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Regulação, Controle,

Avaliação e Auditoria
em Saúde
Unidade 1
Livro Didático Digital
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
ALESSANDRA VANESSA FERREIRA DOS SANTOS
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
PEDRO LIBALDI NETO
AUTORIA
Pedro Libaldi Neto
Olá. Sou graduado em Gestão de Políticas Públicas pelo Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina (IFSC). Sou
Especialista em Gestão Pública pela Universidade Federal de São João
Del-Rei. Sou graduado em Administração de Empresas pela Universidade
Anhanguera.

Atuo na área de fiscalização e auditoria de órgãos públicos há


12 anos, sou professor há 11 anos, e leciono em escolas e fundações
governamentais, além de ser conteudista de cursos preparatórios para
concursos públicos.

Espero propiciar um curso agradável e de grande valia para a vida


profissional de todos vocês.

Bons estudos!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

OBJETIVO: DEFINIÇÃO:
para o início do
desenvolvimento houver necessidade
de uma nova de apresentar um
competência; novo conceito;
NOTA: IMPORTANTE:
quando necessárias as observações
observações ou escritas tiveram que
complementações ser priorizadas para
para o seu você;
conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a
bibliográficas necessidade de
e links para chamar a atenção
aprofundamento do sobre algo a ser
seu conhecimento; refletido ou discutido;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso acessar quando for preciso
um ou mais sites fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das
assistir vídeos, ler últimas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando uma
atividade de competência for
autoaprendizagem concluída e questões
for aplicada; forem explicadas;
SUMÁRIO
Serviços e Ações do SUS........................................................................... 12
Histórico da saúde no Brasil..................................................................................................... 12

Amparo legal das políticas de saúde no Brasil.......................................................... 18

Amparo constitucional da saúde no Brasil................................................. 18

Amparo Constitucional da Saúde no Brasil...................................... 23


Lei nº 8.8080/1990.........................................................................................................................23

Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990..................................................................... 30

Lei Orgânica do SUS .................................................................................. 33


Portaria nº 2.203, de 5 de novembro de 1996 – (NOB 01/1996)....................33

Pacto pela Saúde......................................................................................... 43


Aspectos do público e do privado nas ações e nos serviços de saúde no
Brasil..........................................................................................................................................................43

Portaria GM nº 399, de 22 de fevereiro de 2006 - Pacto pela Saúde...... 46

Lei nº 141, de 13 de janeiro de 2012.................................................................................... 49


Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde 9

01
UNIDADE
10 Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde

INTRODUÇÃO
Para que haja prestação de serviços públicos na área da saúde
com qualidade e eficiência, faz-se necessária a utilização racional dos
recursos públicos. Esta unidade abordará a evolução do sistema público
de saúde no Brasil, bem como todo o embasamento jurídico-legal e todas
as normas que regem a matéria.

Aprenderemos sobre a importância e as responsabilidades que


cada esfera governamental possui nas ações e nos serviços da saúde,
bem como passaremos a analisar, com um método crítico e avaliativo, a
participação da sociedade na elaboração e na implantação das ações e
dos serviços na área da saúde no Brasil.
Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde 11

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso objetivo é auxiliar
você no atingimento dos seguintes objetivos de aprendizagem até o
término desta etapa de estudos:

1. Apontar o histórico das políticas públicas da área da saúde no


Brasil.

2. Explicar o amparo legal o amparo legal das políticas públicas


da área da saúde no Brasil.

3. Identificar a Lei Orgânica do SUS (Lei nº 8.080/1990).

4. Interpretar os aspectos do público e do privado nas ações e nos


serviços da saúde no Brasil e os mecanismos de atuação do
SUS por meio da legislação de suporte.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento? Ao trabalho!
12 Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde

Serviços e Ações do SUS


OBJETIVO:

Neste capítulo, você deverá ter compreendido os principais


marcos históricos das políticas públicas da área da saúde
no Brasil, desde a chegada da família real até os dias mais
atuais, bem como conhecerá o amparo legal das políticas
públicas que normatizam a área da saúde no País. E então?
Motivado para desenvolver esta competência? Então,
vamos lá. Avante!

Histórico da saúde no Brasil


Os primórdios de ações e serviços na área da saúde no Brasil
remontam à época da colonização, e, em detrimento do poder aquisitivo
de cada um, aqueles que tinham recursos conseguiam realizar consultas
médicas. Em contrapartida, os que não detinham recursos dependiam
de caridade e filantropia, inclusive, por intermédio de Santas Casas de
Misericórdia.

Após a chegada da família real ao Brasil, foram criados os primeiros


cursos de medicina em território brasileiro. A primeira instituição de ensino
voltada à medicina foi a Universidade Federal da Bahia, inaugurada em 18
de fevereiro de 1808, com o nome de Escola de Cirurgia da Bahia. Nesse
período, foram criados os primeiros órgãos de saúde pública que tinham
como atribuição inspecionar a saúde e o saneamento básico.
Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde 13

Figura 1 – Escola de Cirurgia da Bahia

Fonte: Escola de Cirurgia..., 2016.

Em 1900, foi criado o Instituto Soroterápico Federal, voltado à


fabricação de soros e vacinas contra a peste. Esse Instituto passou a se
chamar, no ano de 1908, como Instituto Oswaldo Cruz.

No decorrer da história da saúde pública no País, tem-se o


combate a diversas doenças consideradas surtos epidêmicos urbanos e
às endemias rurais que afetavam pessoas de todas as classes sociais e
raças, sem nenhuma distinção. Essas doenças eram malária, doença de
Chagas etc.

Isso fez com que se desenvolvesse uma campanha pela reforma


da saúde pública e pelo saneamento dos sertões, ensejando a criação
da Liga Pró-Saneamento do Brasil, em fevereiro de 1918. Esse movimento
contou com o apoio de nomes expressivos do País, que buscavam a
aprovação de algumas propostas da área de saúde e saneamento, dentre
elas, a criação do Ministério da Saúde, o que não ocorreu nessa época.
14 Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde

Em 1920, foi criado o Departamento Nacional de Saúde Pública,


o qual buscava centralizar as ações sanitárias no âmbito federal e que,
inicialmente, teve como diretor Carlos Chagas.

Foi organizado, em 1942, o Serviço Especial de Saúde Pública (Sesp),


com competências que incluíam o saneamento de regiões produtoras
de matérias-primas que, com o passar dos anos, veio a ter suas funções
ampliadas.

Em 1953, foi criado o Ministério da Saúde, que desenvolvia ações


junto aos estados e aos municípios voltadas praticamente a campanhas
de prevenção de doenças e de promoção à saúde.

Na final da década de 1960, o Estado atuava na área da saúde por


meio do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), que, em 1977,
passou a se chamar INAMPS (Instituto Nacional de Assistência Médica da
Previdência Social), o que perdurou até meados de 1993.

Além disso, também podemos citar outros marcos históricos, como:

•• Regulamentação do Código Nacional de Saúde, no ano de 1961,


por meio do Decreto nº 49.974/1961.

•• O Sesp passou a ser a Fundação de Serviços de Saúde Pública


(Fsesp), o qual criou, dentre outros, o Boletim Epidemiológico.

•• Em 1970, foi criada a Divisão Nacional de Epidemiologia e


Estatística da Saúde (Dness).

•• Em 1971, foi criada a Central de Medicamentos (Ceme).

•• Em 1976, foi implantado o Sistema de Informações sobre


Mortalidade (SIM).

•• Por meio do Decreto nº 79.056/1976, foram criadas a Secretaria


Nacional de Ações Básicas e a Secretaria Nacional de Programas
Especiais de Saúde.

•• Por meio da Portaria GM/MS nº 280/1977, é instituído o Sistema


Nacional de Laboratórios Públicos.

•• Em 1988, foi criado o Sistema Único de Saúde (SUS).


Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde 15

SAIBA MAIS:

A saúde pública no Brasil, durante o regime militar, começou


com um processo de mudança que criou as primeiras
bases para o surgimento do SUS, na década de 1990.
Houve uma redefinição das competências do Ministério da
Saúde, agora atuante em formulação da Política Nacional
de Saúde, assistência médica ambulatorial, prevenção
da saúde, controle sanitário e pesquisas na área da
saúde. Dessa maneira, ele deixava de ser somente um
aparato burocrático, tornando-se efetivamente um órgão
importante na gestão e na responsabilidade pela condução
das políticas públicas de saúde no País.

Inserido na Constituição Federal de 1988, o SUS iniciou uma


sistemática de atendimento cujos princípios valorizam o acesso universal
à saúde por todos, a equidade e a integralidade nas ações e nos serviços
de saúde e, como estratégias de gestão, a descentralização e o controle
social.
Figura 2 – Saúde pública

Fonte: Freepik.
16 Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde

O INAMPS foi extinto em 1993, e suas atividades e competências


foram absorvidas pelas instancias federal, estadual e municipal gestoras
do SUS. Com isso, passou-se a ter uma reorganização que abrangeu
diversas inovações, de acordo com Machado et al. (2012):

•• Modalidades distintas de gestão para estados e municípios.

•• Requisitos e modos de transferência de recursos federais para


estados e municípios.

•• Instâncias de negociação e decisão entre gestores dos distintos


níveis governamentais.

•• Programas inovadores da atenção básica, como o de saúde da


família.

•• Mecanismos de programação, controle, avaliação e auditoria.

•• Sistemas de informação etc.

Destaque-se que houve uma efetiva adoção de procedimentos


e regulação de padrões após a edição da Lei Orgânica do SUS (Lei nº
8.080/1990). Sendo assim, houve uma melhora considerável no tocante à
qualidade das ações e dos serviços de saúde no Brasil.

Figura 3 – Ações do SUS

Fonte: HOSPITAL SÃO VICENTE…, 2018.


Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde 17

Isso é muito notável quando analisamos como os serviços de


saúde eram prestados antes da instituição do SUS, visto que, por muito
tempo, várias pessoas eram atendidas pela caridade das Santas Casas de
Misericórdia, sendo o único meio de tratamento de saúde para quem não
tinha dinheiro.

Essas santas casas eram criadas por entidades religiosas, com o


cunho de assistência médica às pessoas, e existiam diversas por todo o
País.

Em 1991, foi criada a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), pelo


Decreto nº 100/1991, o qual determina as ações e os serviços de saúde
pública que essa fundação deve promover e executar.

Também faz parte da evolução histórica da saúde no Brasil as


Conferências Nacionais de Saúde, que buscam constantemente avaliar
a situação da saúde, bem como propor diretrizes para a formulação da
política de saúde em todos os níveis do Governo.

Essas conferências tiveram início em 1941, estendendo-se até os


dias atuais.

Também vale destacar que diversas outras ações foram implantadas


para aperfeiçoar as ações e os serviços de saúde:

•• Incentivo à produção de medicamentos genéricos.

•• Mutirões com o intuito de diminuir as filas de atendimento na


oferta de serviços específicos.

•• Fortalecimento do Programa Nacional de Doenças Sexualmente


Transmissíveis.

•• Reorganização do controle de produtos e serviços sujeitos à


vigilância sanitária que passou a ser competência da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

•• Regulamentação dos planos privados de assistência médica pela


Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
18 Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde

Amparo legal das políticas de saúde no


Brasil
As políticas de saúde no Brasil são amparadas por um arcabouço
normativo formado por leis, decretos, portarias, instruções normativas,
entre outros. Além de ser regida por diversos dispositivos que constam na
Constituição Federal de 1988.

Algumas das principais leis que trazem disposições acerca da


saúde no Brasil são:

•• Lei nº 8.080/1990 – Lei Orgânica da Saúde.

•• Lei nº 8.142/1990 – Dispõe sobre a participação da comunidade e


transferências intergovernamentais.

Desse modo, ao longo dos nossos estudos, nos aprofundaremos


um pouco nessas leis. Contudo, primeiramente, conheceremos o que
a Constituição Federal estabelece sobre a saúde no Brasil.

Amparo constitucional da saúde no Brasil


Corolário constituinte, o art. 5°, da CF/1988, traz, em seu caput,
um direito que também é assegurado como garantia fundamental e é
cláusula pétrea: o direito à vida.
Figura 4 – Direito à vida

Fonte: Freepik.
Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde 19

Esse direito é resguardado, ainda, por vários outros conceitos,


também aplicados na CF/1988. Como direito social, a saúde é tratada, em
seu artigo 6°: “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o
trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social,
a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados,
na forma desta Constituição”.

Lenza (2012, p. 1.077) afirma que a doutrina assevera o princípio


da dupla vertente aos direitos sociais: “no tocante à saúde, que ganha
destaque, enquanto direito social, no texto de 1988: a) natureza negativa:
o Estado ou terceiros devem abster-se de praticar atos que prejudiquem
terceiros; b) natureza positiva: fomenta-se um Estado prestacionista para
implementar o direito social”.

DEFINIÇÃO:

São os direitos que objetivam garantir aos indivíduos


o exercício e o usufruto de direitos fundamentais em
condições de igualdade, para que tenham uma vida digna
por meio da proteção de garantias dadas pelo estado de
direito. Acesse.

Ainda, na CF/1988, a Seção II, TÍTULO VIII - Da Ordem Social, por


meio do art. 196, diz o seguinte: “A saúde é direito de todos e dever do
Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à
redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e
igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.
20 Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde

Figura 5 – Princípio da universalidade

Fonte: VÍDEOS REGISTRAM…, 2019, on-line.

Ainda em relação ao art. 196, Araújo e Serrano (2003) destacam


que o término desse artigo menciona os dois princípios mais importantes
sobre a saúde, na CF/1988: o princípio do acesso universal e o princípio
do acesso igualitário.

ACESSE:

Clique aqui.

Para Kuschnir, Horácio e Lima e Lira (2012, p.), o sistema de saúde


público brasileiro possui “financiamento é público, realizado por meio de
tributos pagos pela população e coletados pelo Estado e organização é
pública, realizada diretamente pelo Estado”.

Outro ponto importante é o fato de que, embora o Poder Público


seja o detentor responsável pela implantação das políticas públicas
de saúde, a CF/1988 permite que tais serviços sejam disponibilizados,
indiretamente, por meio de terceiros, bem como prestados por pessoas
físicas e jurídicas de direito privado mediante a regulamentação e a
fiscalização do Poder Público, tal qual previsão do art. 197, da CF/1988.
Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde 21

Para que exista uma prestação de ações e de serviços de saúde com


boa qualidade, eficiente, eficaz e com efetividade, o art. 198, da CF/1988
determina que esses serviços adotem as diretrizes da descentralização
mediante direção única nas esferas municipal, estadual, distrital e federal,
realize atendimento integral, priorizando atividades preventivas e que haja
atuação conjunta da sociedade.

IMPORTANTE:

CARACTERÍSTICAS DAS AÇÕES E SERVIÇOS DE SAÚDE


Boa qualidade: percepção positiva de determinado
serviço ou produto, e que, ao adquiri-lo, este atinja o grau
de satisfação almejado.
Eficiente: utilização racional de recursos materiais e
humanos, de modo que o processo produtivo seja mais
econômico, demande menor tempo e seja realizado da
maneira mais prática possível.
Eficaz: resultado satisfatório, de acordo com parâmetros
estabelecidos conforme conceito de boa qualidade e
obtidos por um processo produtivo eficiente.
Efetividade: dizemos que é a realização do modo
racional de um processo (eficiente), que atinge um
resultado satisfatório (eficaz), e que, da junção desses dois
dispositivos, ele alcança um grau de realização, de forma
que todo o planejamento, se já cumprido com êxito, atinja
todas as metas propostas.
22 Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde

RESUMINDO:

Neste capítulo, conhecemos um pouco a história da saúde


no Brasil, por meio de fatos marcantes que fizeram parte
do percurso trilhado pelas políticas de saúde no País,
até chegar ao que hoje encontramos. Passamos de uma
época em que, praticamente, não existia saúde pública
para a instituição do SUS, com a preocupação não apenas
de oferecer tratamento médico mas também vacinas,
vigilância sanitária, entre outras ações e serviços. Depois,
compreendemos o amparo legal das políticas de saúde no
País, conhecendo as principais leis e como a Constituição
Federal foi fundamental para a mudança na forma de
disponibilização desse direito, fazendo com que a oferta
fosse igualitária e universal.
Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde 23

Amparo Constitucional da Saúde no


Brasil
OBJETIVO:

Neste capítulo, compreenderemos a lei organizadora


do SUS, criada para normatizar esse, demonstrando os
principais aspectos dessa Lei. Além disso, conheceremos
outro normativo importante, que é a Lei nº 8.142/1990, que
regulamenta a participação da comunidade na gestão do
SUS etc.

Lei nº 8.8080/1990
A Lei n° 8.080, de 19 de setembro de 1990, estabelece as condições
para a promoção, a proteção e a recuperação da saúde, a organização e
o funcionamento dos serviços correspondentes.

Para que isso ocorra, seu art. 1° estabelece que:


Esta lei regula, em todo o território nacional, as ações e
serviços de saúde, executados isolada ou conjuntamente,
em caráter permanente ou eventual, por pessoas naturais
ou jurídicas de direito Público ou privado” (BRASIL, 1990).

Convém frisar que toda e qualquer legislação que rege determinada


matéria deve estar em consonância com a CF/1988, haja vista a
possibilidade de se arguir a invalidade daquele documento.

Como reforço das normas constitucionais que versam sobre


a saúde, o art. 2°, da Lei 8.080/90 reitera ser um direito fundamental o
acesso à saúde, e que o Estado deve provê-la por meio de condições ao
seu pleno exercício.

Paralelo ao Estado, as pessoas, a família, as empresas e a sociedade


como um todo também têm deveres quanto à saúde pública. Isso é o que
diz o parágrafo 2°, do art. 2°, da Lei n° 8.080/1990.
24 Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde

Figura 6 – Dever de todos

Fonte: Freepik.

Outros princípios reiterados são: universalidade e igualdade, ambos


citados no parágrafo 1°, do art. 2º, da Lei n° 8.080/1990:
O dever do Estado de garantir a saúde consiste na
formulação e execução de políticas econômicas e
sociais que visem à redução de riscos de doenças e de
outros agravos e no estabelecimento de condições que
assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos
serviços para a sua promoção, proteção e recuperação
(BRASIL, 1990, on-line).

IMPORTANTE:

Para a Lei Orgânica do SUS, existem fatores determinantes


para a obtenção da saúde, e são instituídos no § 3°, são
eles: “alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio
ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o
lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais” (BRASIL,
1990). Tais conceitos corroboram com o entendimento
de que um acesso maior a esses quesitos implica uma
organização econômica e social mais elevada.
Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde 25

O art. 6°, da Lei nº 8.080/1990, enumera um rol de atuações do SUS,


a saber:
I - a execução de ações:

a) de vigilância sanitária;

b) de vigilância epidemiológica;

c) de saúde do trabalhador; e

d) de assistência terapêutica integral, inclusive


farmacêutica;

II - a participação na formulação da política e na execução


de ações de saneamento básico;

III - a ordenação da formação de recursos humanos na


área de saúde;

IV - a vigilância nutricional e a orientação alimentar;

V - a colaboração na proteção do meio ambiente, nele


compreendido o do trabalho;

VI - a formulação da política de medicamentos,


equipamentos, imunobiológicos e outros insumos de
interesse para a saúde e a participação na sua produção;

VII - o controle e a fiscalização de serviços, produtos e


substâncias de interesse para a saúde;

VIII - a fiscalização e a inspeção de alimentos, água e


bebidas para consumo humano;

IX - a participação no controle e na fiscalização da


produção, transporte, guarda e utilização de substâncias e
produtos psicoativos, tóxicos e radioativos;

X - o incremento, em sua área de atuação, do


desenvolvimento científico e tecnológico;

XI - a formulação e execução da política de sangue e seus


derivados (BRASIL, 1990, on-line).

A competência da gestão do SUS é do Ministério da Saúde, no


plano federal, às secretarias estaduais de saúde, nos estados e no Distrito
Federal, e às secretarias municipais de saúde, no âmbito municipal,
cabendo a prestação direta ou complementar pela iniciativa privada de
maneira regionalizada e em hierarquia de complexidade.
26 Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde

A uniformidade dos planos de saúde de cada governo será garantida


pelo Conselho Nacional de Saúde, por meio de diretrizes, em razão das
características epidemiológicas e da organização dos serviços de saúde.

No âmbito nacional, por intermédio de comissões intersetoriais,


serão geridas as atividades e os serviços da saúde. As comissões serão
subordinadas ao Conselho Nacional de Saúde, e terão participação de
entidades da sociedade civil, além de orientação dos ministérios e dos
órgãos competentes.

As comissões intersetoriais criarão políticas e programas que


adotarão, entre outras atividades, as seguintes vertentes de atuação:
alimentação e nutrição, saneamento e meio ambiente, vigilância sanitária
e farmacoepidemiologia, recursos humanos, ciência e tecnologia, e saúde
do trabalhador.
Figura 7 – Comissões intersetoriais

Fonte: Elaborada pelo autor, 2022.

Assim como a CF/1988, a Lei n° 8.080/1990 também assegura à


iniciativa privada “a promoção, proteção e recuperação da saúde através
da atuação, por iniciativa própria, de profissionais liberais, legalmente
habilitados, e de pessoas jurídicas de direito privado” (BRASIL, 1990).
Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde 27

Em se tratando de responsabilidades, temos que as três esferas


de governo (federal, estadual e municipal) possuem atribuições comuns.
Com o intuito de evidenciar as mais importantes, o art. 15, da Lei nº
8.080/1990 traz os seguintes: “definição das instâncias e mecanismos
de controle, avaliação e de fiscalização das ações e serviços de saúde e
administração dos recursos orçamentários e financeiros destinados, em
cada ano, à saúde” (BRASIL, 1990).

Acerca das competências, a direção nacional do SUS, por intermédio


do art. 16, da Lei nº 8.080/1990, deve:
I - formular, avaliar e apoiar políticas de alimentação e
nutrição;

II - participar na formulação e na implementação das


políticas:

a) de controle das agressões ao meio ambiente;

b) de saneamento básico; e

c) relativas às condições e aos ambientes de trabalho;

III - definir e coordenar os sistemas:

a) de redes integradas de assistência de alta complexidade;

b) de rede de laboratórios de saúde pública;

c) de vigilância epidemiológica; e

d) vigilância sanitária;

IV - participar da definição de normas e mecanismos


de controle, com órgão afins, de agravo sobre o meio
ambiente ou dele decorrentes, que tenham repercussão
na saúde humana;

V - participar da definição de normas, critérios e padrões


para o controle das condições e dos ambientes de trabalho
e coordenar a política de saúde do trabalhador;

VI - coordenar e participar na execução das ações de


vigilância epidemiológica;

VII - estabelecer normas e executar a vigilância sanitária


de portos, aeroportos e fronteiras, podendo a execução
ser complementada pelos Estados, Distrito Federal e
Municípios;
28 Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde

VIII - estabelecer critérios, parâmetros e métodos para o


controle da qualidade sanitária de produtos, substâncias e
serviços de consumo e uso humano;

IX - promover articulação com os órgãos educacionais


e de fiscalização do exercício profissional, bem como
com entidades representativas de formação de recursos
humanos na área de saúde;

X - formular, avaliar, elaborar normas e participar na


execução da política nacional e produção de insumos
e equipamentos para a saúde, em articulação com os
demais órgãos governamentais;

XI - identificar os serviços estaduais e municipais de


referência nacional para o estabelecimento de padrões
técnicos de assistência à saúde;

XII - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e


substâncias de interesse para a saúde;

XIII - prestar cooperação técnica e financeira aos Estados,


ao Distrito Federal e aos Municípios para o aperfeiçoamento
da sua atuação institucional;

XIV - elaborar normas para regular as relações entre


o Sistema Único de Saúde (SUS) e os serviços privados
contratados de assistência à saúde;

XV - promover a descentralização para as Unidades


Federadas e para os Municípios, dos serviços e ações
de saúde, respectivamente, de abrangência estadual e
municipal;

XVI - normatizar e coordenar nacionalmente o Sistema


Nacional de Sangue, Componentes e Derivados;

XVII - acompanhar, controlar e avaliar as ações e os


serviços de saúde, respeitadas as competências estaduais
e municipais;

XVIII - elaborar o Planejamento Estratégico Nacional no


âmbito do SUS, em cooperação técnica com os Estados,
Municípios e Distrito Federal; e

XIX - estabelecer o Sistema Nacional de Auditoria e


coordenar a avaliação técnica e financeira do SUS em
todo o Território Nacional em cooperação técnica com os
Estados, Municípios e Distrito Federal.
Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde 29

Parágrafo único. A União poderá executar ações de


vigilância epidemiológica e sanitária em circunstâncias
especiais, como na ocorrência de agravos inusitados
à saúde, que possam escapar do controle da direção
estadual do Sistema Único de Saúde (SUS) ou que
representem risco de disseminação nacional. (BRASIL,
1990, on-line).

Como é sabida, a prestação de serviços públicos de saúde nem


sempre é efetiva, tampouco consegue atender com a devida presteza
as demandas da sociedade. Para tanto, o Poder Público pode recorrer à
iniciativa privativa de maneira complementar. Faz-se necessário comentar
que o método utilizado para formalização dos serviços pode ser por
contrato ou convênio público, tal qual preconiza o parágrafo único, do art.
24, da Lei nº 8.080/1990 (BRASIL, 1990).

Os recursos utilizados na prestação de serviços do SUS serão


depositados em conta específica, sendo necessário um órgão gestor
responsável, assim como o Fundo Nacional de Saúde (FNS), no Governo
Federal. Para que haja um acompanhamento e uma fiscalização efetivos
de tais recursos, o § 4º, do art. 33, admite que:
O Ministério da Saúde acompanhará, através de seu
sistema de auditoria, a conformidade à programação
aprovada da aplicação dos recursos repassados a Estados
e Municípios. Constatada a malversação, desvio ou não
aplicação dos recursos, caberá ao Ministério da Saúde
aplicar as medidas previstas em lei (BRASIL, 1990, on-line).

As atividades da saúde, conforme dito anteriormente, são financiadas


por recursos públicos, e as autoridades que detém a responsabilidade
distribuir os recursos deverão transferir tais valores ao FNS, de maneira
automática.

IMPORTANTE:

Na distribuição dos recursos financeiros da Seguridade


Social, será observada a mesma proporção da despesa
prevista de cada área, no orçamento da seguridade social.

A utilização efetiva e eficiente dos recursos da área da saúde


depende, também, de um planejamento orçamentário que será levado,
30 Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde

a efeito das municipalidades, até o nível federal de governo, e serão


formalizados em planos de saúde elaborados em cada esfera de governo.

Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990


Dando prosseguimento às ações e aos serviços da saúde e, com o
intuito de ampliar a participação da sociedade na gestão da saúde pública,
é editada, em 19 de dezembro de 1990, a Lei nº 8.142, que especifica
a atuação da sociedade nas atividades do SUS, bem como aborda os
procedimentos para transferência dos recursos arrecadados.

O art. 1º, da Lei nº 8.142/1990, diz que, nas respectivas esferas de


governo, além das funções do Poder Legislativo, atuarão duas instâncias
colegiadas: conferência de saúde e conselho de saúde. Sendo assim, o §
1º, do art. 1º, da Lei nº 8.142/1990 determina as atribuições e composição
daqueles:
§ 1°. A Conferência de Saúde reunir-se-á a cada quatro
anos com a representação dos vários segmentos sociais,
para avaliar a situação de saúde e propor as diretrizes
para a formulação da política de saúde nos níveis
correspondentes, convocada pelo Poder Executivo ou,
extraordinariamente, por esta ou pelo Conselho de Saúde.

§ 2°. O Conselho de Saúde, em caráter permanente e


deliberativo, órgão colegiado composto por representantes
do governo, prestadores de serviço, profissionais de
saúde e usuários, atua na formulação de estratégias e no
controle da execução da política de saúde na instância
correspondente, inclusive nos aspectos econômicos
e financeiros, cujas decisões serão homologadas pelo
chefe do poder legalmente constituído em cada esfera do
governo.

§ 3°. O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass)


e o Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde
(Conasems) terão representação no Conselho Nacional de
Saúde.

§ 4°. A representação dos usuários nos Conselhos de Saúde


e Conferências será paritária em relação ao conjunto dos
demais segmentos.
Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde 31

§ 5°. As Conferências de Saúde e os Conselhos de Saúde


terão sua organização e normas de funcionamento
definidas em regimento próprio, aprovadas pelo respectivo
conselho (BRASIL, 1990, on-line).

IMPORTANTE:

Para que os recursos destinados às políticas da área da


saúde sejam repassados aos municípios, aos estados e
ao Distrito Federal, estes deverão apresentar os seguintes
requisitos:
I - Fundo de Saúde.
II - Conselho de Saúde, com composição paritária de
acordo com o Decreto n° 99.438, de 7 de agosto de 1990.
III - Plano de saúde.
IV - Relatórios de gestão que permitam o controle de que
trata o § 4° do art. 33 da Lei n° 8.080, de 19 de setembro de
1990.
V - Contrapartida de recursos para a saúde no respectivo
orçamento.
VI - Comissão de elaboração do Plano de Carreira, Cargos
e Salários (PCCS), previsto o prazo de dois anos para sua
implantação.
Parágrafo único. O não atendimento pelos municípios,
ou pelos estados, ou pelo Distrito Federal, dos requisitos
estabelecidos neste artigo, implicará em que os recursos
concernentes sejam administrados, respectivamente,
pelos Estados ou pela União.
32 Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde

RESUMINDO:

Neste capítulo, vimos que a Lei nº 8.080/1990 estabelece


diretrizes relacionadas com o SUS, a serem aplicadas em
todo o âmbito nacional, incluindo, até mesmo, a participação
da sociedade e das empresas nos deveres com a saúde
pública. Compreendemos que essa lei traz as atuações do
SUS, dentre as quais, estão a vigilância sanitária, a vigilância
epidemiológica e a saúde do trabalhador, que o SUS é
competência do Ministério da Saúde e das secretarias
estaduais, distritais e municipais, e que a direção nacional
do SUS possui diversas competências, como definir e
coordenar os sistemas de vigilância epidemiológica. Vimos
também diversos dispositivos acerca da Lei nº 8.142/1990,
que dispõe sobre a atuação da sociedade nas atividades
do SUS e aborda os procedimentos para a transferência
de recursos arrecadados. Por fim, conhecemos diversos
conceitos importantes sobre a saúde, como a região de
saúde, o contrato organizativo da ação pública da saúde, as
portas de entrada, as comissões intergestores, o mapa de
saúde, a rede de atenção à saúde, os serviços especiais de
acesso aberto, o protocolo clínico e a diretriz terapêutica.
Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde 33

Lei Orgânica do SUS


OBJETIVO:

Neste capítulo, entenderemos os mecanismos de


atuação do SUS pela Portaria nº 2.203/1996, no qual serão
explanados os principais pontos dessa norma operacional
básica.

Portaria nº 2.203, de 5 de novembro de


1996 – (NOB 01/1996)
Buscando a consolidação da atuação dos municípios na gestão
da saúde, foi editada a Norma Operacional Básica 01/1996, além de
ressaltar a atuação da esfera municipal, essa norma também aponta o
compromisso dos governos estaduais e federal.

Para tanto, o item 2 dessa norma busca reordenar as diretrizes de


atuação conforme:
a) os papéis de cada esfera de governo e, em especial, no
tocante à direção única;

b) os instrumentos gerenciais para que municípios e


estados superem o papel exclusivo de prestadores de
serviços e assumam seus respectivos papéis de gestores
do SUS;

c) os mecanismos e fluxos de financiamento, reduzindo


progressiva e continuamente a remuneração por produção
de serviços e ampliando as transferências de caráter
global, fundo a fundo, com base em programações
ascendentes, pactuadas e integradas;

d) a prática do acompanhamento, controle e avaliação no


SUS, superando os mecanismos tradicionais, centrados
no faturamento de serviços produzidos, e valorizando
os resultados advindos de programações com critérios
epidemiológicos e desempenho com qualidade;

e) os vínculos dos serviços com os seus usuários,


privilegiando os núcleos familiares e comunitários, criando,
34 Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde

assim, condições para uma efetiva participação e controle


social (BRASIL, 1996, on-line).

Tendo em vista a posição do município perante a gestão,


convém destacar outro aspecto importante: a gerência (comando) dos
estabelecimentos ou órgãos de saúde de um município é da pessoa
jurídica que opera o serviço, sejam estes estatais (federal, estadual ou
municipal) ou privados (NOB 01/1996).

Dessa forma, devido à necessidade de atendimento da população


que engloba a rede de atendimento municipal, a relação desse
gerente deve ocorrer somente com o gestor do município onde o seu
estabelecimento está sediado, seja para atender a população local, seja
para atender a referenciada de outros municípios. (NOB 01/1996).

A participação do gestor estadual pode ser descrita em quatro


papéis:

Promover as condições e incentivar


o poder municipal para que assuma
Exercer a gestão do SUS,
a gestão da atenção à saúde de seus
no âmbito estadual.
munícipes, sempre na perspectiva da
atenção integral.
Assumir, em caráter
transitório (o que
não significa caráter
complementar ou Ser o promotor da harmonização, da
concorrente), a gestão da integração e da modernização dos
atenção à saúde daquelas sistemas municipais, compondo, assim,
populações pertencentes o SUS-Estadual.
a municípios que ainda
não tomaram para si essa
responsabilidade.
Fonte: Brasil (1996).

O estado ainda assume outro papel importante quanto à gestão, no


sentido de realinhar a programação dos serviços de saúde, bem como
ratificar as decisões sobre o planejamento do apoio de logística e gestão
estratégica do SUS-Estadual. Nesse contexto, a NOB 01/1996 estabelece
que sejam ratificados os seguintes tópicos:
Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde 35

a) plano estadual de saúde, contendo as estratégias, as


prioridades e as respectivas metas de ações e serviços
resultantes, sobretudo, da integração das programações
dos sistemas municipais;

b) estruturação e operacionalização do componente


estadual do Sistema Nacional de Auditoria;

c) estruturação e operacionalização dos sistemas de


processamento de dados, de informação epidemiológica,
de produção de serviços e de insumos críticos;

d) estruturação e operacionalização dos sistemas de


vigilância epidemiológica, de vigilância sanitária e de
vigilância alimentar e nutricional;

e) estruturação e operacionalização dos sistemas de


recursos humanos e de ciência e tecnologia;

f) elaboração do componente estadual de programações


de abrangência nacional, relativas a agravos que
constituam riscos de disseminação para além do seu limite
territorial;

g) elaboração do componente estadual da rede de


laboratórios de saúde pública;

h) estruturação e operacionalização do componente


estadual de assistência farmacêutica;

i) responsabilidade estadual no tocante à prestação


de serviços ambulatoriais e hospitalares de alto custo,
ao tratamento fora do domicílio e à disponibilidade de
medicamentos e insumos especiais, sem prejuízo das
competências dos sistemas municipais;

j) definição e operação das políticas de sangue e


hemoderivados; e

k) manutenção de quadros técnicos permanentes e


compatíveis com o exercício do papel de gestor estadual;

l) implementação de mecanismos visando a integração


das políticas e das ações de relevância para a saúde
da população, de que são exemplos aquelas relativas a
saneamento, recursos hídricos, habitação e meio ambiente
(BRASIL, 1996, on-line).
36 Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde

Haja vista a ação conjunta das esferas de governo, os quatro papéis


básicos da gestão nacional vêm descritos da seguinte maneira:

Promover as condições e incentivar


o gestor estadual, com vistas ao
Exercer a gestão do SUS, no
desenvolvimento dos sistemas
âmbito nacional.
municipais, de modo a conformar o
SUS-Estadual.

Fomentar a harmonização,
a integração e a
Exercer as funções de normalização
modernização dos sistemas
e de coordenação no que se refere à
estaduais compondo, assim,
gestão nacional do SUS.
o SUS-Nacional.

Fonte: Brasil, 1996.

As ações e os serviços de saúde são custeados pelas três esferas de


governo, por meio de previsão constitucional. Por se tratar de seguridade
social, o financiamento da saúde é feito com base no art. 195, da CF/1988:
A seguridade social será financiada por toda a sociedade,
de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante
recursos provenientes dos orçamentos da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das
seguintes contribuições sociais:

I - do empregador, da empresa e da entidade a ela


equiparada na forma da lei, incidentes sobre: (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998);

a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho


pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física
que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício;
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998);

b) a receita ou o faturamento; (Incluído pela Emenda


Constitucional nº 20, de 1998)

c) o lucro; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de


1998)

II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência


social, não incidindo contribuição sobre aposentadoria
e pensão concedidas pelo regime geral de previdência
social de que trata o art. 201; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 20, de 1998);
Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde 37

III - sobre a receita de concursos de prognósticos;

IV - do importador de bens ou serviços do exterior, ou de


quem a lei a ele equiparar (BRASIL, 2016 [1988], on-line).

A NOB 01/1996 também aborda as transferências


intergovernamentais e contrapartidas dos níveis de governo, sendo essas
transferências regulares ou eventuais, da União para estados, municípios
e Distrito Federal, e estão condicionadas à contrapartida desses níveis de
governo, em conformidade com as normas legais vigentes (BRASIL, 1996).

IMPORTANTE:

O reembolso das despesas realizadas em função de


atendimentos prestados por unidades públicas aos
beneficiários de planos privados de saúde constitui fonte
adicional de recursos. Por isso, e consoante legislação
federal específica, estados e municípios devem viabilizar
estrutura e mecanismos operacionais para a arrecadação
desses recursos e a sua destinação exclusiva aos
respectivos fundos de saúde.

Outro importante conceito trazido pela NOB 01/1996 foi a


Programação Pactuada e Integrada (PPI), cuja norma preconiza que a PPI
aborda ações voltadas à assistência ambulatorial e hospitalar, de vigilância
sanitária e de epidemiologia e controle de doenças.

Ainda, explicitada no contexto da norma, a PPI “constitui um


instrumento essencial de reorganização do modelo de atenção e da
gestão do SUS, de alocação dos recursos e de explicitação do pacto
estabelecido entre as três esferas de governo” (BRASIL, 1996).
38 Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde

Figura 8 – Pactuação da saúde entre as esferas de governo

Fonte: Dieguez (2014).

Essa Programação busca garantir a disponibilização efetiva de


serviços de saúde à população em geral, para que isso aconteça, há de
se evidenciar as responsabilidades de cada município através da oferta
dos serviços no próprio município ou quer pelo encaminhamento a outras
regiões.

IMPORTANTE:

As atividades sempre serão pactuadas por intermédio de


relações entre gestores municipais e serão mediadas pelo
gestor da esfera do estado.
Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde 39

Cumpre destacar que a pactuação deverá obedecer aos princípios


e diretrizes norteadores:

A elabora- A programação A União de- A elaboração da


ção da PPI observa os princípios fine normas, programação
deve se da integralidade das critérios, observa critérios
dar em um ações de saúde e instrumentos e os parâmetros
processo da direção única em e prazos, definidos pelas
ascenden- cada nível de gover- aprova a Comissões
te, de base no, traduzindo todo o programação Intergestoras e
municipal, conjunto de ativi- de ações são aprovados
configuran- dades relacionadas sob seu pelos respecti-
do, também, a uma população controle — vos Conselhos.
as respon- específica e desen- inscritas na No tocante aos
sabilidades volvidas em um ter- programação recursos de
do Estado ritório determinado, pelo esta- origem fede-
na busca independentemente do e seus ral, os critérios,
crescente da vinculação ins- municípios prazos e fluxos
da equi- titucional do órgão — incorpora de elaboração
dade, da responsável pela as ações da programação
qualidade execução dessas sob sua integrada e de
da atenção atividades. Os órgãos responsabi- suas reprogra-
e na con- federais, estaduais lidade direta mações periódi-
formação e municipais, bem e aloca os cas ou extraor-
da rede re- como os prestadores recursos dinárias são
gionalizada conveniados disponíveis, fixados em ato
e hierar- e contratados segundo os normativo do
quizada de têm suas ações valores apu- MS e traduzem
serviços. expressas na rados na pro- as negociações
programação do gramação e efetuadas na
município em que negociados CIT e as delibe-
estão localizados, na CIT, cujo rações do CNS.
na medida em que resultado é
estão subordinados deliberado
ao gestor municipal. pelo CNS.

O item 15, da NOB 01/1996 assevera que “as condições de gestão,


estabelecidas aqui, explicitam as responsabilidades do gestor municipal,
os requisitos relativos às modalidades de gestão e as prerrogativas que
favorecem o seu desempenho” (BRASIL, 1996).
40 Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde

Corroborando com o fortalecimento das atividades específicas por


esfera de governo e alicerçados nos princípios da equidade e da isonomia,
as condições de gestão significam a declaração dos compromissos
assumidos por parte do gestor perante os outros gestores e perante a
população sob sua responsabilidade.

A partir dessa NOB, os municípios podem se habilitar em duas


condições:

a) Gestão plena da atenção básica.

b) Gestão plena do sistema municipal.

Os municípios que não aderirem ao processo de habilitação


permanecem, para efeito dessa Norma Operacional, na condição de
prestadores de serviços ao sistema, cabendo ao Estado a gestão do
SUS naquele território municipal, enquanto for mantida a situação de não
habilitado.

Ampliando o escopo da gestão básica municipal, podemos inferir


que essa norma traz inúmeras responsabilidades e, escorados nestas,
requisitos que possam dar autonomia administrativa e gerencial ao
município.

Para que as ações tenham efetividade, mediante o item 15.1.1,


trazemos as responsabilidades municipais:

* Elaboração de programação municipal dos serviços


básicos, inclusive domiciliares e comunitários, e da
proposta de referência ambulatorial especializada e
hospitalar para seus munícipes, com incorporação
negociada à programação estadual.

* Gerência de unidades ambulatoriais próprias.

* Reorganização das unidades sob gestão pública (estatais,


conveniadas e contratadas), introduzindo a prática do
cadastramento nacional dos usuários do SUS, com vistas
à vinculação de clientela e à sistematização da oferta dos
serviços.

* Contratação, controle, auditoria e pagamento aos


prestadores dos serviços contidos no PAB.
Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde 41

* Manutenção do cadastro atualizado das unidades


assistenciais sob sua gestão, segundo normas do MS.

* Avaliação permanente do impacto das ações do Sistema


sobre as condições de saúde dos seus munícipes e sobre
o seu meio ambiente.

* Execução das ações básicas de vigilância sanitária.

* Execução das ações básicas de epidemiologia, de controle


de doenças e de ocorrências mórbidas, decorrentes de
causas externas, como acidentes, violências e outras.

* Elaboração do relatório anual de gestão e aprovação pelo


Conselho Municipal de Saúde (BRASIL, 1996, on-line).

Ainda na vertente da gestão básica municipal e, corroborando as


responsabilidades no âmbito municipal, o item 15.1.2, da NOB 01/1996,
cita os seguintes requisitos:

a) Comprovar o funcionamento do CMS.

b) Comprovar a operação do Fundo Municipal de Saúde.

c) Apresentar o Plano Municipal de Saúde e comprometer-


se a participar da elaboração e da implementação da PPI
do estado, bem assim da alocação de recursos expressa
na programação.

d) Comprovar capacidade técnica e administrativa


e condições materiais para o exercício de suas
responsabilidades e prerrogativas quanto à contratação,
ao pagamento, ao controle e à auditoria dos serviços sob
sua gestão.

e) Comprovar a dotação orçamentária do ano e o dispêndio


realizado no ano anterior, correspondente à contrapartida
de recursos financeiros próprios do Tesouro Municipal, de
acordo com a legislação em vigor.

f) Formalizar junto ao gestor estadual, com vistas à


CIB, após aprovação pelo CMS, o pleito de habilitação,
atestando o cumprimento dos requisitos relativos à
condição de gestão pleiteada.

g) Dispor de médico formalmente designado como


responsável pela autorização prévia, controle e auditoria
dos procedimentos e serviços realizados.
42 Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde

h) Comprovar a capacidade para o desenvolvimento de


ações de vigilância sanitária.

i) Comprovar a capacidade para o desenvolvimento de


ações de vigilância epidemiológica.

j) Comprovar a disponibilidade de estrutura de recursos


humanos para supervisão e auditoria da rede de unidades,
dos profissionais e dos serviços realizados (BRASIL, 1996,
on-line).

RESUMINDO:

Neste capítulo, você deve ter compreendido a atuação


na gestão do SUS nos municípios, por meio da NOB
01/1996, observando as respectivas diretrizes, bem como
a participação do gestor estadual e os seus papéis, bem
como os papéis básicos da gestão nacional. Conheceu
a PPI e os princípios aos quais ela deverá obedecer. Viu
que os municípios podem se habilitar na gestão plena da
atenção básica e na gestão plena do sistema municipal, e,
para que as ações tenham efetividade, os municípios têm
algumas responsabilidades, que estão descritas na NOB,
bem como requisitos específicos. Dessa forma, foi possível
compreender como essa norma operacional é relevante
quando falamos da atuação do SUS, e como ela deve ser
seguida pelos entes públicos.
Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde 43

Pacto pela Saúde


OBJETIVO:

Neste capítulo, conheceremos os principais aspectos do


público e do privado nas ações e nos serviços de saúde no
Brasil, além de entender a importância do pacto pela saúde
e a aplicação mínima a ser realizada pelos entes federados
nas ações e nos serviços públicos.

Aspectos do público e do privado nas ações


e nos serviços de saúde no Brasil
Como acontece em vários outros segmentos, os investimentos
públicos nem sempre conseguem suprir a demanda populacional.
Inerente a esse sistema, podemos trazer ao contexto a definição de falha
de mercado.

ACESSE:

Entenda melhor o que é falha de mercado, acessando o


link.

Não poderia ser diferente em relação à área da saúde. Além


de ser um setor crucial para qualquer sociedade, aduzimos que vários
índices de desenvolvimento são atrelados a essa área. Portanto, faz-se
extremamente necessário uma comparação entre o cruzamento das
ações público–privadas no setor da saúde no Brasil.

Para Santos, Santos e Borges (2013) a discussão sobre o chamado


mix público-privado surge nos últimos vinte anos, no bojo dos movimentos
de reforma do Estado. Seu foco são questionamentos sobre méritos e
deméritos, escopo e limites da atuação do setor privado e do Estado no
financiamento e na produção de bens e serviços nos diferentes segmentos
da economia.
44 Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde

No caso dos sistemas nacionais de saúde, construídos com base


nos alicerces de proteção social do welfare state, as transformações
correspondem a um movimento de rearranjo e adequações de seu
modelo, tendo sido agregadas questões que despontam na sociedade
a partir da década de 1980, comumente identificadas por valores do
individualismo e da valorização do mercado e do setor privado. Tais
questões são elementos centrais do ideário neoliberal (SANTOS; SANTOS;
BORGES, 2013 apud UGA; MARQUES, 2005).

SAIBA MAIS:

Welfare state, ou estado de bem-estar social/ estado-


providência/ estado social, é um tipo de organização
política e econômica que coloca o Estado como agente
da promoção social e organizador da economia. Nessa
orientação, o Estado é o agente regulamentador de toda
a vida e a saúde social, política e econômica do país, em
parceria com sindicatos e empresas privadas, em níveis
diferentes e de acordo com o país em questão. Cabe, ao
Estado do bem-estar social garantir serviços públicos e
proteção à população. (WIKIPEDIA, 2019).

Figura 9 – Estado do bem-estar social

Fonte: Nani Humor.


Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde 45

No que concerne o entendimento desse contexto, as situações aqui


tratadas abordam a estrutura das ações e dos serviços de saúde no Brasil,
bem como o incremento dessas ações na perspectiva de prestadores
públicos e privados.

Santos, Santos e Borges (2013) consideram que Os arranjos público-


privados são consistentes com os objetivos gerais do sistema de saúde
— de contribuição positiva aos resultados de saúde, ao desenvolvimento
do próprio sistema de saúde e a garantia do direito social a saúde tal
como previsto na Constituição Federal Onde e de que maneira o setor
privado afeta e interfere no sistema de saúde e quais são suas interfaces
com o setor público Como os arranjos público-privados interferem na
sustentabilidade do setor de saúde Para proteger o interesse público,
quais são as necessidades de fomento ou de regulação E, finalmente,
como formular políticas de investimento e de melhorias do SUS tendo em
vista os arranjos público-privados.

No transcorrer das décadas de 1970 e 1980, destacamos uma


evidente mudança da gestão da saúde pública. A evolução da crise
econômica estabelecida no Brasil fez com que a previdência absorvesse
uma grande parte dos recursos assistenciais.

O grande acontecimento da 8ª Conferência Nacional de Saúde (8ª


CNS) em 1986, foi a criação do Sistema Unificado e Descentralizado de
Saúde (SUDS), em 1987.
Figura 10 – 8ª Conferência Nacional de Saúde

Fonte: Romulo Passos.


46 Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde

IMPORTANTE:

A implantação do SUDS surgiu de um convênio entre o


INAMPS e os governos estaduais, mas o mais importante
foi ter formado as bases para a seção “Da Saúde” (artigo 196
ao artigo 200), da Constituição Federal de 1988 (BRASIL,
1988).

Esses fatos, em conjunto com o Movimento da Reforma Sanitária


Brasileira, influenciaram a Constituinte e resultaram nos preceitos do
capítulo da Seguridade Social e da Seção da Saúde, da Constituição
Federal de 1988, que consagra um sistema público de saúde, com acesso
gratuito e universal a uma ampla cesta de serviços de saúde, organizados
pela integração entre os três níveis de atenção.

Ao mesmo tempo, foi permitida a possibilidade de a iniciativa


privada atuar na assistência à saúde — por meio de relação contratual
e convenial na prestação de serviços ao SUS, constitucionalmente,
denominada “complementar”, e posteriormente normatizada no Título III
da LOS nº 8.080/1990, sobre os serviços privados de saúde — e foram
definidos como de relevância pública as ações e os serviços de saúde,
temas dispostos, respectivamente, nos artigos 197 e 199 (SANTOS;
SANTOS; BORGES, 2013).

Portaria GM nº 399, de 22 de fevereiro de


2006 - Pacto pela Saúde
Esta Portaria, redigida em 2002, traz o compromisso público
assumido pelos gestores do SUS em prol do Pacto pela Saúde 2006.
Nesse sentido, o Anexo I, da Portaria GMS 399/2006 diz que:
Será anualmente revisado, com base nos princípios
constitucionais do SUS, ênfase nas necessidades de saúde
da população e que implicará o exercício simultâneo de
definição de prioridades articuladas e integradas nos três
componentes: Pacto pela Vida, Pacto em Defesa do SUS e
Pacto de Gestão do SUS (BRASIL, 2006, on-line).
Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde 47

Figura 11 – Pacto pela Saúde

Fonte: Conselho Nacional de Saúde.

O Anexo I, da Portaria 399/2006 afirma que o pacto pela vida


“apresenta compromissos sanitários, expressos em objetivos de processos
e resultados e derivados da análise da situação de saúde do País” (BRASIL,
2006), bem como as prioridades para cada ente da Federação.

Em relação ao pacto em defesa do SUS, o Anexo I, da Portaria 399


reitera a busca por ações conjuntas dos governos municipais, estaduais
e federal, sustentando a posição no intuito de reforçar as ações do SUS
como política de Estado por meio do seu amplo respaldo constitucional.
Nesse sentido, destacamos suas ações prioritárias:

PACTO EM DEFESA DO SUS


Expressou compromissos entre os gestores como a consolidação
da Reforma Sanitária e as articulações que objetivavam qualificar e
assegurar o SUS como política pública, tendo como prioridades a
mobilização social, os direitos dos usuários do SUS e a ampliação do
diálogo com a sociedade.
48 Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde

Articulação e apoio à mobilização


social pela promoção e
desenvolvimento da cidadania e
saúde como direito.
Estabelecimento de diálogo com a
sociedade.
Ações prioritárias
Ampliação e fortalecimento das
relações com os movimentos sociais.
Publicação da Carta dos Direitos dos
Usuários do SUS.
Regulamentação da EC nº 29 pelo
Congresso.

Com o intuito de evidenciar uma estratégia descentralizadora, o Pacto


pela Gestão do SUS apresenta uma forte “descentralização de atribuições
do Ministério da Saúde para os estados, e para os municípios, promovendo
um choque de descentralização, acompanhado da desburocratização dos
processos normativos. Reforça a territorialização da saúde como base para
organização dos sistemas, estruturando as regiões sanitárias e instituindo
colegiados de gestão regional” (BRASIL, 2006).

PACTO DE GESTÃO DO SUS


Estabeleceu responsabilidades sanitárias e diretrizes para a gestão
do SUS, expressas em Termos de Compromisso de Gestão (TCG).
Descentralização
Regionalização
Financiamento
Planejamento
Ações prioritárias Programação
Regulação
Participação e controle social
Gestão do trabalho e da
educação na saúde
Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde 49

Lei nº 141, de 13 de janeiro de 2012


Sendo extremamente cruciais para a efetiva implementação das
ações e dos serviços de saúde, os recursos financeiros devem atender
à regulamentação imposta pela legislação, de modo que os gestores,
em razão do princípio da legalidade, não possam se desviar das suas
obrigações. Nesse compasso, a Lei nº 141/2012 traz regulamentação do
§ 3o do art. 198 da Constituição Federal, que trata dos valores mínimos a
serem aplicados em ações e serviços de saúde.

O art. 1º, da Lei nº 141/2012, ensina que, por meio dessa Lei, são
regulamentados: o valor mínimo e normas de cálculo do montante mínimo
a ser aplicado, anualmente, pela União em ações e serviços públicos de
saúde, os percentuais mínimos do produto da arrecadação de impostos
a serem aplicados anualmente pelos Estados, pelo Distrito Federal e
pelos Municípios em ações e serviços públicos de saúde, os critérios de
rateio dos recursos da União vinculados à saúde destinados aos Estados,
ao Distrito Federal e aos Municípios, e dos Estados destinados aos seus
respectivos Municípios, visando à progressiva redução das disparidades
regionais e as normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas
com saúde nas esferas federal, estadual, distrital e municipal.

Destarte, não podemos deixar de evidenciar que as ações e os


serviços apresentam alguns requisitos para serem consideradas despesas
efetivas da saúde. Desta feita, o art. 3º, da Lei. nº 141, observados o art.
200, da CF/1988, e o art. 6º, da Lei nº 8.080, traz a seguinte referência:
I - vigilância em saúde, incluindo a epidemiológica e a
sanitária;

II - atenção integral e universal à saúde em todos os níveis


de complexidade, incluindo assistência terapêutica e
recuperação de deficiências nutricionais;

III - capacitação do pessoal de saúde do Sistema Único de


Saúde (SUS);

IV - desenvolvimento científico e tecnológico e controle de


qualidade promovidos por instituições do SUS;

V - produção, aquisição e distribuição de insumos


específicos dos serviços de saúde do SUS, tais como:
50 Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde

imunobiológicos, sangue e hemoderivados, medicamentos


e equipamentos médico-odontológicos;

VI - saneamento básico de domicílios ou de pequenas


comunidades, desde que seja aprovado pelo Conselho de
Saúde do ente da Federação financiador da ação e esteja
de acordo com as diretrizes das demais determinações
previstas nesta Lei Complementar;

VII - saneamento básico dos distritos sanitários especiais


indígenas e de comunidades remanescentes de
quilombos;

VIII - manejo ambiental vinculado diretamente ao controle


de vetores de doenças;

IX - investimento na rede física do SUS, incluindo a


execução de obras de recuperação, reforma, ampliação e
construção de estabelecimentos públicos de saúde;

X - remuneração do pessoal ativo da área de saúde em


atividade nas ações de que trata este artigo, incluindo os
encargos sociais;

XI - ações de apoio administrativo realizadas pelas


instituições públicas do SUS e imprescindíveis à execução
das ações e serviços públicos de saúde; e

XII - gestão do sistema público de saúde e operação


de unidades prestadoras de serviços públicos de saúde
(BRASIL, 2012, on-line).
Figura 12 – Determinação dos gastos mínimos com saúde segundo a Lei nº 141/2012

A sistemática estipulada para a aplicação dos gastos mínimos, por


esfera de governo, está no respectivo Art. 5º, da Lei nº 141, como segue:
A União aplicará, anualmente, em ações e serviços
públicos de saúde, o montante correspondente ao valor
Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde 51

empenhado no exercício financeiro anterior, apurado nos


termos desta Lei Complementar, acrescido de, no mínimo,
o percentual correspondente à variação nominal do
Produto Interno Bruto (PIB) ocorrida no ano anterior ao da
lei orçamentária anual.

[...]

Art. 6o Os Estados e o Distrito Federal aplicarão,


anualmente, em ações e serviços públicos de saúde, no
mínimo, 12% (doze por cento) da arrecadação dos impostos
a que se refere o art. 155 e dos recursos de que tratam o
art. 157, a alínea “a” do inciso I e o inciso II do caput do art.
159, todos da Constituição Federal, deduzidas as parcelas
que forem transferidas aos respectivos Municípios.

[...]

Art. 7o Os Municípios e o Distrito Federal aplicarão


anualmente em ações e serviços públicos de saúde,
no mínimo, 15% (quinze por cento) da arrecadação dos
impostos a que se refere o art. 156 e dos recursos de que
tratam o art. 158 e a alínea “b” do inciso I do caput e o § 3º
do art. 159, todos da Constituição Federal.

[...]

Art. 9o Está compreendida na base de cálculo dos


percentuais dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios qualquer compensação financeira proveniente
de impostos e transferências constitucionais previstos no
§ 2º do art. 198 da Constituição Federal, já instituída ou que
vier a ser criada, bem como a dívida ativa, a multa e os juros
de mora decorrentes dos impostos cobrados diretamente
ou por meio de processo administrativo ou judicial.

Art. 10. Para efeito do cálculo do montante de recursos


previsto no § 3o do art. 5o e nos arts. 6o e 7o, devem ser
considerados os recursos decorrentes da dívida ativa, da
multa e dos juros de mora provenientes dos impostos e da
sua respectiva dívida ativa (BRASIL, 2012, on-line).

Mediante as ferramentas de fiscalização, avaliação e controle, temos


que esse acompanhamento deverá ser feito por meio da transparência
pública de prestação de contas periódicas apresentadas pelos “gestores
de saúde da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios darão
52 Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde

ampla divulgação, inclusive disponibilizando para consulta e apreciação


dos cidadãos e de instituições da sociedade” (BRASIL, 2012, on-line).

Dentro do mesmo dispositivo, ainda temos que deverá ser dada


ênfase na:
I - comprovação do cumprimento do disposto nesta Lei
Complementar;

II - Relatório de Gestão do SUS;

III - avaliação do Conselho de Saúde sobre a gestão do


SUS no âmbito do respectivo ente da Federação (BRASIL,
2012).

IMPORTANTE:

A transparência e a visibilidade serão asseguradas mediante


incentivo à participação popular e realização de audiências
públicas, durante o processo de elaboração e discussão do
plano de saúde (BRASIL, 2012).

RESUMINDO:

Neste capítulo, compreendemos como o setor privado atua


na assistência à saúde e a importância que essa atuação
tem sobre a disponibilização desses serviços. Conhecemos
o Pacto pela Saúde, regido pela Portaria GM nº 399/2006,
entendendo as principais características do pacto pela vida,
do pacto em defesa do SUS e do pacto de gestão do SUS.
Vimos, ainda, os valores mínimos que devem ser aplicados
por cada um dos entes federados nas ações e nos serviços
públicos de saúde, para que os gestores não se abstenham
do seu dever e não desviem essas obrigações, e que esses
valores devem ser fiscalizados pelos órgãos de controle
que observarão e acompanharão por meio da prestação
de contas periódica, bem como a própria população pode
acompanhar, pelos canais de transparência pública dos
entes.
Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria em Saúde 53

REFERÊNCIAS
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sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a
organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras
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sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de
Saúde (SUS) e sobre as transferências intergovernamentais de recursos
financeiros na área da saúde e dá outras providências. Brasília, DF: Diário
Oficial da União, 1990.

BRASIL. Lei Federal nº 141, de 13 de janeiro de 2012. Dispõe sobre


os valores mínimos a serem aplicados anualmente pela União, Estados,
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DF: Diário Oficial da União, 2012.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 399/GM, de 22 de fevereiro


de 2006. Divulga o Pacto pela Saúde 2006 – Consolidação do SUS e aprova
as Diretrizes Operacionais do Referido Pacto. Brasília, DF: Ministério da
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