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MA NUA L DE AP O IO A ATUAÇAO
-
DO MINISTÉRIO PÚB LICO
UNIDADESDE
-
CONSERVAÇAO
CRIAÇÃO,
IMPLANTAÇÃO
E GESTÃO
AUTORIA COORDENAÇÃO
INSTITUCIONAL
Luiz Fernando de Souza Sílvia Cappelli
Paola PratesSt umpf ORGANIZAÇÃO
Rovena Zanchet Rovena Zanchet
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IO PÚBLICO
AMBIENTAL:
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OTROPICA PROGRAMA DECAPACITAÇÃOEM
DOBRASIL FUNDAÇÃOGRUPOBOTICÁRIO CONSERVAÇÃO AMBIENTAL
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UNIDADESDE
-
CONSERVAÇAO
CRIAÇAO,
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AUTORIA COORDENAÇÃO
INSTITUCIONAL
Luiz Fernando de Souza Sílvia Cappelli
Paola PratesStumpf ORGANIZAÇÃO
Rovena Zanchet RovenaZanchet
REDELATINO-AMERICANADe
F UN D\Ç ·\O MINISTÉRIO
PÚBLICO AMBIENTAL:
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DO BRASIL FUNDAÇÃOGRUPO BOTICÁRIO CONSERVAÇÃO
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MANUALDEAPOIOAATUAÇ ÃO DO MINISTÉRIOPÚBLICO
UNIDADES DECONS
ERVAÇÃO
CRIAÇÃO,IMPLANTAÇÃO
EGESTÃO
Copyright © by
Luiz Fernando de Souza,Paola Prates Stumpf e RovenaZanchet,20 15.
Todosos direitosreservados.
COORDENAÇÃO INSTITUCIONAL
Sílvia Cappelli
ORGANIZAÇÃO
Rovena Zanchet
No Brasil, a Const it uição Federa l estabe leceu a responsab ilidade compart ilhada
entre o Poder púb lico e a colet ividade pela manu tenção do meio amb iente ecolog icamen te
equ ilibrado (art. 225 da Const ituição Federal de 1988) e at ribuiu ao M inistério Púb lico
funções insti tuc iona is para a tutela deste direito (art. 127 e ss. da CF/1988). Para cumpr ir
com os comandos contidos no art. 225 da CF, a Polít ica Naciona l de Me io Amb iente,
insti tu ída pela Lei n.º 6 .938/198 1, se ut iliza de d iversos Instrumen tos de Comando e
Co nt role previstos no seu art. 9°, dentre os quais, a criação de Unidades de Conservação
(UCs), espécie de Espaço Territo rial Especialmente Protegido (ETEP).Em que pese o M inistério
Púb lico não ser o ún ico t itula r dos me ios de defesa do me io amb iente ecolog icamen te
equ ilibrado, possu i fu nções insti tuc iona is próp rias que lhe garantem pape l chave na tute la
destes direitos , t ant o em âmbito j udicial quan t o em âmb ito extrajud icial.
Desse modo, o M inistér io Público exerce um pape l fundamenta l na efet iva reparação
e, principa lme nte, na prevenção do da no amb ienta l, e, mu ito embora tal função venha
sendo exercida com eficác ia, devido à comp lexidade do tema, bem como à relevância
do pape l das Unidades de Conservação para a proteção do me io amb iente, o presente
documen to fo i elabo rado com a proposta de func ionar como um ma nual práti co sobre
Unidades de Conservação, de forma a ot im izar a capac idade de respost a da Instituição
a fi m de garant ir uma atuação quali fi cada no que hoje, no país, consiste na pr incipal
estratég ia para conservação da biod iversidade.
AGRADECIMENTOS
Esperamos que este manual seja út il na sensíbilízação, comp reensão e díf usão da
estratég ia de conservação po r meío da criação, impla ntação e gestão de Unidades de
Co nservação.
--
•
1
••
usose categoriasdistintasde •
Estruturaçãodo
atuação •• Ministério ••
••
••
• i
•
-
LISTADEABREVIAÇOES
ADI - AÇÃO DIRET
A DE INCONST
ITUCIONALIDADE
APA- ÁREADEPROT
EÇÃO AMBIENTAL
APP - ÁREA DE PRE
SERVAÇÃO
PERMA
NENTE
APS- ÁREASPROTEGIDAS
AV - ÁREA VERDE
CA - COMPENSAÇÃOAMBIENTAL
CCB - CÓDIGO CIVIL BRASI
LEIRO
CDB - CONVENÇÃO DA DIVERSIDADE BIOLÓGICA
CEMA- CÓDIGO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE (RIO GRANDEDO SUL)
CF - CONST
ITUIÇÃO FEDERAL
CGCAP - COORDENAÇÃO GERAL DE CRIAÇÃO, PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO DE UNIDADES DE
CONSERVAÇÃO
CNI - CONFEDERAÇÃO NACIONALDA INDÚST
RAI
CONAMA - CONSELHO NACIONALDO MEIO AMBIENTE
COP- CONFERÊNCIA DAS PARTES
DIMAN - DIRETO
RIA. DE CRIAÇÃOE MANEJO DE UNIDADES DECONSERVAÇÃO
EIA - ESTUDO (PRÉ
VIO) DE IMPACTO AMBIENT
AL
ETEPS - ESPAÇOS
TERRITORIAIS ESPECIALMENTE PROT
EGIDOS
FUNATURA- FUNDAÇÃO
GI - GRAUDE IMPACTO
HF - HORTO FLORESTAL
IBAMA - INSTITUTO BRASILEIRODO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOSNATURAIS RENOVÁVEIS
IBDF - INSTITUTOBRASILEIR
O DE DESENVOLVIME
NTO FLOR
ESTAL
ICMBIO - INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃODA BIODIVERSIDADE
ICMS- IMPOSTOSOBRECIRCULAÇÃODEMERCADORIAS E PRESTAÇÃO
DE SERVIÇOS
IMAFLORA- INSTITUTO DE MANEJO E CERTIFICAÇÃOFLORESTAL E AGRÍCOLA
IMAZON - INSTITUTO DO HOMEME MEIO AMBIENTE DA AMAZÔNIA
IN - INSTRUÇÃONORMATIVA
IUCN- INTERNATIONAL
UNIONFORCONSERVATION
OFNATURE
JB - JARDIM BOTÂNICO
ONG - ORGANIZAÇÃO NÃO GOVER
NAMENTAL
OSCIP- ORGANIZAÇÃODA SOCIEDADE CIVIL DE INTERESSE PÚBLICO
PI - PROTEÇÃOINTEGRAL
PL- PROJETODE LEI
PNAP- POLÍTICA NACIONAL DAS ÁREAS PROT
EGIDAS
PNMA - POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE
PNPCT- POLÍT
ICA NACIONAL DOSPOVOSE COMUNIDADES TRADICIONAIS
PPCDAM- PLANODEAÇÃO PARAA PREV
ENÇÃO E CONTROLE
DO DESMATAMENTO
DA AMAZÔNIA
RB- RESERVADA BIOSFERA
RDS- RESERVADE DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁV
EL
RES
EX - RESERVA
EXTRATIVISTA
RESP
- RECURSO
ESPECIA
L
RIMA - RELATÓR
IO DE IMPACTOAMBIENTAL
RL- RESERVA
LEGAL
RPPN- RESERVA
PART
ICULARDO PATRIMÔN
IO NATURAL
SA - SERVIDÃO AMBIENTAL
SISNAMA- SISTEMA NACIONALDE MEIO AMBIENTE
STF- SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL
STJ - SUPER
IORTRIBUNAL DEJUSTIÇA
TACS- TERMOSDEAJUSTAM
ENTO DE CONDUTA
TCU - TRIBUNAL DECONTASDA UNIÃO
TI - TERRA INDÍGENA
TNC - THENATURECONSERVANCY
UC - UNIDADEDECONSERVAÇÃO
UCS- UNIDADESDECONSERVAÇÃO
US- USOSUST
ENTÁVEL
VR - VALORDE REFERÊNCIA
ZÔO - JARDIM ZOOLÓGICO
• 1
2.2.3.1
2.2.3.2
2.2.3.3
-
CONSERVàÇ.A:
• - e111111
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MINISTÉRIO
-
INTRODUÇAO
Para int roduz ir o presente man ual é impo rt ante abordar uma prob lemát ica inicial
que envo lve questões de" gêne ros". O tema que aqui será t ratado envolverá as" Unidades
de Conservação". Essas,por sua vez, decorrem de uma iniciat iva inte rnaciona l de proteger
porções de territór io para a conse rvação, cujas est ratég ias evo luíram ao lo ngo do tempo,
conf orme se verá adiante. No entan to, as denom inaç ões util izadas inte rnacio nalment e e
inter nament e destoam e podem causar uma certa con f usão.
E 11
exclusivamente no Brasil sig nifica o mesmo que "Áreas Proteg idas". A denom inação
"Á reas Protegidas" ut ilizada mund ialmente, conforme or ienta a União Mund ial para a
Natu reza - IUCN, cons iste em "uma superf ície de terra ou mar especialmente consagrada
à proteção e preservação da d iversidade bio lóg ica, assim como dos recursos natu rais e
cultura is associados, e gerenc iada através de meios legais ou out ros me ios ef icazes" 1
(IUCN, 2006).
1 Pela CDB, o conceito de Áreas Protegidas está assim delineado: "Área protegida significa uma área
definida geograficamente que é destinada, ou regulamentada,e administrada para alcanc,ar objetivos
específicos de conservac,ão".BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Convenção sobre Diversidade
Biológica. 2002. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/biodiversidade/convencao-da-diversidade-
biologica>. Acessoem: 29 nov. 2014.
2 As diferenças conceituais entre asdenominaçõesreferidas serãotratadasno item 2 do presente manual.
12 L é 11
bem de uso comum do povo e essencia l à sadiaqualidadede vida, impondo-se
ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as
presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
[...]
Ili definir, em todas as unidades da Federação, espaçosterritoriais e seus
componentes a seremespecialmente protegidos,sendoa alteraçãoe a supressão
permitidas somenteatravésde lei, vedadaqualquer utilização que comprometa
a integridadedos atributos que justifiquem sua proteção.
[...]
E 13
quilombolas, mediante demarcaçãoe regularização dos seusterritórios. A partir
de 2013, considerandoa importânciadas RLs, APPsdevidamenteregularizadas
e outros tipos de áreasprotegidase espaçosde conservaçãoserãoapoiadose
contabilizadosentre os valoresreportadospelo GovernoBrasileiro como áreas
destinadasa conservaçãoe uso sustentável, além da meta anterior.3
Nesse sentido a Com issão Naciona l da Biod iversidade (CONABio) 4 adotou esses
novos percentuais e manteve aquele da COP 08 para a Amazôn ia, estabe lecido em 30%.
Atualmente, a meta indicada pelo referido Conselho para todo o território nacional é
de 17%, não só de UCs, mas somados os Espaços Territoriais Especialmen te Protegidos
(ETEPs) indicados no texto da meta.
14 L é 11
PARTE 1
UM POUCODEHISTÓRIA,
MARCOS
CONCEITUAIS
E LEGAIS
- ,
1A IDEtA INICIAL OE CONSERVAR PORÇOES DO
TERRITORIO COMO
ÁREAS OU ESPAÇOSESPECIALMENTEPROTEGIDOS
• E 15
nos Estados Unidos pós revolução industr ial, idea lizadas e criad as objet ivando
Note -se que a ideia confund ia-se com a fi cção, uma vez que pretendia um
espaço geográfico imutável, imóvel, inabalável e incomunicável , como
se fossem "ilhas plásticas de biodiversidade" . Impossível pensar assim nos d ias atua is
considerando -se todo o conhec imento associado à dinâm ica biológ ica, à bio log ia da
conservação, etc.
Entretanto, esse foi o mode lo introdu zido pelo Brasil da época. Um mode lo que,
segundo Diegues (200 1, p. 13- 14), excluiu o humano do seu contexto . E, para a
nossa realida de, isso quer dizer : excluir os "povos da floresta", habitantes pioneiros
do País, tendo ocasionado uma série de conflitos que se estendem até os dias
atuais , mu it o embo ra boa parte deles encont rem-se solucionados pela modern ização do
sist ema, como se verá a segu ir.
O movimento inicia l, de que se tem registros, que contr ibuiu para a Sistemati zação
Nacional de Unidades de Conservação 5 da Nat ureza, como hoje a conhecemos, teve
contornos - mesmo que incipientes e vo ltados para outros aspectos que não a proteção
de habitatse man utenção de processos ecológ icos - desde o período do Brasil colô nia,
16 L é 11
com pinceladas no Impér io, e ma is intenso na República, bast ante impu lsionado pela
Co nstitu ição de 1934.
Várias iniciativas de criação de espaços prot egidos, sempre com uma visão
de conservar pequenas porções contemplativas e asseguração do
mínimo para se poder usar o máximo, ou, no intuito de conter a
exploração que não àquela vinculada aos interesses da coroa (como po r
exem plo, a exploração madeire ira visando resgua rdar maté ria-prima para a construção
naval6 e o desmatame nto que convert ia as Florestas da Tijuca em plantações de caf é,
despe rt ando o olhar do Impe rador para eventual escassez hídrica na cidade 7) (WAINER,
1993; MEDEIROS, 2004), ou ainda, conforme Pádua (200 2, p. 18), as inic iat ivas infru t íf eras
de A ndré Rebouças (18 76 apud PADUA, 2002) em criar parques nacionaisª sob
o argumento de progresso vinculado ao turismo regional , mas que
em muito contribuíram para o início da formação do pensamento voltado a
reservação de áreas para conservação , reforçado pelo int elect ual José Bonifácio, que,
a parti r do conhecime nto que havia receb ido no estrange iro sobre os efei tos danosos da
desflorestação, foi incansável em expor sua preocupação, principalment e referente a perda
de nutr ient es do solo, e cont ribuiu para a criação de um órgão vincula do a admin ist ração
públ ica que objetivasse a conse rvação das fl o restas, isso em 1821 (DEAN, 2002).
Nesse período, o contexto inter naciona l ainda objet ivava a pro teção da paisagem
em estado orig inal para uso e desfrute da população, ideia que perdu rou até a criação do
Parque Naciona l Krüger, na Áfri ca, em 1898, impu lsionado pelo objet ivo de recuperação
6 Tal previsãoconstavada Carta Régia, datada de 13 de março de 1799, diploma que assegurava
determinadasmadeirasconsideradasnobres, importantes para a metrópole e, principalmente, para a
indústria naval(DIEGUES,2001).
7 Por iniciativade D. Pedro li, preocupadodiante do desmatamento aceleradodas Florestas da Tijuca,
ordenou a desocupaçãodasáreasmediantea desapropriaçãoe ordenou o replantio de toda a vegetação
local, instituindo, em 1861, as "Florestasda Tijuca e das Paineiras", com o objetivo de resguardar
os recursos hídricos da região. A iniciativapode ser traduzida como a instituição da primeira "Área
Protegida"brasileira e talvez o que impulsionou o Código FlorestalFederal de 1934 a conferir proteção
àsflorestasprotetoras. Em termostécnicos,como adiante severá,a expressão"Área Protegida" encerra
o gêneroda espécie denominada"Unidadede Conservação"(DRUMMOND,1997).
8 A intençãode Rebouçasera a criaçãode dois Parques:nas SeteQuedase na Ilha do Bananal (PADUA,
2002).
E 17
de populações animais que vinham sendo dizimadas. Mais tarde, em 1914, na Suíça, foi
criado o primeiro parque objetivando a pesquisa científica (MILANO, 2001, p. 7).
18 L é 11
,
Quadro 1 - Quadro evolutivo das primeiras Areas ou EspaçosProtegidosno Mundo
Não considerou que a beleza cênica era, ant es de mais nada, um complexo de organismos
vivos que interagiam entre si e com o meio.
Surgem os primeiros parques brasileiros impulsionados pela criação, nos Estados Unidos, do
Parque Nacional de Yelowstone (1872).
,- , Em 1946, a Constitu ição democ rática introduz iu a figura da desapropriação por int eresse
social (art. 141, § 16), regulamen tada mais adiante pela Lei n. 0 4 .132/1962, que considerou
interessesocial, a proteção do solo e de reservas f lorestais.
Em 1948, o Decreto Legislat ivo n.º 3 int roduziu o texto da Convenção para a Proteção da
Flora, Fauna e da Belezas Cênicas Natu rais dos Paísesda América confer indo impo rtante
contribu ição para a instituição de áreas protegidas : def iniu Parques Nacionais, Reservas
Nacionais, Monumentos Nacionais e Reservasde Regiões Virgens e conferiu proteção às aves
migratór1ase espécies amaçadas de extinção.
E 19
A apariçãodas Areasou EspaçosProtegidosno Mundo
Institu ição que serevelou impo rtante precursora e idealizadora da "filosofia de áreasprotegidas
Criação da IUCN
no mundo inteiro". a quem se deve creditar os avanços conceituais e os fundamentos para o
- 1948
planejamento, o manej o e a gestão das áreas protegidas.
Em 1967, para executar as inovações em matéria ambiental, foi criado o Instituto Brasileiro de
Desenvolvimento Florestal - IBDF,hoje extinto e substitu ído pelo IBAMA, que, recentemente,
entregou a gestão das Unidades de Conservação ao ICMBio.
O Código Florestal de 1934 dá lugar ao de 1965, int roduzido pela Lei n.º 4 .77 1/1964. Criou
novos inst itut os de proteção ambiental que passaram a limitar o uso das propriedades:
• Áreas de preservação permanente;
• A reserva legal;
GovernoMilitar
• A reposição f lorestal obriga tória .
O moment o inaug urou a instit uição de novas categorias de áreas protegidas, fru to de uma
legislação que evoluiu e vinha amadurecendo, abandon ando de fo rma gradativa o aspecto
puramente econômico, e agregando o aspecto ecológico.
• Desenvolvimen to
econômico-social +
preservação da qualidade
do meio ambiente +
equilíbrio ecológico;
*Em 1981 surge o principal diplo ma legal • Definição de áreas
Objetivos:
para a proteção ambiental, a prioritárias qualidade
Lei n.º 6.9 38/198 1 que institu iu a Política e equilíbrio ecológico
Nacional do Meio Ambiente - PNMA e = interesses da União,
o Sistema Nacional do Meio A mbiente - dos Estados, do Distrito
SISNAMA: Federal, dos Territórios e
dos Mun icípios.
• o licenc1amento
Períodoque ambient al
antecedeua • A avaliação de
retomadada consonoou impacto ambient al,
Democracia estratégia
• Criação de espaços
orote idas Instrumentos
territoriais especialmente
(dent re outros) :
protegidos pelo Poder
Público federal, estadual
e municipal (art . 9°, IV),
inaugurando um novo
marco para a criação de
áreas prot egidas no Brasil
20 L é 11
A apariçãodas Areasou EspaçosProtegidosno Mundo
Ao Poder Público que
Conferiu ao Meio Ambiente previsão assegurasse a ef etividade
especial, art. 225 : desse direito e definisse
"em todas as unidades
"Todos têm d ireito ao meio ambiente
da Federação. espaços
ecologicamente equilibrado, bem de territoriais e seus
uso comum do povo e essencial à sadia componentes a serem
qualidade de vida, impondo -se ao Poder
especialmente protegidos,
Público e à coletividade o dever de defendê-
sendo a alteração e a
lo e preservá-lo para as presentes e f uturas
supressão permitidas
gerações" .
somente através de lei,
Comandos vedada qualquer utilização
constit ucionais: que comprometa a
integridade dos at ributos
que justifiquem sua
proteção"
Realizada no Rio de Janeiro em 1992, reun iu o maior conti ngente de Chefes de Estado para
tratar dos temas amb ientais, pela primeira vez na histór ia na humanidades.
Convençãodas
NaçõesUnidas
Sobre o Meio
Ambiente
*Resolução
CONAMAn.º
10/1986
*SURGENO
BRASIL,PELA Criou uma Comissão Especial com o objet ivo de elaborar um antep rojeto de lei sobre
PRIMEIRAVEZ,A unidades de conservação, a fim de que fosse apreciado pelo Plenário do Conselho Nacional
DENOMINAÇÃO do Meio Ambiente - CONAMA .
"UNIDADESDE
CONSERVAÇÃO"
E 21
A apariçãodasAreasou EspaçosProtegidosno Mundo
Declarou, como Un idades de Conservaqío, as várias categor ias de Sítios Ecológ icos de
Releva·ncia
Cultural:
• Estac,õesEcológicas;
• Reservas Ecológicas;
• Áreas de Proteqío Ambienta l, especialmente suas zonas de vida silvestre e os
Resolução Corredores Ecológ icos;
CONAMAn.º • Parques Naciona is, Estaduais e Munic ipais;
11/ 1981· 1
• Reservas Biológ icas;
• Florestas Naciona is, Estaduais e Municipais;
• Monumen t os Natu rais;
• Jardins Bota"nicos;
• Jardins Zoológicos; e
• Hortos Floresta is.
,
2 AREAS PROTEGIDAS, ESPAÇOS PROTEGIDOS E UNIDADES DE
CONSERVAÇAO: DESCOMPLICANDO OS CONCEITOS
Mais e mais legislações surgiam, muitas prevendo a criação, outras criando novas
categorias isoladase independentes de porçõesdo território a serem reservados à prot eção,
to davia, em nenhuma delas fo i prevista uma denominação comum que pudesse expressá-
las genericamente, agrupando-as.
A sit uação perdu rou até uma movimentação impulsionada pelo Conselho Nacional
22 L é 11
do Meio Ambiente - CONAMA, que resolveu, por meio da Resolução n.º 10/1986, criar
uma Comissão Especial com o objetivo de elaborar um anteprojeto de lei dispondo sobre
Unidades de Conservação - UCs. Atr ibui-se a essa norma infralegal a autor ia de tal
-
expressao.
Vej a-se o emaranhado de no menclaturas que predominavam à época: Sítios Ecológ icos de Relevância Cu ltura l era
uma denom inação gené rica que abarcava uma série de catego rias específicas de áreas reservadas para a proteção da
natureza. Mais tarde, o termo Unidadesde Conservação surgiu no contexto e passou a denominar- como se fosse
uma espécie de gênero - categorias de SítiosEcológi cosde RelevânciaCultural. Depreen de-se, portanto, que
Unidades de Conservação era o mais novo gêne ro para indicar Sítios Ecológicos de Relevância Cultural, a exemplo
das Estações Ecológicas, Reservas Ecológicas, etc.
A grande falha que pode se atribuída ao texto da Resolução CONAMA n.º 11/1987,
foi a de não ter conceituado Unidade de Conservação , fat o que lhe custou a perda
da oportu nidade de fazê-las int egrar o texto constitucional.
9 O CONAMA, por meio da Resolu ção n.º 19/1986, solicitou ao Excelentíssimo Senhor Presidente da
República que encaminhasseao CongressoNacional o Projeto de Lei que dispunha sobreUnidadesde
Conservação.
1O Complementadapela Resolução n.º 12/1988(incluiu as Áreasde Relevante InteresseEcológico - ARIE,
como unidadede conservação),atualmenterevogadapela Resolução n.º 428, de 2010.
E 23
§ 1º - Para assegurar a efetividadedesse direito, incumbeao Poder Público:
[...]
Ili - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e
a supressãopermitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização
que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
(Regulamento)
[...]
Em seguida, houve o cotejo ent re o conj unto normat ivo esparso com o novo
texto constituc iona l, m uitas normas fo ram recepc ionad as, alguma s t iveram de sofrer
adeq uações, a exemp lo do que acon teceu com a Lei n.º 6.938/198 1 (PNMA), mod ificada
pela Lei n.º 7.80 4/1989, especifi came nte quanto ao seu art. 9°, inciso VI, anter io rmente
assim redig ido: "V I - a criação de reservas e estações eco lóg icas, áreas de pro teção
amb ienta l e as de relevante interesse ecológ ico, pelo Poder Público Federal, Estadua l e
Mun icipal", passando à contemp lar a seguinte redação: "V I - a criação de espaços
territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público federal, estadual e
municipal , t ais como áreas de proteção amb ient al, de relevante int eresse ecológ ico e
reservas ext rat ivistas". (grifado)
Vej a-se que no âmbi to infralegal do CONAMA, j á em 1986, se falava em Unidadesde Conservação
, entretanto, no
âmb ito constituc ional a expressão ut ilizada foi Espaços
Territoriaise seuscomponentesa seremespecialmente
protegidos.
Mesmo com a alteração sof rida pela Lei n.º 6 .938/ 1981 em 1989, nenh um
conceito fo i at ribuí do às Unidades de Conservação . Pôde ser consta t ado, apenas, q ue
ao fina l do texto do inciso VI do art. 9°, foi acrescido, a tít ulo de exemp los de Espaços
Territoria is Especialme nte Prot egidos: as Áreas de Prot eção Amb iental, as de Relevant e
Int eresse Ecológ ico e as Reservas Ext rat ivist as. Por esse mot ivo, e considerando que t ais
nome nclatu ras já fi gu ravam na Resolução CONAMA n .º 11/ 198 7 como Unidades de
Co nservação é que se pode conc luir que Unidades de Conservação estão con ti das no
gêne ro Espaços Territor iais Especialme nte Proteg idos. Todavia, não se pode af erir que a
premissa no seu revés seja verdade ira.
Dessarte, uma conclusãopode ser aventada: que os previstos constituciona lmente EspaçosTerritoriais
Especialmente Protegidossão o gênerosob o qua l estão atreladas as catego rias de áreas destinadas à proteção
da natureza, sendo uma de suasespécies as Unidadesde Conservação .
24 L é 11
Mu itas foram as teor ias antes se chegar a essa conc lusão, tudo porque a
Const ituição Federal de 1988, acertadamente, não ut ilizou a mesma nomenc lat ura
pione iramente util izada pelo CONAMA em 1987, e esse t ampouco ut ilizou a nomenc latura
internac iona lmente prevista para denominar ta is áreas como "Áreas Protegidas -
APs", nos termos da IUCN e da Convenção da Diversidade Biológ ica (Rio de Janeiro,
1992), assinada du rant e a Conferênc ia das Nações Unidas sobre Me io Amb iente e
Desenvolvimen to e introduz ida no ordenamen t o juríd ico brasileiro por meio do Decreto
Legislat ivo n.º 02/1997. Assim refere o art. 2° da CDB, ao d ispor sobre a ut ilização dos
termos para os propós itos da Conve nção: "área proteg ida sign ifica uma área definida
geograficamente que é dest inada, ou regulamentada, e adm inistrada para alcançar
objet ivos específicos de conservação".
Em muito se assemelha ao conce ito de Á rea Prot egida estabe lecido pela Convenção
da Diversidade Bio lóg ica. Em nada errou na abrangênc ia conce it uai, uma vez que
atribuiu às Unidades de Conservação o status de Espaço Territorial nos termos
constitucionais . No entanto, o equ ívoco reside na pretensão da Lei em denom inar-se
regulamentadora do inciso Ili, § 1º, art. 225, da CR/1988, se assim o fosse deveria ter
acrescido em seu sistema todos os Espaços Territoriais Especialmente Protegidos
dispersos no ordenamento jurídico , tais como as Áreas de Preservação Permanente, a
Reserva Legal, a Reserva Floresta l (prev istos no Cód igo Florestal), os Biornas considerados
E 25
Patrimôn ios Nacionais 11 (CF/1988, § 4°, do art. 225 ), dentre outros.
Assim, acabou por limitar a ideia então inaugu rada no cenário brasileiro pela
CF/1988, consistente na institui ção em todo terr itório nacional de Espaços Territoria is
Especialme nte Proteg idos, ou, no mesmo sent ido, Áreas Proteg idas, de modo que
exclu iu dessa tipo log ia as várias outras categorias de Áreas Proteg idas já existen tes no
cenário nacional, a exemplo das antes refer idas. Nessa est eira, Benjamin (2001, p. 288)
faz uma crít ica consideráve l à pretensão da Lei do SNUC refer indo que toda unidade
de conservação é área especialmen te pro teg ida, mas a recíproca não é verdadeira, por
a própria Consti t uição Federal traz exemplos de biornas que receberam tute la especial
(=Amazônia, Mata At lânti ca e Pantanal) e, nem por isso, são, na sua totalidade unidades
de conservação. É bem pertinente a lição aba lizada do mest re José Afonso da Silva, para
quem "nem todo espaço terr itor ial especialmente proteg ido se confunde com un idades
de conservação, mas estas são também espaços especialmente proteg ido s" (SILVA, 1998).
Para além da "técnica defic iente da lei", (BENJAMIN, 2001, p. 286), que já vem
eviden ciada em sua ementa, a Lei do SNUC (como ficou conhec ida popu larmente a Lei n .º
9.985/2000) peca noutro sentido, isto é, na própria delim itação da expressão "unidades de
conservação", pois apequenou o sent ido de espaços ter rit o riais especialmente protegidos
ou áreas proteg idas uti lizados corretamen te pela Const ituição Federal, uma vez que,
Veja-se que, para corroborar com os argumentos defend idos acima, tem-se o
próprio concei to ut ilizado pela Lei do SNUC para conse rvação da nat ureza:
11 "Art. 225, [ ...] §4º A FlorestaAmazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serrado Mar, o Pantanal Mato-
Grossensee a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilizaçãofar-se-á, na forma da lei, dentro
de condiçõesque assegurema preservaçãodo meio ambiente, inclusivequanto ao uso dos recursos
naturais. "
26 L é 11
Ora, o termo "conservação" não compreende e jamais compreenderá a
"preservação", uma vez que essaúlt ima abomina de sua gênese qualquer t ipo de manej o
que não seja aquele capaz de permit ir manutenção dos processosecológicos e proteção a
longo prazo das espécies (art. 2°, inciso V, da Lei do SNUC).Por isso, afastado está o termo
"preservação" quando se objet iva qualquer tipo de manejo, ainda mais, aquele que visa
o uso humano.
Na visão de Benjamin (2001, p. 299), algumas tipo log ias de espaços ou áreas
prot egidas sofreram exclusão do sistema por razões meramente pragmát icas, atribuindo-
se à abrangente dispersão territorial, fragmentação e diversidade dominial, inviabilizando
ou tornando difícil sua gestão integrada no âmbito do SNUC, por isso, ainda segundo
o autor, são consideradas "extra-sistema" e denominadas "at ípicas", enquanto que, as
inseridas no sistema, são consideradas "t ípicas" . Vide Figura 1, abaixo.
12 Para alguns estudiosos, o Decreto n.º 5.758/2006, que instituiu o Plano Estratégico Nacional de
Áreas Protegidas (PNAP), seus princípios, diretrizes, objetivos e estratégias, limitou a amplitude dos
Espaços Territoriais Espe
cialmente Protegidos (ETEP s) as Unidades de Conservação, Terras Indígenas e
remanescentes de Quilombolas.
• E 27
Figura 1 - Organograma ETEPs
13
•
ETEPs
OUAPs
ATÍPICAS TÍPICAS
APP RL SA RB AV TI uc
Por últ imo, import a ref erir que a Lei do SNUC permite, a títu lo de exceção, a
introdução no seu sistema de categoria de UCs estaduais ou municipais atípicas (ou
extra sistema, ou não previstas), desde que avaliadas pelo CONAMA e que objetivem
salvaguardar peculiaridades regionais ou locais. Tal previsão é encontrada no parágrafo
único do art. 6° da Lei do SNUC,senão veja-se:
Art. 6° [Omissis]
Parágrafo único. Podem integrar o SNUC, excepcionalmente e a critério do
Conama, unidadesde conservaçãoestaduais e municipais que, concebidas para
atender a peculiaridadesregionais ou locais,possuam objetivos de manejo que
não possamser satisfatoriamente atendidos por nenhuma categoria prevista
nesta Lei e cujas característicaspermitam, em relaçãoa estas,uma claradistinção.
13 Outra classificação pode ser encontrada na doutrina de Silva (1998) a sever: Unidadesde Conservação;
EspaçosProtegidos não incluídos nas Unidades de Conservação:Jardim Bot/lnico, Horto Florestal,
Jard im Zoológico, Reservas da Biosfera; Espaçosde Manejo Sustentável, elencadosno art. 225, § 4° da
CF/1988: Floresta Amazônica, Mata Atlântica, Serra do Mar, Pantanal e Zona Costeira; e, por último,
Zoneamento Ambiental.
28 L é 11
Quadro 2 - Distinçõesentre as diferentes tipologias de Espaçosou Áreas Protegidas.
·-"'8'
IQ
~-
ftl <(
G) G)
....
"'
'11 e
com a função ambiental
de preservar os recursos
hídricos, a paisagem, a
t razido pelo Código
Florestal de 1934, fo i
modif icado pelo de
lntocabi l idade .
Algumas intervenções
Á rea
Pro teç ão
Ambienta l
de
..
CL C
G)
estabilidade geológica e Atípica 1965, pela MP n.º 2.166- são permitidas a t ítulo APA (categoria
G) ftl
a biodiversidade, facilitar 67/2001 e, atualmente, de exceção, art. 8° e de UC típica,
"CJ E
ftl ..
G) G)
o fluxo gênico de fauna é regida pela Lei n.º 3°, VIII, IX e X. inserida no
._ CL
<(
e f lora, proteger o solo e 12.651/2012, (nova Lei SNUC)
assegurar o bem-estar das Florestal), art. 3°, li.
populações humanas
de uma propriedade ou
posse rurai, delim itada nos Função de reservação
termos do art. 12, com Evoluiu do conceito de estoque não
..... a função de assegurar o t razido pelo Código só f lorestal como
IX
uso econômico de modo Florestal de 1934, fo i qualquer tipo de
sustentável dos recursos modificado pelo de vegetação, permite a
naturais do imóvel rural, 1965, pela MP n.º 2.166- exploração em regime Servidão
Atípica
auxiliar a conservação 67/2001 e, atualmente, de manejo contro lado, Ambienta l - SA
e a reabilitação dos é regida pela Lei n.º sendo proibido o
processos ecológicos e 12.651/2012, (nova Lei corte raso, devendo
promover a conservação da Florestal), art. 3°, inciso ser declarada no
biodiversidade, bem como Ili. Cadrastro Amb iental
o abrigo e a proteção de Rural- CAR.
fauna silvestre e da f lora
nat iva.
Foi introduzida no
Código Florestal
O proprietár io ou possuidor Federal de 1965 pela
de imóvel, pessoa natural Medida Provisória
<(
VI ou jurídica, pode, por n.º 1956-55/2000
instrumento público ou e, posteriormente,
Possui restrição de
particula r o u por termo mantida pela MP n.º
uso, no mínimo deve
administrativo firmado 2166 -67/2001, arts.
mser 1gua1s à da Reserva Legal
perante órgão integrante do 44-A e 44-8 . Com
Atípica Reserva Legal, uma - RL e Servidão
SISNAMA, limitar o uso de o advento da nova
vez que se destina Ambienta l - SA
toda a sua propriedade ou lei florestal - Lei n.º
à reservação de
de parte dela para preservar, 12.651, modificou para
vegetação.
conservar ou recuperar Servidão Ambienta l,
os recursos ambient ais previsto nos arts. 15, §
existentes, instituindo 2° e 78, que introduz iu
servidão ambienta 1. o novo conceito no
art. 9°-A, na Lei n.º
6.938/ 1981.
E 29
VI
.!!i
CII
.2 Típicas/ Não confundir
Conceitos MaKO Legal RegimeJurídico
o Atípicas com
a.
j::
30 L é 11
"'
.!!l
cn Típicas/ Não confundir
.2 Conceitos MarcoLegal Regime Jurídico
Atípicas com
·-8.
...
1
Regimes de maneJo
o Ant es da Lei do SNUC,
V
O·-cn estes Espaços Protegidos próprios. ZOO:
.... conservação de
._ •O f iguravam como Unidades
º-
:e o de Conservação segundo
• o • Zoo: IN IBAMA n .º
coleções de fauna
0N ex situ; Horto
.!::! E a Resolu ção CONAMA n. 169/2008;
0
C--
Florestal: conservação
11/1987. Po r tanto, • JB: Resolução
.......
<IG -,:,
o 1G Para poderem integrar o at ípicos. CONAMA n.º
ex situ da flora e -
C0 ..... Jardim Botânico:
SNUC, conforme previsão 339/2003 ;
Eiii
·- ....
do seu art. 55* 1 e 40* 2 do
coleção de planta
"E "'
1G !!! seu regulamento, teriam
vivas reconhecidas
..... o cientificamente para
u:: de sofrer reclassificação e
estu do e acessíveis ao
adaptação.
público em geral.
• Proteção geral:
..: CF/ 1988, art. 225, § 4°;
1G
:E • Floresta Amazôn ica:
o sem Marco Legal de
-,:,
1G
proteção específica.
t Seu manejo se dá
CII
Ili
1G·-
....
1G nos termos da Lei n.0
12.65 1/20 12 e Lei n.º
·-
v CII
........
"' 11.284/2006;
A utilização dar-
e o se-á, na forma da lei,
!!2U • Mata At lântica: Lei
<~o São Biornas/ ecossist emas
1G
n.º 11.428/2006;
dentro de condições
que assegurem a
...,N considerados Patrimônio Ati picos • Pantanal: sem
1G CII preservação do meio
:E- Nacional. Marco Legal Federal,
• 1G ambiente, inclusive
1G e com previsão de
.!:! te quanto ao uso dos
e .... manejo pela Lei n .º
,o e recursos nat urais
N 1G
1G CL
12.65 1/20 12;
• Zona Cesteira:
.i Marco Legal Lei n.º
~ 7.66 1/ 1988; Resolução
~ CIRM n.º 07/2002; Dec.
o
u:: n.º 5.377/2005, mais
art. 11-A, da Lei n.º
12.65 1/20 12.
u
::,
Espaço t errito rial e seus
recursos amb ientais,
o incluindo as águas • Uso Indireto
IIG
:;- jur isdicionais, com (não uso, apenas
C: caract erísticas naturais os essenc1a1spara Á reas de
~ relevant es, legalmente manejo da própria Preservação
§ Lei n.º 9 .985/2000, art.
u institu ído pelo Poder Típica
2°, inciso 1.
UC) Per m ane n te
cu Público,
-,:,
com objet ivos • Uso Direto - APPs e Area
de conservação e limites (manejo dos recursos Verde-AV
defin idos, sob regime naturais de forma
especial de administ ração, controlada).
·2
::, ao qual se aplicam garant ias
adequadas de prot eção.
* 1 "Art. 55. As unidadesde conservaçãoe áreasprotegidascriadascom basenaslegislaçõesanteriorese que
não pertençamàs categorias previstasnesta Lei serãoreavaliadas,no todo ou em parte, no prazo de até
dois anos, com o objetivo de definir sua destinaçãocom basena categoria e funçãopara as quais foram
criadas,conforme o dispostono regulamento desta Lei.".
E 31
*2 "Art. 40. A reavaliaçãode unidade de conservaçãoprevista no art. 55 da Lei n.º 9.985, de 2000, será
feita mediante ato normativo do mesmonível hierárquicoque a criou. Parágrafoúnico. O ato normativo
de reavaliaçãoserápropostopelo órgão executor."
Em conc lusão, importa dest acar que as Unidades de Conservação dife renc iam-se
,
das dema is Areas Proteg idas por uma característica que lhes é particula r: não são "auto-
aplicáveis" . As A PPs (espécie de Área Proteg ida), por exemp lo, são "auto-aplicáveis" ,
vez que deco rrem da próp ria lei geral (Lei n.º 12.651/20 12) e são estabelec idas em
to das as prop riedades do territór io nacio nal que detém as mesmas características ou os
espaços t erritor iais defin idos no dispositi vo que as estabe leceu. As UCs, por sua vez, são
criadas por opção do Poder Público, após averiguação e convicção da necessidade de
conservar dete rm inado ecossist ema, paisagem, processo ecológ ico ou ape nas o habitat
de determi nada espécie, devendo ser f undame ntada em estudos t écnicos e amparada por
consulta púb lica. Tais mot ivos fazem com que não dependam apenas de um comando
legal, po is possuem objetivos de conservação específ icos, necessitando, dessa forma,
de regime especial de administração.
Nesse momento, o presente traba lho at inge o seu ponto focal. Deixa-se a
história para t rás e ade nt ra-se no Sistema Nacio nal de Unidades de Conservação (SNUC)
propr iamente dito. A visão at rás apresentada é part icularme nte impor t ante para se pode r
captar todo o espírito, seja lega l, téc nico, cient ífico e juríd ico da prob lemát ica que envo lve
tais Espaços ou Áreas Especialment e Proteg idas na forma específi ca de Unidades de
Co nservação.
Co nforme vist o no item anter ior, as UCs, dife rentemente dos demais ETEPs,
possuem objet ivos específi cos de conservação, os qua is var iam con f orme a necessidade
e as característ icas específicas de cada po rção do terr itór io. Para tan t o, esse espaço, com
seus objet ivos de conse rvação, deve ser declarado expressame nte, e deve con tar com um
reg ime ju rídico específi co . Para t anto, a Lei n.º 9.985/2000 inst itui o marco lega l das UCs,
estabe lecendo os crit érios e normas para sua criação, implantação e gestão. É sabido,
desse modo, que a Lei do SNUC não cria un idades de conservação, mas sim, estabelece
med idas para sua criação nos te rmos esti pulados na Const ituição Fede ral.
L é 11
de administração,ao qual se aplicam garantias adequadasde proteção(art. 2°,
inciso1).
Para saber: além do conceito de UC, a referida Lei do SNUC posit ivou out ros tan t os
moder nos conce itos, dentre eles o de conservação da nat ureza, d iversidade bio lógica,
recurso amb ienta l, preservação, proteção integra l, co nservação in situ, manejo, usos
ind ireto, d ireto e sustent ável, ext rati vismo, recuperação, restauração, zoneamento,
plano de ma nejo, zona de amo rtecimento e corredo res ecológ icos, todos elencados no
art. 2°, incisos I a XIX.
O art igo 4° da Lei do SNUC define os objet ivos de conservação que nor t eiam o
estabe lecime nto das UCs, os quais são apresentados no Quadro 3.
Sintet icamente, Derani (2001, p. 233, 238) introduz a ideia primo rdia l para o
estabelec ime nto dos objetivos da Lei do SNUC, essa, é claro, coma ndada pela CF de
1988 e, sobretu do, pela prát ica inter naciona l (IUCN e CDB). Ref ere a auto ra que "o meio
amb iente ecologicame nte equil ibrado", esse como "pon to de ancoragem da ação do
Pode r Público" deve ser preenc hido em seu conteúdo pelas Unid ades de Co nservação, e
E :l:S
essas,por sua vez, devem visar a "conservação de sist emas ecológ icos, banco genéticos e
qualidade ambiental". Em suma, é possível destacar-se alguns dos objetivos mais marcantes
buscados com a instit uição de unidades de conservação: a proteção da natureza in
situ, gozo público, pesquisa científica e usos econômicos .
Para compati bilizar essa diversidade de objet ivos, os quais, inclusive, preveem
usos e gozos bastante distintos, por vezes incompatíveis entre si, o SNUC estabeleceu
diferentes categorias de UCs (capít ulo 111).Dessaf orma cada categoria de UC serve como
instrumento para atingir objetivos específicos. O Quadro 4 - Categorias de UCs. apresenta
e sint etiza as categorias de UCs e seus objetivos.
34 L é 11
Quadro 4 - Categorias de UCs.
EstaçãoEcológica Preservaçãoda natureza e a realização de pesquisas científicas (art. 9°, Lei SNUC).
Monumento Preservar sítios natu rais raros, singulares ou de grande beleza cênica (art. 12, Lei
Natural SNUC).
Reserva Particular Á rea privada, gravada com perpetuidade, com o objetivo de conservar a diversidade
do Patrimônio
biológ ica (art. 21. Lei SNUC. regulamentada pelo Decreto n.º 5.764/2006) .
Natural
E :15
2.2.3 Classificação das Unidades de Conservação
36 L é 11
manejo do uso humano da natureza, compreendendo a preservação, a
manutenção, a utilização sustentável,a restauraçãoe a recuperação do ambiente
natural, para que possa produzir o maior benefício, em bases sustentáveis,
às atuais gerações, mantendo seu potencial de satisfazer as necessidades e
aspirações das geraçõesfuturas, e garantindo a sobrevivê ncia dos seresvivos
em geral.
,
específicas:
[ ...
§ 1° O objetivo básicodas Unidadesde Proteçã o Integral é preservar a natureza,sendoadmitido apenas
o uso indireto dos seus recursosnaturais, com exceçãodos casosprevistos nesta Lei. [ ...)".
E 37
Figura 2 - Grupos de Proteção, usos e categorias distintas de UCs.
Categoria Domínio
-
38 L é 11
Area de Proteção A mb iental (US) Público ou priva do
1. Podem ser constitu ídas po r áreas particulares desde que sej a possível compat ibilizar os objet ivos com o uso dos
recursos, e que haja aq uiescência do proprietár io às condições impostas.
2 . UCs de domínio público com uso conced ido às populações t radiciona is medi ante contrato.
O SNUC elenca, em seu art. 5° diretrizes que orientam a implant ação do sistema
de UCs, e conduzem-no, sobretudo, para que assegure amostras representativas
e ecologicamente viáveis de habitas, ecossistemas, processos ecológicos e
patrimônio biológico , como também, que assegure a representação da população
local, sociedade em geral e ONGs no processo de criação e gestão das UCs, e, com
bastant e ênfase, assegura às populações tradicionais obterem meios de subsistência
alternativos ou a justa indenização pelos recursos perdidos .
Dá-se destaque a uma das diret rizes da Lei do SNUCconsist ente na realização de
planejamento integrado de criação e gestão de Unidades de Conservação com
outras políticas públicas (art. 5°, inciso VIII), podendo impulsionar a implementação de
um novo modelo de desenvolvimento do local, adjacências e região, pautado na valorização
do patrimô nio sociocult ural e natural, na viabilização de at ividades econômicas dinâmicas
e inovadoras, bem como no uso sustent ável dos recursosnaturais. Um exemplo apropriado
que possibilita verificar t al diretriz em pleno f uncionamento consist e na execução do Plano
de Ação para a Prevençãoe Cont role do Desmatamento na Amazônia - PPCDAM, que
tem atingido recordes históricos, segundo avaliação do Ministério do Meio Amb iente
(MEDEIROS;ARAÚJO, 2011), na redução do desmatamento do Biorna, com uma queda
aproximada de 14% entre os anos de 2009 e 2010.
E 39
intervenção qua lificada no uso dos recursos natu rais, visando ating ir objet ivos específi cos
de conservação. Portanto, é im portante salientar que, em um território, podem ser
const it uídas diferentes categorias de UC, dependo do objetivo que se quer ati ngir.
40 L é 11
PARTEli
CRIAÇÃO
E IMPLANTAÇÃO
DE
UNIDADES -
DECONSERVAÇAO
Éimpor t ante que a visão do intérprete e ut ilizador deste instrumen to de invest igação
percorra e absorva a amp litude do cenár io que nos conduziu at é aqu i.
• E 41
3 COMO SE DÁ A CRIAÇÃO DE UNIDADES OE CONSERVAÇÃO
Segundo seu texto, a CFde 1888 não estipulou por meio de qual instr umento legal
fossem criados tais espaços, no entanto, foi caut elosa ao limitar que qualquer alteração e
supressãosó fossem permit idas por meio de lei, como tam bém, vedou qualquer utilização
que viessea comprometer a integridade dos atributos que justificaram sua proteção inicial.
Por sua vez, a Lei n.º 9.985/2000, na ausência de comando outro, definiu em seu
art. 22, que a criação de UCs pode se dar por qualquer ato do Poder Público, seguindo a
linha do que já vinha estipulado no regime j urídico anterior 16 , a se ver:
Por ato do Poder Público, segundo Benjamin (200 1, p. 302), ent ende-se o Decreto
e a Resolução,para outros, adicionam-se a est es as portarias e instruções normativas. Com
isso, acrescenta o autor, "não só o legislador ordinário, mas igualmente o administrador e
o j uiz têm o dever-poder de salvaguardar a natureza, aquele com o uso de instrumentos
16 Lei n.º 4.771/ 1965; Lei n.º 6.938/1981; Lei n.º 6.902/1981; Resolução CONAMA n.º 04/1985, dentre
outras.
42 L é 11
como o decret o e a resolução, este pela via da sentença", contudo, esclarece, o ju iz agirá
diante da "om issão descabida, ou a int ervenção insuf iciente" da adm inistração púb lica e
ou do legislador ord inár io (BENJAMIN, 200 1, p. 303). A Fig ura 3 rep resenta uma sínt ese
dos atos do Poder Público e Judi ciário.
1 . Chefe do Pt0de •r
E><e< u tiYO M un ie ipa l 1 . Decreto Mun i cipa l ou
(Prefe ito ) Re-so l ucão ( Port./ lN)
2 ..Cârnara<:le 2 . Lei Mun i ci pa l
Vereadores
Criar uma Unidade de Conservação requer passos iniciais que antecedem o simples
ato do Poder Público. O ato de criação de uma UC representa o result ado de um processo
que deve or ientar-se pelo regramento insculpido no Capít ulo IV da Lei da SNUC e Cap ít ulo
1 do seu decret o regu lamentador.
E 43
ATENÇÃO!
Todavia, é importante fazer constar que cada Estado ou Município possuem procedimento
próprio acerca do tema, podendo ou não incentivar que RPPNssejam criadas a partir de cláusulas
ajustadas em TACs. A sugestão é a de averiguar a situação local.
ALTERNATIVA!
44 L é 11
nível federa l, o órgão executor é o Instit uto Chico Me ndes de Biod iversidade (ICMB io),
nos estados, será o ó rgão vinculado às Secret arias de Me io Amb iente com atr ibuição
para a gestão dos Espaços Proteg idos, e, nos mun icípios, a Secret aria Mun icipal de Me io
Amb iente ou ó rgão do SISNAMA previsto em nível mu nicipal.
Vár ias pessoas: públ icas, privadas ou não gover name ntais. Veja-se o Quadro 6 -
Quem propõe criar UCs?:
• ONGs
• Associações
SociedadeCivil
• Demandas de popu lações t radicionais
• Propostas encaminhadas pelo Poder Legislativo (vereadores, deputados)
Todavia, não deve ser um simp les ato de criação, mas fundado em prévios
estudos técnicos (identi ficação, loca lização, dimensão e o estabe leciment o de limites
ma is adequados para a unidade de conservação ) e realização de consulta pública
(pub licizar de modo claro e em linguagem acessível, as imp licações para a popu lação
residente no inter ior e no entor no da un idade propos t a) (§ 2°, art. 22), obr igação que só
é excepcionada apenas para a Estação Ecológ ica e Reserva Bio lóg ica (§ 4°, art. 22).
3.1.3 Os EstudosTécnicos
Os estudos técnicos, também d itos: pre lim inares, objet ivam subsidiar a elabo ração
E 45
da proposta de criação da UC. Porém, somen t e serão exigíveis se, após a avaliação do
órgão gestor, a demanda pela criação da UC for considerada perti nente. Com isso, o
gesto r deve inaugu rar e tomar as providências necessárias para sua elaboração.
Devem abordar desde a relevânc ia natu ral, que, segund o Benjam in (200 1, p.
304), é muito ma is do que somen te o que se t inha no passado: "r iqueza paisagísti ca
ou parti cularida de notável" , como também aspectos relacionados com os processos
bio lóg icos que se quer proteger, a quan ti dade de área que determinada espécie alvo
de conservação necessita para se locomover e alim entar, de forma a não f ragmen t ar
habitat, evitar o máx imo o ef eito de borda, den tr e out ros mu itos aspectos, inclusive os
ligados à pressão humana . São esses est udos técnicos que darão sustentação científica
para o est abelecimento da UC, abrangendo sua " localização, dimensão e os limites mais
adequados" (§ 2°, art. 22).
No texto exp licat ivo dispon ível no sítio do ICMBio é possível comp reender a
im po rtante relação entre os est udos técn icos e a criação da UC, a se ver:
Atua lmente, con ta-se com o regrame nto publicado pela IN ICMB io n.º 05/2008,
que dispõe sobre o proced imento adm inist rati vo para a realização de estudos t écnicos e
consu lta púb lica quando da criação de Unidade de Conservação Federal, servindo e base
para os dema is Entres da Federação. O Quadro 7 - Conteúdo dos Estudos Técnicos (Lei
do SNUC e INs ICMB io n .º 05/2008 e n.º 03/2007 ). sinteti za o que deve ser cont emplado
nos Estudos Técnicos:
Quadro 7 - Conteúdo dos EstudosTécnicos (Lei do SNUCe INs ICMBio n.º 05/ 2008 e n.º 03/ 2007).
Item Descrição
Infor mações sobre o(s) ecossist ema(s) da área de estudo, com a caracterização
Caracte rização biológica
das formações vegeta is e sua fauna associada.
46 L é 11
Avaliação dos principais indicadores socioeconom 1cos do(s) município(s)
Caracterização socioeconômica abrang ido, caracterização da popu lação residente, contendo o núme ro e
tama nho médios das prop riedades. e o padrão de ocupação da área .
.
Casos específicos
Reserva Extrat ivista e Reserva de Caracterização da popu lação trad iciona l benefic iária, elaborada em conjunto
Desenvolvimento Sustentável com a mesma.
• Obs. 1: Os estudos té cnicos prelim inares devem estar baseados em dados t écnicos e científicos disponíveis.
Sendo necessário o levantamento de infor mações, os estudos devem ser elabo rados po r profissionais
habil itado s.
• Obs. 2: A elabo ração dos estudo s técni cos preliminares é competênc ia do órgão executo r proponen t e da
nova UC (art. 4° do Dec. n.º 4 .340/2 002). No ent anto, as demandas de criação de novas UCs podem vir
acom panhadas desses estudos, e po dem ser uti lizadas pelo órgão executor. Ainda, o órgão executor po derá
solicitar a colaboração de ou tros órgãos púb licos, universidades, instituições de pesquisa, organizações da
sociedade civil, membros da comunid ade científ ica e da população local para a elaboração desses estudos .
Com base nos est udos técn icos prelimina res, cabe ao órgão executor elaborar a
propos t a de criação da UC. Para tanto, deve estabe lecer os objet ivos, a catego ria, e os
limites da área proposta a ser pro teg ida, incluindo a j ust ifi cati va para sua criação.
Funda-se nos seguintes d ispositivos legais e infra legais: art. 22 da Lei do SNUC,
arts. 4° e 5° do Dec. n.º 4.340/2000 e, em nível federal, a IN ICMB io n.º 05/2008.
Co nsubstancia-se como uma etapa ob rigatór ia para a criação de uma UC, à exceção de
Reservas Biológ icas e Estações Ecológ icas(§§ 2º e 4° do art. 22 do SNUC), casos em que
E 47
a realização da mesma é f acultada ao ó rgão executor, e tem como objet ivo subsid iar
a defin ição da localização, dimensão e limites mais adequados para a UC a ser criada.
Sua o rgan ização pode ser compreend ida po r me io do Quadro 8 - Recomendações para
organ ização da Consulta Pública, baseado na IN ICMB io n.º 05/2008 e Guia para Consultas
Públicas para UCs, IMAZON, IMAFLORA e IBAMA.:
Qual o objetivoda A consulta pública não tem caráter deliberat ivo, e tem como objetivo subsidiar a
consultapública? definição da localização, dimensão e limites mais adeq uados para a unidade de
conseNação a ser criada.
O que deve ser Deve ser indicado, de modo claro, e em linguagem acessível, as imp licações para a
apresentadona população residente no interio r e no ento rno da UC proposta . Recomenda-se que, na
consultapública? realização das reuniões públicas, seja apresentado:
• Apresentação do SNUC, com destaque para a categoria em questão;
• Objetivos, impactos e mot ivos que justificam a criação da UC;
• Apresentação resumida dos est udos técnicos e das consultas realizadas
previamente;
• Apresentação da proposta de criação.
Comoé feita a A divulgação deve ser clara e abrangente . Todos os segmentos interessados devem
divulgação da consulta estar infor mados sobre a criação da UC e sobre a realização da consulta pública.
pública? Para as reuniões públicas, recomenda-se:
• Publicação do aviso de consulta pública, com, no mínimo, 15 dias de antecedência,
nos Diários Oficiais (União, Estado ou, Município);
• Divulgação do aviso de consulta pública em outros meios de comun icação (jornais,
rádios, fixação do aviso em locais públicos, entre outros);
• Emissão de convites a auto ridades e instit uições -chave para o processo;
• Publicação do aviso de consulta pública, juntamente com a justificat iva e a
proposta de criação da UC na página do órgão executor.
Comoé feito o registro Todo o processo da consulta públ ica deve ser documentado, e as reuniões públicas
da consultapública? devem ser registradas. Todo o material de registro deve ser anexado no processo
adm inistrativo de criação da UC.
Fonte: FER
RAZ, 2005.
Não deve ser desmerecida a importânc ia da Consu lta Pública tr azida pelo sistema.
Nessa senda, a M in. Ellen Gracie, em recente decisão nos aut os do MS 24.184 (STF),
48 L é 11
declarou nu lo o decreto do Presidente da República (de 27/09/01) que ampliou os lim ites
territoriais do Parque Nacio nal da Chapada dos Veadeiros de 60 mi l para 230 mi l hectares,
afirma ndo em seu voto que o Conselho Consultivo do Parque não t em pode res para
represent ar a população local, conc luin do pela nulidade do decreto presidenc ial. Decisão
que reforça a necessidade de prévia e amp la consu lta públ ica, além dos estudos téc nicos
que j ustif iquem a iniciat iva para a criação da UC.
Após a realização da consu lta púb lica, o órgão execut or deve ana lisar as sugestões
apresent adas, e, j ulgando -as pert inent es, procederá às alt erações necessárias na proposta
de criação da Unidade de Conservação. Em seguida, o órgão executo r elaborará o
docume nt o t écnico contendo a proposta fina l da un idade a ser cr iada, acompan hado da
respect iva m in uta do ato de cr iação, memo rial descrit ivo, e mapa dos lim ites propos tos.
Tendo as info rmações pro ntas e reun idas, a proposta de criação da UC seguirá
para o ó rgão cent ral e coorde nador do sistema (em nível federa l tr ata-se do M M A, nos
Estados, Mu nicípios e DF corresponde às Secretarias do Me io Amb iente), onde serão
realizadas as eventuais e pert inentes aná lises técn icas e j uríd icas. Feito isso, a proposta,
acompa nhada de todo o embasamento documen t al, seguirá para os respect ivos Chefes
do Poder Executivo, opo rtun idade em que assinarão o decreto de criação da nova UC.
O ato fina l q ue legiti ma a criação da UC, fundado no princípio da pub licidade dos
atos do Poder Público, é a sua pub licação nos respecti vos Jornais Ofic iais.
Quando o ato de criação fo r a Lei, só se consolida, da mesma forma, com a refer ida
publ icação of icial.
• E 49
Para ser considerado legít imo, o ato de cr iação de uma Unidade de Conservação
deve conter (art. 2º do Dec. n .º 4.340/2002):
• A denom inação da UC e catego ria de ma nejo, a qua l deve estar de acordo com
as categor ias reconhec idas pelo SNUC;
• A popu lação trad iciona l benefi ciária, no caso das Reservas Extrat ivistas e das
Reserva de Desenvolviment o Sustentáve l;
• A popu lação t radic iona l residente, qua ndo coube r, no caso das Florestas
Naciona is, Estadua is ou Mun icipa is;
• As at ividades econôm icas, de segu rança e de def esa nacional envo lvidas.
Compensação
Demandade Demandasde
ambiental Estudostécnicose
Populações outros setoresda
(licenciamento) cientificos
Tradicionais sociedade
stu os para
avaliaçãoda
viabilidadede
Deve ser garantida .a
Definição dos objetivos .
criaçãoda UC participação sociel e a
para conservação, colaboração de
categori~ e limites instituições de
Propostapara pesquisa
criaçãoda UC
,Consultas Pubhcas e
â"dequação da proposta
Criaçãoda UC
• • • • • 1 • • • •
50 L é 11
De todas, há uma categor ia de UCs que se d istingue das dema is, é a Reserva
Particular do Patrimôn io Natura l (RPPN).Trata-se de UC const itu ída sobre área de dom ínio
privado em que a demanda por sua criação é exclusiva de seu prop rietário, o que lhe
confe re um regime in icial de existênc ia diferenc iado, con forme demonst rado na Figura 5:
E 51
• Programa Nacio nal da Diversidade Biológ ica (Pronab io) - Decreto n.0 4 .703/2003;
Seu regulamento foi publicado pelo Decreto n.º 4.340 / 2002 ...
Em seu texto t omou o cuidado de prever que "cada cat ego ria de unidade de
conservação integ rante do SNUC será objeto de regu lamento especifi co" (art . 46),
at ribu indo t al incumbê ncia ao M in istério do Me io Amb ient e - MMA , ouvidos os órgãos
executores.
No entan to, até o presente momento, além do regu lamento para a instituição
de Reserva Parti cular do Patrimôn io Nat ural, categor ia de UC do Grupo de Prot eção
Integ ral, pub licado at ravés do Decreto n .º 5.746/2006, nenhuma out ra UC dispõem de
ta l instrume nto . Aqu i, sugere-se uma averiguação ju nt o ao Est ado respectivo, uma vez
que é possível haver regulamen tações institu ídas somente em nível regio nal.
Com efe ito, t ratou de disciplinar o proced imento de criação das unidades de
conservação consoante previsão expressa em seus arti gos 2° a 5°, tendo refo rçado e
regulamentado a necessidade dos est udos prév ios, objet ivos, fixação de lim ites e, quando
necessário, consulta púb lica, como também passou a regu lamenta r cada um dos seus
inst rumentos operac iona is, a exemp lo do Plano de Manej o (art s. 12 a 16), dos conse lhos
gesto res consult ivos e deliberat ivos, a previsão de autor ização e anuênc ia para exp loração
de bens e serviços (arts. 25 a 30), além de te r regu lamentado, o qua nto lhe coube , o
inst it uto da compensação amb ienta l (arts. 31 a 34).
Para assegurar a proteção futura, à Lei do SNUC foi integrada pela figura da
"Limitação Administrativa Provisória" ...
52 L é 11
de modo que passou a possibilitar ao Poder Público sua decretação , cujo efe ito
é de paralisar ou imp edir o exercício de at ividades e empreend ime ntos efet iva ou
potencia lmente causadores de degradação ambien tal, até que estudo s técn icos sejam
realizados.
Veja-se, no seu inte iro teor, como está regu lada a matér ia no art. 22-A, introd uzido
na Lei do SNUC pela Lei n .º 11.132, de 2005:
Nos exatos termos da Carta Magna "a lterar" e "supr imir" são verbos nucleares
elementares para analisar a perm issão posterior advinda com a pub licação da Lei n .º
9.985/2000 . Em seu art. 22, §§§ 5°, 6° e 7°, a refer ida lei permi te que as un idades de
conservação do grupo de Uso Sustent ável possam ser t ransformadas tota l ou parcialmente
em UCs do grupo de Proteção Integral, util izando -se de inst rumento norma ti vo de
mesmo nível hierárqu ico daque le que a crio u, desde que obedecidos os proced imentos
de consu lta públ ica, estabe lecidos no § 2° do mesmo arti go (§ 5°, art. 22). Até aqui a
norma infracons ti tuc io nal não confli tua com comando const ituciona l, ao contrá rio do
que ocorre com a out ra possibilida de de mod ificação consistente na ampliação de lim ites
da UC, assim prevista: "a ampliação dos limites de uma un idade de conservação, sem
mod ificação dos seus limites orig inais, excet o pelo acréscimo propos to, pode ser fei t a
E 53
por instr umento normativo do mesmo nível hierárqu ico do que criou a unidade, desde
que obedec idos os proced imentos de consulta estabe lecidos no § 2° deste artigo" (§ 6°,
art. 22). A lei, aqui, desbordou do texto constituciona l, pois a mod ificação proposta não
deixa de ser considerada uma alteração, todavia, uma alteração que, salvo peculiar idades
do caso concreto, não deve comp rometer a integridade dos atribu tos que just ifi caram a
pro t eção buscada e garantida in icialmente. Portanto, para Mac hado (2001, p. 250 ),
As duas hipóteses são típicos casos de "supressão" de UC, con forme prevê a
CF/1998, entretanto, por esta não f oi prevista a necessidade de lei específica. Contudo,
vale alertar que nem a lei específi ca poderá ultrapassar os lim ites constitucionais impo stos
para tais casos, isto é, nada poderá comprometer a integridade dos atributos que
justificam a proteção da UC.
Portanto, à exceção dos casos em que a alteração pretend ida somente acrescentará
lim ites à UC, sem qua lquer mod ificação senão aque la advinda do acréscimo proposto, ou
ainda, que se lim ite a recategorizar a UC da condição de menor potencia l protet ivo para
um ma ior pot encial protet ivo, o instr umento norma t ivo adequado e const ituc iona lmente
previsto será, necessariamente, a lei. Nessa toada, man ifesta-se Machado (2001, p. 251)
54 L é 11
dizendo que "na dúvida entre os t extos a serem aplicados - lei o rdinár ia o u Const it uição
- , deve-se optar pelo últi mo texto".
Quadro 9 - Quad ro demon strativo de um Sistema de UCs eficiente (Fonte : IUCN e MMA) .
Característica Descrição
Representatividade As UCs devem ser estabelecidas de fo rma a abranger amostra representativa da
biod iversidade característica da região considerada . A rep resentativ idade tam bém pode
ser aplicada para aspectos geológ icos, paisagísticos e cultu rais.
E 55
Característica Descrição
Complementariedade O estabelecimento de uma nova UC deve agregar valo r ao sistema, selecionado
áreas e categorias de fo rma com plementa r, evitando, assim, redundâncias e gastos
âesnecessários
Consistência As UCs devem ser estabelecidas com categorias adequadas aos obj etivos de conservação
defin idos, e manej adas adequadamente de for ma a at ingir essesobjetivos
Eficiência A seleção de áreas para conservação deve apresentar equilíbrio ent re os custos e
benefícios, apresentando a melhor relação ent re o número área das UCs necessários
para o cum primento dos objet ivos
Na prát ica, um planejamen to prévio nesse sent ido min imiza a criação de Unidades
de Conservação por decisão polít ica oport un ist a, isto é, aquela que cons idera apenas as
me lhores opor t un idades econôm icas, em detr imentos daque la planejada e f undada nos
objet ivos e diret rizes previstos pelo SNUC e que considera as características e vocação de
cada catego ria integ rante do sistema.
Nesse sentido, o SNUC apare lhou -se dos seguintes inst rumentos:
56 L é 11
• Possibilidade de gestão em mosaico de UCs;
4. 1 CORREDORESECOLOGICOS
E 57
podem integ ram os mosa icos (conforme esclarece o próximo item) de Unidades de
Conservação e terão o mesmo tratamento das Zonas de Amortecimento, desde que
reconhecido s em ato do Min istér io do Me io Amb iente (art. 11, parágra fo único do Dec.
n.º 4.340/2002).
São, por sua vez, inst rume ntos de gestão territorial com a função precípua de
"garant ir a manutenção dos processos ecológ icos nas áreas de conexão entre Unidades
de Conservação" (ICMBio 1ª), de modo a "m it igar os efeitos da fragmentação dos
ecossistemas promovendo a ligação entre diferentes áreas, com o objet ivo de propo rcionar
o deslocamento de animais, a dispersão de sementes, aumento da cobertura vegetal"
e regras de planejamento que devem inclu ir "medidas com o fim de promover sua
integ ração à vida econômica e social das comunidades vizin has". Sua instituição não se dá
ao acaso, muitos são os fatores que devem ser observados, diagnost icados e analisados
para legit imá-los, dentre eles: "o deslocamentos de espécies, sua área de vida (área
necessária para o suprimento de suas necessidades vitais e rep rodutivas ) e a distr ibuição
de suas popu laçõ es" (MMA 19 ).
Não são de tão simp les instituição e imp lantação, vez que requerem um grande
esforço de art iculação dos entes f ederativos, pois, dependendo de sua extensão territoria l
poderá cruzar f ronteiras entre Municípios e até Estados. Dentre as várias ações de
planejamento a serem empreendidas, uma se mostra impr escindível: a parceria entre os
órgãos governamentais e inst ituições envolvidas com a proteção amb ienta l.
Ações prát icas devem decorrer dessa parceria, desde a elaboração de estudos
técnicos, até a prestação de suporte aos proprietários rurais e comunidades locais.
18 BRAS
IL. Instituto Chico Mendes de Biodiversidade. ICMBio. Mosaicos e Corredores Ecológicos.
Disponível em: <http://www.icmbio.gov.br/portal/o-que-fazemos/mosa icos-e-corredores-ecologicos.
html>. Acessoem: 20 nov. 2014.
19 ld. Ministério do Meio Ambiente - MMA. CorredoresEcológicos.Disponível em: <http ://www.mma.gov.
b r/ areas-protegidas/acoes-e-iniciativas/gestao-territoria1-para-a-conservacao/corredores-ecologicos>.
Acessoem: 29 nov.2014 .
58 L é 11
Atualmente, o Cadastramento Ambiental Rural (CAR}, instrumento de gestão
da nova Política Florestal (art. 29 e ss., da Lei n.º 12.651/2012), uma vez utilizado
corretamente, poderá se tornar uma importante ferramenta de gestão para,
inclusive, pensar e instituir Corredores Ecológicos a partir de uma visão ampla
de conexão do território.
Já decorre do art. 17 da nova Lei Florestal que "a localização da área de Reserva
Legal no imóvel rural deverá levar em consideração os seguintes estudos e
critérios:
[ ...] li - a formação de corredores ecológicos com outra Reserva Legal, com Área
de Preservação Permanente, com Unidade de Conservação ou com outra área
legalmente protegida; [ ... )".
4.2 MOSAICOS
Os mosaicos de UCs tem como objetivo promover a gestão integ rada e part icipati va
do terr itó rio, de forma a compat ibi lizar a biod iversidade, a valor ização da sociod iversidade
e o desenvo lviment o sustentável no contex to regiona l, con f orme disposto no artigo 26 do
SNUC, e capítu lo Ili do seu Decreto regu lamentador.
Para além das UCs, os corredores ecológ icos, desde que reconhecidos em ato do
M inistér io do Me io Amb iente, também integ ram os mosa icos para fin s de gestão. No
entanto, na ausênc ia de mosaicos, at enta -se para o fato de que os corredores eco lóg icos
q ue inter ligam UCs, deverão receber o mesmo tratamento da zona de amortecime nto a
q ue esti verem vincul ados (art. 11, parágra fo ún ico do Dec. n .º 4 .340/200 2).
E 59
Sua forma lização, segundo art. 8° do Dec.
n.º 4.340/2002, se dá por meio do reconhecimento
do M inistério do Meio Amb ient e, pub licado em ato forma l,
med iante solicit ação de um ou mais órgãos gestores de Unidades
de Conservação ao Departamento de Áreas Proteg idas da Secretaria
de Biod iversidade e Florestas. Em detalhes, os proced imentos para seu
reconhec imento estão previstos na Portaria MMA nº 482/20 1O.
60 L é 11
As compe tênc ias do conselho de mosaicos estão elencadas no art. 1O do Dec. n .º
4.340/2002, a seguir transcr itos:
Art. 1O [Omissis]
1 - elaborar seu regimento interno, no prazo de noventa dias, contados da sua
instituição;
li - propor diretrizese açõespara compatibilizar, integrar e otimizar:
a) as atividadesdesenvolvidasem cadaunidadede conservação,tendo em vista,
especialmente:
1. os usos na fronteira entre unidades;
2. o acessoàs unidades;
3. a fiscalização;
4. o monitoramento e avaliaçãodos Planosde Manejo;
5. a pesquisa científica; e
6. a alocaçãode recursosadvindos da compensaçãoreferente ao licenciamento
ambiental de empreendimentoscom significativo impactoambiental;
b) a relaçãocom a populaçãoresidentena áreado mosaico;
Ili - manifestar-sesobre propostasde soluçãoparaa sobreposição de unidades;e
IV - manifestar-se,quando provocado por órgão executor, por conselho de
unidade de conservaçãoou por outro órgão do SistemaNacional do Meio
Ambiente - SISNAMA,sobre assunto de interessepara a gestãodo mosaico.
A Zona de Amortec imento, para os fins previstos na Lei do SNUC é conce ituada
como sendo "o entorno de uma un idade de conservação onde as ativ idades humanas
estão sujeitas às normas e rest rições específicas, com propós ito de min imizar os impactos
negativos sobre a un idade" (art. 2°, inciso XVII da Lei do SNUC)2 º.
20 Sua primeira conceituação surgiu com a Resolução CONAMA n.º 10/1993, que " Estabelece os
para-metros básicospara análise dos estágiosde sucessãode Mata Atla-ntica", e estavaassim delineada:
"Entorno de Unidadesde Conservac~o - áreade coberturavegetal contígua aos limites de Unidadede
Conservac,ão,que for propostaem seu respectivoPlano de Manejo, ZoneamentoEcológico-Econômico
ou PlanoDiretorde acordo com ascategoriasde manejo. Inexistindo estes instrumentoslegais ou deles
não constandoa área de entorno, o licenciamento se dará sem prejuízo da aplicac~o do disposto no
artigo 2° da Resoluc~o CONAMAn.º 13/90".
E &t
típica da "B iolog ia da Conservação", visam objetivamente, d iminu ir o "efe ito de borda" 21.
Salienta-se que a Área de Proteção Amb iental - APA e a Reserva Particular do Pat rimônio
Natural - RPPNestão isentas dessa obrigator iedade (art. 25 da Lei do SNUC).
A Zona de amor tecimento não deve ser con f und ida com a obr igação legal prevista
no art. 27 do Dec. 99.274/1990 assim redig ida: "Nas áreas circundantes das Unidades de
Co nservação, num raio de dez qui lôme t ros, qua lquer at ividade que possa afetar a biata
ficará subord inada às normas editadas pelo Conama". Tais no rmas f oram editadas pela
Resolução CONAMA n.º 0 13/1990, hoje revogada pela Resolução (do mesmo Conselho)
n.º 428/20 1O, cujo objetivo fundava -se na exigência obr igatória de licenciamen to
amb ienta l para atividades que pudessem afetar a biata, con f orme def inição do órgão
responsável pela UC em conjunto com o órgão licenciador, concedido somente med iante
a auto rização daquele.
Atualme nte, o text o naciona l vigen t e (art. 1º, da Resolução CONAMA n.º 428/201 O)
prevê a necessidade de autor ização do responsável pela UC some nte para os casos de
signi fi cat ivo impac t o ambiental, nos lim ites da Zona de Amor t ecimen t o estabelec ida no
Plano de Ma nejo ou no instrumento de criação. Para os casos de UCs que ainda não
t iverem Zona de Amortecimento estabe lecida, a norma prevê, arbi tr ar iamente, a titulo
provisório po r um prazo de cinco anos a con tar da sua pub licação (20 de dezembro de
201 O), que uma faixa de 3 (três) m il metros con t ados a partir do limite da UC possa servir
como tal (art. 1º, § 2°).
62 L é 11
CF/1988 e da Lei n.º 9.985/ 2000, na instituição de Zo nas de Amo rtecimento de Unid ades
de Co nservação po r meio da ut ilização de Portaria. Sua conclusão foi no sent ido de q ue a
defin ição da ZA não defin ida no ato de criação da UC poderá sê-lo poste riormen te, mas
por at o de idê ntica hie rarqu ia daquele que criou a UC23 •
23 No âmbito do judiciário, assimjá foi decidido: "O cerne da questão,portanto, reside em definir se a Lei
9.985/2000autoriza a fixaçãodos limitesda Zonade Amortecimento do Parque Marinhode Abrolhos
mediante Portaria do Presiden t e do IBAMA. [ ...] A zona de amortecimento, embora não seja parte
integrante da Unidadede Conservaçãocorrespondente, sujeita as atividadeshumanasnela exercidasa
normase restriçõesespecíficas estabelecidaspelo respectivo órgão de administração(art. 2°, XVIII de
art.25,parágrafo 1°, ambosda Lei 9.985/2000). Por isso,como se trata da imposiçãode limites ao
exercíciodo direito de propriedade, a criaçãoda referida zona deve observar estritamente o
princípio da legalidade. Nessesentido, o parágrafo 2° do art. 25 da Lei 9.985/2000asseveraque "Os
limites da zona de amortecimento e dos corredores ecológicos e as respectivas normas de que trata
o parágrafo 1° poderão ser definidasno ato de descrição da unidade ou posteriormente. Apesar de a
norma não estabelecerexpressamentequal ato do Poder Público devesereditado paradefinir os limites
da zonade amortecimento,entendo que do texto extrai-se a conclusãode que, qualquer que seja
o momento dessa demarcação, exige-se sempre ato da mesma hierarquia do utilizado para
a criaçãoda própria unidade de conservação,tendo a norma apenas facultado a delimitação
postergada no tempo, mantendo-se, porém, os mesmosrequisitosde forma e hierarquia do
ato que criou a unidade de conservação. Assim, a expressão"ou posteriormente" contida no final
do dispositivo limita-sea tratar de aspecto temporal, não permitindo inferir que a ulterior definição possa
ser feita por meio de ato normativo de hierarquiainferior ao exigido para a criaçãoda unidade.Fixado
esseponto, cumpredeterminar qual o ato apropriado para criar unidadesde conservação.Novamente
a Lei não especificaqual o instrumento jurídico cabível para remover o ato de criação,apenasindicado
no art. 22, caput, que "As unidadesde conservaçãosão criadaspor ato do PoderPúblico". Por isso,
recorroao escólio do Ministro Antônio HermanBenjamim do Superior Tribunal de Justiça,que pontifica:
"a to do poder público é decreto ou resolução do Conama", pois a "Constituição Federal, em seu art.
225, parágrafo 1 º, incisoIli, nos passosdo que sedá no tombamento, não exige lei em sentido estrito
para a criaçãode unidade de conservação. Basta, no casoda administração pública, decreto ou
resolução, ficando o Poder Público, em qualquer caso, obrigado a indenizar o proprietário, na
hipótese de a restriçãoinviabilizar os usoseconômicosde toda a propriedade, como sucede,
normalmente, com as unidades de proteção integral." (Introdução à Lei do Sistema Nacional de
Unidadesde Conservação", págs.302/3, apud " Direito Ambiental dasáreasprotegidas",Coordenação
Antônio Herman Benjamin, Riode Janeiro: ForenseUniversitária, 2001). Ora,seo ato de criaçãosomente
pode ser formalizadomediante decreto do Presidente da Repúblicaou resolução do Conama,e se os
limites da zona de amortecimento devemser definidos em ato de mesmahierarquia,resta evidente
que mera portaria do Presidente do lbama não é suficiente para tal mister.
Impederessaltar que a AdministraçãoPública submete-seao princípio da legalidadee, portanto, somente
pode fazer o que é por lei expressamen t e autorizado. No caso,não há nenhuma norma legal atribuindo
ao Presiden t e do IBAMAa competência para definir os limites de zona de amortecimento de unidades
de conservação,nem especificamente a zona do ParqueNacional Marinho de Abrolhos. Ademais,
conforme severificado art.6°, incisoIli, da Lei 9.985/2000,ao IBAMAfoi atribuída a qualidadede órgão
executor,sendo, portanto, completamente estranha às suas atribuições o exercíciodecompetência
normativa primária, configurado pela definição dos limites de zona de amortecimento. Saliente-se
que o próprio parágrafo 1° do art. 25, prevê que o IBAMA apenas"estabelecerá normas específicas
regulamentandoa ocupaçãoe o usodos recursosda zona de amortecimento e doscorredoresecológicos
de uma unidade de conservação",a caracterizar sua atuação regulamentar meramente subsidiária,
vinculada à administraçãoda zona de amortecimento. Assim,a interpretaçãocorreta do parágrafo 2°
do art. 25 da Lei 9.985/2000,que decorre do princípio da legalidadee deflui da própria repartição de
atribuiçõesestabelecidasnessanorma, é que, mesmoquando criada posteriormente ao ato de criação
da unidade, a zona de amortecimento deve ser instituída por intermédio de ato do Poder Público de
mesmonivel hierárquicoexigido para a criaçãode unidadede conservação,isto é, decreto presidencial
ou resolução do Conama.Observoque, no casodo ParqueNacional Marinho de Abrolhos, o ato de
E 13
Tal conc lusão decorre de uma aná lise aten t a dos do is parágrafos do art. 25 da
Lei do SNUC. No § 1° incumb iu ao órgão responsável pela adm inistração da unidade
o estabe lecimento de normas específi cas que regulamentem a ocupação e o uso dos
recursos da zona de amortec imento e dos corredores eco lóg icos das UCs. Vej a-se que
o comando rest ring iu ao órgão responsável pela adm inistração somen te o regulamen to
da ocupação e uso dos recursos. Com isso, subjeti vamente, atr ibu iu-lh e a possibilidade
de fazer por ato de sua compe tênc ia, ou seja, no âmb ito do Plano de Ma nejo da UC. Tal
comp reensão se conc ret iza a partir do teor do art. 27, que at ribui ao Plano de Mane jo
abranger também a Zona de Amo rtecimento, para além da própr ia UC e dos Corredores
Ecológ icos.
Enquant o que o§ 2° do art. 25 diz que os limites da zona de amortec imento e dos
cor redores ecológ icos, bem como as regras de gestão poderão ser defi nidas no ato de
criação da unidade ou poster iorme nte, isto é, o ato de cr iação pode estabe lecer os lim ites
da ZA e defini r sua gestão (Lei, Decreto ou Resolução), o Plano de Manejo (que pode rá
ser por Portaría do órgão gesto r), somente a sua gestão. Éj ustame nte nesse sent ido que
man ifesta o Consu lt or-Geral da União:
Portanto, LEMBRE-SE:
de imed iato, deve-se diferenc iar o at o j urídico apto a realizar a "de limitação da zona
de amortec imento", daquele que regula o uso e o manejo dos recursos nat urais em tal
área (zona de amortec imento ). Segundo o Decreto Federal nº 4 .340/2002 , pode o órgão
gesto r da unidade conservação dispor, por Port aria, de regras sobre o manejo dos recursos
natura is localizados na zona de amortec iment o, con t udo, a definição dos lim ites da zona
criação foi exteriorizado pelo Decreto 88.128/1983. Concluo, portanto, que falece competência ao
Presidente do IBAMA para, mediante Portaria, fixar os limites da Zona de Amortecimento do Parque
Nacional Marinho de Abrolhos, à míngua de autorização legal." (Sentença n.º 255/2007-B - Processo
n.º 2006.34.00.021017-7 - Classe:2100 Mandadode Segurança Individual - lmpetrante: Município e
Caravelas/BA- lmpetrante: Câmara Municipal de Vereadoresde Caravelas/BA - Impetrado: Presidente
do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos RecursosNaturais Renováveis - IBAMA).
24 Nota nº AGU/MC - 07/2006, de 16.08.2006, de autoria do Consultor-Geral da União Manoel Lauro
Volkmer de Castilho, Processonº 00001.005532/2006-27,p. 04.
64 L é 11
de amor tecimento somen te pode se dar por ato de mesma hierarqu ia lega l daq uele que
institu iu a UC.
As Zonas de Amo rt ecimento após instit uídas, em nada mod ificam o regime dom inial
do t erritór io, mesmo se decor rentes de UC perte ncente ao grupo de Proteção Integ ral.
Seu escopo não pret ende, e tampo uco está previsto noutr o senti do, a incorpo ração do
te rritór io no dom ínio público. É ju stame nte nesse ponto que reside o maior confl ito
carregado pelas Zonas de Amor t ecime nto.
O que t em em seu favo r são as previsões consti tuc io nais que relat ivizaram as
consequência da prop riedade pr ivada (art. 5°, XXII, da CF/1988) no sent ido de que esta
somen t e se forma ou const itu i se estiver cump rindo com sua f unção social (art. 5°, XXIII,
da CF/1988 ). Ou ainda, o Direito de Propr iedade só é assegura do ao part icular com a
cond ição de que atenda a sua fu nção social, e, não bastasse, vinculou à ordem econôm ica
- dinâm ica fundada na "va lor ização do traba lho humano e na livre iniciati va" (art. 170, da
CF/1988 ) - à observânc ia dos princípios da prop riedade privada (11),no seu est rito dever de
cump rir com a função social (111
) em harmôn ica obed iência à def esa do me io amb ient e (VI).
Devem ser comp reendidas como uma zona aux iliar para a UC, inclusive, de
compensação à comu nidade adjacente pela inst it uição da uni dade. É na Zona de
Amo rt ecime nto que o gestor deve art icu lar med idas para patr ocinar a int egração da
uni dade à vida econôm ica e social da comun idade (art. 27, § 1°, da Lei do SNUC).
Por isso a impo rtância dos estudos t écnicos prévios à criação da UC, uma vez que
também deverão iden t ifi car a área de influênc ia direta do espaço que se que r prot eger, de
modo a ident ifi car seus aspectos e f ut uros confli tos, análise que até pode ser responsável
pelo própr io desen ho fin al da Á rea Prot egida.
Um impo rtante disposit ivo que se deve tra zer à baila é o art. 4 9 da Lei do SNUC,
po is interfe re, para fi ns lega is, no própr io regime urbaníst ico do te rrit ório, confe rindo
às Unid ades de Co nservação do Grupo de Proteção Integ ral a cond ição de zona rural,
independe nteme nte de regime anteriorment e estabe lecido . E não só, em seu parágrafo
único, orde na que as Zo nas de Amo rt ecime nto das Unidades de Co nservação, uma vez
defin idas fo rmalment e, não podem mais ser t ransfo rmadas em zo na urbana, isto é,
acarreta um conge lame nto da situação at ual do regime urban ístico loca l: o que é zona
urbana con t inua a ser, o que é área rural cont inua a ser, sem hipótese de um d ia vir a se
to rnar zona urba na.
• E 15
Isso, por si só, já acarreta hostil idade entre os gestores munic ipais atingidos pelo
gravame, mo ti vo sufi ciente para se pensar a gestão da Zona de Amortecimento de forma
int egrada com os anseios, também, da comunidade local, atendendo o que já comanda
o§ 1° do art. 27 da Lei do SNUC.
As lim itações admin istr ativas é admitido que at injam "determi nadas liberdades
fun dame ntais", como por exemplo, o direito à propriedade privada, desde q ue motivadas
pela proteção amb iental, onerando com deveres, tanto o Poder Público, quanto o
ind ivíduo. Essa prem issa deco rre do próprio art. 225 da CF/1988, que impõem ao Poder
Púb lico o dever de assegurar equi líbrio ambiental e qualidade de vida sadia, pressupondo -
se, com isso, que o instrume nto a ser util izado é o da lim itação ao Direto de Propriedade,
integ rando categoria de típ ico instrumento de proteção amb iental (SANTOS, 2000, p.
56-57).
Ao intérprete int eressa encontrar e decifrar esse lim ite, ist o é, até que ponto a
pro t eção ambien tal instrumentada pela lim itação ao Direito de Propriedade não ultrapassa
tal faculdade para se converter em interd ição do uso da propriedade (que se difere da
desapro priação ind ireta). O julgado tr anscrito abaixo auxiliará a formação da conv icção
entre tais limites:
25 Porissoa import ânciade que a delimitaçãoda ZA sedê, no mínimo, pelo mesmoinstrumento hierárquico
que criou a UC.
66 L é 11
algumasunidadesde conservaçãodeproteção integral e deusosustentávelemque
a lei impõe que o domínio seja público - configura limitação administrativa,
que se distingue da desapropriação. Nesta, há transferência da
propriedade individual para o domínio do expropriante com integral
indenização;naquela, há apenas restrição ao usoda propriedade imposta
genericamentea todos os proprietários, sem qualquer indenização.
2. Se a restriçãoao uso da propriedade esvaziar o seu valor econômico,
deixará de ser limitação para ser interdição de uso da propriedade, e,
neste caso, o Poder Públicoficará obrigado a indenizar a restrição que
aniquilou o direito dominial e suprimiu o valor econômicodo bem. (Hely
Lopes Meirelles. Direito Administrativo Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2009.
35ª ed., págs.645/646.)
3. Esta indenização, todavia, não sefundará na existênciade desapropriação
indireta, pois, para que esta ocorra é necessári
o que haja o efetivo apossamento
da propriedade pelo Poder Público. Dessemodo, as restriçõesao direito de
propriedade, impostas por normas ambientais, ainda que esvaziem o
conteúdo econômico,não se constituemdesapropriaçãoindireta.
4. Assim, ainda que ocorrido danos aos agravados, em face de eventual
esvaziamento econômico de propriedade,taisdevemser indenizadospelo Estado,
por meio de açãode direit o pessoalfundada na responsabilidadeaquiliana,cujo
prazo prescricional é de 5 anos, nos termos do art. 1O, parágrafo único, do
Decreto-Lei n. 3.365/41.
5. No casodos autos, como bem esclarece a sentença, mantida pelo acórdão,
o ato administrativo municipal ocorreu em março de 1993, e a demandasó foi
proposta em 18.5.2007, depois de esgotado, portanto, o lapsoprescricional.
Agravo regimental improvido.26 (grifado)
Por últ imo, é importante clarifi car que a restrição imposta sobre área delimitada
como ZA pode ser parcial, sem comp rometer to talmente o uso dos recursos nat urais, ou,
mesmo tota l. Proibições no sent ido de:
• não usar determ inados t ipos de agrotóx icos, o u somente a pulverização aérea,
26 Decisão proferida pelo Superior Tribunal de Justiça, em sede de Agravo Regimental no Agravo em
RecursoEspecialn.º 155.302 - RJ(2012/0066045-7), sob a relatoria do Ministro Humberto Martins,
julgado em 13/11/2012.
E 67
• a m ineração em determinados cursos d'àgua,
somen te para citar alg umas, a propr iedade pr ivada pode cont in uar desenvo lvendo sua
at ividade econôm ica, devendo, estrateg icamente, ajusta r seus usos focados em técn icas
mais favoráveis à proteção do ambien te natu ral, como por exemplo: agr icultura orgânica,
sistemas agro fl orestais, fazer a tríp lice lavagem dos equ ipamentos dos agro t óxicos em
locais licenciados, cult ivar apiários com espécies de abelhas nat ivas, ut ilizar outros métodos
de irrigação, etc .
A regu larização fundiár ia é o passo pr imord ial para a im plantação de uma Unidade
de Conservação, de posse e dom ínio públ icos, tendo em vista que várias ações de manejo
necessárias para garantir a conservação do amb iente ficam prejudicadas, ou até mesmo
im ped idas de serem realizadas, at é que as áreas seja m regular izadas, o que im possibilit a
o cumpr imento ef et ivo dos obje ti vos da UC.
O pr ime iro ato para promover a regular ização fund iária da Unidade de conservação
é a elabo ração do seu Estudo Fundiário, documen to que diagnostificará a informação
sobre os imóve is exist entes no seu inter ior, bem como de seus ocupantes, sejam eles
propr ietár ios, posseiros, detentores, etc. Nele serão levantadas as propr iedades pr ivadas,
ocupadas ou não po r seus t itu lares; será pesquisada a eventua l existênc ia de ter ras
devo lutas; será verifi cada a existênc ia ou não de famílias que podem ser classifi cadas
como t rad iciona is. A lém disso, e, a part ir das inf ormações coletadas em campo, deverão
ser pesqu isados ju nto aos órgãos responsáveis os imóve is públ icos (municipais, estadua is
e/ou federa is), porventura existen t es nas UC (BARCELLOS,2009).
68 L é 11
É exatamente quando se chega neste ponto, isto é, na elaboração dos "Estudos
Fundiários" em que t udo irá convergir, podendo, ou não, facilitar o processo de
consolidação da UC.
Por conta da não observância do rito adequado quando da criação de UCs é que,
nos dias at uais, se presencia uma op inião negativa a seu respeito, muito devido ao estigma
atribuído "UCs de papel", como resultado do descompromisso e inoperância do Poder
Público.
• E &9
que a lei possibilita a const it uição t ambém por propr iedades privadas, desde que haja
compat ibilidade ent re os objetivos da UC e o uso de seus recursos naturais (art. 12, § 2°).
Caso outro, a área deverá ser desapropr iada nos termos dos comando consti tuc iona l e,
em especial, do Decreto-Lei n.º 3.365 de 1941.
CURIOSIDADE!
O elevado número de APAs existentes no território nacional, em relação às
demais categorias de UCs, se justifica pelo motivo acima referido, isto é, por
não incidir o dever do Poder Público em desapropriar suas terras, evitando
gastos com indenizações. Inclusive, tal "artimanha" acaba sendo usada para
robustecer o índice de conservação imposto pela Convenção da Biodiversidade,
da qual o Brasil é signatário, proporcionando uma f a Isa ideia de proteção,
quando se sabe que as APAs são quase nada ou pouco efetivas no seu mister
(ver Quadro 9 - Quad ro demons t rati vo de um Sistema de UCs efi ciente (Fonte: IUCN e
MMA)., item "cons istência").
Em tese, t udo correrá bem para a UC, quanto o Poder Público, antes mesmo da
elabo ração do Plano de Manejo, já tenha traçado seu Plano de Regu larização Fund iária,
ou me lhor, já tenha as áreas to das adqu irid as e tombada s em seu patr imôn io.
EXEMPLIFICANDO ...
70 L é 11
A Lei do SNUC trouxe mecan ismos que aliviam o mo nt ante ind enizató rio, f acilitando
os desembolsos públicos.
Nesse sentido, o art. 45 da Lei do SNUC estabe lece que são excluídos das
indenizações refere ntes à regu larização f und iária das un idades de conservação, derivadas
ou não de desaprop riação: " [ ... ] Ili - as espécies arbóreas dec laradas imunes de corte pelo
Poder Público; IV - expectat ivas de ganhos e lucro cessante; V - o resultado de cálculo
efet uado med iante a ope ração de juro s compos tos; VI - as áreas que não tenham prova
de domínio ineq uívoco e ante rior à criação da unida de" .
Impo rta destaca r que a exclusão do montante das verbas indeniz atór ias das áreas
que não d isponham de prova de dom ínio ineq uívo co com data anter ior à criação da
unida de, pode ser lida como uma med ida eficaz para afastar a especulação imob iliária e
a indústria das inden izações.
Éo inst rument o ofi cial de planeja mento que vai conter as d iretr izes necessárias para
orientar a gestão, de fo rma a levar a Unidade de Conservação a cumpr ir seus objet ivos.
Co nsiste em um PROCESSOdocume ntado, com método defini do, resultando em um
document o que estabe lece, para um hori zonte de cinco anos: (1) as mudanças deseja das
no cenário atual da UC (nos âmb itos natu ral, social e inst ituciona l), a serem at ingidas
por meio da execução de ações e projetos, e (2) do ordenamento do uso do terr itório,
norteado por me io do zoneame nto (Figu ra 7).
Objetivos da UC
Cená rio
atual da
•
5 anos
Cenário
desejado
uc Exec ução das ações e cumpr imento das no rmas araa uc
estabe lecidas no Plano de Manej o
E 'lt
Seu conce ito legal está assim delineado pelo art. 2º, in ciso XVII, da Lei do SNUC:
Sua elaboração e pub licação devem ser executadas em cinco anos 27 contados a
partir da dat a de sua criação (art. 27, § 3°, da Lei do SNUC).
Essa obrigação é muito comum de ser descumprida pelo Poder Público . Aqui
tem lugar à intervenção do Ministério Público, seja pela via consensual - Termo
de Ajustamento de Conduta {TAC) - ou pela via do contencioso - Ação Civil
Pública {ACP). Nesse sent ido já se manifestou o STJno REsp n.º 1163524-SC.
27 É provável que o prazo previsto para a elaboraçãoe execuçãodos Planos de Manejo possaestar
previstode maneiradiferente pelas legislaçõesestaduais, motivo pelo qual orienta-se seja averiguada
tal possibilidade.
'12 L é 11
5.2.1 Como é estruturado o Plano de Manejo?
• Ca racte riz ação da UC e en tor no : traz as informaçõ es referentes aos aspectos físicos, bióticos, e
socioe conômicos da UC e seu ent orno, bem como aspect os legais, hist óricos e culturai s, co mpon do
o cenário atu al da UC ("a fotogra fi a da UC"). Cont ém as inforrnaçõ es que servem de base para a
toma da de decisões nas etapas su bse quentes de elaboração do docum ento .
•Diarnóstivo da UC: análise do cenário atual, para est abelecimento do alcance do Plano de Manej o
(onde q uere mos estar) . Para t anto são esta belecidos o bjetivos e metas para o Plano de Manejo.
•Zonea men to e normai s r er ais de uso : elabo ração do zoneam ento inter no e da zona de
amortecime nto (quando for o caso), estabelece ndo normas para garantir a manutenção da
condição desej ada do ambiente, conforme defin ido na etapa de diagnósti co.
Sua elaboração deve contar com as orientações técnicas disponíveis nos ROTEIROS
METODOLÓGICOS,publicados pelo IBAMA e, atualmente, ICMBio28 , bem como pelos
órgãos executores dos Estadose Municípios. No caso das RPPNs,as mesmas contam com
seu regulamento, o Decreto n.º 5.746/2006; e, no caso das EstaçõesEcológicas e APAs: a
Lei n.º 6.902/198 1 e seu regulamento, o Decret o n.º 99.274/1990.
O plano de manejo, uma vez aprovado, deverá estar disponível para consulta do
públ ico em geral na sede da Unidade de Conservação e no centro de documentação do
órgão execut or.
28 BRAS IL. Instituto Chico Mendesde Biodiversidade. ICMBio. Roteiros M etodológicos . Disponível em:
<htt p ://www. icmbio.gov.br/porta1/biodiversidade/unidades-de-conservacao/roteiros-metodologicos.
html>. Acessoem: 22 nov. 2014 .
E 13
para os casos estritos de ReservaExtrativista e Reservasde Desenvolvimento Sustentável
(art. 12, incisos I e li, do Decreto n.º 4.340 de 2002), transforma-se na Lei inter na da UC.
Em seu corpo deve constar tanto sobre a gestão da UC, da sua Zona de Amortec imento,
quanto sobre eventuais Corredores Ecológicos, de forma a int egrar seus usos com os das
comunidades vizinhas, at ravés do estabelecimento de medidas para tanto .
Sua elaboração deve contar com as orientações técnicas disponíveis pelo IBAMA
e, atualmente, ICMBio, publicadas por meio dos Roteiros Metodológicos 29 , e, no caso das
RPPNs:de seu regulamento, o Decreto n.º 5.746/2006; das EstaçõesEcológicas e APPs:da
Lei n.º 6.902/198 1 e de seu regulamento, o Decreto n.º 99.274/1990.
De referir que, com a publicação da Lei n.º 11.460 2007, coube aos Plano de
Manejo a incumbência de dispor sobre as at ividades de liberação planejada e cultivo de
organismos geneticament e modificados nas Zonas de Amortec imento das Unidades de
Conservação (art. Art. 27, § 4°, da Lei do SNUC).
Éimportante que sejam compreendidos como o instrument o por meio do qual pode
ser viabilizado o comando constitucional que veda qualquer utilização que comprometa a
integ ridade dos atributos que just ificaram a proteção da Unidade de Conservação (parte
fina l do inciso Ili, art. 225, da CF/1988). Éessa,sobretudo, a grande atribuição de um Plano
de Manejo, isso porque devem contemplar todos aqueles objetivos gerais previst os no art.
4° da Lei do SNUC, todas as diretr izes do art. 5°, e mais aqueles que lhe são específicos,
isto é, aqueles inerentes a cada uma das categorias de Unidades de Conservação que
29 BRAS IL. Instituto Chico Mendesde Biodiversidade . ICMBio. RoteirosMetodológicos. Disponível em:
<http ://www .icmbio.gov.br/porta 1/biodiversidade/unidades-de-conservacao/roteiros-metodologicos.
html>. Acessoem: 22 nov.2014 .
74 L é 11
integram o Sistema. Veja-se, por exemp lo, que a expedição de licenças para obras e
atividades em UCs de proteção integral desprovidas de Plano de Manejo poderão
ser anuladas, com amparo no art. 28 da Lei so SNUC.
Machado (2001 , p. 254) at enta para um vínculo lega l ligando o Plano de Mane jo
à CF/1988 e à Lei do SNUC, "v íncu lo do qual os que elabo rarem o pla no não se podem
desligar". Todavia, a realidade não refl ete a impo rtânc ia do instrumento. As estat ísticas
podem ser confer idas no pró pr io sit io do ICMB io: de 320 UCs Federais (não con t abilizadas
as RPPNs), somente 139 dispõem de Plano de Ma nejo , total izando 43%. Sem con t ar
aqueles que já passaram do prazo lega l de revisão total izando 31, todos elaborados ent re
as décadas de 60, 70, 80 e 90 .
A meta atua l do ICMB io, publicada pela Portaria n.º 287 /20 14, busca um percen tua l
estabelec ido em 48% para ser alcançado até 1° de j ulho de 2015.
5.3 CONSELHOSGESTORES
Os Conselhos podem ser por vezes deliberativos, noutras, apenas consulti vos, tudo
dependerá do gr upo de proteção em que estiver inserida a categor ia de UC.
O art. 29 da Lei do SNUC obr iga, em pr ime ira mão , q ue as UCs de Proteção
Integ ral disponham de um Consel ho Consu ltivo, presid ido pelo órgão responsável por sua
adm in istração e const it uído por representan t es de órgãos púb licos, de organizações da
sociedade civil. Aten t e-se que, nesses casos, o conse lho será consultivo , isto é, que não
delibera, apenas op ina.
Para o caso das UCs de Uso Sustentáve l, o SNUC estabe lece que as Florestas
Nacionais (FLONAS) d ispon ham de Conselhos Consu lt ivos e que as Reservas Extrat ivistas
(RESEX) e Reservas de Desenvolvimento Sust entáve l (RDS) disponham de Conselhos
• E 15
Deliberativos. Quanto às Áreas de ProteçãoAmbienta (APAs),o SNUC não estabelece qual
natureza terão seus Conselhos, como também , não exige Conselhos para as categorias
Área de Relevante Int eresse Ecológico (ARIE), ReservaPart icular do Patrimônio Natural
(RPPN)e Reservade Fauna.
Em resumo, a Figu ra 9 apresenta a sit uação dos conselhos por categorias de Unidades
de Conservação:
ffo:u.n! it.:Cooú ,
ParqueNatiõ'lal Rese
rva Estação Monume
nto Refúgio deVida -:mdu4i,
Bioló~ca E<Q
lógka Nahl
ral Silv,stre M:lni$ S$·~
cüuinis
.ilieade Res!N!:
Áreasde Relevante Reserva
de Partirulardo
Prot~âo
lnieresse Fauna Patrimênio
Ambiental
Ambiental Nab.Jral
76 L é 11
• Representação da sociedade civil: comun idade científi ca, organ izações não -
gove rnamenta is amb ienta listas com atuação comp rovada na região da unidade,
popu lação residente e do entor no, população t rad iciona l, prop rietários de
imó veis no int erio r da unid ade, traba lhad ores e set or privado atuantes na
região e represent antes dos Com itês de Bacia Hid rog ráfi ca.
• Elabo rar o regimento inte rno (90 dias, contados da sua instalação);
• Ava liar: orçamento da UC + relatór io fina nceiro anual em relação aos objet ivos
da un idade de conservação;
• Op inar (se consulti vo), ou rat ificar (se deliberativo): na contratação e nos
dispositivos do termo de parceria com 0SCIP30 (gestão compart ilhad a da
unida de), bem como acompanha r a gestão e recome ndar event ual rescisão do
termo de parceria;
• Man ifestar -se: sobre obra ou ativ idade potenc ialmente causado ra de im pacto
na UC, ZA, Mosa icos ou Corredores Ecológ icos; e
• Propor: diretr izes e ações = compatib ilizar, integ rar e ot imizar a relação com a
po pulação do ento rno ou do interio r da unidade.
Para que possam ating ir seu objet ivo como espaço democrático de construção
de consensos e gestão de confl itos, ao serem formados, os Conselhos Gestores devem
procurar garan t ir o respeito aos segu intes pr incípios (Quadro 1O - Princípios no rteado res
da f ormação dos Conselhos):
E 17
Quadro 10 - Princípiosnorteadores da formação dos Conselhos
Legalidade Conselho deve estar amparado por instrumento legal que descreva sua composição e
f inalidade, e deve ser formado por institu ições legalmente constitu ídas (CNPJ, estatuto,
diretoria, etc.)
=========
Legitimidade Os Conselheios devem ser representantes legítimos de suas instituições, ou seja, deve ser
escolhidos e nomeados forma lmente pela instituição, para que possam representa-la junto
ao Conselho
Representatividade A composição do Conselho deve ser representativa, ou seja, deve conter a diversidade
dos setores da sociedade que atuam na região da UC representada nas inst ituições que
compõem o Conselho
~=========:
Paridade SNUC faz referência à paridade entre institu ições governamentais e não governamenta is,
mas deve buscar-se, também, a paridade entre setores na composição do Conselho
Fonte:Adaptado de SILVA,2007.
78 L é 11
PARTEIli
DASUNIDADES
GESTÃO DE
-
CONSERVAÇAO
• E 79
6 CONTROLE E FISCALIZAÇAO
-
Para uma me lhor comp reensão, sugere -se averiguar o conteúdo do Quad ro 12,
onde estão apresentadas, sintet icamente , as categorias de Un idades de Conservação e
suas respect ivas características quanto às restrições de uso e ocupação.
80 L é 11
amb ienta l com at ribu ição para tanto. Logo, mu ito embora sejam admi t idas pro pr iedades
privadas no interio r de algumas UCs, compet irá ao gesto r3 1 da unidade a fiscali zação e o
contro le das atividades desenvo lvidas em seu t erritór io.
Poderão haver casos em que a manu tenção de propr iedades privadas se tornem
incompatíveis com os objetivos de conservação da UC, mu itas vezes pelo fa to de que a
manutenção de determinadas at ividades huma nas demonstre-se prejud icial e confronte
com os obje ti vos de conservação, opor t un idade em que será necessária uma aná lise sobre
eventua l interd ição do uso da propr iedade o u desaprop riação indireta.
Quanto à EXPLORAÇÃOCOMERCIAL:
Nas Unidades de Conservação de Uso Sustent ável em que é perm it ida a exploração
come rcial de produtos e subp rod ut os nat urais, tal at ividade deve observar as diretr izes
e lim ites estabe lecidos no Plano de Mane jo e em contratos de concessão de di reit o real
de uso (art. 23, Lei do SNUC) que por ventura t enham sido firma dos. Até que sejam
elabo rados t ais documen t os, fi ca assegurada às popu lações t radiciona is as cond ições e
os meios necessários para a satisfação de suas necessidades materia is, sociais e cultura is,
conforme depreende-se do inciso X, do art. 5°, da Lei do SNUC, assim redigido: "[ ... ] X -
garantam às popu lações trad iciona is cuja subsistênc ia depe nda da uti lização de recursos
natu rais existentes no int erior das unidades de conservação me ios de subsistênc ia
alternat ivos ou a jus ta inden ização pelos recursos perd idos[ ...]".
Recenteme nte, a Resolução CONAM A n.º 42 8/201 O estabe leceu diretrizes para
o licenc iamento de at ividades e empreendimentos que possam causar prejuízos às
• E 11
unidades de conservação ou as suasZonas de Amortec imento. Dessemodo, a fiscalização
e cont role das atividades e empreendimentos localizados no ento rno de uma Unidade
de Conservação t ambém competirá ao órgão gestor da unidade, que deverá lavrar auto
de infração, impedindo a contin uidade e propagação da conduta danosa, impondo ao
agente as devidas sançõesadministrativas previstas no Decreto que regulamenta a Lei de
Crimes e Infrações Amb ientais - Lei n.º 9.605/1998, sem excluir a competência comum
dos demais Entes da Federação.
A Resolução CONAMA n.º 13/199 0 estabelecia que nas áreas circundantes das Unidades de Conservação, num raio
de 1O (dez) quilômetros, qualquer atividade que pudesse afetar a biota, deveria ser obr igator iamente licenciada
pelo órgão ambiental competente, mediante autorização do responsável pela unidade . Entretanto, a Resolução
CONAMA n.º 428/201 O, revogando a ante rior, estabeleceu novas diret rizes para o licenciamento de atividades e
empreendimentos no entorno das Unidades de Conservação, vinculandoà ciênciae/ou autorizaçãodo órgão
gestor para as situaçõesem que exista impactosobreseu território ou Zona de Amortecimento.
No caso das Unidades de Conservação em que não esteja definida a Zona de Amortecimento, a Resolução estabelece
como tal, a títu lo provisório, por um período de cinco anos a contar da sua data de publicação, faixas de 2 (dois) ou
3 (três) q uilômetros para a necessidade de ciência do órgão licenciadore/ou autorizaçãodo órgão gestor.
A dife rença ent re a ciência e a auto rização dependerá do grau de impacto a ser causado pela at ividade ou
empreendimento objeto do licenciamento, isto é, se for caso de EIA/RIMA (significativa degradação ambienta l,
conforme o rol da Resolução CONAMA n.º 01/1986), o gestor dará auto rização. caso cont rário, simplesmente
receberá ciência do ógão licenciador. Quando se tratar de RPPNas manifestações caberão ao proprietá rio ou gestor
contratado.
82 L é 11
6.1 OPORTUI\JIDADESDE ATUAÇAO DO MIN 15TERIO PUBLICO
7 CONSOLIDAÇÃO TERRITORIAL
E 83
inden ização das popu lações ating idas pela criação da Unidade de Conservação. Isso pode
m inimizar poster iores confl itos e disputas jud iciais, os qua is po dem atrasar/pre jud icar a
imp lantação da un idade.
Em 2009, por meio da IN n.º 02, o ICMB io pub licou regra que passou a regu lar
os proced imentos técn icos e adm inistrat ivos para a inden ização de benfe itor ias e
desaprop riação de imóve is rurais loca lizados em Unidades de Conservação federais de
domínio púb lico.
Sem penar em esgotar o tema, mas delineando traços gerais da refer ida norma ti va,
tem -se que as desapropr iações dos imóveis rurais e as ind enizações das benfe itor ias
ident ificadas serão precedidas de processo adm inistrativo instaurado de ofíc io ou a ped ido
do interessado. As etapas consist em na instrução, na aná lise técnico -j urídica, na avaliação,
para, ou ind enizar, ou propor a competen te ação j ud icial. (arts. 3° e 4°).
Objet ivando fac ilit ar ao gestor, o IC MBio elaborou uma cart ilha int itulada
"Regular ização Fund iária de Unidades de Conservação Federa is" 32 • Trata-se de norma ti va
federa l, podendo ser adap t ada para os sistemas estadua is e mun icipais de UCs.
Como possibilidade alternat iva de inst rumento para contr ibuir com a conso lidação
territoria l, importa fazer constar, que a nova Lei Floresta l (Lei n .º 12.651/2012) inovou
quando previu a possibilidade de compensar a Reserva Legal por me io da "doação ao
poder púb lico de área loca lizada no interio r de Unidade de Conservação de domín io
púb lico pendente de regula rização fund iária" (art. 66, § 5°, 111).
84 L é 11
Mu ito embora as popu lações trad icionais tenham sido previstas e tratadas, tan to
na Lei do SNUC, quan t o em seu regulamento, não foram, por ta is normas, sequer
conce ituadas.
A lguma confusão poder ia pairar, uma vez que, além de não conce ituar, a Lei
do SNUC valia-se de duas expressões semelhantes para denom inar situações distin tas:
"Populações Locais" (art. 5°, V e IX) e "Popu lações Tradicionais" (art. 4°, XIII, art. 5°, X,
art. 17, § 2°, art. 20, §§ 2° e 3°, arts. 23, 29, 32, 42 e parágrafos). Entende -se que, ao
referir as prime iras, está a t ratar da popu lação em geral , habitantes norma is, corr iq ueiros,
por vezes sem qua lquer vínculo com o territór io, norma lmente prop riet ários, que estão
habitantes no inter ior da poligonal da Área Protegida. Já, ao refer ir as t rad iciona is, está
a tratar daque la popu lação que já existe na área antes mesmo da sua criação e que
sua habitab ilidade e t rocas cultura is já perdu ram gerações . Esta deve ser considerada
uma import ante dist inção a ser feita quando o inté rpr ete se vê defron t ado com tal
situação, isto é, deve ser colhida a prova da ant ecedênc ia geracio nal, fazendo -se evitar,
o que Machado (2001, p. 261)chama de " indúst ria das inden izações", isso para o caso
de eventual população recém chegada de fora toma r como opor t un idade de negóc io
fazendo -se passar por "trad iciona l", benefic iando -se, assim, com eventual inden ização.
Pela Lei do SNUC, se as popu lações tradic ionais não puderem permanecer no
local, por imposição legal, deverão ser ind enizadas ou compensadas por suas benfe itor ias
E 85
e realocadas pelo Poder Público em local acordado entre as partes (art. 42, da Lei do
SNUC). O cuidado com as popu lações t radicionais é mu ito aparente na Lei do SNUC. Sua
subsistência, valorização do conhec imento tradicional e promoção social e econôm ica (4°,
XIII) integ ram os objet ivos do sistema, como também, está garant ido o planejamen to de
me ios de subsistência alternativos ou just a inden ização, quando sua subsist ência dependa
dos recursos natura is da UC e sua permanênc ia seja impossível (art. 5°, X).
Art. 42 [Omissis]
§ 2° Até que seja possível efetuar o reasse
ntamento de que trata este artigo,
serão estabelecidas normas e ações específicas destinadas a compatibilizar a
presençadas populaçõestradicionais residentes com os objetivos da unidade,
sem prejuizo dos modos de vida, das fontes de subsistência e dos locais de
moradia destas populações,assegurando-se a sua participação na elaboração
das referidasnormase ações.
No entanto, at é o presente mome nto, não foi ded icado instrumento normat ivo
específi co para ajustar a situação das popu lações t rad icionais que habitam UC de
Proteção Int egral, cuja permanência é pro ibida. Enquant o isso, confo rme previsão do art.
39 do Dec. 4 .340/2002, a situação pode ser regu larizada por meio de um Termo de
Comprom isso, negoc iado entr e o órgão execut or e as popu lações tradicionais at ingidas,
ouv ido o conselho da UC. Para tanto, regras foram estabelecidas e devem consta r do
instr umento, veja-se a Fig ura 12:
86 L é 11
Figura 12 - Regras e condições para o Termo de Compromisso com a População Tradicional.
1nr111.ar
a. arpas o ·,,panas
statu~ (IP • • ••
Termo de Compromisso
Art. 39, §§§§ 19, 29, 32, 49, Lei
SNUC
Em contr ibuição às garantias dos povos e comun idades trad icionais, importa
referir que a sua Polít ica Nacional de Desenvolvimento Sustentável (PNPCT),instituída
pelo Dec. n.º 6.040/2007, assegura-lhes o territór io e o acesso aos recursos naturais que
tradiciona lmente utilizam para a sua reprodução física, cult ural e econômica (art. 3° do
anexo único). A PNPCT orient a-se e implementa-se por meio dos Planos de Desenvolviment o
Sustentável dos Povose Comunidades Tradicionais,consistent es em um conj unto de ações
de curto, médio e longo prazo, elaboradas com o fim de implementar, nas diferentes
esferas de governo, os princípios e os objetivos estabelecidos por sua polít ica norteadora
(art. 5° do anexo único).
E 87
-
PARTICULARIDADE PARA AS POPULAÇOES TRADICIONAIS DAS RESEX E RDS:
1. A posse e o uso das áreas ocupadas serão regulados por contrato de concessão
de direito real de uso
88 L é 11
Polícia. Talvez não só ti m idez, mas também (o)pressão diante da impos ição de regras à
propr iedade privada não inden izada.
No entanto, não deve esmoecer de sua atr ibu ição, po is incumb ida pela própria
Carta Const it uciona l, const ituindo -se num dever da Adm inistração Pública a im plant ação
e a efet iva proteção das Unidades de Conservação, de modo a pro ibir e imped ir a
deter ioração dos atributos que justi fi cam sua proteção. Equ ivocado est á o entend imento
de que a imp ossibilidade momentânea da consolidação territo rial possa obstacu lizar a
fiscalização e afastar as lim itações adm inistrativas sobre o bem conservado, mesmo que
incidente sobre propriedade privada. Tampouco deve ser aceita, ou não comba ti da, a
arg ument ação no sent ido de que as UCs não desapropr iadas no prazo legal do Dec.
n.º 3.365/1941 teria sucumb ido à prescrição, caducando, j untamente com o ato que as
declarou de ut ilida de púb lica, a prot eção amb ienta l incidente sobre a área.
E 89
Sob pena de ferir o princípio da proibição de proteção deficiente ao meio
ambiente ecologicamente protegido, nos termos do Art. 225, 1°, inciso li da
CF/1988, é defensável a tese de que os instrumentos que declaram as áreas
de UCs como de utilidade pública ou interesse social para fins de proteção
ambiental não caducam, pois não alcançados pela prescrição decadencial. O
interesse de agir do MP nesses casos, como custos legis, está garantido em face
dos valores jurídicos de índole coletiva-intergeracional envolvidos na demanda
fundado na natureza da lide 4
A lguns d isposit ivos lega is também corroboram nesse senti do. Veja-se, por exemp lo,
o texto do art. 66, § 5°, Ili da nova Lei Flo restal ( Lei n.º 12.65 1/2012), que perm ite, na
forma da compe nsação, a regu larização da área de Reserva Legal que esteja aquém do
mín imo lega l, po r me io da doação ao pode r púb lico de área loca lizada no inte rio r de
Unid ade de Conservação de dom ínio públ ico pendent e de regu larização fundiár ia. Por
sua vez, a regu larização f undiária do território das Unidades de Conservação não está
alcançada pelos prazos gerais decadenc iais, e pode se dar" de forma pau lat ina no tempo".
A inda, há uma nít ida difere nça entre as desap ropr iações previstas pelo Decreto -lei nº
3365/1941 e pela Lei n.º 9.985/2000 , enq uant o que o art. 1O do pr ime iro o rdena que "a
desap ropriação deverá efeti var-se med iant e acordo ou inten tar-se jud icialmente, den t ro
de cinco anos, conta dos da data da expedição do respect ivo decret o e findos os quais
este caducar" , o art. 11, § 1° da segu nda apenas o rdena q ue [ ...] "as áreas part iculares
in cluídas em seus limit es serão desaprop riadas, de acordo com o que dispõe a lei "
(grifados) (A LM EIDA, 201 4).
Tanto a dout rina, quanto a ju rispru dênc ia vem evo luind o no sent ido de que a
im posição const it ucional ao Poder Público de defesa e prot eção do me io amb ient e não
deve im port ar em indenização por consequê ncia das limit ações adm inistrat ivas impostas
à prop riedade privada inserida no int erio r de UC não desaprop riada (LEUZINGER, 2002, p .
20) . Em dec isão relat ivame nt e recente do STJ33 o Min . Humbe rt o Mart ins, relato r, assent ou
sua posição no sent ido de que
90 L é 11
existe independentemen te da criação de qualquer Unidade de Conservação,
inclusive ParqueNacional.
34 BRAS
IL.STJ. REsp
. n.º 1.071.741 - SP,2008/0146043-5, julgado em 24.03.2009.
E 91
anos, conforme preceit ua o art. 1O, parágrafo único, do Decreto-Lei n .º 3.365/194 1.
Herman Benjami n
92 L é 11
Mu itas vezes a atuação do Poder Público rest ringe -se a lavrar o Auto de Infr ação e
o consequente Termo de Interdição e encam inhá-los ao M inistério Público, esperando por
inicia tiva desse, a tomada da providênc ia defi nit iva.
Em recente j ulgado do STJ em sede do REsp n.º 1.07 1.741 -SP,de lavra do Mi n.
Herma n Benjamin, ju lgado em 24 .03 .2009, extra i-se trecho interessante sobre a omissão
do Poder Público no exercício da sua f unção de adminis t rado r, senão veja-se:
O Est ado deve util iza-se dos inst rumentos ao seu dispor, e, dentre eles, está a
Ação Civil Pública, por tanto, não basta somen te com un icar o M inistério Público do dano
ocorr ido , deve, out rossim, aj uizar, pela sua própria força, a deman da, sob pena de incorrer
em crime amb ienta l e, solidariamen te 36 , se ver obr igado a reparar o dano, conforme
adiant e se verá.
* A falta de agir do Estado leva-o à omissão. A premissa tem base legal sólida e
consolidada, fundada, na própria CF/1988, arts. 225, 23, VI e VII, e 170, VI, na Lei
n.º 6.938/1981, arts. 2°, 1 e V, e 6° e na Lei 9.605/1998, art. 70, § §1º e 3°.
E 93
7.3 OPORTUI\JIDADESDE ATUAÇAO DO MIN 15TERIO PUBLICO
8 USO PÚBLICO
Pesquisacientífica e visitação
ReservaBiológic
a (PI) Público públ ica apenas com Não
fina lidade educaciona l
94 L é 11
Categoria Domínio Uso Público ExploraçãoEconômica
Parque(Nacional,
Visitação educacional,
Estadualou Municipal) Público Ativ idades tur íst icas
pesquisa cient ífica e turismo
(PI)
Ativ idades tur ísticas e nas
Público ou prop riedades privadas desde que
Monumento Natural (PI) Visitação e turismo
privado* compatível com os objetivos de
conervação
* 1 Segundo art. 15, § 4°, Lei do SNUC, nas áreas sob propriedade privada, caberá ao proprietário
estabelecer as condições para pesquisa e visitaçãopública, observadasas exigênciase restrições legais.
Destaca-se que o zoneamento e planejamento das at ividades de uso púb lico devem
ser objeto de análise do Plano de Mane jo, especialmente nas Unid ades de Co nservação
da categor ia Parque (Naciona l, Estadual o u M uni cipal) que possuem ent re seus objet ivos
de conservação a recreação em con t ato com a nat ureza e o tu rismo eco lóg ico . Da mesma
fo rma, é ob rigação do gesto r púb lico oferecer cond ições e oportun idades para at ividades
de educação amb ient al.
Em recente pub licação, o Inst it uto Semeia (2014) divulgou algu ns núme ros que
o uso púb lico pode ria gerar a partir de uma gestão ma is efic iente das Unidades de
Co nservação. A avaliação part iu de dois cenários: (1) se as UCs menos ef icazes viessem
a alcançar os pad rões das mais efi cazes e (2) se o Brasil ado tasse as med idas necessárias
E 95
-•
•
.. -.....
96 L é 11
adequadamente explorado, cercade 20 milhõesde pessoasvisitarão essasáreas
em 2016, com um impacto econômico potencial de cerca de R$ 2,2 bilhões
naquele ano.
• Cobrança dos órgãos gesto res qua nto à efeti vação do uso
púb lico nas unidades de conservação q ue o adm itam ,
especialme nte nas de catego ri a Parque (Nacional, Estadual
ou Mun icipal.
• Acom panhame nto e fis calização do uso públ ico nas
unidades de conservação, o bservando o dispost o nos
Planos de Manejo.
9 RECURSOS FINANCEIROS
E 97
financeiros para que, uma vez criadas, as Unidades de Conservaçãopossam ser geridas de
forma eficaz e atender aos seusobj etivos. Logo, os Planos de Manejo deveriam contemplar
a defini ção dos custos ref erent es às at ividades necessárias para a implementação e gest ão
das Unidades de Conservação, possibilit ando o estabeleciment o do orçamento mínimo
necessário para a administ ração das unidades. A ausência de recursos fin anceiros para a
gestão das unidades de conservação impede um efetivo controle e fiscalização, além de
impedir a implantação das medidas necessárias para alcançar os objet ivos de conservação.
Quadro 13 - Recurso
s Financeiro
s.
Recursos
Origem Montante Gestão Aplicação
Financeiro
s
Montan te a
ser definido de
acordo com
Recursos oriundos do .
as diretrizes e
orçamento do órgão De acordo com a legislação
Recursos atividad es de
gestor e/ou Fundos Órgão gestor pertinente à gestão de recursos
Orçamentários planeja mento,
(art. 5°, XI. Lei do públicos .
considerando a
SNUC).
disponibilidade
ou não de out ros
recursos.
98 L é 11
Recursos
Origem Montante Gestão Aplicação
Deve seguir a seguinte prioridade
(art. 33 do Dec. n.º 4.340/2002:
1 - regularização fu ndiária e
dema rcação;
li - elabo ração, revisão o u
implantação de plano de manejo;
li - aquisição de bens e serviços
necessários à im plantação,
gestão, mo nitoramento
e proteção da un idade,
com preendendo sua área de
amo rtecime nto;
IV - desenvolvimento de estudos
Montante necessários à criação de nova
defin ido a partir unidade de co nservação;
do valor do V - desenvolvimento de pesquisas
empreend imento necessárias para o manejo da
e seu grau de unidade de conservação e área
Recursos or iundos impacto. A Câma ra de de amort ecimento.
da compensação disponibilidade Compensação
ambienta l de estará Am bienta l, OBS.: Nos casos de RPPN,
Medidas
vinculada ao
Compensatórias empreendimentos que condic ionada Monu m ento Natural, Refúg io de
causem ou possam à instalação de órgão gestor Vida Silvestre, Á rea de Relevante
causar significat ivo empreendimentos (art. 32 do Interesse Ecológico e APA,
impacto ambienta l de significat ivo Dec. n.º quando a posse e o do m ínio
(art. 36, Lei do SNUC). impacto 4 340/2002). não sejam do Poder Público,
ambienta l (art. 36 os recursos da com pensação
da Lei do SNUC e somente poderão ser aplicados
arts . 31, 31-A e para custear as seguintes
31-B do Dec. n.º at ividades (§ único):
4 340/2002)
1-elaboração do Plano de
Manejo ou nas atividades de
proteção da unidade;
li - realização das pesquisas
necessárias para o manejo
da unidade, sendo vedada
a aqu isição de bens e
equ ipamentos permanentes;
Ili - implantação de programas de
educação ambien ta l;
IV - financ iam ento de estudos de
viabilidade econômica para uso
sustentável dos recursos natu rais
da unidade afetada.
E 99
Recursos
Origem Montante Gestão Aplicação
Recursos o riundos da
exploração comercial
de produtos,
subprodutos ou
serviços obtidos
ou desenvolvidos a
Montante dos Nas un idades de conservação de
partir dos recursos proteção integ ral (art. 35 da Lei
natu rais, biológicos, recursos de
acordo com do SNUC)
cênicos ou cultu rais
estudos de 1- 25 % a 50%, na
ou da exploração da
Exploração imagem de unid ade viabilidade implementação, ma nuten ção e
Econômica de conservação (art . econôm ica e gestão da pró pria unidade;
Comercial 33 da Lei do SNUC).
investimentos li - 25% a 50 %, na regularização
Órgão Gesto r
*(não aplicável elabo rados pelo fund iária das un idades de
para APAe órgão executor, conservação do Grupo;
RPPN) * nas Reservas ouvido o conselho Ili - 15% a 50%, na
Extrativistas e de da unidade (art . implementação, ma nuten ção
Desenvolvimento 29 do Dec. n.º
e gestão de outras unida des
Sustentável a posse 4 .340/2 002).
de conservação do Grupo de
e o uso das áreas
pelas popu lações Proteção Integ ral.
tradido nais se dará
mediante contrato de
concessão de dire ito
real de uso (art . 23 da
Lei do SNUC).
Recursos de qualque r
nature za provenientes
de doações nacionais Montan te e
o u inter nacionais, disponibilidade
Exclusivamente na imp lantação,
com ou sem encargos, dos recursos
Doações provenientes de de acordo com
Órgão Gestor gestão e manutenção das
un idades de conservação.
o rgan izações privadas a vontade dos
ou púb licas o u de doado res.
pessoas físicas (art. 34
da Lei do SNUC).
Recursos or iundos Montan te dos
da proteção recursos de
pro porcionada acordo com
pela unidade de estudos de
conservação aos viabilidade
recursos hídr icos econôm ica e
Pagamento e/ou instalações investimentos Proteção e imp lantação das
por Serviços de empresas de elabo rados pelo
Órgão Gesto r
un idades de conservação.
Ambientais abastecimento de órgão executor,
água e de geração ouvido o conselho
e transm issão de da un idade (art.
energia elétrica; 29 do Dec. n.º
(arts. 47 e 48 da Lei 4340 /2002) .
do SNUC).
100 L é 11
9.1 COMPENSAÇAOAMBIENTAL
A Lei do SNUC estabe lece em seu art igo 36 que nos casos de licenciam ento
amb ienta l de empreend imentos de sign ifi cati vo impacto ambie nt al, assim considerado
pelo órgão amb ient al compe tente, com f undamento em EIA/RIMA 37 , o empreendedo r é
obr igado a apo iar a imp lantação e manutenção de Unidade de Conservação do Grupo de
Proteção Integ ral. No regulame nto da Lei do SNUC é defin ida metodolog ia para o cálculo
da compensação ambien tal, baseada no valor do emp reend imento e em seu grau de
impact o amb ienta l38 .
Sua natureza j uríd ica não deve ser entend ida como a de um tr ibuto, po is sua origem
diverge de como são instituídos os tr ibutos. Sua or igem no ordenamento normat ivo se
deu com a Resolução CONAMA n .º 10/1987, como uma das med idas compensatórias ou
condic ionantes que são determ inadas no licenciamento ambie nta l de empreend imentos
capazes de causar sign ifi cat ivo impacto amb iental negativo não miti gáveis por med idas de
preve nção e correção previstas no processo de licenciamento.
Aba ixo segue transcr ito o texto que primeiro previu a compensação ambiental
quando da pub licação da Lei do SNUC. Segundo ta l dispos itivo, o montante a ser dest inado
à Unidade de Conservação contemp lada não pod ia ser inf erio r a 0,5% dos custos tota is
para a imp lantação do empreend iment o em vias de licenciamen t o amb ienta l, conforme
se vê a seguir:
37 A exigênciaparaa realizaçãodo EINRIMA é estabelecidaprimeiro pela Lei Federal n.º 6.938 de 1981 (Lei
da PNMA) e posteriormente, pelasResoluções CONAMAn.ºs 237 de 1997, art. 3° e 01 de 1986, que
exemplifica rol e porte de atividadescausadoras de significativa degradação ambiental, ambasainda em
vigência, consagradas, ademais,pelaCF/1988, que em seu art. 225, § 1º, inciso IVconfirmou e reforçou
a idéia da realizaçãodo EINRIMA para o caso de instalaçãode obra ou atividade potencialmente
causadora de significativa degradaçãoambiental.
38 Em nível federal, algunsinstrumentos normativosforam previstos para melhor detalhar a aplicaçãoda
compensação ambiental, são eles: Decreto 6.848/2009 (procede alteraçõesno Dec. n.º 4.340/2002),
Portaria MMA n.º 416/2010 (cria a camara Federal de Compensação Ambiental-CFCA ), Portaria
225/2011 (Comitê de Compensac,ão Ambiental Federal-CCAF), IN IBAMA 08/2011. É importante
averiguarquais as normasexistentes nos Estados.
E 101
relatório - EINRIMA, o empreendedor é obrigado a apoiar a implantacão e
manutencão de unidade de conservacãodo Grupo de Protecão Integral,
de acordocom o dispostoneste artigo e no regulamento desta Lei. (grifado)
§ 1° O montante de recursos a ser destinado pelo empreendedor para esta
finalidade não pode ser inferior a meio por cento dos custostotais previstos
para a implantacão do empreendimento, sendo o percentual fixado pelo
órgão ambiental licenciador, de acordo com o grau de impacto ambiental
causadopelo empreendimento. (Vide ADIN n.º 3.378-6, de 2008) (grifado)
§ 2° Ao órgãoambiental licenciador competedefinir asunidadesde conservação
a serem beneficiadas, considerando as propostas apresentadasno EINRIMA e
ouvido o empreendedor,podendo inclusive ser contemplada a criaçãode novas
unidadesde conservação.
§ 3° Quando o empreendime nto afetar unidade de conservacãoespecífica
ou sua zona de amortecimento, o licenciamento a que se refereo caput deste
artigo só poderá ser concedidomediante autorizacão do órgão responsável
por sua administracão, e a unidade afetada, mesmoque não pertencente
ao Grupo de Protecão Integral, deverá ser uma das beneficiárias da
compensacãodefinida neste artigo. (grifado)
Em 2008, o disposit ivo acima sofre u contro le de const it ucio nalida de através da
ADI n .º 3378/DF 39 , requerida pela Confederação Naciona l da Indústr ia (CNI) contra o
President e da República e Congresso Nacional, no âmbi t o do Supremo Tribu nal Federal
(STF) por envo lver matéria afeta a Const it uição Federal. O pleito envo lveu o art. 36 e seus
parág rafos, sob a alegação de inconst itucionalidade . Todavia, o julgamento considerou
que havia sim inconstitucio nalidade, porém parcial, apenas no tocante à seguinte
expressão: "não pode ser inf erior a meio por cento dos custos totais previsto s para a
im plantação do empreend iment o" (art. 36, § 1º , da Lei nº 9 .985/2000 ). A partir daí, o
valor da compensação deve ser fixado proporcionalmente ao impacto ambiental,
após realização de estudo em que seja assegurado o contraditório e a ampla
defesa. Outrossim, exaltou a medida como sendo um incremento ao princípio do
usuário-pagador.
Por conseguinte, a ordem jud icial refl et iu alterações no o rdename nto legal inter no,
de tal sorte que o Decreto n .º 4.340 de 2000 (regu lamento da Lei do SNUC) sof reu
altera ções pelo Decreto n .º 6.848/2009, in verbis:
Art. 31 Para os fins de fixação da compensaçãoambiental de que trata o art. 36
da Lei no 9.985, de 2000, o Instituto Brasileiro do Meio Ambientee dos Recursos
Naturais Renováveis - IBAMA estabeleceráo grau de impacto a partir de estudo
prévio de impacto ambiental e respectivo relatório - EINRIMA, ocasiãoem que
considerará, exclusivamente, os impactos ambientais negativos sobre o meio
ambiente. (Redaçãodada pelo Decreto n.º 6.848, de 2009). (grifado)
§ 1° O impacto causado será levado em conta apenas uma vez no cálculo.
(Incluído pelo Decreto n.º 6.848, de 2009)
102 L é 11
§ 2° O cálculo deverá conter os indicadores do impacto gerado pelo
empreendimento e das características do ambiente a ser impactado. (Incluído
pelo Decreto n.º 6.848, de 2009)
§ 3° Não serão incluídosno cálculo da compensaçãoambiental os investimentos
referentes aos planos, projetos e programas exigidos no procedimento de
licenciamentoambiental para mitigação de impactos, bem como os encargos
e custos incidentes sobre o financiamento do empreendimento, inclusive os
relativos às garantias, e os custoscom apólicese prêmios de seguros pessoais e
reais.(Incluído pelo Decreto n.º 6.848, de 2009)
§ 4° A compensaçãoambiental poderá incidir sobre cada trecho, naqueles
empreendimentos em que for emitida a licença de instalaçãopor trecho. (Incluído
pelo Decreto n.º 6.848, de 2009)
Art. 31-A O Valor da CompensaçãoAmbiental - CA serácalculado pelo produto
do Grau de Impacto - GI com o Valor de Referência - VR, de acordo com a
fórmula a seguir: (Incluído pelo Decreto no 6.848, de 2009)
CA = VR x GI, onde: (Incluído pelo Decreton.º 6.848, de 2009) CA = Valor da
Compensação Ambiental; (Incluído pelo Decreto no 6.848, de 2009)
VR = somatório dos investimentos necessá rios para implantação do
empreendimento, não incluídosos investimentos referentes aosplanos,projetos
e programas exigidos no procedimento de licenciamento ambiental para
mitigação de impactoscausadospelo empreendimento, bem como os encargos
e custos incidentes sobre o financiamento do empreendimento, inclusive os
relativos às garantias, e os custoscom apólicese prêmios de seguros pessoais e
reais;e (Incluído pelo Decreton.º 6.848, de 2009)
GI = Grau de Impacto nos ecossistemas, podendo atingir valores de O a 0,5%.
(Incluído pelo Decreto n.º 6.848, de 2009)
§ 1º O GI referido neste artigo será obtido conforme o disposto no Anexo deste
Decreto. (Incluído pelo Decreto n.º 6.848, de 2009)
§ 2° O EINRIMA deverá conter as informaçõesnecessár ias ao cálculo do GI.
(Incluído pelo Decreto n.º 6.848, de 2009)
§ 3° As informaçõesnecessár ias ao calculo do VRdeverão serapresentadaspelo
empreendedorao órgão licenciador antes da emissãoda licença de instalação.
(Incluído pelo Decreto no 6.848, de 2009)
§ 4° Nos casosem que a compensaçãoambiental incidir sobre cada trecho do
empreendimento, o VR serácalculadocom basenos investimentos que causam
impactos ambientais, relativos ao trecho. (Incluído pelo Decreto n.º 6.848, de
2009)
Art. 31-B Caberáao IBAMA realizar o cálculo da compensaçãoambiental de
acordo com as informaçõesa que se refere o art. 31-A. (Incluído pelo Decreto
n.º 6.848, de 2009)
§ 1º Da decisão do cálculo da compensaçãoambientalcaberárecurso no prazo
de dez dias, conforme regulamentação a ser definida pelo órgão licenciador.
(Incluído pelo Decreto no 6.848, de 2009)
§ 2° O recurso serádirigido à autoridade que proferiu a decisão, a qual, senão
a reconsiderar no prazo de cinco dias, o encaminhará à autoridade superior.
(Incluído pelo Decreto n.º 6.848, de 2009)
§ 3° O órgão licenciador deverájulgaro recurso no prazode até trinta dias,salvo
prorrogaçãopor igual período expressame nte motivada. (Incluídopelo Decreto
n.º 6.848, de 2009)
§ 4° Fixado em caráter final o valor da compensação,o IBAMA definirá sua
destinação,ouvido o Instituto ChicoMendesde Conservaçãoda Biodiversidade-
Instituto ChicoMendes e observadoo§ 2° do art. 36 da Lei n.º 9.985, de 2000.
(Incluído pelo Decreto no 6.848, de 2009)
Art. 32 Será instituída c/lmara de compensaçãoambiental no âmbito do
Ministério do Meio Ambiente, com a finalidadede: (Redaçãodada pelo Decreto
n.º 6.848, de 2009)
E 103
1- estabelece r prioridadese diretrizesparaaplicaçãoda compensaçãoambiental;
(Incluído pelo Decreto no 6.848, de 2009)
li - avaliare auditar,periodicamente, a metodologia e osprocedimentos de cálculo
da compensaçãoambiental, de acordo com estudos ambientais realizados e
percentuaisdefinidos; (Incluído pelo Decretono 6.848, de 2009)
Ili - propor diretrizes necessáriaspara agilizar a regularização fundiária das
unidadesde conservação ; e (Incluído pelo Decreto no 6.848, de 2009)
IV - estabelecer diretrizes para elaboraçãoe implantaçãodos planosde manejo
das unidadesde conservação.
(Incluído pelo Decreto no 6.848, de 2009)
Art. 33 A aplicaçãodos recursosda compensaçãoambiental de que trata o art.
36 da Lei n.º 9.985, de 2000, nas unidadesde conservação,existentesou a
seremcriadas,deveobedecerà seguinteordem de prioridade:
1- regularizaçãofundiária e demarcaçãodasterras;
li - elaboração,revisãoou implantação de plano de manejo;
Ili - aquisiçãode bense serviçosnecessár iosà implantação,gestão,monitoramento
e proteção da unidade,compreendendosua áreade amortecimento;
IV - desenvolvimento de estudos necessá rios à criação de nova unidade de
conservação;e
V - desenvolvimen to de pesquisas necessáriaspara o manejo da unidade de
conservaçãoe áreade amortecimento.
Parágrafo único. Nos casos de ReservaParticular do Patrimônio Natural,
Monumento Natural, Refúgio de Vida Silvestre,Área de Relevante Interesse
Ecológico e Áreade Proteção Ambiental, quando a possee o domínio não sejam
do Poder Público, os recursosda compensaçãosomentepoderão ser aplicados
para custearas seguintes atividades:
1- elaboraçãodo Planode Manejo ou nasatividadesde proteçãoda unidade;
li - realizaçãodaspesquisasnecessárias parao manejo da unidade,sendo vedada
a aquisiçãode bense equipamentos permanentes;
Ili - implantação de programasde educaçãoambiental; e
IV - financiamentode est udosde viabilidadeeconômica para usosustentáveldos
recursos naturaisda unidadeafetada.
Art. 34 Os empreendimentos implantadosantes da edição deste Decreto e em
operaçãosem as respectivas licençasambientais deverãorequerer, no prazo de
doze mesesa partir da publicaçãodesteDecreto,a regularizaçãojunto ao órgão
ambiental competente mediante licença de operaçãocorretiva ou retificadora.
40 É importante checar a legislação estadual pertinente, pois poderá haver outras formas de cálculo
previstas.
104 L é 11
Sob pena de subversões e gastos indevidos de valo res im port antes para a
ma nute nção e imp lantação do sist ema de Unida des de Conservação, o art. 33 do Dec. n .º
4.340/2002 elencou as prio ridades de aplicação dos recursos oriundo s da compensação
amb ienta l, devendo ser obedec ida a o rdem da Figura 15:
Regularizaçãofundiarféle demarcaçãodas
terras.
oesenvoMmento de pesquisasne~rias
para o mane.toda unidade de conservação
e áreadeamortecimento
Essa ordem de prior idades não deve ser aplicada para as UCs pertencentes ao
Grupo de Uso Sustentável, principalmente àque las consti tuí das, no todo ou em parte, por
terras parti culares (parágrafo único do art. 33, do Dec. n.º 4.340/2000). Para esses casos,
a aplicação é mais restr ita, veja- se a Fig ura 16:
E 105
Figura 16 - Ordem de prioridade da compensação ambiental para UC de Uso Sustentável, com
área privada .
Implantação de programas de
educação ambiental
.! L
Financiamerâo de estudos de
v1ab1llcladeeconômk:a para uso
sustentável dos recursos naturais da
unidad e afetada
Com a ed ição da nova Lei Flo restal - Lei n.º 12.651/2012, ma is um destino foi
previsto para a aplicação das verbas compe nsató rias por fo rça do § 6° do art. 41. Segundo
o disposit ivo
Embora o SNUC estabe leça prio ridades para aplicação, a forma de execução das
verbas não estão defi nidas em Lei, t ampouco em seu regulamento. No âmbi t o infralegal,
coube ao ICMB io regulam entar a mat éria por me io da IN n.º 20/2011. Nos seus termos,
fac ulta ao empreendedor opt ar pela "execução por meios próprios, pode ndo , para tant o,
util izar-se de terceiros, inclusive, insti tu ições fina nceiras, preferenc ialmente, ofic iais, ou
ainda deposit ar em contas escritura is de compensação ambie ntal j unto à CAIXA" (art. 11).
Ao optar por meios própr ios, o empreendedor estaria optando pelo méto do de
aplicação d ireto do recurso, caso cont rário, ao optar pelo depós ito , estar ia elegendo a
aplicação indireta.
1Q6 L é 11
As orientações para as duas formas de aplicação est ão previstas nos§§ 1° e 2° da
referida IN, a se ver:
Impor ta refe rir que, para a avaliação do Tribuna l de Contas da União (TCU, 2013 )4 1 ,
Nesse ponto reside uma grande prob lemáti ca, po is destin ar os valores para a
conta ún ica da União (Est ados, Mun icípios ou DF), não parece a me lhor solução, como
E 107
também, não parece legít imo obrigar empresários a se responsabilizarem diretament e
pela execução de atividades incompatíveis com a missão e dinâmica da empresa. Nessa
toada, manifestou-se a Consultoria Legislativa do Senado Federal no sentido de parecer
O assunto cont inua sem defini ção legal, lacuna que incent iva cada órgão executor
do SNUC a agir como melhor lhe convier, uns utilizam-se de fundos particulares, out ros
exigem a aplicação direta dos recursos pelo empreendedor, motivo pelo qual, sugere-se
uma análise apurada sobre qual metodolog ia está sendo prat icada no respectivo Estado.
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possuem parte de seu o
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16 estadosbrasileiros
Ili: possuemlegislação
~ ~ Grossodo Sul,
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R
108 L é 11
2009, a soma total dos recursos distribuídos pelo ICMS Ecológico em virtude da presença
de Unidades de Conservação nos municípios fo i de R$ 402, 7 milhões para 11 estados:
Acre, Amapá, Mato Grosso, Mat o Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco,
Rio de Janeiro, Rondônia, São Paulo e Tocantin s. Para os estados do Ceará, Piauí e Rio
Grande do Sul, os quais possuem legislação mas não disponibilizaram as informações dos
repassesrealizados, o estudo estimou um valor de R$ 76,7 milhões para o ICMS Ecológico
distribuído aos municípios com Unidades de Conservação em seus territór ios.
reúne diversas informações sobre o ICMS Ecológico e as respect ivas legislações estaduais
(MEDEIROSet ai, 2011).
43 THE NATURE CONSERVANCY- TNC. Disponível em: <http://www.t nc.org.br>. Acessoem: 29 nov.
2014 .
• E 109
9.3 OPORTUI\JIDADESDE ATUAÇAO DO MIN 15TERIO PUBLICO
10 LICENCIAMENTO AMBIENTAL
110 L é 11
RIMA, o licenciamento só será possível após a autor ização do gestor da Unidade de
Conservação, o qual se man ifestará dentro do processo de licenciamento ambienta l após
demanda do órgão amb ient al competen t e. Para as dema is at ividades e empreend imentos
é previsto apenas a ciência do responsáve l pela adm inistração da un idade de conservação.
Destaca-se que a competênc ia para o licenciamento ambiental entre os d iferentes entes
da federação está previst a na Lei Complemen tar nº 140/2011 e que cabe aos gestores
das Unidades de Conservação ape nas a autor ização e/ou anuência jun to a processo de
licenciam ento ambiental do órgão amb ienta l competente.
Uma particu laridade deve ser ressaltada quan to à competência para o exercício do
licenciamen to no int erior de UCs. Regra geral, o ó rgão licenciador competen te é sempre
o de mesma hierarqu ia do gestor da UCs. Exceção: o órgão licenciador compe t ente para
as APAs, será aque le que detém a compe tênc ia geral para o exercício do licenciam ento,
podendo ser, inclusive, o Municíp io, caso o impa cto restring ir-se ao âmb ito local, isso por
força da LC n .º 140/2011, art. 7°, XIV, d e XV, a; art. 8°, XV, XVI, a; art. 9°, XIV, b, XV, a, e,
por últi mo, art. 12 e parág rafo ún ico.
Cabe destacar que nem sempre é simp les a defi nição das at ividades e/ou
empreend imentos que possam impactar diretamente a Unidade de Conservação ou sua
zona de amor tecimento, de modo que a realização de est udos ou análises superfic iais
pode fazer com que não sejam ident ifi cados potenc iais im pactos negativos às Unidades
de Conservação. Dessa forma, a elaboração do Plano de Mane jo e a defin ição da Zona
de Amortec ime nto devem ser bastante criter iosas com o objet ivo de mapear as cond ições
dos ambientes nat urais existentes na Unidade de Conservação e no seu entorno,
avalian do de que f orma ta is amb ientes poder iam responder a eventuais inte rvenções
antróp icas. Conforme já abordado anter io rmente no item 5.2. 1 e Quad ro 11 - Entorno
de Unidades de Conservação., a definição dos limites da Zona de Amor t ecimento ou da
faixa de ento rno nas qua is o licencia mento ambiental de ati vidades e emp reend imentos
demandarão a anuênc ia do responsável pela Unidade de Conservação podem apresentar
dif erentes inte rpr etações j urídicas.
• E 111
1O 1 O PORTUNIDADES DE ATUACAO DO MIN ISTERIO PUBLICO
No Direito Amb iental uma ún ica conduta pode resultar em t rês esferas distintas de
responsabilidade, nos termos do art. 225 , § 3°, da CF/1988, in verbis:
Art. 225 [Omissis]
§ 3° - As condutase atividadesconsideradaslesivasao meio ambiente sujeitarão
os infratores, pessoasfísicas ou jurídicas, a sançõespenais e administrativas,
independentemente da obrigaçãode repararos danos causados.
É penalmente relevante a omissão do Poder Púb lico quando fa lha no seu dever
legal de fiscalizar, não coibindo as prát icas que possam causar danos às Unidades de
Conservação. Assim procedendo poderá ser incurso nos ti pos descritos nos arts. 4 0 e 68
da Lei de Crimes e Infrações Ambient ais - Lei n.º 9.605/1998, a se ver, respect ivamente:
112 L é 11
como co-au to r ou part ícipe, quando "causa r dano direto ou ind ireto às Unidades de
Co nservação [ ...]" e em conc urso, quando "de ixar, aquele que ti ver o dever legal ou
contratua l de fazê-lo, de cum prir obr igação de relevante inte resse ambi ental".
Para as pessoas físicas ju rídicas de direito privado, a capitu lação lim itar-se-á ao tipo
previsto no art. 40.
E, por fim, como elemento const it ut ivo do t ipo deve-se entende r, de forma
lim itada pelo próp rio d isposit ivo (por fo rça dos Princípios de Direito Penal: da Legalidade
e da Det erminação Penal), apenas as Unida des de Conservação integran tes do Sistema
Naciona l de Unidades de Conservação da Natureza - SNUC, elencadas no§ 1º, do art. 40 44
46
e § 1º, do art. 40-A 45 , mais as áreas de que trata o art. 27, do Decret o n.º 99 .274/1990
(Mac hado, 200 1, p. 338 & Benjamin, 200 1, p. 313).
A inda, na linha sugerida por Benjam in (2001, p. 3 13) é possível uti lizar-se também
do Cód igo Penal para criminalizar cond uta que resultar na destruição, inu t ilização ou
deteri oração de coisa alheia. O t ipo est á previsto no art. 163, parág rafo único, inciso Ili,
com pena de detenção de seis meses a um ano, mais mu lta, ou ainda, no t ipo presente
no art. 155, famoso crime de f urto , se da conduta resultar em subt ração indevida de
compone ntes do espaço públ ico pro teg ido.
Para me lhor ilust rar o tr atame nto a que está submet ido o Estado quando em
situação desfavorável, isto é, na cond ição de ob rigado à reparação de dano ambie ntal
ou incurso em improb idade adm inistrat iva, ent ende u-se por bem transcrever, t recho da
ementa do acórdão em sede de REsp (n.º 1.07 1.74 1-SP), relatado pelo M in. Herman
Benjam in, julg ado em 24.03 .2009:
E 113
de facilitaçãodo acessoà Justiça, entre as quais se inclui a inversãodo ônus da
provaem favor da vitima ambiental. Precedentesdo STJ.
5. Ordinariamente, a responsabilidade civil do Estado, por omissão, é subjetiva
ou por culpa, regime comum ou geral esse que, assentado no art. 37 da
Constituição Federal, enfrenta duas exceçõesprincipais. Primeiro, quando a
responsabilizaçãoobjetiva do ente públicodecorrer de expressaprevisão
legal, em microssistemaespecial, como na proteção do meio ambiente (Lei
6.938/1981 , art. 3°, IV, de o art. 14, § 1°). Segundo, quando as circunstâncias
indicarem a presença de um standard ou dever de ação estatal mais
rigorosodo que aquele que jorra, consoantea construção doutrinária e
jurisprudencial, do texto constitucional.
6. O dever-poder de controle e fiscalização ambiental (= dever-poder de
implementação), além de inerente ao exercício do poder de polícia do Estado,
provémdiretamente do marcoconstitucional degarantia dosprocessos ecológicos
essenciais (em especial os arts. 225, 23, VI e VII, e 170, VI) e da legislação,
sobretudo da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/ 1981, arts.
2°, 1e V,e 6°) e da Lei 9.605/ 1998 (Lei dos Crimese Ilícitos Administrativoscontra
o Meio Ambiente).
7. Nos termos do art. 70, § 1º, da Lei 9.605/ 1998, são titularesdo dever-poder
de implementação "os funcionários de órgãos ambientais integrantes do
Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA,designadospara as atividades
de fiscalização",alémde outros a que se confira tal atribuição.
8. Quando a autoridade ambiental "tiver conhecimento de infração
ambiental é obrigada a promover a sua apuração imediata, mediante
processoadministrativo próprio, sob pena de co-responsabilidade"(art.
70, § 3°, da Lei 9.605/ 1998, grifo acrescentado).
9. Diante de ocupaçãoou utilização ilegal de espaçosou bens públicos, não
se desincumbe do dever-poder de fiscalização ambiental (e também
urbanística)o Administradorque se limita a embargar obra ou atividade
irregular e a denunciá-laao Ministério Público ou à Polícia, ignorando ou
desprezandooutras medidas, inclusivepossessórias , que a lei põe à sua
disposiçãopara eficazmente fazer valer a ordem administrativae, assim,
impedir, no local, a turbação ou o esbulho do patrimônio estatal e dos
bens de uso comum do povo, resultante de desmatamento, construção,
exploraçãoou presençahumana ilícitos.
1O. A turbaçãoe o esbulho ambiental-urbanístico podem- e no casodo Estado,
devem - ser combatidos pelo desforço imediato , medida prevista atualmente
no art. 1.21 O, § 1º, do Código Civil de 200 2 e imprescindívelà manutenção da
autoridade e da credibilidade da Administração, da integridade do patrimônio
estatal,da legalidade,da ordem pública e da conservaçãode bensintangíveise
indisponíveis associadosà qualidade de vida das presentes e futuras gerações.
11. O conceito de poluidor, no Direito Ambiental brasileiro, é amplíssimo,
confundindo-se, por expressa disposição legal, com o de degradador da
qualidade ambiental, isto é, toda e qualquer "pessoa física ou jurídica,
de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente,
por atividade causadora de degradação ambiental" (art. 3°, IV, da Lei
6.938/ 198 1, grifo adicionado).
12. Para o fim de apuração do nexo de causalidadeno dano urbanístico-
ambiental e de eventual solidariedadepassiva, equiparam-se quem faz,
quem não faz quando deveria fazer, quem não se importa que façam,
quem cala quando lhe cabe denunciar,quem financia para que façam e
quem se beneficia quando outros fazem.
13. A Administração é solidária, objetiva e ilimitadamente responsável,
nos termos da Lei 6.938/ 198 1, por danos urbanístico-ambientaisdecorrentes
da omissão do seu dever de controlar e fiscalizar,na medida em que
contribua,direta ou indiretamente, tanto para a degradaçãoambiental em
114 L é 11
si mesma, como para o seu agravamento, consolidaçãoou perpetuação,
tudo sem prejuízo da adoção, contra o agente público relapso ou desidioso,
de medidas disciplinares, penais, civis e no campo da improbidade
administrativa.
14. No casode omissãode dever de controle e fiscalização,a responsabilidade
ambiental solidária da Administração é de execução subsidiária (ou com
ordem de preferência).
15. A responsab ilidade solidária e de execução subsidiária significa que o
Estado integra o título executivo sob a condição de, como devedor-reserva,só
ser convocado a quitar a dívida se o degradadororiginal, direto ou material (=
devedorprincipal) não o fizer, seja por total ou parcial exaurimento patrimonial
ou insolvência, seja por impossibilidade ou incapacidade,inclusivetécnica, de
cumprimento da prestaçãojudicialmente imposta,assegurado, sempre, o direito
de regresso(art. 934 do Código Civil), com a desconsideraçãoda personalidade
jurídica(art. 50 do Código Civil).
16. Ao acautelar a plena solvabilidadefinanceirae técnicado crédito ambiental,
não se insere entre as aspiraçõesda responsabilidadesolidária e de execução
subsidiária do Estado- sob pena de onerar duplamente a sociedade,romper
a equação do princípio poluidor-pagador e inviabilizar a internalização das
externalidades ambientaisnegativas- substituir, mitigar, postergar ou dificultar
o dever,a cargo do degradadormaterial ou principal, de recuperaçãointegral do
meio ambiente afetado e de indenizaçãopelosprejuízos causados.
17. Como consequência [sic.] da solidariedade e por se tratar de
litisconsórciofacultativo, cabe ao autor da Ação optar por incluir ou não
o ente público na petição inicial.
18. RecursoEspecial provido.
E 115
-
RECOMENDAÇOES
FINAIS
Importa lembrar que as UCs são inst rumentos com objetivos de conservação e rito
de criação específicos, o que lhes at ribui um regime j urídico rest rito e determinado de
criação, implant ação e gestão.
0 Seu dever de impedir qualquer util ização que comprometa a integridade dos
atributos inerentes às unidades de conservaçãojá criadas, mesmo as ainda não
implantadas, coibindo as práticas que possam causar-lhes danos
0
Sua conduta diant e das iniciativas de alt eração ou supressãode UCs,permitindo
que sejam empreendidas mediante j ustificativa técnica embasada em est udos
técnicos, consult a pública e instrumento legal adequado.
0
Sua imposição, diante das demandas licenciatórias no interior de UCs ainda
não indenizadas, no sentido de negar outo rga ou restringi-las ao mínimo
e intervenção possível ao ponto de não abalar o equilíbrio dos processos
ecológicos e ecossistêmico no interior da UC.
0
Sua conduta na aplicação dos recursos orçamentários e financeiros destinados
às UCs.
0
Seu desleixo na lotação das equipes de pessoal adequadas ao t amanho e
complexidade de gestão das UCs.
116 L é 11
-
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Mr-1511'.RIO
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