do Presidente da República, tanto as de natureza
de Chefe de Estado (representação nas relações internacionais) quanto as
de natureza de Chefe de Governo (atos de administração e política interna).
O rol de atribuições do art. 84 é meramente exemplificativo e é possível
que o Presidente da República delegue algumas de suas funções para os
Ministros de Estado, o Procurador Geral ou ao Advogado-Geral da União.

Para ser eleito presidente hoje no Brasil, é necessário que o


candidato reúna as seguintes características: ser brasileiro nato, estar no
pleno exercício de seus direitos políticos, alistamento eleitoral, domicílio
eleitoral no Brasil, filiação partidária, idade mínima de 35 anos, não ser
analfabeto e não ser inelegível.

Como Chefe de Governo e Estado, é possível que em determinadas


situações haja impedimentos do Presidente e do Vice na hipótese de
se ausentarem do país. Neste caso, conforme do art. 80 da CRFB/88,
caberá a representação na seguinte ordem: Presidente da Câmara dos
Deputados, seguido do Presidente do Senado Federal e, em último caso,
o Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF).

EXEMPLO:

Em setembro de 2018, o Presidente do Brasil à época Michel Temer


precisou viajar para Nova York, para a abertura da 73ª Assembleia
Geral das Nações Unidas e os Presidentes da Câmara e Senado
42 Noções de Direito

estavam concorrendo às eleições da época, de modo que o


Presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, assumiu, de
forma provisória, a Presidência do Brasil.

Em âmbito estadual e municipal, na ausência do Governador e


Vice, deve assumir o Presidente da Assembleia Legislativa e o Presidente
do Tribunal de Justiça. Já no âmbito municipal, na ausência do Prefeito,
deverá assumir o Presidente da câmara municipal.

Os Ministros do Estado, que integram o Poder Executivo, possuem


função de auxiliar o Presidente no exercício do Poder Executivo, por meio
da direção dos ministérios. Os Ministros do Estado são escolhidos pelo
Presidente da República que os nomeia e pode os exonerar, não havendo
qualquer tipo de estabilidade. Para ser um Ministro de Estado é necessário
apenas ser brasileiro nato ou naturalizado (o cargo de Ministro da Defesa
exige somente brasileiros natos), ser maior de 21 (vinte e um anos) e estar
no exercício dos direitos políticos.

Poder Judiciário
O Poder Judiciário tem como função típica o exercício da atividade
jurisdicional do Estado. Já a função atípica desse poder (ou órgão) está
relacionada com as atividades executivas e legislativas internas, dentro
das atribuições estabelecidas pela própria Constituição Federal, como a
elaboração do regimento interno dos tribunais (legislativo) ou até mesmo
a organização das secretarias, concessão de licenças e férias a seus
servidores (executivo).

A Emenda Constitucional 45/2004 (EC 45/2004) é um importante


marco na história do Judiciário, pois se trata da aprovação de uma
importante Reforma. Algumas significativas alterações foram trazidas pela
Reforma através da EC 45/2004, abaixo elencaremos algumas:

a. Razoável duração do processo e meios que garantam a celeridade


de tramitação.

b. Cumprimento do acesso à justiça, com a justiça itinerante e


autonomia da Defensoria Pública.
Noções de Direito 43

c. A constitucionalização dos Tratados sobre Direitos Humanos.

d. A criação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Conselho


Nacional do Ministério Público (CNMP).

e. Ampliação da garantia de imparcialidade dos magistrados e


promotores de justiça.

f. Extinção dos Tribunais de Alçada.

g. Criação da Súmula Vinculante.

ACESSE:

A partir da entrada em vigor da Emenda Constitucional


45/2004, os órgãos do Poder Judiciário passaram a
catalogar o quantitativo de processos que tramitam no
poder judiciário brasileiro. Ficou curioso? Acesse aqui por
esse link.

O Poder Judiciário possui garantias que asseguram sua


independência, de modo que permite a seus operadores agirem de forma
imparcial, sem sofrer pressões ou serem coagidos por outros poderes.
Essas garantias são classificadas como institucionais e funcionais.

As garantias institucionais são aquelas relacionadas à autonomia


orçamentária e administrativa do órgão e as garantias funcionais estão
relacionadas com a independência e imparcialidade dos membros do
Poder Judiciário. As garantias de independência dos órgãos do Poder
Judiciário estão relacionadas com os membros e os magistrados e
dividem-se em três: vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade
salarial.

Prevista no art. 95, I da CRFB/88, a vitaliciedade garante ao


magistrado a permanência contínua no cargo, que será perdido somente
com sentença judicial transitada em julgado, ou seja, se o magistrado
nunca cometer alguma infração grave, passível de uma ação judicial,
ele permanecerá no cargo até o fim de sua vida. Aos demais servidores
do Poder Judiciário não se aplica essa regra e seus cargos são estáveis,
44 Noções de Direito

mas não vitalícios, de modo que é possível que percam seus cargos por
processo administrativo.

Já a inamovibilidade consiste na garantia constitucional prevista


pelo art. 95, II que garante aos magistrados a impossibilidade de remoção
de um local para o outro sem o seu consentimento. Essa garantia não é
absoluta, pois a própria constituição prevê a possibilidade de remoção por
conta do interesse público (art. 93, VIII) (BRASIL, 1988).

Quanto à irredutibilidade de subsídios consiste em uma garantia que


impede que a remuneração dos magistrados seja reduzida. Tal garantia
não impede que os magistrados e membros do Poder Judiciário sofram
com questões inflacionárias (PAULO; ALEXANDRINO, 2018).

As garantias de imparcialidade dos órgãos judiciários estão


relacionadas com as vedações presentes no art. 95 da CRFB/1988, ou
seja, atos que os membros do judiciário estão impedidos de praticarem,
entre elas:

a. Exercer outro cargo ou função, exceto de magistério.

b. Receber a qualquer título custas ou participação em processo.

c. Dedicar-se à vida político-partidária.

d. Receber auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades


públicas ou privadas, ressalvadas exceções.

e. Exercer advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou antes de


decorridos três anos no cargo, por aposentadoria ou exoneração.

O artigo 94 da CRFB/1988 estabelece que 1/5 (20%) dos lugares nos


Tribunais Regionais Federais, Tribunais dos Estados e do Distrito Federal,
deve ser composto de membros do Ministério Público e Advogados,
além dos magistrados. Os membros do Ministério Público e da Advocacia
devem ter mais dez anos de atuação e em especial os advogados devem
possuir efetividade profissional e notório saber jurídico, além de reputação
ilibada. Essa destinação é denominada de quinto constitucional (BRASIL,
1988). Em sede de estrutura, poderemos observar na figura a seguir a
organização do Poder Judiciário.
Noções de Direito 45

Figura 7 – Organização do Poder Judiciário

SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL

STJ TST TSE STM

TJ TRF TRT TRE

Juízes de Juízes Juízes do Juízes Juízes


direito federais trabalho eleitorais militares

Fonte: Elaborada pela autora (2021).

Buscando viabilizar a atividade jurisdicional do Estado, a Constituição


institucionalizou atividades consideradas essenciais ao exercício da justiça,
que são elas: o Ministério Público, a Advocacia Pública, a Advocacia e a
Defensoria Pública, estabelecendo suas regras nos artigos 127 a 135 da
CRFB/88.

O Ministério Público é o órgão que não faz parte de nenhum dos


três poderes (legislativo, executivo e judiciário), mas está relacionado com
todos eles. O Ministério Público consiste em uma instituição do Estado
cujo fim é manter a ordem jurídica e fiscalizar o poder público, a partir de
todas as suas esferas.

A Constituição possui um importante papel na história do Ministério


Público ao consolidar a atuação de controle dos atos do Estado. Uma das
características do Ministério Público é sua independência. O Ministério
Público divide-se em:
46 Noções de Direito

a. Ministério Público Federal.

b. Ministério Público do Trabalho.

c. Ministério Público Militar.

d. Ministério Público do Distrito Federal e Territórios.

A Advocacia Geral da União consiste no órgão responsável por


representar, fiscalizar e controlar os atos da União, bem como por zelar
pelos bens da União em relação a terceiros. Além de ter essas funções
internas, cabe à advocacia geral a função de representar o Brasil
internacionalmente, perante a justiça de outros países, na atuação da
jurisdição internacional. A instituição é chefiada pelo Advogado Geral da
União, nomeado pelo Presidente da República, e seu ocupante possui o
mesmo status que um ministro de Estado.

A advocacia por sua vez, regulamentada pelo artigo 133 da Constituição,


estipula que “O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo
inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites
da lei”. Nesse sentido, cabe ao advogado defender o interesse de uma das
partes e sua ausência acarreta em nulidade processual.

A Defensoria Pública, por sua vez, visa garantir o acesso à justiça


as pessoas que não possuem condições de arcar com o custo de um
advogado. Para que você possa entender a função da Defensoria Pública,
basta pensar: se o advogado é essencial ao acesso à justiça, conforme
tratamos no parágrafo anterior, como que devem proceder as pessoas
que não possuem condições financeiras de arcar com os honorários de
um advogado? Deverão seguir sem defesa? Pensando nessas e outras
questões que a Constituição Cidadã previu a existência de um órgão
composto por advogados, custeado pelo Estado, para atender a população
desfavorável economicamente. O Defensor Público é advogado aprovado
no concurso público para a defensoria.

Atualmente, tendo em vista o aumento da população


economicamente pobre, a Defensoria Pública trabalha com um número
reduzido de servidores e muitos municípios do país não possuem acesso
ao Defensor Público, ficando tal função encarregada a advogados
nomeados pelo juiz da comarca, os denominados advogados dativos.
Noções de Direito 47

SAIBA MAIS:

Que tal se aprofundar sobre a separação dos poderes


na Constituição? Acesse o vídeo a seguir e confira uma
explicação sobre o assunto abordado nesse capítulo. O
conteúdo encontra-se disponível aqui.

RESUMINDO:

E então? Gostou de tudo até aqui? Agora, só para termos


certeza de que você realmente entendeu o tema de
estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos.
Aprendemos sobre a teoria da separação dos poderes
de Montesquieu e o sistema de freios e contrapesos
que integram a tripartição dos poderes, adotada pela
Constituição de 1988, através dos poderes Legislativo,
Executivo e Judiciário, os quais analisamos suas funções
separadamente. Você pode aprender que o poder
legislativo não se resume em criar leis, você pode aprender
sobre sua atuação em cada esfera da federação, além
de aprender sobre a diferença entre o unicameralismo
e bicameralismo federativo, que acontece somente em
relação ao poder legislativo federal. Vimos também quem
compõe o executivo no âmbito municipal, estadual e
federal, suas funções e atribuições. Por fim, detalhamos a
atuação do poder judiciário e as garantias constitucionais
que os representantes desse poder possuem.
48 Noções de Direito

REFERÊNCIAS
ALEXY, R. Teoria dos direitos fundamentais. São Paulo: Malheiros,
2008.

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República


Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República,
[1988]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituicao.htm Acesso em: 20 jan. 2021.

LENZA, P. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo:


Editora Saraiva, 2018.

PAULO, V.; ALEXANDRINO, M. Direito Constitucional Descomplicado.


São Paulo: Método, 2018.

SILVA, J.A. da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo:


Malheiros, 2019.

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