Você está na página 1de 47

Gestão

Educacional
Gestão Pedagógica dos Espaços Escolares
e não Escolares
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
TATIANA DE MEDEIROS SANTOS
AUTORIA
Tatiana de Medeiros Santos
Olá! Sou formada em Pedagogia e especialista em Educação Infantil
e também em Gestão Educacional, com experiência técnico-profissional
na área de educação. Sou mestre em Educação Popular e doutora em
Educação, professora do Ensino Fundamental e Ensino Superior há mais
de 10 anos. Passei por instituições como a Universidade Federal da Paraíba,
como professora substituta do curso de Pedagogia. Sou professora
da rede municipal de ensino de João Pessoa, da UNAVIDA – UVA, da
UNINASSAU e tutora do curso a distância de Pedagogia da UFPB. Sou
apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida
àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso fui convidada
pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes.
Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e
trabalho. Conte comigo!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

OBJETIVO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova compe- novo conceito;
tência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou dis-
mento; cutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Organização Democrática da Escola Pública: Bases Legais e os
Desafios.................................................................................................................10

O Trabalho Pedagógico em Espaços Escolares e não Escolares..19

Princípios e Características dos Diferentes tipos de Gestão........27

Atuação Pedagógica na Gestão dos Espaços Escolares e não


Escolares.............................................................................................................. 36
Gestão Educacional 7

02
UNIDADE
8 Gestão Educacional

INTRODUÇÃO
Você sabia que a área gestão educacional é uma das mais novas
demandas da área e será responsável pelo gerenciamento de diversos cursos
nos próximos anos? Esta é uma parte da Pedagogia em que se trabalha com
educação tanto em espaços escolares como não escolares? Isso mesmo.
A gestão educacional é a parte de uma instituição que aborda tudo que vai
acontecer no âmbito administrativo, financeiro, pedagógico e das relações
interpessoais da escola. Sua principal responsabilidade é zelar pelo processo
de ensino-aprendizagem. Tudo isso deve acontecer regido por políticas
educacionais, que são subordinadas ao Plano Decenal de Educação, exigido
dos municípios.

Em meio a essas questões, temos o gestor, que vai lidar com processos
pedagógicos, isto, cuidar para que a sua equipe tenha autonomia na hora
de resolver as principais questões que envolvam o desenvolvimento de uma
escola. É primordial que o gestor zele para que sua equipe trabalhe interagindo
com os demais colegas em prol de atingir os objetivos educacionais de sua
unidade escolar. A seguir, você vai compreender que a gestão, a teoria e a
pesquisa podem trabalhar juntas, seja em espaços escolares ou não escolares.
Entendeu? Ao longo desta unidade, letiva você vai mergulhar neste universo!
Gestão Educacional 9

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2. Nosso objetivo é auxiliar você
no desenvolvimento dos seguintes objetivos profissionais até o término
desta etapa de estudos:

1. Interpretar os fundamentos teóricos e legais da Gestão


Democrática.

2. Explicar os fundamentos e as ferramentas da gestão em


ambientes escolares e não escolares que atendam aos desafios
da contemporaneidade.

3. Identificar os princípios e diferentes características da gestão


democrática.

4. Interpretar como a gestão pode acontecer em espaços escolares


e não escolares, com o foco na atuação pedagógica.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento?


Ao trabalho! Tenho certeza de que, assim como eu, você vai cada vez mais
ficar apaixonado e almejará um dia trabalhar na área da gestão educacional,
seja em uma escola ou em qualquer outro setor no qual você coloque em
prática os conhecimentos adquiridos aqui.
10 Gestão Educacional

Organização Democrática da Escola


Pública: Bases Legais e os Desafios

OBJETIVO:

Neste primeiro momento de estudo, temos como você


vai conhecer os fundamentos teóricos e legais da gestão
democrática. Ao término deste capítulo, você será capaz
de entender como funciona a gestão educacional e seus
respectivos marcos legais. Isso será fundamental para
o exercício de sua profissão. E, então? Motivado para
desenvolver esta competência? Então, vamos lá. Avante!

Figura 1 – Educação, ciência e tecnologias

Fonte: Pixabay

A Constituição Federal de 1988 é um dos primeiros documentos


pós-ditadura militar, que garante o direito das escolas trabalharem de
forma a executar a gestão democrática nas escolas públicas.
Gestão Educacional 11

Após a promulgação da Constituição Federal, foi sancionada no


Brasil a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), Lei
nº 9.394/1996. Esse documento traz artigos que detalham como será a
gestão democrática nas escolas brasileiras.

A inserção do princípio da gestão democrática na Constituição


Federal de 1988 foi considerada algo formidável na história da educação
brasileira. Aconteceu após o fim do regime ditatorial e representou a
substituição do autoritarismo pela democracia que trouxe para dentro dos
muros das escolas diálogo e também críticas. Foi na década de 1980 que
as discussões acentuaram-se em favor da descentralização da gestão
das escolas públicas, tendo apoio em reformas legislativas (CURY, 2005).

Na Constituição Federal brasileira de 1988, art. 205, encontra-se


que: “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será
promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando
ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1988).

Na sequência, no art. 206, temos determinado:


I - igualdade de condições para o acesso e permanência
na escola;

II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o


pensamento, a arte e o saber;

III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e


coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;

IV - gratuidade do ensino público e estabelecimentos


oficiais;

V - valorização dos profissionais da educação escolar,


garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com
ingresso exclusivamente por concurso público de provas
e títulos, aos das redes públicas;

VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei;

VII - garantia de padrão de qualidade;

VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais


da educação escolar pública, nos termos de lei federal.
(BRASIL, 1988)
12 Gestão Educacional

Nos dois artigos, percebemos princípios de um modelo de


educação democrática.

Praticamente 11 anos após a Constituição Federal, foi sancionada


a LDBEN. Essa legislação foi um acontecimento muito importante na
área educacional, pois detalhou como deve acontecer a educação
sistematizada em nosso país. É importante destacar os artigos 12, 13 e
14, que instituem que a normatização do nosso sistema de ensino deve
zelar para que, em nossas escolas, ocorra a gestão escolar, de forma
democrática:
Artigo 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as
normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a
incumbência de:

I - elaborar e executar a sua proposta pedagógica;

II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e


financeiros;

III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas aulas


estabelecidas;

IV – velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada


docente;

V – prover meios para a recuperação dos alunos de menor


rendimento;

VI – articular-se com as famílias e a comunidade, criando


processos de integração da sociedade com a escola;

VII – informar aos pais e responsáveis sobre a frequência e


o rendimento dos alunos, bem como sobre a execução de
sua proposta pedagógica.

Artigo 13. Os docentes incumbir-se-ão de:

I – participar da elaboração da proposta pedagógica do


estabelecimento de ensino;

II – elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a


proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;

III – zelar pela aprendizagem de ensino;

IV – estabelecer estratégias de recuperação para os alunos


de menor rendimento;
Gestão Educacional 13

V – ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos,


além de participar integralmente dos períodos dedicados
ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento
profissional;

VI – Colaborar com as atividades de articulação da escola


com as famílias e a comunidade.

Artigo 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da


gestão democrática do ensino público na educação
básica, de acordo com suas peculiaridades e conforme os
seguintes princípios:

I - participação dos profissionais da educação na


elaboração do Projeto Pedagógico da escola;

II - participação da comunidade escolar e local em


Conselhos Escolares ou equivalentes. (BRASIL, 1996, on-
line)

EXPLICANDO MELHOR:

É perceptível que os artigos citados dão enlevo para


que aconteça uma escola em sintonia com um projeto
educativo, em que todos tenham a sua parcela de
participação em fazer que as coisas aconteçam de fato.
Evidencia-se a busca pela divisão de responsabilidades
e o comprometimento de cada um com a execução de
suas atribuições de forma flexível, dialogada e em modo
de trabalho conjunto, adequando-se à realidade local. É
importante que as escolas tenham a sua própria Proposta
Pedagógica, bem como autonomia para gerenciar as suas
prioridades, seus materiais e seus recursos financeiros.

No artigo 14, temos destacado que é atribuição dos sistemas de


ensino determinar as normas de gestão democrática do ensino público,
conforme particularidades locais em que a escola está inserida. Para tanto,
é necessária a participação dos profissionais da educação e comunidade
local na realização e execução do Projeto Político-Pedagógico (PPP). Na
construção de um PPP, contamos com a presença de representantes
de todos os setores da escola, bem como dos pais e alunos. Todos
14 Gestão Educacional

devem estar conscientizados da importância de sua participação para a


construção da melhor proposta pedagógica rumo a novas aprendizagens
na escola. Tudo isso dever acontecer zelando pela autonomia e para que
esta de fato aconteça no interior da escola, além de cuidar para que a
escola não fique subordinada ao Ministério da Educação, à Secretaria de
Educação Municipal ou Estadual, com propostas prontas.

A gestão escolar democrática se estabeleceu no Brasil em um


período em que essas discussões já tinham sido muito debatidas
e colocadas em prática no cenário internacional, no qual foram
entusiasmadas pelas políticas neoliberais nas décadas de 1980 e 1990.
Essas discussões aconteceram, ainda que de forma muito tímida, nas
escolas públicas, na corrida pela descentralização de poderes, com foco
no trabalho em equipe, que deve adequar a realidade escolar ao contexto
social dos educandos, sempre de forma autônoma, com soluções que
estejam dentro da realidade das escolas. Por isso, afirma-se que a figura
do diretor ganha novos contornos e, com isso, passa a se preocupar com
dimensões da gestão, não só administrativas e financeiras, mas também
na pedagógica e nas relações interpessoais. Esta última dimensão, ao
que parece ser a mais simples, também é complexa no sentido de refletir
diretamente no trabalho coletivo.

Em se tratando de gestão democrática no ambiente escolar, o


gestor deve trilhar o caminho de zelar para que aconteça a participação
ativa das pessoas que fazem parte da escola, em prol de resoluções de
problemas tanto educativos como administrativos e financeiros. Por isso,
é preciso que haja, no interior das escolas, a descentralização de poderes,
e que se gaste mais energia nas ações e discussões que busquem troca
de conhecimentos, e a compreensão e participação na elaboração de
normas que contemplem o coletivo (VEIGA, 2008).
Gestão Educacional 15

NOTA:

Após a Constituição Federal e a LDBEN, explicando a


respeito de como a gestão democrática deve trilhar
no campo educacional, houve o surgimento do Plano
Nacional de Educação, que passa a vigorar no Brasil com
a intencionalidade de propor diretrizes, metas e estratégias
para que fossem elaboradas políticas educacionais, para
mudar a educação de nosso país e devendo ser cumpridas
no decorrer de dez em dez anos.

Na LDBEN, há orientações para a elaboração do PNE, e seu art.


9º afirma que cabe à União a elaboração do Plano, em colaboração
com os estados, o Distrito Federal e os municípios. No art. 87, encontra-
se a instituição da Década da Educação. Na atualidade, já passamos
pelos primeiros dez anos e já foram feitas as avaliações de conquistas,
problemas e necessidades. O resultado mostra como se encontra a
educação do nosso país, e, consequentemente, traz a reestruturação do
PNE, que agora passou a ter diretrizes, com 20 metas e estratégias para
serem colocadas em prática no período de 2014 a 2024.

Em relação à Gestão Escolar Democrática, o PNE, no art. 2º, traz


discussões em relação à gestão democrática na educação pública. No
art. 9º, tem-se estabelecido um prazo de dois anos para sejam aprovadas
legislações que detalhem como deve acontecer a gestão democrática.

Na Meta 19 do PNE, temos a aprovação de condições para a


execução da gestão democrática, com oito estratégias para implantação
na área educacional:
1.1 - priorizar o repasse de transferências voluntárias da
União na área da educação para os entes federados que
tenham aprovado legislação específica que regulamente
a matéria na área de sua abrangência, respeitando-se a
legislação nacional, e que considere, conjuntamente,
para a nomeação dos diretores e diretoras de escola,
critérios técnicos de mérito e desempenho, bem como a
participação da comunidade escolar;
16 Gestão Educacional

1.2 - ampliar os programas de apoio e formação aos(às)


conselheiros(as) dos conselhos de acompanhamento e
controle social do FUNDEB, dos conselhos de alimentação
escolar, dos conselhos regionais e de outros e aos(às)
representantes educacionais em demais conselhos de
acompanhamento de políticas públicas, garantindo a esses
colegiados recursos financeiros, espaço físico adequado,
equipamentos e meios de transporte para visitas à rede
escolar, com vistas ao bom desempenho de suas funções;

1.3 - incentivar os estados, o Distrito Federal e os municípios


a constituírem fóruns permanentes de educação, com o
intuito de coordenar as conferências municipais, estaduais
e distrital bem como efetuar o acompanhamento da
execução deste PNE e dos seus planos de educação;

1.4 - estimular, em todas as redes de educação básica,


a constituição e o fortalecimento de grêmios estudantis
e associações de pais, assegurando-se-lhes, inclusive,
espaços adequados e condições de funcionamento
nas escolas e fomentando a sua articulação orgânica
com os conselhos escolares, por meio das respectivas
representações;

1.5 - estimular a constituição e o fortalecimento de


conselhos escolares e conselhos municipais de educação,
como instrumentos de participação e fiscalização na
gestão escolar e educacional, inclusive por meio de
programas de formação de conselheiros, assegurando-se
condições de funcionamento autônomo;

1.6 - estimular a participação e a consulta de profissionais


da educação, alunos(as) e seus familiares na formulação
dos projetos político-pedagógicos, currículos escolares,
planos de gestão escolar e regimentos escolares,
assegurando a participação dos pais na avaliação de
docentes e gestores escolares;

1.7 - favorecer processos de autonomia pedagógica,


administrativa e de gestão financeira nos estabelecimentos
de ensino;

1.8 - desenvolver programas de formação de diretores


e gestores escolares, bem como aplicar prova nacional
específica, a fim de subsidiar a definição de critérios
objetivos para o provimento dos cargos, cujos resultados
possam ser utilizados por adesão. (BRASIL, 2005)
Gestão Educacional 17

SAIBA MAIS:

Como é perceptível, no Plano Nacional de Educação,


foram organizadas metas que visam a organizar e ampliar
o que estava posto legislações anteriores, fornecendo um
suporte para que aconteça, de fato, a gestão democrática
nas escolas públicas. Por isso, dá funções importantes ao
estado, ao governo federal e aos que fazem parte da escola
em geral, para agirem de forma democrática.

Em meio a todas essas discussões, houve a necessidade de


elaboração de um Plano Decenal Municipal de Educação, com vistas a
articular as ideias, necessidades e prioridades na busca por uma proposta
de mudança com identidade local. Esse documento deve ser elaborado
por várias mãos, devendo, ao ser concluído, ser submetido à aprovação
na Câmara Municipal, pelo Poder Legislativo:
A elaboração de um PME constitui-se como o momento
de um planejamento conjunto do governo com a
sociedade civil que, com base científica e com a utilização
de recursos previsíveis, deve ter como intuito responder
às necessidades sociais. Todavia, só a participação
da sociedade civil (Conselho Municipal de Educação,
associações, sindicatos, Câmara Municipal, diretores das
escolas, professores e alunos, entre outros) é que garantirá
a efetivação das diretrizes e ações planejadas. (BRASIL,
2005, p. 10)

Desse modo, o PME deve seguir uma estrutura parecida a do


PNE, constando o diagnóstico da realidade do município, com princípios
e objetivos gerais. Os conselhos municipais devem realizar a análise
da realidade educacional do município, considerando o seu contexto,
a realidade social, a demografia, os dados do censo escolar, o padrão
de desempenho das escolas, padrões da gestão e análise do currículo
escolar. Com esses dados em mãos, é preciso realizar avaliações sobre
a realidade do município em questão e, de posse dos resultados, é hora
de propor diretrizes, objetivos e metas para a educação, tudo isso tendo
como alicerce a gestão democrática nas escolas públicas.
18 Gestão Educacional

A gestão democrática é uma prática legalizada que está determinada


nos documentos oficiais: Constituição Federal de 1988, LDBEN e PNEs
de 2001 e 2014. Nessas legislações, todas as discussões são pautadas
sempre na busca pela qualidade da educação. Em específico, os artigos
12, 13, 14 e 15 da LDBEN normatizam a Gestão Democrática das Escolas
Públicas brasileiras.

SAIBA MAIS:

Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos a leitura


da artigo “O que é gestão democrática e como aplicá-la” e
do vídeo disponíveis aqui.

RESUMINDO:

E, então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu


mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que
você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo,
vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido
que os artigos 12, 13, 14 e 15 LDBEN dão início à normatização
da educação básica, logo após a Constituição Federal de
1988, que na sua redação assegurou o direito de gestão
democrática para a escola pública. Também vimos as
discussões em torno do Plano Nacional de Educação,
que detalha como deve acontecer a gestão democrática
nas escolas públicas e a exigência para que as prefeituras
elaborem o seu Plano Municipal de Educação. A gestão
educacional foi institucionalizada no Brasil a partir da
Constituição Federal. Depois foi garantida também na
LDBEN. Você deve ter aprendido, ainda, que gerenciar uma
escola vai além de seus aspectos administrativos, um gestor
deve trabalhar os aspectos pedagógicos, com a finalidade
de sempre ofertar uma educação de qualidade para os que
ali frequentam. Ele pode trabalhar em espaços escolares e
não escolares focando processos pedagógicos, seja qual for
a finalidade de seu gerenciamento em espaços formais e
não formais de educação.
Gestão Educacional 19

O Trabalho Pedagógico em Espaços


Escolares e não Escolares

OBJETIVO:

Neste capítulo, vamos conhecer os fundamentos e


as ferramentas da gestão em ambientes escolares
e não escolares de forma a atender aos desafios da
contemporaneidade. Ao término deste capítulo você será
capaz de entender que a teoria da gestão educacional
pode ser utilizada tanto em espaços escolares como em
espaços não escolares, tendo como princípio o projeto
educativo cujo foco de trabalho será o pedagógico.
Isso será fundamental para o exercício de sua profissão.
Motivado para desenvolver esta competência? Então,
vamos lá. Avante!.

Figura 2 – Reflexão da gestão educacional em espaços escolares e não escolares

Fonte: Pixabay
20 Gestão Educacional

VOCÊ SABIA?

Você sabia que quando vamos nos reportar em relação


à área de atuação dos pedagogos, existe uma linha de
entendimento em que teóricos ainda questionam a decisão
de pedagogo poder atuar em espaços escolares e não
escolares? Porém, aqui vamos entender essas discussões
a partir das Diretrizes Curriculares do Curso Pedagogia
(DCNP) (CNE, 2006), que defendem que o pedagogo
pode sim atuar em espaços escolares e não escolares,
tendo como base o curso de formação do pedagogo. A
defesa é que essa formação deve privilegiar as categorias
fundantes do trabalho educativo, que se fundamentarão
em seus aportes teórico-metodológicos para a atuação do
pedagogo em outros espaços, além da escola.

Vamos ver como tudo isso aconteceu?

A partir da década de 1990, com a crescente demanda do capitalismo,


acontecem no Brasil diversas transformações nas relações sociais. Com
isso, temos instauradas novas configurações organizacionais no mundo
do trabalho, que se articulam com o processo de descentralização
produtiva, com novos métodos de gestão da força de trabalho e trabalho
vivo, com base na qualidade total.

Com o advento das novas tecnologias e a base técnica da produção


do capital, as relações sociais foram sendo alteradas. Novas formas de
exploração das forças de trabalho surgiram, principalmente, em relação
aos seres humanos, exigindo profissionais qualificados de diferentes
maneiras para o mercado de trabalho.

De acordo com Sá (2000), esse foi um período muito complexo em


nossa sociedade e com diversos problemas. Com o advento da ciência
e das tecnologias, surgiram novas formas de produção e reprodução da
existência humana. Algo que acarretou a precarização e diminuição das
formas e oportunidades de trabalho, pois no mercado de trabalho foram
instauradas a informatização e a robotização das empresas.
Gestão Educacional 21

SAIBA MAIS:

Em meio a todos esses acontecimentos, tivemos de


aprender a conviver com as novas demandas da sociedade
e viver em constante atualização. Nesse sentido, houve o
surgimento das Organizações Não Governamentais, mais
conhecidas como ONGs, que estão vinculadas ao Terceiro
Setor.

Você deve estar se perguntando o que esse componente curricular


tem a ver com os acontecimentos na sociedade e com o próprio curso
Pedagogia, certo?

É muito importante compreender que esses acontecimentos no


mercado de trabalho se refletem diretamente na sociedade, em nossas
vidas e também na área educacional, pois abrem possibilidades para
ampliar práticas educacionais de diversos profissionais que atuam em
espaços não escolares. Isso demanda a necessidade de profissionais
especializados, entre os quais, temos o pedagogo.

Desse modo, é nítido que novos problemas sociais e pedagógicos


terminam impondo novas demandas e, nesse momento, é preciso discutir
a necessidade de rever o papel e o perfil profissional do pedagogo no
campo da Pedagogia, uma vez que muitos espaços de atuação no
mercado de trabalho estão surgindo ou sendo resinificados.

Nesse sentido, observa-se que, na história da educação brasileira,


em se tratando da formação de pedagogos, que acontece a partir de 1939
até os dias atuais, o saber que era unitário passou a ser plural.

Cambi (1999) informa que não é apenas uma questão epistemológica


atrelada a mudanças de saberes, mas é algo que acontece por diversas
razões histórico-sociais. A sociedade muda, sua dinâmica também, pois
se encontra mais aberta e requer a formação de homens com uma
sensibilidade diferente da proposta no passado. Sendo assim, havia, de
fato, a necessidade de o curso ser redimensionado.
22 Gestão Educacional

EXPLICANDO MELHOR:

As mudanças na sociedade tiveram reflexo no campo da


Pedagogia, pois com esse novo modelo de sociedade, foi
preciso reescrever a identidade do curso. O entendimento
era de que a educação está em todo lugar, sendo
compreendida de forma plurifacetada, acontecendo em
várias modalidades, sendo estas institucionalizadas ou não.

Nunca se falou tanto em educação e, conforme Brandão (1981), ela


é muito mais do que aquela que está preparada para acontecer dentro
dos muros da educação escolar.

Assim, em 2006, foram institucionalizadas as Diretrizes Curriculares


para o Curso de Pedagogia (DCNP). Nesse documento, estão prescritas as
práticas educativas em contextos não escolares.

Essa amplitude nos espaços de atuação do pedagogo acontece


a partir dos anos de 1990, quando se observam o aumento das funções
docentes, a ampliação de suas tarefas e responsabilidades para além
daquelas relacionadas diretamente ao processo de ensino-aprendizagem
(VIEIRA, 2008).

Kuenzer e Rodrigues (2007) informam que a linha que orienta a


concepção que vai ao sentido de formar especialistas no campo da
Pedagogia surgiu a partir da admissão de múltiplas possibilidades de
organização curricular e modos de aprender. Os autores explicam que
é a partir dessas mudanças sociais que, na sociedade, foram-se abrindo
novas possibilidades:
[...] de atuação dos profissionais da educação, docentes
e não docentes, no trabalho, nas organizações não
governamentais, nos meios de comunicação, nos
sindicatos, nos partidos, nos movimentos sociais e
nos vários espaços que têm sido abertos no setor de
serviços para atender às demandas sociais, (KUENZER;
RODRIGUES, 2007, p. 40)
Gestão Educacional 23

REFLITA:

Com essa nova mentalidade em relação às especificidades


do campo de atuação do pedagogo, tivemos as discussões
que também solicitavam limites. Como resultado,
tivemos um processo de reconstrução de percursos
interdisciplinares nos cursos, em que foi preciso articular os
conhecimentos em relação ao trabalho pedagógico com
os campos de outras ciências.

Nesse contexto, era urgente formar profissionais de educação com


os novos perfis que a sociedade passava a exigir, capazes de atuar com
novas tecnologias, participação social, lazer, inclusão dos culturalmente
diversos, pessoas com necessidades educativas especiais e diversas
possibilidades formativas.

Em relação à formação do pedagogo naquele momento, era preciso


que se garantisse uma formação consistente em relação às teorias do curso,
nos fundamentos e nas práticas pedagógicas, pois seu espaço de atuação
estava se ampliando muito rapidamente. Assim, surge a defesa da docência
como base da formação do pedagogo, com argumentos importantes que
precisavam ser explicitados (KUENZER; RODRIGUES, 2007).

Sá (2000, p. 179) esclarece que a Pedagogia é uma ciência aplicada


da e para a prática educativa, compreendendo aqui as práticas escolares
e as não escolares. Dessa forma, ser pedagogo, ou professor, “[...] é
uma postura intencionalizada que possui suas nuances em função das
especificidades das naturezas dos locus de formação humana, porém a
atividade docente é basilar”.

Em contrapartida, temos pesquisadores que se posicionam em


oposição a esses esclarecimentos. Eles têm realizado análises das DCNP
(CNE, 2006) sob outra perspectiva, pois entendem que a docência não se
restringe às atividades de sala de aula de uma escola e compreendem
que também está no envolvimento de atividades de organização, gestão
de sistemas e instituições de ensino escolares e não escolares. Isso
atenderia ao princípio do que chamamos de flexibilização da área de
atuação do pedagogo.
24 Gestão Educacional

IMPORTANTE:

O licenciado em Pedagogia é entendido como um


profissional polivalente. Essa a formação oportunizará a ele
desenvolver diversas atividades em espaços escolares e
não escolares, adaptando-se assim às demandas existentes
no mercado de trabalho. Por isso, no curso Pedagogia, a
docência, a gestão e a pesquisa formam uma tríade que
estabelece um novo perfil do pedagogo (VIEIRA, 2008).

Com essa explicação, você pode estar se perguntado se não será a


docência que ocupa o principal lugar no curso Pedagogia? Sim, mas não
como simples docência, junto vem uma nova concepção de docência.

Na classificação de Quintana (1993), existem os seguintes campos


de atuação da Pedagogia Social em espaços escolares e não escolares:
01. Atenção à infância com problemas (abandono e
ambiente familiar desestruturado);

02. Atenção à adolescência (orientação pessoal e


profissional, tempo livre, férias);

03. Atenção à juventude (política de juventude,


associacionismo, voluntariado, atividades, emprego);

04. Atenção à família em suas necessidades existenciais


(famílias desestruturadas, adoção, separações);

05. Atenção à terceira idade (a educação da pessoa idosa);

06. Atenção aos deficientes físicos, sensoriais e psíquicos;

07. Atenção a pessoas hospitalizadas (pedagogia


hospitalar);

08. Prevenção e tratamento das toxicomanias e do


alcoolismo;

09. Prevenção da delinquência juvenil (reeducação dos


dessocializados);

10. Atenção a grupos marginalizados (imigrantes, minorias


étnicas, presos e ex-presidiários);

Promoção da condição social da mulher;

11. Educação de jovens e adultos;

12. Educação no campo. (BRASIL, 2005)


Gestão Educacional 25

No campo da Pedagogia Empresarial e na atuação em organizações


não governamentais de diversas áreas, sejam elas ambiental,
educacional, cultural e recreativa, temos uma nova área de atuação em
nossa sociedade, que é a Ecopedagogia. Trata-se de uma área voltada a
se repensar os problemas ambientais no âmbito educativo, de modo a
considerar os aspectos econômicos, culturais e políticos.

Desse modo, compreende-se que, em meio aos novos campos


de atuação do pedagogo, é preciso considerar os novos cenários de
educação não escolar, caracterizados de forma diferente da educação
formal escolarizada.

Sobre essa questão, Assis (2007, p. 172) arrisca explicar que o


pedagogo vai trabalhar a partir dos diversos saberes e das articulações
a serem realizadas por ele. Seja qual for a sua área se atuação “gestão ou
docência”, é preciso ter cuidado com soluções simplistas que queiram
resolver algo em um curto espaço de tempo, a exemplo da redução da
carga horária para atender a demandas financeiras. O autor ainda explica
que a educação sempre deve estar a serviço de si mesma e do homem.
Este, seja professor ou gestor, será o responsável por promover o diálogo
entre o homem e o processo formativo que juntos podem e devem
começar a construir.

Dessa forma, compreende-se que é por meio das discussões


que envolvem a ampliação do campo de atuação do pedagogo e a sua
possibilidade de articular com as diversas áreas do conhecimento, que
se explica que a gestão do trabalho do pedagogo, por estar atuando
em espaços não escolares, não pode relaxar e deixar de ser planejada.
Sempre deve haver um planejamento interdisciplinar, que trilhe para que
sua atuação possa ocorrer pelo trabalho coletivo, de forma interdisciplinar
(TARDIF; LESSARD, 1999).

Desse modo, é perceptível que o foco da atuação dos pedagogos


será na interdisciplinaridade, considerada a Pedagogia Social, que tem
como principal ligação a transmissão dos saberes (VEIGA, 2008). Por isso,
é primordial manter o diálogo, acreditando que este ultrapassa os limites
de cada saber, reorganizando-o, assim, com a intenção de produzir novos
conhecimentos que possam ser cultivados na vida dos sujeitos.
26 Gestão Educacional

ACESSE:

Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos que


assista ao vídeo “Programa: Roda de Conversa - Tema:
Espaços não-formais do conhecimento: a escola além da
escola (1/3)”, disponível aqui.

RESUMINDO:

E, então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu


mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de
que você realmente entendeu o tema de estudo deste
capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter
aprendido os fundamentos e as ferramentas da gestão em
ambientes escolares e não escolares que atendam aos
desafios da contemporaneidade. O mais importante é o
entendimento de que o gestor educacional pode levar os
mesmos fundamentos de atuação pedagógica e de gestão
democrática para espaços diversos, sejam eles escolares
ou não. O foco será sempre a atuação pedagógica e a
aprendizagem de qualidade. .
Gestão Educacional 27

Princípios e Características dos


Diferentes tipos de Gestão

OBJETIVO:

Neste momento de estudo, nosso intuito é que você


compreenda os princípios e as diferentes características
da gestão democrática. Ao término deste capítulo, você
será capaz de entender como funciona os princípios e as
características dos diferentes tipos de gestão. Isso será
fundamental para o exercício de sua profissão. E, então?
Motivado para desenvolver esta competência? Então,
vamos lá. Avante!

Figura 3 – Princípios democráticos

Fonte: Pixabay
28 Gestão Educacional

Vamos iniciar este capitulo, retomando os artigos 14 e 15 da LDBEN,


que regulam a gestão democrática. São entendidos como princípio para
regulamentar todo o processo de gestão democrática na escola pública
e deles nascem outras legislações, normas e políticas públicas para a
educação pública brasileira em termos de gestão:
Art. 14 - Os sistemas de ensino definirão as normas da
gestão democrática do ensino público na educação
básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme
os seguintes princípios:

I. participação dos profissionais da educação na elaboração


do projeto pedagógico da escola;

II. participação das comunidades escolar e local em


conselhos escolares ou equivalentes.

Art. 15 - Os sistemas de ensino assegurarão às unidades


escolares públicas de educação básica que os integram
progressivos graus de autonomia pedagógica e
administrativa e de gestão financeira, observadas as
normas de direito financeiro público. (BRASIL, 1996, on-
line)

Observam-se nesses artigos o princípio da gestão democrática,


a autonomia e a importância da participação de todos os envolvidos na
escola no processo de gestão da escola pública. Essa autonomia deve
acontecer de forma articulada com a legislação da educação brasileira.
Para tanto, é preciso organizar ações e o processo de tomada de decisões
internas com o objetivo de melhor resolver demandas particulares a cada
unidade escolar.

REFLITA:

Neste momento, você pode estar se perguntando: isso


é algo que pode acontecer em espaços escolares e não
escolares? Sim, pode acontecer a gestão democrática em
espaços escolares e não escolares. Mas como agir nesses
espaços? Observando qual o foco de aprendizagem do
espaço pedagógico em que se está atuando. Será na área
das tecnologias, em um hospital ou empresa?
Gestão Educacional 29

A ideia é que você entenda que o pedagogo pode atuar em


espaços em que haja novas aprendizagens. Sendo assim, a gestão de
forma democrática, com seus princípios de autonomia, liderança, diálogo,
participação, trabalho coletivo, formação de pessoas para a cidadania,
entre outros, cabe tanto no espaço escolar como no espaço não escolar.
Aqui vamos focar sobre como deve acontecer na escola, mas lembre-se
que o casamento da teoria e da prática que vamos estudar neste curso,
com foco nas escolas, servirá também para outros espaços não escolares.

O importante é que o princípio da gestão pedagógica seja


entendido e realmente colocado em prática quando necessário na sua
futura profissão. Sobre a importância da participação, Libâneo explica que:
[...] a participação é o principal meio de se assegurar
a gestão democrática da escola, pois possibilita
envolvimento de profissionais e usuários no processo de
tomada de decisões e no funcionamento da organização
escolar: a organização escolar democrática implica não só
a participação na gestão, mas a gestão da participação,
em função dos objetivos da escola. (LIBÂNEO, 2004, p. 102)

Sobre esta questão, Lück esclarece que é preciso que se amplie


a compreensão de organização educacional, não substituindo a
administração, mas superando a abordagem da fragmentação. Assim, é
necessário superar a visão de cada um atuando no seu lugar, sem diálogo
e perspectiva do trabalho coletivo. Por isso, o autor enfoca que “[...] abrange
uma série de concepções, tendo como foco a interatividade social, não
considerada pelo conceito de administração, e, portanto, superando-a”
(2011, p. 55).

Desse modo, assumir que o gestor vai trabalhar no princípio


da gestão democrática implica dizer que serão desenvolvidas ações
disciplinadas, que respeitam o ideal de democracia, com discussões e
conflitos que culminem em um consenso. Porém, é preciso lembrar
que essa é uma sistemática de gestão que pode acontecer em espaços
escolares e não escolares.
30 Gestão Educacional

REFLITA:

Você pode estar se perguntando por que a pedagogia se


remete o tempo todo ao espaço escolar? Isso acontece
porque precisamos formar uma base sólida em nossa
formação profissional e essa base se dá a partir do espaço
escolar e de outros espaços em que o pedagogo for atuar
no decorrer de sua profissão. Entendemos que podemos
levar a teoria, a prática e a pesquisa realizada em todo
o curso com foco no espaço escolar para espaços não
escolares, adequando-a à demanda do espaço de trabalho
em que o pedagogo está inserido.

Por isso, entendemos que toda ação educativa em espaço não


escolar vai acontecendo com a atuação de práticas educativas alternativas,
que, inicialmente, não eram consideradas educação, pois não estavam
dentro das normas formais da escola. Porém, apesar disso, também era
construída uma relação forte de ensino e aprendizado como acontece
nas escolas.

Nesse sentido, Gohn explica que a educação não formal:


[...] aborda processos educativos que ocorrem fora das
escolas, em processos educativos da sociedade civil, ao
redor de ações coletivas do chamado terceiro setor da
sociedade, abrangendo movimentos sociais, organizações
não governamentais e outras entidades sem fins lucrativos
que atuam na área. (GOHN, 2001, p. 32)

Para tanto, a atuação da gestão em espaços não escolares pode


abranger tanto espaços escolares como não escolares, pois a educação
não formal vai além das ONGs, estando presente em diversos locais:
associações de bairro, movimentos sociais, igrejas, sindicatos, espaços
de culturas, entre outros.

Por isso, Gohn (2005) explica que o uso do termo educação nas
escolas é diferente da educação não escolar, pois a primeira trabalha
questões educacionais em específico, enquanto quem trabalha com
espaços não escolares trabalha sim com educação, mas em sentido mais
Gestão Educacional 31

amplo. Franco informa que “[...] toda ação educativa carrega em seu fazer
uma carga de intencionalidades que integra e organiza sua práxis” (2003,
p. 73-75). Por isso, a gestão da educação no espaço não escolar também
propõe um fazer educativo.

De acordo com Lück, a gestão escolar constitui:


[...] uma dimensão e um enfoque de atuação que objetiva
promover a organização, a mobilização e a articulação de
todas as condições materiais e humanas necessárias para
garantir o avanço dos processos socioeducacionais dos
estabelecimentos de ensino orientadas para a promoção
efetiva da aprendizagem pelos alunos, de modo a torná-
los capazes de enfrentar adequadamente os desafios
da sociedade globalizada e da economia centrada no
conhecimento. (LÜCK, 2005, p. 11)

Por isso, a gestão escolar é constituída por uma dimensão de atuação


dos que dela fazem parte, como gestor, supervisores, coordenadores,
professores, pais, alunos, comunidade etc. Ela objetiva identificar e
propor soluções em relação às demandas e problemáticas presentes nas
escolas, visando melhorar cada vez mais o processo de aprendizagem.

Santos menciona uma série de métodos que devem estar envolvidos


na função da gestão:
1) criação de um ambiente em que o respeito e efetividade
sejam uma constante;

2) Favorecimento do crescimento pessoal e profissional de


todos os elementos da escola;

3) Humanização do relacionamento, evitando quaisquer


preconceitos, mesmo que velados;

4) Exercício da cidadania pela comunidade;

5) Envolvimento em todas as decisões fundamentais da


escola. (SANTOS, 2002, p. 40)

A partir desse entendimento, a gestão deve trabalhar para que


haja uma participação mais efetiva da comunidade escolar. Para que
isso aconteça, é preciso que haja maior participação de todos nas
tomadas de decisões da escola, algo que acaba colaborando para que a
comunidade escolar tenha ciência da importância de sua participação no
desenvolvimento de uma educação de qualidade.
32 Gestão Educacional

De acordo com Lück (2001), para ser um bom gestor, é preciso


que se tenha um conhecimento consistente sobre a realidade em que
se pretende atuar, devendo ser um trabalho dinâmico, criativo e inovador.
Também deve acontecer a partir do princípio da liderança, de forma a
despertar o interesse de participação de todos os envolvidos na escola.
É necessário trabalhar de forma colaborativa um projeto educativo que
eleve as aprendizagens dos alunos das escolas, incentivando a luta por
uma sociedade melhor. Deve ser um desejo de todos que fazem parte
da escola e daqueles que trabalham com educação, fora dos muros das
escolas.

Por isso, não é difícil entender que o princípio da gestão democrática


pode e deve acontecer dentro do que determina a legislação que rege
nossas escolas e também espaços não escolares. Nos espaços não
escolares, a prática consiste em o gestor realizar uma análise sobre o que
pedem os contextos formal e não formal, unindo direitos, oportunidades
e experiências que podem ser proporcionados a quem se dispõe a
aprender. Tudo isso pode acontecer em meio a um processo coletivo,
sustentado sempre pela importância do diálogo com todos os segmentos
da comunidade em que se está atuando, disseminando saberes,
competências, conhecimentos e habilidades.

Há, sim, possibilidades de a gestão democrática acontecer


em espaços não escolares e a cada dia crescem os desafios que se
apresentam para a atuação de um gestor. Nossa sociedade está sempre
mudando e isso exige que o gestor esteja aberto às mudanças estrutural,
comportamental e cultural da atualidade. Por isso, a gestão deve ser
democrática e isso deve estar sempre redimensionando a prática
educativa dos gestores, seja em espaço escolar ou não.

Libâneo et al. (2007, p. 328) defende que a participação é um


princípio primordial para garantir o bom desenvolvimento da gestão
democrática, pois possibilita “[...] o envolvimento de todos os integrantes
da escola no processo de tomada de decisões e no funcionamento da
organização escolar”.
Gestão Educacional 33

Lück, nessa mesma linha de entendimento, afirma que:


o próprio conceito de gestão pressupõe, em si, a ideia
de participação, isto é, do trabalho associado de pessoas
através da interação, analisando situações, decidindo sobre
seu encaminhamento e agindo sobre elas, em conjunto.
Isso porque o êxito de uma organização depende da ação
construtiva de seus componentes, mediante reciprocidade
que cria um ‘todo’ orientado por uma vontade coletiva para
chegar ao mesmo fim. (LUCK, 2000, p. 37)

EXPLICANDO MELHOR:

Lück defende que a ação gestora deve estar voltada para


as atividades educacionais, buscando democratizar o
acesso ao saber. Por isso, deve haver uma preocupação
com o fazer pedagógico, em conseguir que a sua equipe
se comprometa de forma responsável, conscientizando-
se de que cada um na escola possui sua parcela de
responsabilidade, seja individual ou coletivamente.

Quando falamos em gestão democrática, falamos também em


compreender o ser humano enquanto pessoa dotada de valores, que
faz parte de nossa sociedade, cultura e escola, na qual a concepção de
cidadania que vamos disseminar é a de, por meio da educação, buscamos
a transformação da escola e da sociedade.

Fonseca (1994) explica que a cultura democrática é criada com


prática da democracia. Sendo assim, podemos dizer que um espaço
educacional não é democrático só por sua prática administrativa, ele se
torna democrático por toda a sua ação pedagógica.

O conceito de gestão da educação em espaço não escolar pede uma


nova compreensão de como estão sendo conduzidas as organizações,
que, a cada dia, trabalham com superação dos limites da administração
(LÜCK, 2011).
34 Gestão Educacional

As possibilidades se abrem para possíveis enfrentamentos do


que vai ser encontrado na realidade escolar, o que vai exigir do gestor a
tomada de decisões que pode acontecer após a promoção de discussões
coletivas com a participação dos envolvidos direta e indiretamente. O
objetivo é buscar soluções de acordo com a realidade local, seja em
um espaço escolar ou não escolar. Tudo isso deve acontecer em prol da
qualidade dos serviços que estão sendo ofertados.

De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de


Pedagogia (DCNS), o docente habilitado em Pedagogia deverá estar apto
a exercer as seguintes funções:
Trabalhar, em espaços escolares e não escolares, na
promoção da aprendizagem de sujeitos em diferentes
fases do desenvolvimento humano, em diversos níveis e
modalidades do processo educativo; participar da gestão
das instituições em que atuem planejando, executando,
acompanhando e avaliando projetos e programas
educacionais, em ambientes escolares e não escolares.
(CNE, 2006, p. 8-9)

Desse modo, entende-se que a função do pedagogo está


relacionada com a prática pedagógica em diversas modalidades e
manifestações. A escola deve ser um local que atenda aos interesses
da maioria, agindo com votações para assuntos de interesse de todos,
garantindo, assim, a democracia.

Em se tratando da gestão democrática na escola, é preciso que,


cada vez mais, haja a união família e escola, pois isso pode trazer melhorias
no processo de ensino-aprendizagem.
Gestão Educacional 35

SAIBA MAIS:

Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos que


assista ao vídeo “Programa Roda de Conversa - Tema:
Espaços não-formais do conhecimento: a escola além da
escola (2/3)”, disponível aqui.

RESUMINDO:

E, então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu


mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que
você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo,
vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido
que a gestão democrática deve respeitar e zelar para que
a aconteça, de fato, de forma democrática. Para isso, deve
eleger representantes da comunidade escolar, e propiciar
reuniões com instâncias colegiadas é o caminho para
buscar o melhor da escola pública. A prática dessa gestão
deve evitar o autoritarismo e a centralização de poderes
que por muito tempo aconteceram em nossas escolas.
36 Gestão Educacional

Atuação Pedagógica na Gestão dos


Espaços Escolares e não Escolares

OBJETIVO:

Compreender como a gestão pode acontecer em espaços


escolares e não escolares, com foco na atuação pedagógica.
Ao término deste capítulo, você será capaz de entender
como funciona a gestão democrática, seus princípios e
características e, ainda, sua relação com espaços não
escolares, compreendendo que o foco dos diferentes
espaços de atuação do pedagogo é o pedagógico. Isso
será fundamental para o exercício de sua profissão. E,
então? Motivado para desenvolver esta competência?
Então, vamos lá. Avante!

Figura 4 – Como trabalhar com espaços escolares e não escolares?

Fonte: Pixabay
Gestão Educacional 37

O marco legal que estabelece a atuação do pedagogo nos espaços


escolares e não escolares está embasado na LDBEN, que regulamenta
a gestão escolar democrática para as escolas públicas brasileiras. Sobre
a atual LDBEN, a atuação do pedagogo nos espaços escolares situa o
pedagogo como um profissional da educação escolar que deve ter sólida
formação profissional, garantindo os estágios, a capacitação em serviço
e o aproveitamento de estudos, se este for o caso. No art. 61, tem-se
estabelecido que:
Art. 61. Consideram-se profissionais da educação escolar
básica os que, nela estando em efetivo exercício e tendo
sido formados em cursos reconhecidos, são:

I – professores habilitados em nível médio ou superior para


a docência na educação infantil e nos ensinos fundamental
e médio;

II – trabalhadores em educação portadores de diploma


de pedagogia, com habilitação em administração,
planejamento, supervisão, inspeção e orientação
educacional, bem como com títulos de mestrado ou
doutorado nas mesmas áreas;

III – trabalhadores em educação, portadores de diploma


de curso técnico ou superior em área pedagógica ou afim.

Parágrafo único. A formação dos profissionais da educação,


de modo a atender às especificidades do exercício de
suas atividades, bem como aos objetivos das diferentes
etapas e modalidades da educação básica, terá como
fundamentos:

I – a presença de sólida formação básica, que propicie o


conhecimento dos fundamentos científicos e sociais de
suas competências de trabalho;

II – a associação entre teorias e práticas, mediante estágios


supervisionados e capacitação em serviço;

III – o aproveitamento da formação e experiências


anteriores, em instituições de ensino e em outras
atividades. (BRASIL, 1996, on-line)
38 Gestão Educacional

Sobre a formação do professor, no art. 62, está determinado que,


para atuar na educação básica, os docentes deverão ter:
[...] nível superior, em curso de licenciatura, de graduação
plena, em universidades e institutos superiores de
educação, admitida, como formação mínima para o
exercício do magistério na educação infantil e nas quatro
primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em
nível médio, na modalidade Normal. (BRASIL, 1996, on-line)

No art. 67, § 2º, está definido que as funções de magistério


devem ser colocadas em prática por professores e especialistas com o
desempenho de atividades educativas. Estas podem ser executadas em
estabelecimentos de educação básica e também nos diversos níveis
e modalidades de ensino, que contemplam também o exercício da
docência, da gestão escolar e a coordenação e assessoria pedagógicas.

A seguir, podemos ler o art. 4º e o parágrafo único das DCNP (CNE,


2006), para a atuação do pedagogo nos espaços escolares. Como poderá
ser observado, nada impede que esse conhecimento seja colocado em
prática em espaços não escolares, nos quais sejam previstos o uso de
conhecimentos pedagógicos e isso envolve a gestão de sistemas de ensino:
Art. 4º O curso de Licenciatura em Pedagogia destina-
se à formação de professores para exercer funções de
magistério na Educação Infantil e nos anos iniciais do
Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na
modalidade Normal, de Educação Profissional na área de
serviços e apoio escolar e em outras áreas nas quais sejam
previstos conhecimentos pedagógicos.

Parágrafo único. As atividades docentes também


compreendem participação na organização e gestão de
sistemas e instituições de ensino, englobando:

I - planejamento, execução, coordenação, acompanhamento


e avaliação de tarefas próprias do setor da Educação;

II - planejamento, execução, coordenação, acompanhamento


e avaliação de projetos e experiências educativas não-
escolares;

III - produção e difusão do conhecimento científico-


tecnológico do campo educacional, em contextos
escolares e não-escolares. (CNE, 2006, p. 2)
Gestão Educacional 39

Agora, vamos entender um pouco mais sobre o uso do termo


“gestão” em detrimento do conceito de direção. Conforme Lück (1997, p. 1):
[...] o conceito de gestão está associado ao fortalecimento
da democratização do processo pedagógico, pela
participação responsável de todos nas decisões necessárias
e na sua efetivação, mediante seu compromisso coletivo
com resultados educacionais cada vez mais efetivos e
significativos. (LÜCK, 1997, p. 1)

Desse modo, a gestão acontece para mudar o uso do termo diretor,


que vinha carregado de sentidos autoritários. Para a gestão, que deverá
acontecer em espaço escolar ou não, deve acontecer justamente para
garantir na instituição educativa, seja ela escolar ou não, o exercício da
democracia e de uma boa gestão de práticas pedagógicas. Essas práticas
devem partir do diálogo e do trabalho em equipe, seja qual for a instituição
em que o pedagogo for trabalhar.

Sobre essa questão, Lück ainda esclarece que o termo “gestão


educacional” é colocado em prática para que haja a substituição da
administração educacional:
A expressão ‘gestão educacional’, comumente utilizada
para designar a ação dos dirigentes surge, por conseguinte,
em substituição a ‘administração educacional’, para
representar não apenas novas ideias, mas sim um novo
paradigma, que busca estabelecer na instituição uma
orientação transformadora, a partir da dinamização de rede
de relações que ocorrem, dialeticamente, no seu contexto
interno e externo. Assim, como mudança paradigmática
está associada à transformação de inúmeras dimensões
educacionais, pela superação pela dialética, de concepções
dicotômicas que enfocam ora o diretivismo, ora o não-
diretivismo; ora a heteroavaliação, ora a auto avaliação; ora
a avaliação quantitativa, ora a qualitativa; ora a transmissão
do conhecimento construído, ora a sua construção, a partir
de uma visão da realidade. (LÜCK, 1997, p. 4)

Segundo a autora, ao empregarmos o termo “gestão”, é necessário


saber diferenciar os termos “gestão educacional” e “gestão escolar”. O
primeiro é empregada para estabelecer questões em nível macro na área
da educação. O segundo termo é colocado em prática com os órgãos
superiores dos sistemas de ensino e as políticas públicas destinadas às
escolas, pois, quando nos referirmos ao termo “gestão escolar”, é para
abordar as questões micro, que se referem às escolas.
40 Gestão Educacional

Voltando ao art. 4º, inciso IV, das DCNP (CNE, 2006), o estudante de
Pedagogia deverá estar apto também a trabalhar em espaços escolares
e não escolares. Sendo assim, entende-se que o curso de Pedagogia, no
Brasil, teve de reformular seus currículos, pois agora teriam a finalidade
de buscar por conhecimentos que exigissem os campos de atuação do
pedagogo. Essa é uma área do curso de Pedagogia que ainda precisa de
muitos estudos, é algo novo que consente a ampliação de conhecimentos
na formação do pedagogo.

Lück (1997) explica que existe um espaço de educação não formal,


isto é, que não tem as formalidades de uma instituição escolar formalizada.
No entanto, isso não impede que suas potencialidades sejam trabalhadas,
pois a educação não formal é um processo contínuo que ocorre em
espaços sociais e por isso evidência interesses e necessidades do grupo
envolvido. Recomenda-se o diálogo sempre, independentemente da
idade do público-alvo ou da situação em que esse público se encontra,
pois devemos o nosso respeito e valorização à diversidade.

EXPLICANDO MELHOR:

Recomenda-se para que essa proposta de educação


“não formal” funcione como espaço e prática de vivência
social, primeiro seja reforçado o contato com o coletivo,
estabelecendo, assim, a afetividade com o público-alvo.
Nesse ínterim, também é preciso que se abram espaços
para atuar com atividades lúdicas, algo que provoque e seja
envolvente ao mesmo tempo e vá ao encontro de interesses.
É preciso realizar atividades que contemplem vontades e
necessidades desde adultos até crianças (SIMSOM et al.,
2001). A atividade escolhida deverá ser encantadora para
o público com que você vai trabalhar. Para tanto, é preciso
que se tenha um conhecimento inicial da realidade desses
indivíduos e assim iniciar suas atividades com finalidades
pedagógicas. Toda atividade tem uma finalidade de
aprendizagem nova para o seu aluno. O foco deve ser em
qual local você está, entender essa finalidade, planejar e
avaliar sempre como está ocorrendo todo o processo de
aprendizagem, seja ele na escola, na igreja, na associação,
nas ONGs, nos presídios, entre outros.
Gestão Educacional 41

Sobre educação não formal, Gohn explica que:


[...] aborda processos educativos que ocorrem fora das
escolas, em processos educativos da sociedade civil, ao
redor de ações coletivas do chamado terceiro setor da
sociedade, abrangendo movimentos sociais, organizações
não governamentais e outras entidades sem fins lucrativos
que atuam na área. (2001, p. 32)

Desse modo, é preciso esclarecer que o termo “não formal” se opõe


ao formal das escolas e das leis que as regem. No entanto, com o contexto
histórico-social, em relação à criança e ao adolescente, é preciso que haja
“práticas socioeducativas” que ocorram em espaços não escolares como
práticas formalizadas. Por isso, apesar de ser educação não formal, é
preciso que haja o compromisso dessas práticas e a escolha por abordar
questões importantes para um grupo em específico. A prática é muito
mais importante do que se qualquer outro conteúdo fosse estabelecido
antecipadamente por pessoas ou instituições.

Apesar das recomendações, a educação não formal também deve


se fundamentar no critério de solidariedade e verificar no grupo de alunos
a sua identificação por interesses comuns, bem como trabalhar a sua
cidadania. Os conhecimentos produzidos ali devem considerar os modos
de agir em grupo.

Todas essas explicações para o espaço não formal são diferentes


do que acontece na educação formal, que tem objetivos relativos ao
ensino e à aprendizagem e conteúdos sistematizados, normatizados por
lei. Libâneo (2004) explica que, para que uma gestão seja democrática
de fato na escola pública, é preciso que a participação leve a escola a
alcançar sua autonomia nos processos decisórios. E trabalhar com o
princípio da autonomia não é tarefa fácil, é necessário esclarecer aos
envolvidos sobre a importância de sua participação ativa no processo de
colaboração com a proposta pedagógica da escola.

Assim, é muito importante a presença da comunidade escolar


e dos pais dos alunos nos processos decisórios e de fiscalização dos
acontecimentos de forma legal ou não na escola. Isso auxilia a gestão
democrática a trabalhar junto aos seus cidadãos com democracia, de fato.
42 Gestão Educacional

De acordo com Libâneo (2004, p. 144), é preciso que a escola eleja


“[...] os pais e outros representantes que participam do Conselho da Escola
da Associação de Pais e Mestres para preparar o projeto pedagógico
curricular e acompanhar e avaliar a qualidade dos serviços prestados”.

Nesse sentido, o gestor deve sempre optar por agir como um líder, e
não de forma autoritária, que passe para o outro imposições de poder. Ele
deve prezar pelo diálogo constante entre comunidade interna e externa à
escola, zelando para que tudo aconteça em um ambiente saudável, em
que todos convivam como cidadãos com direitos e deveres respeitados,
a partir de discussões e decisões coletivas.

A escola deve instrumentalizar seus participantes, para entender


como ela funciona. Devem haver ações das instâncias colegiadas e seus
respectivos processos decisórios, como: Associação de Pais, Mestres e
Funcionários, Grêmio Estudantil, Projeto Político-Pedagógico e Conselho
Escolar.

Desse modo, finalizamos este capítulo afirmando que o pedagogo


deve conhecer seus campos de atuação por meio de experiências,
estágios, pesquisas de campo desenvolvidas no decorrer da sua formação
acadêmica e também, posteriormente, na sua formação continuada. Por
isso, fica evidenciado aqui que o campo de atuação do pedagogo ampliou-
se, reformulou-se com questões ocorridas nos cursos de Pedagogia.
Assim, o profissional pode, ainda, posteriormente especializar-se na sua
área de atuação e pesquisa, a fim de suprir ausências e deficiências de
alguns cursos.
Gestão Educacional 43

SAIBA MAIS:

Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos que


assista ao vídeo “Programa: Roda de Conversa - Tema:
Espaços não-formais do conhecimento: a escola além da
escola (3/3)”, disponível aqui.

RESUMINDO:

E, então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu


mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que
você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo,
vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido
que o pedagogo pode trabalhar com os princípios da
gestão democrática não só nas escolas públicas como
trabalhar em espaços escolares e não escolares, pois todos
os seus princípios e características podem ser usados
em qualquer lugar que envolva processos pedagógicos
e novas aprendizagens. Quando falamos em gestão
democrática na escola pública, estamos querendo garantir
que seus princípios e características sejam garantidos.
Para isso, é preciso que a escola instrumentalize seus
participantes para entender como ela funciona, por meio de
ações das instâncias colegiadas, como Associação de Pais,
Mestres e Funcionários, Grêmio Estudantil, Projeto Político
Pedagógico e Conselho Escolar, a fim de se compreender
seus respectivos processos decisórios.
44 Gestão Educacional

REFERÊNCIAS
SSIS, A. E. S. Q. Especialistas, professores e pedagogos: afinal,
que profissional é formado na pedagogia? Dissertação (Mestrado) – PUC/
Campinas, Campinas, 2007.

BRANDÃO, C. R. O que é educação. São Paulo: Brasiliense, 1981.

BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em: http://www.


planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 07
ago. 2021.

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes


e Bases da Educação. Diário Oficial da União. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 07 ago. 2021.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica.


Documento norteador para elaboração de Plano Municipal de
Educação – PME. Elaboração: Clodoaldo José de Almeida Souza. Brasília:
Secretaria de Educação Básica, 2005. 98p.

CAMBI, F. História da pedagogia. São Paulo: EdUnesp, 1999.

CNE (Brasil). Conselho Pleno. Resolução CNE/CP nº 1, de 15 de


maio de 2006. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de
graduação em Pedagogia. Brasília, DF, 2006. Disponível em: http://portal.
mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rcp01_06.pdf. Acesso em: 07 ago. 2021.

CURY, C. R. J. Gestão democrática da educação pública: Gestão


Democrática da Educação. Boletim 19, Ministério da Educação, Brasília,
2005.

FONSECA, D. M. Gestão e Educação. Campinas, SP: Papirus, 1994.

FRANCO, M. A. S. Pedagogia como ciência da educação. Campinas,


SP: Papirus, 2003.

LANA, M. Programa: Roda de Conversa - Tema: Espaços não-


formais do conhecimento: a escola além da escola. YouTube. Disponível
Gestão Educacional 45

em: https://www.youtube.com/watch?v=JdLKPMCVPEY. Acesso em: 07


ago. 2021.

LANA, M. Programa: Roda de Conversa - Tema: Espaços não-formais


do conhecimento: a escola além da escola - 2/3. YouTube. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=Tsn_bLp2Cgk. Acesso em: 07 ago.
2021.

LANA, M. Programa: Roda de Conversa - Tema: Espaços não-formais


do conhecimento: a escola além da escola - 3/3. YouTube. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=nehtsF7A2Cg. Acesso em: 07 ago.
2021.

GOHN, M. G. Educação não formal e cultura política: impactos


sobre o associativismo do terceiro setor. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2001.

GOHN, M. G. Educação não formal e cultura política: impactos


sobre o associativismo do terceiro setor. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2005.

KUENZER, A. Z; RODRIGUES, M. F. As diretrizes curriculares para o


curso de pedagogia: uma expressão da epistemologia da prática. Olhar
de Professor, Ponta Grossa, p. 35-62, 2007.

LIBÂNEO, J. C. et al. Educação escolar: políticas, estrutura e


organização. São Paulo: Cortez, 2007.

LIBÂNEO, J. C. Organização e gestão da escola: teoria e prática. 5.


ed. rev. e ampl. Goiânia: Editora Alternativa, 2004.

LÜCK, H. A escola participativa: o papel do gestor escolar. Rio de


Janeiro: Dp&A, 2005.

LÜCK, H. A evolução da gestão educacional, a partir da mudança


de paradigmática. 2001. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/
grandestemas/gestao_escolar/gestao.doc. Acesso em: 07 ago. 2021.

LÜCK, H. Dimensões de gestão escolar e suas competências.


Curitiba: Editora Positivo, 1997.

LÜCK, H. Gestão Educacional: uma questão paradigmática. 8. ed.


Rio de Janeiro: Vozes, 2011.
46 Gestão Educacional

LÜCK, H. Perspectivas da gestão escolar e implicações quanto


à formação de seus gestores. Em aberto, enfoque: qual é a questão?
Brasília, v. 17, 2000.

QUINTANA, J. M. Pedagogia social. Madrid: Dykison, 1993.

SANTOS, C. R. O gestor educacional de uma escola em mudança.


São Paulo: Pioneira Thompson Learning, 2002

SÁ, R. A. Pedagogia: identidade e formação: o trabalho pedagógico


nos processos escolares e não escolares. Revista Educar, Curitiba nº 16,
p. 171-180, 2000.

SIMSOM, O. R. M. et al. (orgs). Educação não-formal: cenários da


criação. Campinas: Unicamp, 2001.

TARDIF, M.; LESSARD, C. Le travail enseignant au quotidien.


Contribution à l’étude du travail dans les métiers et les professions
d’interactions humaines. Quebec: De Boeck/PUL, 1999.

VEIGA, I. P. A. (org.). Aula: gênese, dimensões, princípios e práticas.


Campinas: Papirus, 2008. (Coleção Magistério: Formação e Trabalho
Pedagógico).

VIEIRA, S. R. Novas perspectivas para a formação de educadores


a partir das diretrizes curriculares para o curso de pedagogia. Revista
Didática Sistêmica, Rio Grande, v. 8, jul./dez. 2008.

Você também pode gostar