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Direito

Digital
ANAÏS EULÁLIO BRASILEIRO

Unidade 1

O mundo digital
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Diretora Editorial
ANDRÉA CÉSAR PEDROSA
Projeto Gráfico
MANUELA CÉSAR ARRUDA
Autor
JOANA ÁUREA CORDEIRO BARBOSA
Desenvolvedor
CAIO BENTO GOMES DOS SANTOS
O AUTOR
ANAÏS EULÁLIO BRASILEIRO
Oi! Meu nome é Anaïs Eulálio Brasileiro. Sou formada em Direito,
com especialização em Direito Penal e Processual Civil, Mestre em Direito
Constitucional, na linha de Direito Internacional, e agora, Doutoranda em
Direito. Sou advogada desde 2016, mas ganhei mais experiência no ano de
2019 ao trabalhar em um escritório com causas diversas. Posso dizer com
certeza que sou apaixonada pela área do direito, principalmente a parte de
estudar e pesquisar sobre os mais variados assuntos, transmitindo minha
experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por
isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores
independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito
estudo e trabalho. Conte comigo!.
ICONOGRÁFICOS
Olá. Meu nome é Manuela César de Arruda. Sou a responsável pelo
projeto gráfico de seu material. Esses ícones irão aparecer em sua trilha
de aprendizagem toda vez que:

INTRODUÇÃO: DEFINIÇÃO:
para o início do desen- houver necessidade
volvimento de uma de se apresentar um
nova competência; novo conceito;

NOTA:
IMPORTANTE:
quando forem
as observações
necessários obser-
escritas tiveram que
vações ou comple-
ser priorizadas para
mentações para o
você;
seu conhecimento;
VOCÊ SABIA?
EXPLICANDO
curiosidades e
MELHOR:
indagações lúdicas
algo precisa ser
sobre o tema em
melhor explicado ou
estudo, se forem
detalhado;
necessárias;
REFLITA:
SAIBA MAIS:
se houver a neces-
textos, referências
sidade de chamar a
bibliográficas e links
atenção sobre algo
para aprofundamento
a ser refletido ou
do seu conhecimento;
discutido sobre;
ACESSE:
RESUMINDO:
se for preciso acessar
quando for preciso
um ou mais sites
se fazer um resumo
para fazer download,
acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler
mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
TESTANDO:
ATIVIDADES: quando o desen-
quando alguma ativi- volvimento de uma
dade de autoapren- competência for
dizagem for aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
A Sociedade da Informação 10
A globalização nos dias de hoje 10
A sociedade da informação: conceito e características 14
O Ciberespaço 18
A Declaração de Independência do Ciberespaço 18
Particularidades do ciberespaço 22
O domínio do ciberespaço 26
Domínios em geral 26
O Domínio do Ciberespaço 31
A Deep Web 33
A deep web 34
Camadas da Internet 37
Direito Digital 7

01
UNIDADE

O MUNDO DIGITAL
8 Direito Digital

INTRODUÇÃO
Você já percebeu que em todos os momentos utilizamos plataformas
digitais para nos conectarmos? Não só isso. Você já observou que utilizamos
o meio digital não apenas para o lazer, mas também para a vida acadêmica-
profissional? Cada vez mais estamos vendo possibilidades de recursos
digitais para tornar nossas vidas interconectadas. Inclusive, a área digital é
uma das maiores demandas na indústria, utilizando-se sempre do avanço
da tecnologia. É responsável pela geração empregos, acontecendo casos
em que sobram vagas por não ter pessoas capacitadas no meio digital. Isso
mesmo. Há uma escassez de mão de obra qualificada, desde marketing
digital, designers, pessoas da área de tecnologia e informação, pessoas
que trabalham no campo jurídico-digital etc. Mas que meio digital é esse?
O que esse mundo significa, exatamente? Para fazer parte dele, precisamos
entender o que ele significa e todas suas particularidades e opções que ele
oferece. Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo
junto comigo! Preparado?
Direito Digital 9

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 01 – O Mundo Digital. Nosso
objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências
profissionais até o término desta etapa de estudos:
1. Compreender em que consiste a sociedade de informação
que estamos inseridos;
2. Analisar as características do ciberespaço e sua abrangência;
3. Identificar as possíveis formas de controle e as discussões
sobre o ciberespaço;
4. Assimilar o universo da Deep Web e suas camadas.
E então? Pronto para entrar e desbravar esse universo? Vamos lá!
10 Direito Digital

A Sociedade da Informação

INTRODUÇÃO:
Ao término deste capítulo você será capaz de entender, a
partir de uma contextualização do cenário da globalização,
como funciona a sociedade de informação e o porquê de você
e todos nós estarmos inseridos nela. Isso será fundamental
para o a compreensão do mundo digital em si, a partir das
pessoas e formas que o compõem. E então? Motivado para
desenvolver esse aprendizado? Então vamos lá. Avante!

A globalização nos dias de hoje


Você já deve ter percebido que atualmente estamos vivendo em um
mundo que se atualiza rapidamente. Estamos o tempo todo conectados à
Internet, sabendo o que está acontecendo em tempo real com qualquer
pessoa do mundo, com segundos depois de quando realmente acontece.
Com o avanço da tecnologia, as barreiras físicas foram atenuadas
de forma significativa, facilitando não apenas aquela sua viagem que você
tanto quer para outro país, mas também o que chamamos de interco-
nexão da sociedade: é simples pesquisar o que pessoas de outros países
vestem, comem e pensam.
A partir das características do nosso mundo, a sociedade é moldada.
Estamos valorizando mais e mais essa interconexão, a aproximação social
internacional e econômica, a flexibilização do que antes era apenas
isolado. As novas tecnologias trazem rapidez e eficiência ao mundo digital
de forma que a informação está a apenas um clique de distância.
Você certamente já ouviu falar na globalização, não é mesmo? De
forma simples, entende-se que a globalização envolve um processo de
evolução e desenvolvimento, com a presença constante do capitalismo
que contribui com o fluxo econômico, e a própria universalização da cultura.
Apesar de não ser um termo novo, o fenômeno da globalização
ficou bem mais conhecido após a Guerra Fria, no período em que o
mundo começou a perceber que quanto mais tivéssemos uma inter-
dependência em termos de economia, cultura e sociedade, incluindo
serviços e tecnologia e informação, mais fácil seria formar uma parceria
Direito Digital 11

com outros países para que pudéssemos ter nossa economia e desenvol-
vimento mais sólidos.
A Guerra Fria, como ficou conhecida, foi o grande período (do fim
dos anos 40 até início dos anos 90) de tensão geopolítica entre duas
potências mundiais: Os Estados Unidos e a União Soviética. Por não
ter havido conflitos armados diretos entre as potências e seus aliados,
foi muito mais uma disputa psicológica para ver quem possuía mais
influência, maior arsenal, melhor inteligência e forças armadas e um
maior desenvolvimento.
Você já percebeu que quanto mais evoluímos, mais nos
aproximamos um dos outros? Foi o que aconteceu nas primeiras
ondas da globalização, quando criamos meios de comunicação como
o telégrafo, para que as informações pudessem alcançar pessoas em
outros locais, assim como os trens e navios a vapor.
Figura 1: Dois importantes meios de transporte advindos com
o desenvolvimento da globalização: trens e navios a vapor.

Fonte: pixabay

Com meios e facilitações de comunicação, as primeiras ondas


da globalização se configuraram como grande avanço na cooperação
entre países. O processo foi interrompido durante as Duas Grandes
Guerras Mundiais, procedidas por períodos de grande isolamento
internacional com os fenômenos do protecionismo, nacionalismo e a
Grande Depressão.
O protecionismo e nacionalismo incentivam a não comunicação
com outros países, incluindo a inibição de importação ao deixar os
produtos vindos de outros países mais caros por meios de taxas
adicionais. Já a Grande Depressão se deu nos anos 30, demonstrando
12 Direito Digital

o colapso do capitalismo, com a taxa de desemprego exorbitante e


grandes quedas do PIB (Produto Interno Bruto).
Com esse isolamento, a cooperação e relação entre os países
ficou escassa. Entretanto, outra importante onda da globalização veio
após a Segunda Guerra Mundial, em que a globalização foi apresentada
como uma importante ferramenta na contribuição e facilitação da
prosperidade e paz. A ideia veio com o sentimento de maior promoção
de direitos humanos após as atrocidades acometidas na Segunda
Guerra, com a necessidade de todos os países cooperarem para um
mundo melhor.
Com esse objetivo, os países criaram Organizações Internacionais
visando a participação e cooperação de todos, incluindo organizações
com aspectos mais econômicos, como o FMI (Fundo Monetário
Internacional) e o Banco Mundial, e também organizações com aspectos
mais humanistas para evitar futuros conflitos armados que afetassem
a humanidade como um todo, que é o caso da ONU (Organização das
Nações Unidas).
Mas porque estamos falando tanto de globalização, você deve
estar se perguntando. Nós já vimos que o mundo globalizado significa
a maior cooperação entre os países, certo? Mas além disso, quais são
os efeitos que a globalização traz para nós, membros da sociedade?
Vejamos o quadro à baixo.
Figura 2: Efeitos da Globalização.

Fonte: A Autora.
Direito Digital 13

De forma direta, a globalização afeta a forma em que os países


se comportam com suas mercadorias, pois podem passar a produzir os
mesmos tipos de produtos ou, observar que um país produz algo que outro
necessita e não tem meios para produzir.
Esse conceito é denominado de vantagens comparativas, o que
acabam gerando produtos com preços bem mais acessíveis nas prateleiras
dos mercados. Com mais comparações, o mercado chama atenção de mais
consumidores, o que leva ao aumento de produção, que leva à ampliação
dos negócios, bem como uma melhor qualidade e variedade.
Assim como os efeitos anteriores, o efeito da inovação significa
que com o crescente número de negociações, a busca pela melhor
forma de produzir as mercadorias com o melhor custo benefício contribui
diretamente para o avanço de tecnologia e inovação, assim como admite
novas possibilidades de empregos, e, consequentemente, sua maior
rotatividade.
O último efeito demonstrado no quadro, a menor desigualdade
social, é um tanto controverso. Apesar de tecnicamente ajudar na
diminuição de desigualdade, a globalização, em muitos casos, acaba
resultando no contrário: um aumento de desigualdade.
Uma das razões disso estar acontecendo é que a globalização
acaba incentivando uma mão-de-obra mais qualificada para áreas que
envolvem o mundo digital, enquanto outras áreas não incluídas acabam
sendo marginalizadas, com salários significativamente menores.
Mas a globalização não tem efeitos apenas econômicos. Ela
influencia diretamente também em nós, membros da sociedade interna-
cional. Nunca estivemos tão próximos uns dos outros como agora.

RESUMINDO:
Vivemos em um mundo repleto de tecnologia que nos
dão mais acesso uns aos outros, guinados pela última
onda da globalização que nos incentiva a interagir cada
vez mais. Sabendo da existência da globalização e essa
fácil intercomunicação cultural e econômica, considera-se
que estamos, portanto, todos inseridos na sociedade atual
considerada A Sociedade da Informação.
14 Direito Digital

A sociedade da informação: conceito e


características
INTRODUÇÃO:
“A Sociedade da Informação” se caracteriza pela infor-
mação em si sendo a sua matéria-prima, através das ferra-
mentas de tecnologia, incluindo principalmente a Internet,
em que todos estão interconectados através de uma rede
flexível.

Figura 3: A Sociedade da Informação totalmente interconectada

Fonte: pixabay

Considerando essa conceituação, você deve compreender que


a sociedade da informação possui cinco critérios importantíssimos para
sua existência, como verificado no quadro à baixo.
Figura 4: Critérios caracterizadores da Sociedade da Informação.

Fonte: A Autora
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Mas o que isso quer dizer?


Bem, o critério da tecnologia é fácil de perceber quando verifi-
camos que quanto mais dispositivos tecnológicos, mais teremos meios
de adquirir mais informação, que, como vimos, é a matéria-prima da
sociedade da informação.
O critério econômico pode ser mais complicado de ver sua relação
com a sociedade de informação, mas a melhor forma de raciocinar é
imaginando que quanto mais transações econômicas internacionais,
mais teremos informações sobre os outros.
Além disso, o critério ocupacional significa que a ocupação, em
termos de empregos, adquire uma nova perspectiva: quanto mais a mão-
de-obra for especializada e qualificada, melhor irá ocupar as vagas, o que
irá contribuir mais e mais para a sociedade como um todo.
O critério espacial quer dizer que as fronteiras espaciais e virtuais são as
que devem ser consideradas, e não as fronteiras físicas. Ou seja, não importa a
quantos quilômetros estamos um do outro, o que importa é a capacidade de
se comunicar e interagir. Por fim, o último critério caracterizador é o cultural,
que aproxima as pessoas e seus valores e costumes.
A economia acaba sempre ditando o meio de vida e os padrões
necessários para, de fato, viver. Nesse caso, temos a globalização que
incentiva a cooperação e interdependência dos países, a partir de transa-
ções internacionais, com o avanço no mercado financeiro a partir de
todas as características já vistas aqui.
Figura 5: A Tecnologia da Informação – Características.

Fonte: A Autora
16 Direito Digital

Temos, assim, até nos países menos industrializados, uma tendência


muito maior para se adequar a esse sistema, a partir do que se considera
um novo paradigma: a tecnologia da informação. Vejamos as principais
características desse novo paradigma e como ele se alinha ao contexto
de globalização/sociedade de informação que estamos trabalhando aqui.
Ao contrário do que acontecia anteriormente, agora percebemos a
informação como sendo de fato a matéria-prima desse novo paradigma.
O que isso quer dizer?
Significa que a informação incentiva o desenvolvimento de novas
tecnologias para que nós possamos utilizá-las para que sejamos capazes
de incrementar a própria informação.
O cenário que tínhamos antes da sociedade da informação,
mesmo com espécies de tecnologia, era que a informação é que era
utilizada como ferramenta para chegar no objetivo de melhores tecnolo-
gias. Ou seja, temos o oposto agora.

EXPLICANDO MELHOR:
A tecnologia é uma ferramenta para alcançar altos patamares
de informação, sendo a informação a matéria-prima, o ponto
de partida para tudo, incluindo a vida em sociedade.

Tendo a informação como matéria-prima e consequentemente


o desenvolvimento de mais tecnologias, temos, portanto, a segunda
característica: a alta penetrabilidade. Quer dizer, já que a informação é um
objetivo tão importante, as tecnologias que acabam sendo desenvolvidas
acabam integrando o dia-a-dia de toda a sociedade, de forma individual
ou coletiva.
Você acorda, toma café-da-manhã enquanto checa as redes
sociais. Você se arruma para o trabalho e se lembra de pagar uma conta
pelo aplicativo do seu banco. Chama um transporte por outro aplicativo,
faz o pagamento pelo cartão de crédito ou débito pelo próprio celular.
Até aqui, você já experimentou a tecnologia tão intrínseca na sua vida
que você nem ao menos parou para pensar o que você faria sem ela.
Já a lógica de rede representa a interrelação existente entre a
sociedade, pois, como já vimos antes, é extremamente difícil no mundo
Direito Digital 17

atual que alguém (um indivíduo ou um país) sobreviva totalmente isolado,


sem se relacionar com os outros. Essa comunicação com os outros é o
motivo de considerarmos a lógica de redes como outra característica da
relação existente na sociedade da informação.
Igualmente importante, temos a flexibilidade como característica
fundamental que permite e até incentiva modificações e reorganizações
para obtenção de melhores resultados que propiciem melhor qualidade
de informação para a sociedade.
Além disso, o aumento constante da convergência de tecnologias
colabora para tudo o que vimos trabalhando até agora: o desenvolvimento
da tecnologia contribui para o cotidiano social, conseguindo, a partir de
uma interdisciplinaridade, oferecer dispositivos que que se interliguem
nas mais diversas áreas, seja na comunicação digital, seja aspectos
econômicos digitais ou até relacionados a saúde física e mental.
É fácil perceber como a sociedade da informação influencia positi-
vamente na nossa vida, principalmente nesse período de quarentena
que o mundo inteiro está enfrentando. Todos estão em casa, conectados,
participando de reuniões através de videoconferências, aulas online,
entretenimento através de streaming de vídeos, redes sociais, mas será
que só temos esses aspectos positivos?
A sociedade da informação possui diversos desafios a cada etapa
de nova tecnologia de informação que surge. Um dos principais desafios
que merecem ser mencionados aqui é o que foi falado brevemente
anteriormente: a desigualdade social que acaba surgindo diante da
nova necessidade de mais qualificação nas áreas digitais e aumento de
desemprego nas demais áreas.

REFLITA:
Você já parou para pensar na contrapartida da sociedade
da informação? Em como estamos nos aproximando de
quem está longe, e por vezes, nos afastando de quem
está próximo de nós, fisicamente falando? Reflita se esses
lados negativos da sociedade da informação possuem
uma carga negativa maior do que a positiva.
18 Direito Digital

E aí? Gostou da primeira parte do nosso material? Entendeu


por que é importante aprender sobre que tipo de sociedade estamos
inseridos atualmente e seu respectivo contexto? Agora, só para termos
certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste
capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido
que o fenômeno da globalização incentiva que nos relacionemos uns
com os outros, criando laços formados principalmente pela tecnologia.
Além disso, esse contexto indica que a informação é o objetivo de toda
nossa conexão, o que facilita o maior desenvolvimento de mercado e
da própria tecnologia, capaz de integralizar nossa sociedade a ponto de
que nem percebemos o quanto a utilizamos. Agora sim podemos dar
continuidade à descoberta desse mundo digital!

O Ciberespaço

INTRODUÇÃO:
Ao término desta competência, você poderá entender o
que é o ciberespaço, sua abrangência e será capaz também
de analisar suas características. Além disso, vamos dar uma
analisada em como a cultura popular retrata o ciberespaço
e ainda ver características próprias desse mundo digital!
Vamos lá, seguir para o desdobramento da sociedade da
informação?

A Declaração de Independência do
Ciberespaço
A partir da conceituação de sociedade da informação, vimos que
ela aproxima valores e culturas internacionais, fazendo com que ao redor
do mundo a gente tenha a oportunidade de comer a mesma coisa, de se
vestir de forma parecida, de ouvir as mesmas músicas e ver no cinema
os mesmos filmes.
Nesse sentido, percebendo essa maior interação virtual e digital,
interligada com aspectos econômicos, sociais e culturais, nota-se a
importância de termos um espaço para lidar só com isso. Para esse
espaço específico, se deu o nome de ciberespaço.
Direito Digital 19

Figura 6: Representação do ciberespaço sendo acessado pelo computador

Fonte: pixabay

“Ciberespaço” é o mundo digital, no aspecto virtual. É o espaço criado


especificamente por links, a partir de computadores com Internet que
possuam servidores e roteadores. É o espaço criado por meios eletrônicos
para criar uma rede que facilite a comunicação entre a sociedade da
informação.
Do inglês, Cyberspace, o termo teve uma de suas primeiras
utilizações pelo Norte Americano William Gibson em 1982, que, em suas
obras, descreveu o ciberespaço como sendo a criação de uma rede
eletrônica no computador (apesar de acrescentar que o contexto do
ciberespaço seria dominado por seres de inteligência artificial, tendo em
vista que seus livros eram de ficção científica).
Aliás, algumas décadas atrás, era comum encontrarmos obras
que tratassem de uma futura realidade virtual como se fosse algo
distópico, antes mesmo de termos tecnologia suficiente para a criação
de tais dispositivos.

SAIBA MAIS:
Se você tiver curiosidade e interesse na área de ficção
científica, o livro de Gibson se chama Neuromancer, de
1984. É interessante ler essa obra e perceber o que o autor
conseguiu prever que existiria, como a própria realidade
virtual. A trilogia do filme Matrix também se inspirou nesse
livro para criar rua rede de computadores.
20 Direito Digital

Nos anos 90, o termo ciberespaço continuou a sendo utilizado,


mas ainda na cultura popular. O termo foi utilizado para apenas descrever
de forma simples o local virtual em que as pessoas podiam interagir
quando usassem a Internet.
Passou a ser o termo comumente utilizado para descrever o
local em que acontecem os jogos online e as conversas instantâneas
no que antes eram conhecidos como chats online, interações que
passaram a de fato existir, ainda que no mundo virtual. Mais para frente,
o ciberespaço começou a ser o lugar também para acolher os novos
meios de expressões sociais e discussões, os blogs.
Ainda nos anos 90, em sua segunda metade, começou a surgir a
parte da sociedade, mais tarde chamada da informação, que defendia e
acreditava que a realidade existente no ciberespaço deveria ser livre de
qualquer ação regulamentadora governamental, não importando o país
que tivesse interesse em cria-la, não importando as regras de convívio
social existentes no espaço normal.
Segundo eles, o ciberespaço seria, de fato, outro espaço, outra
realidade. Com esse ponto de vista, o autor John Perry Barlow criou a
Declaração de Independência do Ciberespaço, conhecido até hoje como
o discurso mais inspirador a favor da liberdade na realidade virtual, sem
qualquer interferência governamental. Dentre seus principais argumentos,
destacamos:
Figura 7: A Declaração de Independência do Ciberespaço em tópicos.

Fonte: A Autora

Com uma capacidade inspiradora surpreendente, Barlow deixa


claro, primeiramente, que o ciberespaço é diferente do mundo real.
Ele defende que esse mundo virtual consiste em ideias abstratas e
relacionamentos com características próprias dessa realidade que são
Direito Digital 21

traduzidas na linguagem digital como ondas estáticas na grande rede


acessada e propiciada pelos computadores.
Por causa disso, o ciberespaço independe do mundo real. Não
existem, portanto, países no ciberespaço. Existe apenas uma realidade
virtual com avatares representando as pessoas e suas comunicações e
desejos.
Sendo assim, Barlow defende fortemente que os governos do
mundo real não possuem qualquer poder no ciberespaço. Eles não
possuiriam direito algum de querer regulamentar um mundo que eles
nem ao menos auxiliaram a criar, mundo o qual eles simplesmente não
pertencem. Ninguém no ciberespaço escolheu qualquer governo para
regulamentá-los, e isso deveria permanecer assim.
Seria, então, o ciberespaço sem ordem alguma na visão de Barlow?
Não. Na própria declaração, Barlow aponta que a própria comunidade
que participa do ciberespaço é que deve ser responsável pela criação
de qualquer regulamentação no âmbito virtual, devendo também ser
capaz de lidar com qualquer tipo de conflito existente lá.

EXPLICANDO MELHOR:
O ciberespaço é uma realidade virtual existente através de
redes criadas e conectadas por dispositivos tecnológicos
e internet. O ciberespaço não possui barreiras físicas
limitadoras que determinem o que seria Brasil ou qualquer
outro país ou região. É apenas uma grande comunidade. Por
que, então, como Barlow defende, os Governos dos Países
deveriam ter qualquer envolvimento em suas decisões e
regulamentações?

Sendo a própria comunidade do ciberespaço a responsável pela


criação de suas regulamentações, Barlow acreditava que o ciberespaço
deveria ser independente do mundo real, mas não seria uma realidade
anárquica. Teria seu próprio Contrato Social.
O sistema político da anarquia defende a negação e não
aceitação de qualquer tipo de autoridade, organização e liderança. Já o
Contrato Social o qual Barlow se refere, é o Contrato Social elaborado por
Rousseau no mundo real, em que a sociedade concorda entre si com
22 Direito Digital

diretrizes básicas para o convívio social, considerando que sua ausência


significaria numa completa destruição da vida em sociedade. Para
Barlow, o Contrato Social do ciberespaço seria um contrato diferente do
já existente no mundo real.
Além disso, Barlow também trata da liberdade de expressão, um
direito humano tão buscado, defendido e violentado no mundo real.
Segundo ele, o ciberespaço tem que ser o ambiente que garanta a
todos a liberdade de expressão, ainda que os membros da sociedade se
utilizem de avatares para se expressarem e se relacionarem.
Aqui é válido destacar que o avatar aqui tratado não é o do filme
ou do desenho animado, mas é um importante conceito no meio digital:
“Avatar é a manifestação corporal de alguém no espaço cibernético”,
de acordo com o site de significados.
Barlow defende, apesar de não usar o termo “avatar”, a possibilidade
das pessoas não se identificarem no ciberespaço, não precisando divulgar
de onde são, onde moram e suas informações pessoais. Esse fator daria
aos participantes da comunidade cibernética uma liberdade de expressão
muito maior do que aquela existente no mundo real.
Por fim, o ciberespaço merece, para Barlow, sua independência por
não possuir as mesmas limitações do mundo real. O ciberespaço promove,
na verdade, a igualdade social à medida em que não existe rico ou pobre
no mundo virtual já que todos são meras representações em avatares.

SAIBA MAIS:
A Declaração de Independência do Ciberespaço é
importantíssima! Vale a pena dar uma lida no texto, que
você pode encontrar na íntegra traduzido para o português
no link: <https://bit.ly/2YbImyY>.

Particularidades do ciberespaço
Certo, entendemos que o ciberespaço é uma realidade virtual
em que se defende sua independência do mundo real. Mas além disso,
como podemos entender o ciberespaço e suas relações, já que envolve
um conceito de um mundo que não podemos literalmente tocar?
Direito Digital 23

A primeira coisa que podemos destacar é que o Ciberespaço


conseguiu modificar as interações sociais além do plano virtual. Isso é,
com o advento do mundo digital, é possível que pessoas de diferentes
países se conheçam através das redes cibernéticas e desenvolvam um
relacionamento verdadeiro de amizade, ou até mesmo amoroso.
Levando a sério esses relacionamentos, eles podem sair do plano
virtual para o real, o que conecta muito mais as pessoas nesses novos
tempos e demonstra a força da comunidade cibernética.
Além disso, temos dois conceitos básicos no mundo real que são
bem diferentes no mundo virtual: espaço e tempo. Sobre o espaço, já vimos
anteriormente que o ciberespaço não possui os mesmos limites e fronteiras
do mundo real, formando uma grande comunidade cibernética, mas e
sobre o tempo? O tempo no ciberespaço pode ser sincronizado ou não,
dependendo da plataforma utilizada, como pode ser visto na figura abaixo:
Figura 8: O tempo no ciberespaço.

Fonte: A Autora

As mensagens instantâneas são utilizadas cada vez mais nos dias


de hoje, em que precisamos de respostas rápidas e eficientes, nas quais,
por vezes, alguns minutos tendem a parecer uma eternidade.
Já as plataformas que não precisam necessariamente acontecer
de forma instantânea, como os e-mails, apesar de permitir a opção de
resposta em tempo real, já não requerem uma sincronização instantânea.
Ou seja, você pode estar em locais diferentes, com diferentes fuso-
horários e ver algumas horas depois, sem a necessidade fática de ser
exatamente na hora.
Um autor que estudou e pesquisou muito as excentricidades
do mundo virtual foi Pierre Lévy, nos anos 90. Para ele, o ponto chave
desses aspectos do ciberespaço é justamente essa velocidade que
altera as percepções de tempo e espaço. Ele diz que a velocidade das
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tecnologias não afeta só os meios de comunicação, que são os contidos


na figura 8, mas também envolve os meios de transporte para aproximar
os espaços físicos.
Sobre o assunto, é de extrema importância destacar o que Lévy
(1996) diz sobre o mundo virtual e seus aspectos de tempo e espaço.
É que para o autor, o ciberespaço faz com que exista uma unidade de
tempo, que pode ser instantânea ou não como vimos, mas sem uma
unidade específica de lugar.
Bem, o que Lévy quer dizer? Ele está apenas tentando explicar
que no ciberespaço nós possuímos nossas próprias unidades de tempo
baseadas na velocidade, mas o espaço em si não é tão importante.
No Youtube, por exemplo, temos a opção de livestreams – as
transmissões ao vivo. Nelas, os youtubers podem transmitir eventos ao
vivo (como até um torneio de videogame) e milhões de pessoas ao redor
do mundo podem ter acesso ao vídeo de forma gratuita, basta ter Internet.
No ciberespaço, Lévy acaba afirmando que a unidade de espaço
é substituída pela sincronização, enquanto a unidade de tempo é substi-
tuída pela interconexão.
Outra coisa muito importante que você deve perceber, é que aqui
utilizamos sempre os termos “mundo digital”, “mundo virtual”, “realidade
virtual” por um motivo muito específico: não é porque o ciberespaço só
existe nas redes cibernéticas que ele não existiria. Todo o seu aspecto
virtual se configura como realidade, ainda que essa realidade não seja
palpável. Tudo que acontece nessa realidade virtual pode sim ter efeitos
na vida real.
Certo, já vimos o que é ciberespaço, porque ele é considerado
independente e real, e que ele possui particularidades diferentes das
existentes no mundo fático, como as próprias unidades de tempo. Vimos
também que duas importantes ferramentas do ciberespaço são os
computadores e a internet.
Mas... Existe apenas uma finalidade dessas ferramentas? Bom, já
entendemos que o produto dessa sociedade é sempre a informação, mas
teríamos capacidade de afirmar que só existe um tipo de informação?
Não, não é mesmo? Como até já mencionado, temos comunicação e
transporte. Mas será que é só isso?
Direito Digital 25

Estudando sobre as formas de construção de informação através


de computadores, Jungblut (2004) chegou à conclusão de que existem
quatro diferentes formas de criação de informação através da Internet
e dos computadores, como pode ser analisado no quadro abaixo e em
seguida explicitado:
Figura 9: Criação de Informação.

Fonte: A Autora

Nesse sentido, a Internet se apresenta como biblioteca digital quando


consegue dispor da informação de forma estática, em que não pode ser
alterada, como consulta mesmo. Como se fosse uma biblioteca normal que
você consulta livros – aqui você consulta as informações digitais.
Já a Internet como meio de comunicação indica mais opções e
plataformas para a comunicação disponíveis através de computadores
e smartphones, como as plataformas contidas na Figura 7.
A Internet como mercado eletrônico (o famoso e-commerce) se
refere à todas as transações financeiras possíveis através de dispositivos
eletrônicos, desde compra e vendas online, como pagamento de conta
ou contratação de serviços.
Por fim, a Internet como o meio específico de construção de
mundos digitais significa realidades criadas apenas no ciberespaço,
como relacionamentos de pessoas que só se conhecem online (que
podem sim vir a se encontrar no mundo fático).
Já deu para entender melhor esse tal mundo digital? Espero que
sim! Nesta segunda parte aprendemos sobre esse espaço que só existe
nas redes, o ciberespaço. Considerado como uma realidade virtual, deu
para ver que ele é um espaço que independe do mundo fático e real,
apesar de não podemos tocá-lo. Vimos que essa independência vem de
26 Direito Digital

suas próprias particularidades, como as diferenças de unidades de tempo


e espaço, assim como as formas em que a informação se apresenta,
atingindo vários escopos que vão além da mera comunicação!

O domínio do ciberespaço

INTRODUÇÃO:
Ao término desta competência você compreenderá o que
se entende quando se fala de “domínio” de algum lugar,
bem como será capaz de identificar como o ciberespaço é
encarado pelo direito internacional para decidir quem tem
controle sobre ele.

Domínios em geral
Antes de começar a tratar sobre o domínio do ciberespaço, você
saberia dizer em que consiste essa expressão de domínio? Seria um
sinônimo de controle apenas ou há diferentes conotações nas diferentes
áreas?
Se você imaginou que os domínios possuem interpretações diferentes
a partir do contexto utilizado, você está correto. Aqui vamos analisar, em um
primeiro plano, quais os conceitos de domínio no âmbito virtual, no âmbito
jurídico e estudar um pouco como se dá outros difíceis domínios no mundo
do direito antes de aprofundar no domínio do ciberespaço.
No ciberespaço, o termo “domínio” é bem comum e você prova-
velmente já deve ter visto algum anúncio com propostas de vendas de
domínio na internet ao buscar alguma coisa no Google. Mas o que isso
significa? Com uma conceituação um tanto técnica, as plataformas de
registro na internet determinam, de forma resumida, que:
“Domínio de Internet” abrange um conjunto de caracteres (letras,
números ou símbolos) que você digita em qualquer navegador para chegar
onde você quer, como se fosse o endereço eletrônico do seu objetivo. A
internet consegue identificar o endereço através do servidor DNS (Sistema
de Nome de Domínios), que codifica o endereço digitado para que o
sistema encontre o IP (Protocolo de Internet, o endereço de fato que vem
no formato de números) que se deseja.
Direito Digital 27

O domínio é como se fosse o nome fantasia de um estabelecimento


comercial. Você coloca o nome da loja por exemplo no GPS e o sistema
consegue encontrar o caminho para o destino que você selecionou.
Figura 10: Processo de tradução de Domínio do Google. Ao digitarmos o domínio
www.google.com, o servidor DNS traduz o nome para o código de seu IP e o
navegador acessa o endereço final em apenas alguns segundos.

Fonte pixabay

Já no âmbito jurídico, domínio está interligado aos conceitos de


propriedade e posse no direito civil, conteúdos que não são importantes
neste estudo. O que é importante destacar, entretanto, é a área legal
especificamente do direito internacional, que trabalha o tema de domínio
público internacional.

DEFINIÇÃO:
“Domínio público internacional” significa, essencialmente, as
áreas que acabam gerando interesse a mais de um país ou
até a sociedade global, ainda que pareça superficialmente
que o local pertença a uma pessoa ou país em específico.
É o caso do Alto Mar, Espaço Sideral/Corpos Celestes e o
Continente da Antártica.

Apesar de haver autores que já considerem a Internet como domínio


público internacional, o ciberespaço e seu conteúdo ainda não foram
inseridos tecnicamente no campo do direito internacional público. Entretanto,
os desafios que todas essas áreas enfrentam são muito semelhantes e
merecem ser abordados aqui para a sua melhor compreensão.
28 Direito Digital

O domínio desses espaços passou a ser legalmente próprio da socie-


dade internacional durante o século vinte, quando os países concordaram
acerca de três principais aspectos: a baixa probabilidade de haver uma
espécie de autoridade particular em cada domínio, a regulamentação por
tratados internacionais e certas limitações na área militar. Vejamos cada
domínio com calma, para entender melhor esse assunto.
a. O Alto Mar
Entre todos os domínios públicos do direito internacional, talvez o
que seja compreendido como sendo de todas as pessoas há mais tempo
seja o Alto Mar. Desde séculos atrás, quando em meio da necessidade de
enviar navios para transportar pessoas e mercadorias, para comerciar ou até
mesmo durante conflitos com outras terras, a população já entendia que as
águas internacionais eram uma situação distinta do território tradicional.
A primeira vez que houve qualquer registro sobre o direito do
Alto Mar foi em 1958, em um tratado assinado em Conferência da ONU
sobre o Direito do Mar. Na própria redação do documento é explicado
que o tratado apenas estabelece por escrito certos princípios do direito
internacional que já existiam tempos antes, como é o caso do Alto Mar.

EXPLICANDO:
Não é novidade que as águas do Alto Mar não possuem
donos. Desde os primórdios da nossa sociedade, isso era
tido como conhecimento de todos, como um costume
em que todos concordavam de forma silenciosa porque
sempre fez sentido e funcionou para todos. Navegar em
Alto Mar era livre a todos.

Para ficar mais claro, precisamos entender que o direito considera


como Alto Mar as partes de todos os mares que não fazem parte de
qualquer território ou de qualquer zona econômica. Nenhum país ou
pessoa física pode dizer que é o dono dessas águas e muito menos que
possui qualquer controle e soberania em relação a elas.
Aqui, devemos entender soberania como característica comum
a todos os países. É o princípio-regra que faz com que todos os países
tenham capacidade de se auto regulamentar, desde que em seu próprio
território, podendo delimitar suas regras e regular seus povos, assim como
os interesses do país.
Direito Digital 29

Como você deve imaginar, quando dizemos que o Alto Mar é de


domínio público do direito internacional, queremos dizer que existe uma
Liberdade no Alto Mar. Com essa liberdade, é possível que qualquer
pessoa, não importando sua nacionalidade, vá até o Alto Mar sem importar
seu objetivo (contato que não seja nenhum crime ambiental por exemplo,
ou até para cometer crimes).
Não importa se você queira ir para o Alto Mar fazer pesquisa sobre
água ou animais marinhos, navegar, pescar ou qualquer outra ação legal.
Todos são livres para tal, desde que tenham intenções pacíficas.
A Convenção ainda trata que os navios que naveguem em Alto
Mar devem seguir as regras de seus próprios países quando estiverem
dentro do meio de transporte. No direito, utilizamos muito a expressão
“bandeira do navio” para indicar a nacionalidade, a soberania e o país
que está sendo tratado.
b. Espaço Sideral e Corpos Celestes
Mais ou menos na mesma época da Conferência sobre o Direito
do Mar, o homem estava lançando seus primeiros foguetes e satélites
no espaço sideral, durante a corrida armamentista da Guerra Fria, já
mencionada anteriormente.
A partir do momento que descobrimos que o homem podia, de
fato, alcançar esse novo universo, a comunidade internacional entrou no
consenso de que, assim como o Alto Mar, o espaço sideral deveria ser
tratado como domínio público.
Agindo de forma rápida e eficiente, em 1958 a Assembleia Geral
da ONU concordou através de resolução que o espaço sideral só deve
ser utilizado para fins pacíficos, assim como foi determinado para o Alto
Mar, declarando que os países estavam intencionando deixar esse novo
e recém descoberto ambiente livre das disputas internacionais.
Ao contrário do caso do Alto Mar, que já era tradição ser tratado
como tal, o caso do espaço sideral e corpos celestiais (como a lua, por
exemplo) foi diferente.
Veja bem, eram tempos de Guerra Fria, nos quais os Estados
Unidos e a União Soviética disputavam o tempo todo para saber quem
era a maior potência mundial, e o que mais serviria para demonstrar isso
além do ter o controle do espaço sideral?
30 Direito Digital

O fato de a União Soviética ter sido o país responsável pelo


lançamento do primeiro satélite artificial, o Sputnik 1, fez com que o país
fosse contra no princípio de o espaço sideral ser de domínio público.
A União Soviética alegava que o espaço sideral deveria ser
tratado como o espaço aéreo, que não é de domínio público. No espaço
aéreo, o espaço que estiver literalmente em cima do território de algum
país, pertencerá por consequência a este, e deverá seguir todas as suas
regras já que é considerado como parte do território soberano.
O que ganhou a discussão foi o fato de o espaço aéreo ser
tecnicamente estático, já que segue obrigatoriamente o território físico
do país. O mesmo não podia ser dito do espaço sideral, com toda sua
relatividade geográfica.
Assim, ficou proibido que qualquer país levasse ao espaço sideral
qualquer equipamento que fosse utilizado para seu interesse próprio,
como colocar em órbita uma arma nuclear apontada para algum país
específico. Descumpriria a regra maior de utilização para fins pacíficos.
Esse também é o caso da lua e demais corpos celestiais, que
devem obedecer aos propósitos pacíficos, sendo matéria decidida em
1979 – o que ficou conhecido como Tratado da Lua.
c. Antártica
Também diferentemente do que era entendido sobre o Alto Mar, o
caso do continente da Antártica teve algumas divergências acerca de seu
domínio. Entre os anos de 1908 e 1943, sete países (Argentina, Austrália,
Chile, França, Noruega, Nova Zelândia e Grã-Bretanha) chegaram a
tentar proclamar alguns territórios da Antártica, apesar de não serem
reconhecidas pela ONU. Ainda hoje esses países tentam reivindicar a
soberania de certos locais na Antártica.
Para tentar evitar que mais países fizessem o mesmo, ou até por
questões de interesse próprio, em 1958 os Estados Unidos propuseram
uma discussão específica acerca de um possível tratado sobre a
Antártica, que acabou tendo sucesso e sendo assinado uma década
mais tarde.
O tratado teve capacidade de congelar as reivindicações de
soberania, sem, entretanto, anulá-las para evitar prejudicar qualquer
um dos sete países. Isso quer dizer que, enquanto o tratado estiver em
vigor, nenhum país pode agir como se dono do território fosse. Foi então
Direito Digital 31

atribuído ao continente as mesmas normas do Alto Mar e Espaço Sideral:


sua utilização exclusiva para fins pacíficos.

O Domínio do Ciberespaço
Apesar de todo o discurso de independência do ciberespaço,
os países têm constantes discussões acerta do mundo digital como
território e como seria seu domínio jurídico, já que o domínio técnico já
foi explicado na figura 9. Eichensehr (2015) traz um estudo interessante
acerca das perspectivas dos principais países em relação ao ciberespaço,
tratados a seguir.
A China e a Rússia possuem o mesmo ponto de vista sobre o
ciberespaço e seu domínio jurídico-legal, desenvolvendo a ideia de que
o mundo virtual deveria ser tratado como o espaço aéreo: o ciberespaço
responderia a autoridade soberana que representasse seu território
extensivo físico. Para uma melhor compreensão, veja o entendimento
do domínio do espaço aéreo normalmente:
Figura 11: Domínio do espaço aéreo.

Fonte: A Autora

Analogicamente ao ciberespaço, a China e a Rússia defendiam que


os servidores existentes virtualmente que pertencessem a algum território
nacional, deveriam responder apenas a sua soberania, assim como no
esquema básico acima que demonstra o espaço aéreo pertencente ao
território correspondente logo abaixo, não importando sua altitude.
Nesse raciocínio, o ciberespaço teria ciber-fronteiras, e os países
responsáveis deveriam ter capacidade suficiente de parar qualquer
32 Direito Digital

ataque contra seus territórios cibernéticos. Acontece que essa defesa


de fronteiras cibernéticas não é tão fácil quanto se imagina.
É como se fosse uma só grande Internet no ciberespaço, sendo
impossível essa divisão em Internets Nacionais – até porque, diferen-
temente do espaço aéreo, não se dá para dimensionar o tamanho do
ciberespaço e determinar exatamente onde começaria e terminaria os
territórios nacionais correspondentes.
Do outro lado, temos países, como os Estados Unidos e Canadá, que
defendem que o ciberespaço é um bem comum da sociedade internacional,
ou seja, de domínio público.
Além dessas duas perspectivas, tem-se uma terceira que acredita que
é difícil considerar o ciberespaço como domínio público internacional,
com o argumento de que há hardwares físicos (dispositivos físicos
capazes de criar redes pela internet, ainda que no ciberespaço) em
territórios físicos de países que podem até ser de pessoas privadas – ou
seja, de empresas.
Apesar de ser um assunto controverso, não se pode negar que o
domínio do ciberespaço possui semelhanças com os outros domínios
públicos estudados anteriormente, seja por convenções e tratados ou
seja por necessidade, fato é que: Nenhum desses quatro domínios são,
atualmente, partidos ou totalmente pertencentes a soberania alguma,
no sentido tradicional da palavra soberania.

SAIBA MAIS:
Quando dizemos sentido tradicional da palavra “soberania”,
nos referimos ao tratado de Vestfália, que diz que todo país
é soberano. Você pode ler mais sobre em que implica de
fato esse conceito tradicional no artigo disponível no link:
https://bit.ly/3cDxazA. Acesso em 27 de março de 2020.

Apesar de terem vários pontos em comum, é importante destacar


também que o ciberespaço possui algumas diferenças dos outros domínios,
certo? Por exemplo, ele não foi criado pela natureza, foi criado pelo homem.
Além disso, o ciberespaço, ao contrário dos outros domínios públicos, não
é um espaço físico, e sim virtual. Apesar de ser virtual, possui elementos no
mundo físico, como computadores, roteadores, cabos, entre outros.
Direito Digital 33

Com tantos desafios, é difícil imaginar qualquer país como autoridade


de partes do ciberespaço, já que além de ser um espaço indivisível, o
mundo digital tem suas próprias unidades de espaço e tempo, como já
visto anteriormente. Quer ver só um exemplo? Confira o esquema abaixo:
Figura 12: Desafios de reivindicar soberania sobre o domínio do ciberespaço.

Fonte: A Autora

E aí? O que você achou dessa terceira parte? Captou esses conceitos
que vieram do mundo do direito e do mundo tecnológico? Vamos relembrar
um pouco comigo! Começamos vendo que a palavra “domínio” pode se referir
a coisas diferentes, como o domínio técnico do ciberespaço, que é como se
fosse o endereço do website que você quer, mas também pode querer dizer
sobre quem tem o controle do espaço em comento não é mesmo? Depois
disso, vimos alguns domínios públicos do direito internacional, que são o
Alto Mar, o Espaço Sideral/Corpos Celestiais e o Continente da Antártica.
Mas por que foi necessário entender um pouco como eles funcionam?
Porque no fim, pudemos ver todas suas semelhanças com o ciberespaço e
como o domínio do ciberespaço é considerado atualmente!

A Deep Web

INTRODUÇÃO:
Ao término desta competência você será capaz de assimilar o
universo da Deep Web – o que significa, o porquê desse nome,
como são classificadas suas camadas e o que podemos
encontrar nelas. Essa é considerada a parte mais intrigante do
Ciberespaço! Pronto para conhecê-la? Vamos lá!
34 Direito Digital

A deep web
Como você já bem sabe, não encontramos apenas coisas positivas
no ciberespaço. É comum ver no jornal notícias sobre hackers, espionagem,
contrato de assassinos de aluguéis e muito mais até do que podemos
lembrar. Mas como isso acontece, com um mundo tão avançado, com
tantas tecnologias? Em que parte do ciberespaço é possível encontrar
esse lado obscuro do mundo digital?
A primeira coisa que temos que considerar, é que tudo que conhe-
cemos da Internet faz parte apenas do que se conhece como superfície.
Sim, mesmo que você esteja pensando que a Internet é enorme e que
tem coisas que você nem imagina... Sim, tudo isso é a superfície.
O que acontece de ilegal no ciberespaço ocorre no local específico
que é conhecido popularmente como a deep web – do inglês, é a expressão
que significa a profundeza da internet. Ou seja, muito além do que
podemos ver, há conteúdos no ciberespaço muito bem escondidos que
nem a polícia ou o direito consegue atingir, por ser de difícil monitoração.
Para melhor visualizar esse cenário, imagine uma enorme praia
vazia, estando você na areia, de frente ao mar. O que você consegue ver
de água – as ondas, a superfície cristalina –, é a superfície da Internet, é
a Internet que você está acostumado a acessar, como o Google, e-mails,
redes sociais.
Debaixo da superfície, temos a Deep Web. Não sabemos sua
extensão, nem o que podemos encontrar lá de fato. Melhor: só pessoas
com muito conhecimento do ciberespaço se atrevem a mergulhar na
parte obscura desse oceano sem fim.
Na areia, onde você está, fica o conteúdo local de cada país, de fácil
acesso e que geralmente apenas os membros do mesmo país conseguem
entender, como os próprios memes da Internet. No céu, você pode
encontrar as nuvens, que armazenam muitos dos dados compartilhados da
superfície da internet e do conteúdo próprio da pessoa. A imagem abaixo
demonstra exatamente esse cenário:
Tudo o que podemos acessar na superfície, podemos fazer por
navegadores comuns, que conseguem identificar nossos IPs. Já na Deep
Web, há navegadores específicos que garantem o seu anonimato o não
rastreio, pois há websites lá que você não pode se identificar (nem se quiser).
Direito Digital 35

Figura 13: O cenário do ciberespaço.

Fonte: A Autora

É sabido que o conteúdo da superfície abrange apenas 4% de todo


o conteúdo existente na Internet, sendo os 96% restantes pertencentes
à Deep Web, dividido em suas camadas, que veremos mais para frente.
Além disso, em razão da própria dificuldade em acessar a Deep Web, já
que a maioria de seu conteúdo é protegido, dizem que esse conteúdo
tem um valor imensurável e não possui apenas coisas ilegais.
A cada tempo que passa, a Deep Web se torna mais profunda, princi-
palmente com o surgimento de novas tecnologias que requerem maior
conhecimento de informática, como é o caso das destacadas a seguir:
d. Computação ubíqua – é a forma de computação que você pode
acessar de qualquer lugar, a qualquer tempo, de qualquer dispositivo, de
forma quase invisível. Ou seja, você não notaria que estaria dando coman-
dos ao dispositivo para acender as luzes do seu quarto, por exemplo.
e. Computação em Nuvem (distribuição e armazenamento) – é
a tecnologia que permite tanto a distribuição quando o armazenamento
de dados, que ficam em uma grande base de arquivos chamada de
nuvem. Para acessar os dados lá presentes, você não precisa carregar
qualquer dispositivo. É o caso do Dropbox, por exemplo.
f. Computação móvel – como o próprio nome indica, é a presente
em dispositivos que permitem que você os carregue para onde quiser,
como o celular que apresenta capacidades de computador com trans-
missão de dados, voz e vídeo.
36 Direito Digital

g. Redes de Sensores sem Fio (RSSF) – um tipo específico de rede


que permite uma estrutura sem fio de monitorar condições ambientais
ou físicas, como temperatura, som, vibração, pressão, entre outros. É
comum em locais que possuem algum tipo de perigo ou são de difícil
acesso, como áreas militares ou áreas de aviação e tráfego.
h. Serviço de hosting – são servidores que conseguem suportar
atividades de forma suficiente para que o seu site permaneça online,
como se estivesse fazendo uma hospedagem da rede.
i. Criptomoedas e a Dark Wallet – são de fato as formas de
comercializar na Internet. Antigamente, existiam apenas na deep web
mas estão sendo transportadas para a superfície, como é o caso da
Bitcoin. As moedas criptografadas funcionam como unidade de troca
através de um sistema descentralizado com tecnologia de blockchain,
funcionando basicamente como uma forma de pagamento anônima.
A dark Wallet administra as criptomoedas, que garante o anonimato e
permite situações de lavagem de dinheiro, por exemplo.

SAIBA MAIS:
Blockchain significa a tecnologia de lista de registro em
blocos, protegidos e vinculados pela criptografia, de
forma que apenas os envolvidos nas transações tenham a
chave do código de acesso. Se você tiver curiosidade para
saber quais as criptomoedas existentes atualmente, basta
acessar o link: https://coinmarketcap.com/. Acesso em: 29
de março de 2020.

É possível, na deep web, a contratação de hackers para fazer algum


serviço, o qual será pago por criptomoedas. Além disso, como dito anterior-
mente, é possível a contratação e comunicação sobre serviços legais que
mereçam privacidade absoluta, como é o caso de pessoas que lidam com
segredos de Estados, como Edward Snowden por exemplo e diversos
jornalistas e ativistas que conseguem informações valiosas por lá.
Mas... Como acessar a deep web, você pode estar se perguntando?
De fato, é necessário obter primeiramente conhecimentos infor-
máticos específicos a depender de quão profundo você deseja ir. De
modo geral, a maioria dos usuários da deep web conseguem alcançá-la
Direito Digital 37

através de navegadores específicos que garantem o anonimato tanto dos


donos dos websites quanto dos clientes que os acessam, como é o caso
do TOR (The Onion Router), o I2P (Invisible Internet Project) e o Freenet.
Desses, o mais conhecido é o TOR, que possui até conteúdos mais
maduros e mais bem desenvolvidos. É ele, portanto, que possui uma
capacidade maior de conter atividades ilegais, como a venda de cartões
de crédito clonado ou documentos de identidade falsos, por exemplo.
Acessar esse tipo de conteúdo não é tão fácil, pois as ferramentas
de buscas normais que conhecemos não conseguem alcançar essa
deep web – não adianta por exemplo pesquisar no Google. Isso se dá
porque os conteúdos da deep web não são indexados na Internet, pois
os padrões de indexamento são não contextuais e não roteirizados.

SAIBA MAIS:
Ainda está curioso para saber mais? Tem um canal no
Youtube bem interessante que já gravou alguns vídeos
sobre a deep web e você pode saber mais como se
dá o acesso, o Nerdologia. O link do vídeo é https://bit.
ly/3bKAA2W. Acesso em 29 de março de 2020.

Camadas da Internet
Os estudos acerca da Deep Web hoje em dia já são mais extensos
do que tínhamos antigamente. É justamente por isso que, para facilitar a
melhor compreensão desse conteúdo, diversos autores preferem criar
divisões na Internet, popularmente chamadas de “camadas da Internet”,
que não passam, claramente, de categorias meramente metodológicas.
Dependendo dos autores, possuímos diferentes divisões da
Internet. Aqui, vamos ver duas divisões que facilitam a compreensão e
que são as mais utilizadas, sendo elas as categorizações segundo os
autores internacionais e segundo a Escola de Magistrados do Brasil
No começo dos estudos acerca da Deep Web, os estudiosos
entendiam que a Internet se dividia nas camadas visível e invisível
(profunda, oculta e escura). Porém, essa era uma divisão que poderia
prejudicar a compreensão, muito mais do que facilitá-la.
38 Direito Digital

Para Bergman (2001), inclusive, dizer que a Internet pode ser


invisível não seria nem ao menos correto porque essa questão é muito
mais básica do que o próprio conteúdo da Internet.
Quer dizer, os dispositivos tecnológicos poderiam facilitar e deixar
o conteúdo da Internet invisível, como é o próprio caso do que foi visto
anteriormente de não deixar qualquer indexador nos websites para que
se tornem de difícil acesso.
O autor defende que muito melhor do que o termo “internet
invisível” é o próprio termo “Internet profunda” – Deep Web. Foi ele,
também, um dos primeiros autores que constatou a imensidão da Deep
Web, sendo muito maior do que imaginávamos antes (cerca de 400 a
440 vezes maior do que a superfície).
A Internet visível seria a camada chamada de superfície no tópico
anterior, fazendo referência à parte que pode ser pesquisada e indexada.
Grande parte dessa visibilidade está no fato de ser um conteúdo que
pode ser encontrado através das plataformas de busca, como o Google.
A parte da Internet que é invisível surgiu com o avanço das
tecnologias no ciberespaço, como as nuvens e comércio digitais.
É a camada também conhecida como Internet profunda e escura,
justamente pela maior dificuldade em acessar seu conteúdo.
Coexistindo entre si na parte invisível, os estudiosos como Araújo
(2001) defendem outras duas realidades desse lado cibernético: a oculta
e a profunda. Ou seja, a Internet invisível, profunda e oculta não seriam
termos sinônimos pois cada um representaria um nível diferente.
Já o estudo realizado e publicado pela Escola de Magistratura do
Brasil oferece uma categorização bem mais simplificada, que facilita (e
muito) a visualização da Internet através de camadas de fato.
A figura representa um Iceberg no oceano porque é exatamente
assim que é compreendida a divisão de camadas da Internet. Com três
camadas principais (a superfície, a deep web e a dark web), cada uma
delas ainda possui subdivisões. Da superfície, podemos apenas ver a
ponta do iceberg, sem nunca imaginar o que tem por baixo das águas.
• A superfície
A primeira camada oficial se subdivide em três: Camada zero,
superfície da Web propriamente dita e Bergie Web. A camada zero
representa a área dos websites que são comuns, de fácil acesso, como
a plataforma de busca Google e a rede social Facebook.
Direito Digital 39

Observe bem a figura abaixo e como ela se divide.


Figura 14: As camadas da Internet como se fossem em um iceberg.

Fonte: A Autora

A superfície da web propriamente dita abriga websites como o


Reddit (plataforma composta por fóruns de discussão que propõem
o compartilhamento de ideias) e o Digg (website que funciona como
âmbito de recomendações entre usuários).
A Bergie Web já contém websites que possuem um teor de
invisibilidade, pois são ocultos nas pesquisas do Google por exemplo. É
o caso de grupos fechados do Facebook por exemplo, que você precisa
ser membro para poder ver o conteúdo e precisa até ser convidado
para poder ver que o grupo existe. Essa subdivisão também abriga sites
como o 4chan (é também um website de fóruns, mas que permite a
comunicação anônima e é totalmente livre para debates).
• A deep web
É a parte que dá início ao que não podemos ver do iceberg e
da Internet, possuindo também subdivisões que não possuem necessa-
riamente nomes específicos. A partir dessa camada é interessante ter
acesso através de Proxy, e é possível verificar conteúdos considerados
ilegais para todos os países.
40 Direito Digital

EXPLICANDO MELHOR:
O que é acesso através de Proxy? Significa que você está
utilizando terceirizados para acessar seu destino. O Proxy
consegue captar o destino que você quer chegar, codificá-
lo e repassá-lo para o navegador do seu dispositivo, e no
fim, o destino registrará apenas um IP do Proxy, e não o
seu – o que vai garantir seu anonimato.

Enquanto na camada de deep web propriamente dita, você pode


encontrar conteúdos ilegais como pornografia infantil, informações
sobre vírus e pirataria, a próxima camada, conhecida como Charter Web,
envolve conteúdos ilícitos de forma específica, como pornografia infantil
com bebês, tráfico de animais, tráfico de drogas ou até filmes e vídeos
banidos da superfície.
A terceira subdivisão da deep web é a que contém atividades
ainda mais ilícitas com mais envolvimentos de outras pessoas e possíveis
interações, como a possibilidade de contratação de assassinos de aluguel,
seitas satânicas e o comércio ilegal de armas de fogo.
• A Dark Web
A terceira camada oficial da Internet ainda faz parte da Deep Web.
Entretanto, ela é muito mais obscura do que as demais, possuindo também
suas subdivisões que são conhecidas como Muro da Morte, Névoa e
Mariana’s Web. Nessa terceira camada, além do Proxy, é recomendada a
computação quântica em razão da quantidade de conteúdos encriptados.
Mas o que é a computação quântica? É a tecnologia que ultrapassa as
limitações tradicionais e o respectivo processamento de dados a partir do
qubit (partícula subatômico que sobra a capacidade de processamento).
Essa computação consegue criar chaves de criptografias específicas
para desvendar os conteúdos bloqueados.
A camada da neblina (a névoa) é repleta de códigos maliciosos e
armadilhas para que qualquer pessoa chegue lá. Por isso o nome, já que
é mais difícil navegar por ela.
A última camada é chamada de Mariana’s Web, dona por si só de
cerca de 80% do conteúdo total da Internet. Por ser a mais complicada
de navegar e acessar, possui muitas lendas acerca do seu conteúdo. O
que se sabe, porém, é que tem atividades de cunho ilegal sim, como é o
caso de encontros e comunicações de grupos terroristas.
Direito Digital 41

SAIBA MAIS:
O canal do Youtube “Você Sabia?” possui alguns vídeos
interessantes acerca de teorias da deep web. Você pode
acessar o vídeo no link https://youtu.be/lAw9Pay-Wso
caso tenha curiosidade. Acesso em 30 de março de 2020.

O que você achou dessa nossa última seção? Conseguiu entender


esse mundo que é a deep web? Começamos vendo o que é a deep web,
vendo suas tecnologias como a computação ubíqua, que facilita sua
navegação, assim como que se faz para acessá-la. Depois, vimos que a
deep web é como se fosse toda a parte de um iceberg no oceano que
não conseguimos ver, repleta de divisões e camadas que facilitam o seu
estudo, indo além da divisão mais filósofica entre Internet visível e invisível,
com camadas subdivididas que deixam a visualização muito mais fácil.
Vimos também sua importância, já que várias coisas (inclusive ilegais)
acontecem por lá e nem imaginamos ou ao menos ficamos sabendo,
lembrando também que a deep web possui também conteúdos legais e
acadêmicos até. Espero que você tenha aproveitado o máximo possível
desse mundo ainda em ascensão, que é o mundo digital. Até a próxima!
42 Direito Digital

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