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SANÇÃO PENAL

➢ AULA 10/03/2021

1. PROGRESSÃO DE REGIME (CONTINUAÇÃO)

1.1. Mulheres gestantes ou mães de crianças de até 12 anos de idade:

- Motivo dessa proteção: veio a partir do Habeas Corpus Coletivo 143.641/SP,


julgado em 2015. Tal HC veio tratar da concessão de prisão domiciliar para
mulheres gestantes e mães de crianças menores de 12 anos, tendo em vista que
a realidade do encarceramento feminino é outra, pois a prisão não foi pensada
para mulheres, mas sim para os homens, logo, não há estrutura adequada para
as mulheres. Assim, há uma tentativa de adaptar a prisão à realidade feminina.
Na ausência dessa estrutura, o STJ julgou que, sempre possível, deve ser
concedida prisão domiciliar para mulheres gestantes ou mães de crianças de
até 12 anos de idade.

- Na LEP, tal proteção aparece, sobretudo, no sistema de progressão de


regime.

OBS.1: Há uma tendência de considerar os julgamentos de HCs coletivos


como precedentes, daí sua grande importância.

Lei de Execuções Penais, art. 112: A pena privativa de liberdade será


executada em forma progressiva com a transferência para regime menos
rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao
menos:

§ 3º: No caso de mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças
ou pessoas com deficiência, os requisitos para progressão de regime são,
cumulativamente:
I - não ter cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa;

II - não ter cometido o crime contra seu filho ou dependente;

III - ter cumprido ao menos 1/8 (um oitavo) da pena no regime anterior;

IV - ser primária e ter bom comportamento carcerário, comprovado pelo


diretor do estabelecimento;

V - não ter integrado organização criminosa.

2. PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO (PRD)

- Restringem a liberdade do agente de uma forma bem mais leve que as penas
privativas de liberdade.

- Autônomas: uma pessoa não pode ser condenada por pena privativa de liberdade
e por pena restritiva de direitos. A pena restritiva de direitos não é auxiliar da pena
privativa de liberdade.

- Substitutivas: As penas privativas de liberdade podem ser substituídas por penas


restritivas de liberdade. Ex.: indivíduo condenado por uma pena privativa de
liberdade pode ter sua pena alterada para uma pena restritiva de direitos, caso
obedeça aos requisitos de substituição.

- Hipóteses de substituição: arts. 43 a 48 do Código Penal

- Requisitos (cumulativos):

Objetivos:
a) Natureza do crime: não pode ter cometido com violência ou grave
ameaça.
b) Limite de pena: apenas para o agente condenado por crime culposo,
sem limite de pena, ou em até 4 anos por um crime doloso.

Subjetivos:
a) Circunstâncias judiciais (art. 59 do Código Penal), analisados na 1ª fase
da dosimetria da pena. Para que o indivíduo tenha sua direito à pena
restritiva de direito, é necessário que as circunstancias judiciais sejam
favoráveis.
b) Reincidência em crime doloso (art. 44, II, do Código Penal): aquele
reincidente em crime doloso não tem direito à pena restritiva de direito,
com uma exceção presente no art. 44, § 3º, do Código Penal. Sobre o
tema, ressalta-se um conceito estudado pela doutrina: Prognose de
Suficiência, que uma análise que o juiz faz da situação fática. Assim,
caso o juiz analise que, em que pese o autor seja reincidente, a PRD
seja socialmente recomendável. Ex.: indivíduo que já havia sido
condenado pelo crime de dano e agora está sendo condenado por furtar
energia; pelo situação econômica do agente que é agravada pelo
contexto de pandemia, é melhor uma PRD do que uma pena privativa
de liberdade. Agora, ainda que a PRD socialmente aceitável, em uma
situação em que o agente seja reincidente específico (é condenado
novamente pelo mesmo crime), não cabe PRD.

- Regras de substituição

Código Penal, art. 44: As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem
as privativas de liberdade, quando:

§2º: Na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita por
multa ou por uma pena restritiva de direitos; se superior a um ano, a pena privativa
de liberdade pode ser substituída por uma pena restritiva de direitos e multa ou
por duas restritivas de direitos.

- Conversão: punição ou adequação da pena recebida pelo agente.


a) Obrigatória: Conversão obrigatória é aplicada àquele que desrespeitou
injustificadamente as condições das penas restritivas de liberdade, o qual
terá sua pena convertida em pena privativa de liberdade. Ex.: Um
indivíduo condenado a 1 ano e 6 meses de pena restritiva de direito, após
1 ano cumprindo, tem sua pena convertida em pena privativa de liberdade
por ter desrespeitado. O 1 ano que ele cumpriu é considerado pena
cumprida, tendo o agente que cumprir em pena convertida apenas os 6
meses que faltam em regime domiciliar, por exemplo.

OBS. 2: Código Penal, art. 44, § 4º: A pena restritiva de direitos converte-
se em privativa de liberdade quando ocorrer o descumprimento
injustificado da restrição imposta. No cálculo da pena privativa de
liberdade a executar será deduzido o tempo cumprido da pena restritiva de
direitos, respeitado o saldo mínimo de trinta dias de detenção ou reclusão.

Crítica: Se um indivíduo, condenado a 1 ano e 6 meses de PRD,


tiver sua pena convertida quando o mesmo já havia cumprido 1 ano,
5 meses e 15 dias, este terá de passar 30 dias cumprindo regime
domiciliar, se for o caso, em que pese faltar apenas 15 dias para o
cumprimento de sua pena. Ou seja, o indivíduo cumprirá duas
vezes a pena de um mesmo fato, incidindo, assim, em Bis in idem.

c) Facultativa: Ocorre quando o indivíduo, enquanto estiver cumprindo a


PRD, é condenado por outro crime, devendo o juiz analisar se é
compatível o cumprimento das duas sanções. Ex.: se um indivíduo que
cumpre PRD é condenado por outro crime em regime fechado, logo,
por ser incompatível o cumprimento de PRD em regime fechado, a
PRD deverá ser convertida em pena privativa de liberdade, somando-
se a outra que recebeu. Contudo, caso sejam penas compatíveis, por
exemplo, um agente que está cumprindo PRD é condenado por outra
PRD, poderá o juiz converter ou compatibilizar as penas.

- Espécies de penas restritivas de direitos:


- Lembrem-se: a PRD sempre tem que ter a ver com o crime cometido.
Ex.: é recomendável àquele condenado a PRD por um crime de dano que
seja condenado a pagar prestação pecuniária à vítima.

a) Interdição temporária de direitos (art. 47 do Código Penal): Suas


espécies são: i) proibição do exercício de cargo, função ou atividade
pública, bem como de mandato eletivo; ii) proibição do exercício de
profissão, atividade ou ofício que dependam de habilitação especial, de
licença ou autorização do poder público; iii) suspensão de autorização ou
de habilitação para dirigir veículo; iv) proibição de frequentar
determinados lugares; v) proibição de inscrever-se em concurso, avaliação
ou exame públicos.

b) Prestação pecuniária paga à vítima (art. 45, §1º, do Código Penal);

c) Prestação de outra natureza: prestação de serviços à comunidade ou a


entidades públicas (art. 46 do Código Penal)

d) Limitação de fim de semana (art. 48 do Código Penal): pela falta de


casas de albergado, o indivíduo deverá ficar em casa. Aqui não há uso de
monitoramento eletrônico. Quem fiscaliza é o Ministério Público e a
polícia em geral, mas é bem mais leve do que nas penas privativas de
liberdade.

OBS. 3: Sobre a Lei Maria da Penha: em sede de violência doméstica, é


vedado a atribuição da pena de pagamento de cestas básicas ou de prestação
pecuniária à vítima, para que não seja reforçada a ideia de que o indivíduo
poderá se safar com a violência doméstica se pagar à vítima.

3. MULTAS

- Diferente das penas restritivas de direito, elas normalmente vem atreladas a uma
pena privativa de liberdade;
- Apenas poderá ser aplicada a multa se aquele tipo prever a pena de multa;
- Prevista no art. 49 do Código Penal;
- Destinação: Fundo Penitenciário Nacional (FUNPEN), de modo a sustentar o
sistema penitenciário. Problema: a grande massa das pessoas presas são pobres;
quando a pessoa não paga a multa, o processo deixa de ser penal e passa a ser um
processo de execução cível;
- Sistema dias-multa, ou seja, a multa será calculada por dia. Logo, quando se faz
a sentença que tenha a pena de multa, não dizemos o valor da multa, mas sim
quantos dias-multa e quanto vale cada dia-multa (de 1/30 até 5x o salário mínimo)
e, em cima desse valor, o juiz de execução fará o cálculo da multa.
- Valor: mínimo de 10 dias-multa e máximo de 360 dias-multa e 1/30 até 5x salário
mínimo à época dos fatos;
- Parâmetros de aplicação: art. 60 do Código Penal: Na fixação da pena de multa
o juiz deve atender, principalmente, à situação econômica do réu.
§ 1º - A multa pode ser aumentada até o triplo, se o juiz considerar que, em virtude
da situação econômica do réu, é ineficaz, embora aplicada no máximo.

4. DOSIMETRIA DA PENA

Aula 12/03/21

1ª Fase: Circunstâncias judiciais (art. 59 do Código Penal) – PENA BASE

2ª Fase: Atenuantes/ Agravantes – PENA PROVISÓRIA

3ª Fase: Causas de aumento ou diminuição – PENA DEFINITIVA

1. O sistema de dosimetria serve para o cálculo da pena privativa de liberdade e da


multa
2. O sistema de dosimetria é Trifásico
1. Três Fases:
1. Circunstâncias Judiciais (art. 59 do Código Penal) para
chegar na PENA BASE
2. Atenuantes e Agravantes (art. 61 e 65 do Código Penal)
para chegar na PENA PROVISÓRIA
3. Causas de Aumento ou Diminuição para chegar na PENA
DEFINITIVA
3. Princípios:
1. Individualização das Penas (art. 5, XLVI CF): A pena é calculada para
cada indivíduo, não podendo ter valores de pena genéricos (o que têm no
código pena é apenas os parâmetros de pena). Dessa forma, mesmo que
haja um crime com vários participantes, cada um terá uma pena diferente,
já que os requisitos serão cumpridos de maneira diferente.
2. Bis in idem: Proíbe uma dupla valoração do mesmo fato. Para a
dosimetria, o bis in idem é importante, pois em circunstâncias comuns a
mais de uma fase, não se deve repeti-lo para agravar a pena
3. Motivação das decisões (ART. 93 IX CF): Todos as afirmações na
dosimetria devem ser justificadas/fundamentadas
4. Fases:
1. 1ª Fase: Analisa as Circunstâncias Judiciais do artigo 59 do CP. Após isso,
tem-se uma PENA BASE
1. Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos
antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente,
aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime,
bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá,
conforme seja necessário e suficiente para reprovação e
prevenção do crime:
2. A pena a ser usada inicialmente no cálculo é a pena
mínima. Por exemplo, no crime de roubo, a pena mínima é
04 anos, de acordo com o art. 157 do CP. Então ela que será
utilizada.
3. Deve-se analisar as 8 circunstâncias, de forma a ver se são
favoráveis, desfavoráveis ou neutras em relação ao réu.
1. A circunstância desfavorável aumenta a pena
2. A circunstância favorável ou neutra não
interfere na pena mínima
4. Circunstâncias Judiciais:

I. Culpabilidade: Quando se faz a dosimetria, o réu já está condenado e já é


considerado culpado. Portanto, se analisa as circunstâncias em que o crime foi
cometido. Então, a Culpabilidade é sinônimo de Reprovabilidade da conduta, pois
está relacionada à reprovação social de maior ou menor gravidade
1. Exemplo: Em crime de roubo, houve o uso de simulacro (objeto que simula uma
arma). A vítima, no momento do crime, não sabe se é uma arma de verdade ou
não, e fica muito nervosa. Em outro situação, a pessoa está falando ao telefone e
um indivíduo a empurra e leva seu celular.
a. É de se avaliar: O que assusta mais? Um objeto que pode ser uma arma de
verdade que poderá tirar sua vida ou uma situação rápida de empurrão e
posterior perda do objeto? A culpabilidade, portanto, é o plus, ao a mais
que deixa o crime mais grave do que ele já é.
2. Súmula 19 TJPA

Na dosimetria basilar, a culpabilidade do agente diz


respeito à maior ou menor reprovabilidade da conduta,
não se confundindo com a culpabilidade como elemento
do crime, que é composta pela imputabilidade, potencial
conhecimento da ilicitude do fato e exigibilidade de
conduta diversa. (Súmula n. 19, 8ª Sessão Ordinária do
Tribunal Pleno, aprovado em 16/03/2016, DJ
17/03/2016, p. 19-21)

3. Súmula 17 TJPA

A fixação da pena-base deve ser fundamentada de forma


concreta, idônea e individualizada, não sendo
suficientes referências a conceitos vagos, genéricos ou
inerentes ao próprio tipo penal. (Súmula n. 17, 8ª Sessão
Ordinária do Tribunal Pleno, aprovado em 16/03/2016,
DJ 17/03/2016, p. 16-17)

II. Antecedentes: É uma condenação transitada em julgado por fator anterior ao


que estou julgando agora. Caracterizam-se como o passado criminal do agente,
respeitando a presunção constitucional de inocência do acusado. A ideia dos
antecedentes é de que o indivíduo tem um grau de reprovabilidade maior da sua
conduta, pois ele cometeu um crime antes do crime julgado agora.
1. Exemplo 1: Em 2015, um indivíduo cometeu um furto. Em 2016, ele cometeu um
roubo. Em 2018, a condenação transitou em julgado pelo furto. Em 2019, chegou
à condenação pelo roubo. Nesse caso, HÁ ANTECEDENTES.
2. Exemplo 2: Em 2015, um indivíduo cometeu um furto. Em 2016, ele cometeu um
roubo. Em 2018, a condenação transitou em julgado pelo roubo. Em 2019,
chegou à condenação pelo furto. Nesse caso, NÃO HÁ ANTECEDENTES, pois
o fato transitado em julgado não é anterior ao que está se julgando agora.
3. Há divergências de entendimento a respeito dos antecedentes. Mas o
entendimento mais lógico a ser seguido está de acordo com a Súmula 444 do STJ:

“É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações


penais em curso para agravar a pena-base” - Ou seja,
antecedentes só se configuram por fatos anteriores ao
que se está julgando.

4. OBSERVAÇÃO 1: Reincidência é o cometimento de crime depois do trânsito


em julgado. Ela dura 5 anos após a extinção do cumprimento da pena.

Exemplo: um indivíduo cumpriu uma pena de 10 anos


perfeitamente. 5 anos depois da extinção do
cumprimento dessa pena, a reincidência está extinta.
Isso está previsto para a reincidência, mas não para os
antecedentes, o que gera uma divergência entre STF E
STJ:

a. STJ: Não considera que os antecedentes também duram esse período de 5 anos.
b. STF: Entende pela necessidade de dizer que os antecedentes duram 5 anos
também, assim como a reincidência. Entendimento esse que será utilizado na
disciplina.

5. OBSERVAÇÃO 2: Direito Penal do Autor: fundamenta a aplicação da pena em


razão do "ser" daquele que o pratica e não em razão do ato praticado – O uso dos
antecedentes como circunstância são criticados, pois, além da existência do
Princípio da Individualização das Penas, o indivíduo corre o risco de ser julgado
por fatos que não estão diretamente ligados com o crime em si, apesar da
argumentação da maior reprovabilidade.

III. Conduta Social: Trata-se da conduta do indivíduo no âmbito da Família, da


Sociedade e do Trabalho.

1. É muito criticada. O que a conduta do indivíduo tem a ver com a pratica do


crime? Portanto, pela falta de conteúdo para analisar tal circunstância, tem que
ser entendida como NEUTRA
2. Testemunhas Abonatórias: Testemunha que se limita aos dados do réu, de sua
vida pregressa e não de fatos em si imputados ao mesmo. – “fulano de tal é um
ótimo pai, não faz mal a ninguém

IV. Personalidade

1. Ligada a ideia de Periculosidade comprovada por meio de laudo por um


psicólogo, assistente social ou psiquiatra e deve ser entendida como um complexo
de características individuais próprias, adquiridas, que determinam ou
influenciam o comportamento do sujeito.
2. Entretanto, há a falta desses profissionais. Deve-se analisar se tem o laudo nos
autos do processo. Se não tiver, considera-se que é uma circunstância NEUTRA.

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