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UCM – Extensão de Maputo - Curso de Economia e Gestão

Cálculo Financeiro

Palestra 2: Capitalização

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Maputo, Fevereiro de 2023
2. Capitalização

Juro e processos de capitalização

Capitalização é a transformação, provocada pelo tempo, de um


capital em capital mais juro. O valor do juro relactivo a um
processo de capitalização depende do capital inicial "Co", do
tempo de duração do processo "n" e da taxa de juro
convencionada “i". Ou seja, o juro é função do capital e do
tempo.

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2. Capitalização

A função juro satisfaz duas condições iniciais, reconhecidas


como princípios fundamentais de todo o Cálculo Financeiro:

1. O juro de um capital nulo ou/e de um tempo nulo deve


ser nulo:
J (0,n) = J (C,0) = J (0,0) = 0

2. Todo o juro é não negativo (se há capital e tempo há


lugar à formação de juro):
Se Co > 0 e n > 0 então J (Co,n) > 0

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Caraterização do regime de capitalização em função do destino do
juro.

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2. Capitalização

Regimes de capitalização de juros:

1. Regime de juro simples


- Regime de juro simples (puro). Se os juros saem do
processo de capitalização no momento do seu vencimento,
permanecendo constante o capital inicial de cada período.

- Regime de juro “dito” simples ou regime (simples). Em


certas operações de curto prazo (prazo inferior a 1 ano), a
práctica convencionou que o juro pode ficar muitas vezes no
processo, mas sem render novo juro. Este é o designado
conventional.

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2. Capitalização

No primeiro caso o juro é efectivamente pago em cada período


enquanto que no segundo caso ele é retido sem que seja
capitalizado.

Atenção:
- Em qualquer dos casos (é efectivamente pago ou é retido)
o juro não capitaliza.

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2. Capitalização

2. Regime de juro composto ou regime de capitalização


composta (RJC ou RCC). É introduzido no capital que vai
iniciar o período seguinte, gerando ele próprio juro. Ou seja, no
momento do seu vencimento, os juros são recapitalizados no
processo, dando origem ao juro de juro.

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2. Capitalização
Contrariamente ao regime de juro simples, os juros produzidos no
regime de juro composto não são excluídos do processo de
capitalização. Estes juros vencidos são adicionados ao capital,
vencendo também juros nos períodos seguintes.

O capital ao longo do processo de capitalização vai, assim,


aumentando sucessivamente, pelo efeito de adição do juro no final
de cada período. Ou seja, em regime de juro composto, os juros
relativos a cada período não são constantes, mas sim crescentes.

Os juros, no momento do seu vencimento, são recapitalizados no


processo de capitalização, pelo que no interior do processo há
juros de juros.

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2. Capitalização

Legenda de Formulas:

•Co Capital inicial.


•Cn Capital acumulado
•i Taxa de juro
•n Tempo ou período
•Jn Juros do período de regime de capitalização composta.
•Jt Juro total

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2. Capitalização

iI=(J/Co)*100%
iD=(J/Cn)*100%

Cn=Co(1+i*n) Capital acumulado em regime de juro dito


Jt=Co[(1+i)n-1] Juro total de capitalização composta
Jt=Co*n*i Juro total em regime de juro dito
(1+i)n Factor de capitalização ou factor de acumulação de capitals
ij=(J/Co)*100%
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2. Capitalização
3. Regimes mistos

Entre os regimes simples e composto estudados, é possível


considerar regimes mistos, onde há recapitalização parcial dos
juros periódicos e/ou o reembolso parcial do capital inicial ou,
ainda, o reforço de capital com novas entradas. Assim,
excluindo a entrada de capital inicial e a saída do capital final,
num processo de capitalização e quanto ao capital, podemos ter:
1. só entradas;
2. só saídas;
3. entradas e saídas ou
4. nem entradas nem saídas.

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2. Capitalização

Simultaneamente e quanto ao juro periódico, podemos


considerar:

a) recapitalização em 100%;

b) recapitalização em 0% ou

c) recapitalização parcial. Da conjugação das diferentes


modalidades de capital e de juro, é pois possível referir uma
multiplicidade de combinações possíveis de regimes de
capitalização.

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Maputo, Julho de 2021
2. Capitalização
Aplicação Práctica do Dinheiro

As Economistas Alicia e a Neide aplicaram um investimento


de 100.000 Mts retornou 140.000 Mt às investidoras. Assim,
temos que:

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2. Capitalização
O Capital inicial (Co) é o dinheiro que possibilitou a transação
financeira, que é de 100.000 Mt.

O montante ou valor futuro (Cn) é o valor de resgate do


investimento, que será de 140.000 Mt.

Os juros ou rendimento (J) é a diferença entre o que a pessoa


recebeu (montante) e o que a mesma aplicou (principal), em
valores monetários. No exemplo, é de 40.000 Mt. J=Cn-Co.

A taxa de juros (i) é a divisão entre os juros recebidos e o capital


principal. i=(J/Co)*100% » (40.000/100.000)*100% = 40%

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2. Capitalização
Em percentagem, teremos uma taxa de juros de 40% (basta
multiplicar por 100). Logo, a taxa de juros é somente a divisão
entre os juros e o capital principal. Note a diferença conceitual
entre juros e taxa de juros:

•Juros é o valor do acréscimo em moeda, enquanto que

•taxa de juros é o quanto este acréscimo em moeda representa


sobre o principal da transação.

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2. Capitalização
Na sua opinião, a aplicação deste exemplo é um bom
investimento ou não?

Você terá acertado se afirmou que vai depender do tempo de


espera ou do prazo da aplicação. Por ex., nos dias de hoje (início
do ano 2022), se a espera for de 1 mês, a aplicação é excelente,
mas se for de 10 anos, não se poderá dizer o mesmo.

Logo, a taxa de juros, por si só, não informa muita coisa se não
vier acompanhada da unidade de tempo.

Então, se o prazo fosse de um mês, teríamos uma taxa de juros de


40% ao mês, enquanto que se o prazo fosse de 10 anos, teríamos
uma taxa de juros de 40% à década!

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2. Capitalização

Taxas de Investimento e de Desconto

Existem situações onde ocorre a confusão entre os conceitos destas


duas taxas. Por agora, vamos dizer que a taxa de investimento leva
em conta o Co da operação como base de cálculo.

No ex. anterior, temos 40% que era uma taxa de investimento, já


que a base de seu cálculo foi o Co envolvido: juros de 40.000
equivalem a 40% do Co de 100.000 Mt. A taxa de investimento é
simplesmente denominada taxa de juros.

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2. Capitalização

Por outro lado, a taxa de desconto leva em consideração o valor


futuro (Cn) como referência. No ex. anterior, a taxa de desconto
será de 28,57%. Veja o porquê: juros de 40.000 Mt equivalem a
28,57% do montante (Cn) de 140.000 Mt.

Esta confusão é usada com frequência no mercado para


ludibriar ou confundir os mais desatentos. Veja o exemplo a
seguir.

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2. Capitalização
Na loja de Edson uma camisa é vendida por 50 Mt com um
cheque para 30 dias ou com um desconto de 20% à vista. Qual
será a taxa de juros (de investimento) mensal cobrada pela loja?

Solução:
O preço da camisa à vista é de 50 – 20% = 40 Mt. Logo, se
alguém compra algo no valor de 40 Mt, mas se só paga daqui a
30 dias o valor de 50 Mt, estará pagando 10 Mt de juros. Então
Taxa de juros i=(J/Co)=(10/40)=25%.

Então, a taxa de juros (de investimento) mensal será de 25% e


não de 20% (que é a taxa de desconto), o que muitos poderiam
pensar.
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2. Capitalização

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2. Capitalização
Juros simples e juros compostos

Um investimento de 100 Mt é feito segundo uma taxa de juros


de 10% ao mês. Conforme os regimes a serem adotados,
teremos os seguintes montantes em Mts ao longo dos meses:

Regime 1º Mês 2º Mês 3º Mês 4º Mês


Simples 110 120 130 140
Composto 110 121 133,10 146,41

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2. Capitalização
No regime dos juros simples, a taxa de juros incidirá sempre sobre
o valor principal. Sendo assim, os juros simples em todos os meses
serão iguais a 10% de 100 Mt, isto é, 10 Mt. Por outro lado, no
regime dos juros compostos, a taxa de juros incidirá sempre sobre
o montante do mês anterior.

Em outras palavras, a taxa de juros leva em conta o capital


corrigido. Assim, no primeiro mês, os juros serão de 10% de 100
Mt, o que equivalem a 10 Mt.

Com isso, o montante fica em 110 Mt. Já no mês seguinte, os juros


serão calculados como 10% de 110 Mt, o que resulta em 11 Mt.
Assim, o montante irá a 121 Mt. Para os meses seguintes, utiliza-se
o mesmo princípio de cálculo.
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2. Capitalização

Colocando isso de uma forma mais clara:

1. Juros simples:
- Mês n: 10% de 100 Mt = 10 Mt
2. Juros compostos:
- 1º Mês: 10% de 100 Mt = 10 Mt
- 2º Mês: 10% de 110 Mt = 11 Mt
- 3º Mês: 10% de 121 Mt = 12,10 Mt
- 4º Mês: 10% de 133.1 Mt=13.31
Juros=46.41 Co=100 Cn=146.41

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2. Capitalização
A maior facilidade do uso do regime simples é a de que os juros
são calculados uma única vez, enquanto que no regime composto
em cada período teremos juros diferentes.

Com isso, uma taxa simples de 10% ao mês equivale a uma taxa
simples de 20% ao bimestre, 30% ao trimestre, etc.

Por outro lado, uma taxa composta de 10% ao mês equivale a


uma taxa composta de 21% ao bimestre, 33,10% ao trimestre, etc.

Logo, converter taxas simples é um processo que envolve apenas


multiplicação, enquanto que taxas compostas envolvem outras
operações a serem estudadas nos outros capítulos.

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2. Capitalização

Exercícios 1:

A Viviane e Victor aplicaram um investimento de 200 Mt que


retornou 212 Mt aos investidores. Identifique:
a) o capital principal (Co);
b) o montante (Cn);
c) os juros (j)e
d) a taxa de juros (i).

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2. Capitalização

Resposta 1:
a) 200 Mt
b) 212 Mt
c) 12 Mt
d) 6%

Exercício 2:
Se o prazo da aplicação do exercício 1 foi de 3 meses, qual a
taxa trimestral de juros? Qual o regime da aplicação (simples ou
composto) considerado no cálculo destes juros?

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2. Capitalização
Resposta 2:
A taxa foi de 6% a.t. Impossível saber se foi utilizado o
regime simples ou o composto no cálculo dos juros.

Exercício 3:
Considerando ainda o exercício 1, qual a taxa de juros
mensal simples da aplicação?

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2. Capitalização
Resposta 3:
A taxa trimestral foi de 6%, logo (6%/3)=2% a.m.

Exercício 4:
Qual das taxas abaixo melhor se aproxima da taxa mensal
composta da aplicação do exercício 1?
a) 2%
b) 1,98%
c) 1,96%
d) 1,94%
e) 6%

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2. Capitalização

Resposta 4:
c) 1,96%

Exercicio 5:
Qual a taxa de desconto trimestral do exercício 1?

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2. Capitalização
Resposta 5:
A taxa de disconto trimestral é (12/212)*100=5,66%.

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Referências

- Matias, R. (2007). Cálculo financeiro - teoria e prática (2ª ed.).


Lisboa: Escolar Editora.
- Saias, L.; Carvalho, R. & Amaral, M. (1996). Instrumentos
fundamentais de gestão financeira. Portugal.
- Mateus, J. M. A. (1999). Cálculo financeiro. (5ª ed.). Lisboa:
Edições Sílabo.
- Cadilhe, M. (1998). Matemática financeira aplicada (4ª Edição) .
Revista e actualizada com a colaboração de Rosas do Lago. Edições
ASA, Porto.
- López, P: A. (2002). Valoración financiera. 3ª Edição. Editorial
Centro de Estudios Ramón Areces, S. A., Madrid.

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