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Educação

em Direitos
Humanos
Regulamentação e
Diretrizes dos Direitos
Humanos na Educação
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Educação em Direitos Humanos

Vittorio Leandro Oliveira Lo Bianco

Massaru Coracini Okada

Debora Luiza da Silva


AUTORIA
Vittorio Lo Bianco
Olá. Meu nome é Vittorio Lo Bianco. Sou formado em Relações
Internacionais, com Mestrado em Políticas Públicas, Estratégia e
Desenvolvimento e Doutorado em Educação, com experiência técnico-
profissional na área de educação de mais de 10 anos. Sou servidor do
Estado do Rio de Janeiro. Trabalho com educação na Secretaria de Ciência
e Tecnologia. Sou apaixonado pelo que faço e adoro transmitir minha
experiência de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões.
Por isso fui convidado pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de
autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase
de muito estudo e trabalho. Conte comigo!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

INTRODUÇÃO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova compe- novo conceito;
tência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou dis-
mento; cutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Regulamentação dos Direitos Humanos na Legislação
Brasileira ..........................................................................................................10

Recepção dos Tratados Internacionais de Direitos Humanos na Legislação

Brasileira.................................................................................................................................................10

Histórico da efetivação dos direitos humanos na legislação brasileira... 12

Perspectivas Legais e os Desafios da Educação em Direitos


Humanos...........................................................................................................15

Marcos legais da educação em direitos humanos.................................................. 15

Os desafios da educação em Direitos Humanos...................................................... 18

Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos:


Dimensões e Princípio............................................................................... 20

Conhecendo as diretrizes......................................................................................................... 20

Análise das diretrizes.....................................................................................................................23

Direitos Humanos nas Matrizes Curriculares e Projetos


Pedagógicos do Ensino Básico do Superior..................................... 26

Os direitos humanos no ambiente educacional........................................................26

A educação em direitos humanos na educação básica ....................................28

A educação para os direitos humanos no ensino superior.............................. 30


Educação em Direitos Humanos 7

02
UNIDADE

REGULAMENTAÇÃO E DIRETRIZES DOS DIREITOS


HUMANOS NA EDUCAÇÃO
8 Educação em Direitos Humanos

INTRODUÇÃO
Ao término desta unidade você será capaz de conhecer a
regulamentação dos direitos humanos na legislação brasileira, analisar
as perspectivas legais e os desafios da educação em direitos humanos,
identificar as diretrizes nacionais para a educação em direitos humanos em
suas dimensões e princípios e analisar os direitos humanos nas matrizes
curriculares e projetos pedagógicos do ensino básico ao superior. Isto
será fundamental para o exercício de sua profissão.

A compreensão e o conhecimento acerca dos aspectos legais


que envolvem os direitos humanos em nosso país habilitará o aluno a
reconhecer os mecanismos pelos quais se pode exigir a efetivação e
a garantia de direitos. Veremos em detalhes alguns dos documentos
internacionais e nacionais que compõem os marcos legais da educação
em direitos humanos, como o Plano Nacional em Direitos Humanos.

Analisaremos as Diretrizes Nacionais para a educação em direitos


humanos estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação em 2012,
assim como os princípios, dimensões e objetivos da educação em direitos
humanos a partir dos documentos oficiais e as práticas pedagógicas nos
processos de ensino-aprendizagem.

Por fim, discutiremos sobre como abordar a educação em direitos


humanos no ensino básico e no ensino superior, considerando as diretrizes
nacionais e os documentos nacionais e internacionais que analisamos
previamente.

Entendeu? Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste


universo!
Educação em Direitos Humanos 9

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2. Nosso propósito é auxiliar
você no desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o
término desta etapa de estudos:

1. Explicar a regulamentação dos direitos humanos na legislação


brasileira;

2. Analisar as perspectivas legais e os desafios da educação em


direitos humanos;

3. Identificar as diretrizes nacionais para educação em direitos


humanos: dimensões e princípios;

4. Analisar os Direitos humanos nas matrizes curriculares e projetos


pedagógicos do ensino básico ao superior.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento?


Ao trabalho!
10 Educação em Direitos Humanos

Regulamentação dos Direitos Humanos


na Legislação Brasileira

INTRODUÇÃO:

Ao término deste capítulo você será capaz de conhecer


a regulamentação dos direitos humanos na legislação
brasileira. Isto será fundamental para o exercício de sua
profissão. A compreensão e o conhecimento acerca dos
aspectos legais que envolvem os direitos humanos em
nosso país habilitará o aluno a reconhecer os mecanismos
pelos quais se pode exigir a efetivação e a garantia de
direitos, assim como identificar o que vimos na Unidade 1 a
respeito da recepção dos tratados internacionais em nossa
legislação. Como vimos, a educação em direitos humanos
está diretamente ligada à discussão sobre direitos.
Portanto, é necessário conhecer como funciona o tema em
nosso ordenamento jurídico para um processo de ensino-
aprendizagem mais efetivo.

Recepção dos Tratados Internacionais de


Direitos Humanos na Legislação Brasileira
Como vimos na Unidade 1, no que tange aos direitos humanos
há inúmeros tratados internacionais que efetivam e garantem direitos
em âmbito mundial, em especial relacionados ao Sistema ONU e em
âmbito regional, como na Organização dos Estados Americanos. Desde
o surgimento da Organização das Nações Unidas, em 1945, a discussão
sobre o Direito Internacional tem ganhado mais relevo. Hoje, inclusive, a
jurisprudência internacional e aqueles que formulam e refletem sobre a
garantia de direitos defendem que o direito internacional se sobrepõe ao
direito interno.
Educação em Direitos Humanos 11

DEFINIÇÃO:

Jurisprudência internacional é o conjunto de decisões dos


tribunais internacionais a respeito de determinado tema, o
que consolida a compreensão sobre decisões jurídicas em
relação à situação em análise.

A Constituição Brasileira de 1988 dispõe em seu artigo 5º, parágrafo


2º que os direitos previstos na Constituição não são excludentes com
outros que sejam incorporados por meio da assinatura de tratados por
parte do Brasil. A Emenda Constitucional nº 45 de dezembro de 2004
incluiu o 3º parágrafo ao artigo 5º prevendo que, no caso de tratados e
convenções internacionais sobre direitos humanos, caso sejam aprovados,
em cada Casa do Congresso nacional, por 3/5 dos parlamentares, em
dois turnos, serão equivalentes às emendas constitucionais, ou seja, serão
incorporados à Constituição.

Em julgamento de 2008, o Supremo Tribunal Federal passou a


compreender que os tratados que versam sobre os direitos humanos que
podem ser considerados como normais supralegais, ou seja, estão acima
das leis ordinárias, mas abaixo da Constituição (ressaltado o que vimos
antes de incorporação à Constituição por meio do procedimento descrito
no parágrafo anterior).

SAIBA MAIS:

“O Supremo Tribunal Federal (STF) é a mais alta instância


do Poder Judiciário do Brasil e acumula competências
típicas de Suprema Corte (tribunal de última instância) e
Tribunal Constitucional (que julga questões de constitu-
cionalidade independentemente de litígios concretos).
Sua função institucional fundamental é a de servir como
guardião da Constituição Federal de 1988, apreciando
casos que envolvam lesão ou ameaça a esta última”. Pa-
ra saber mais sobre o STF acesse o site, disponível em:
https://bit.ly/2p8SjxL
12 Educação em Direitos Humanos

Figura 1: Plenário do Supremo Tribunal Federal

Fonte: Wikimedia

Histórico da efetivação dos direitos


humanos na legislação brasileira
Como vimos, foi a partir da Constituição Federal de 1988 que o Brasil
passou a incorporar na legislação nacional os avanços com relação ao
sistema internacional de proteção aos direitos humanos. Nesse contexto,
o país passou a ratificar e a incorporar a legislação sobre o tema.

Como coloca Flavia Piovesan,

O marco inicial do processo de incorporação de tratados


internacionais de direitos humanos pelo Direito Brasileiro foi a
ratificação, em 1989, da Convenção contra a tortura e outros
tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. A partir
desta ratificação, inúmeros outros instrumentos internacionais
importantes de proteção dos direitos humanos foram
também incorporados pelo Direito Brasileiro, sob a égide da
Constituição Federal de 1988.
Educação em Direitos Humanos 13

Assim, a partir da Carta de 1988 foram ratificados pelo


Brasil: a) a Convenção Interamericana para prevenir e punir
a tortura, em 20 de julho de 1989; b) a Convenção sobre os
Direitos da Criança, em 24 de setembro de 1990; c) o Pacto
Internacional dos Direitos Civis e Políticos, em 24 de janeiro
de 1992; d) o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos,
Sociais e Culturais, em 24 de janeiro de 1992; e) a Convenção
Americana de Direitos Humanos, em 25 de setembro de 1992;
f) a Convenção Interamericana para prevenir, punir e erradicar
a violência contra a Mulher, em 27 de novembro de 1995.
(PIOVESAN, 1996, on-line)
Figura 2: Organização dos Estados Americanos (OEA)

Fonte: Wikicommons

O processo de incorporação dos tratados internacionais que versam


sobre os direitos humanos a partir da Constituição de 1988 seguiram a
lógica de recomposição da imagem do país após o período autoritário
anterior, diante das acusações de violações aos direitos humanos, além
de enquadrar o país nos avanços internacionais sobre o tema. Era também
o início do contexto de globalização.
14 Educação em Direitos Humanos

EXEMPLO: Cabe destacarmos a convenção internacional sobre


os direitos das pessoas com deficiência e o seu protocolo facultativo
de 2007. A convenção é um exemplo de incorporação de um tratado
internacional de direitos humanos ao ordenamento jurídico brasileiro com
status de emenda constitucional. Após a incorporação do tratado, uma
série de medidas oficiais tem sido tomada em prol do reconhecimento e
da garantia dos direitos das pessoas com deficiência.

RESUMINDO:

No que tange aos direitos humanos, há inúmeros tratados


internacionais que efetivam e garantem direitos em âmbito
mundial, em especial relacionados ao Sistema ONU e
em âmbito regional, como na Organização dos Estados
Americanos. A Emenda Constitucional nº 45 de dezembro
de 2004 incluiu o 3º parágrafo ao artigo 5º prevendo que
no caso de tratados e convenções internacionais sobre
direitos humanos, caso sejam aprovados em cada casa do
Congresso Nacional, por 3/5 dos parlamentares e em dois
turnos, serão equivalentes às emendas constitucionais,
ou seja, serão incorporados à Constituição. O processo
de incorporação dos tratados internacionais que versam
sobre os direitos humanos a partir da Constituição de 1988
seguiram a lógica de recomposição da imagem do país
após o período autoritário anterior, diante das acusações de
violações aos direitos humanos, além de enquadrar o país
nos avanços internacionais sobre o tema.
Educação em Direitos Humanos 15

Perspectivas Legais e os Desafios da


Educação em Direitos Humanos

INTRODUÇÃO:

Ao término deste capítulo você será capaz de analisar as


perspectivas legais e os desafios da educação em direitos
humanos. Veremos em detalhes alguns dos documentos
internacionais e nacionais que compõem os marcos legais
da educação em direitos humanos, como o Plano Nacional
em Direitos Humanos. Em seguida, discutiremos alguns
dos desafios que a área ainda apresenta.

Marcos legais da educação em direitos


humanos
Como vimos na unidade 1, em termos de marco legal, a educação
em direitos humanos está diretamente relacionada a dois documentos:
O Programa Mundial para a educação em direitos humanos, da ONU e o
Plano Nacional em Direitos Humanos, do governo brasileiro em parceria
com organizações da sociedade civil.

Com relação ao Programa Mundial da ONU, sua redação final foi


produto da “Década das Nações Unidas para a Educação em matéria
de direitos humanos” (1995-2004). O Programa prevê algumas etapas
para a sua implementação, divididas em quatro anos por etapa, com
foco em diferentes níveis da educação formal e formação de servidores
e profissionais: ensino básico e ensino médio, superior e formação de
servidores, além dos profissionais de mídia e comunicação (etapa atual).

A “Década das Nações Unidas para a educação em matéria


de direitos humanos” basear-se-á nas disposições dos instrumentos
internacionais de direitos humanos, particularmente nas disposições que
abordam a educação em matéria de direitos humanos, incluindo o artigo
26.º da Declaração Universal dos Direitos do Homem, o artigo 13.º do
Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, o
16 Educação em Direitos Humanos

artigo 29.º da Convenção sobre os Direitos da Criança, o artigo 10.º da


Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
contra as Mulheres, o artigo 7.º da Convenção Internacional sobre a
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, os parágrafos
33 e 34 da Declaração de Viena e os parágrafos 78 a 82 do seu Programa
de Ação.

Em conformidade com estas disposições e para os efeitos da


década, a educação em matéria de direitos humanos será definida como
os esforços de formação, divulgação e informação destinados a construir
uma cultura universal de direitos humanos através da transmissão de
conhecimentos e competências e da modelação de atitudes, com vista a:

1. Reforçar o respeito pelos direitos humanos e liberdades funda-


mentais e desenvolver plenamente a personalidade humana e o
sentido da sua dignidade.

2. Promover a compreensão, a tolerância, a igualdade entre os sexos


e a amizade entre todas as nações, povos indígenas e grupos
raciais, nacionais, étnicos, religiosos e linguísticos.

3. Possibilitar a participação efetiva de todas as pessoas numa


sociedade livre.

4. Promover as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção


da paz.

SAIBA MAIS:

Para saber mais sobre A Década das Nações Unidas em


Matéria de Direitos Humanos, acesse: https://bit.ly/2Yvy49K.

Com relação ao Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos


(PNEDH), como já vimos, é importante lembrar que esse está dividido em
cinco eixos principais: educação não formal, educação dos profissionais
do sistema de justiça e os do sistema de segurança, educação e mídia,
educação básica e educação superior. O Conselho Nacional de Educação
aprovou, em 2012, o documento conhecido como Diretrizes Nacionais
Educação em Direitos Humanos 17

para a Educação em Direitos Humanos, que versa sobre os parâmetros


oficiais para a área. Dentre as questões levantadas no documento, estão
algumas reflexões sobre o que podemos compreender como o escopo
de uma formação em educação em direitos humanos:

A educação em Direitos Humanos tem por escopo principal


uma formação ética, crítica e política. A primeira se refere à
formação de atitudes orientadas por valores humanizadores,
como a dignidade da pessoa, a liberdade, a igualdade, a
justiça, a paz, a reciprocidade entre povos e culturas, servindo
de parâmetro ético-político para a reflexão dos modos de ser
e agir individual, coletivo e institucional.

A formação crítica diz respeito ao exercício de juízos reflexivos


sobre as relações entre os contextos sociais, culturais,
econômicos e políticos, promovendo práticas institucionais
coerentes com os Direitos Humanos.

A formação política deve estar pautada numa perspectiva


emancipatória e transformadora dos sujeitos de direitos.
Sob esta perspectiva promover-se-á o empoderamento
de grupos e indivíduos, situados à margem de processos
decisórios e de construção de direitos, favorecendo a sua
organização e participação na sociedade civil. Vale lembrar
que estes aspectos tornam-se possíveis por meio do diálogo
e aproximações entre sujeitos biopsicossociais, históricos e
culturais diferentes, bem como destes em suas relações com
o Estado.

Uma formação ética, critica e política (in)forma os sentidos da


EDH na sua aspiração de ser parte fundamental da formação
de sujeitos e grupos de direitos, requisito básico para a
construção de uma sociedade que articule dialeticamente
igualdade e diferença. (BRASIL, 2012)
18 Educação em Direitos Humanos

Os desafios da educação em Direitos


Humanos
Como previsto nos planos de educação em direitos humanos, tanto
em âmbito internacional quanto nacional, um dos principais desafios da
educação em direitos humanos diz respeito à integração entre os esforços
empreendidos em âmbito da educação formal e também da educação
não formal. O esforço dos espaços formais de educação, como as escolas,
as universidades e institutos de educação, deve ser acompanhado pelo
trabalho das organizações da sociedade civil, como movimentos sociais,
ONGs e empresas. Em ambos os casos, é importante que a educação
em direitos humanos transcenda o currículo formal das instituições, se
colocando de forma transversal.

Como vimos na unidade 1, um dos enfoques para a educação


em direitos humanos é a educação para a cidadania, ou seja, para uma
formação que possibilite a inserção plena dos seres humanos no convívio
social, considerando todas as dimensões (cultural, social, afetiva, entre
outras) dentro de um compromisso ético. Para isso, pressupõe um
processo de ensino-aprendizagem participativo, com o aluno no centro,
como sujeito ativo e pleno, tomando-se em conta as diferentes vivências
e realidades.

Para que todo o processo se estabeleça de forma plena, a formação


dos professores para trabalhar com o tema da educação em direitos
humanos é fundamental. Em primeiro lugar, a formação deve considerar
que o tema direitos humanos não constitui uma disciplina e um tópico
em si. Ele atravessa o processo de ensino-aprendizagem como tema
transversal. Para isso, os professores devem ser capazes de compreender
o que são os direitos humanos, seu histórico, sua inserção internacional
e nacional. Deve ser considerada a formação para trabalhar o processo
de ensino-aprendizagem com metodologias ativas, dentro dos cursos
de licenciatura e de pós-graduação. Por fim, sobre a formação, devemos
lembrar a importância da formação continuada dos professores.
Educação em Direitos Humanos 19

Figura 3: Alunos do ensino básico

Fonte: Pixabay

RESUMINDO:

Em termos de marco legal, a educação em direitos humanos


está diretamente relacionada a dois documentos que já
vimos na unidade 1: O Programa Mundial para a Educação
em Direitos Humanos da ONU e o Plano Nacional em
Direitos Humanos, do governo brasileiro em parceria com
organizações da sociedade civil. Com relação ao Programa
Mundial da ONU, sua redação final foi produto da “Década
das Nações Unidas para a Educação em matéria de direitos
humanos” (1995-2004). Com relação ao Plano Nacional de
Educação em Direitos Humanos, como vimos, é importante
lembrar que este está dividido em cinco eixos principais:
Educação não formal, educação dos profissionais do
sistema de justiça, do sistema de segurança, educação e
mídia, educação básica e educação superior. Como previsto
nos planos de educação em direitos humanos tanto em
âmbito internacional quanto nacional, um dos principais
desafios da educação em direitos humanos diz respeito à
integração entre os esforços empreendidos no âmbito da
educação formal e também da educação não formal.
20 Educação em Direitos Humanos

Diretrizes Nacionais para a Educação em


Direitos Humanos: Dimensões e Princípio

INTRODUÇÃO:

Neste capítulo identificaremos as diretrizes nacionais para


a educação em direitos humanos em suas dimensões e
princípios. Para isso, analisaremos as diretrizes nacionais
para a educação em direitos humanos estabelecidas pelo
Conselho Nacional de Educação em 2012. Analisaremos os
princípios, dimensões e objetivos da educação em direitos
humanos a partir dos documentos oficiais e das práticas
pedagógicas nos processos de ensino-aprendizagem.

Conhecendo as diretrizes
Em 2012, o Conselho Nacional de Educação (CNE) estabeleceu as
Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos. Logo em seu
início, o documento estabelece que as diretrizes seguem o disposto em
documentos aprovados internacional e nacionalmente, conforme vimos
nos capítulos anteriores:

Considerando o que dispõe a Declaração Universal dos Direi-


tos Humanos de 1948, a Declaração das Nações Unidas so-
bre a educação e formação em Direitos Humanos (Resolução
A/66/137/2011), a Constituição Federal de 1988; a Lei de Di-
retrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996); o
Programa Mundial de Educação em Direitos Humanos (PMEDH
2005/2014), Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-
3/Decreto nº 7.037/2009); o Plano Nacional de Educação em
Direitos Humanos (PNEDH/2006), as diretrizes nacionais ema-
nadas pelo Conselho Nacional de Educação, bem como ou-
tros documentos nacionais e internacionais que visem asse-
gurar o direito a educação a todos/as [...]. (BRASIL, 2012)
Educação em Direitos Humanos 21

Assim, vemos que as diretrizes estão alinhadas diretamente a


documentos que analisamos anteriormente em nosso curso, como
o Programa Mundial de Educação em Direitos Humanos e o Programa
Nacional de Educação em Direitos Humanos. Além disso, considera o
que dispõem os tratados internacionais sobre os direitos e garantias a
respeito dos direitos humanos, como a Declaração Universal dos Direitos
Humanos de 1948.

Nos artigos do documento, o Conselho Nacional de Educação


(CNE) estabeleceu as diretrizes a serem seguidas pelos sistemas de
ensino e suas instituições no que se refere à educação em direitos
humanos. O documento, em seu artigo 2º, compreende educação em
direitos humanos como o “uso de concepções e práticas educativas
fundamentadas nos direitos humanos e em seus processos de promoção,
proteção, defesa e aplicação na vida cotidiana e cidadã de sujeitos, de
direitos e de responsabilidades individuais e coletivas”. No mesmo
artigo, o Conselho Nacional de Educação (CNE) estabeleceu que todos
os envolvidos no processo educacional devem adotar os princípios da
educação em direitos humanos.

Como fundamentos da educação em direitos humanos, o Conselho


Nacional de Educação (CNE) estabelece, no art. 3º do documento, o
seguinte:

1. Dignidade humana;

2. Igualdade de direitos;

3. Reconhecimento e valorização das diferenças e das diversidades;

4. Laicidade do Estado;

5. Democracia na educação;

6. Transversalidade, vivência e globalidade e

7. Sustentabilidade socioambiental.

Como objetivo central da educação em direitos humanos, o


documento apresenta em seu artigo 5º que:
22 Educação em Direitos Humanos

A Educação em Direitos Humanos tem como objetivo central


a formação para a vida e para a convivência, no exercício
cotidiano dos Direitos Humanos como forma de vida e de
organização social, política, econômica e cultural nos níveis
regionais, nacionais e planetário.

§ 1º Este objetivo deverá orientar os sistemas de ensino


e suas instituições no que se refere ao planejamento e
ao desenvolvimento de ações de Educação em Direitos
Humanos adequadas às necessidades, às características
biopsicossociais e culturais dos diferentes sujeitos e seus
contextos.

§ 2º Os Conselhos de Educação definirão estratégias de


acompanhamento das ações de Educação em Direitos
Humanos. (BRASIL, 2012)

Por fim, a respeito das dimensões às quais a educação em direitos


humanos se articula, o documento estabelece em seu artigo 4º que:

A educação em direitos humanos como processo sistemático


e multidimensional, orientador da formação integral dos
sujeitos de direitos, articula-se às seguintes dimensões:

I - apreensão de conhecimentos historicamente construídos


sobre direitos humanos e a sua relação com os contextos
internacional, nacional e local;

II - afirmação de valores, atitudes e práticas sociais que


expressem a cultura dos direitos humanos em todos os
espaços da sociedade;

III - formação de uma consciência cidadã capaz de se fazer


presente em níveis cognitivo, social, cultural e político;

IV - desenvolvimento de processos metodológicos


participativos e de construção coletiva, utilizando linguagens
e materiais didáticos contextualizados e o

V - fortalecimento de práticas individuais e sociais que gerem


ações e instrumentos em favor da promoção, da proteção e
Educação em Direitos Humanos 23

da defesa dos direitos humanos, bem como da reparação das


diferentes formas de violação de direitos. (BRASIL, 2012)
Figura 4: Ministério da Educação

Fonte: Wikicommons

Análise das diretrizes


No processo de redação das diretrizes nacionais para o ensino em
direitos humanos foram realizadas reuniões do Conselho Nacional de
Educação (CNE), de comissões, mas também encontros com especialistas
no tema, a fim de envolver a sociedade civil organizada na elaboração. As
diretrizes levaram em conta uma compreensão da educação em direitos
humanos a partir de determinados fundamentos, princípios e objetivos.

Com relação aos fundamentos, o documento parte do pressuposto


que a universalização da educação básica e a democratização do acesso
ao ensino superior na última década trouxeram desafios específicos. A
maior inclusão traz diretamente o desafio de lidar com a diversidade dos
alunos. Assim, faz-se necessária a elaboração de estratégias para lidar com
a realidade de uma nova organização escolar que demanda metodologias
de ensino-aprendizagem diferenciadas, além de uma instituição em si
voltada para a superação de desigualdades. Para isso, são considerados
uma série de valores e práticas que embasam a atuação na área.
24 Educação em Direitos Humanos

A necessidade de uma educação crítica, ética e com compreensão


política está diretamente relacionada a isso. Ética na compreensão sobre
uma inserção dos indivíduos em uma sociedade mais humanizada, com
princípios de dignidade, igualdade e justiça, por exemplo. Crítica por
estimular a reflexão sobre a realidade em seu entorno, pensando a partir
dos direitos humanos. Compreensão política por habilitar a participação
plena dos indivíduos politicamente na sociedade.

No que se refere aos princípios, a educação em direitos humanos,


com finalidade de promover a educação para a mudança e a transformação
social, fundamenta-se nos seguintes princípios:

· Dignidade humana: Relacionada a uma concepção de


existência humana fundada em direitos;

· Igualdade de direitos: O respeito à dignidade humana,


devendo existir em qualquer tempo e lugar, diz respeito à
necessária condição de igualdade na orientação das relações
entre os seres humanos;

· Reconhecimento e valorização das diferenças e das


diversidades: Esse princípio se refere ao enfrentamento dos
preconceitos e das discriminações, garantindo que diferenças
não sejam transformadas em desigualdades;

· Laicidade do Estado: Esse princípio se constitui em pré-


condição para a liberdade de crença garantida pela Declaração
Universal dos Direitos Humanos, de 1948, e pela Constituição
Federal Brasileira de 1988;

· Democracia na educação: Direitos Humanos e democracia


alicerçam-se sobre a mesma base - liberdade, igualdade e
solidariedade - expressando-se no reconhecimento e na
promoção dos direitos civis, políticos, sociais, econômicos,
culturais e ambientais;

· Transversalidade, vivência e globalidade: Os Direitos


Humanos se caracterizam pelo seu caráter transversal e, por
isso, devem ser trabalhados a partir do diálogo interdisciplinar;
Educação em Direitos Humanos 25

· Sustentabilidade socioambiental: A EDH deve estimular o


respeito ao espaço público como bem coletivo e de utilização
democrática de todos/as. (BRASIL, 2012)

Por fim, com relação aos objetivos, o documento define que

O objetivo da Educação em Direitos Humanos é que a pessoa


e/ou grupo social se reconheça como sujeito de direitos,
assim como seja capaz de exercê-los e promovê-los ao
mesmo tempo em que reconheça e respeite os direitos do
outro. (BRASIL, 2012)

Sendo assim, a educação em direitos humanos deve buscar


estabelecer a ética nas relações interpessoais em uma formação para a
vida e para a convivência em sociedade, tendo os direitos humanos como
guia para a organização social, política, cultural e econômica.

RESUMINDO:

Em 2012 o Conselho Nacional de Educação (CNE)


estabeleceu as “Diretrizes Nacionais para a Educação
em Direitos Humanos”. Logo em seu início, o documento
estabelece que as diretrizes seguem o disposto em
documentos aprovados internacional e nacionalmente,
conforme vimos nos capítulos anteriores. Vemos que as
diretrizes estão alinhadas diretamente à documentos
que analisamos anteriormente em nosso curso, como o
Programa Mundial de Educação em Direitos Humanos e o
Programa Nacional de Educação em Direitos Humanos. Nos
artigos do documento, o Conselho Nacional de Educação
(CNE) estabeleceu as diretrizes a serem seguidas pelos
sistemas de ensino e suas instituições no que se refere
à educação em direitos humanos. As diretrizes levaram
em conta uma compreensão da educação em direitos
humanos a partir de determinados fundamentos, princípios
e objetivos.
26 Educação em Direitos Humanos

Direitos Humanos nas Matrizes Curriculares


e Projetos Pedagógicos do Ensino Básico do
Superior

INTRODUÇÃO:

Neste capítulo iremos analisar os direitos humanos nas


matrizes curriculares e projetos pedagógicos do ensino
básico ao superior. Para isso, refletiremos inicialmente
sobre a abordagem da temática dos direitos humanos
nos espaços conhecidos como ambiente educacional.
Em seguida, discutiremos como abordar a educação em
direitos humanos no ensino básico e no ensino superior,
considerando as diretrizes nacionais e os documentos
nacionais e internacionais que analisamos previamente.

Os direitos humanos no ambiente educacional


Quando tratamos do processo de ensino-aprendizagem é importante
levarmos em consideração que estamos tratando de um processo que se
estabelece em lugares e tempos diferentes, em contextos de diversidade
de vivências, seja na própria escola, seja na família ou na sociedade em
geral. Essa diversidade de experiências e vivências é propícia para a
educação em direitos humanos, por viabilizar contextos com experiências
diversificadas sobre o mundo. Para isso, é necessário que o contexto de
ensino-aprendizagem se dê para além do meio físico da instituição de
ensino e envolva as demais interações de alunos e professores com o
mundo e a sociedade.

Um ambiente educacional capaz de promover os direitos humanos


deve levar em consideração o respeito às diferenças, garantindo um
processo de ensino-aprendizagem inclusivo, com práticas democráticas,
sem preconceitos, discriminações e qualquer tipo de violência. Conforme
vimos na unidade anterior, a educação para os direitos humanos se pauta
em princípios que garantem práticas que respeitam a dignidade humana.
Esse respeito se dá na interação entre o que é pessoal e o que é coletivo
Educação em Direitos Humanos 27

de forma a respeitar subjetividades e vivências entre os humanos, o meio


ambiente e as questões sociais no entorno das instituições de ensino.
Figura 5: Aluna da rede pública de ensino

Fonte: Pixabay

Portanto, as instituições de ensino devem favorecer diferentes


visões de mundo no ambiente escolar e, para além dele, garantir o contato
das diferenças com o ambiente educacional, levando em consideração os
extramuros da instituição. Assim, espera-se que alunos com capacidade
de reflexão crítica compreendam como pleitear e garantir direitos dentro
da concepção dos direitos humanos.

As diretrizes para a educação em direitos humanos estabelecem


em seus artigos 6º e 7º que:

Art. 6º A educação em Direitos Humanos, de modo transversal,


deverá ser considerada na construção dos Projetos Políticos
Pedagógicos (PPP); dos Regimentos Escolares, dos Planos
de Desenvolvimento Institucionais (PDI); dos Programas
Pedagógicos de Curso (PPC) das Instituições de Ensino
Superior; dos materiais didáticos e pedagógicos; do modelo
de ensino, pesquisa e extensão; de gestão; bem como dos
diferentes processos de avaliação.
28 Educação em Direitos Humanos

Art. 7º A inserção dos conhecimentos concernentes a


educação em direitos humanos na organização dos currículos
da Educação Básica e da Educação Superior poderá ocorrer
das seguintes formas:

I - pela transversalidade, por meio de temas relacionados aos


Direitos Humanos e tratados interdisciplinarmente;

II - como um conteúdo específico de uma das disciplinas já


existentes no currículo escolar;

III - de maneira mista, ou seja, combinando transversalidade e


disciplinaridade.

Parágrafo único. Outras formas de inserção da educação em


Direitos Humanos poderão ainda ser admitidas na organização
curricular das instituições educativas desde que observadas
as especificidades dos níveis e modalidades da Educação
Nacional. (BRASIL, 2012)

Veremos nos próximos capítulos como se dá a educação em


direitos humanos na educação básica e no ensino superior.

A educação em direitos humanos na


educação básica
O Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos prevê em
seus princípios para a educação básica as seguintes propostas:

• A educação em direitos humanos além de ser um dos eixos


fundamentais da educação básica, deve orientar a formação inicial
e continuada dos profissionais da educação, a elaboração do
projeto político pedagógico, os materiais didático-pedagógicos, o
modelo de gestão e a avaliação das aprendizagens.

• A prática escolar deve ser orientada para a educação em direitos


humanos, assegurando o seu caráter transversal e a relação
dialógica entre os diversos atores sociais.
Educação em Direitos Humanos 29

• Os estudantes devem ser estimulados para que sejam protagonis-


tas da construção de sua educação, com o incentivo, por exem-
plo, do fortalecimento de sua organização estudantil em grêmios
escolares e em outros espaços de participação coletiva.

• Participação da comunidade educativa na construção e efetivação


das ações da educação em direitos humanos.

Além disso, o plano chama a atenção para a centralidade de haver


um Projeto Político Pedagógico (PPP) conectado aos princípios, objetivos
e fundamentos da Educação em direitos humanos, perpassando as ações
do currículo de forma transversal e trazendo os temas gerais dos direitos
humanos para a realidade dos alunos. Desse modo, são incorporadas
as vivências e conhecimentos, ampliando a participação e a busca de
direitos e deveres em sociedade. Para isso, o Plano clama pelo respeito
às diferentes fases de desenvolvimento do ser humano, ressaltando o
respeito à individualidade de cada um.

Na educação básica, o trabalho a respeito da educação em direitos


humanos tem o espaço propício para ser desenvolvido, uma vez que diz
respeito à formação humana desde a infância. No processo de socialização
das crianças, as interações de ensino-aprendizagem já podem, desde o
início, levar em conta os princípios, fundamentos e objetivos da educação
em direitos humanos. Isso também se aplica a outras modalidades de
ensino, como na educação de jovens e adultos, a educação indígena,
quilombola, no campo e outras dimensões, considerando também
pessoas que não tiveram oportunidade de acesso à educação na idade
adequada. É especialmente importante o exercício da educação para
os direitos humanos enquanto formação para a cidadania nesta etapa,
possibilitando desde o princípio do processo formal de educação a
concepção de direitos e deveres.

O Plano Nacional de Educação em direitos humanos compreende


a escola como:

Um espaço social privilegiado onde se definem a ação


institucional pedagógica e a prática e vivência dos direitos
humanos. [...] local de estruturação de concepções de mundo
30 Educação em Direitos Humanos

e de consciência social, de circulação e de consolidação de


valores, de promoção da diversidade cultural, da formação
para a cidadania, de constituição de sujeitos sociais e de
desenvolvimento de práticas pedagógicas. (BRASIL, 2018, p. 23)

Nesse sentido, uma escola de fato capaz de democratizar as


relações sociais deve ter o objetivo de formação de indivíduos capazes de
serem atores sociais plenos. Para isso, é parte integrante da educação em
direitos humanos nessa etapa a compreensão de conteúdos que levem
à reflexão sobre a evolução histórica, a construção, as contradições,
as conquistas e os reveses com relação aos direitos em sociedade,
favorecendo uma visão ética de mundo, integrada ao meio ambiente de
forma sustentável.

A educação para os direitos humanos no


ensino superior
Nas diretrizes nacionais para a educação em direitos humanos, que
começamos a analisar no início desta unidade, alguns artigos são voltados
para a pesquisa e formação de professores, além do ensino superior em
si. São eles:

Art. 8º A educação em Direitos Humanos deverá orientar a


formação inicial e continuada de todos/as os/as profissionais
da educação, sendo componente curricular obrigatório nos
cursos destinados a esses profissionais.

Art. 9º A educação em Direitos Humanos deverá estar


presente na formação inicial e continuada de todos/as os/as
profissionais das diferentes áreas do conhecimento.

Art. 10. Os sistemas de ensino e as instituições de pesquisa


deverão fomentar e divulgar estudos e experiências bem
sucedidas realizados na área dos Direitos Humanos e da
educação em Direitos Humanos.

Art. 11. Os sistemas de ensino deverão criar políticas de


produção de materiais didáticos e paradidáticos, tendo como
Educação em Direitos Humanos 31

princípios orientadores os Direitos Humanos e por extensão, a


educação em Direitos Humanos.

Art. 12. As instituições de ensino superior estimularão ações de


extensão voltadas para a promoção de direitos humanos, em
diálogo com os segmentos sociais em situação de exclusão
social e violação de direitos, assim como os movimentos
sociais e a gestão pública. (BRASIL, 2018)

Todos os documentos nacionais e internacionais que já analisamos


nesse curso enfatizam a responsabilidade das instituições de ensino
superior (IES) com relação à educação em direitos humanos. Além da
obrigação direta da formação, inclusive de professores, as IES geram
pesquisas e conhecimentos que impactam diretamente a garantia de
direitos e a reflexão sobre os direitos humanos em si.
Figura 6: Campus da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Fonte: Wikicommons

As Instituições de Ensino Superior (IES) possuem responsabilidade


fundamental na busca pela construção de uma sociedade mais justa,
princípio fundamental dos direitos humanos. Para isso, a educação em
direitos humanos deve ser considerada de forma transversal nas IES,
32 Educação em Direitos Humanos

englobando as diferentes vertentes da universidade, como a pesquisa, a


gestão, a extensão e o ensino. Diretamente no ensino, os direitos humanos
podem ser incluídos como disciplinas do currículo regular ou ainda, como
atividades extras.

A pesquisa pode pautar o avanço do conhecimento que gere


desenvolvimento sustentável e ainda ser objeto em si de reflexão e análise. Para
além disso, é necessário o incentivo a esta reflexão específica sobre os direitos
humanos por meio de financiamento e estruturação de grupos e núcleos de
estudos, assim como a organização de núcleos de memória sobre a instituição
e o avanço do conhecimento na área. Na extensão, a aproximação das IES com
a sociedade em geral deve ser pautada pelos princípios dos direitos humanos,
especialmente lidando com setores mais vulneráveis da sociedade. Cabe,
ainda, às Instituições de Ensino Superior (IES) apoiar as demais instituições da
sociedade na promoção dos direitos humanos.

RESUMINDO:

Um ambiente educacional capaz de promover os direitos


humanos deve levar em consideração o respeito às diferenças,
garantindo um processo de ensino-aprendizagem inclusivo,
com práticas democráticas, sem preconceitos, discriminações
e qualquer tipo de violência. O Plano Nacional de Educação
em Direitos Humanos chama a atenção para a centralidade
de se ter um Projeto Político Pedagógico conectado aos
princípios, objetivos e fundamentos da educação em direitos
humanos, perpassando as ações do currículo de forma
transversal, trazendo os temas gerais dos direitos humanos
para a realidade dos alunos e, assim, incorporando vivências e
conhecimentos, ampliando a participação e a busca de direitos
e deveres em sociedade. Todos os documentos nacionais
e internacionais que já analisamos nesse curso enfatizam a
responsabilidade das Instituições de Ensino Superior (IES) com
relação à educação em direitos humanos. Além da obrigação
direta da formação, inclusive de professores, as Instituições de
Ensino Superior (IES) geram pesquisas e conhecimentos que
impactam diretamente na garantia de direitos e na reflexão
sobre os direitos humanos em si.
Educação em Direitos Humanos 33

REFERÊNCIAS
BRASIL. Parecer sobre as Diretrizes Nacionais para a Educação
em Direitos Humanos. Despacho do Ministro, publicado no D.O.U. de
30/5/2012, Seção 1, 2012.

BRASIL. Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos.


Ministério dos Direitos Humanos. Brasília, 2018. Disponível em: https://
www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-temas/educacao-em-direitos-
humanos/DIAGRMAOPNEDH.pdf. Acesso em: 7 abr. 2021.

DIREITOS HUMANOS. – 4. ed. – Brasília: Senado Federal, Coordenação


de Edições Técnicas, 2013. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/
bdsf/bitstream/handle/id/508144/000992124.pdf?sequence=1. Acesso
em: 10 maio 2019.

PIOVESAN, F. A constituição de 1988 e os tratados internacionais


de proteção dos direitos humanos. Centro de Estudos da Procuradoria
Geral do Estado de São Paulo, 1996. Disponível em:http://www.pge.
sp.gov.br/centrodeestudos/revistaspge/revista3/rev6.htm. Acesso em:
10 maio 2019.

TRINDADE, A. A. C.  Dilemas e desafios da Proteção Internacional


dos Direitos Humanos no limiar do século XXI.  Revista Brasileira de
Política Internacional, vol. 40, n. 1, Brasília: Primeira Instância, jan./
jun. 1997.  Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-
73291997000100007&script=sci_arttext. Acesso em: 10 maio 2019. 

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