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Módulo de Finanças

TEXTO DE APOIO 1

Docente: Maria Basílio


Sumário
• Conceitos básicos de Cálculo Financeiro:
o Operações Financeiras: Ativas e Passivas
o Tempo, Capital e Juro;
• Regimes de Capitalização: O Regime de Juro Simples
• Regimes de capitalização: O Regime de Juro Composto
• A equivalência de capitais
• Noção de Renda

• Reembolso de Empréstimos
a) Conceitos Básicos

✓ Operações Financeiras
Uma operação financeira é toda a ação que tem por finalidade produzir ou modificar
quantitativamente um capital.

Características:
Horizonte temporal: curto ou de médio/longo prazo

Intervenientes: Mutuário (devedor) e mutuante (credor)

Principais tipos de operações:


» Operações ativas - designam-se operações ativas todas as operações efetuadas pelas instituições
de crédito que determinam o recebimento, pela sua parte, de juros e comissões. Nestas operações o
principal instrumento é o crédito.
» Operações passivas - caracterizam-se, essencialmente, pela captação de fundos através de
depósitos bancários e implicam o pagamento de juros. Enquadram-se nestas operações as contas, os
depósitos e os produtos poupança.

Ideia – Base: “Tempo é dinheiro”

Conceito subjacente: a variabilidade do valor do capital em função do tempo


Duas situações hipotéticas:
1. Fomos contemplados com um prémio de 1000 euros e podemos escolher entre receber o
prémio hoje ou daqui a 1 ano;
2. Fomos obrigados a pagar uma multa de 1000 euros e também podemos escolher entre pagar
hoje ou daqui a 1 ano;

O que vamos escolher?

Preferência pela liquidez:


1) valores a receber, o mais cedo possível;
2) valores a pagar, o mais tarde possível
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✓ Variáveis – Chave: Capital, Tempo e Juro

Uma das regras fundamentais da matemática financeira:

Desde que exista capital e exista tempo, existe sempre o vencimento dos juros (isto é, o juro zero
pode ocorrer se e só se o capital for zero e / ou o prazo for zero).

Três variáveis fundamentais:

1. Capital – todo o conjunto de meios líquidos (moeda) que, aplicados durante um determinado
período de tempo, produzem uma certa remuneração para o seu proprietário.

C0 – capital inicial ou valor atual (é o capital que é aplicado);

Cn – capital acumulado ou valor acumulado (é o capital no final do prazo de aplicação).

Através da diferença entre o capital acumulado (Cn) e o capital inicial (C0) determinamos a
remuneração ou juro obtido, durante o prazo em que o capital esteve aplicado.

Cn - C0 = Juros

Logo, o capital acumulado (Cn) corresponde à soma do capital inicial (C 0) com o juro obtido
durante o prazo em que o capital esteve aplicado.

Cn = C0 + Juros

2. Tempo – refere-se ao prazo durante o qual o capital é aplicado.


n – prazo de aplicação (meses, anos, semestres, trimestres, etc.)

3. Juro – pode ser visto de duas perspetivas:

Para quem recebe: “o juro é a remuneração do capital aplicado”


Para quem paga: “o juro é o preço pela utilização de um capital alheio”

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Jn – juros produzidos durante o prazo de aplicação (ao total de juros produzidos durante o prazo

de aplicação designamos por Juro Acumulado);

jn – juro produzido durante um período de aplicação da taxa de juro (ao juro produzido durante
um período de aplicação da taxa de juro designamos por Juro Periódico).

Exemplo: Capital inicial de 5000 € aplicado, durante 5 anos, à taxa semestral de 2%.
C0 = 5000 €
n = 5 anos
i = 2% ao semestre
Jn – Juro produzido durante o prazo de 5 anos (Juro Acumulado)
jn – Juro produzido durante 1 semestre (juro periódico)

Existem dois conceitos fundamentais associados aos regimes de capitalização:

✓ Capitalização – é o incremento ou aumento do valor do capital à medida que o tempo decorre;

0 1 2 3 4 ……. n (prazo)

✓ Desconto ou Atualização – é o processo inverso da capitalização, consiste numa redução do


valor do capital durante um determinado prazo.

0 1 2 3 4 ……. n (prazo)

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Atualização

Capitalização

Capital Capital
inicial final

tempo
0 n

Em resumo: trata-se do mesmo processo, visto de duas perspetivas diferentes.

b) Regimes de Capitalização

Dependendo do processo como é feita a liquidação dos juros, podemos ter dois regimes de
capitalização distintos:

I - O REGIME DE JURO SIMPLES


(mais utilizado em operações de curto prazo)

Principais características:
✓ Os juros são excluídos do processo de capitalização após o seu vencimento;
✓ O juro periódico é sempre determinado com base no capital inicial C 0;
✓ Portanto, o juro periódico é constante (no pressuposto de uma taxa de juro constante).

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a) Como determinar o Juro periódico em Regime de Juro Simples?

j1 = C0.i j2 = C0.i j3 = C0.i … então, jn = C0.i

(portanto, o juro periódico é constante, é sempre determinado com base no capital inicial.)

b) Como determinar o Capital Acumulado em Regime de Juro Simples?

C1 → capital acumulado no final do primeiro ano, é dado por:

C1 = C 0 + j 1 e j1 = C0.i (juro relativo ao primeiro ano).

Logo, C1 = C0 + C0.i => se colocarmos C0 em evidência, fica:

C1 = C0 (1+i ) => capital acumulado no final do primeiro ano

Sendo C2 → o capital acumulado no final do segundo ano, temos:

C2 = C 1 + j 2 e j2= C0.i (juro relativo ao segundo ano).

Ficamos com, C2 = C1 + C0.i

Como já sabemos o que é o C1, substituindo, temos

C2 = C0 ( 1 +i ) + C0.i => se colocarmos C0 em evidência, fica:

C2 = C0 (1 + i + i)

C2 = C0 (1+2i) => capital acumulado no final do segundo ano

Então, generalizando para n períodos,

Cn = C0 (1 + ni)

Esta fórmula permite-nos determinar o capital acumulado obtido durante um determinado prazo (n)
em regime de juro simples.

ESTIG / Curso de Solicitadoria -6-


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c) Como determinar o Juro Acumulado em Regime de Juro Simples?

Podemos obter o valor do Juro Acumulado, de várias formas. Por exemplo, efetuando a diferença
entre o valor obtido no final do prazo de aplicação e o valor colocado inicialmente, isto é,

J n = Cn - C0 (ou seja, o juro acumulado corresponde à diferença entre o capital acumulado e

o capital inicial). Tambem sabemos que Cn = C0 (1 + ni)

Substituindo , Jn = C0 (1 + ni) - C0 →se colocarmos C0 em evidência, temos:

Jn = C0 (1 + ni – 1) ou Jn = C0.n.i

Jn = C0.n.i

Esta fórmula permite-nos determinar o total dos juros gerados por um capital (C 0), aplicado a uma
taxa de juro ( i ), durante um determinado prazo ( n ) em regime de juro simples → Juro acumulado.

EM RESUMO: Fórmulas mais importantes no Regime de Juro Simples (RJS):

✓ Fórmula geral de capitalização : Cn = C0 (1 + i.n) ou Cn = C0 + Jn


✓ Juros acumulados: Jn = C0.i.n
✓ juro periódico : jn = C0.i

Exemplo Prático
Um capital de 5 200 € foi aplicado em Regime de Juro Simples à taxa de 7% ao ano, durante 4 anos.
Pretende-se que determine:
a) O capital acumulado no final do prazo;
b) O juro vencido no segundo ano de aplicação;
c) Os juros vencidos durante o prazo de aplicação.

ESTIG / Curso de Solicitadoria -7-


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Resolução:

a) Cn = C0 (1 + ni)
= 5200 (1+ 4 * 0,07) = 6656 €

b) j2 = C0.i
= 5200*0,07 = 364 €

c) Jn = C0.i. n
= 5200*0,07*4 = 1456 €

Ou o mesmo seria obtido: 364 * 4 = 1456 € → O juro de 1 ano, multiplicado por 4 anos, visto que
é sempre constante;

Ou ainda, fazendo a diferença entre: 6656 – 5200 = 1456 € → A diferença entre o valor obtido no
final dos 4 anos e o valor que tínhamos aplicado inicialmente.

Nota: Neste exercício temos o prazo em anos e a taxa de juro também é anual => caso contrário,
temos sempre que fazer coincidir o prazo em que está a aplicação com o prazo da taxa de juro. Ou
seja, não podemos ter uma taxa de juro anual e o prazo noutra unidade de tempo. Se isso acontecer,
devemos converter o prazo para anos. Devemos sempre alterar o prazo e não a taxa.

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II - O REGIME DE JURO COMPOSTO
(mais utilizado em operações de longo prazo)

Principais características:
✓ os juros vencidos são imediatamente incorporados no processo de capitalização;
✓ o capital no início de cada período vai aumentando pela adição dos juros vencidos no fim do
período imediatamente anterior, dando origem a juros crescentes (existe a contagem de
juros sobre juros);
✓ O juro periódico não é constante, ou seja, não é sempre determinado com base no capital
inicial C0 (como acontecia no Regime de Juro Simples). Em Regime de Juro composto o juro
periódico é sempre diferente, já que vai sendo determinado com base no capital acumulado
do período imediatamente anterior.

C0 C1 C2 C3 C4

0 1 2 3 4 … n (prazo)

j1 = C0*i j2 =C1*i j3 =C2*i j4 =C3*i juro periódico


sempre diferente

a) Como determinar o Capital Acumulado ( C n )em Regime de Juro Composto?

C1 = C0 + j1 (capital acumulado no final do primeiro ano, corresponde ao capital inicial (C0) mais o juro
produzido no primeiro ano) e J1 = C0.i (juro vencido no primeiro ano, corresponde ao capital inicial
multiplicado pela taxa de juro).

Logo, C1 = C0 + C0.i (colocando C0 em evidência)

C1 = C0 (1+i) => capital acumulado no final do primeiro ano

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C2 = C1 + j2 (capital acumulado no final do segundo ano, corresponde ao capital existente no final do
primeiro ano (C1) mais o juro produzido no segundo ano - j2);

sabemos que j2= C1.i (Juro vencido no segundo ano, corresponde ao capital existente no final do
primeiro ano multiplicado pela taxa de juro) e C1 = C0(1+i)

Efetuando as substituições, temos:

C2 = C1 + C1.i

C2 = C0 (1+i ) + C0 (1 + i) . i → colocando C0 (1+i) em evidência

C2 = C0 (1+ i ) (1+ i)

C2= C0 (1+i)2

Em resumo, temos

C2 = C0 (1+i)2 => capital acumulado no final do segundo ano

Generalizando para um prazo qualquer n, obtemos

Cn = C0 (1 + i)n

Esta fórmula permite-nos determinar o capital acumulado, durante um determinado prazo (n) em
regime de juro composto.

b) Como determinar o Juro Acumulado ( Jn ) em Regime de Juro Composto?

J n = C n - C0

O juro produzido ( Jn) durante um determinado prazo n, corresponde ao capital acumulado nesse
mesmo prazo ( Cn) subtraido do capital inicial C0.

Mas como sabemos que Cn = C0 (1 + i)n


Se fizermos a substituição ,

Jn = C0 (1 + i)n - C0 → colocando C0 em evidência, fica:

Jn = C0  (1 + i)n - 1

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Jn = C0  (1 + i)n - 1

Esta fórmula permite-nos determinar o juro acumulado, durante um determinado prazo (n) em
regime de juro composto.

c) Como determinar o juro periódico ( jn ) em Regime de Juro Composto?

O juro num determinado período é determinado com base no capital existente no início do período
imediatamente anterior, já que o juro vai sendo somado ao capital (capitalização dos juros ou cálculo
de juros sobre juros).

Logo,

j1 = C0.i j2 = C1.i j3 = C2.i … então, jn = Cn-1.i

Então,

jn = Cn-1 . i, e como também sabemos que Cn = C0 (1 + i)n

Temos, jn = C0 (1 + i)n-1. i

jn = C0 .(1 + i)n-1.i

Esta fórmula permite-nos determinar o juro de cada um dos períodos (juro periódico) em regime de
juro composto. Por exemplo, o juro produzido em cada um dos anos. A soma dos juros periódicos
será sempre igual ao valor dos juros acumulados.

Fórmulas mais importantes em Regime de Juro Composto (RJC):

✓ Fórmula geral de capitalização: Cn = C0 .(1 + i)n ou Cn = C0 + Jn


✓ Juros acumulados: Jn = C0 . (1 + i)n - 1
✓ Juro periódico: jn = C0 .(1 + i)n-1.i

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Exemplo Prático
Um capital de 20 000 € foi aplicado em Regime de Juro Composto à taxa de 5% ao ano,
durante 3 anos.
Pretende-se que determine:

a) O capital acumulado no final do prazo;


b) O Juro vencido durante o prazo de aplicação ou Juro Acumulado;
c) O juro vencido no segundo ano de aplicação ou juro periódico.
Nota: A taxa de juro é anual e o prazo está em anos, logo não precisamos fazer qualquer
alteração.

a) Cn = C0 (1 + i)n
Cn = 20 000 (1+ 0,05)3 = 23 152,5 €
(primeiro devem fazer o cálculo que se encontra entre parêntesis, elevando ao cubo e,
seguidamente, multiplicam por 20 000)

b) Jn = C0  (1 + i)n - 1
Jn = 20 000 [(1 + 0,05)3 -1] = 3152,5 €
(primeiro devem fazer os cálculos que se encontram entre parêntesis → elevam ao cubo →
subtraem 1 e → seguidamente, multiplicam por 20 000)

c) jn = C0 (1 + i)n-1.i
jn = 20 000 (1+0,05)2-1 x 0,05 = 1050 €

LEGENDA – REGIMES DE CAPITALIZAÇÃO


C0 - Capital inicial, valor atual, valor do capital no momento zero;
Cn - Capital acumulado, valor acumulado, valor do capital no final do prazo de aplicação;
Jn - Juros acumulados, representam o total de juros obtidos no prazo de aplicação;
jn – juro periódico, obtido em cada um dos períodos de aplicação;
i – taxa de juro;
n – prazo de aplicação.

NOTA IMPORTANTE: O prazo de aplicação e a taxa de juro devem vir sempre expressos na
mesma unidade de tempo.

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III. A Equivalência de Capitais

A equivalência de capitais assenta no princípio chave do cálculo financeiro → a variabilidade dos


valores dos capitais em função do tempo.

Por isso,

Dois capitais só são equivalentes, se e só se, no mesmo momento


assumirem o mesmo valor.

Generalizando para conjuntos de capitais, podemos formular a equação de equivalência:

Dois conjuntos de capitais dizem-se equivalentes num dado momento,


quando as somas dos valores desses capitais, referidos a esse momento,
dos capitais que compõem cada um dos conjuntos, forem iguais

Metodologia a seguir:
Quando estabelecemos uma equação de equivalência devemos sempre responder a três questões
essenciais:

1. Entre que capitais pretendemos estabelecer a equivalência? -→ O QUÊ?

2. Em que momento pretendemos estabelecer a equivalência dos capitais? Qual o momento de


referência? (Quando nada é indicado, considera-se o momento zero) -→ QUANDO ?

3. De que forma pretendemos estabelecer a equivalência? A equivalência vai ser estabelecida


tendo em conta o regime de juro simples ou o regime de juro composto? -→ COMO ?

deve vir expressamente indicado no exercício, se estamos a trabalhar


no regime de juro simples (RJS) ou no regime de juro composto (RJC)
Serão utilizadas as fórmulas já vistas nas aulas anteriores, relativas ao RJS e ao RJC.

ESTIG / Curso de Solicitadoria - 13 -


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No Regime de Juro Simples:

𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝑙𝑖𝑧𝑎çã𝑜: 𝐶𝑛 = 𝐶0 . (1 + 𝑖. 𝑛)

𝐶𝑛
𝐴𝑡𝑢𝑎𝑙𝑖𝑧𝑎çã𝑜: 𝐶0 =
(1 + 𝑖. 𝑛)

No Regime de Juro Composto:

𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝑙𝑖𝑧𝑎çã𝑜: 𝐶𝑛 = 𝐶0 . (1 + 𝑖)𝑛

𝐶𝑛
𝐴𝑡𝑢𝑎𝑙𝑖𝑧𝑎çã𝑜: 𝐶0 = 𝑜𝑢 𝐶0 = 𝐶𝑛 . (1 + 𝑖)−𝑛
(1 + 𝑖)𝑛

As fórmulas anteriores permitem-nos capitalizar e/ou atualizar um determinado capital:


✓ Capitalizar é encontrar um C n (um valor acrescido de juros, capitalizado);
✓ Atualizar é encontrar um C 0 (um valor reportado ao momento zero, deduzido de juros).

Exemplo Prático
A empresa X tem as seguintes dívidas:
» 10 000 € vencível daqui a 6 meses;
» 12 000 € vencível daqui a 9 meses;
» 20 000 € vencível daqui a 11 meses.
A empresa pretende substituir as três dívidas por dois pagamentos de igual montante a serem
pagos daqui a 3 e 6 meses. Sabendo que a taxa de juro é de 12% ao ano e considerando, hoje
(momento zero), como o momento de referência, pretende-se que determine o valor dos novos
pagamentos, utilizando:
a) O Regime de juro composto;
b) O Regime de juro simples.

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Dados:

Pretendemos substituir esta forma de pagar a dívida, representada por estes 3 capitais na reta do
tempo:

10 000 12 000 20 000

0 3 6 9 11 Prazo em
meses
momento de
referência

Por uma outra forma de pagamento, substituindo os 3 capitais por 2 pagamentos de igual valor (que
vamos designar por X) conforme o esquema seguinte:

X X

0 3 6 9 11 Prazo em
meses
momento de
referência

Resposta às 3 questões fundamentais de uma equação de equivalência:

1. Entre que capitais se pretende estabelecer a equivalência?

Pretendemos estabelecer a equivalência entre os 3 capitais (10 000 €, 12 000 € e 20 000 €) e os dois
pagamentos de X.

2. Qual o momento de referência? Em que momento se pretende estabelecer a equivalência?

Vamos considerar hoje, momento zero, como o momento de referência que é o que está indicado no
exercício ( e é também o mais comum).

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2023/2024
3. De que forma pretendemos estabelecer a equivalência? A equivalência vai ser estabelecida
tendo em conta o regime de juro simples ou o regime de juro composto?

Primeiro utilizando o Regime de Juro Composto, seguidamente tendo em conta o Regime de Juro
Simples.

Tendo em conta o momento de referência, a formulação da equação de equivalência para encontrar


o valor de X, passa por aplicar as fórmulas de atualização a cada um dos capitais:

Porque,
O valor atual dos três capitais de 10 000, 12 000 e 20 000 euros, reportados ao
momento de zero, deve ser exatamente igual aos valores de X atualizados
também para o momento zero.

a) Considerando o Regime de Juro Composto:

10000 12000 20000 𝑋 𝑋


+ + = +
(1 + 0,12) 6/12 (1 + 0,12) 9/12 (1 + 0,12) 11/12 (1 + 0,12)3/12 (1 + 0,12)6/12

Que é o mesmo que:

10000 12000 20000 1 1


+ + = . 𝑋 + .𝑋
(1 + 0,12)6/12 (1 + 0,12)9/12 (1 + 0,12)11/12 (1 + 0,12)3/12 (1 + 0,12)6/12

Nota: para a resolução na calculadora, não esquecer de colocar


entre parêntesis os expoentes quando são frações

9449,11 + 11022,19 + 18026,59 = 0,972 X + 0,945 X

38 497,89 = X (0,972 + 0,945)

38497,89 = X (1,917)

38497,89
𝑋= = 20 082,36
1,917

ESTIG / Curso de Solicitadoria - 16 -


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X = 20 082, 36 € (valor de cada um dos dois pagamentos: um a efetuar daqui a 3 meses e outro daqui
a 6 meses)

Em conclusão, no RJC, se quisermos substituir os 3 capitais em dívida (a pagar daqui a 6, 9 e 11


meses) por dois pagamentos iguais, a serem pagos daqui a 3 e 6 meses, estes devem assumir o valor
de 20 082,36 €, cada um. → De outra maneira, é equivalente fazermos face às 3 dividas que vencem
dentro de 6, 9 e 11 meses OU pagar 2 valores idênticos de 20 082,36€, um a efetuar daqui a 3 meses
e o outro daqui a 6 meses.

b) Considerando o Regime de Juro Simples:

O raciocínio é o mesmo, vamos é usar as fórmulas de atualização do RJS.

10000 12000 20000 X X


+ + = +
6 9 11 3 6
(1 + 0,12. ) (1 + 0,12. ) (1 + 0,12. ) (1 + 0,12. ) (1 + 0,12. )
12 12 12 12 12

Que é o mesmo que:

10000 12000 20000 1 1


6 + 9 + 11 = 3 .𝑋 + 6 .𝑋
(1 + 0,12. ) (1 + 0,12. ) (1 + 0,12. ) (1 + 0,12. ) (1 + 0,12. )
12 12 12 12 12

9433,96 + 11009,17 + 18018,02 = 0,9709 X + 0,9434 X

38461,15 = 1,9143 X

38461.15
𝑋= = 20 091,5 €
1,9143

O valor de cada um dos dois pagamentos será no RJS de 20 091,5 €.


(Os dois pagamentos de 20 091,5 € atualizados para o momento zero, são equivalentes aos três
valores em dívida – de 10 000, 12 000 e 20 000 - também atualizados para o momento zero).

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2023/2024
IV. RENDAS

Uma Renda é um conjunto de capitais (constantes ou variáveis), vencíveis em momentos


equidistantes (isto é, o intervalo de tempo entre o vencimento de cada dois capitais é sempre
constante).

C1 C2 C3 ... Cn

0 1 2 3 ... n

✓ Cada um dos capitais da renda designa-se termo da renda: C1, C2, Cn

✓ É fundamental para o conceito de renda que o intervalo de tempo entre o vencimento de 2


termos consecutivos seja constante;

✓ Se os termos (capitais) se vencerem:


- Anualmente –> são anuidades;
- Trimestralmente –> são trimestralidades;
- Semestralmente –> são semestralidades;
- Mensalmente –> são mensalidades.

Valor Atual e Valor Acumulado

C1 C2 C3 ... Cn

0 1 2 3 ... n

Valor atual Valor acumulado

O valor de uma renda depende do momento de referência escolhido, mas é usual calcular-se:

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2023/2024
• Valor atual – reporta-se ao início do primeiro período da renda e é constituído pela soma dos
valores atuais de todos os termos que compõem a renda, também referidos a esse momento;

• Valor acumulado – é referido ao final do último período da renda e é constituído pela soma dos
valores acumulados de todos os termos que compõem a renda, também referidos a esse
momento.

Nota: As rendas têm subjacentes os princípios do regime de juro composto


(existe a capitalização de juros). As fórmulas abaixo são a generalização para um
conjunto de n capitais das fórmulas de valor atual e valor acumulado que já conhecemos do
regime de juro composto.

RENDAS DE TERMOS CONSTANTES


(todos os capitais assumem o mesmo valor C)

1 − (1 + i ) − n
Valor atual = C 
i

(1 + i ) n − 1
Valor acumulado = C 
i

Em que: C – é o valor constante dos termos (capitais);


n – é o número de termos (capitais) da renda → (como representa o número de capitais
é sempre um número inteiro! )

Exemplo - Considere a seguinte renda de termos anuais:

580 580 580 580 580 580 580

0 1 2 3 4 5 6 7

Utilizando uma taxa de juro de 15% ao ano, calcule o valor atual e o valor acumulado:

C = 580 € n = 7 anuidades i = 15% (ano)

ESTIG / Curso de Solicitadoria - 19 -


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Valor Atual:

1 − (1 + 0,15) −7
Valor atual = 580 = 2413,04
0,15

O mesmo valor seria obtido com a atualização de cada um dos capitais para o momento zero, usando
a fórmula de atualização do RJC, que já conhecemos: 𝐶. (1 + 𝑖)−𝑛

Isto é,

𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑎𝑡𝑢𝑎𝑙 = 580. (1 + 𝑖)−1 + 580. (1 + 𝑖)−2 + 580. (1 + 𝑖) −3 + ⋯ + 580. (1 + 𝑖)−7

𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑎𝑡𝑢𝑎𝑙 = 2413,04 €

Para o Valor Acumulado, temos:

(1 + 0,15) 7 − 1
Valor acumulado = 580 = 6418,74
0,15

Também aqui podemos usar a fórmula de capitalização já conhecida do RJC: 𝐶. (1 + 𝑖)𝑛

Isto é,

𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑎𝑐𝑢𝑚𝑢𝑙𝑎𝑑𝑜 = 580. (1 + 𝑖)6 + 580. (1 + 𝑖)5 + 580. (1 + 𝑖)4 + ⋯ + 580. (1 + 𝑖 )1 + 580

𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑎𝑐𝑢𝑚𝑢𝑙𝑎𝑑𝑜 = 6418,74 €

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V. REEMBOLSO DE EMPRÉSTIMOS

Empréstimo ou Mútuo é um contrato através do qual uma entidade coloca à disposição de outra,
uma certa importância, obrigando-se esta a restituir o capital recebido, bem como o preço da
utilização desse capital (o juro).

Tipos de empréstimos:

Critério: Classificação de acordo com o tipo de garantias exigidas


▪ EMPRÉSTIMO CAUCIONADO: existe um conjunto de valores (reais ou pessoais) que garantem
o pagamento da dívida;
▪ EMPRÉSTIMO A DESCOBERTO: não existe qualquer garantia.

Critério: Classificação de acordo com o prazo de reembolso


▪ EMPRÉSTIMO PERPÉTUO: não existe um prazo de reembolso fixado.
▪ EMPRÉSTIMO TEMPORÁRIO: existe um prazo de reembolso previamente fixado. Podemos
ter:
o EMPRÉSTIMOS DE CURTO PRAZO (reembolso < 1 ano);
o EMPRÉSTIMOS DE MÉDIO E LONGO PRAZO (reembolso > 1 ano).

Critério: Classificação de acordo com a finalidade


▪ EMPRÉSTIMO DE APOIO À TESOURARIA: destinado a suprir deficiências temporárias de
liquidez (ótica de financiamento de curto prazo);
▪ EMPRÉSTIMO DE APOIO AO INVESTIMENTO: destinado ao investimento (aumento da
capacidade da empresa, sendo, por isso, um empréstimo de médio e longo prazo).

Qualquer empréstimo implica sempre o pagamento do:

✓ Capital: - que pode ser pago no fim do prazo


- ou escalonadamente (em pequenas parcelas) ao longo do prazo.

✓ Juro: - que pode ser pago no final do prazo;


- ou no início do prazo (juros à cabeça) – pouco usual;
- ou escalonadamente (em pequenas parcelas) ao longo do prazo.

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2023/2024
Existem assim diversas modalidades de reembolso de empréstimos, resultantes da conjugação de
diferentes formas de reembolso do capital e de pagamento de juros.

Iremos abordar os chamados Regimes Clássicos, que implicam o pagamento do capital e dos juros
escalonadamente ao longo do prazo (e em Regime de Juro Composto):

1. Modalidade de prestações constantes;


2. Modalidade de prestações variáveis com amortizações constantes de capital.

Para qualquer modalidade, as seguintes expressões são válidas:

Prestação total = juro + amortização de capital

Juro = Capital em dívida x taxa de juro

I - MODALIDADE DE PRESTAÇÕES CONSTANTES

Cálculo do valor da prestação (C):

Empréstimo C C C ... C

0 1 2 3 ... n

Empréstimo = Valor atual da renda

1 − (1 + i ) − n
Empréstimo = C 
i

Exemplo:
Um empréstimo de 5000 euros vai ser pago em 4 prestações anuais e constantes, incluindo juros à
taxa de 10% (ano). Preencha o plano de reembolso deste empréstimo.

1ª fase: Calcular o valor da prestação constante → Descobrir o valor de C:

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1 − (1 + 0,10) −4
5000 = C   5000 = C  3,16987  C = 1577,35
0,10

Aqui, convêm deixar ficar umas 5 casas


decimais, para que na tabela seguinte, seja
possível atingir o zero (ou ficar próximo).

2ª fase: Preencher o quadro de reembolso, onde é possível identificar em cada pagamento efetuado,
qual o valor dos juros e qual o valor da amortização de capital.

QUADRO DE REEMBOLSO
(em euros)
Capital em dívida Prestação Capital amortizado Capital em
Anos Amortização de
no início Juro Total acumulado dívida no fim
capital

1 5000 500 1077,35 1577,35 1077,35 3922,65

2 3922,65 392,27 1185,09 1577,35 2262,44 2737,56

3 2737,56 273,76 1303,60 1577,35 3566,04 1433,96

4 1433,96 143,40 1433,96 1577,35 5000 0

1 2=1xi 3=4-2 4 5=3 6=1-3


Esta legenda explica como é possível calcular os valores de cada uma das colunas

II - MODALIDADE DE PRESTAÇÕES VARIÁVEIS


COM AMORTIZAÇÕES CONSTANTES DE CAPITAL

Cálculo do valor da amortização de capital constante:

Empréstimo
amortização de capital =
nº de prestações

Exemplo:
Um empréstimo de 5000 euros vai ser pago em 4 prestações anuais, variáveis incluindo amortizações
constantes de capital. A taxa de juro em vigor é de 10% (ano). Preencha o plano de reembolso deste
empréstimo.

1ª fase: Calcular o valor da amortização de capital constante

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Valor da amortização constante de capital:

5000
amortização de capital = = 1250
4

2ª fase: Preencher o quadro de reembolso.

QUADRO DE REEMBOLSO
(em euros)
Capital em dívida Prestação Capital amortizado Capital em
Anos Amortização de
no início Juro Total acumulado dívida no fim
capital

1 5000 500 1250 1750 1250 3750

2 3750 375 1250 1625 2500 2500

3 2500 250 1250 1500 3750 1250

4 1250 125 1250 1375 5000 0

1 2=1xi 3 4=2+3 5=3 6=1-3

Mais alguns conceitos associados ao reembolso de empréstimos:

Prazo de carência: é o número de períodos em que não existem pagamentos de capital, mas

apenas o pagamento dos juros vencidos → Durante este período, a dívida mantém-se inalterada.

Prazo de diferimento: é o número de períodos em que não existem quaisquer pagamentos,


nem de amortizações de capital nem de juros vencidos (não há serviço da dívida) → Durante este
período, a dívida aumenta.

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