Você está na página 1de 117

DIREITO CIVIL IV

Prof. Francisco José Dias Gomes

E-mail: franciscogomes@unitoledo.br

05/08/2014

DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

TRANSMISSÃO DA OBRIGAÇÃO

Imaginemos que um comerciante venda uma mercadoria a prazo, ou seja, o


consumidor leva a mercadoria na hora e fica de paga-la dentro de um determinado prazo.

Antes do consumidor entrar na loja não havia vínculo jurídico entre ele e o
comerciante, mas a partir do momento que o consumidor entra na loja, se interessa por um
produto e o compra surge o vínculo jurídico. Assim sendo, se por engano o comerciante cobrar
uma dívida de alguém que não consumiu em sua loja, a parte contraria se defenderá alegando
ilegitimidade de parte, visto que não existe vinculo jurídico entre ele e o comerciante.

Nesta situação, quando se forma o vínculo jurídico, teremos um credor (comerciante)


e um devedor (consumidor), na prática é comum o comerciante vender a prazo, no entanto,
precisar do dinheiro a vista para repor a mercadoria em estoque. Nesta situação o comerciante
procura uma instituição financeira e propõe a seguinte transação: trocar seu crédito a prazo
por dinheiro à vista, deduzindo-se do montante do crédito um deságio acordado entre eles.
Esta operação é que caracteriza-se como sendo uma Cessão de Crédito.

CESSÃO DE CRÉDITO

É uma das formas de transmissão da obrigação. No nosso exemplo, o crédito faz parte do
patrimônio do comerciante, possui valor econômico e pode ser vendido ou doado conforme a
sua vontade. Lembrando que o crédito tende a transformar-se em dinheiro, mas não é
dinheiro. Dessa forma, há possibilidade do crédito se transformar em dinheiro, proveniente de
qualquer tipo de obrigação: dar, fazer e não fazer.

Uma transação muito comum são os casos de Factoring, onde ao receber cheques com
prazo para desconta-los os comerciantes procuram instituições para troca-los recebendo-os a
vista com um deságio e transferem o título de crédito para a instituição.

Cedente  Sujeito que transfere o crédito;

Cessionário  Sujeito que recebe o crédito;

Cedido  É o devedor.

Kleber Luciano Ancioto Página 1


DIREITO CIVIL IV

A cessão de crédito é um negocio jurídico bilateral gratuito ou oneroso que pode


acontecer no todo ou em parte e independe do consentimento do devedor (cedido).

- Bilateral – Porque para acontecer necessita da concordância de pelo menos duas


pessoas: o cedente e o cessionário.

- Gratuito ou Oneroso – Na prática o que encontraremos é a cessão de crédito onerosa,


pois quando o cedente transfere seu crédito o cessionário paga por ele, funcionando quase
como uma venda do crédito. Assim sendo, sempre que o cessionário pagar algo pelo crédito
teremos uma cessão de crédito onerosa.

- Todo ou Em Parte – A cessão não precisa ocorrer na totalidade do crédito, podendo ser
parcial.

- Independe do Consentimento do Devedor – No caso de existir um garantidor, como um


fiador, uma vez a fiança sendo um acessório da dívida, pela regra o acessório segue o principal,
portanto, se o crédito (principal) for cedido, o fiador (acessório) também será. Há necessidade
de consultar o fiador apenas se houver mudança de quem é o devedor ou no valor do débito,
ou seja, uma vez mantido esses dois fatores, nada muda na vida do fiador com a transferência
do crédito, por isso a desnecessidade em consulta-lo.

Resumindo, a Cessão de Crédito é um negócio jurídico Bilateral; Oneroso ou Gratuito;


podendo ser no Todo ou Parcial; e Independe do consentimento do devedor.

 Espécies

o Convencional

Normalmente a cessão de crédito ocorre por convenção entre o cessionário e o


cedente.

o Legal ou Necessária

Raramente ocorre a cessão legal ou necessária, mas uma das hipóteses está regulada
no Art. 636 CC.

Art. 636 CC – O depositário, que por força maior houver perdido a


coisa depositada e recebido outra em seu lugar, é obrigado a entregar
a segunda ao depositante, e ceder-lhe as ações que no caso tiver
contra o terceiro responsável pela restituição da primeira.

Ou seja, o depositário de um bem que sofre deterioração ou perecimento por culpa de


terceiro é obrigado a ceder o direito das ações que forem cabíveis contra o culpado para o
verdadeiro proprietário.

o Judicial

Ocorre quando o juiz determina a cessão do crédito.

Kleber Luciano Ancioto Página 2


DIREITO CIVIL IV

 Requisitos de Validade

Os requisitos de validade são os mesmos de qualquer negócio jurídico, ou seja: Agente


Capaz; Objeto Lícito, Possível, Determinado ou Determinável; e Forma Prescrita ou Não
Defesa em Lei.

Dessa forma se o objeto for ilícito não se fala em Cessão de Crédito.

Sempre que dependermos da vontade das partes ou de uma das partes para que o negócio
jurídico exista, se faz necessário que a(s) parte(s) seja(m) capaz(es). Somente quando o
negócio jurídico não depende da vontade das partes é que não haverá necessidade da
capacidade, como é o caso da Compensação Legal. No caso da Cessão de Crédito é necessário
a manifestação de vontade tanto do cessionário como do cedente, portanto, estes agentes
precisam ser capazes.

 Objeto da Cessão de Crédito

Art. 286 CC – O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se


opuser a natureza da obrigação, a lei, ou a convenção com o devedor,
a cláusula proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao cessionário de
boa-fé, se não constar do instrumento da obrigação.

- a natureza da obrigação – Algumas obrigações são indisponíveis e uma vez o crédito


sendo indisponível não há possiblidade de cedê-lo. Um exemplo de obrigação indisponível é a
pensão alimentícia, dessa forma se o pai de alguém tem que pagar uma pensão de R$ 1.000,00
por mês, esse crédito jamais poderá ser cedido. O mesmo ocorre com salário.

- a lei – Um exemplo de crédito cuja cessão é proibida por lei é o crédito penhorado,
ou seja, o credor não poderá transferi-lo porque a lei não permite.

- cláusula proibitiva – O instrumento da obrigação é o papel onde está escrito que


alguém deve para outrem, dessa forma quando o cedente vai transferir o crédito para o
cessionário é o instrumento da obrigação que é transferido. O acordo entre o cedente e o
cessionário realizado para a cessão de crédito também é documentado através do
instrumento da cessão. Dessa forma o cessionário ficará com dois instrumentos, um provando
o credito em favor do cedente e outro provando que o crédito foi transferido para ele.

É possível, no entanto, que no instrumento da obrigação de crédito, exista uma


cláusula proibitiva de cessão, e uma vez existindo o crédito não poderá ser objeto de cessão.

Se a cláusula proibitiva de cessão existir e mesmo assim o crédito for transferido, o


cessionário não poderá cobra-lo do cedido, agora se não existir a cláusula, mesmo que
verbalmente cedido e cedente tenham combinado que o crédito não seria transferido o
cessionário poderá cobra-lo do cedido, pois tendo agido de boa fé sem saber do contrato
verbal ele não poderá ser prejudicado.

Kleber Luciano Ancioto Página 3


DIREITO CIVIL IV

 Acessórios

Art. 287 CC – Salvo disposição em contrário, na cessão de um crédito


abrangem-se todos os seus acessórios.

É o que acontece com fiador já discutido anteriormente, tudo que é do crédito segue
junto.

Exercício

 “A” é credor de “B” na quantia de R$ 500,00 e “C” é o fiador da dívida. Fica consignado
no instrumento da dívida que esta não pode ser objeto de cessão. Mesmo assim, “B”
faz um instrumento de transferência, cedendo o seu crédito a “D”.

o “C” pode se recusar a pagar a dívida cobrada por “D”?


 O fiador não é o devedor, mas como acessório ele segue junto no
momento em que a divida é cedida, no entanto, como havia uma
cláusula que proibia a cessão no instrumento da obrigação, o direito
de não pagar ao cessionário (“D”) evocando a cláusula proibitiva vale
tanto para o devedor como para o fiador. Art. 286 CC.

o Se não houvesse cláusula proibitiva, “C” poderia se recusar a pagar a dívida


alegando discordância com a cessão?
 Não poderia se recusar, pois a cessão de crédito não necessita da
concordância do cedido e tão pouco do garantidor (fiador). Art. 287
CC.

 Forma

Um dos requisitos para validade de um negócio jurídico é atentar para a existência de


forma prescrita ou não defesa em lei, sendo assim, precisamos saber se a Cessão de Crédito
necessita ou não rito especial, vejamos o Art. 288 CC.

Art. 288 CC – É ineficaz, em relação a terceiros, a transmissão de um crédito,


se não celebrar-se mediante instrumento público ou instrumento particular
revestido das solenidades do § 1° do art. 654.

Basicamente analisando o artigo acima podemos concluir que para a Cessão de Crédito
ter validade em relação ao cedente e o cessionário independe do instrumento, podendo ser
inclusive um instrumento particular, agora para ter validade contra terceiros, como o próprio
cedido, há a necessidade que o instrumento seja público ou que o instrumento particular
esteja registrado.

Kleber Luciano Ancioto Página 4


DIREITO CIVIL IV

Resumindo a Cessão de Crédito realizada por instrumento particular é eficaz contra o


cedente e o cessionário, já a realizada por instrumento público ou por instrumento particular
registrado possui validade erga omnes.

Ex. O indivíduo casado que possui um crédito e fez um instrumento particular


transferindo-o para outro, no caso de sua esposa pedir o divórcio e requerer parte do crédito,
não poderá alegar que o crédito foi cedido, visto que a Cessão de Crédito realizada por
instrumento particular não possui efeito contra terceiros.

 Crédito Hipotecário

Art. 289 CC – O cessionário de crédito hipotecário tem o direito de fazer


averbar a cessão no registro do imóvel.

Ter um crédito hipotecário significa possui um crédito que é garantido por uma
hipoteca (bem imóvel).

A matrícula é o documento que consta todo o histórico da “vida” do imóvel e estando


hipotecado, estará averbado na matrícula que ele foi dado em garantia de uma dívida.

O Art. 289 CC permite que o indivíduo que recebeu o crédito que é garantido por uma
hipoteca averbe a cessão na matrícula do imóvel, para evitar que um terceiro que queria
liberar o imóvel da hipoteca pague o valor da dívida para o antigo credor.

Exercício

 “A” é devedor de “B” na quantia de R$ 1.000,00. “B” cede seu crédito a “C” por
instrumento particular.

o “A” poderá se recusar a pagar o débito para “C”? Neste caso “B” é responsável
perante “C”?
 Como a cessão ocorreu por instrumento particular, o devedor poderá
se recusar a pagar o débito para o cessionário, visto que o instrumento
particular não é oponível a terceiros incluindo o próprio devedor.
Somente nos casos em que o instrumento de cessão for público ou
registrado em cartório que ele será oponível contra terceiros.
 No entanto, acontecendo esta situação o cessionário poderá se voltar
contra o cedente e continua tendo o direito de receber.

06/08/2014

 Notificação do Devedor

Kleber Luciano Ancioto Página 5


DIREITO CIVIL IV

Art. 290 CC – A cessão do crédito não tem eficácia em relação ao


devedor, se não quando a este notificada; mas por notificado se tem o
devedor que, em escrito público ou particular, se declarou ciente da
cessão feita.

Ainda que a cessão de crédito seja realizada por instrumento público há a necessidade
de que ela chegue ao conhecimento do devedor, pois caso contrário pode acontecer do
devedor procurar o credor original e pagar, visto que ele não sabia que o crédito tinha sido
cedido.

Dessa forma a notificação do devedor tem a finalidade de informa-lo que o crédito foi
cedido e a partir deste momento se ele pagar ao credor originário terá pagado mal e poderá
ter que pagar novamente. A ausência de notificação não significa que a cessão de crédito é
inválida, pois ela se presta com um único objetivo que é evitar que o devedor pague errado,
visto que se não houver a notificação do devedor e ele pagar ao credor original, este último
passa a ser considerado um credor putativo e o pagamento é considerado válido.

A lei não determina quem deve notificar o devedor, dessa forma qualquer um seja
cessionário ou cedente poderá notifica-lo, no entanto, como na prática a notificação interessa
ao cessionário é ele que comumente o comunica.

Ao recebermos um boleto contendo informações sobre cedente e cessionário, o


próprio boleto funciona como um documento de notificação, pois não há forma estabelecida
para a notificação, bastando apenas que o cessionário consiga comprovar que o devedor teve
ciência da Cessão de Crédito.

Art. 292 CC – Fica desobrigado o devedor que, antes de ter


conhecimento da cessão, paga ao credor primitivo, ou que, no caso de
mais de uma cessão notificada, paga ao cessionário que lhe apresenta,
com o título de cessão, o da obrigação cedida; quando o crédito
constar de escritura pública, prevalecerá a prioridade da notificação.

Resumindo, se antes de ser notificado o devedor paga a dívida ao credor originário, o


pagamento é considerado válido, justamente porque o credor originário nesta situação torna-
se um credor putativo.

Agora imaginemos a seguinte situação: Um comerciante agindo de má fé emite


duplicatas falsas e cede o suposto crédito para terceiros. Assim que o “cedido” receber a
notificação do cessionário ele alegará ilegitimidade de parte, transferindo o ônus da prova
para o cedente que terá que provar a existência do crédito. Por isso é comum ao recebermos
uma mercadoria assinarmos o canhoto da nota fiscal que serve como comprovante que
realmente a mercadoria foi entregue e que o crédito existe.

Outra situação que acontece é do cedente agindo também de má fé transferir um


mesmo crédito para vários cessionários e neste caso quando o cedido começa a receber as
notificações ele terá duas alternativas: pagar em consignação, visto que ele não sabe quem é
seu verdadeiro credor ou se tiver que escolher um deles, deverá pagar aquele que possui o
instrumento da obrigação nas mãos, pois o instrumento de cessão realizado entre o cedente e

Kleber Luciano Ancioto Página 6


DIREITO CIVIL IV

o cessionário podem ser vários, no entanto, o instrumento da obrigação realizado entre o


cedido e o cedente é único e quem o possuir é o verdadeiro credor do débito, como
estabelecido no Art. 290 e 291 CC.

Art. 291 CC – Ocorrendo várias cessões do mesmo crédito, prevalece a


que se completar com a tradição do título do crédito cedido.

O título do crédito cedido é o instrumento da obrigação, ou seja, o comprovante que


o devedor possui um débito para com o credor originário e quem compra um crédito deve
ficar com o documento que comprova o crédito (instrumento da obrigação). Dessa forma o
indivíduo que está com o título da cessão de crédito e o título da obrigação será com certeza o
cessionário a quem se deve pagar.

Há uma exceção apresentada no Art. 292 CC, que é o caso do instrumento da


obrigação ser realizado por escritura pública, pois nestes casos a escritura permanece no
cartório, por isso se um crédito assim for cedido nenhum cessionário terá o título do crédito e
a lei determina nestes casos que aquele que notificou primeiro terá o direito de receber.

Exercício

 “A” é devedor de “B” na quantia de R$ 1.000,00. “B” cede seu crédito a “C”, por
instrumento público, mas não ocorre a notificação de “A”.

o “A” poderá alegar que não vai pagar a dívida porque não foi notificado da
cessão e não concorda com esta?
 Embora que o Art. 290 CC discipline que a cessão de crédito só opera
efeitos sobre o cedido se ele for notificado, este artigo só serve para
evitar que o cedido pague para a pessoa errada, mas não o isenta do
pagamento, portanto ele não poderá se esquivar de pagar alegando o
desconhecimento da cessão. Outro ponto a ser analisado, é que a
cessão de crédito independe da vontade do cedido, portanto, ele
também não poderá alegar a não concordância com a cessão para não
paga-la.

 Eficácia da Cessão

Art. 293 CC – Independentemente do conhecimento da cessão pelo


devedor, pode o cessionário exercer os atos conservatórios do direito
cedido.

Dessa forma, uma vez realizada a cessão, ela já é eficaz mesmo que o cedido não tenha
sido notificado. Isso na prática significa que mesmo que o cedido não tenha sido informado da
cessão de crédito o cessionário já pode tomar providencias que visem conservar o crédito, por
exemplo, protestar um título que esta prestes a prescrever, com a finalidade de interromper o
prazo prescricional.

Kleber Luciano Ancioto Página 7


DIREITO CIVIL IV

 Exceções

Art. 294 CC – O devedor pode opor ao cessionário as exceções que lhe


competirem, bem como as que, no momento em que veio a ter
conhecimento da cessão, tinha contra o cedente.

Primeiro precisamos relembrar os tipos de exceção, pois temos a exceção pessoal, que
é oponível apenas contra uma pessoa específica, por exemplo, a exceção de coação pode ser
oposta apenas contra o coator. A obrigação cujo devedor pode opor uma exceção pessoal ela
nasce válida e se ela não for anulada dentro dos prazos legais ela se convalida. Já a exceção
comum é oponível contra qualquer pessoa, como, por exemplo, um sujeito que celebra uma
obrigação estando interditado, está obrigação já nasce morta, ou seja, é nula e jamais se
convalida.

Dessa forma as exceções comuns sempre serão oponíveis ao cessionário, mas se


fossemos levar em conta a regra geral um crédito obtido mediante coação (exceção pessoal), o
cedido não poderia utiliza-la contra o cessionário, no entanto, o Art. 294 CC permite que as
exceções pessoais que o cedido tenha contra o cedente seja também oponível contra o
cessionário desde que no momento em que o cedido for notificado da cessão de crédito ele já
providencie uma contra notificação alegando a exceção.

Exercício

 “A” é devedor de “B” na quantia de R$ 1.000,00. “B” cede seu crédito a “C”.

o “A” pode se recusar a pagar “C” alegando que o débito já tinha sido pago a “B”
antes da notificação? E se alegar que o débito foi pago a “B” depois da
notificação?
 Na primeira situação “A” poderá se recusar a pagar, pois o credor
originário é considerado neste caso um credor putativo e, portanto, o
pagamento é considerado válido, sendo essa uma exceção comum,
oponível a qualquer pessoa que venha cobrar o crédito – Art. 292 CC.
 Já na segunda hipótese, uma vez tendo sido notificado, se o devedor
pagar para qualquer pessoa diferente do cessionário corre o risco de
pagar mal e neste caso poderá ter que pagar novamente.

o “A” pode se recusar a pagar “C” alegando que o débito foi contraído mediante
erro?
 O erro só pode ser alegado contra aquele que induziu ao erro, no
entanto, no momento em que o cedido for notificado que o crédito foi
transferido, ele poderá apresentar uma contra notificação alegando a
exceção – Art. 294 CC.

Kleber Luciano Ancioto Página 8


DIREITO CIVIL IV

 Responsabilidade do Cedente

Temos que analisar a responsabilidade do cedente sobre dois aspectos: Responsabilidade


sobre a existência do crédito e responsabilidade sobre a solvência do cedido.

o Existência do Crédito
 Onerosa
 Gratuita
 Boa Fé
 Má Fé

Quanto a existência do crédito precisaremos analisar se a cessão de crédito foi a título


onerosa ou gratuita e neste último caso se a cessão foi realizada de boa fé ou má fé.

Art. 295 CC – Na cessão por título oneroso, o cedente, ainda que não
se responsabilize, fica responsável ao cessionário pela existência do
crédito ao tempo em que lhe cedeu; a mesma responsabilidade lhe
cabe nas cessões por título gratuito, se tiver procedido de má-fé.

Ou seja, uma das obrigações do cedente é se responsabilizar pela existência do crédito


cedido na cessão onerosa. E o artigo ainda traz uma ressalva de que não adianta no
instrumento de cessão existir uma cláusula dizendo que o cedente não se responsabiliza pela
existência do crédito, pois ela é considerada nula.

O artigo ainda normatiza que se o cedente agir de má fé, doando um crédito que ele
sabe que não existe, ele será responsável pela totalidade do crédito cedido, em contrapartida
se ele tiver agido de boa fé e não sabia da inexistência do crédito doado, ele não terá que arcar
com ele.

o Solvência do Cedido

Quando a cessão de crédito é pró soluto, significa que o cedente não se responsabiliza
pela solvência do cedido, já no caso da cessão for pro solvendo o cedente se responsabiliza
pela solvência do cedido, sendo essa ultima uma exceção a regra estipulado no Código Civil,
como podemos ver no artigo abaixo:

Art. 296 CC – Salvo estipulação em contrário, o cedente não responde


pela solvência do devedor.

Então em regra o cedente não se responsabiliza pela solvência do devedor, mas na


prática é comum que nos instrumentos de cessão de crédito existam cláusulas transferindo a
responsabilidade pela solvência do cedido ao cedente e uma vez existindo esta cláusula é
considerada válida.

Uma vez existindo a cláusula que transfere a responsabilidade da solvência do cedido


ao cedente, há algumas normatizações sobre sua responsabilização que constam abaixo:

Kleber Luciano Ancioto Página 9


DIREITO CIVIL IV

Art. 297 CC – O cedente, responsável ao cessionário pela solvência do


devedor, não responde por mais do que daquele recebeu, com os
respectivos juros; mas tem de ressarcir-lhe as despesas da cessão e as
que o cessionário houver feito com a cobrança.

Dessa forma, se o cedente precisar se responsabilizar pelo pagamento da dívida do


cedido, quando ele for paga-la ao cessionário ele não pagará o valor total do crédito, mas sim
o valor que ele recebeu do cessionário acrescido de juros e precisará ainda ressarcir as
despesas do cessionário com a cessão e com a cobrança, visto que o cessionário não poderá
sair no prejuízo.

Exercício

 “A” é devedor de “B” na quantia de R$ 1.000,00. “B” cede seu crédito a “C”, por R$
800,00.

o Caso fique comprovado que o débito estava pago antes da cessão, o que “C”
poderá cobrar de “B”? E se a cessão tivesse ocorrido de forma gratuita?
 Se “B” transfere um crédito que já estava pago, ele é responsável pela
existência do crédito no momento em que o cede, dessa forma “C”
poderá cobrar a totalidade do crédito de “B”.
 No caso de ceder o crédito gratuitamente, precisamos analisar se “B”
agiu de boa fé ou de má fé, pois no primeiro caso ele não poderá ser
responsabilizado pela existência do crédito cedido, agora se ele
transferiu um crédito sabendo de sua inexistência ele terá que arcar
com a totalidade do crédito.

o Supondo que a Cessão foi pró solvendo o que “C” poderá cobrar de “B” se o
cedido não paga o débito? E se fosse pro soluto?
 No caso da cessão ser pró solvendo “C” poderá cobrar de “B” o valor
que ele pagou pelo crédito (R$ 800,00) acrescido de juros e as
despesas que ele teve com a cessão e com a cobrança do cedido. Art.
297, CC.
 Já no caso da cessão ser pro soluto ele não poderá cobrar nada.

11/08/2014

 Penhora

Uma vez o Juiz citando um indivíduo para pagar uma dívida se ele não pagar, o Estado
pode penhorar algo do seu patrimônio. O ato de apreender algo do patrimônio do devedor
para pagar uma dívida é denominado Penhora.

Kleber Luciano Ancioto Página 10


DIREITO CIVIL IV

O patrimônio é constituído, dentre outras coisas, por crédito, não sendo dinheiro, mas
possui valor patrimonial, sendo necessário inclusive declarar os créditos na declaração de
imposto de renda anual.

Na prática, para penhorar um crédito há a necessidade de comunicar o devedor que o


crédito está penhorado, pois na ocasião do vencimento da dívida ele não poderá pagar ao
credor originário, mas sim depositar no processo onde aconteceu a penhora.

Art. 298 CC – O crédito, uma vez penhorado, não pode mais ser
transferido pelo credor que tiver conhecimento da penhora; mas o
devedor que o pagar, não tendo notificação dela, fica exonerado,
subsistindo somente contra o credor os direitos de terceiro.

Dessa forma, o artigo normatiza que uma vez ocorrendo a penhora de um crédito ele
não poderá mais ser objeto de cessão e que se o devedor não souber da penhora e pagar ao
credor original ele paga bem (credor putativo – pagamento considerado válido), ocorrendo
isso o problema ficará entre o credor que recebeu o crédito e o credor que fez a penhora.
Agora na hipótese do devedor ter conhecimento da penhora e mesmo assim pagar ao credor
original, ele paga mal e terá que pagar novamente no processo.

Exercício

 “A” é devedor de “B” na quantia de R$ 1.000,00. “B” deve R$ 1.000,00 a “X”. “X”
propõe uma ação de execução contra “B” e realiza a penhora do débito de “A”.

o Como ficará a obrigação de “A” se, depois da penhora, com a notificação


desta, paga o débito a “B”? E se fosse antes da notificação?
 Se “A” já tinha sido notificado, ele terá que pagar novamente por ter
pago mal, agora se ele não tivesse conhecimento da penhora, o
pagamento será considerado válido (Art. 298, CC).

 Sub Rogação vs Cessão de Crédito

Uma última observação importante é que a Sub Rogação é um instituto muito parecido
com a Cessão de Crédito, tanto que a Sub Rogação Convencional utiliza as mesmas regras da
Cessão de Crédito.

ASSUNÇÃO DE DÍVIDA

A Cessão de Crédito normalmente acontece quando o credor vende a prazo, mas


precisa o dinheiro a vista. Pode acontecer também do devedor se dirigir até uma instituição

Kleber Luciano Ancioto Página 11


DIREITO CIVIL IV

financeira e propor a transferência do débito, explicando que ele possui, por exemplo, uma
dívida “X” para pagar em 6 meses e que ele gostaria de pagar “X” – 10% a vista para a
instituição e ela assumiria a dívida pagando-a quando vencer. Este exemplo demostra outra
forma de transmissão de obrigação denominada Assunção de Divida ou de Débito.

Então da mesma forma que o crédito pode ser transacionado com a troca de credores,
o débito também pode ser transacionado com a troca de devedores. Neste caso, o indivíduo
que recebe o débito é o Assuntor, o que transfere o débito é o Alienante e o credor do débito
é o Assuntivo.

A assunção de dívida é uma novidade do Código Civil de 2002 e na prática, ao contrário


da Cessão de Crédito, é muito pouco utilizada.

 Onerosa vs Gratuita

A Assunção pode ser onerosa, quando o alienante paga algo para transferir a dívida ou
gratuita, quando o alienante passa a dívida sem pagar nada.

Exemplo de Assunção Onerosa: O alienante procura uma instituição financeira


(Assuntor) e propõe transferir um débito de R$ 1.000,00 que vence em 6 meses, pagando a
vista R$ 800,00 reais a instituição. Neste caso como o alienante teve que desembolsar R$
800,00 reais para transferir o débito.

Exemplo de Assunção Gratuita: O pai que assume a dívida de um filho sem que ele
pague nada.

 Requisitos

Art. 299 CC – É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor,


com o consentimento expresso do credor, ficando exonerado o
devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era
insolvente e o credor o ignorava. Parágrafo único. Qualquer das
partes pode assinar prazo ao credor para que consinta na assunção da
dívida, interpretando-se o seu silêncio como recusa.

Então o requisito mais característico para que ocorra a Assunção de Dívida é o


consentimento expresso do credor, pois para o credor é muito importante quem é o seu
devedor, visto que há uma troca da possibilidade do recebimento do crédito.

O paragrafo único deste artigo, ainda normatiza que quando o credor for consultado
para dizer se concorda com a transferência da dívida, se ele permanecer em silencio,
pressupõe-se que ele recusou, sendo, portanto, uma exceção a regra do Art. 111 do CC, que
disciplina que quem cala concorda.

Kleber Luciano Ancioto Página 12


DIREITO CIVIL IV

Art. 111 CC – O silêncio importa anuência, quando as circunstancias


ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade
expressa.

Além da concordância expressa, temos como requisitos a validade e existência da


obrigação e substituição do devedor. Presente todos estes elementos temos concretizado a
assunção de débito.

Na doutrina encontraremos posicionamentos de que se o credor não se manifesta


expressamente que concorda com a Assunção de Dívida, mas começa a aceitar o pagamento
dando inclusive quitação das parcelas pagas ao Assuntor, mesmo não existindo um
consentimento expresso, suas atitudes são contrarias a alguém que discordou a Assunção,
sendo ela, portanto, considerada válida.

Exercício

 Maria adquiriu um imóvel financiado da Caixa Econômica Federal (CEF) juntamente


com seu noivo. Depois de pagar parte das parcelas, os noivos romperam o
relacionamento. Com a concordância do ex-noivo, Maria pede ao banco que exclua o
nome dele do contrato. Se o banco não concordar, é viável que Maria ingresse com
uma ação para obter a aceitação?
o A CEF está recebendo a dívida de dois devedores, sendo uma dívida divisível a
Caixa poderá exigir metade do débito de Maria e metade do Ex-noivo, caso
eles não sejam devedores solidários, pois neste caso ela poderia exigir a
totalidade do débito tanto de Maria como do Ex-noivo, dessa forma, se Maria
pede para tirar o Ex-noivo do contrato, significa que ela estaria assumindo a
parte dele no débito, sendo uma Assunção de Dívida que, como já vimos,
depende do consentimento expresso do credor, portanto, seria inviável uma
ação com o objetivo de obrigar a aceitação da CEF.

 Objeto de Assunção de Dívida

A princípio qualquer objeto de obrigação pode ser transferida, seja ela, obrigação de
dar, fazer ou não fazer, salvo as obrigações personalíssimas, onde somente o devedor
orginário é que poderá cumprir com a obrigação.

 Expromissão vs Assunção por Delegação

Se um terceiro pode pagar a dívida sem a concordância do devedor, ele também pode
assumir uma obrigação, mesmo sem concordância do devedor original. Esse tipo de Assunção
de Dívida que ocorre independentemente da vontade do Devedor Original (Alienante) é
denominado Expromissão.

Kleber Luciano Ancioto Página 13


DIREITO CIVIL IV

Quando o Devedor Original (Alienante), Credor (Assuntivo) e Novo Devedor


(Assuntor) concordam com a Assunção de Dívida, denominamos de Assunção por Delegação,
visto que concordando o Alienante estará atribuindo, delegando sua obrigação para outra
pessoa (Assuntor).

 Efeitos da Assunção de Dívida

Art. 299 CC – É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor,


com o consentimento expresso do credor, ficando exonerado o
devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era
insolvente e o credor o ignorava.

Voltando a analisar o Art. 299, CC, veremos que o devedor primitivo (Alienante) fica
exonerado, uma vez ocorrendo a Assunção da Dívida, por isso que ela possui Efeito
Liberatório. Sendo assim, em regra, o Alienante não responde mais pela obrigação a partir do
momento que ela é transferida para um novo devedor (Assuntor). No entanto, o mesmo artigo
faz uma ressalva para o Alienante (Devedor Original) que sabia, no momento da transferência,
que o Assuntor (Novo Devedor) era insolvente e o Assuntivo (Credor) ignorava tal situação,
pois neste caso o Alienante continuará preso a obrigação. Agora na hipótese de se conseguir
provar que o Assuntivo sabia que o Assuntor era insolvente e mesmo assim concordou
expressamente com a assunção, ela é considerada válida e o Alienante estará livre da
obrigação. Este tipo de assunção que libera o Alienante é denominada Assunção Liberatória.

A doutrina traz também a hipótese de Assunção Cumulativa, quando a dívida é


transferida para um Novo Devedor (Assuntor), mas o Devedor Original (Alienante) continua
responsável por ela, sendo, para isso, incluído no contrato de Assunção de Dívida uma cláusula
dizendo que o Alienante continua respondendo pela dívida caso o Assuntor não a pague. Há
criticas a esse posicionamento, pois nestes casos não seria assunção, mas apenas uma
alteração contratual aumentando o número de devedores, ou seja, aumentando a
possibilidade do Credor cobrar a dívida.

Exercício

 Pedro deve R$ 5.000,00 ao banco “X”. Mediante a concordância do banco a dívida foi
transferida para João. Se João não pagar a dívida, o banco pode exigir o pagamento de
Pedro?
o Em regra não, pois como disciplina o Art. 299, CC o Alienante não se
responsabiliza pelo pagamento do Assuntor, tendo a assunção um efeito
liberatório, salvo se no momento que ocorrer a assunção o Alienante já sabia
que o Assuntor era insolvente e o Assuntivo desconhecia tal fato.

13/08/2014

Kleber Luciano Ancioto Página 14


DIREITO CIVIL IV

 Garantias

Na Cessão de Crédito os assessórios seguem o principal, ou seja, o crédito é transferido


juntamente com suas garantias, independentemente da concordância dos garantidores. Agora
no caso de ocorrer o contrario (Assunção da Dívida) haverá a necessidade da concordância dos
garantidores, para que as garantias continuem.

Dessa forma, imaginemos que uma dívida possui um fiador, uma casa hipotecada
pertencente ao próprio devedor e outra casa hipotecada cujo proprietário é o sogro do
devedor (um terceiro). Qualquer dessas garantias somente continuarão garantindo a dívida
após a assunção se os garantidores concordarem. Essa regra encontra-se disciplinada no Art.
300, CC.

Art. 300 CC – Salvo assentimento expresso do devedor primitivo,


consideram-se extintas, a partir da assunção da dívida, as garantias
especiais por ele originariamente dadas ao credor.

Exercício

 Uma dívida é garantida por um imóvel pertencente ao devedor na forma de hipoteca.


Se ocorrer a assunção por delegação a garantia persiste? E se ocorrer a assunção por
expromissão?
o Se a assunção ocorrer por delegação, há doutrinadores que entendem que
automaticamente o alienante (devedor originário) concorda que seu imóvel
continue garantindo a dívida, ao passo que outra corrente defende que
mesmo assim, ele precisaria concordar expressamente com a continuação da
garantia. Já no segundo caso se ele não concorda com a assunção é muito
provável que ele também não concorde que se imóvel continue garantindo a
dívida.

 Anulação da Transferência

Art. 301 CC – Se a substituição do devedor vier a ser anulada,


restaura-se o débito, com todas as suas garantias, salvo as garantias
prestadas por terceiros, exceto se este conhecia o vício que inquinava
a obrigação.

Então a regra é que a obrigação original se reestabelece e as garantias dadas pelo


próprio devedor originário retornam a obrigação, mas as garantias dadas por terceiros não
retornam, salvo se eles sabiam do vício que levou a anulação da assunção, pois neste caso,
como punição o legislador determina que eles retornem também a garantir a obrigação.

Kleber Luciano Ancioto Página 15


DIREITO CIVIL IV

Exercício

 Pedro é devedor de João na quantia de R$ 1.000,00, Joaquim é fiador da dívida que


também é garantida pela hipoteca de um imóvel pertencente a Pedro. Mediante a
concordância do credor a dívida é transferida para Joaquim.

o Neste caso, como ficará a obrigação, inclusive em relação as garantias?


 Se acontecer a Assunção de Dívida pelo Joaquim, temos que analisar
se Pedro concordou com a assunção, pois no caso de ter ocorrido a
assunção por expromissão certamente ele não concordará que a
hipoteca de seu imóvel continue garantindo a dívida, agora se a
assunção ocorreu por delegação, haverá ainda a necessidade que ele
concorde expressamente em continuar garantindo a dívida, para que a
hipoteca continue (Art. 300, CC). Já no caso da fiança, ela não
continua porque acontece Confusão, pois Joaquim não pode ser ao
mesmo tempo devedor e fiador de si próprio.

o Qual seria a solução se a transferência da dívida fosse para Manoel? E, neste


caso, qual seria a solução se a assunção viesse a ser anulada?
 Com relação a hipoteca, vale o mesmo que foi dito com relação a
assunção realizada pelo Joaquim. Já com relação a fiança também só
continuará garantindo a dívida se Joaquim concordar (Art. 300, CC)
 Se ocorrer a anulação, reestabelece a obrigação anterior e Pedro
(devedor originário) volta a garantir a divida com a hipoteca. Em
relação ao terceiro garantidor em regra ele não retorna (Art. 301, CC),
salvo se ele sabia do motivo da anulação.

 Exceções

Se a dívida for transferida, mas havia motivos que o alienante (Devedor Originário)
poderia utilizar contra o credor para não paga-la, em regra o assuntor não poderá se valer
delas para opor contra o assuntivo, como normatizado no artigo abaixo:

Art. 302 CC – O novo devedor não pode opor ao credor as exceções


pessoais que competiam ao devedor primitivo.

Então imaginemos que o devedor original foi coagido pelo credor a assumir a
obrigação. Está dívida é valida embora ela tenha nascido como fruto de uma coação. Se o
credor vier cobra-la do devedor original, ele poderá alegar como defesa que foi coagido para
não pagar. Agora se a dívida foi realizada mediante coação e posteriormente é realizada a
transferência da dívida para um novo devedor (Assuntor), esse não poderá utilizar essa
exceção pessoal contra o credor, pois uma vez transferida a obrigação se convalida.

Resumindo, o novo devedor não pode se aproveitar das exceções pessoais que valiam
para o devedor original. Mas se por algum motivo a assunção for anulada, a obrigação
primitiva se reestabelece e o devedor original poderá alegar como exceção pessoal
novamente.

Kleber Luciano Ancioto Página 16


DIREITO CIVIL IV

Agora no caso das exceções comuns, como o pagamento, o assuntor (Novo Devedor)
poderá opor contra o assuntivo (Credor).

Exercício

 Pedro, relativamente incapaz e sem assistência assume uma dívida perante João. A
dívida é transferida a Joaquim.

o Joaquim poderá alegar a incapacidade de Pedro para não pagar o débito? E se


Pedro fosse absolutamente incapaz quando contraiu o débito?
 A dívida assumida por um relativamente incapaz é valida, porém pode
ser anulada. Joaquim, no entanto, não poderá alegar isso para não
pagar a dívida porque a incapacidade relativa é uma exceção pessoal,
dessa forma, somente Pedro poderia se aproveitar-se dela (Art. 302,
CC). Agora no caso do absolutamente incapaz, ele não pode por si só
assinar um contrato assumindo uma dívida, podendo apenas através
de seu representante, dessa forma, esta obrigação é nula. O negocio
jurídico nulo não nasce, ou melhor, já nasce morto, e nesse caso
Joaquim poderá alegar essa condição, porque a nulidade é uma
exceção comum, podendo ser alegada perante qualquer credor e por
qualquer devedor.

 Hipoteca

Aprendemos que o imóvel hipotecado pode ser adquirido por terceiro, só que ele
continua garantindo a dívida. Uma forma do terceiro liberar o imóvel da hipoteca é pagar a
dívida se sub-rogando nos direitos do credor. Suponhamos, então, que o terceiro não tenha
mais dinheiro por ter gasto tudo para comprar o imóvel, ele poderia assumir a dívida, ao invés
de paga-la? A solução encontramos no artigo a seguir:

Art. 303 CC – O adquirente de imóvel hipotecado pode tomar a seu


cargo o pagamento do crédito garantido; se o credor, notificado, não
impugnar em trinta dias a transferência do débito, entender-se-á dado
o assentimento.

Então o terceiro adquirente de imóvel hipotecado poderá assumir a dívida se o credor,


uma vez notificado, não impugnar em trinta dias a transferência do débito, sendo uma exceção
a regra descrita no Parágrafo único do Art. 299, CC, que normatiza que se o credor não se
manifestar entende-se como não concordância. Lembrando que há também um
posicionamento doutrinário que defende que se o credor possuir um comportamento
incompatível com o de quem não concordou om a assunção, fica subentendido que ele
concordou com a Assunção da Dívida.

Kleber Luciano Ancioto Página 17


DIREITO CIVIL IV

Exercício

 Pedro deve para João, a dívida é garantida por uma hipoteca de um imóvel
pertencente ao devedor e é paga mediante parcelas. Joaquim adquire o imóvel de
Pedro e passa a pagar a este pessoalmente o restante das parcelas.

o Se Joaquim para de pagar as parcelas, João poderá cobra-las de Pedro?


 Como Joaquim começou a pagar as parcelas para João e ele aceitou,
subentendesse que ele (João) concordou com a Assunção da Dívida,
visto que sua conduta foi incompatível com a de alguém que não
concordou. Uma vez concordando, Pedro não faz mais parte da
obrigação e, portanto, o único que responderá pela dívida será
Joaquim, demonstrando o efeito liberatório da assunção.

o Joaquim comunica a João o interesse em assumir o pagamento da dívida, o


credor permanece em silencio e ninguém paga o restante das parcelas. Neste
caso, João pode cobrar a dívida de Pedro? E de Joaquim?
 Se Joaquim notificou o credor de que vai assumir a obrigação e
estamos a menos de 30 dias e vence uma parcela, o responsável por
essa parcela é o Pedro, pois o credor tem até 30 dias para manifestar a
concordância ou discordância. Agora se já decorreu mais de 30 dias da
notificação e o credor ficou quieto é sinal que houve a assunção e ai o
Pedro estará liberado. (Art. 303, CC)

19/08/2014

CESSÃO DE CONTRATO

No código civil não existe a figura da Cessão de Contrato, visto que ela, nada mais é
que uma combinação da Cessão de Crédito e Assunção de Débito. Isto ocorre porque na
maioria dos contratos cada uma das partes possui direitos e obrigações.

Por exemplo, em um contrato de locação, o locatário é devedor da prestação de pagar


os alugueres e ao mesmo tempo é credor da posse do imóvel, por outro lado o locador é
credor do recebimento dos alugueres e ao mesmo tempo devedor da obrigação de permitir
que o locatário utilize o imóvel.

Dessa forma, normalmente em uma relação contratual, ambas as partes possuem


direitos e obrigações. Imaginemos, então, que o indivíduo que alugou o imóvel, por algum
motivo precise mudar, mas para que ele não tenha que rescindir o contrato, ele consegue um
terceiro interessado em assumir seu lugar no contrato de locação do imóvel. Nestas hipóteses
é que se caracteriza a Cessão de Contrato, pois ao novo locatário será transferido a obrigação
de pagar os alugueres e o direito de posse do imóvel, ou seja, ao mesmo tempo teremos uma
Cessão de Crédito e uma Assunção de Débito.

Kleber Luciano Ancioto Página 18


DIREITO CIVIL IV

Na prática encontramos muito mais Cessão de Contrato do que a Assunção de Débito


e, sempre que ocorrer algum problema recorreremos aos artigos de ambos os institutos
(Cessão de Crédito e Assunção de Débito). A terminologia utilizada na Cessão de Contrato é a
mesma utilizada para a Cessão de Crédito (Cedido, Cedente e Cessionário), no nosso exemplo,
o cedido seria o locador que permanecerá no contrato, o cedente será o locatário originário e
o cessionário será o novo locatário.

 Observações Importantes da Cessão de Contrato

Não há previsão legal;

Consiste na transferência de uma posição contratual;

O objeto pode ser, a princípio, qualquer coisa, salvo se a obrigação de fazer for
personalíssima não há como transferir o devedor.

 Utilidade Prática

Na prática encontramos a Cessão de Contrato nos casos em que imóveis de conjuntos


habitacionais são adquiridos através de um financiamento junto a uma instituição financeira e
após alguns anos o indivíduo que financiou resolve vender o imóvel e quer transferir a
obrigação das parcelas vincendas ao novo proprietário. Nesta situação para que ocorra a
Cessão de Contrato, haverá a necessidade da concordância da instituição financeira, visto que
ainda há prestações a serem pagas e uma das regras a Assunção de Débito é que para ele
ocorrer deverá existir a concordância expressa do credor.

Outra situação muito comum é o indivíduo que adquire um veículo por alienação
fiduciária e ainda restando parcelas a serem pagas, transfere o veículo para um terceiro. Nesta
hipótese também temos uma Cessão de Contrato, pois há a transferência da obrigação de
pagar as parcelas vincendas bem como o direito de permanecer com o veículo. Dessa forma,
também há a necessidade da concordância da instituição financeira, conforme o explicado no
parágrafo anterior, mas na prática a maioria nem comunica a instituição, tornando a operação
inválida com relação ao cedido.

 Elementos

o Contrato Bilateral

Essa expressão gera confusão, pois quando falamos que o Negocio Jurídico é Bilateral
significa que há a necessidade da manifestação de vontade de ambas as partes, já quando nos
referimos a Contrato Bilateral, significa que haverá obrigações para as ambas as partes.

No caso de um Contrato Unilateral, o indivíduo será somente credor ou somente


devedor e, portanto, se ele ceder sua posição nesse tipo de contrato, o que ele estará fazendo

Kleber Luciano Ancioto Página 19


DIREITO CIVIL IV

ou será uma Cessão de Crédito (caso ele seja credor) ou Assunção de Débito (caso ele seja
devedor).

o Concordância do Cedido (O indivíduo que continua no Contrato)

Segundo as regras da Assunção de Débito, na Cessão de Contrato há a necessidade de


que exista a concordância do cedido expressamente, isso ocorre justamente por se tratar de
um Contrato Bilateral e dessa forma haverá transferência de crédito, mas também de débito
para um novo integrante da relação contratual.

o Contrato Existente

Se o contrato for nulo (inexistente), qualquer Cessão de Contrato que ocorrer ficará
contaminada pela nulidade.

o Requisitos do Art. 104, CC

Art. 104, CC – A validade do negócio jurídico requer: I – agente capaz;


II – objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III – forma
prescrita ou não defesa em lei.

Este artigo traz os requisitos de validade que se aplicam aos Negócios Jurídicos e a
Cessão de Contrato é uma espécie de Negócio Jurídico, dessa forma há a necessidade de seguir
os requisitos gerais.

 Cessão de Contrato vs Novação Subjetiva

A Cessão de Contrato difere da Novação Subjetiva, porque nesta última ocorre a


criação de uma nova obrigação com alteração das partes envolvidas para extinguir a anterior,
ao passo que na Cessão de Contrato não há uma nova obrigação, visto que o contrato é o
mesmo e o que é transferido é a posição contratual de uma das partes.

Exercício

 João adquire um veículo financiado em parcelas e, sem condições de continuar


pagando, transfere o carro a Pedro, notificando o banco.

o A operação é válida?
 Neste caso João é credor e devedor neste contrato e se ele resolver
passar sua posição contratual ele transfere todos seus direitos e

Kleber Luciano Ancioto Página 20


DIREITO CIVIL IV

obrigações (Cessão de Contrato), dessa forma ao notificarem o cedido


(banco) se ele permanecer em silêncio devemos observar a regra da
Assunção de Débito que prevê que uma vez notificado se o Assuntivo
(Credor do Débito) permanecer em silêncio significa que ele não
concordou (Art. 299, Parágrafo único, CC). A doutrina traz uma
exceção a essa regra, pois neste caso se o cedido estiver ciente que é o
Pedro que estava pagando as parcelas do financiamento e ele aceita
dando inclusive quitação, a Cessão de Contrato é considerada válida,
pela atitude do cedido predispor uma concordância com a Assunção
do Debito, mas na prática isso é difícil de comprovar, visto que na
maioria das vezes o pagamento é realizado através de boleto bancário.
Dessa forma a operação só será valida se o cedido concordar
expressamente.

o No caso anterior, considerando a transferência válida, se Pedro parar de pagar


as parcelas, o banco poderá ingressar com uma ação de cobrança contra João?
 Se nada foi estipulado em contrario, a regra é que João não
respondera pelo inadimplemento da obrigação de Pedro, devido o
efeito liberatório da Assunção de Débito, conforme prevê o Art. 299,
CC.

INADIMPLEMENTO DA OBRIGAÇÃO

O inadimplemento significa o descumprimento de uma obrigação. Nós advogados


precisamos saber muito bem as regras que tangem o inadimplemento, pois na prática somos
procurados justamente quando há algum problema no cumprimento dos contratos. E uma vez
sendo procurados precisaremos avaliar a possibilidade de responsabilização civil da parte
inadimplente.

O oposto do inadimplemento é o adimplemento, ou seja, o cumprimento da


obrigação.

 Inadimplemento Absoluto vs Relativo

Estando diante de uma causa de inadimplemento, a primeira coisa que temos que
observar é se o inadimplemento é absoluto ou se ele é relativo, pois cada um terá um
caminho jurídico a se seguir.

Imaginemos o exemplo de uma boleira que fica de entregar um bolo de aniversário no


dia da festa, mas ela por alguma razão, não o entrega. Nesta hipótese estaríamos diante de
uma situação que até seria possível entregar o bolo no dia seguinte, mas ele não teria mais
utilidade, dessa forma, do jeito que foi convencionado não haverá mais como cumprir o
contrato. Vejamos outra situação: um indivíduo que leva seu cachorro para tomar banho, mas
por descuido dos funcionários do Pet Shop, ele acaba fugindo. O proprietário do Pet Shop até

Kleber Luciano Ancioto Página 21


DIREITO CIVIL IV

poderia entregar outro cachorro da mesma raça, mas certamente o proprietário do cachorro
não aceitaria, visto que estamos diante de uma obrigação de dar coisa certa, ou seja, é
impossível entregar outra coisa que não seja aquela convencionada.

Estas situações elencadas acima demonstram casos de inadimplemento absoluto, pois


uma vez ocorrendo o descumprimento do contrato, não há mais como cumpri-lo, seja pela
impossibilidade ou pela inutilidade. Sabendo disso, já podemos afirmar que quando
estivermos diante de um inadimplemento absoluto não haverá como pedirmos o cumprimento
do contrato, restando apenas o ressarcimento dos prejuízos.

Observação Importante: Na obrigação de dar coisa incerta, antes que ocorra a


concentração, não pode ocorrer a impossibilidade, mas pode ocorrer a inutilidade.

Já o inadimplemento relativo, ocorre quando a obrigação não foi cumprida conforme


convencionado, mas ela ainda pode ser cumprida, visto que ela é possível e útil.

Por exemplo, se um aluno não paga o boleto da mensalidade da faculdade até o dia do
vencimento, ainda é possível que ele efetue o pagamento posteriormente sendo óbvio que o
pagamento ainda será útil a faculdade. Dessa forma se a faculdade necessitar entrar com uma
ação para receber a parcela atrasada, ela poderá exigir que o aluno cumpra o contrato e ainda
que pague o prejuízo que ela teve pelo atraso (multa, juros e correção monetária).

Em resumo, no inadimplemento absoluto não há como pedir o cumprimento do


contrato, restando apenas pedir o ressarcimento do prejuízo, ao passo que no
inadimplemento relativo há como pedir o cumprimento do contrato somado ao
ressarcimento dos prejuízos.

A questão sobre se o cumprimento da obrigação é útil ou não, não fica a critério da


vontade do credor, mas sim nas mãos do Juiz que obedece a critérios e segue um padrão de
razoabilidade. Isso nos leva a concluir que a definição se o inadimplemento é absoluto ou
relativo nem sempre ficará preso a critérios objetivos.

A doutrina traz outra espécie de inadimplemento que é denominado: Inadimplemento


Absoluto Parcial e nestes casos a decisão acerca se o inadimplemento é absoluto ou relativo
ficará sempre a critério da vontade do credor, ou seja, a lei permite que ele decida, vejamos o
exemplo abaixo:

o Inadimplemento Absoluto Parcial

Imaginemos que “A” compre um carro de “B”, paga pelo carro e fica de pega-lo
amanhã. No entanto, ao sair com o carro da garagem “B” arranha sua lataria, antes de
entrega-lo a “A”. Está é uma situação onde temos uma obrigação de dar coisa certa em que
houve deterioração da coisa por culpa do devedor e quando estudamos o instituto de dar
coisa certa, nós vimos que nesta situação o credor pode aceitar a coisa no estado em que se
encontra e exigir um ressarcimento pelos prejuízos, ou resolver o negócio jurídico (desfaze-lo)
exigindo também as perdas e danos. Analisando sob outro espectro podemos dizer que houve

Kleber Luciano Ancioto Página 22


DIREITO CIVIL IV

um inadimplemento, pois o contrato não foi cumprido da forma como foi convencionado, no
entanto, ele será relativo caso o credor escolha receber o carro da maneira como ele se
encontra e ser ressarcido dos prejuízos causados pelo devedor, ou ser absoluto, caso o credor
não queira mais o carro, pedindo o dinheiro que pagou de volta, mais os prejuízos que por
ventura ele tenha sofrido.

Então, por ficar a critério do credor definir se o Inadimplemento é Absoluto ou Relativo


a doutrina denominou como sendo um Inadimplemento Absoluto Parcial.

 Inadimplemento vs Atraso

Nem sempre o inadimplemento se dará pelo atraso no cumprimento da obrigação,


visto que esta inadimplente, aquele que não cumpriu a obrigação da forma como foi
convencionada.

Imaginemos um indivíduo que fica de entregar, no dia 10 de Outubro, 20 cabeças de


gado em Regente, mas na data convencionada ele as entrega em Anhumas. Ele não terá
cumprido a obrigação, estando, portanto, inadimplente. Neste caso, no entanto, ainda é
possível cumprir com o que foi convencionado, por isso o inadimplemento é relativo e veja
que não estava relacionado a atraso no cumprimento da obrigação, mas sim por entregar em
local errado.

Resumindo, o inadimplemento está relacionado com o não cumprimento da


obrigação da forma como foi convencionada e não simplesmente com relação a atraso.

 Responsabilidade Civil Contratual vs Responsabilidade Civil Extracontratual

Se alguém no âmbito civil causa prejuízo a outrem, podemos entrar com uma ação de
indenização. Mas para ingressarmos com uma ação é necessário avaliarmos se o prejuízo é
decorrente de um contrato ou não, pois algumas regras e os fundamentos legais diferem entre
eles.

Dessa forma se um ônibus da Andorinha quebra no meio do caminho e um dos


passageiros não chega ao destino a tempo causando-lhe prejuízo, temos que utilizar as regras
que tangem a responsabilidade civil contratual, pois há um contrato de transporte entre as
partes. Já o indivíduo que atropela alguém na rua e a vítima procura um advogado para entrar
com uma ação pedindo uma indenização, a responsabilidade civil do motorista que a
atropelou é extracontratual.

Em ambos os casos a ação se denomina Ação de Reparação de Danos e em ambos


haverá o pedido de ressarcimento dos prejuízos, mas os fundamentos utilizados em uma ou
outra ação serão diferentes, pois em um caso há responsabilidade civil contratual e no outro
extracontratual. Para termos noção, uma das diferenças é que em se tratando de
responsabilidade civil contratual há necessidade de capacidade das partes, enquanto na outra
não.

Kleber Luciano Ancioto Página 23


DIREITO CIVIL IV

 Efeito do Inadimplemento Absoluto

Art. 389 CC – Não cumprida a obrigação, responde o devedor por


perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices
oficiais regularmente estabelecidos e honorários de advogado.

Este artigo normatiza que uma vez ocorrendo o inadimplemento o credor poderá
exigir perdas e danos, juros, correção monetária e honorários advocatícios.

Retornando ao exemplo da boleira que não entregou o bolo no dia da festa de


aniversário, estávamos diante de uma obrigação de fazer cujo inadimplemento foi absoluto
(visto que a entrega posterior do bolo, não é mais útil ao credor). Dessa forma, judicialmente
não será pedido para que a boleira entregue o bolo, mas sim, todos os prejuízos decorrentes
do inadimplemento, como danos morais, ressarcimento do dinheiro pago acrescido de juros,
correção monetária e honorários advocatícios.

Assim a base legal do pedido realizado em juízo quando há uma Responsabilidade


Civil Contratual, encontra-se no Art. 389, CC, como elencado acima.

Perdas e Danos, Juros e Correção Monetária, estudaremos posteriormente cada um


isoladamente. Por agora o importante é sabermos que independentemente se o
inadimplemento é relativo ou absoluto, o devedor será responsabilizado pelo que está
normatizando no Art. 389, CC.

o Honorários Advocatícios

Há uma discussão doutrinaria acerca dos honorários advocatícios, elencado no Art.


389, CC e a dúvida seria se ele se refere aos honorários contratuais ou aos honorários
sucumbenciais, visto que o advogado geralmente recebe duas vezes dentro de um mesmo
processo, sendo a primeira vez os honorários contratuais de quem o contratou para entrar
com determinada ação e no caso dele ganhar a causa o Juiz determina que a parte contrária
pague os honorários sucumbenciais que vai de 10 a 20% o valor da causa.

O STJ já deu uma pacificada no assunto dizendo que os honorários elencados no artigo
se referem aos contratuais, visto que, contratar um advogado para reaver o prejuízo acaba se
tornando outro prejuízo para a parte prejudicada, por esse entendimento os honorários
advocatícios contratuais também podem ser exigidos do devedor.

Por isso deve ser anexado a petição inicial o contrato de serviços advocatícios e
constar na petição inicial o requerimento do ressarcimento da contratação do Advogado. Se
não fosse assim, dependendo do valor da causa o autor da ação poderia ficar no prejuízo, seja
por ganhar um valor inferior ao que ele pagou para o advogado ou por não entrar com a ação
justamente por não compensar visto que o valor do advogado ficaria mais caro que o próprio
valor da ação.

Kleber Luciano Ancioto Página 24


DIREITO CIVIL IV

 Inadimplemento vs Culpa

Para que possa ser exigido qualquer coisa da parte inadimplente é necessário que o
descumprimento contratual tenha ocorrido por culpa do devedor.

Dessa forma, voltando ao caso da nossa boleira, se ela conseguir provar que ela fazia
os bolos sozinha e que teve um AVC no dia da confecção do bolo, o contrato se resolve, ou
seja, a única coisa que ela terá que fazer é devolver o dinheiro que a outra parte já lhe havia
pago.

Em outras palavras, para ter direito a receber o elencado no Art. 389, CC, será
necessário que tenha ocorrido o inadimplemento por culpa do devedor.

20/08/2014

Vimos até o momento que nas hipóteses de inadimplemento absoluto, relativo ou


absoluto parcial, quando houver culpa do devedor, será possível exigir dele o ressarcimento
das perdas e danos, juros, correção monetária e honorários advocatícios, com base legal no
Art. 389, CC, que normatiza a regra da Responsabilidade Civil Contratual.

Dessa forma, se o indivíduo não cumpre um mandamento do Código Civil ele será
civilmente penalizado. Uma das vertentes do Código Civil são os contratos e uma vez que eles
não são cumpridos teremos a Responsabilidade Civil Contratual.

Mas o que significa ser civilmente responsabilizado? Significa que o indivíduo será
condenado a pagar perdas e danos (ou seja, todo prejuízo ocasionado), juros, correção
monetária e honorários advocatícios, quando o descumprimento tenha sido culposo (culpa
leve até dolo). Assim o disposto no Art. 389, CC, funciona como uma tradução do que significa
possuir Responsabilidade Civil Contratual.

Como vimos não importa se o inadimplemento é absoluto ou relativo, pois em ambos


caberá a Responsabilidade Civil Contratual, a diferença é que provavelmente no
inadimplemento absoluto as perdas e danos serão maiores que no inadimplemento relativo,
pois este último está geralmente relacionado a um atraso no cumprimento da obrigação
enquanto que o primeiro está relacionado com o descumprimento total da obrigação, seja por
impossibilidade ou por inutilidade ao credor.

 Cláusula que Eximi o Devedor de Responsabilidade Civil mesmo com Culpa

No contrato pode existir uma cláusula normatizando que se uma das partes não
cumprir o contrato, mesmo que por culpa dela, não estará sujeita a Responsabilidade Civil

Kleber Luciano Ancioto Página 25


DIREITO CIVIL IV

Contratual e ela para o Direito Civil, a princípio, é considerada válida, já no Direito do


Consumidor essa cláusula se existir é considerada inválida.

 Caso Fortuito e Força Maior

Imaginemos uma obrigação de dar coisa certa, modalidade restituir, se o individuo


perder sem culpa o objeto, haverá o inadimplemento absoluto, no entanto, não haverá
responsabilidade civil, ou seja, o prejuízo ficará com o proprietário visto que a coisa perece
para o dono. Assim a regra é que a culpa anda de mãos dadas com Perdas e Danos
(Responsabilidade Civil). Essa regra encontra-se normatizada no Art. 393, CC.

Art. 393, CC – O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de


caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles
responsabilizado. Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior
verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou
impedir.

- fato necessário – é aquele da qual o indivíduo não poderia se opor.

No código anterior, se discutia muito, o que seria caso fortuito e força maior
prevalecendo que força maior seria atos humanos (greve, tumulto, etc.) enquanto que caso
fortuito seriam obras da natureza (furacão, enchentes, etc.), atualmente o legislador não
diferencia um do outro.

O importante é que ocorrendo caso fortuito ou força maior, elas são excludentes de
Responsabilização Civil, devendo a quem as alegar, o ônus da prova, ou seja, o devedor devera
comprovar a existência do caso fortuito ou força maior.

 Cláusula que Incumbe ao Devedor Responsabilidade Civil mesmo nos Casos Fortuitos
ou de Força Maior

Da mesma forma que é considerada válida uma cláusula que exclui a responsabilidade
do devedor, mesmo que o contrato seja descumprido por culpa dele, o Art. 393, CC, regula a
possibilidade do devedor, ser responsabilizado, mesmo que o contrato seja descumprido por
motivo de força maior ou caso fortuito.

Justamente por isso um advogado quando vai analisar um contrato, dependendo do


lado que estiver, precisa verificar se existe uma cláusula como está, incluindo a
responsabilidade civil ao devedor nos casos de descumprimento mesmo que devido a caso
fortuito e força maior ou mesmo se existe uma cláusula que o exime de responsabilidade
mesmo que o descumprimento ocorra por culpa dele.

Exercício

Kleber Luciano Ancioto Página 26


DIREITO CIVIL IV

 Maria contrata uma empresa para decorar a igreja no dia de seu casamento. Dias
antes do evento, depois do pagamento de duas parcelas do valor contratado, ocorre a
morte do noivo. Maria comunica a desistência do contrato, mas a empresa exige que
ela pague uma multa pela desistência e se recusa a devolver as parcelas pagas. A
conduta é correta?
o A parte de Maria na obrigação é pagar o dinheiro e o fato do seu noivo ter
morrido não a impediria de pagar as parcelas, no entanto, o que devemos
levar em consideração nesta situação é a causa do contrato, que era decorar a
igreja para o seu casamento. Dessa forma, por se tratar de caso fortuito, a
empresa não poderá cobrar nenhuma multa pela desistência do contrato e
ainda terá que devolver as duas parcelas que já estavam pagas.
 Neste caso, por se tratar de um Direito do Consumidor, não seria
considera válida, caso existisse uma cláusula incluindo a
responsabilidade ao consumidor em situações que envolvam caso
fortuito ou força maior.
 Agora se o noivo morresse no dia do casamento e a empresa já tivesse
decorado a igreja, ou seja, o serviço já estando prestado, Maria teria
que pegar por ele, pois prevalece que as partes precisam voltar a
situação original e assim a empresa não pode ficar no prejuízo. O
mesmo raciocínio cabe se a empresa já tivesse comprado o material a
ser utilizado, pois estaríamos diante de um serviço potencialmente
prestado e da mesma forma as partes precisam voltar a condição
original, tendo Maria que pagar pelo serviço para que a empresa não
fique no prejuízo.

 “X” contrata “Y” para efetuar o transporte de uma carga com um caminhão, pagando-
lhe R$ 10.000,00 pelo frete. Durante o transporte, “Y” é assaltado a mão armada,
perdendo o caminhão e a carga. Nesta situação, como ficará a obrigação?
o Novamente por se tratar de um motivo de força maior, resolve o contrato, ou
seja, o caminhoneiro não precisará pagar pela carga (a coisa perece para o
dono), tendo apenas que devolver o que lhe foi pago pelo transporte.

 Obrigação Negativa

Art. 390 CC – Nas obrigações negativas o devedor é havido por


inadimplente desde o dia em que executou o ato de que se devia
abster.

A obrigação negativa é na verdade a obrigação de não fazer e o legislador através


desse artigo traz um tratamento muito peculiar para este tipo de obrigação, pois o artigo
presume que sempre que alguém descumprir uma obrigação de não fazer ocorre o
inadimplemento absoluto. Mas existem doutrinadores que discordam dessa presunção,
alegando que é possível o inadimplemento relativo neste tipo de obrigação, como segue
abaixo:

Kleber Luciano Ancioto Página 27


DIREITO CIVIL IV

Imaginemos que um indivíduo que ao comprar uma loja de confecções inclua no


contrato uma cláusula de não reestabelecimento, ou seja, durante um período aquele que
vendeu a loja e já conhece a clientela não poderá abrir outra loja de confecções. Agora
suponhamos que ele descumpra o contrato (obrigação de não fazer) e abra uma loja de
confecções, a princípio nos parece certa a posição do legislador e, dessa forma, estaríamos
diante de um inadimplemento absoluto, no entanto, se ele fechar a loja ou parar de vender
confecções ainda será útil para aquele que comprou a outra loja, sendo assim, estaríamos
diante de um inadimplemento relativo.

 Responsabilidade Civil Patrimonial

Art. 391 CC – Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos


os bens do devedor.

A responsabilidade civil, portanto, limita-se ao patrimônio que o indivíduo possui e


mais, limita-se somente aos bens penhoráveis.

Por isso é muito comum quando alguém que sabe que vai ser processado doar seu
patrimônio para familiares, caracterizando fraude contra credores e, nestas situações, o Juiz
determina a ineficácia destes negócios para que o credor possa satisfazer seu crédito.

Recentemente houve a divulgação que os executivos da Petrobras, envolvidos no caso


da compra da Refinaria de Pasadena, estão se desvinculando de seu patrimônio, justamente
para, no caso deles serem processados, não terem como arcar com a Responsabilidade Civil de
seus atos, como disciplina o Art. 391, CC.

 Clausula Resolutiva

A cláusula resolutiva prevê que se uma das partes não cumprir com o que foi
compactuado no contrato, a outra poderá pedir sua resolução, ou seja, que o contrato se
extinga.

Essa cláusula, mesmo que não esteja prevista de forma expressa no contrato, ela é
considera implícita em todo o contrato bilateral. Dessa forma, se uma das partes não cumpre
com sua obrigação, a outra parte pode pedir a resolução do contrato, ou seja, sua extinção
(Inadimplemento Absoluto), ou ainda exigir judicialmente que a outra parte cumpra com sua
obrigação (Inadimplemento Relativo), ficando muito próximo da hipótese de Inadimplemento
Absoluto Parcial, visto que o credor possuirá o direito de escolher.

Exercício

 João paga R$ 30.000,00 a Pedro para que este construa uma casa. Pedro não realiza o
serviço e João ingressa com uma ação de cobrança.

Kleber Luciano Ancioto Página 28


DIREITO CIVIL IV

o O que João poderá cobrar de Pedro?


 João poderá alegar inadimplemento absoluto, baseado na cláusula
resolutiva implícita e requerer tudo que cabe na Responsabilidade Civil
Contratual, como: perdas e danos (incluído o que foi pago), juros,
correção monetária e honorários advocatícios.

o Se durante o tramite da ação Pedro doa o seu veículo a um sobrinho, João


poderá pedir a penhora do carro?
 Se essa doação fosse considerada válida o credor não receberia nada,
por isso o credor poderá pedir sim a penhora do carro, assim que ficar
demonstrado fraude a execução.

 Contrato Benéfico

No Direito Civil diferentemente do Direito Penal, não importa o grau de culpa do


indivíduo, pois o que é levado em consideração é o tamanho do prejuízo ocasionado, ou seja, o
tamanho da responsabilidade civil vai ser proporcional ao tamanho do prejuízo causado.

Em resumo a medida da responsabilidade civil não tem a ver com o grau de culpa, mas
sim com o tamanho do prejuízo causado, enquanto que no Direito Penal a responsabilização
está diretamente ligada ao grau de culpa.

O Contrato Benéfico é aquele em que uma das partes só possui benefício e a outra só
possui obrigações, o exemplo típico Contrato de Comodato, onde um indivíduo empresta uma
residência de sua propriedade, que está vazia, para outro utilizar não existindo nenhuma
contraprestação. Dessa forma o proprietário só possui obrigação e não ganha nada e o
comodatário só possui direito e não paga nada.

O Art. 392, CC, trata do inadimplemento contratual no caso dos Contratos Benéficos,
trazendo uma regra específica para este tipo de contrato.

Art. 392, CC – Nos contratos benéficos, responde por simples culpa o


contratante, a quem o contrato aproveite, e por dolo aquele a quem
não favoreça. Nos contratos onerosos, responde cada uma das partes
por culpa, salvo as exceções previstas em lei.

No exemplo que utilizamos o comodatário é “a quem o contrato aproveite”, ao passo


que o proprietário da casa é “a quem não favoreça”.

Logo, se o comodatário, que possui uma única obrigação que é restituir o imóvel ao
término do contrato, por sua culpa ou dolo, fizer com que o imóvel se deteriore ou pereça, ele
será responsabilizado civilmente. Agora no caso de ser o inverso e o proprietário causar o
perecimento do imóvel, se ele tiver agido com dolo, responderá pelos prejuízos causados a
outra parte, agora se agiu com culpa, ele não responderá civilmente.

Kleber Luciano Ancioto Página 29


DIREITO CIVIL IV

Dessa forma, o Contrato Benéfico acaba se tornando um contrato sui generes, visto
que ele traz um tratamento diferenciado para aquele que não se aproveita do contrato,
levando em consideração que devemos analisar se o descumprimento se deu por culpa ou por
dolo para avaliar a possibilidade ou não de responsabiliza-lo civilmente.

Exercício

 “X” da uma carona gratuita para “Y” até uma cidade. No trajeto “X” dorme ao volante
e ocasiona um acidente, acarretando na amputação do braço de “Y”. Neste caso é
viável que “Y” ingresse com uma ação de indenização contra “X”? E se “X” dormiu
porque ingeriu bebida alcóolica? (Pensar no problema como responsabilidade civil
contratual)
o Estamos diante de um Contrato Benéfico, pois o indivíduo que transporta só
possui obrigação e o carona só possui benefício. Dessa forma, como o sujeito
que está transportando é o indivíduo a quem o contrato não favorece, ele só
responderá civilmente caso tenha agido com dolo, o que não vem a ser o caso
na primeira situação. Vide Súmula 145, STJ.
o Agora na hipótese do indivíduo ter bebido, é discutível, mas aparentemente
seria no mínimo um dolo eventual, pois ele assume o risco de causar um
acidente e dessa forma ele responderia também civilmente.

Súmula 145, STJ – No transporte desinteressado, de simples cortesia,


o transportador só será civilmente responsável por danos causados ao
transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave.

26/08/2014

Tanto no inadimplemento absoluto como no relativo o credor pode pedir o


ressarcimento por perdas e danos, mas geralmente no primeiro caso o montante será maior,
já que houve o descumprimento total da obrigação, sem a possibilidade de cumpri-la
futuramente.

MORA

Mora possui uma relação direta com inadimplemento relativo, podemos inclusive
dizer que na pratica eles são sinônimos.

Na maioria das vezes a mora está relacionada ao atraso, mas na verdade ela é mais
abrangente, pois corresponde ao não cumprimento da obrigação da forma convencionada.

Kleber Luciano Ancioto Página 30


DIREITO CIVIL IV

 Espécies

Art. 394 CC – Considera-se em mora o devedor que não efetuar o


pagamento e o credor que não quiser recebe-lo no tempo, lugar e
forma que a lei ou a convenção estabelecer.

o Mora do Devedor

É denominada Mora Solvendi. O devedor que não cumprir a obrigação (que ainda é
passível de ser cumprida) estará em mora.

o Mora do Credor

É denominada Mora Ascipiendi. 90% dos casos na prática envolvem mora do devedor,
mas existe também a possibilidade do credor estar em mora.

Por exemplo, o indivíduo que faz uma assinatura da Sky e fica convencionado que todo
dia 10, ela (Sky) enviará o boleto da mensalidade, no entanto, o serviço está sendo prestado,
mas a operadora não envia o boleto para o pagamento. Nesta situação o devedor estará em
mora, no entanto, não por sua culpa, visto que ele não tem como pagar sem o boleto, que
deveria ter sido enviado pelo credor. Neste caso o devedor ainda terá que pagar as
mensalidades atrasadas, no entanto, não terá que arcar com encargos moratórios, visto que a
mora é do credor.

Dessa forma, às vezes o credor não possui uma prestação a ser cumprida, mas possui
ônus a serem cumpridos de forma a possibilitar o adimplemento da obrigação.

Imaginemos outra situação, um determinado devedor precisa entregar um engradado


de galinhas na propriedade do Sr. Zé, em um determinado dia, o ônus do credor é estar no
local combinado para receber, pois caso contrário, o devedor não terá como cumprir com a
obrigação.

 Formas

É importante sabermos a partir de que momento o indivíduo está em mora.

o Mora “ex re”

Por exemplo, se o indivíduo não paga o boleto da faculdade até o dia do vencimento,
ele estará em mora, por culpa dele e, sendo assim, o credor terá direito de cobrar as perdas e
danos (valor da mensalidade acrescido de juros, multa e correção monetária).

Para sabermos o quanto será cobrado de juros é necessário sabermos a partir de que
momento o sujeito é considerado em mora, pois eles são calculados diariamente.

Kleber Luciano Ancioto Página 31


DIREITO CIVIL IV

No caso do boleto da mensalidade, o devedor estará em mora a partir do dia seguinte


a data limite estipulada em contrato para que ele cumpra a obrigação.

Desta forma, este tipo de mora que não necessita da comunicação do credor
informando ao devedor que ele está em mora, é denominada Mora “Ex Re”, prevista no Art.
397, CC.

Art. 397 CC – O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no


seu termo, constitui de pleno direito em mora o devedor.

Para isso, como prevê o artigo, é necessário que a obrigação seja positiva, líquida e
possua um termo.

Positiva, porque no caso da obrigação negativa, uma vez descumprida, o legislador


trata-a como inadimplemento absoluto, portanto, não se fala em mora em obrigação negativa.

Líquida, pois há a necessidade de se conhecer a quantidade ou o valor para que o


sujeito incorra em mora. Dessa forma, sempre que houver a necessidade de se liquidar o valor,
não podemos falar em mora “ex re”.

Termo, ou seja, uma data limite para que o devedor cumpra a obrigação.

o Mora “ex persona”

Imaginemos uma obrigação de dar coisa certa, modalidade restituir, o indivíduo só


incorrerá em mora, a partir do momento que o proprietário pedir o objeto de volta.

Dessa forma a dívida é positiva e líquida, mas não possui um termo, pois há a
necessidade de uma interpelação do credor. Essa mora é denominada Mora “ex persona”,
prevista no Parágrafo único, do Art. 397, CC.

Art. 397, Parágrafo único, CC – Não havendo termo, a mora se


constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial.

A interpelação pode ser através de carta, documento registrado em cartório, ação


judicial, ou qualquer outra forma, passível de ser comprovada.

No que tange os efeitos da citação, no caso de uma ação judicial, uma de suas
consequências é constituir o citado em mora.

 Responsabilidade Civil Contratual vs Extracontratual

A Responsabilidade Civil pode ser definida como a obrigação de ressarcir alguém pelos
prejuízos causados. Sendo necessário sabermos se estes prejuízos advém de uma relação
contratual ou não. Por exemplo, ao atropelar alguém haverá uma responsabilidade civil

Kleber Luciano Ancioto Página 32


DIREITO CIVIL IV

extracontratual, visto que será necessário reparar os danos causados, no entanto, não há um
contrato vinculando as partes, mas sim o ato ilícito.

Se, por outro lado, existir um contrato e ele for descumprido, causando prejuízo a uma
das partes, também haverá a necessidade de ressarcir pelos prejuízos, mas neste caso
estaremos diante de uma responsabilidade civil contratual.

No caso da responsabilidade civil extracontratual, o legislador entende que ninguém


pode viver em sociedade e causar por sua culpa prejuízo a outrem, dessa forma, o indivíduo
que comete um ilícito civil, encontra-se em mora desde o dia do ato e assim permanecerá até
pagar o prejuízo causado, mesmo que a dívida não seja líquida em um primeiro momento.

Imaginemos que “A” atropele um motoqueiro e cause um prejuízo de R$ 1.000,00, só


que “A” resolve paga-lo apenas daqui a 3 meses, ele terá que pagar também todo prejuízo pela
demora no ressarcimento, ou seja, terá que pagar juros moratórios, por força do Art. 398, CC.
E mesmo que não seja possível liquidar a dívida no momento do ato ilícito, o devedor incorre
em mora e assim que houver a liquidação terá que pagar os encargos moratórios desde o dia
que o ato foi praticado.

Art. 398 CC – Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se


o devedor em mora, desde que o praticou.

Resumindo, é muito importante sabermos qual é o termo inicial da mora, sendo que
se estivermos diante de uma obrigação contratual, positiva, líquida que possui um termo,
incorre em mora a partir do dia seguinte ao termo; no caso de não possuir termo, incorre em
mora desde o dia em que for interpelado pelo devedor; e no caso do ato ilícito, o indivíduo
estará em mora desde o dia da prática do ato, mesmo que só seja possível liquidar o valor
posteriormente, tendo que pagar juros moratórios por todo o período.

Exercício

 Sabendo-se que aquele que adquire um apartamento fica responsável pelo pagamento
do condomínio que estiver em atraso, é possível que o adquirente se recuse a pagar os
encargos da mora quando cobrado, alegando que não foi notificado para tanto? Se o
adquirente, ao reformar o apartamento, fura o encanamento causando prejuízo ao
vizinho, será caracterizada alguma responsabilidade civil? Haverá mora? Desde
quando?

o No primeiro caso se a pessoa é dona do apartamento e ela não paga


condomínio, temos um inadimplemento relativo, constituindo-o em mora a
partir do dia seguinte ao vencimento (Mora “ex re”), e neste caso o
adquirente terá que pagar as parcelas atrasadas e não poderá se recusar a
pagar os encargos moratórios, pois ela já existe desde o dia seguinte ao
vencimento de cada prestação. Isso ocorre porque quando alguém assume o
débito de outrem, não há a necessidade de constituir o novo devedor em

Kleber Luciano Ancioto Página 33


DIREITO CIVIL IV

mora novamente, ou seja, se o débito já estava em mora, ele é transmitido


com ela.

o No segundo caso, existe a responsabilidade civil extracontratual e haverá mora


desde o cometimento do ato ilícito, mesmo não sabendo o valor da dívida
(ilíquida), o sujeito já estará sujeito aos encargos moratórios.

 João empresta um trator ao vizinho Joaquim. Se nada foi convencionado, quando


Joaquim estará em mora?

o Quando João interpelar o vizinho Joaquim pedindo o trator de volta, ou seja, é


necessário que João constitua Joaquim em mora (Mora ex persona).

 Efeito

Art. 395, CC – Responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der
causa, mais juros, atualização dos valores monetários segundo índices
oficiais regularmente estabelecidos e honorários de advogado.

Art. 389 CC – Não cumprida a obrigação, responde o devedor por


perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices
oficiais regularmente estabelecidos e honorários de advogado.

Fazendo uma comparação do Caput do Art. 395, CC, que trata do inadimplemento
relativo (mora) com o Art. 389, CC, que disciplina o inadimplemento absoluto, percebemos
que eles são praticamente iguais, pois ambos preveem a possibilidade de responsabilidade civil
contratual, o que significa que o credor poderá cobrar o prejuízo sofrido, acrescido de juros,
correção monetária e honorários advocatícios.

O que diferenciará um do outro será o tamanho das perdas e danos, visto que as
consequências, como verificamos nos artigos, são as mesmas.

Dessa forma, podemos concluir que o efeito da mora, é o pagamento de todo o


prejuízo causado que é traduzido por tudo que está elencado no Art. 395, Caput, CC.

o Termo Final da Mora

O indivíduo deixará de estar em mora, quando pagar pelo prejuízo causado


(adimplemento), ou, como disciplina o Parágrafo único do Art. 395, CC, se a prestação
deixar de ser útil ao credor devido a mora, e nesta situação deixamos de ter um
inadimplemento relativo e passamos a ter um inadimplemento absoluto.

Kleber Luciano Ancioto Página 34


DIREITO CIVIL IV

Art. 395, Parágrafo único, CC - Se a prestação, devido à mora, se


tornar inútil ao credor, este poderá enjeitá-la, e exigir a satisfação das
perdas e danos.

Ou seja, o indivíduo só pode ficar em mora até o momento em que o cumprimento da


obrigação for possível e útil ao credor, sendo que, uma vez não sendo possível ou útil ao
credor, teremos um inadimplemento absoluto.

Exercício

 João contrata a empresa “X” para que realize a decoração do salão de festas, sendo
que o serviço deve estar pronto 5 dias antes do casamento que será realizado ali.

o O que João poderá pedir se o serviço termina apenas na véspera do


casamento?
 Se a empresa deixar o serviço pronto, somente na véspera do
casamento, houve um inadimplemento, podendo ser relativo no caso
de ainda ser útil ao credor ou absoluto se não mais o for.
 Se ainda for útil, temos um inadimplemento relativo característico
(mora), havendo, portanto, a possibilidade de responsabilidade civil
contratual, e o credor poderá pedir o elencado no Art. 395, CC, tendo
que provar para o Juiz o prejuízo que ele teve em relação ao atraso,
podendo até caracterizar dano moral, juros, correção monetária e
honorários advocatícios.
 No caso, de não ser mais útil, o inadimplemento torna-se absoluto, e
ai João poderá exigir as mesmas coisas, segundo o Art. 389, CC, no
entanto, agora as perdas e danos certamente serão maiores, pois
imaginemos que o credor tenha que contratar outro salão e outra
empresa de decoração, o prejuízo aumenta consideravelmente. Isso é
possível, devido o Parágrafo único do Art. 395, CC, que estipula que
o credor poderá enjeitar a mora, transformando o que era
inadimplemento relativo (mora) em inadimplemento absoluto.

o E se fica apenas parcialmente pronto nesta data?


 Se ficar parcialmente pronto até a data convencionada, da mesma
forma temos um inadimplemento, podendo ser relativo ou absoluto.
Dessa forma, vai depender se aquela decoração parcial foi útil ou não
para o credor. Sendo útil, há o inadimplemento relativo, e incorremos
no Art. 395, CC, agora se a decoração não serviu, há inadimplemento
absoluto e incorre no Art. 389, CC.

o E se não ficar pronto, mas a empresa se propor a realizar uma decoração para
um evento futuro?

Kleber Luciano Ancioto Página 35


DIREITO CIVIL IV

 No caso do credor não aceitar, houve o inadimplemento absoluto e


terá que pagar pelas perdas e danos de acordo com o Art. 389, CC,
agora se o credor aceitar ocorre a Novação da dívida que é
considerada pagamento e não haverá mais o direito de pedir perdas e
danos.

o E se não ficar pronto, porque o salão ficou alagado em razão das chuvas?
 Na hipótese de não ficar pronto porque o salão ficou alagado, houve
um inadimplemento absoluto, pois a empresa não realizou o
convencionado, no entanto, para existir responsabilidade civil há
necessidade que exista culpa. Como a empresa não deu causa, não há
como pedir nada, simplesmente resolve o contrato.

27/08/2014

A situação do devedor que está em mora pode evoluir para o adimplemento, ou seja,
o devedor cumprir a obrigação e pagar os encargos moratórios, ou se a prestação não for mais
possível ou útil ao credor, ela evolui para o inadimplemento absoluto.

Já vimos que é muito importante saber a partir de que momento o devedor está em
mora, porque é a partir desse momento que ele sofre os efeitos da mora (pagamento de
perdas e danos, correção monetária, juros e honorários advocatícios).

Para isso, existem três formas: Mora “ex re” (obrigação positiva, líquida e com termo,
onde o devedor encontrar-se-á em mora no dia seguinte ao termo); Mora “ex persona”
(obrigação positiva, líquida, mas sem termo e o devedor precisa ser constituído em mora, ou
seja, há a necessidade de uma atitude do credor); e o Ato Ilícito que na verdade não se refere
a nossa matéria, pois ele trata de responsabilidade civil extracontratual e nós estamos
estudamos responsabilidade civil contratual, mas como estamos vendo termos genéricos da
mora, no caso do ato ilícito o indivíduo estará em mora a partir da prática do ato.

Veremos a seguir as consequências para o credor, quando a mora é dele.

 Consequências da Mora do Credor

O credor embora não tenha nenhuma obrigação a ser cumprida, possui alguns deveres
para que o devedor possa adimplir a obrigação.

Por exemplo, imaginemos que fique acordado que o pagamento de determinadas


parcelas mensais se dará todo dia 10, quando o credor passará no domicílio do devedor para
receber. Na hipótese de chegar o dia combinado e o credor não aparecer, mesmo o devedor
estando com o dinheiro para paga-lo, não há o adimplemento da obrigação, no entanto, não
por mora do devedor, mas sim mora do credor.

Kleber Luciano Ancioto Página 36


DIREITO CIVIL IV

Uma vez existindo mora do credor, as consequências estão normatizadas no Art. 400,
CC.

Art. 400 CC – A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à


responsabilidade pela conservação da coisa, obriga o credor a ressarcir
as despesas empregadas em conservá-la, e sujeita-o a recebe-la pela
estimação mais favorável ao devedor, se o seu valor oscilar entre o dia
estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação.

Dessa forma, são três as consequências para o credor, que incidem sobre a
Responsabilidade de Conservação da Coisa; Despesas de Conservação; e Prejuízo se Existir
Oscilação de Preço.

 Responsabilidade de Conservação da Coisa

O credor em mora fica com o prejuízo, caso ocorra o perecimento da coisa, mesmo
que por culpa do devedor.

Com relação a este tópico, nós sabemos que em regra a coisa perece para o dono e
antes de ocorrer a tradição, o dono é o devedor, no entanto, neste caso, há uma exceção, pois
havendo mora do credor, só haverá uma possibilidade em que se a coisa perecer o prejuízo
será do devedor, que é o caso dele agir com dolo. Vejamos o exemplo a seguir:

Imaginemos que “A” venda um cachorro de raça para “B”, que paga e fica de busca-lo
no dia seguinte, no entanto, ele não aparece. Nesta hipótese, devido a mora do credor, se o
cachorro perecer sem culpa do devedor, ou mesmo por sua culpa, o prejuízo será do credor.

Dessa forma, o devedor apenas não pode agir com dolo, como soltar o cachorro na
rua, visto que ele é obrigado a zelar pela coisa. Se isto ocorrer mesmo que o credor esteja em
mora ele poderá exigir o ressarcimento por todos os seus prejuízos. Caso o devedor queira se
livrar da responsabilidade por zelar pela coisa poderá consigna-la em pagamento.

Em resumo, por força do Art. 400, CC, se a coisa perecer com ou sem culpa do
devedor, desde que não seja caracterizado dolo, o prejuízo será do credor. Essa exceção é
prevista, porque a coisa ainda se encontrava com o devedor por causa da mora do credor.

 Despesas de Conservação

O credor em mora é responsável pelo ressarcimento de toda despesa que o devedor


teve para conservar a coisa durante sua mora.

Ou seja, por força do Art. 400, CC, o credor é obrigado a ressarcir o devedor pelas
despesas de conservação da coisa. Isso se justifica, pois uma vez o devedor tendo a obrigação
de zelar pela coisa, se ele tiver despesas não seria justo que ele (devedor) tivesse que arcar
com elas.

Kleber Luciano Ancioto Página 37


DIREITO CIVIL IV

Esta regra vale também para a hipótese de consignação em pagamento, pois se o


depositário tiver despesas com a conservação, será o credor que estava em mora que terá que
arcar com elas.

 Prejuízo caso Ocorra Oscilação no Preço

Havendo oscilação de preço no período da mora, a cotação utilizada será a que


melhor aproveitar o devedor.

Para facilitar o entendimento, vamos imaginar um criador de gado, onde um investidor


o procura e firmam um contrato onde ele (investidor) paga a vista R$ 50.000,00 para que o
criador engorde o gado e fica acordado que após 6 meses ele retornará a propriedade e eles
converterão o valor pago previamente pela arroba de boi do dia e este investidor levará tantas
quantas cabeças de gado for suficiente comprar, dessa forma estamos diante de um contrato
de risco.

No entanto, chegando o dia combinado o credor não aparece para pegar as cabeças de
gado, retornando a propriedade apenas 30 dias depois. Neste caso, será necessário avaliar a
cotação da arroba do boi durante todo o período em que o credor esteve em mora e será
utilizado a de maior valor, visto que quanto mais caro a arroba, menos cabeças de gado ele
(credor) terá condições de levar.

Ou seja, havendo valorização ou desvalorização, quem sairá ganhando será sempre o


devedor, pois utilizaremos a cotação que for melhor para ele. Isso se justifica, por não ser
plausível que o credor viesse a ganhar por conta de sua mora.

Exercício

 Uma usina contrata a aquisição de 700 toneladas de cana de açúcar de um produtor ao


preço de 100 litros de álcool (preço de mercado na época do pagamento) a tonelada,
ficando a usina responsável pela retirada da cana. No dia combinado, o preço do litro
do álcool é R$ 1,00, mas a usina não comparece para retirar a cana. Depois de 30 dias,
quando o preço do litro era R$ 1,20, ocorre um incêndio no canavial, sem culpa do
produtor, queimando toda a produção. Neste caso como ficará a obrigação.
o O credor em mora se sujeita a responsabilidade pela conservação da coisa,
dessa forma a usina ficará com o prejuízo, visto que, não terá como retirar a
cana e ainda terá: 1° pagar ao produtor pelas despesas de conservação, visto
que ele (produtor) teve que preservar o canavial até o momento que ocorreu
o incêndio; 2° a usina ainda terá que pagar R$ 84.000,00, e não mais os R$
70.000,00, pois o credor em mora também responde pelas oscilações de
preços, de modo a pagar aquela que é mais favorável ao devedor.

Kleber Luciano Ancioto Página 38


DIREITO CIVIL IV

 Purgação da Mora

Se um devedor esta em mora, para voltar a ser adimplente há a necessidade de


cumprir a obrigação e pagar os encargos moratórios. Esta transformação de mora para
adimplente é denominada Purgação da Mora, e está regulada no Art. 401, I, CC.

Art. 401 CC – Purga-se a mora: I – por parte do devedor, oferecendo


este a prestação mais a importância dos prejuízos decorrentes do dia
da oferta; [...]

Vimos também que existe mora do credor, dessa forma para que o credor purgue-a, a
normatização se encontra no Art. 401, II, CC.

Art. 401 CC – Purga-se a mora: [...] II – por parte do credor,


oferecendo-se este a receber o pagamento e sujeitando-se aos efeitos
da mora até a mesma data.

Se notarmos há uma diferença entre a purgação da mora do devedor para a do credor,


pois no caso do primeiro ele terá que ressarcir todos os prejuízos que por ventura o credor
teve, ao passo que o credor não terá que restituir todos os prejuízos que o devedor teve,
limitando-se ao estipulado no Art. 400, CC.

Exercício

Para resolvermos a questão abaixo, é importante sabermos que a Lei do Inquilinato


normatiza que uma vez o inquilino estando em mora, o proprietário pode pedir
concomitantemente o seu despejo e o pagamento das prestações atrasadas. Dessa forma,
para que o inquilino se livre do despejo, é necessário que ele purgue a mora.

 O inquilino deve dois meses de aluguel, além dos valores do IPTU do imóvel. O locador
ingressa com uma ação de cobrança cumulada com despejo.

o Se o inquilino não deposita nada e alega apenas que o valor do IPTU é


indevido, evitará o despejo?
 Se o inquilino não deposita nada alegando que o IPTU é indevido ele
não evitará o despejo, pois uma vez alegando que o IPTU é indevido,
implicitamente ele admite que o aluguel é devido, dessa forma ele
deve fazer a purgação da mora, pagando os alugueres atrasados e os
encargos moratórios para evitar o despejo.

o E se depositar apenas o valor do aluguel, mas ficar comprovado que o IPTU era
devido?
 Se ele pagar o aluguel com todos os encargos, mas na discussão do
processo ficar comprovado que o IPTU também é devido, não houve
purgação da mora, dessa forma ele poderá ser despejado.

Kleber Luciano Ancioto Página 39


DIREITO CIVIL IV

o E se não fosse devido?


 Se ficar comprovado que o IPTU não era devido, ao pagar os alugueres
mais os encargos moratórios, ele purgou a mora, e assim não será
despejado.

 Consequências da Mora do Devedor

Na hipótese da coisa perecer durante a mora do devedor, mesmo que não tenha sido
por sua culpa, o legislador entende que a mora é culpa. Dessa forma, mesmo que o
perecimento não tenha ocorrido por culpa dele, por ele estar em mora, terá que pagar todos
os encargos moratórios (perdas e danos, correção monetária, juros e honorários advocatícios)
ao credor. Esta regra se encontra no Art. 399, CC.

Art. 399 CC – O devedor em mora responde pela impossibilidade da


prestação, embora essa impossibilidade resulte de caso fortuito ou de
força maior, se estes ocorrerem durante o atraso; salvo se provar
isenção de culpa, ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação
fosse oportunamente desempenhada.

O próprio artigo, no entanto, traz uma “válvula de escape” para esta situação, quando
normatiza: “salvo se provar isenção de culpa, ou que o dano sobreviria ainda que a obrigação
tivesse sido oportunamente cumprida”.

A primeira ressalva – se provar isenção de culpa – é criticada pela doutrina, pois se a


coisa se perdeu por caso fortuito ou força maior, não haveria como provar isenção de culpa,
no entanto, a interpretação que se dá a essa isenção de culpa é no que diz respeito a mora.

Imaginemos que o devedor que deveria entregar um cachorro de raça, ficou doente e
estava internado na UTI no dia da entrega, ele estará em mora, mas sem culpa. Nestas
situações, caso o cachorro viesse a morrer, neste período de mora, antes da tradição, o
contrato simplesmente resolveria.

A outra hipótese – provar [...] que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse
oportunamente desempenhada – é mais difícil na pratica, mas para termos uma ideia vejamos
o exemplo:

“A” fica de devolver um imóvel no dia 10, mas apesar do credor estar disponível para
recebe-lo no dia combinado, “A” não o entrega. Acontece, que no dia 11 vem um furacão e
destrói o imóvel. Em princípio “A” teria que pagar pelo prejuízo, visto que ele estava em mora,
no entanto, ele poderá alegar que independentemente de ter entregue ou não, a
consequência seria mesma, ou seja, o imóvel pereceria e conseguindo provar isso o devedor
não terá que pagar perdas e danos.

Kleber Luciano Ancioto Página 40


DIREITO CIVIL IV

 Devedor só fica em Mora caso exista Culpa

Art. 396 CC – Não havendo fato ou omissão imputável ao devedor,


não incorre este em mora.

Portanto, o devedor somente estará em mora se ela ocorre por culpa dele. Já
exemplificamos a ausência de responsabilização, no caso do devedor estar internado na UTI no
dia de cumprir a obrigação.

Não existe, no entanto, nenhum dispositivo idêntico que regula acerca da necessidade
de culpa do credor, caso ele se encontre em mora, e neste caso há divergências doutrinárias
sobre se o credor responde por sua mora, mesmo que não seja sua culpa.

Há quem defenda que o credor fica com o prejuízo, visto que ele não possui um
dispositivo que o isenta da mora se ele não tiver culpa, ou seja, a mora do credor independeria
de culpa. E há quem entenda que por analogia o credor também só responderia por sua mora
quando tivesse culpa, e para resolver esta situação provavelmente o devedor ficaria com o
prejuízo, pois valeria a regra geral, de que a coisa perece para o dono.

02/09/2014

O indivíduo pode responder pelo prejuízo da mora sem ter culpa, quando assume
expressamente a responsabilidade pela mora mesmo que não tenha culpa.

 Mora Simultânea

Imagine que um indivíduo venda cabeças de gado e fica acordado entregar em


determinado local e em determinado dia, mas nem o devedor e nem o credor aparecem.
Normalmente se o devedor não vai por culpa dele, caracteriza-se mora de devedor, mas
também aprendemos que o credor, mesmo que não tenha obrigação a ser cumprida, as vezes
possui um dever para possibilitar que a obrigação seja cumprida, o que ocorre nesta situação,
portanto, temos também a mora do credor. A isto denominamos mora simultânea.

Prevalece na doutrina que ocorrendo a mora simultânea, a mora de um anula a mora


do outro, ou seja, ninguém responderá por nada.

 Mora Consecutiva ou Sucessiva

Outra situação que pode acontecer é deles (credor e devedor) combinarem a entrega
para o dia 10, chegando o dia o credor fica aguardando e nada do devedor aparecer. O credor
permanece aguardando a entrega quando no dia 13 o devedor aparece, no entanto, o credor
diz só aceitar receber no dia 16.

Kleber Luciano Ancioto Página 41


DIREITO CIVIL IV

Nesta situação no período do dia 11 ao dia 13, há mora do devedor, mas a partir do
momento que o devedor quer purgar a mora, mas não consegue porque o credor não quer
receber, sendo sua recusa injustificada, passamos a ter mora do credor até o dia em que
ocorre o adimplemento da obrigação. Esta situação é denominada mora consecutiva ou
sucessiva.

Se tivermos uma ação judicial com um caso assim, o devedor nos 3 dias de atraso terá
que pagar todos os encargos moratórios que ele deu causa, já no período que o credor esteve
em mora responderá por tudo que está normatizado no Art. 400, CC.

Dessa forma se o gado morrer no período de mora do devedor, mesmo que sem culpa
dele, pela mora ser considerada culpa, ele terá que arcar com as perdas e danos causados ao
credor. Agora se o perecimento acontece no período de mora do credor, mesmo que por
negligência (culpa) do devedor, quem ficará com prejuízo é o credor, tendo o devedor que
pagar apenas pelos prejuízos causados no período de mora em que ele foi o responsável.

Assim, quando há mora consecutiva a consequência jurídica é que cada um responde


pelas perdas e dados a que deu causa no respectivo período de mora.

 Purgação vs Cessação da Mora

Para que ocorra a purgação da mora é necessário que o devedor cumpra a obrigação e
pague ao credor todo o prejuízo causado. Dessa forma o sujeito que estava em uma situação
de mora com a purgação passa para uma situação de adimplemento.

Sabendo disso, podemos concluir que a purgação possui efeito ex-nunc (para frente),
visto que ela visa gerar o adimplemento da obrigação, alcançando seu objetivo somente
daquele momento para frente.

Sendo assim, o indivíduo só sai da situação de mora e passa a situação de


adimplemento se cumprir a obrigação e pagar o prejuízo, caso contrário continuará em mora.
A purgação não retira os efeitos anteriores, valendo dali para frente.

Já na cessação, vamos imaginar que o indivíduo esta devendo tributos, dessa forma ele
estará em mora, mas suponhamos que no Congresso eles votem uma Lei que anistie os
contribuintes do pagamento daquele tributo. Esta seria uma situação, em que o sujeito não
possui mais a obrigação, voltando a estar em situação de regularidade.

Veja que na cessação da mora o indivíduo não cumpre a obrigação e não paga o
prejuízo, mas volta a estar em situação regular, sendo assim, podemos concluir que a cessação
possui efeito ex-tunc (retroagindo), fazendo com que a mora acabe sem que o indivíduo tenha
cumprido nada.

Kleber Luciano Ancioto Página 42


DIREITO CIVIL IV

DAS PERDAS E DANOS

A ação indenizatória é algo que aparece com muita frequência na prática, seja
contratual ou extracontratual. Se o indivíduo pretende receber uma indenização, em regra,
haverá a necessidade de comprovação de um tripé: 1) Conduta culposa daquele que causou o
dano; 2) Nexo de causalidade; e 3) O Prejuízo, que são as perdas e danos. Isso porque,
geralmente o indivíduo que alega possui o ônus de provar.

Há, no entanto, exceções, como no caso de responsabilidade civil objetiva, não há


necessidade de provar a conduta culposa daquele que causou o prejuízo. Em se tratando de
responsabilidade civil contratual, também não há necessidade de se provar que houve culpa
daquele que não cumpriu o contrato, bastando provar que existia um contrato e que ele não
foi cumprindo, sendo ônus daquele que descumpriu provar que o descumpriu por força
maior ou caso fortuito.

 Abrangência das Perdas e Danos

Art. 402 CC – Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as


perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele
efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.

o Danos Materiais

O Dano Material é a soma do Dano Emergente e do Lucro Cessante.

 Aquilo que Efetivamente Perdeu – Dano Emergente ou Positivo

O primeiro prejuízo que o indivíduo tem é aquilo que efetivamente perdeu. Por
exemplo, se contrata um show e o artista não aparece, o que salta aos olhos imediatamente é
o cache que foi pago ao artista. A este prejuízo denominamos dano emergente ou positivo.

Utilizamos como parâmetro para identificarmos o dano emergente a perda


patrimonial que o indivíduo teve em decorrência do inadimplemento, seja relativo ou
absoluto, dessa forma, aquilo que o indivíduo possuía antes, mas que por conta do
inadimplemento não possui mais, ou ainda, aquilo que o indivíduo teve que dispor de seu
patrimônio por conta do inadimplemento, caracteriza o dano emergente.

Vejamos outros exemplos: Imaginemos um indivíduo que possuía R$ 10.000,00 no seu


patrimônio e contratou um show por este valor, o artista não aparece, ocorre inadimplemento
e agora ele não possui mais aquele dinheiro no patrimônio, dessa forma, este é um dano
emergente.

No caso de um acidente automobilístico, onde o indivíduo possuía uma Ferrari nova e


agora possui uma Ferrari batida, ou seja, o patrimônio dele diminuiu. Essa diminuição
denominamos dano emergente.

Kleber Luciano Ancioto Página 43


DIREITO CIVIL IV

Por fim, no caso de uma construtora que atrasa a entrega do apartamento, os


alugueres que os compradores estão pagando por conta do atraso é também um dano
emergente, pois esta saindo de seu patrimônio por conta do inadimplemento.

 Razoavelmente Deixou de Lucrar – Lucros Cessantes ou Lucros


Frustrados ou Dano Negativo

Esta expressão: “razoavelmente deixou de lucrar” equivale a ideia dos lucros cessantes
ou dano negativo.

Se pegarmos o exemplo do show, o credor tinha a perspectiva não só de recuperar o


valor do cachê, mas também de conseguir algum lucro. Dessa forma, se ele pagou R$
10.000,00 de cachê, mas provavelmente na bilheteria ele conseguira R$ 12.000,00, uma vez
ocorrendo o inadimplemento, tanto o patrimônio de R$ 10.000,00 deverá ser ressarcido como
também aquilo que ele deixou de lucrar, ou seja, os R$ 2.000,00, sendo este último o lucro
cessante.

o Dano Moral

Existe ainda ao lado do dano emergente e lucro cessante o dano moral, que é passível
de ressarcimento, sendo considerado parte das perdas e danos, mas, não se encontra
normatizado no Art. 402, CC.

Voltando ao nosso exemplo do show, que o artista não compareceu, suponhamos que
o agenciador de shows perca credibilidade após o inadimplemento, isto também caracteriza
um prejuízo. Veja que não é um prejuízo de ordem econômica, pois não existe um valor
patrimonial agregado, no entanto, totalmente passível de ser indenizado, por isso o dano
moral também se inclui no contesto das perdas e danos.

O dano moral, estudaremos com mais profundidade no próximo semestre, mas vale
adiantar que ele deve afetar direitos da personalidade, ou seja, não pode se confundir com
mero transtorno ou aborrecimento. Por exemplo, se o indivíduo não paga o aluguel e o
locador precisa correr atrás de advogado, entrar na justiça, isso tudo traz um transtorno e
aborrecimento, no entanto, não caracteriza dano moral.

Antigamente não se aceitava valorar o dano moral, no entanto, a partir da Constituição


de 1988, isso mudou. No entanto, ainda hoje se discute como valora-lo. Por exemplo, quanto
custa o atropelamento de um filho? Quanto custa colocar o nome de alguém indevidamente
no serviço de proteção de crédito?

O valor de dano moral não possui critério objetivo, transformando-se em um problema


prático, visto que, sendo valorado através de um critério subjetivo, aquilo que possui grande
valor moral para um, pode não ter valor algum para outro. Isso provocou outro problema que
denominamos Banalização do Dano Moral, pois já que não existe critério, os advogados
atualmente pedem dano moral para tudo, na velha política do “se colar, colou”.

Kleber Luciano Ancioto Página 44


DIREITO CIVIL IV

Outra questão importante esta relacionada ao Dano Moral Reflexo ou Por Ricochete.
Imaginemos um acidente de ônibus, em que um rapaz venha a óbito e a mãe dele entra com
uma ação contra a empresa, requerendo uma indenização por dano moral e a ganha. Passado
um tempo, o pai entra com a mesma ação, depois os irmãos. É óbvio que todos sofreram
danos morais com a morte do rapaz, no entanto, qual seria o limite para esse Dano Moral
Reflexo? Se não houver limite, a empresa certamente quebrará pagando todas as
indenizações. Enfim essa também é uma situação que não há um entendimento sobre o
assunto e cada Juiz decide isoladamente.

Por fim, prevalece o entendimento que o simples descumprimento de contratos não


gera aptidão para ensejar dano moral, salvo algumas exceções, como no caso de não entregar
o bolo de aniversário no dia correto, ou não deixar a decoração do casamento pronta no dia da
cerimônia, enfim, casos específicos cujo descumprimento gera muito mais que transtornos ou
aborrecimentos.

Exercício

 João compra um apartamento na planta convencionando que a entrega do bem será


feita no dia 25/10/2014. Enquanto isso, João aluga uma casa para morar. O
apartamento não fica pronto na data convencionada, neste caso o que João pode
pedir contra a construtora? Se a construtora encerra suas atividades sem terminar o
apartamento o que João poderá pedir?
o Na primeira situação temos um inadimplemento relativo, portanto, estamos
em uma situação de mora, dessa forma, a construtora estará sobre seus
efeitos sendo que um deles é o pagamento das perdas e danos. Neste caso,
como aparentemente ele precisa do apartamento para morar, não há lucro
cessante, no entanto, há o dano emergente, pois o aluguel que João está
sendo obrigado a pagar é algo que está saindo do seu patrimônio devido a
mora da construtora. Na hipótese do João querer o apartamento para
investir, alugando-o, provavelmente não haverá dano emergente, mas
haverá lucro cessante, visto que, ele não poderá alugar e receber os alugueres
do apartamento durante a mora da construtora. Lembrando que, no caso do
lucro cessante devemos sempre ter um olhar de razoabilidade para calcula-lo.
o Na segunda hipótese, temos um inadimplemento absoluto, pois a construtora
não vai conseguir cumprir a obrigação, visto que, ela encerrou suas atividades,
dessa forma, ela (construtora) terá que arcar com os prejuízos do
inadimplemento absoluto e João poderá exigir o dano emergente (o que foi
pago pelo apartamento), podendo cobrar também pelo tempo em que a
construtora ficou em mora, os alugueres (visto que, ele estava esperando o
apartamento que supostamente estava atrasado, mas iria ser entregue).
 Nesta situação, os compradores podem também aceitar o
apartamento da forma como eles se encontram (deteriorados),
cobrando as perdas e danos, que neste caso seria o que faltou para
termina-los.

Kleber Luciano Ancioto Página 45


DIREITO CIVIL IV

 Nexo de Causalidade – Teoria dos Danos Diretos e Imediatos

Art. 403, CC – Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as


perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes
por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei
processual.

Dessa forma, só é indenizável o prejuízo que decorre diretamente do inadimplemento.

Por exemplo, imaginem um indivíduo que empresta sua casa porque foi passar uma
temporada fora do país e ao retornar solicita a casa de volta, mas o devedor não a devolve,
incorrendo em mora. Para não ficar na rua o indivíduo é obrigado a alugar um local e pagar os
alugueres até que o devedor devolva sua casa. Estes alugueres decorrem diretamente da mora
do devedor, ou seja, há nexo de causalidade entre o inadimplemento e o prejuízo, portanto,
são passíveis de indenização. Agora vamos imaginar que a casa onde o indivíduo se encontra
seja assaltada e ele tenha todos seus pertences furtados. Neste caso, por adotarmos a Teoria
dos Danos Diretos e Imediatos, apesar do indivíduo estar na casa devido a mora do devedor, o
assalto decorre de outra causa, ou seja, uma concausa que nada tem a ver com a mora que
acaba contribuindo mais diretamente para esse prejuízo, dessa forma, por essa concausa estar
mais próxima do resultado do que a mora, o devedor não poderá ser responsabilizados pelos
pertences furtados.

Na prática, é comum os Juízes passarem por situações muito difíceis quando precisam
decidir se uma determinada situação é causa ou concausa em relação ao inadimplemento,
visto que, somente os prejuízos cuja causa direta foi o inadimplemento que é passível de
indenização.

 Razoabilidade quanto ao Lucro Cessante

Imaginemos o indivíduo que colocou um caminhão para arrumar na oficina ficando


acordado a entrega em 30 dias, no entanto, ela só ocorre em 60. Sem dúvida, houve um
inadimplemento relativo, que enseja o direito de exigir perdas e danos. Neste caso,
aparentemente, não há dano emergente, no entanto, o indivíduo alega que ganhava por mês
R$ 20.000,00 com o caminhão. A princípio, não nos parece razoável que alguém ganhe tudo
isso com um caminhão, dessa forma, caberá a quem alega comprovar que em média,
excluindo suas despesas, ele ganhava esse valor. Ou seja, quando falamos em lucros cessantes,
não pode ser um valor inventado, havendo necessidade de um juízo de razoabilidade.

Isso acontece na prática com motoristas de taxi, que requerem, no caso de acidentes
de transito, o dano emergente (conserto do carro + a desvalorização do veículo), além do lucro
cessante (pelos dias que ele deixou de trabalhar enquanto o carro ficou na oficina), sendo
necessário que ele traga testemunhas e tudo o quanto for possível para comprovar este valor.

Kleber Luciano Ancioto Página 46


DIREITO CIVIL IV

Então essa questão acerca do que o sujeito “razoavelmente deixou de lucrar”, deve ser
analisada caso a caso, e para tal utilizar uma estimativa, sendo também um componente mais
subjetivo.

 Perda de Uma Chance

Imaginemos um sujeito que esta passando em tudo quanto é concurso e quando


estava indo prestar a última fase de um concurso para promotor foi atropelado. Para
solucionar estes casos surgiu a teoria da Perda da Chance, sendo algo novo, não existindo
previsão legal de que a chance deve ser objeto de indenização, mas hoje já encontramos
alguma coisa na jurisprudência, indenizando-a.

Na verdade a diferença entre os dois (lucro cessante e perda de uma chance), é o grau
de possibilidade de obter o lucro. Pois se pegarmos o exemplo do taxista que alega que teve
“X” de lucro cessante por 1 semana de serviço, há uma grande probabilidade de que ele
realmente fosse obter esse lucro e por conta do acidente não obteve. No caso do concurseiro,
havia uma possibilidade efetiva dele passar, mas, com certeza bem menor que o lucro perdido
pelo taxista. Dessa forma, para o lucro cessante o grau de possibilidade é maior, enquanto
que na perda de uma chance o grau de possibilidade é menor.

Se entendermos que a perda da chance é indenizável, a questão que fica seria quanto
indenizar, pois não há critério, caindo na mesma situação do dano moral e cada juiz precisa
fixar um critério subjetivo para definir o quanto indenizar.

03/09/2014

Se não provar um prejuízo mesmo que haja uma conduta culposa, não há o que exigir
como indenização. Dessa forma, o prejuízo se calcula observando o dano emergente
(desfalque patrimonial ou a diferença do patrimônio após o ato ilícito ou descumprimento do
contrato), o lucro cessante (que seria o que deixou de lucrar), ambos caracterizando o dano
material, além do dano moral (que não afeta o patrimônio).

Exercício

 João contrata um advogado para ingressar com uma ação, pleiteando direitos
trabalhistas no valor de R$ 10.000,00. O advogado, por esquecimento, deixa de
ingressar com a ação, acarretando a prescrição do direito de João. Neste caso, o que
João pode pedir contra o advogado e por quê?
o Neste caso, estamos diante de um inadimplemento absoluto, havendo
responsabilidade civil contratual por negligencia (culpa) do advogado, quanto
ao prejuízo, não há dano emergente e lucro cessante, visto que, não podemos
afirmar que a ação seria ganha de fato, dessa forma, caímos na situação da

Kleber Luciano Ancioto Página 47


DIREITO CIVIL IV

Perda da Chance e por isso podemos pedir uma indenização, não havendo
critérios objetivos para estipular o valor.
 Isto é comum ocorrer quando uma das partes perde uma ação e o
advogado perde o prazo para recorrer, caindo na hipótese da Perda da
Chance.

Pensando objetivamente, pode ser que o tribunal avalie a ação e havendo grande
probabilidade de ganha-la, ele pode utilizar o valor da ação como parâmetro para fixar a
indenização.

 Obrigação Pecuniária

Perdas e danos nas obrigações em que envolve dinheiro.

Art. 404 CC – As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em


dinheiro, serão pagas com atualização monetária segundo índices
oficiais regularmente estabelecidos, abrangendo juros, custas e
honorários de advogado, sem prejuízo da pena convencional.
Parágrafo único. Provado que os juros da mora não cobrem o
prejuízo, e não havendo pena convencional, pode o juiz conceder ao
credor indenização suplementar.

Dessa forma, o legislador normatiza que, independente do pedido da parte, o Juiz


pode de ofício somar os juros e correção monetária ao valor da causa além dos honorários
advocatícios.

Com isso, podemos concluir que toda obrigação em dinheiro vai ser acrescida de Juros
e Correção Monetária.

CORREÇÃO MONETÁRIA

Correção significa corrigir e monetária significa moeda, dessa forma, ao pé da letra a


correção monetária significa correção da moeda.

O dinheiro precisa ser corrigido, pois o que R$ 100,00 compra hoje, provavelmente
não comprará daqui a 5 anos, em outras palavras, o poder de compra dos mesmos R$ 100,00 é
diferente com o passar do tempo. Isso ocorre pela corrosão natural do valor nominal do
dinheiro com relação ao poder de compra, que denominamos Inflação.

Por isso que se um processo cujo valor de causa hoje é “X”, se levar 8 anos até a
sentença transitar em julgado, será necessário corrigi-lo monetariamente, visto que, com o
passar dos anos seu valor nominal sofreu corrosão devido a inflação. Dessa forma, quanto
maior a inflação no período, maior será a correção monetária.

Kleber Luciano Ancioto Página 48


DIREITO CIVIL IV

o Índice Utilizado

Não existe nenhum índice legal obrigatório, dessa forma, as partes são livres para
estipular o índice de correção.

Existem inúmeros índices econômicos que normalmente aferem a inflação e são


utilizados na prática, sendo vedado apenas, a utilização como indexadores o salário mínimo,
moeda estrangeira e ouro.

Se o contrato for omisso, a jurisprudência normalmente utiliza o INPC (Índice Nacional


de Preço ao Consumidor). Os Tribunais de Justiça possuem índices próprios de correção de
débitos judiciais.

A Lei 9.069/95 estabelece que nos contratos de trato sucessivo a correção monetária
deve ter prazo anual, por isso que os alugueres são corrigidos anualmente.

JUROS

Juros são “filhotes” do capital (do dinheiro), dessa forma, assim como vaca dá
bezerros, o capital dá juros, sendo estes, portanto, os frutos civis do capital, em outras
palavras, o acessório do capital.

 Origem

Existe o que chamamos de Juros Legais e Juros Convencionais.

o Juros Convencionais

São os juros convencionados entre as partes.

Dessa forma, ao fazer um contrato se ficar estabelecido que uma vez o devedor não
pagando no dia incidirá juros de “X” por cento per rata die, eles deverão ser respeitados.

o Juros Legais

Agora se as partes não convencionaram em contrato e ocorrer o inadimplemento, o


Juiz utilizará os juros legais, ou seja, os previstos na Lei, para suprir a omissão.

 Classificação

A classificação mais importante, diz respeito a identificarmos se os juros são


compensatórios ou moratórios.

Kleber Luciano Ancioto Página 49


DIREITO CIVIL IV

o Juros Compensatórios ou Remuneratórios

Se o indivíduo vai ao banco e empresta R$ 1.000,00, certamente o banco irá exigir que
ao devolver o capital, ele seja corrigido monetariamente e seja acrescido de juros.

Os juros, neste caso, é o lucro do banco, ou seja, o que ele cobrará por ter
disponibilizado o capital, fazendo uma comparação simples, seria como se fosse o aluguel do
capital. Dessa forma, estes juros são uma compensação, uma remuneração pelo empréstimo
do dinheiro.

Em outras palavras os juros compensatórios é aquilo que se paga pela utilização


consentida do capital.

o Juros Moratórios

Os juros moratórios são uma espécie de sanção, ou seja, de perdas e danos exigidas
em razão do inadimplemento relativo, em outras palavras, a utilização não consentida do
dinheiro. Totalmente diferente dos juros compensatórios que provém de uma compensação
pela utilização consentida de capital.

Dessa forma, se atrasarmos o pagamento da mensalidade da faculdade, será


necessário no dia do pagamento, acrescer a correção monetária e os juros moratórios. Os
juros, neste caso, serão uma sanção por termos entrado em mora.

O fundamento é o mesmo do anterior, pois a mensalidade desde o vencimento deveria


estar com a faculdade, no entanto, o devedor ainda detém o capital, de forma não consentida,
então, nada mais justo que seja pago o “aluguel” por esse dinheiro.

o Cumulação de Juros Compensatórios e Moratórios

Pode acontecer de cumular ambos os juros, no caso do indivíduo que emprestou o


dinheiro do banco, atrasar o pagamento do capital emprestado.

Dessa forma se o indivíduo tinha que devolver o capital em 6 meses mas o devolve
em 7, terá que pagar a correção monetária e os juros compensatórios em cima dos 7 meses e
pelo mês cuja utilização não foi consentida terá que pagar também os juros moratórios.

Exercício

 João empresta R$ 1.000,00 no banco, para pagamento em 60 dias. No contrato esta


prevista a taxa de juros remuneratórios de 10% e moratórios de 0,5% ao mês.

o Se João paga o débito no dia correto, quanto deverá pagar?

Kleber Luciano Ancioto Página 50


DIREITO CIVIL IV

 R$ 1.100,00

o E se pagar com 60 dias de atraso?


 Se pagar com 60 dias de atraso deverá pagar R$ 1.210,00, ou seja,
juros compensatórios por 120 dias acrescido dos juros moratórios
referente a 2 meses.

09/09/2014

As Perdas e Danos em uma obrigação pecuniária, não envolve apenas o valor, mas
também a correção monetária e os juros. Juros é a matéria mais complicada do curso, não
tanto pela complexidade, mas sim pelas divergências doutrinarias e jurisprudenciais.

Vimos primeiramente que há uma classificação de juros convencionais e legais, ou


seja, quando as partes convencionam qual será a taxa de juros estamos falando em juros
convencionais, já se as partes forem omissas ou se estipularem que os juros aplicados serão os
legais, há a necessidade da aplicação dos juros definido em Lei.

Outra classificação que é muito importante é a que distingue os juros compensatórios


ou remuneratórios dos moratórios. Os juros compensatórios, nada mais são que a
remuneração que se paga por ficar com o capital que pertence a outra pessoa e essa posse de
capital é consentida, em miúdos é o aluguel que a instituição financeira cobra pelo
empréstimo do capital. A partir do momento, que o indivíduo não devolve o capital no dia
convencionado, ele entra em mora e uma vez continuando com o capital de forma não
consentida incidira também os juros moratórios como uma espécie de sanção.

 Formas de Cálculo

o Juros Simples

Nesta forma, se tivermos R$ 100,00 a uma taxa de 10% ao mês. No primeiro mês o
indivíduo deverá R$ 110,00, sendo R$ 100,00 do capital que foi emprestado + R$ 10,00 dos
juros compensatórios. No segundo mês, o indivíduo deverá R$ 110,00 que ele já devia + R$
10,00 dos juros do segundo mês, somando R$ 120,00 e assim sucessivamente.

Sendo assim, ao calcularmos os juros simples, sempre faremos o cálculo em cima do


capital inicial.

o Juros Capitalizados

Em outras ciências como Contabilidade e Economia o que chamamos de Juros


Capitalizados é denominado Juros Compostos que no Direito veremos a seguir possui outro
significado.

Kleber Luciano Ancioto Página 51


DIREITO CIVIL IV

Acerca dos Juros Capitalizados, se utilizarmos o mesmo exemplo anterior, no primeiro


mês o acumulado será o mesmo dos juros simples, ou seja, R$ 110,00, diferenciando a partir
do segundo mês, visto que neste caso calcularemos os juros sobre o acumulado da dívida e
não mais sobre o capital inicial, sendo assim seria: R$ 110,00 acumulado no primeiro mês + R$
11,00 de juros do segundo mês (calculado sobre o acumulado), totalizando R$ 121,00.

Nesta hipótese não é apenas o capital que gera frutos, mas os juros também, por
incidir juros sobre juros.

o Juros Compostos

Como já adiantamos, o termo Juros Compostos em Direito, possui um significado


diferente do que em outras ciências, sendo utilizado aqui para os casos onde há Capitalização
Anual de Juros.

Continuando com o exemplo utilizado para explicar o cálculo de Juros Simples, após 12
meses, teríamos um acumulado de R$ 220,00. Se continuarmos na sistemática de Juros
Simples no 13° mês teríamos R$ 230,00, no entanto, se utilizarmos a sistemática dos Juros
Compostos, haverá no 12° mês a capitalização anual dos juros, o que significa que unificamos o
capital com os juros acumulados no ano, servindo este novo valor como base de cálculo para
os 12 meses subsequentes.

Dessa forma, seguindo com o exemplo, no 13° mês teríamos acumulado R$ 242,00, no
14° mês teríamos R$ 264,00 e assim sucessivamente até o 24° mês, quando ocorre nova
Capitalização Anual de Juros.

Em regra a Capitalização de Juros não é permitida pelo nosso ordenamento, ainda que
convencionado entre as partes (Súmula 121, STF), no entanto, os Juros Compostos onde há a
Capitalização Anual dos Juros é permitida.

Súmula 121, STF – É vedada a capitalização de juros, ainda que


expressamente convencionada.

Há, no entanto, uma exceção, pois nos contratos bancários celebrados depois do ano
2000, se ficar compactuado entre as partes que o sistema de correção utilizado será a
Capitalização dos Juros, este é considerado válido.

 Taxa Legal de Juros

Uma vez sendo omisso no contrato a taxa de juros, teremos que utilizar a taxa legal. O
Código de 1916 estabelecia que os juros moratórios eram de de 0,5% ao mês. Mas o novo
Código Civil não fez isso, o que causa uma série de problemas por ter fixado a taxa segundo o
que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional
(União), conforme artigo abaixo:

Kleber Luciano Ancioto Página 52


DIREITO CIVIL IV

Art. 406, CC – Quando os juros moratórios não forem


convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou quando
provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que
estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à
Fazenda Nacional.

ITR (Imposto Territorial Rural) e IR (Imposto de Renda) são tributos destinados a União,
dessa forma, o artigo estipula para se verificar a taxa cobrada pela mora nestes tributos.

A resposta é encontrada no Art. 161, §1°, CTN (Código Tributário Nacional), que
normatiza que se a Lei não dispuser de forma diferente a Fazenda cobrará a taxa de 1% ao
mês de juros moratórios, o que nos levaria a entender que nossa taxa para juros moratórios
legais hoje é de 1% ao mês.

Art. 161, §1°, CTN – Se a lei não dispuser de modo diverso, os juros de
mora são calculados à taxa de 1% (um por cento) ao mês.

Mas o problema recai sobre a expressão: “se a lei não dispuser de modo diverso”, pois
há uma Lei de n. 9.605/95, estabeleceu que com relação aos Juros Moratórios relacionados
aos tributos da Fazenda Nacional, deverá ser utilizado a Taxa SELIC.

Para entendermos como funciona a SELIC, precisamos ter em mente que uma vez o
Governo gastando mais do que arrecada, para cobrir sua dívida emite Papéis e os vende para
os Bancos.

Estes Papéis são Títulos de Crédito, ou seja, a União reconhece uma dívida para com o
Banco. É claro que para o Banco aceitar trocar estes Títulos vai querer ser bem remunerado e
para isso há a taxa SELIC, quanto maior for esta taxa menos dinheiro terá rodando na
economia, pois o Banco vai preferir emprestar para o Governo a juros altos do que emprestar
para o qualquer particular que paga bem menos juros.

Acabando o dinheiro do Banco, ele procura clientes que estejam dispostos a investir
oferendo taxas melhores de juros para que ele (Banco) possa emprestar mais dinheiro ao
Governo. Dessa forma o Governo vai enxugando o dinheiro circulando na sociedade, tornando
mais atrativo investir do que consumir e assim busca controlar a inflação.

Abaixando a SELIC, o efeito é contrário, aumentando o dinheiro circulante na


economia, aumentando o consumo e a tendência é que a inflação aumente.

Dessa forma a SELIC é um instrumento de controle econômico, que se refere a quanto


de juros o Governo paga pelos Títulos que ele emite.

Quem define a taxa SELIC é o COPOM (Comitê de Política Monetária) que


mensalmente se reúne e define qual será a taxa SELIC do mês. Neste mês de setembro a taxa
de SELIC esta em 11% a.a. A SELIC, por si só, compreende os Juros Compensatórios como a
Correção Monetária.

Kleber Luciano Ancioto Página 53


DIREITO CIVIL IV

Posto isso, há muita divergência doutrinária e jurisprudencial acerca da utilização da


Taxa SELIC como indexador para a taxa de Juros Legais (Juros Moratórios), tendo prevalecido
nas últimas decisões do STJ a possibilidade de sua utilização.

Os que defendem a impossibilidade de utilização dessa Taxa como indexadora para


estabelecer os Juros Legais, argumentam que sua utilização traz muita insegurança jurídica,
pois não há como prevermos o seu comportamento, podendo de uma hora para outra disparar
a subir ou despencar. Outra questão é que a Taxa SELIC corresponde a Correção Monetária e
Juros Compensatórios, dessa forma, seria incompatível utiliza-la como indexadora dos Juros
Moratórios, visto que estaríamos calculando juros sobre juros, dessa forma, essa corrente
defende a utilização da taxa fixa de 1% a.m.

Fato é que atualmente não temos ao certo um parâmetro para definir qual dos dois
critérios é o mais adequado a ser utilizado como Juros Legais.

Exercício

 Antônio faz a doação de um veículo a João. Fica combinado que o doador entregará o
carro na casa do donatário.

o Como ficará a obrigação se o doador leva o carro no dia combinado, mas João
não esta no local?
 Trata-se de um contrato benéfico, sendo o Antônio o devedor (quem o
contrato não favorece) e o João o credor (quem o contrato aproveita),
e dessa forma temos que levar em consideração o disposto no Art.
392, CC. Mas nesta primeira situação estamos diante de mora do
credor, que juridicamente ficará sujeito às consequências dispostas no
Art. 400 CC.
 Lembrando que há uma corrente que defende que o credor
responde pela mora independentemente de culpa, pois não há
um artigo que o isenta de responsabilização pela mora caso
não seja por sua culpa, enquanto que outra corrente defende
que por analogia o credor também não poderia ser
responsabilizado caso a mora tenha ocorrido por motivo de
força maior ou caso fortuito, como ocorre no caso de mora do
devedor (Art. 396, CC).

o Antônio pode deixar o carro em um estacionamento e cobrar as diárias de


João?
 Poderá deixar e cobrar o que gastar com o estacionamento, pois uma
das consequências para o credor em mora é ter que arcar com as
despesas de conservação da coisa que por ventura o devedor tenha no
período em que perdurar sua mora (Art. 400, CC).

Kleber Luciano Ancioto Página 54


DIREITO CIVIL IV

o Se João se dispõe a receber o carro três dias depois, Antônio pode se recusar a
entrega-lo?
 Antônio só poderá se recusar a entregar caso o credor não tiver
purgado sua mora, em outras palavras, para que o credor tenha
direito de receber a coisa, primeiro ele terá que purgar a mora,
pagando as despesas de conservação, por exemplo, e fazendo isso
Antônio terá que entregar o carro, caso contrário ele entraria em
mora.

o Qual a consequência se fizer isso?


 Como vimos no questionamento anterior, há duas situações, se não
houver a purgação da mora do credor, a recusa do devedor é legítima
e ele não responderá por nada.
 Agora se a mora foi purgada, depende, pois por se tratar de um
Contrato Benéfico, de acordo com o Art. 392, CC, o devedor só
responde pela mora se agir com dolo.
 Dessa forma, se ele se recusar a entregar dolosamente,
caracteriza a mora de devedor e ele terá que arcar com os
encargos moratórios previstos no Art. 395, CC (Perdas e
Danos, Correção Monetária, Juros e Honorário Advocatícios),
sendo este um típico caso de Moras Sucessivas. No entanto, se
a falta de entrega ocorre por motivo de força maior ou caso
fortuito ou ainda por culpa, como ter esquecido, o devedor
não responderá pela mora.

o Se João ficar esperando e Antônio não aparecer no dia combinado, qual será a
consequência?
 Temos que analisar, como no questionamento anterior, se Antônio
não apareceu por dolo ou se foi por motivo de força maior ou caso
fortuito ou ainda por culpa (como esquecimento), visto que apenas na
hipótese dele não aparecer por dolo é que caracteriza mora do
devedor, respondendo por Perdas e Danos.

o Se o veículo perece por motivo de força maior antes do vencimento o devedor


pode ser responsabilizado?
 Não, visto que a regra geral determina que a coisa perece para o dono,
dessa forma, não havendo culpa do devedor antes da tradição,
simplesmente resolve o contrato.

o E se foi depois do vencimento e antes da entrega?


 Neste caso depende se houve dolo ou não na mora, pois se houve ele
responderá por Perdas e Danos, caso contrário não responderá por
nada.

Kleber Luciano Ancioto Página 55


DIREITO CIVIL IV

16/09/2014

Como vimos, atualmente ainda não há consenso acerca se os Juros Moratórios Legais
devem ser de 1% (um por cento), previsto no CTN ou a taxa SELIC (Art. 406, CC). Devido a
importância do tema já deveríamos tê-lo pacificado, no entanto, a questão ainda é nebulosa.

 Taxa Legal de Compensatórios

Acerca da Taxa Legal dos Juros Compensatórios, no Código de 1916 também era
estipulado em 0,5% (meio por cento), ao passo que no Código Civil de 2002 não consta
previsão legal da Taxa de Juros Compensatórios. Dessa forma, atualmente o que prevalece é
utilizar por analogia a mesma regra do Art. 406, CC, que é para juros moratórios.

 Taxa Máxima Permitida para os Juros Compensatórios e Moratórios Convencionais

O Decreto Lei 22.626/33 reconhecido como Lei da Usura é o grande responsável


pelas divergências doutrinarias acerca da taxa máxima permitida para os Juros Convencionais.

Para nos situarmos historicamente, o Código de 1916 também não previa uma taxa
máxima de juros convencionais moratórios ou compensatórios, dessa forma, as pessoas eram
livres pra estipularem os Juros. Ocorre que em 1929 com a quebra da bolsa de Nova York
quem tinha dinheiro para emprestar, o fazia cobrando juros cada vez mais altos, dessa forma,
a Lei da Usura surgiu para evitar a agiotagem.

No Art. 1° da referida Lei, há a normatização que a taxa de juros pode ser


convencionada em qualquer valor, desde que não exceda o dobro da taxa legal, sendo assim,
naquela época os juros máximos convencionais podiam ser até 1% ao mês, visto que o código
estabelecia 0,5% ao mês de taxa legal dos juros.

Art. 1°, Decreto Lei 22.626/33 – É vedado, e será punido nos termos
desta lei, estipular em quaisquer contratos taxas de juros superiores ao
dobro da taxa legal.

Já no Art. 5°, ainda da referida Lei, há a normatização que os juros moratórios


deveriam ser igual ou menor que 1% (um por cento). Dessa forma, até o advento do Código de
2002 era esse o panorama seguido.

Art. 5°, Decreto Lei 22.626/33 – Admite-se que pela mora dos juros
contratados estes sejam elevados de 1% e não mais.

Analisando a princípio somente os juros moratórios convencionais, a taxa de juros


máxima permitida é discutida sobre o prisma de 3 correntes doutrinárias que discutem acerca
da Lei da Usura estar revogada ou não.

Kleber Luciano Ancioto Página 56


DIREITO CIVIL IV

Dessa forma, há uma corrente que defende que a Lei está Revogada, justificando que
o Código Civil é uma Lei posterior a Lei da Usura e uma vez tendo tratado da matéria Juros,
todas as Leis anteriores que tratavam do assunto estariam revogadas.

Por outro lado, outra corrente defende que ela está válida, argumentando que a Lei
da Usura é uma Lei Especial (específica para tratar de Juros) que prevalece sobre a Lei Geral
(Código Civil).

Há ainda uma terceira corrente que defende que a Lei da Usura é válida, pelos
mesmos argumentos da corrente anterior, com exceção do Artigo 5°, justificando este
posicionamento no fato do artigo ter sido redigido desta forma, porque no Código de 1916 a
taxa legal era de 0,5%, no entanto, no novo Código o legislador trouxe uma nova taxa de Juros
Moratórios, dessa forma, o Código Civil derrogaria a Lei da Usura no que se refere ao Art. 5°,
pois ele tratar especificamente da matéria presente no referido artigo.

Analisando sob o espectro destas três correntes, se entendermos que a Lei da Usura
está revogada, a taxa de juros moratórios convencionais seria ilimitada, já se considerarmos a
Lei válida integralmente, os juros moratórios convencionais não poderiam exceder 1% (um
por cento). Por fim, se considerarmos a Lei da Usura válida, no entanto, que seu Art. 5° está
revogado, a taxa de juros moratórios convencionais poderiam ser até o dobro da legal, que no
caso seria 2% (dois por cento) ou o Dobro da SELIC.

Com relação aos juros compensatórios convencionais a terceira corrente não existe,
visto que o Art. 5° disciplina apenas acerca dos juros moratórios. Analisando sob a égide das
duas outras correntes, se considerarmos que a Lei da Usura está revogada, também não há
limite para os juros compensatórios, enquanto que, na hipótese de considerarmos a Lei válida,
o limite seria o dobro da taxa legal, no entanto, não existe uma previsão legal e por isso
haveria a necessidade de utilizar por analogia a regra do Art. 406, CC, sendo 2% (dois por
cento) ou o dobro da SELIC.

Acerca dos juros compensatórios convencionais, há ainda o Art. 591, CC, que trata
especificamente dos contratos de mútuo (empréstimo), onde o legislador normatizou que
nestes contratos, aplicava-se como taxa máxima de juros compensatórios o normatizado no
Art. 406, CC, ou seja, 1% (um por cento) ou taxa SELIC.

Art. 591, CC – Destinando-se o mútuo a fins econômicos, presumem-


se devidos juros, os quais, sob pena de redução, não poderão exceder
a taxa a que se refere o art. 406, permitida a capitalização anual.

Deste fato, surgiu uma terceira corrente, que defende que por analogia deve ser
aplicada o disposto no Art. 591, CC, para todos os demais contratos.

Na tabela abaixo, temos um resumo acerca da taxa de juros convencionais defendido


por cada uma das correntes e com referencia aos juros moratórios e compensatórios.

Kleber Luciano Ancioto Página 57


DIREITO CIVIL IV

Lei da Usura
Lei da Usura Lei da Usura Por Analogia o
Válida,
Revogada Válida Art. 591, CC
Salvo seu Art. 5°

Juros
2% ou
Moratórios Ilimitado 1%
Dobro da SELIC
Convencionais

Juros
2% ou 1% ou
Compensatórios Ilimitado
Dobro da SELIC Taxa SELIC
Convencionais

o Disposições Gerais

Os Bancos, Instituições Financeiras e Operadoras de Cartão de Crédito, não estão


submetidos as regras do Código Civil, visto que há a Lei 4595/64, que mesmo sendo anterior
ao Código Civil, por ser uma Lei Especial, prevalece. E esta Lei estabelece que quem define a
Taxa de Juros cobrada por estas instituições é o Banco Central, através do COPOM, sendo por
isso que estas instituições podem cobrar, por exemplo, Juros Capitalizados que no caso das
pessoas físicas não é permitido.

Art. 192, §3º, CF – As taxas de juros reais, nelas incluídas comissões e


quaisquer outras remunerações direta ou indiretamente referidas à
concessão de crédito, não poderão ser superiores a doze por cento ao
ano; a cobrança acima deste limite será conceituada como crime de
usura, punido, em todas as suas modalidades, nos termos que a lei
determinar.

Este parágrafo acima foi revogado pela Emenda 40/03, visto que ele trouxe uma ideia
revolucionaria que visava limitar o lucro das instituições financeiras, no entanto, como na
época em que a Constituição Federal entrou em vigor a inflação era muito alta, caso essa regra
fosse aplicada certamente estas instituições quebrariam, não pela pouca lucratividade dos
negócios futuros, mas também porque no dia seguinte a entrada em vigor, houve uma enorme
demanda de ações judiciais pedindo a revisão de contratos para que os juros fossem alinhados
ao previsto na Constituição. Com isso a discussão chegou até o STF que definiu que o Art. 192,
CC, necessitava ser regulamentado, sendo considerado uma norma de aplicabilidade limitada
e, portanto, não gerando efeito prático naquele momento e assim permaneceu até que a
emenda 40/03 revogou-o.

 Início da contagem dos Juros de Mora

Art. 405, CC – Contam-se os juros de mora desde a citação inicial.

Kleber Luciano Ancioto Página 58


DIREITO CIVIL IV

Este artigo é incompleto, pois se o indivíduo comete um ato ilícito, os Juros Moratórios
contam desde a prática do ato, se alguém não paga a mensalidade da faculdade, os Juros
Moratórios incidem deste o vencimento (mora “ex re”), dessa forma, este Art. 405 é válido,
mas, apenas, para a mora “ex persona”, que não possui termo.

 Juros Moratórios Incidem Automaticamente

Os Juros Moratórios é considerado componente da Perdas e Danos. Dessa forma, se


alguém entrar com uma ação pedindo um valor “X”, o Juiz poderá conceder até este valor
acrescido dos Juros Moratórios e mesmo que o Juiz esqueça de coloca-los na sentença eles
incidirão automaticamente, como disciplina o Art. 407, CC.

Art. 407, CC – Ainda que se não alegue prejuízo, é obrigado o devedor


aos juros da mora que se contarão assim às dívidas em dinheiro, como
as prestações de outra natureza, uma vez que lhes esteja fixado o valor
pecuniário por sentença judicial, arbitramento, ou acordo entre as
partes.

CLÁUSULA PENAL (Multa contratual)

Juridicamente o termo correto para a multa é Cláusula Penal, prevista no artigo abaixo:

Art. 408, CC – Incorre de pleno direito o devedor na cláusula penal,


desde que, culposamente, deixe de cumprir a obrigação ou se
constitua em mora.

Dessa forma, a Multa Contratual só pode ser cobrada quando há culpa do devedor no
não cumprimento da obrigação ou em se constituir em mora, ou seja, pode-se cobrar a multa
do indivíduo que agindo culposamente deu causa a um inadimplemento absoluto, havendo
possibilidade de constar no contrato uma Cláusula Penal Compensatória ou por
inadimplemento relativo, sendo neste último caso a Cláusula Penal Moratória.

Exercício

 João Contrata e paga uma empresa para realizar a filmagem do seu casamento pela
quantia de R$ 10.000,00. Fica estipulada uma Cláusula Penal no valor de R$ 4.000,00.
A empresa não comparece culposamente para prestar o serviço.

o O que João poderá exigir da empresa?


 Neste caso, havendo o inadimplemento absoluto, João poderá pedir o
dinheiro que ele pagou de volta, além da Multa Compensatória,
devido ao inadimplemento absoluto.

Kleber Luciano Ancioto Página 59


DIREITO CIVIL IV

o E se o funcionário da empresa comparece alcoolizado, ofende os convidados e


não realiza a filmagem?
 Neste segundo caso, além de pedir o disposto anteriormente, há ainda
a possibilidade de responsabilização civil extra-contratual, requerendo
também uma indenização por Danos Morais.

As Perdas e Danos podem ser requeridas tanto em casos de mora como de


inadimplemento absoluto, mas na prática há muita dificuldade em se fazer prova do prejuízo,
e o ônus da prova é de quem alega. Por conta disso, para superar essa dificuldade surgiu a
Cláusula Penal, que é um sucedâneo das Perdas e Danos, ou seja, ela está presente como uma
pré-fixação das Perdas e Danos e uma vez descumprido o contrato por culpa de uma das
partes, a outra poderá solicitar o pagamento da Cláusula Penal prevista sem a necessidade de
se provar o prejuízo.

Em resumo, ao invés de requerer Perdas e Danos, o indivíduo pode optar pela Cláusula
Penal, tendo como vantagem a desnecessidade de provar o prejuízo. Sendo assim, existindo
uma Cláusula Penal, só seria viável requerer Perdas e Danos quando for possível provar que os
prejuízos foram maiores que o valor estipulado na Cláusula Penal.

É perfeitamente possível existir ambas as Clausulas Penais (Moratória e


Compensatória) em um mesmo contrato, ou seja, uma pela mora e outra pelo inadimplemento
absoluto. Por exemplo, é comum, nos contratos de locação de imóvel, existir Cláusula Penal
Moratória, estipulando 10% de multa, caso o inquilino atrase o aluguel e existir também uma
Cláusula Penal Compensatória, normatizando que se o contrato for rescindido injustamente
será cobrado 3 meses de aluguel.

17/09/2014

 Função

Sua principal função é ser uma prefixação das Perdas e Danos, de modo que o credor
sempre ficará com a opção de abrir mão da multa e receber, caso prove as Perdas e Danos. Por
isso a vantagem da multa é que às vezes o credor nem teve Perdas e Danos e mesmo assim,
terá direito a multa.

Outra função é que ela funciona como elemento coercitivo para o adimplemento do
contrato.

 Modalidades

o Cláusula Penal Compensatória

Kleber Luciano Ancioto Página 60


DIREITO CIVIL IV

A utilizamos para inadimplementos absolutos, dessa forma, uma vez não cumprindo o
contrato pode ser exigido Perdas e Danos ou a Cláusula Penal Compensatória definida no
artigo abaixo:

Art. 410, CC – Quando se estipular a cláusula penal para o caso de


total inadimplemento da obrigação, esta converter-se-á em alternativa
a benefício do credor.

Dessa forma, não cabe ao devedor, mas sim ao credor fazer a escolha. Sendo assim,
não adianta alguém entrar com uma ação cobrando a Cláusula Penal e o advogado de defesa
alegar que as Perdas e Danos foram muito inferiores ao cobrado, levando ao enriquecimento
ilícito do credor, pois a prerrogativa de escolha é do credor, salvo se o valor da multa for muito
discrepante, quando o Juiz deverá agir de ofício e reduzi-la.

o Cláusula Penal Moratória

Neste caso a Cláusula Penal acaba se tornando uma sanção pelo atraso.

Art. 411, CC – Quando se estipular a cláusula penal para o caso de


mora, ou em segurança especial de outra cláusula determinada, terá o
credor o arbítrio de exigir a satisfação da pena cominada, juntamente
com o desempenho da obrigação principal.

Veja então, que pode ser exigido o cumprimento da obrigação e a Cláusula Penal
Moratória, o que não ocorre com a Cláusula Penal Compensatória, pois nesta ou exige-se o
cumprimento do contrato ou a multa compensatória.

É possível que os contratos possuam ambas as modalidades de Cláusulas Penais, e na


hipótese dele ser omisso quanto a modalidade de Cláusula Penal a que se refere cada multa
prevista, sempre a multa menor valor se referirá a Clausula Penal Moratória e a de maior valor
por sua vez será a Compensatória.

 Natureza Jurídica

A natureza jurídica da Cláusula Penal é Acessória ou Pacto Secundário, ou seja, só


existe Cláusula Penal porque existe um contrato. Mas é possível termos um contrato sem
cláusula penal e depois de algum tempo fazer um aditivo incluindo a Cláusula Penal, ou seja,
ela não necessariamente precisa estar no mesmo instrumento do contrato.

No entanto, só criamos uma Cláusula Penal com a finalidade de assegurar o


cumprimento de um contrato, dessa forma ela sempre será acessória a um contrato.

Na hipótese de uma Cláusula Penal ser nula, ela não invalida o contrato, visto que a
nulidade do acessório não afeta o principal. Este mesmo princípio vale para a cláusula que
define os Juros, visto que ele também é acessório. O contrario, no entanto, não é verdadeiro,

Kleber Luciano Ancioto Página 61


DIREITO CIVIL IV

ou seja, se o principal for considerado nulo as cláusulas que definem os juros ou a multa
também serão.

 Objeto

Não necessariamente precisa ser dinheiro, ou seja, é possível qualquer obrigação:


fazer, não fazer e dar. Sendo assim, é possível estabelecer como multa a prestação de um
serviço, por exemplo.

 Forma

Normalmente a Cláusula Penal esta no mesmo instrumento do contrato, dessa forma,


se o contrato for realizado por instrumento público ela também será, mas, por ser um pacto
secundário, a Cláusula Penal pode ser feita através de um aditivo ao Contrato e nesta hipótese,
ainda que o instrumento principal seja público, ela poderá ser realizada de maneira particular,
visto que sua forma é livre.

Em resumo, por ser de forma livre, ela não precisa seguir a forma do contrato
principal.

 Incidência

Para exigir a multa não necessariamente precisa existir prejuízo, dessa forma a
incidência da Cláusula Penal ocorre independentemente do prejuízo, previsto no Art. 416, CC.

Art. 416, CC – Para exigir a pena convencional, não é necessário que o


credor alegue prejuízo.

Ainda relacionado a sua incidência, há a normatização do Art. 409, CC.

Art. 409, CC – A cláusula penal estipulada conjuntamente com a


obrigação, ou em ato posterior, pode referir-se à inexecução completa
da obrigação, à de alguma cláusula especial ou simplesmente à mora.

Ou seja, só aplicamos a multa no caso de inadimplemento absoluto ou relativo (mora),


em sentido reverso, se não houver inadimplemento não há incidência da Cláusula Penal, para
tal, já vimos que existe a Cláusula Penal Compensatória e a Moratória, no entanto, o Art. 409,
CC, normatizou um terceiro tipo de Cláusula Penal que acaba se inserindo como um tipo de
Cláusula Moratória, quando expressamente definiu que a Cláusula Penal “pode referir-se à
inexecução [...] de alguma cláusula especial [...]”.

Dessa forma, utilizando como exemplo um contrato de locação onde o inquilino


assume a obrigação de pagar o aluguel, fazer seguro do imóvel e de não sublocar o imóvel,
havendo ainda uma cláusula dizendo que se ele sublocar o contrato estará rescindido, teremos

Kleber Luciano Ancioto Página 62


DIREITO CIVIL IV

três obrigações, sendo uma principal (pagar o aluguel), outra secundária (fazer o seguro) e por
fim uma terceira obrigação de não fazer, que leva ao inadimplemento absoluto (sublocar o
imóvel).

Sendo assim podemos ter uma Cláusula Penal para cada uma das obrigações que o
locador assumiu. A Cláusula que se refere a sublocação, sua Cláusula Penal será
Compensatória, visto que seu descumprimento leva a rescisão do contrato. Se o indivíduo
atrasar o aluguel (obrigação principal), o contrato não acaba, portanto, sua Cláusula Penal se
refere a Moratória.

Agora se o indivíduo paga o aluguel, não subloca o imóvel, mas não faz o seguro, neste
caso o contrato também não acabará, sendo estabelecido, no entanto, uma multa que se
destina especificamente ao descumprimento desta obrigação, portanto, sua Cláusula Penal se
assemelha a Moratória.

Em resumo, se o locador atrasa a obrigação principal, paga-se uma multa moratória e


se descumprir as obrigações secundárias haverá também a necessidade de pagar outra multa,
também moratória, a isso que se refere o artigo quando diz que há incidência da Cláusula
Penal à inexecução de alguma cláusula especial.

Assim, o devedor poderá entrar em mora, por descumprimento de uma obrigação


principal ou secundária (acessória), estando, em ambos os casos, sujeito a multa.

Dessa forma, podemos ter uma cláusula destinada a uma obrigação especifica do
contrato, mas que não se refere a obrigação principal e quando isso ocorrer o tratamento
jurídico que se da a essa Cláusula Especial é como se fosse mora (inadimplemento relativo).

 Limite

Art. 412, CC – O valor da cominação imposta na cláusula penal não


pode exceder o da obrigação principal.

Com esta normatização, a Cláusula Penal deve ser menor que a obrigação principal,
pois caso seja o valor da obrigação, representará o seu cumprimento, não fazendo sentido a
multa.

Quando temos prestações sucessivas, utilizamos por analogia o que dispõe o Art. 260,
CPC.

Art. 260, CPC – Quando se pedirem prestações vencidas e vincendas,


tomar-se-á em consideração o valor de umas e outras. O valor das
prestações vincendas será igual a uma prestação anual, se a obrigação
for por tempo indeterminado, ou por tempo superior a 1 (um) ano; se,
por tempo inferior, será igual à soma das prestações.

Dessa forma o valor máximo da Cláusula Penal deve ser abaixo de uma anualidade.

Kleber Luciano Ancioto Página 63


DIREITO CIVIL IV

Uma coisa que se discute é se o Art. 412, CC, aplica-se também a Cláusula Penal
Moratória. Alguns doutrinadores defendem que não, pois o Art. 9° da Lei da Usura,
estabelece que a Cláusula Penal Moratória pode ser no máximo de 10%, dessa forma se
entendermos que esta Lei está valida o limite máximo seria 10%, mas se entendermos que ela
está revogada é valido o estipulado no Art. 412, CC.

Art. 9°, do Decreto 22.626/33 - Não é válida a cláusula penal superior a


importância de 10% do valor da dívida.

Há ainda outra limitação quanto a Cláusula Penal Moratória, que está normatizado no
CDC (Art. 52, §1°) que estabelece o máximo de 2%, nas relações de consumo.

Art. 52, §1°, CDC – As multas de mora decorrentes do


inadimplemento de obrigações no seu termo não poderão ser
superiores a 2% (dois por cento) do valor da prestação.

 Possibilidade de Redução da Cláusula Penal

Imaginemos a situação de um indivíduo que aluga um imóvel por 1 ano, mas que no
último mês acaba sublocando-o levando ao inadimplemento absoluto por causar a rescisão
contratual e, portanto, incidindo na Cláusula Penal Compensatória que é definida em uma
anualidade, diante de circunstâncias como está, a multa deve ser reduzida como normatizado
no artigo abaixo:

Art. 413, CC – A penalidade deve ser reduzida equitativamente pelo


juiz se a obrigação principal tiver sido cumprida em parte, ou se o
montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em
vista a natureza e a finalidade do negócio.

Está é uma norma de ordem pública, portanto o Juiz deve agir de ofício, ou seja, ele
deve avaliar o valor da multa e observando que ela é muito elevada ou no caso do devedor ter
cumprido parte da obrigação, deverá reduzi-la.

Com isso, podemos concluir que nem sempre o credor irá receber integralmente a
multa contratual pactuada entre as partes.

 Possibilidade de Ampliação da Cláusula Penal

A regra é que não é possível cumular as Perdas e Danos com a Cláusula Penal, pois na
verdade um é sucedâneo do outro, existindo uma única exceção a essa regra que está prevista
no Parágrafo único do artigo abaixo:

Art. 416, Parágrafo único, CC – Ainda que o prejuízo exceda ao


previsto na cláusula penal, não pode o credor exigir indenização
suplementar se assim não foi convencionado. Se o tiver sido, a pena

Kleber Luciano Ancioto Página 64


DIREITO CIVIL IV

vale como mínimo de indenização, competindo ao credor provar o


prejuízo excedente.

Dessa forma, se estiver convencionado no contrato, o credor poderá cobrar Perdas e


Danos cumulado com a Cláusula Penal. Nesta situação, se o credor tiver um prejuízo de R$
15.000,00 e o contrato estipular uma multa de R$ 5.000,00, o credor poderá exigir o
cumprimento da Cláusula Penal independentemente de comprovar prejuízo e se por ventura
ele conseguir comprovar o prejuízo excedente, o que foi pago a título de Cláusula Penal será
descontado do montante a ser ressarcido a título de Perdas e Danos.

Em resumo o valor mínimo que o credor receberá será o valor estipulado na Cláusula
Penal, sendo possível receber valor superior se provar as Perdas e Danos, por isso o Parágrafo
único prevê que a Cláusula Penal vale como mínimo de indenização, cabendo ao credor fazer
prova do prejuízo excedente.

A vantagem dessa cumulação, é que se o contrato for omisso e o credor optar por
requerer as Perdas e Danos, caso ele não consiga comprova-los poderá não receber nada.

 Obrigação Indivisível

Se na obrigação indivisível houver uma Cláusula Penal Compensatória e o objeto da


prestação for destruído por um dos devedores, o credor poderá exigir Perdas e Danos ou a
Cláusula Penal Compensatória, mas, com relação a esta última, quanto poderá ser exigido de
cada um dos devedores se encontra normatizado no artigo abaixo:

Art. 414, CC – Sendo indivisível a obrigação, todos os devedores,


caindo em falta um deles, incorrerão na pena, mas esta só se poderá
demandar integralmente do culpado, respondendo cada um dos
outros somente pela sua quota. Parágrafo único. Aos não culpados
fica reservada a ação regressiva contra aquele que deu causa à
aplicação da pena.

Ou seja, em uma obrigação indivisível, havendo o inadimplemento absoluto por culpa


de um dos devedores, pode ser exigido do culpado a totalidade da Cláusula Penal, ou cobrar
de cada um a sua cota parte, ficando os não culpados, com direito de ação regressiva contra o
que deu causa ao inadimplemento. Bem diferente do tratamento dado as Perdas e Danos que
podem ser cobradas apenas do devedor que teve culpa.

Na hipótese de obrigação solidaria passiva, o credor poderia cobrar de qualquer um


dos devedores a totalidade da Cláusula Penal.

 Obrigação Divisível

Kleber Luciano Ancioto Página 65


DIREITO CIVIL IV

Art. 415, CC – Quando a obrigação for divisível, só incorre na pena o


devedor ou o herdeiro do devedor que a infringir, e proporcionalmente
à sua parte na obrigação.

Dessa forma, se a obrigação for divisível a Cláusula Penal também deverá ser dividida
conforme a quantidade de devedores, sendo exigido somente a cota parte daquele que
inadimpliu o contrato, salvo se a prestação da Cláusula Penal for indivisível, quando ela poderá
ser exigida em sua totalidade daquele que inadimpliu o contrato desde que o credor devolva o
valor referente a cota parte dos demais devedores que adimpliram a obrigação.

Exercício

 João contrata Pedro, Paulo e Joaquim para que estes realizem a pintura da sua casa
mediante a quantia de R$ 10.000,00. Fica estipulado uma multa compensatória no
valor de R$ 3.000,00. Por falha na mistura das tintas, ocasionada por Pedro a pintura
da casa fica manchada. Nesta situação, o que João poderá pedir contra os devedores?
o A obrigação de pintar é indivisível e uma vez tendo ficado manchada:
 Se entendermos que o inadimplemento é relativo, João não poderá
pedir a Cláusula Penal, cabendo apenas requerer que a obrigação seja
cumprida e Perdas e Danos pela Mora, sendo está última exigível
apenas de Pedro (culpado pela falha na mistura das tintas) – Art. 263,
CC.
 Se entendermos que o inadimplemento é absoluto, ele poderá exigir
que todos devolvam o dinheiro recebido, e:
 Exigir as Perdas e Danos de Pedro; ou
 Exigir o cumprimento da Cláusula Penal, podendo cobrar a
totalidade do valor de Pedro, ou de cada um dos devedores o
valor de R$ 1.000,00, referente à cota parte deles na Cláusula
Penal – Art. 414, CC.

30/10/2014

ARRAS (SINAL)

 Espécies

o Confirmatórias

O sinal que o comprador entrega ao vendedor com a finalidade de confirmar o negocio


é denominado arras confirmatória, ou seja, ela serve para confirmar que o contrato será
cumprido.

Kleber Luciano Ancioto Página 66


DIREITO CIVIL IV

E ao concluir a obrigação, as arras confirmatórias podem ser transformar em


pagamento parcial inicial, visto que ela é descontada do valor final a ser pago, quando são do
mesmo gênero.

As arras, no entanto, não precisam ser da mesma natureza da obrigação principal e se


isso ocorrer, quando houver o cumprimento da obrigação, aquilo que foi dado em garantia
(arras) deverá ser ressarcido.

Em resumo, as arras confirmatórias, que são aquelas que servem para confirmar o
negócio, poderão servir como parte do pagamento, ou se ela for de gênero diferente da
obrigação principal, deverão ser devolvidas ao comprador, assim que a obrigação for
cumprida, funcionando como uma espécie de garantia, conforme previsto no artigo abaixo:

Art. 417, CC – Se, por ocasião da conclusão do contrato, uma parte


der à outra, a título de arras, dinheiro ou outro bem móvel, deverão as
arras, em caso de execução, ser restituídas ou computadas na
prestação devida, se do mesmo gênero da principal.

Se o contrato, por ventura, não for cumprido, o comprador perde a arras, em outras
palavras, se aquele que entregou o sinal não cumprir a obrigação perderá o sinal, funcionando
como uma pena imposta pelo descumprimento da obrigação.

O Sinal deve ser sempre inferior ao valor da obrigação, caso contrario vira pagamento.

Se ao contrário, o comprador tiver dado arras, mas na hora que vai cumprir a
obrigação, o objeto tiver perecido por culpa do devedor, estaremos diante de um
inadimplemento absoluto e nestes casos, sem a necessidade de provar as perdas e danos, o
comprador poderá exigir do vendedor o valor dado como sinal mais o mesmo valor
equivalente, ou seja, a arras em dobro. Essa regra encontra-se no Art. 418, CC.

Art. 418, CC – Se a parte que deu as arras não executar o contrato,


poderá a outra tê-lo por desfeito, retendo-as; se a inexecução for de
quem recebeu as arras, poderá quem as deu haver o contrato por
desfeito, e exigir sua devolução mais o equivalente, com atualização
monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, juros e
honorários de advogado.

Sendo assim, a função das arras é reforçar o vínculo obrigacional, visto que se qualquer
uma das partes não cumprir a obrigação, de imediato perderão a arras dada para confirmar o
negócio, tendo no caso do vendedor que devolvê-la em dobro.

Sempre que o contrato for omisso, entende-se que falamos em arras confirmatórias.

 Indenização Suplementar

Art. 419, CC – A parte inocente pode pedir indenização suplementar,


se provar maior prejuízo, valendo as arras como taxa mínima. Pode,

Kleber Luciano Ancioto Página 67


DIREITO CIVIL IV

também, a parte inocente exigir a execução do contrato, com as


perdas e danos, valendo as arras como o mínimo da indenização.

As arras servem para forçar os contratantes a cumprirem os contratos, só que


eventualmente, pode acontecer de alguém preferir desfazer um negócio e devolver o sinal em
dobro, para poder realizar outro negócio mais vantajoso e com isso obter mais lucro. Para
evitar tal manobra é que há a normatização do artigo acima, que disciplina que nestes casos a
parte inocente (que é aquela que deu o sinal), pode pedir uma indenização suplementar além
do sinal em dobro normatizado pelo Art.418, CC, sendo que este valerá como indenização
mínima.

Para ficar mais claro, imaginemos que um vendedor anuncie a venda de um terreno
por R$ 50.000,00 fazendo um contrato de compra e venda com um comprador que deposita
R$ 10.000,00 como sinal do negócio. Ocorre que na data combinada quando o comprador vai
pagar o restante para concluir o negócio, descobre que o vendedor havia vendido o terreno
entregando-o para outro comprador por R$ 100.000,00. Nesta situação estaríamos diante de
um inadimplemento absoluto e o comprador poderia exigir Perdas e Danos (todo o prejuízo
que teve com o inadimplemento), no entanto, o problema consiste em fazer prova do prejuízo
sofrido, mas neste caso, como havia o pagamento de arras, não é necessário fazer prova para
exigir o sinal em dobro corrigido (R$ 20.000,00). E segundo o Art. 419, CC, há ainda a
possibilidade de exigir uma indenização suplementar e tudo o que ele conseguir comprovar de
prejuízo acima dos R$ 20.000,00, terá direito a título de Perdas e Danos. Dessa forma, se ele
comprovar que o terreno valorizou, terá direito a receber o valor da valorização.

No caso de um inadimplemento relativo (como no caso do vendedor desistir da venda,


mas permanecer com a propriedade do terreno), o comprador pode exigir que ele cumpra a
obrigação, além dos encargos moratórios e como ocorre no inadimplemento absoluto, sem
necessidade de fazer qualquer prova, ele pode exigir o sinal em dobro corrigido, visto que este
é considerado uma indenização pelo inadimplemento (seja relativo ou absoluto), além das
Perdas e Danos que ele conseguir comprovar além desse valor.

Isso tudo porque as arras possuem como objetivo obrigar o cumprimento do contrato.

o Penitenciais

As arras penitenciais possuem uma função antagônica as arras confirmatórias, visto


que esta última visa impedir o arrependimento, enquanto que a primeira possui como
finalidade propiciar a possibilidade do arrependimento. As arras penitenciais estão previstas
no Art. 420, CC.

Art. 420, CC – Se no contrato for estipulado o direito de


arrependimento para qualquer das partes, as arras ou sinal terão
função unicamente indenizatória. Neste caso, quem as deu perdê-las-á
em benefício da outra parte; e quem as recebeu devolvê-las-á, mais o
equivalente. Em ambos os casos não haverá direito a indenização
suplementar.

Kleber Luciano Ancioto Página 68


DIREITO CIVIL IV

As arras penitenciais são muito conhecidas como opção de compra.

No caso da compra do terreno que elencamos anteriormente, seria como ter um


indivíduo que pensa ser interessante adquirir o terreno a venda, mas não tem certeza, então
ele oferece um sinal (que geralmente é menor que o sinal confirmatório) pedindo um prazo de
30 dias para que ele decida. Se após este prazo ele decidir não confirmar o negócio, a única
consequência será perder o valor do sinal penitencial, não gerando direito a qualquer outra
indenização.

O mesmo vale para o outro lado, neste mesmo exemplo, caso o vendedor que recebeu
o sinal penitencial se arrepender da venda ele terá que devolver o sinal em dobro corrigido e o
comprador, da mesma forma, não poderá exigir nenhuma indenização suplementar.

Em resumo, as arras confirmatórias servem para forçar o cumprimento da obrigação


enquanto que as penitenciais servem para possibilitar o descumprimento.

 Objeto

O Art. 417, CC, também nos elenca o que pode ser objeto de arras: dinheiro ou bem
móvel, sendo vedada a utilização de bem imóvel como arras.

01/10/2014

 Natureza Jurídica

Possuem natureza jurídica igual as cláusulas penais, ou seja, de pacto acessório, o que
significa que podemos firmar hoje um contrato de compra e venda e depois de alguns dias
firmar outro contrato que inclua arras no contrato anterior.

Sendo dessa forma, vale a regra que se o contrato acessório for nulo o principal
continua válido, e o inverso não é verdadeiro, pois se o principal for nulo o acessório também
será.

 Função

Estimular o cumprimento da obrigação no caso das arras confirmatórias ou possibilitar


a desistência, no caso das arras penitenciais.

 Aplicação

Kleber Luciano Ancioto Página 69


DIREITO CIVIL IV

São aplicadas em contratos onde há a transferência de domínio ou propriedade. Na


prática veremos muito em contratos de Compra e Venda.

 Redução Judicial das Arras

Não há um dispositivo, como existe nas cláusulas penais, que autoriza o Juiz de ofício
reduzir o valor das arras, no entanto, existe um Enunciado do Conselho da Justiça Federal
(entendimento doutrinário) que defende que por analogia existe a possibilidade de redução
das arras se elas se mostrarem desproporcionais.

Exercício

 Ronaldo compra um veículo de Roberto mediante três parcelas de R$ 4.000,00,


entregando como sinal a quantia de R$ 1.000,00 e um skate.

o As arras são confirmatórias ou penitenciais?


 Como o contrato foi omisso, presumisse que elas são confirmatórias.

o Qual o valor máximo do sinal que poderia ter sido convencionado?


 Qualquer valor abaixo da obrigação principal, visto que, se o valor
chegar até o valor da obrigação será considerado pagamento e não
arras, dessa forma, neste caso, qualquer valor abaixo de R$ 12.000,00.

o Se o comprador cumpre o contrato, poderá pleitear a devolução do sinal?


 Pode no caso do skate, visto que os R$ 1.000,00 devem ser incluídos
no pagamento.

o E se o comprador não cumprir o contrato, qual a consequência?


 Perderá o Skate os R$ 1.000,00 e ficará sujeito a uma indenização
suplementar a título de perdas e danos.

o O que o comprador pode exigir se o descumprimento for do vendedor?


 Poderá exigir a devolução dos R$ 1.000,00 em dobro e corrigido, além
do skate mais o valor equivalente ao skate, e, se couber, uma
indenização suplementar, se conseguir provar prejuízos acima de R$
2.000,00.

o Nas duas hipóteses anteriores, qual seria a solução se as arras fossem


penitenciais?
 Se o Ronaldo (comprador) se arrepender perderia apenas os R$
1.000,00 e o skate, não havendo direito do vendedor a nenhuma
indenização suplementar;

Kleber Luciano Ancioto Página 70


DIREITO CIVIL IV

 Se o Roberto (vendedor) se arrepender teria que devolver os R$


1.000,00 em dobro corrigido o Skate mais o valor do skate, não dando
direito ao comprador a nenhuma indenização suplementar.

EVICÇÃO

A evicção esta incluída dentro do Princípio da Garantia, relacionado principalmente


aos Contratos de Compra e Venda, e se traduz em duas vertentes:

o Não Existência de Defeito


o Direito transferido Bom

Sendo assim, ao celebrar um contrato de compra e venda o vendedor deve garantir


que o produto não possui defeito e se tiver teremos um vício rebditório; e que o direito
transferido é bom, ou seja, que o direito de propriedade esta sendo transferido
adequadamente, pois caso isso não ocorra, poderá ocorrer evicção.

A evicção é a perda do bem para um terceiro, por determinação judicial que reconhece
este terceiro como o real proprietário do bem anteriormente vendido. Em outras palavras,
aquele que vendeu o bem não era o verdadeiro proprietário e como a transferência de
propriedade só pode ser feita pelo proprietário, ocorre apenas à transferência de posse.

Evicto é o adquirente que perde a propriedade para um terceiro que é denominado


Evictor. Ou seja, aquele que compra e depois perde é o evicto e o terceiro que retoma ou
adquire a propriedade é o evicto.

Quando a evicção ocorre é sinal que houve violação do princípio da garantia, e o


alienante será responsabilizado, estando essa regra normatizada no Art. 447, CC.

Art. 447, CC – Nos contratos onerosos, o alienante responde pela


evicção. Subsiste esta garantia ainda que a aquisição se tenha
realizado em hasta pública

Dessa forma, a evicção se aplica apenas aos contratos onerosos, o que significa que se
alguém doar um bem a outrem que posteriormente o perde para o verdadeiro proprietário,
independentemente da doação ter sido de má fé ou boa fé, não ocorre evicção, visto que ela
não é aplicada para contratos benéficos.

Hasta Pública é um leilão judicial, realizado para vender os bens penhorados, em


outras palavras, quando um Juiz decreta a penhora de um bem, é necessário que ele seja
vendido e essa venda é realizada através de Hasta Pública. Quando o bem é vendido nós
dizemos que ele foi arrematado e o dinheiro é utilizado para pagar a dívida que o devedor
tinha com o credor que requereu a penhora.

A evicção pode ocorrer também nos casos de bens adquiridos em Hasta Pública, ou
seja, pode acontecer de alguém comprar algo no leilão judicial e depois descobrir que aquele

Kleber Luciano Ancioto Página 71


DIREITO CIVIL IV

bem não era do devedor. Quando isso ocorre se o verdadeiro proprietário entrar com uma
ação provando que a propriedade sobre o bem leiloado, tudo é anulado e o bem deve ser
devolvido, ou seja, mesmo existindo um Juiz abalizando a transferência do bem não houve a
efetiva transferência de propriedade.

Um problema prático que a doutrina ainda diverge, é contra quem o evicto deverá
entrar com a ação no caso do bem adquirido em Hasta Pública. Fato é que se entrar contra o
devedor que alegou ser o verdadeiro proprietário não resolverá o problema, visto que muito
provavelmente ele não tenha nada para penhorar, dessa forma, parte da doutrina defende
que o evicto deverá entrar com a ação contra o credor, que recebeu o dinheiro do bem
leiloado para que ele o devolva e a obrigação anterior que tinha levado a penhora do bem que
havia sido leiloado reestabelecesse.

Com isso podemos concluir que nem sempre comprar em um leilão judicial é seguro,
visto que pode ocorrer evicção.

Outro detalhe importante é que a evicção não necessariamente se refere a perda da


propriedade para um terceiro que seja o proprietário, podendo ocorrer também para um
terceiro que não é o proprietário, como, por exemplo, no caso de um veículo que é apreendido
por estar com o chassis adulterado (perda do bem para o Estado).

Exercício

 João adquire um veículo em Hasta Pública em uma execução promovida por “X” contra
“Y”. Posteriormente o veículo é apreendido pela polícia porque estava com número do
motor e chassi adulterados.

o Neste caso o que João pode fazer?


 Neste caso João perdeu o veículo para o Estado, caracterizando
evicção, portanto ele poderá entrar com uma ação contra o credor da
execução “X” para reaver o dinheiro pago no leilão. Há correntes
doutrinarias que defendem ainda que ele poderia entrar contra o
devedor da execução “Y” ou contra o próprio Estado.

o E se João tivesse recebido o carro de presente de “Y” e depois o tivesse


perdido por conta da adulteração?
 Se fosse um presente, não cabe evicção, pois teríamos um contrato
benéfico e evicção só cabe em contratos onerosos.

A evicção independe da boa fé do alienante, ou seja, ainda que o vendedor do bem


não saiba do vício, ele será responsabilizado caso ocorra evicção. O que também vale para o
contrato benéfico, visto que, mesmo que o indivíduo esteja de má fé (doando algo que não
seja de sua propriedade), por evicção o adquirente não pode exigir nada, no entanto, devido
ao ato ilícito existe a possibilidade de responsabilização extracontratual.

Kleber Luciano Ancioto Página 72


DIREITO CIVIL IV

 O que se pode exigir caso ocorra evicção?

Pode-se cobrar o que consta no Art. 450, CC.

Art. 450, CC – Salvo estipulação em contrário, tem direito o evicto,


além da restituição integral do preço ou das quantias que pagou: I - à
indenização dos frutos que tiver sido obrigado a restituir; II - à
indenização pelas despesas dos contratos e pelos prejuízos que
diretamente resultarem da evicção; III - às custas judiciais e aos
honorários do advogado por ele constituído.

o Indenização dos Frutos

Se o indivíduo compra uma fazenda de Cacau e depois descobre que a fazenda não era
do indivíduo que vendeu, ocorrendo evicção, o alienante além do valor da propriedade terá
que restituir os frutos que o adquirente colheu e teve que ressarcir ao verdadeiro proprietário.

o Custas Contratuais e Judiciais

Na verdade o alienante terá que restituir todos os prejuízos que o evicto teve com a
evicção.

 Quanto vale o bem perdido por evicção?

Imaginemos um indivíduo que compra uma fazenda por R$ 50.000,00, passado algum
tempo a fazenda esta valendo R$ 200.000,00 e se descobre que ela não podia ser vendida, por
ser terra devoluta, ocorrendo evicção.

Dentre as coisas que se pode exigir do alienante, há a restituição do valor do bem, só


que neste caso houve uma valorização referente ao que havia sido pago no momento da
venda, para solucionar este problema temos a normatização do Parágrafo único do Art.
450, CC.

Art. 450, Parágrafo único, CC – O preço, seja a evicção total ou


parcial, será o do valor da coisa, na época em que se evenceu, e
proporcional ao desfalque sofrido, no caso de evicção parcial.

Ou seja, o valor que deve ser tomado como referencia para a indenização é do
momento em que houve a evicção, ou seja, o momento em que se evenceu, salvo se houver
desvalorização, quando então deverá ser utilizado o valor pago na época da alienação.

 Evicção Total ou Parcial

Kleber Luciano Ancioto Página 73


DIREITO CIVIL IV

É possível que o indivíduo perca somente uma parte do bem e nestes casos, para ser
indenizado, será utilizado também o valor da época em que se evenceu se houver valorizado
desde a alienação.

 Desfazimento do Negocio vs Evicção Parcial

Art. 455, CC – Se parcial, mas considerável, for a evicção, poderá o


evicto optar entre a rescisão do contrato e a restituição da parte do
preço correspondente ao desfalque sofrido. Se não for considerável,
caberá somente direito a indenização.

Dessa forma é possível o desfazimento do negócio, desde que se prove judicialmente


que a evicção foi relevante.

Sendo assim, se uma fazenda possui 100 alqueires e o indivíduo perde 5 por evicção,
muito provavelmente ele não poderá exigir o desfazimento do negócio, podendo exigir apenas
uma indenização por aquilo que perdeu, salvo se ficar comprovado que os 5 alqueires perdidos
são relevantes para o valor da fazenda.

07/10/2014

Evicção ocorre quando alguém adquire um bem de forma onerosa e depois vem a
perder geralmente por ordem judicial que atribui a real propriedade a uma terceira pessoa.

Isso acontecendo o evicto possui direito de ingressar com uma ação contra aquele que
lhe vendeu o bem, e o Art. 450, CC, elenca tudo que pode ser pedido nestes casos. Na prática
acontece muito evicção com veículo usado que é proveniente de furto.

Vimos que se o bem valorizar até o momento da evicção o evicto, em regra, poderá
exigir o valor da coisa na época em que ela evenceu (Art. 450, Parágrafo único, CC), só que
se acontecer o inverso a doutrina e jurisprudência entende que o evicto poderá exigir o valor
que pagou no bem, ou seja, se alguém tiver que arcar com prejuízo será sempre o alienante.

 Desvalorização do Bem por Deterioração

Art. 451, CC – Subsiste para o alienante esta obrigação, ainda que a


coisa alienada esteja deteriorada, exceto havendo dolo do adquirente.

Este artigo traz o mesmo raciocínio que vimos anteriormente, ou seja, se o bem esta
valendo menos, mesmo que por deterioração que ocorreu por culpa do adquirente, ele
continuará podendo exigir uma indenização no valor pago originalmente, salvo se ocorrer por
dolo do adquirente.

Kleber Luciano Ancioto Página 74


DIREITO CIVIL IV

Dessa forma, se a deterioração for decorrente de dolo do adquirente, ele poderá exigir
apenas o valor do bem deteriorado.

 Adquirente que Aufere Lucro com a Deterioração

Pode ocorrer, do adquirente auferir lucro com a deterioração. Imaginemos um caso


em que um indivíduo adquira uma casa por R$ 2.000,00, mas no momento em que ocorreu a
evicção ela estava valendo R$ 1.500,00, porque ele (adquirente) retirou as telhas do imóvel e
as vendeu por R$ 200,00, ou seja, neste caso, essa deterioração proporcionou um valor para o
adquirente.

Nesta situação, o adquirente não pode ter prejuízo, mas também não pode auferir
lucro com a evicção, dessa forma, se ele gastou R$ 2.000,00, terá que ser ressarcido nesse
valor, portanto, considerando que ele já recebeu R$ 200,00, ele poderá exigir apenas R$
1.800,00 do alienante. Esta regra esta regulada no Art. 452, CC.

Art. 452, CC – Se o adquirente tiver auferido vantagens das


deteriorações, e não tiver sido condenado a indenizá-las, o valor das
vantagens será deduzido da quantia que lhe houver de dar o alienante.

 Benfeitorias

O legislador aprofundou o assunto e previu a hipótese do adquirente fazer benfeitorias


no bem, valorizando-o e depois acontecer à evicção.

Nestes casos, sabemos que a regra é que o alienante deveria indenizar o evicto pelo
valor do bem no momento em que evenceu, ou seja, o valor do bem valorizado. No entanto,
pode acontecer do terceiro que recuperou o bem, indenizar o evicto pelas benfeitorias na
mesma ação que o reconheceu como real proprietário e neste caso o evicto poderá cobrar
apenas a diferença do alienante. Esta regra encontra-se nos Arts. 453 e 454, CC.

Art. 453, CC – As benfeitorias necessárias ou úteis, não abonadas ao


que sofreu a evicção, serão pagas pelo alienante.

Art. 454, CC – Se as benfeitorias abonadas ao que sofreu a evicção


tiverem sido feitas pelo alienante, o valor delas será levado em conta
na restituição devida.

 Disposição de Forma Diversa

Evicção não é uma norma de ordem pública, o que significa que a cláusula que regula a
evicção em um contrato pode ser modificada pelas partes, em outras palavras, as partes
podem convencionar, por exemplo, que o alienante se responsabiliza pelo valor em dobro
pago pelo adquirente, caso ocorra evicção, ou ainda podem diminuir o valor de sua
responsabilização e até excluir a sua responsabilidade, estando esse fato expressamente
autorizado pelo artigo abaixo.

Kleber Luciano Ancioto Página 75


DIREITO CIVIL IV

Art. 448, CC – Podem as partes, por cláusula expressa, reforçar,


diminuir ou excluir a responsabilidade pela evicção.

Apesar do Art. 448, CC, permitir que as partes excluam a responsabilidade do


alienante pela evicção o legislador parece que ficou com a consciência “pesada” e então ele
crio o Art. 449, CC, transcrito abaixo:

Art. 449, CC – Não obstante a cláusula que exclui a garantia contra a


evicção, se esta se der, tem direito o evicto a receber o preço que
pagou pela coisa evicta, se não soube do risco da evicção, ou, dele
informado, não o assumiu.

Ou seja, mesmo que exista uma cláusula de exclusão de responsabilidade pela evicção,
o adquirente terá direito a ser restituído do valor que pagou, mesmo tendo assinado o
contrato, desde que fique provado que ele não foi cientificado do risco que estava correndo ao
assinar o contrato com tal cláusula de exclusão.

Podemos imaginar essa situação nos contratos de adesão, em que o consumidor


precisa dar anuência da exclusão da garantia contra evicção em um contrato padrão, pré-
fixado, sem possibilidade de discussão das cláusulas e muitas vezes, ele nem sabia o que se
trata evicção e nestes casos, o evicto poderá exigir apenas o ressarcimento daquilo que pagou
(não cabe perdas e danos).

- não soube do risco da evicção, ou, dele informado, não o assumiu – é difícil
entender como alguém é informado do risco assina o contrato e mesmo assim não assumiu o
risco, ficando até difícil exemplificarmos.

 Boa Fé e Coisa Litigiosa

Para que o evicto tenha direito de exigir tudo que esta previsto no caso de evicção, é
necessário que ele no momento da aquisição não soubesse que o bem era de um terceiro.
Normatizado no artigo abaixo:

Art. 457, CC – Não pode o adquirente demandar pela evicção, se sabia


que a coisa era alheia ou litigiosa.

Dessa forma, nos casos onde um indivíduo compra um bem por um valor muito abaixo
do valor de mercado, fica claro que ele possui conhecimento que aquele bem não pertence ao
alienante, tendo grande chance de ser objeto de furto ou roubo e se futuramente ele vier a
perdê-lo por evicção, não poderá exigir nada, podendo inclusive ser processado por
receptação, o mesmo ocorre se o bem é objeto de litígio.

Objeto de litígio é aquele bem que é objeto de uma ação judicial em que as partes
estão discutindo quem é o verdadeiro proprietário.

Dessa forma, se um adquirente sabendo que o bem é litigioso, assume o risco de


adquiri-lo de uma ou de outra parte, poderá perder o bem por evicção e não poderá exigir
nada daquele que o vendeu.

Kleber Luciano Ancioto Página 76


DIREITO CIVIL IV

 Denunciação da Lide

Quando há uma ação, temos a petição inicial que provém do autor da ação e o réu se
defende com a contestação. É possível que, além da contestação, o réu faça a denunciação da
lide, que nada mais é que chamar para o processo uma terceira pessoa (o denunciado).

O exemplo mais clássico em que aparece a denunciação da lide é no caso do seguro,


imaginemos que “A” colida em “B”, que entra com uma ação pedindo uma indenização, ocorre
que “A” possui um seguro contra terceiros, ou seja, a seguradora possui obrigação contratual
de pagar o prejuízo causado por “A” no carro de “B”.

Sendo assim, uma vez “B” entrando com uma ação de indenização contra “A”,
certamente este último irá perder, visto que ele teve culpa na colisão, sendo necessário depois
que “A” entre com uma ação contra a seguradora para que ela o restitua, dessa forma, para
que não ocorra a necessidade de duas ações, o Código de Processo Civil, permite que a
seguradora seja chamada no primeiro processo, sendo necessário apenas que “A” faça a
denunciação da lide chamando a seguradora para o processo.

Neste caso, quando o Juiz julgar o processo ele terá que julgar as duas relações
jurídicas, por exemplo, primeiro ele precisa julgar procedente ou improcedente a restituição
do réu para o autor e em seguida julgar procedente ou improcedente que a seguradora em
nome do réu arque com os prejuízos do autor.

Sabendo disso, vejamos o artigo abaixo:

Art. 456, CC – Para poder exercitar o direito que da evicção lhe


resulta, o adquirente notificará do litígio o alienante imediato, ou
qualquer dos anteriores, quando e como lhe determinarem as leis do
processo. Parágrafo único. Não atendendo o alienante à
denunciação da lide, e sendo manifesta a procedência da evicção,
pode o adquirente deixar de oferecer contestação, ou usar de
recursos.

Isso significa que se o adquirente comprou um carro e um terceiro ingressa com uma
ação dizendo que o carro é dele, teremos um caso típico de evicção, e de acordo com o Art.
456, CC, o evicto deve, na mesma ação em que ele é demandado pelo evictor, fazer a
denunciação da lide ao alienante, ficando tudo em uma única ação.

Dessa forma, o Juiz quando der a sentença, condenará o adquirente a devolver o carro
para o terceiro que era o verdadeiro proprietário e também condenará o alienante a indenizar
o evicto do prejuízo que ele teve.

Pelo Art. 456, CC, se entende que a denunciação da lide é algo obrigatório para que se
possa pedir os direitos da evicção. E o que acontecia é que as vezes os advogados se
descuidavam e perdiam o bem primeiro para depois entrarem com outra ação cobrando as
perdas e danos do alienante. No entanto, muitos Juízes não concediam o direito as perdas e

Kleber Luciano Ancioto Página 77


DIREITO CIVIL IV

danos, justamente por causa do entendimento que o pedido deveria ser realizado por
intermédio da denunciação da lide que culminou com a perda do bem.

Atualmente, ainda prevalecesse que o pedido deve ser realizado por intermédio de
denunciação da lide, no entanto, existe uma maleabilidade da jurisprudência permitindo que
mesmo não sendo feito denunciação da lide no momento oportuno, poderá depois o
adquirente entrar com outra ação para cobrar a indenização.

Outra questão que vemos muito na prática é do alienante ter vendido o carro para um
sujeito, mas ele tinha comprado de outro, que por sua vez tinha comprado de outro, e se
pegarmos o Art. 456, CC, ele normatiza que a denunciação deve ser realizada contra o
alienante imediato, mas também contra os anteriores, ou seja, pode-se chamar todos para o
processo e alguém terá que indenizar o evicto. Da mesma maneira, se o evicto denuncia o
alienante direto, ele poderá denunciar quem vendeu para ele e assim sucessivamente,
denominado denunciações sucessivas.

Existe discussão se caso o alienante imediato não for encontrado, se o evicto poderia
denunciar os anteriores, sem denunciar o alienante direto e quanto a isso, há posicionamentos
que defendem a possibilidade como contrários a ela.

Exercício

 João adquiriu um caminhão de Pedro, que o tinha comprado de Paulo. João coloca um
para-choque novo no caminhão e este é apreendido posteriormente pelos policiais por
ser produto de furto cometido por Paulo, neste caso, o que João poderá exigir contra
Pedro, que estava de boa fé? E contra Paulo?
o Este problema é importante para nos lembrar que nem sempre a evicção
ocorre quando o verdadeiro proprietário recupera o bem, por exemplo, nessa
situação nem se sabe quem é o proprietário e o evicto perde o bem para o
Estado (Polícia).
o Sendo assim, neste caso João poderá exigir contra Pedro tudo o que esta
elencado no Art. 450, CC, podendo inclusive incluir o valor gasto no para-
choque, visto que ele entra como uma benfeitoria, visto que, os direitos
previstos no caso de evicção independem da boa fé do alienante.
o Contra o indivíduo que cometeu o furto (Paulo), caímos na história de
denunciação da lide, há quem entenda que a denunciação pode ser realizada
diretamente contra qualquer um dos alienantes e há em entenda que não,
sendo assim, há quem entenda que João poderia fazer a denunciação da lide
direto contra o Paulo e há quem entenda que só poderia entrar contra o
alienante direto, ou seja, Pedro, e ele poderia entrar contra o Paulo (Art. 456,
CC).

 O Ministério Público Ambiental ingressa com uma ação que visa demolir um rancho de
pesca construído a beira de um rio. Ciente desta ação, João adquire o imóvel.

Kleber Luciano Ancioto Página 78


DIREITO CIVIL IV

Posteriormente, a ação é julgada procedente e o imóvel é demolido. Neste caso, o que


João poderá pedir contra o vendedor?
o Neste caso, João não poderá entrar com uma ação contra quem vendeu,
porque quando o negócio foi realizado ele sabia que o bem era objeto de
litígio, dessa forma, se ele arriscou mas perdeu, não terá direito de exigir nada
(Art. 457, CC).

VÍCIOS REDIBITÓRIOS

Esta matéria é importante, sendo mais importante que evicção, pois encontramos com
mais frequência na prática.

Os vícios redibitórios estão fundados nos mesmos princípios da evicção, que é o


Principio da Garantia, ou seja, sempre que alguém aliena algo para outrem, precisa dar
garantia que o indivíduo que esta vendendo é o verdadeiro proprietário da coisa, dessa
forma, com a venda o adquirente estará recebendo o direito de propriedade.

Outra coisa que precisa ser garantido quando se aliena algo, é que a coisa alienada
não possui defeito, sendo muito parecido com a garantia que temos quando compramos um
bem em uma loja (garantia contratual). A garantia dos vícios redibitórios é semelhante a esta,
no entanto, não precisa se quer de contrato e visando garantir que a coisa esta apta a ser
utilizada para o objetivo o qual ela foi adquirida.

 Requisitos

Utilizaremos essa garantia nos contratos comutativos, que são aqueles em que o
indivíduo sabe exatamente a prestação que terá que cumprir e a contraprestação que ele
receberá. Ou seja, antecipadamente sabemos a prestação e a contraprestação.

O contrato antagonista do comutativo é o contrato aleatório, que ocorre nos contratos


de seguro, por exemplo, pois uma vez pagando um seguro não podemos afirmar que teremos
uma contraprestação.

Aplica-se também (a garantia dos vícios redibitórios) as doações onerosas, ou seja, a


doação é um contrato benéfico, só que, embora o indivíduo não imponha uma
contraprestação ao donatário, no caso das doações onerosas, o doador impõe um ônus. Por
exemplo, dizer ao filho que se ele passar no vestibular, ele ganhará um carro, neste caso, essa
doação passa a ser onerosa, pela imposição de um ônus ao donatário e sendo assim, caso o
carro venha com defeito, ele poderá exigir uma indenização.

Em resumo, aplicamos as regras da garantia contra o vício redibitório nos contratos


comutativos e nas doações onerosas.

08/10/2014

Kleber Luciano Ancioto Página 79


DIREITO CIVIL IV

Se alguém transmite alguma coisa de forma onerosa, precisa dar duas garantias, uma
se relaciona ao direito que esta sendo transmitido, visto que o alienante precisa garantir que o
direito de propriedade esta sendo transmitido junto com o bem e se acontecer alguma coisa
com o direito de propriedade gerará o direito a evicção; além de ter que garantir que o bem
não possui defeito, visto que se tiver algum defeito pode caracterizar vício redibitório e o
alienante responderá por isso.

A garantia dos vícios redibitórios cabem apenas nos contrato comutativos como
também nas doações onerosas.

 Continuação dos Requisitos

Então, além do contrato ter que ser comutativo ou a doação ser onerosa, é necessário
também:

o Que o defeito seja oculto

Como critério para definirmos o que é ou não “oculto” é sempre o homem médio. No
caso da aquisição de um carro velho, por exemplo, um homem médio deve tomar o cuidado
de levar o carro a um mecânico, dessa forma, se o adquirente não toma este cuidado e compra
o carro sem leva-lo em um mecânico e depois descobre um defeito que facilmente seria
descoberto por um, não podemos considerar que o defeito era oculto.

o O defeito deve prejudicar o uso ou diminuir o valor da coisa adquirida

Somente este tipo de defeito dará ensejo a garantia do vício redibitório e neste caso
temos que analisar o caso concreto. Por exemplo, se alguém adquire um cavalo pra ser
reprodutor, mas ele é estéril, não servirá para o objetivo que foi adquirido, portanto, seria
considerado um vício redibitório, no entanto, se o mesmo cavalo fosse adquirido para corrida,
como o defeito não atrapalha o motivo pelo qual ele foi comprado, não caracterizaria o vício
redibitório.

Na verdade, utilizamos como referencial se o adquirente soubesse do defeito, se ele


teria comprado.

Art. 441, CC – A coisa recebida em virtude de contrato comutativo


pode ser enjeitada por vícios ou defeitos ocultos, que a tornem
imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor.
Parágrafo único. É aplicável a disposição deste artigo às doações
onerosas.

o Preexistência do vício

Kleber Luciano Ancioto Página 80


DIREITO CIVIL IV

Ou seja, se o indivíduo adquire um cavalo de raça, fica com ele durante um tempo, e
de repente ele morre devido a uma doença genética, seria o caso de vício redibitório, mas se
ele morrer em decorrência de uma pneumonia que apareceu e ocorreu depois da realização
do contrato, não caracterizaria o vício redibitório.

Dessa forma, o defeito precisa ser preexistente para caracterizar o vício redibitório.

A comprovação da pré-existência do vício, é bem complicada principalmente nos casos


que envolvem a aquisição de veículos velhos, pois se imaginarmos um indivíduo que adquira
um Corcel 72, é natural o desgaste do veículo, sendo um mérito ele não ter fundido o motor
com tantos anos de utilização, dessa forma, se ele fundir logo após a alienação teremos que
considerar que faz parte da natureza do veículo, ao analisarmos a sua vida útil.

A grande dificuldade de quem vai pedir a indenização por vício redibitório é provar
todos os requisitos, principalmente no que se refere a preexistência do vício e como o ônus da
prova é de quem alega, será responsabilidade do adquirente.

 Ações Edilícias

Uma vez acontecendo o vício redibitório, o que se pode pedir do alienante está
previsto no Art. 441 e 442, CC, através das ações edilícias.

Art. 441, CC – A coisa recebida em virtude de contrato comutativo


pode ser enjeitada por vícios ou defeitos ocultos, que a tornem
imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor.
Parágrafo único. É aplicável a disposição deste artigo às doações
onerosas.

Art. 442, CC – Em vez de rejeitar a coisa, redibindo o contrato (art.


441), pode o adquirente reclamar abatimento no preço.

As ações que cabem no caso de vícios redibitórios são duas: Ação Redibitória e Ação
Estimatória (Quanti minoris).

A Ação Redibitória serve para que o adquirente requeira o desfazimento do negócio,


ou seja, quando ele deseja redibir o negócio, ao passo que a Ação Estimatória ou Quanti
minoris, se presta para o adquirente exigir um abatimento no valor da coisa, por ela ter
apresentado defeito, sem, no entanto, desfazer o negócio.

 Boa Fé vs Má Fé

Art. 443, CC – Se o alienante conhecia o vício ou defeito da coisa,


restituirá o que recebeu com perdas e danos; se o não conhecia, tão-
somente restituirá o valor recebido, mais as despesas do contrato.

Dessa forma, se o alienante tiver agido com má fé, ou seja, conhecia o vício e fez o
negócio, além dele ficar sujeito a redibição (desfazimento do contrato) ficará também sujeito a

Kleber Luciano Ancioto Página 81


DIREITO CIVIL IV

cobrir as perdas e danos do adquirente, o que não acontece se o alienante tiver agido com boa
fé e não sabia do defeito.

Este artigo só faz referencia para as Ações Redibitórias, mas a doutrina faz uma leitura
extensiva e o aplica também nos casos das Ações Estimatórias, ou seja, o adquirente pode
manter o contrato, pedir um abatimento no valor do bem e ainda requerer perdas e danos
também.

 Tratamento Individualizado

Art. 503, CC – Nas coisas vendidas conjuntamente, o defeito oculto e


uma não autoriza a rejeição de todas.

Dessa forma, se alguém adquire 50 cabeças de gado e apenas um deles apresenta um


vício redibitório, o adquirente não poderá redimir o contrato inteiro, ocorrendo um
tratamento individualizado.

 Disposição de Forma Diversa

Da mesma forma que na evicção, aqui também a cláusula de vício redibitório comporta
exclusão, diminuição ou ampliação.

Não é válida, no entanto, a cláusula de exclusão de responsabilidade de vício


redibitório para o Código de Defesa do Consumidor, dessa forma, se o indivíduo comprar um
veículo em uma garagem vale o previsto no Código de Defesa do Consumidor sendo a cláusula
que exclui a responsabilidade nula, mas se o alienante for uma pessoa física qualquer a
cláusula é considerada válida.

 Responsabilidade do Alienante

Art. 444, CC – A responsabilidade do alienante subsiste ainda que a


coisa pereça em poder do alienatário, se perecer por vício oculto, já
existente ao tempo da tradição.

Aqui cabe o exemplo que utilizamos do cavalo que possui uma doença genética e que
só se manifesta depois de algum tempo na mão do adquirente, mas como ela já era
preexistente ao contrato, valerá a garantia dos vícios redibitórios.

 Hasta Pública

Quando estudamos evicção vimos que o bem vendido em Hasta Pública possui
garantia da evicção, ou seja, o indivíduo que perde o bem posteriormente possui direito a ser
indenizado.

Kleber Luciano Ancioto Página 82


DIREITO CIVIL IV

Com relação ao vício redibitório, o Código de 1916 trazia expresso que não cabia
alegação de vício redibitório em Hasta Pública, no entanto, o Código de 2002 não repetiu tal
artigo, permanecendo sem disciplinar o assunto, sendo assim, há entendimento dos dois
lados: doutrinadores que defendem que há a garantia e outros que defendem que não, mas
para não haver dúvidas, geralmente nos editais dos leilões já consta que não há garantia
contra vícios redibitórios.

 Prazo

Aqui veremos quanto tempo o adquirente possui para reclamar a garantia dos vícios
redibitórios.

Art. 445, CC – O adquirente decai do direito de obter a redibição ou


abatimento no preço no prazo de trinta dias se a coisa for móvel, e de
um ano se for imóvel, contado da entrega efetiva; se já estava na
posse, o prazo conta-se da alienação, reduzido à metade.

Segundo o Código Civil o adquirente decai no direito, o que significa que estamos
diante de um prazo decadencial e sendo assim ele não sofre interrupções e nem suspenções,
portanto, transcorrido o prazo acaba o direito de reclamar o direito.

O prazo estipulado pelo legislador é de 30 dias da entrega para reclamar algum defeito
no caso de bem móvel, enquanto que nos casos dos bens imóveis o prazo é de 1 ano.

Sempre que o defeito ocorrer dentro do período de 30 dias (para bens móveis) ou de 1
ano (para imóveis), a reclamação deve acontecer ainda dentro do período, dessa forma, se o
defeito de um veículo ocorrer 29 dias depois da entrega o adquirente terá apenas 1 dia para
reclamar. O termo inicial para contagem do prazo decadencial é a data de entrega do bem.

O artigo ainda normatiza que se o adquirente já estava na posse do bem, o prazo


decadencial cai pela metade. O raciocínio disso é que se o adquirente já estava na posse do
bem móvel ou imóvel ele já teve condições de averiguar se o bem apresentava algum defeito,
por isso o prazo é reduzido.

No Código de Defesa do Consumidor possui um prazo diferenciado, sendo de 90 dias


para produtos duráveis e 30 dias para não duráveis.

Sabendo dessa regra, se pensarmos no cavalo que ao ser adquirido já possuía um


defeito genético que só apareceu tempos depois, não seria possível o adquirente reclamar
dentro do período estipulado pelo artigo. Em outras palavras, pode acontecer do defeito ser
oculto, preexistente, mas se manifestar somente posteriormente de decorrido o prazo
decadencial. Nestas situações, teremos que aplicar a regra do §1° do Art. 445, CC.

Art. 445, § 1o, CC – Quando o vício, por sua natureza, só puder ser
conhecido mais tarde, o prazo contar-se-á do momento em que dele
tiver ciência, até o prazo máximo de cento e oitenta dias, em se
tratando de bens móveis; e de um ano, para os imóveis.

Kleber Luciano Ancioto Página 83


DIREITO CIVIL IV

Literalmente, neste artigo, o legislador normatizou que se o defeito aparecer depois do


prazo decadencial, se for bem móvel o adquirente possuirá mais 180 dias para reclamar e se
for imóvel terá mais 1 ano. Mas, com essa interpretação literal, nós nunca teríamos um termo
final para a garantia, tornando-a eterna, pois não importa o tempo que levar para o defeito
aparecer o adquirente terá sempre mais um tempo para reclamar seus direitos.

Procurando corrigir essa interpretação, existe um posicionamento que o CJF (Conselho


Justiça Federal) que editou o enunciado número 174 reanalisando o sentido da palavra “até”
no referido parágrafo.

Enunciado 174, CJF – Art. 445: Em se tratando de vício oculto, o


adquirente tem os prazos do caput do art. 445 para obter redibição ou
abatimento de preço, desde que os vícios se revelem nos prazos
estabelecidos no parágrafo primeiro, fluindo, entretanto, a partir do
conhecimento do defeito.

Dessa forma, o adquirente possui direito de reclamar seus direitos decorrentes do


vício redibitório mesmo que ele apareça depois dos 30 dias, mas que não exceda os 180 dias
no caso de bem móvel e 1 ano no caso de bens imóveis. Uma vez aparecendo o defeito dentro
deste prazo máximo, o adquirente teria mais 30 dias para reclamar no caso de bem móvel e 1
ano no caso de bem imóvel.

Existe outra corrente que defende que no caso de bem móvel, o adquirente possuiria
no máximo 180 dias para reclamar, o que significa que se o defeito se manifestar com 150
dias, o adquirente teria o prazo de 30 dias para reclamar (totalizando 180 dias), agora se o
defeito se manifestar com 170 dias, o adquirente teria apenas 10 dias para reclamar
(totalizando os mesmos 180 dias). No caso do bem imóvel, para essa corrente, vale o mesmo
raciocínio, no entanto, com prazo máximo de 1 ano para reclamar.

A maioria dos casos em que os indivíduos perdem a garantia dos vícios redibitórios é
devido a decadência, por isso, é muito importante termos em mente todas estas teorias,
principalmente as duas primeiras que são as mais aceitas pela doutrina e jurisprudência.

Com relação aos vícios em relação a venda de animais, o §2° do Art. 445, CC,
normatiza que o prazo deve ser definido por Lei Especial ou na falta dela prevalecer os
costumes regionais. Então, nesta situação se não existir Lei Especial e ficar provado que existe
um costume, ele prevalecerá em relação as regras do Código Civil.

Art. 445, § 2o, CC – Tratando-se de venda de animais, os prazos de


garantia por vícios ocultos serão os estabelecidos em lei especial, ou,
na falta desta, pelos usos locais, aplicando-se o disposto no parágrafo
antecedente se não houver regras disciplinando a matéria.

Dessa forma, no caso de venda de animais o legislador foi expresso em afirmar que o
costume vale mais que as regras previstas no próprio Código.

 Prazo contratual

Kleber Luciano Ancioto Página 84


DIREITO CIVIL IV

Ao adquirirmos um veículo de um sujeito qualquer e ele garantir o bom


funcionamento do bem por 6 meses, essa garantia é contratual, só que além dela nós temos a
garantia legal contra os vícios redibitórios que são os 30 dias previstos no Caput do Art. 445,
CC.

Com relação as garantias contratuais e legais do vício redibitório, o Art. 446, CC traz
uma exceção com relação ao prazo decadencial da garantia legal, que em regra não poderia
ser suspenso, mas neste caso ocorre a suspensão, pois primeiro correrá o prazo da garantia
contratual, para depois começar a correr a garantia legal, sendo, portanto, garantias
sucessivas.

Art. 446, CC – Não correrão os prazos do artigo antecedente na


constância de cláusula de garantia; mas o adquirente deve denunciar o
defeito ao alienante nos trinta dias seguintes ao seu descobrimento,
sob pena de decadência.

Importante salientar que o adquirente deverá anunciar o defeito ao alienante nos


trinta dias seguintes ao seu descobrimento, sob pena de decadência total, em outras palavras,
sob pena de perder tanto a garantia contratual como a legal.

 Vício Redibitório vs Erro (Vício de Consentimento)

No Erro, o adquirente imagina que esta adquirindo uma coisa e na verdade esta
adquirindo outra ou imagina que esta realizando um negócio jurídico quando na verdade esta
realizando outro, ou seja, o bem ou o negócio jurídico não possui defeito algum, havendo um
vício de consentimento. O erro é subjetivo, esta na cabeça do adquirente e neste caso ele terá
até 4 anos para propor a ação de anulação do negócio jurídico.

No caso de Vício Redibitório, aparentemente ocorre a mesma coisa, mas aqui na


verdade o defeito esta no bem adquirido, ou seja, o adquirente adquiriu o bem que ele queria,
não há vício de consentimento, pois não houve erro algum com relação a isso, no entanto, o
bem apresentou defeito não se prestando para sua função ou diminuindo seu valor. Aqui,
portanto, o problema é objetivo, esta no bem adquirido. Neste caso, as ações que cabem são
as Edilícias, podendo tanto desfazer o negócio (Ação Redibitória) como pedir um abatimento
do valor do bem (Ações Estimatórias ou Quanti minoris).

21/10/2014

PRINCÍPIOS CONTRATUAIS

A partir dos princípios é que são elaboradas todas as demais regras, pois eles são o
objetivo maior.

Kleber Luciano Ancioto Página 85


DIREITO CIVIL IV

 Princípio da Autonomia das Vontades

Surgiu no início do século XIX, com o liberalismo econômico que buscava que o Estado
intervisse o mínimo possível na vida dos indivíduos, dessa forma, o Estado não deveria intervir
nos contratos.

Este princípio acabou sendo acolhido pelo Código Civil Alemão e o Código Civil Francês,
e nosso Código Civil de 1916 como têm como base o Código Civil Francês também acolheu este
principio para os contratos.

Ele pode ser analisado sob três aspectos diferentes:

o Realizar ou não o contrato

Dessa forma, se surgir um caso prático de um indivíduo que esta sendo obrigado a
celebrar um contrato, devido o princípio da autonomia da vontade, o contrato não pode ser
considerado válido.

o Com quem contratar

O indivíduo não pode ser obrigado a contratar com alguém, ou seja, o indivíduo
precisa ter liberdade de escolha.

o Faculdade de escolher o conteúdo do contrato

Iremos estudar 23 espécies de contratos que constam no Código Civil, mas as partes
poderão criar um contrato diferente destes preestabelecidos e esta disponibilidade faz parte
da autonomia da vontade, não podendo apenas o contrato contrariar a ordem pública.

Existe neste caso o Art. 425, CC, que normatiza que é lícito as partes celebrarem
contratos atípicos, visto que, os 23 modelos de contratos previstos no Código são considerados
típicos e qualquer outro criado pelas partes são denominados atípicos.

Art. 425, CC - É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas


as normas gerais fixadas neste Código.

E mais, o legislador nos contratos típicos traz regras supletivas, subsidiárias, visto que
elas serão aplicadas somente quando o contrato for omisso, dessa forma, como o direito é
disponível as partes poderão dispor de forma contrária a regra geral do Código.

Exercício

 João casa-se com Maria mediante a celebração de um pacto antenupcial com o regime
de casamento de separação total de bens. Depois, Maria ganha uma fortuna na Mega

Kleber Luciano Ancioto Página 86


DIREITO CIVIL IV

Sena, pede divorcio, deixando João na miséria. É viável que João ingresse com uma
ação visando obter metade do premio recebido por Maria?

o O pacto antenupcial que define o regime de casamento é um contrato e se as


partes forem omissas a Lei definirá um regime, no entanto, uma vez optando
por um dos regimes não é possível alterara-lo, dessa forma, não é viável que
ele ingresse com uma ação, pois o regime de casamento será aquele
convencionado com base na autonomia das vontades.

 Princípio da Função Social dos Contratos

Art. 421, CC – A liberdade de contratar será exercida em razão e nos


limites da função social do contrato.

Quando não há paridade entre as partes, acaba que uma impõe a sua vontade sobre a
outra. Ou seja, muitas vezes uma das partes não possui alternativa com quem contratar ou
para escolher o conteúdo do contrato, dessa forma, a autonomia de vontade acaba ficando
cerceada.

Isso não acontece apenas com os contratos, antigamente o direito de propriedade era
absoluto, visto que, o indivíduo podia fazer o que bem entendesse com sua propriedade,
atualmente, no entanto, há a necessidade de se observar a função social da propriedade, ou
seja, a propriedade agora não atende apenas os interesses particulares do proprietário, mas
também o interesse da sociedade.

Com os contratos ocorre a mesma coisa, ele também precisa cumprir sua função
social, daí surgiu o Princípio da Função Social dos Contratos, que veio mitigar o Princípio da
Autonomia das Vontades.

Dessa forma, o Estado, normalmente através de Leis ou Regulamentos, passa a


interferir nos contratos realizados pelos particulares, atuando nas três esferas da autonomia
de vontade.

- Realizar ou Não Contrato - Se o indivíduo quiser circular com um veículo atualmente


ele terá que pagar o Seguro Obrigatório que é um contrato, ou seja, o Estado obriga os
proprietários de veículos a contratarem. E é assim porque em caso de acidentes os indivíduos
na maioria das vezes são atendidos pelo SUS e quem paga, portanto, é toda a sociedade
através dos impostos, dessa forma, o Estado cria uma Lei obrigando todo proprietário a ter um
seguro para minimizar o gasto da sociedade.

- Com quem Contratar - O serviço postal é de interesse nacional, por isso o Estado
preferiu manter o monopólio do setor, dessa forma, se alguém quiser enviar um Sedex só
poderá escolher os Correios, visto que não há outro.

- Escolha do Conteúdo dos Contratos - Na maioria dos contratos de relação de


consumo, o consumidor fica submetido as cláusulas dos Contratos de Adesão e como a maioria
da população é consumidora, o Estado criou uma Lei (Código de Defesa do Consumidor), para
mexer no conteúdo destes contratos, visto que, ele também deve cumprir também a função

Kleber Luciano Ancioto Página 87


DIREITO CIVIL IV

social. A expressão “Dirigismo Contratual”, nada mais é do que a forma que o Estado age para
implementar a função social dos contratos, acabando com a ideia de direito absoluto da
autonomia das vontades.

Exercício

 João, com 50 anos de idade realiza um seguro de vida com a seguradora “X”. Fica
estabelecida uma cláusula que dispõe que o contrato possui vencimento anual, mas
será renovado automaticamente a cada ano caso as partes não se manifestem em
sentido contrário. Depois de 40 anos de contrato a seguradora comunica João que não
possui mais interesse na renovação do contrato. Neste caso, João possui direito a
renovação?
o Estes casos são muito comuns na pratica, principalmente envolvendo planos
de saúde, pois as operadoras com o passar dos anos passam a subir
excessivamente o valor do plano e excluir a cobertura de certas doenças que
anteriormente eram cobertas.
o No caso exemplificado no exercício, o advogado da seguradora certamente
alegará a autonomia da vontade, visto que o cliente sabia que o contrato
vencia a cada ano e que ele poderia a qualquer momento não ser renovado
por vontade de qualquer uma das partes. Agora estando do lado do cliente, o
advogado deverá alegar que o contrato deve cumprir sua função social, visto
que o indivíduo que contrata um seguro possui o objetivo que se em algum
momento ele precisar, estará amparado por ele, não sendo justo, portanto, o
cliente pagar por 40 anos sem ter nenhuma contraprestação da seguradora e
no momento em que aumentam as chances dele precisar a seguradora
simplesmente não renovar o contrato.
 Perceba que se fossemos seguir a regra normatizada, o cliente não
teria como se contrapor a decisão da seguradora, pois o contrato
estabelecia essa possibilidade, no entanto, nestes casos precisamos
afastar as normas e aplicarmos os princípios para nos aproximarmos
de uma condição mais justa para as partes.

 Princípio do Consensualismo

Não existe contrato com a manifestação de vontade de uma parte apenas. Até mesmo
no DPVAT, que é obrigatório, o sujeito precisa concordar com o seu conteúdo. Por isso, cerca
de 90% dos Contratos são consensuais, ou seja, com convergências de vontades.

A exceção a essa regra, são os Contratos Reais, que precisam além da convergência de
vontades, a entrega da coisa para que ele exista. Os contratos de comodato são exemplos
desse tipo de Contrato, dessa forma, se um indivíduo combina com outro de emprestar um
imóvel, este Contrato só existirá quando houver a entrega real da coisa.

Kleber Luciano Ancioto Página 88


DIREITO CIVIL IV

 Princípio da Relatividade

Acabamos de estudar que para os Contratos existirem há a necessidade da


convergência de vontade de duas ou mais pessoas, agora essas pessoas não podem criar
obrigações para alguém que não faz parte dessa relação contratual devido ao principio da
relatividade, ou seja, o contrato só é relativo aos contratantes.

Exercício

 João aluga uma casa a Pedro, porém a conta de energia elétrica permanece em nome
de João. Pedro é despejado do imóvel e a energia elétrica é cortada por falta de
pagamento. Neste caso, João pode pleitear o reestabelecimento do serviço, exigindo
que o débito seja cobrado de Pedro?
o Quando o proprietário (João) pediu para ligar a energia na casa ele celebrou
um contrato, com convergência de vontades que o vinculou a distribuidora de
energia e vice versa.
o Quando o locatário (Pedro) alugou a casa, houve a celebração de outro
contrato, também com convergência de vontades que o vinculou ao locador, e
vice versa.
o Como estamos diante de dois contratos diferentes, segundo o principio da
relatividade, que determina que o contrato vincula somente as partes, João
não poderá utilizar o contrato de locação para vincular Pedro ao contrato
realizado com a distribuidora de energia, em outras palavras, o contrato de
locação só vincula o locador e locatário, não podendo criar direitos e
obrigações na relação contratual locador e distribuidora de energia.

 Princípio da Obrigatoriedade

A expressão “o contrato faz lei entre as partes”, em latim “pacta sunt servanda“
resumem o princípio da obrigatoriedade.

Uma vez possuindo a autonomia de vontade as partes são livres para celebrar
contratos, no entanto, uma vez celebrando-o passam a ser obrigatórios e o Estado fará tudo
para que as partes o cumpram.

Dessa forma, os indivíduos são livres até celebrarem os contratos, mas, uma vez
realizado, as partes estarão sujeitas a responsabilidade civil pelo não cumprimento.

Por conta deste princípio nem mesmo o Estado pode interferir nos contratos, existindo
apenas uma exceção que advém do Princípio da Onerosidade Excessiva.

22/10/2014

Kleber Luciano Ancioto Página 89


DIREITO CIVIL IV

 Princípio da Onerosidade Excessiva

Surgiu no contexto da Primeira Guerra Mundial, onde vigia a autonomia da vontade e


a obrigatoriedade dos contratos, mas as empresas não estavam conseguindo cumprir os
contratos em razão da guerra, que dificultava o acesso a matéria prima e transporte. Então
surgiu uma Teoria denominada Sic rebus standibus, que determina que os contratos são
obrigatórios desde que se mantenham as circunstâncias nas quais eles foram celebrados.
Dessa forma, se o indivíduo celebra um contrato hoje e amanha estoura uma guerra mundial
que torne impossível o seu cumprimento, o Estado poderá intervir.

A nossa jurisprudência exige que este evento futuro seja imprevisível e acarrete uma
onerosidade excessiva para uma das partes. Dessa forma, em outras palavras, são dois
requisitos que devem ser comprovados para que possamos nos valer da teoria Sic rebus
standibus e então requerer ao Estado Juiz que reveja o contrato, previsto no artigo abaixo:

Art. 478, CC – Nos contratos de execução continuada ou diferida,


se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente
onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de
acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor
pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a
decretar retroagirão à data da citação.

- contrato de execução continuado – é aquele que continuamente é cumprido, ou seja,


de prestações sucessivas.

- contrato de execução diferida – é aquele contrato cuja obrigação é postergada,


adiada.

Dessa forma, a primeira coisa que o indivíduo pode requerer é que o Estado Juiz
rescinda o contrato, baseado na onerosidade excessiva proveniente de acontecimentos
extraordinários e imprevisíveis.

Os Arts. 479 e 480, CC, elencam as situações em que é possível a manutenção do


contrato:

Art. 479, CC – A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu


a modificar equitativamente as condições do contrato.

Dessa forma, uma vez realizado o pedido de rescisão do contrato o réu poderá
conceder uma redução equitativa da prestação e manter o contrato.

Art. 480, CC – Se no contrato as obrigações couberem a apenas


uma das partes, poderá ela pleitear que a sua prestação seja
reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a fim de evitar a
onerosidade excessiva.

Da mesma forma, se ao invés de pedir a rescisão do contrato à parte devedora pleitear


que a prestação seja reduzida ou que se altere o modo de executá-la de forma que a
onerosidade excessiva seja evitada, o contrato também será mantido.

Kleber Luciano Ancioto Página 90


DIREITO CIVIL IV

Então, em regra, uma vez celebrado um contrato não é possível se pedir para que ele
seja revisto, dessa forma, se a parte perdeu o emprego, ficou doente e estes fatos acabaram
acarretando uma onerosidade excessiva, não é possível a revisão, pois não são fatos
considerados imprevisíveis. A imprevisibilidade, para justificar o pedido de revisão, é muito
semelhante aos casos fortuitos ou força maior, ou seja, algo fora do normal.

“Sic rebus standibus, pacta sunt servanda”, em português: “Se mantidas as condições
iniciais o pacto deve ser cumprido”.

 Princípio da Boa Fé

É um princípio novo, que ingressou no ordenamento apenas no Código Civil de 2002


no Art. 422, CC.

Art. 422, CC – Os contratantes são obrigados a guardar, assim na


conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de
probidade e boa-fé.

o Boa Fé Subjetiva vs Boa Fé Objetiva

A Boa Fé Subjetiva é a percepção falsa da realidade, ou seja, o indivíduo acredita que


esta agindo de forma correta quando na verdade não esta, por exemplo, imaginemos um
sujeito que desconhece que o veículo que ele esta vendendo possui defeito, neste caso o
alienante possui boa fé subjetiva. O mesmo ocorre se alguém empresta um terreno para
produzir e depois de plantar descobre que o indivíduo que o emprestou não era o verdadeiro
dono, ele também terá agido com boa fé subjetiva.

A Boa Fé Objetiva se relaciona a ideia de ética, de comportamento ético e nesta


situação o comportamento dos contratantes pode até ser legal, no entanto, pode não ser ético
e nestes casos por conta do Princípio da Boa fé a Lei permite a responsabilização daquele que
não agiu com ética (Boa Fé Objetiva). Por exemplo, o caso do Zeca Pagodinho, que fazia
propaganda para uma marca de cerveja (Brahma) e ao terminar o contrato foi fazer
propaganda de outra marca (Schin) e novamente ao findar este novo contrato, voltou a fazer
propaganda da marca de cerveja anterior (Brahma), dando a entender que mudar de marca
não valia a pena. Neste caso, não houve violação da Boa Fé Subjetiva, visto que ele cumpriu
todos os contratos, no entanto, se analisarmos o aspecto da Boa Fé Objetiva, não nos parece
que ele tenha agido com ética, ensejando, portanto, o direito a uma indenização (Perdas e
Danos).

O Art. 422, CC, deixa claro que a boa fé abrange tanto o período anterior ao contrato
como o posterior. Justamente por isso, neste caso relatado acima o Zeca Pagodinho poderia
ser cobrado com base em um contrato que já havia sido cumprido e estava extinto.

O termo probidade utilizado pelo referido artigo significa honestidade, dessa forma, é
exigido dos contratantes ética e honestidade.

Kleber Luciano Ancioto Página 91


DIREITO CIVIL IV

FORMAÇÃO DO CONTRATO

Uma das coisas importantes quando falamos em Contratos é sabermos qual o exato
momento que podemos afirmar que o contrato esta formado, ou seja, em que momento
podemos considerar o contrato realizado, surgido no mundo jurídico.

São diversos os motivos que tornam esse momento importante, dentre eles: a
capacidade das partes, visto que ela é aferida no exato momento em que o contrato é
realizado; as normas que vão reger o contrato serão as que estiverem vigentes no momento
de sua conclusão; competência de juízo, pois em algumas situações para definirmos o juízo
competente será necessário sabermos o momento em que o contrato surgiu; o
arrependimento, que é possível até o momento anterior a sua celebração.

Art. 435, CC – Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi


proposto.

Para sabermos o momento que o contrato surge para o mundo jurídico, é necessário
passarmos por três fases:

 Negociação Preliminar

Ela se caracteriza pela possibilidade da desistência. Um exemplo de negociação


preliminar é o sujeito que vai até a concessionaria e realiza um test drive de um carro, ou seja,
é a fase do “namoro”.

Sendo assim, a negociação preliminar não dá direito a responsabilização civil


contratual, por um motivo óbvio que é a inexistência do contrato.

Eventualmente ela poderá dar ensejo a uma responsabilidade civil extracontratual se


houver abuso de direito, que acontece com maior frequência no Direito do Trabalho, pois
quando a empresa submete o possível futuro empregado a uma enorme quantidade de testes
e depois não o contrata, normalmente não da ensejo a responsabilidade civil, no entanto, se o
empregador garante a contratação, fazendo-o pedir demissão do emprego atual e depois não
o contrata, há a possibilidade de uma responsabilização civil extracontratual.

Dessa forma, sempre que se criar uma legitima expectativa em alguém, mesmo que
por uma conduta culposa, causar prejuízo a esta parte, gerará ensejo a perdas e danos.

 Proposta

Passamos para a proposta, quando um dos contratantes manifesta interesse em


realizar o contrato e estabelece todos os requisitos necessários para a realização do contrato.
Dessa forma, toda a emissão de vontade que já contenha os requisitos necessários para a
formação do futuro contrato (valor, forma de pagamento e objeto), faz com que a relação
jurídica deixe de ser negociação preliminar e passe a ser proposta.

Kleber Luciano Ancioto Página 92


DIREITO CIVIL IV

No caso da negociação preliminar, inexiste responsabilização contratual, já no caso da


proposta segundo o Art. 427, CC, aquele que fez a proposta, denominado proponente ou
ofertante, vincula-se a ela, dessa forma, não poderá mais desistir caso a outra parte aceite
imediatamente.

Art. 427, CC – A proposta de contrato obriga o proponente, se o


contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das
circunstâncias do caso.

Então o ofertante já fica responsabilizado contratualmente por sua proposta, salvo nas
três exceções que o próprio artigo elenca, entre elas:

- se o contrário não resultar dos termos dela – significa que se houver alguma ressalva
de que aquela oferta não vale como proposta, esta ressalva será valida.

o Contrato entre Presentes vs Ausentes

Contrato entre presentes é aquele realizado diretamente pelos contratantes, ainda


que representados. Não há necessidade da presença física, exigindo apenas um contato direto
entre os contratantes, dessa forma, se o contrato for por telefone, skype ou com o procurador
de uma das partes, estaremos diante de um contrato entre presentes.

Trocar e-mails não é considerado contrato entre presentes, pois uma vez enviando-o
não há certeza que o destinatário o verá imediatamente e nem que o responderá.

Já o contrato entre ausentes ocorre quando não existe um contato direto ou ele é
realizado por intermediários, dessa forma, se o corretor (que não é um representante do
vendedor) vem trazer uma proposta de compra e venda, estaremos diante de um contrato
entre ausentes, o mesmo ocorre com os e-mails ou cartas.

Esta classificação é importante para entendermos o próximo tópico que explica


quando a proposta deixa de ser obrigatória.

o Proposta Deixa de Ser Obrigatória

Art. 428, CC – Deixa de ser obrigatória a proposta: I - se, feita sem


prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Considera-se
também presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de
comunicação semelhante; II - se, feita sem prazo a pessoa ausente,
tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao
conhecimento do proponente; III - se, feita a pessoa ausente, não tiver
sido expedida a resposta dentro do prazo dado; IV - se, antes dela, ou
simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retratação
do proponente.

 Inciso I

Kleber Luciano Ancioto Página 93


DIREITO CIVIL IV

Normatiza que se o contrato for entre presentes a aceitação precisa ser imediata, caso
contrário, a proposta deixa de ser válida.

 Inciso II

No caso de contrato entre ausentes que não existir um prazo de validade para a
proposta, ela será considerada inválida se tiver decorrido um tempo razoável para que a
resposta tivesse chegado ao conhecimento do proponente. A Lei não determina quanto é o
tempo razoável, dessa forma, fica a critério do Juiz julgar se o tempo havia decorrido ou não,
sempre que se enquadrar neste inciso.

 Inciso III

Quando a proposta possuir prazo de validade e a resposta for dada após o seu
vencimento, a proposta também perde sua validade

 Inciso IV

A retratação é possível, desde que chegue ao conhecimento da outra parte


simultaneamente ou anteriormente à própria proposta, dessa forma, ela só é possível no
contrato entre ausentes.

o Oferta Pública

Art. 429, CC – A oferta ao público equivale a proposta quando encerra


os requisitos essenciais ao contrato, salvo se o contrário resultar das
circunstâncias ou dos usos. Parágrafo único. Pode revogar-se a
oferta pela mesma via de sua divulgação, desde que ressalvada esta
faculdade na oferta realizada.

A oferta pública ocorre quando a proposta é dirigida ao público em geral e não de


maneira individualizada. Dessa forma, se um indivíduo coloca uma faixa na rua, prometendo
pagar uma recompensa de R$ 2.000,00 para quem encontrar o seu cão perdido, se acontecer
de alguém o encontrar e o proprietário do cão se recusar a pagar a recompensa, quem o
encontrou pode entrar com uma ação requerendo perdas e danos com base na
responsabilidade civil contratual, visto que o anúncio é uma proposta e vincula o proponente.

Da mesma maneira, se um indivíduo divulgar que esta vendendo uma casa por R$
100.000,00, e alguém chegar para comprar e o alienante não quiser mais vendê-la por aquele
valor, há possibilidade de se ingressar com uma ação para obriga-lo a vendê-la.

O Código de Defesa do Consumidor vai mais além e a partir do Art. 30, normatiza
que tudo que o fornecedor fizer de propaganda funcionará como um contrato. Dessa forma, se
ocorrer um erro na divulgação, o fornecedor, em princípio, ficará vinculado à proposta

Kleber Luciano Ancioto Página 94


DIREITO CIVIL IV

vinculada erroneamente, salvo se o valor estipulado for muito discrepante do real e o


consumidor enriquecesse sem causa.

Concluindo, durante a fase de proposta, o proponente não poderá desistir, pois ele já
possui responsabilidade civil contratual, ainda que a proposta seja realizada verbalmente.

 Aceitação

É com a aceitação que o contrato é formado, mas para ela ser efetiva há a necessidade
que ela seja incondicionada (ou o indivíduo adere os termos da proposta ou não), caso
contrário, teremos uma contraposta regulada pelo artigo abaixo:

Art. 431, CC – A aceitação fora do prazo, com adições, restrições, ou


modificações, importará nova proposta.

Uma vez existindo uma contraproposta a situação se inverte e o indivíduo que realizou
a contraproposta passa a ser o proponente. O artigo elenca ainda a possibilidade da resposta
ocorrer fora do prazo e neste caso, a aceitação seria considerada uma contraproposta, ainda
que não alterasse nenhum dos termos da proposta inicial.

Art. 430, CC – Se a aceitação, por circunstância imprevista, chegar


tarde ao conhecimento do proponente, este comunicá-lo-á
imediatamente ao aceitante, sob pena de responder por perdas e
danos.

Dessa forma, se por circunstâncias imprevistas a aceitação chegar fora do prazo ao


conhecimento do proponente, este último é obrigado a comunicar a outra parte que a
resposta chegou fora do prazo, sob pena de responder por perdas e danos.

o Retratação da Aceitação

Art. 433, CC – Considera-se inexistente a aceitação, se antes dela ou


com ela chegar ao proponente a retratação do aceitante.

A desistência da aceitação segue o mesmo raciocínio da desistência da proposta,


sendo assim, a retratação precisa chegar simultaneamente ou anteriormente à própria
aceitação.

o Aceitação Expressa vs Tácita

Art. 432, CC – Se o negócio for daqueles em que não seja costume a


aceitação expressa, ou o proponente a tiver dispensado, reputar-se-á
concluído o contrato, não chegando a tempo a recusa.

A aceitação não necessariamente precisa ser expressa, da mesma maneira que a


proposta, mas ela precisa ser inequívoca, ou seja, não pode gerar dúvidas.

Kleber Luciano Ancioto Página 95


DIREITO CIVIL IV

Por exemplo, se é costume no leilão a cada lance aumentar R$ 100,00 no valor da


parcela, ao dar um lance o indivíduo não poderá alegar que sua intenção era de propor um
valor menor. Com isso, podemos concluir que o costume pode levar a ideia de proposta e
aceitação.

Para determinadas situações, no entanto, a aceitação precisa ser expressa, como, por
exemplo, nas relações de consumo, que não admitem aceitação tácita, sendo assim, se uma
revista envia uma carta dizendo que se o consumidor não entrar em contato a assinatura será
renovada automaticamente, esta renovação não é válida, pois o silêncio do consumidor não
representa aceitação, sendo necessário que ele expresse a vontade de continuar a assinatura.
Seria válido, portanto, se a revista enviasse uma carta dizendo que se o consumidor não entrar
em contato para renovar o contrato, com o fim do contrato anterior, a assinatura será
cancelada.

28/10/2014

Vimos que na negociação preliminar não há contrato, por isso, existe a possibilidade
de arrependimento sem gerar responsabilidade civil contratual, podendo ocorrer
excepcionalmente responsabilização civil extracontratual quando uma das partes causar
prejuízo a outra de forma culposa sem a existência de um contrato.

Na fase da proposta ou oferta, também não existe contrato, mas já é um estágio a


mais na sua formação, visto que aquele que faz a proposta já fica vinculado a ela, ou seja, se a
outra parte aceitar a proposta o proponente terá que cumprir o que propôs.

Por fim, vimos que a formação do contrato ficará na mão do aceitante e que o
contrato entre presentes se conclui imediatamente, pois a aceitação deve ser dada
imediatamente a proposta, já entre ausentes existem quatro posicionamentos diferentes
quanto ao momento de sua formação.

 Momento de Formação do Contrato Entre Ausentes

Existem duas correntes básicas sobre o momento da formação do contrato, uma que
segue a ideia de Cognição e outra de Agnição, dessa forma, para aqueles que defendem a
Teoria da Cognição (que significa conhecimento) o contrato estará formado quando o
proponente tomar ciência da aceitação da proposta, sendo este posicionamento criticado,
pois a formação do contrato ficaria exclusivamente na mão do proponente, ao passo que ele
poderia se recusar a tomar ciência e assim o contrato nunca se formaria; já para aqueles que
defendem a Teoria da Agnição (que significa declarar), existem 3 situações possíveis: a
primeira defende que o contrato é formado no momento que o aceitante declara sua
aceitação (por exemplo, escrever uma carta ou e-mail declarando a aceitação), sendo essa
corrente criticada, devido ao fato que o proponente mesmo sem ter conhecimento já estaria
vinculado a um contrato; a segunda defende que o momento que o contrato é formado ocorre

Kleber Luciano Ancioto Página 96


DIREITO CIVIL IV

quando há a expedição da declaração de aceitação (por exemplo, o envio da carta ou e-mail)


ao proponente, ainda que este último ainda não tenha recebido a aceitação; por fim a terceira
defende que o momento de formação do contrato ocorre quando a aceitação é recebida (por
exemplo, chegada da carta na residência ou do e-mail na caixa de entrada) pelo proponente,
ainda que ele não tenha tomado conhecimento.

Nosso Código Civil, de acordo com o Art. 434, adotou a Teoria Agnição no momento
da Expedição, ou seja, a partir do momento que a aceitação for expedida o contrato estará
formado.

Art. 434, CC – Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde


que a aceitação é expedida, exceto: I - no caso do artigo antecedente;
II - se o proponente se houver comprometido a esperar resposta; III -
se ela não chegar no prazo convencionado.

No entanto, apesar do referido artigo normatizar expressamente que o momento da


formação do contrato ocorre na hora que a aceitação é expedida, existem doutrinadores que
não concordam com isso, por conta do artigo que regula o local onde o contrato é formado.

Art. 435, CC – Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi


proposto.

Dessa forma, se o contrato foi proposto em um município “Y”, mas a aceitação for
expedida de outro (município “X”), teríamos uma incongruência, entre o tempo de formação e
o local de formação, pois o contrato seria formado no momento da expedição da aceitação no
município “X”, no entanto, o local seria o município “Y”.

Com base nisso, há doutrinadores que defendem que embora o Art. 434, CC tenha
expressamente adotado a Teoria da Agnição no momento da Expedição, o ordenamento na
verdade adotou a Teoria da Agnição no momento da Recepção, porque só assim teríamos
uma congruência entre o local de formação do contrato e o tempo de formação.

As justificativas para essa defesa, ainda se baseiam nas exceções previstas nos incisos
do próprio Art. 434, CC.

 Inciso I - no caso do artigo antecedente

O artigo antecedente faz referência a possibilidade de retratação da aceitação:

Art. 433, CC – Considera-se inexistente a aceitação, se antes dela ou


com ela chegar ao proponente a retratação do aceitante.

Dessa forma, se o código civil considerasse realmente o momento de expedição da


aceitação como sendo o momento da formação do contrato, não seria possível considerar a
possibilidade do aceitante se retratar tendo como objetivo evitar a formação do contrato, em
outras palavras, este dispositivo é incompatível com a Teoria da Expedição, visto que, segundo
ele, valerá o que chegar primeiro ao proponente seja a aceitação ou a retratação.

Kleber Luciano Ancioto Página 97


DIREITO CIVIL IV

 Inciso II – se o proponente se houver comprometido a esperar a resposta

Novamente, se analisarmos por este inciso o momento em que ele considera o


contrato realizado, da a entender que adotamos a Teoria da Recepção da aceitação.

 Inciso III – se ela não chegar no prazo convencionado

O referido inciso se refere a aceitação não chegar no prazo convencionado, dando a


entender mais uma vez que adotamos a Teoria da Recepção e não da Expedição da resposta.

 Relevância do local onde é celebrado o contrato

A importância em se determinar o local em que o contrato é considerado realizado, ou


seja, surgido para o mundo jurídico, se baseia no fato de que a legislação que regulará esse
contrato será a deste local.

Essa regra é aplicada inclusive no Direito Internacional, o que significa que se um


vendedor de outro país fizer uma proposta comercial e o aceitante brasileiro enviar a
aceitação via internet, o contrato será considerado celebrado no país do vendedor, dessa
forma, será regido pelas regras do referido país.

Toda essa teoria tem encontrado problemas com as inovações tecnológicas, visto que,
ela foi concebida para regular casos de correspondência ou ainda telégrafos, mas não para
regular contratos realizados on line.

CRITÉRIOS PARA A INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS

Não existe no Código Civil, regras para interpretarmos os contratos, dessa forma, por
analogia utilizamos os mesmos critérios de interpretação das Leis.

 Prevalência da Intenção (Art. 112, CC)

Na pratica um dos maiores problemas ocorrem com indivíduos que celebram contratos
verbalmente não possuindo meios para provar o que foi combinado posteriormente.

Situação pior ocorre quando indivíduos leigos resolvem firmar contratos redigidos
segundo seus próprios conhecimentos, pois, como as regras do Código Civil são utilizadas
subsidiariamente, tudo o que eles firmarem fará Lei entre eles, sendo assim, mais que
interpretar o sentido literal do que estiver escrito o Juiz precisa interpretar o que as partes
queriam quando firmaram aquele contrato, conforme dispõe o artigo abaixo:

Art. 112, CC – Nas declarações de vontade se atenderá mais à


intenção nelas consubstanciadas do que ao sentido literal da
linguagem.

Em outras palavras, o Juiz terá que tentar diagnosticar qual era a intenção das partes
ao celebrarem tal contrato, ao passo que esta intenção deverá prevalecer inclusive sobre o

Kleber Luciano Ancioto Página 98


DIREITO CIVIL IV

que estiver escrito literalmente no contrato. Por exemplo, imaginemos um contrato que esteja
escrito que é um Contrato de Locação, no entanto, a locação é gratuita, dessa forma, sabemos
que na verdade o Contrato de Locação é um Contrato de Comodato. Isso é importante
sabermos, pois se houver necessidade de se ingressar com uma ação para que o imóvel seja
devolvido, no caso de um Contrato de Locação a Ação apropriada é a de Despejo, enquanto
que no Contrato de Comodato, a Ação cabível é a Reintegração de Posse.

Pode ocorrer também, nestas espécies de Contrato, a existência de cláusulas


antagônicas e quando isso ocorrer, devido ao princípio da prevalência da intenção, será
necessário que interpretemos de maneira que o contrato permaneça válido segundo a
intenção dos envolvidos (Princípio da preservação do contrato). Um exemplo seria um
contrato de locação cujas cláusulas dão margem para que seja cobrado uma contraprestação
ou não (sendo neste último caso um contrato de comodato).

Um Contrato de Mandato (Procuração) deve ser sempre revogável e o mandatário


(representante) precisa prestar contas ao representado com relação as atitudes tomadas com
os poderes conferidos. Dessa forma, se houver uma situação envolvendo Contrato de
Mandato, que exclui a necessidade do mandatário prestar contas e possua caráter irrevogável,
estaremos diante de um contrato de compra e venda, onde as partes burlaram a Lei para não
pagar os impostos de transmissão, sendo mais um exemplo em que o Juiz deve levar em conta
a intenção das partes e não simplesmente o que estiver escrito no contrato.

Exercício

 João realiza um contrato de compra e venda a prazo de um apartamento que esta


sendo construído pela construtora “X”. Durante o tempo da construção João realiza
um contrato de compra e venda do apartamento com Márcio, repassando o bem para
este. Márcio entra com uma ação contra a construtora para que esta preste contas
sobre o andamento da obra. A ação é viável?
o Quando João fez um contrato de compra e venda com o Marcio, na verdade
não era uma compra e venda, mas sim uma cessão de contrato (interpretação
com base na prevalência da intenção), visto que houve uma troca da posição
no contrato com a construtora, mas para que isso ocorresse seria necessária a
concordância da construtora, que não ocorreu, portanto, a cessão não é válida
e, consequentemente, a ação movida por Márcio não seria viável.

 Boa fé e Costumes (Art. 113, CC)

Art. 113, CC – Os negócios jurídicos devem ser interpretados


conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.

Todo contrato deve ser interpretado de acordo com os costumes do local em que é
celebrado além das partes precisarem estar de boa fé, ou seja, agindo com ética e
honestidade.

Kleber Luciano Ancioto Página 99


DIREITO CIVIL IV

Exercício

 É sábio que a fiança dada pela esposa sem a anuência do marido é nula. Joana assina
como fiadora de sua irmã na locação de um imóvel e, na ocasião se declara solteira,
quando na verdade era casada. Neste caso a fiança é válida?
o Esse ocorre com certa frequência na prática e existe, inclusive, uma súmula
do STJ de n. 332, regulando o caso. A súmula declara a ineficácia da fiança
sem a anuência do cônjuge. Dessa forma, segundo a súmula, a fiança não seria
válida, mas baseando-se no princípio da boa fé, que deve ser premissa dos
contratantes, a decisão de um Juiz retirada da jurisprudência foi pela validade
da fiança, excluindo a parte patrimonial do marido de ter responsabilidade no
débito, sendo uma decisão salomônica, não tanto jurídica, colocando a ética e
honestidade acima de tudo.

Súmula 332, STJ – A fiança prestada sem autorização de um dos


cônjuges implica a ineficácia total da garantia.

 Contratos Benéficos devem ser interpretados estritamente (Art. 114, CC)

Art. 114, CC – Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia


interpretam-se estritamente.

Sabemos que nos contratos onerosos, em regra, o acessório segue o principal, no


entanto, se o contrato for benéfico, o acessório, em regra, não acompanha o principal, visto
que a interpretação deve ser estrita, em outras palavras, sempre em prol daquele que teve
apenas obrigações. Sendo assim se vendemos um automóvel a regra é que o cd player vá
junto, agora se doamos um automóvel a regra é que o cd player não acompanhe o veículo. A
mesma situação pode ser transportada para o caso dos fiadores, onde na hipótese dele
concordar em ser fiador por um ano de um locatário de imóvel, mesmo que exista uma
cláusula dizendo que o contrato será renovado automaticamente, a fiança valerá por apenas
um ano, salvo se o fiador concordar em ser fiador por mais um ano e assim
subsequentemente.

o Silencio em regra deve ser interpretado como anuência (Art. 111, CC)

Art. 111, CC – O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias


ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade
expressa.

o Contratos de adesão devem ser interpretados de acordo com as regras dos


Arts. 423 e 424, CC

Os contratos de adesão são contratos pré formatados, que não permitem estipulação
em contrário por uma das partes, dessa forma se existir algum problema deveremos sempre
interpreta-los de acordo com os artigos abaixo:

Kleber Luciano Ancioto Página 100


DIREITO CIVIL IV

Art. 423, CC – Quando houver no contrato de adesão cláusulas


ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais
favorável ao aderente.

Art. 424, CC – Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que


estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da
natureza do negócio.

Dessa forma, se houver contradição ou cláusulas ambíguas, sempre a interpretação


deverá ser pró-aderente. Além disso, as hipóteses de renuncia antecipada também são
consideradas nulas, visto que, ao contratar um plano de saúde, por exemplo, o indivíduo busca
possuir cobertura para um eventual problema de saúde, dessa forma, não há como aceitar que
o contrato traga uma lista previa de doenças, medicamentos e/ou materiais que não serão
cobertos pelo plano.

EFEITOS DOS CONTRATOS

Ao realizarmos um contrato, pensando juridicamente, há efeitos em relação aos


contratantes e em relação ao objeto de contrato.

 Efeitos em relação ao objeto

Os efeitos do contrato em relação ao objeto são relativos, porque a mera formação do


contrato não altera a propriedade do objeto, ou seja, quando realizamos um contrato há
apenas a criação de direitos obrigacionais, mas a parte que comprou não se torna proprietária
com o contrato, mas sim com o seu cumprimento.

Dessa forma, a formação do contrato não possui eficácia real, mas sim relativa em
relação ao seu objeto.

 Efeitos em relação as partes

o Surge a responsabilidade civil contratual

Isso significa que antes da celebração do contrato não existia vinculo jurídico entre as
partes, mas, entre o momento em que o contrato for celebrado e momento anterior ao seu
cumprimento, as partes estarão vinculadas e, portanto, estarão sujeitas a uma
responsabilidade civil, que é nada mais do que pagar as perdas e danos pelo descumprimento
do contrato.

o Inalterabilidade unilateral

Kleber Luciano Ancioto Página 101


DIREITO CIVIL IV

Ou seja, realizado um contrato ele não pode ser mais alterado, visto que ele faz Lei
entre as partes, dessa forma, não comporta arrependimentos unilaterais, salvo se houver
cláusula prevendo a possibilidade do arrependimento.

o Transmissibilidade

Se uma das partes morrer, seus herdeiros até o limite da herança ficam com a
obrigação de cumprir o contrato. Dessa forma, existindo um contrato ele automaticamente é
transmitido aos sucessores.

29/10/2014

 Terceiros

Em regra os contratos fazem Lei entre as partes, dessa forma, nada mudaria na vida de um
terceiro, no entanto nosso Código Civil trouxe três exceções a essa regra, que veremos a
seguir:

o Estipulação em favor de terceiro

É comum quando um casal se separa e não entram em acordo com relação a imóvel,
eles pactuarem que o doarão ao filho, sendo este um exemplo de estipulação em favor de
terceiro.

O exemplo mais clássico da estipulação em favor de terceiro é o seguro de vida, sendo


que o contrato realizado entre duas partes repercute em benefício de um terceiro. Neste caso,
a seguradora recebe o nome de promitente, o contratante recebe o nome de estipulante e o
terceiro é o beneficiário.

 Requisitos

 Capacidade

o O promitente (contratado) e o estipulante


(contratante) precisam ter capacidade, visto que
manifestam vontade no contrato, já em relação ao
beneficiário é desnecessário a capacidade, aliás nem
mesmo ser determinado de imediato ele precisa ser,
como, por exemplo o indivíduo que faz um seguro de
vida e coloca como beneficiário sua prole.

 Vantagem

Kleber Luciano Ancioto Página 102


DIREITO CIVIL IV

o O terceiro pode afetar o terceiro, desde que a ele for


atribuído um benefício, dessa forma, não se pode
celebrar um contrato que obrigue um terceiro.
o Alguns doutrinadores entendem que o beneficio não
necessariamente precisa ser absoluto, ou seja, ele
poderá ser condicionado a uma contra prestação a ser
cumprida pelo beneficiário.
 Por exemplo: O promitente se compromete
frente ao estipulante a vender um prédio que
custa R$ 2.000.000,00 por R$ 200.000,00 para
o indivíduo “X” (beneficiário).

 Quem pode exigir o cumprimento?

Art. 436, CC – O que estipula em favor de terceiro pode exigir o


cumprimento da obrigação.

Dessa forma, no caso da Toledo celebrar um seguro de acidentes para os professores,


tanto a Toledo como os Professores que se acidentarem podem ingressar com uma ação para
que contrato seja cumprido. O mesmo ocorre no caso do pai e da mãe que decidem doar o
imóvel para o filho, se, por acaso, o pai se recusar a doar, tanto a mãe como o filho podem
entrar com a ação exigindo o cumprimento do contrato.

Art. 336, Parágrafo único, CC – Ao terceiro, em favor de quem se


estipulou a obrigação, também é permitido exigi-la, ficando, todavia,
sujeito às condições e normas do contrato, se a ele anuir, e o
estipulante não o inovar nos termos do art. 438.

Ou seja, o terceiro, embora possa exigir o cumprimento da obrigação, não pode


ingressar com uma ação para discutir o contrato, justamente por não ter sido ele quem o
realizou, dessa forma, ele não pode discutir o que foi acordado entre o promitente e o
estipulante.

 Rescisão e substituição dos beneficiários

A doutrina entende que a princípio temos um contrato entre o promitente e o


estipulante e enquanto for assim, o estipulante se quiser poderá rescindir o contrato ou ainda
substituir os beneficiários, no entanto, a partir do momento que o terceiro (beneficiário)
manifesta sua vontade, concordando com os termos do contrato e exigindo o seu
cumprimento, a relação passa a ser entre o promitente e o beneficiário e com isso o
estipulante não pode mais rescindir ou substituir o beneficiário do contrato.

Em resumo a estipulação em favor de terceiro, possui dois momentos, um primeiro


momento cuja relação jurídica ocorre entre o promitente e o estipulante e o beneficiário fica
apenas com uma expectativa do direito; e um segundo momento que o beneficiário manifesta

Kleber Luciano Ancioto Página 103


DIREITO CIVIL IV

sua vontade e exige o cumprimento do contrato, passando a relação a ser entre o promitente
e benificiário, saindo fora o estipulante.

No entanto, existe uma exceção a possibilidade do estipulante em alterar o


beneficiário que se encontra normatizada no artigo abaixo:

Art. 437, CC – Se ao terceiro, em favor de quem se fez o contrato, se


deixar o direito de reclamar-lhe a execução, não poderá o estipulante
exonerar o devedor.

Dessa forma, se ficar expresso que o beneficiário “X” possui o direito de exigir o
cumprimento do contrato, isso impede a possibilidade do estipulante trocar o beneficiário. Ex.
Um namorado que faz um contrato de seguro colocando a namorada como beneficiaria, se ele
trocar de namorada normalmente ele poderá substituir a beneficiaria, no entanto, se ele
deixar expresso que a “Joaquina” é que pode exigir o cumprimento do contrato, mesmo que
ele troque de namorada ele não poderá mais alterar. Em contrapartida, se não constar no
contrato nada expresso o estipulante poderá mudar o beneficiário sempre que quiser sem a
necessidade de autorização do beneficiário anterior ou do outro contratante:

Art. 438, CC – O estipulante pode reservar-se o direito de substituir o


terceiro designado no contrato, independentemente da sua anuência e
da do outro contratante. Parágrafo único. A substituição pode ser
feita por ato entre vivos ou por disposição de última vontade.

Em razão disso, havendo a substituição, o beneficiário anterior não terá direito de


exigir nada do estipulante.

 Exceções

Todas as exceções que o promitente possuir contra o estipulante poderão ser


apresentadas contra o beneficiário, mesmo que sejam de natureza pessoal.

Dessa forma, se o pai coage a mãe a doar um imóvel em favor do filho, quando o filho
exigir o cumprimento da obrigação a mãe poderá alegar perante o filho que foi coagida pelo
pai, que em princípio seria oponível apenas contra o coator.

Exercício

 João realiza um seguro de vida, no qual sua noiva Maria é beneficiária. João pode
alterar a beneficiaria posteriormente? A seguradora pode se recusar a pagar o seguro
a Maria alegando que João deixou de pagar as parcelas do seguro?
o João poderá alterar a beneficiaria quando quiser, salvo se estiver expresso que
a “Maria” é quem poderá exigir o cumprimento do contrato, pois estando
expresso entendesse que é uma condição irrevogável. Sendo assim, sempre
que o contrato for omisso, pode-se trocar a qualquer momento o beneficiário,
mas, se no contrato estiver estipulado especificamente que “Fulano” é quem

Kleber Luciano Ancioto Página 104


DIREITO CIVIL IV

pode exigir o cumprimento, entende-se que essa estipulação é irretratável e,


dessa forma, o beneficiário não poderá ser mudado.
o A seguradora pode se recusar a pagar, pois embora seja o estipulante que não
pagou as parcelas, a proponente pode utilizar inclusive exceções pessoais
contra o beneficiário.

o Promessa de fato de terceiro

Como o próprio nome diz é uma promessa de um fato que vai ser cumprido por
terceiro.

Isso ocorre, por exemplo, com os agenciadores de artistas, que na verdade não são
representantes dos artistas, no entanto, eles se comprometem a trazê-los para se apresentar
na data combinada com o contratante.

Dessa forma, ele se compromete a realização de uma obrigação que será cumprida
por terceiro. O indivíduo que promete recebe o nome de promissário, que na verdade assume
uma obrigação de fazer, que é trazer o artista para se apresentar na data combinada.

 Responsabilidade decorrente da promessa de fato de terceiro

Art. 439, CC – Aquele que tiver prometido fato de terceiro responderá


por perdas e danos, quando este o não executar.

Então se alguém promete fato de terceiro e o terceiro não cumpre, a responsabilidade


não será deste último, mas sim do promissário, que responderá por perdas e danos, salvo na
situação elencada no paragrafo abaixo:

Art. 439, Parágrafo único, CC – Tal responsabilidade não existirá se


o terceiro for o cônjuge do promitente, dependendo da sua anuência o
ato a ser praticado, e desde que, pelo regime do casamento, a
indenização, de algum modo, venha a recair sobre os seus bens.

Este parágrafo regula a seguinte situação: Imagine que um marido resolva ser fiador
em um contrato de locação de imóvel, nós já vimos que para a fiança ser válida a pessoa que
for casada precisa da anuência do cônjuge, dessa forma, para cumprir tal exigência, o marido
se compromete a obter a assinatura da esposa, o que significa na verdade que ele fez uma
promessa de fato de terceiro, visto que a esposa não possui obrigação de assinar, mas ele
assume a obrigação de fazê-la assinar. Se a esposa se recusa a assinar, entre as hipóteses que
se pode exigir em um descumprimento de uma obrigação de fazer (do marido), temos a
possibilidade de pedir para que outra pessoa faça, o que não cabe nessa situação visto que é
uma obrigação é personalíssima e, portanto, ninguém pode assinar pela esposa; uma segunda
possibilidade é pedir que o Juiz concedesse um alvará para suprir a assinatura da esposa, o que
também não é possível neste caso; sobrando, apenas, a possibilidade de exigir perdas e danos
contra o marido, visto que ele assumiu a obrigação de fazer e não a cumpriu, conforme regula

Kleber Luciano Ancioto Página 105


DIREITO CIVIL IV

o caput do Art. 439, CC. No entanto, se o pactuado entre o casal for a comunhão total de
bens, responsabilizar o marido por perdas e danos, acabaria afetando indiretamente o
patrimônio da esposa e para evitar isso o legislador normatizou no Parágrafo único do Art.
439, CC, que excepcionalmente impede a cobrança de perdas e danos do promitente, quando
o terceiro for seu cônjuge e essa responsabilização vier a cair sobre patrimônio comum.

 Responsabilidade Sucessiva

O promissário só deixa de ter responsabilidade pelo cumprimento da obrigação do


terceiro, quanto este último confirmar que cumprirá o prometido para o contratante,
conforme regulando no artigo abaixo:

Art. 440, CC – Nenhuma obrigação haverá para quem se comprometer


por outrem, se este, depois de se ter obrigado, faltar à prestação.

Sendo assim, conforme o exemplo que utilizamos do agenciador de artistas, se o


artista contratado enviar uma confirmação da apresentação a responsabilidade deixa de ser do
promissário e passa a ser do artista. Ou seja, até que o terceiro de o seu aval ou sua anuência o
promissário é o responsável, a partir do momento que o terceiro da anuência ele passa a ser o
responsável, dessa forma, temos uma responsabilidade sucessiva.

Exercício

 João compra um carro de Pedro, todavia o veículo esta registrado em nome de


Joaquim. Pedro se compromete a obter a assinatura de Joaquim afim de transferir a
documentação do carro a Pedro. Qual a consequência jurídica se Joaquim se recusa a
assinar o documento? E se no momento da compra Joaquim avisa João que ele pode
comprar o carro de Pedro porque assinará a documentação para transferência, mas
depois se recusa a fazer?
o Na primeira situação, estamos diante de uma situação de promessa de fato de
terceiro, visto que Pedro se comprometeu a obter a assinatura de Joaquim e
neste caso se esse terceiro não assinar sobrará para o promitente, conforme
regula o Art. 439, Caput, CC.
o A partir do momento que o terceiro da a sua anuência, apenas este estará
sujeito as Perdas e Danos, pelo descumprimento da obrigação, conforme
previsto no Art. 440, CC.

o Contrato com pessoa a declarar

É uma novidade do Código de 2002, que não se vê muito na prática, principalmente


porque os advogados não conhecem ainda essa ferramenta, que serve basicamente para duas
situações: quando o contratante a princípio não quer aparecer; e para evitar duas operações
de um mesmo negócio. Vejamos os exemplos abaixo:

Kleber Luciano Ancioto Página 106


DIREITO CIVIL IV

É sabido que dependendo do interesse e condição financeira do contratante alguns


negócios podem variar de preço, por exemplo, um vendedor de uma propriedade rural
venderia sua propriedade por “X” para qualquer um, no entanto, se o comprador for seu
vizinho, muito provavelmente o valor seria “X + Y”, visto que, o vendedor sabe que o vizinho
possui o interesse de agregar valor a sua propriedade expandindo-a. Em casos como este, as
vezes, não é interessante que o interessado apareça no negocio em um primeiro momento e o
contrato com pessoa a declarar permite que isso aconteça, pois o vizinho pode enviar um
contratante qualquer, que negocia o valor da propriedade e fecha negócio com seu vizinho,
mas fica estipulado que o comprador (enviado pelo real comprador) terá um prazo de 15 dias
para substituir sua posição no contrato, dessa forma, somente depois de fechado o negócio é
que o real comprador aparece.

Com relação a outra aplicação, imaginemos que um contratante compre um imóvel


com a intenção de revendê-lo, se ao compra-lo ele passar o imóvel para o nome dele, ele terá
que lavrar a escritura e pagar imposto e depois quando ele revendê-lo novamente lavrar
escritura e pagar imposto. Dessa forma, se a ideia é comprar um imóvel para revendê-lo a
utilização do expediente contrato com pessoa a declarar facilita, permitindo que o
contratante inicial efetue a compra do imóvel e fique com um prazo, por exemplo, de 60 dias
para substituir sua posição no contrato, evitando duas operações de transferência.

 Principal característica

Art. 467, CC – No momento da conclusão do contrato, pode uma das


partes reservar-se a faculdade de indicar a pessoa que deve adquirir os
direitos e assumir as obrigações dele decorrentes.

Dessa forma, o que caracteriza o contrato é uma indeterminação temporária de quem


será o contratante.

 Prazo para indicação

Art. 468, CC – Essa indicação deve ser comunicada à outra parte no


prazo de cinco dias da conclusão do contrato, se outro não tiver sido
estipulado.

Sendo assim, nas situações em que o contrato for omisso o prazo será de 5 dias, mas
na prática os contratos não são omissos e estipulam prazos maiores.

 Forma

Art. 468, Parágrafo único, CC – A aceitação da pessoa nomeada não


será eficaz se não se revestir da mesma forma que as partes usaram
para o contrato.

Kleber Luciano Ancioto Página 107


DIREITO CIVIL IV

Por se tratar de uma cessão de contrato previamente acordada entre os contratantes


originais, não significa que o terceiro que assumirá a posição contratual não tenha que
concordar também. Sendo assim, se o contrato inicial foi realizado de forma pública a
anuência do terceiro deverá ser revestida das mesmas formalidades.

 Efeitos

Art. 469, CC – A pessoa, nomeada de conformidade com os artigos


antecedentes, adquire os direitos e assume as obrigações decorrentes
do contrato, a partir do momento em que este foi celebrado.

O contrato com pessoa a declarar possui efeito ex tunc, visto que, a partir do
momento que o terceiro assume a posição do primeiro contratante, é como se este último
nunca estivesse existido, ou seja, como se o contrato desde o inicio tivesse sido realizado pelo
terceiro que ingressou posteriormente.

 Contrato eficaz entre contratantes originários

Art. 470, CC – O contrato será eficaz somente entre os contratantes


originários: I – se não houver indicação de pessoa, ou se o nomeado se
recusar a aceita-la; II – se a pessoa nomeada era insolvente, e a outra
pessoa o desconhecia no momento da indicação.

Dessa forma, conforme o inciso I, vencendo o prazo para a indicação sem que ela seja
realizada ou se a pessoa indicada se negar a substituir o contratante originário, o contrato será
eficaz entre os contratantes originários.

Já o inciso II traz a hipótese da pessoa nomeada ser insolvente e o cedido desconhecer


tal fato no momento da substituição, faz com que o cedente retorne ao contrato.

Uma terceira hipótese de retorno do cedente, esta normatizada no artigo abaixo:

Art. 471, CC – Se a pessoa a nomear era incapaz ou insolvente no


momento da nomeação, o contrato produzirá seus efeitos entre os
contratantes originários.

Exercício

 Marcelo visando dar um presente de aniversário a sua noiva compra um veículo em


uma concessionária ficando acertado que o automóvel será entregue no dia do
aniversário da noiva e diretamente a esta. Se a concessionária não entrega o bem,
quem poderá exigir a entrega? Se o contrato estipula que a concessionária pode
entregar o carro prata ou branco a seu critério a noiva pode exigir que lhe seja
entregue o carro prata? Se Marcelo termina o noivado, antes do aniversario da noiva

Kleber Luciano Ancioto Página 108


DIREITO CIVIL IV

pode pedir a rescisão do contrato com a devolução do dinheiro? Pode determinar que
o bem seja entregue a outra pessoa?
o Essa é uma estipulação em favor de terceiro, dessa forma, quem poderá exigir
o cumprimento será o Marcelo (estipulante) ou a noiva (beneficiária),
conforme previsto no Art. 436, CC, podendo inclusive ingressarem com uma
ação conjunta;
o O terceiro não pode discutir as cláusulas contratuais, dessa forma, se Marcelo
estipulou com a concessionaria que esta última poderia escolher entre as
cores branco e prata, a noiva não poderá exigir a cor prata, conforme previsto
no Art. 436, Parágrafo único, CC;
o Devido ao princípio da obrigatoriedade, o contrato faz lei entre as partes,
portanto, ele não poderá ser rescindido por qualquer motivo, em outras
palavras, a concessionária queria vender o veículo e não esta preocupada com
o noivado do Marcelo;
o Por fim, em regra Marcelo pode substituir a beneficiárias, mas a partir do
momento que chega o aniversario de Maria e ela concorda em receber o
veículo, ela deixa de ser terceira e passa a ser a contratante, não podendo
mais ser substituída. Também não seria possível a substituição caso no
contrato estivesse estipulado expressamente que a Maria é quem poderia
exigir o cumprimento do contrato, conforme Art. 438, CC.

04/11/2014

CONTRATOS ALEATÓRIOS

Consistem no oposto dos contratos comutativos, onde as partes sabem qual é sua
prestação e qual será sua contraprestação.

Neste tipo de contrato (aleatório) uma das partes sabe qual é sua prestação, mas não
sabe qual será sua contraprestação, ou melhor, nem mesmo sabe se receberá uma
contraprestação.

O exemplo clássico deste tipo de contrato é o de Seguro, onde se o segurado não abre
sinistro quem ganha é a seguradora, no entanto, se o segurado abrir um único sinistro muitas
vezes ele recebe mais do que pagou, dessa forma, quem ganha é o segurado. Outro exemplo
de contrato aleatório é jogar na Mega Sena, onde na maioria das vezes quem joga perde, no
entanto, existe a possibilidade de ganhar algum dia.

Sendo assim, nos contratos aleatórios em regra haverá uma parte que ganha e outra
que perde, ao contrário dos comutativos que a principio há uma equivalência entre as partes.

Além destes contratos que, pela própria natureza são aleatórios, a Lei criou outros três
tipos, denominados Acidentalmente Aleatórios, visto que naturalmente eles não teriam essa
natureza, no entanto, se tornam aleatórios por previsão contratual.

Kleber Luciano Ancioto Página 109


DIREITO CIVIL IV

 Emptio spei ou Venda da Esperança

Art. 458, CC – Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas


ou fatos futuros, cujo risco de não virem a existir um dos contratantes
assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que lhe foi
prometido, desde que de sua parte não tenha havido dolo ou culpa,
ainda que nada do avençado venha a existir.

Dessa forma, se uma indústria investe em uma cultura e o contrato for nesta
modalidade, mesmo que nada seja produzido o prejuízo ficará com a indústria que terá que
pagar o combinado mesmo sem receber nada, ressalvado se a falta de produção ocorreu por
dolo ou culpa.

Exercício

 O produtor João vende uma safra futura de soja, assumindo a obrigação de entregar
duas toneladas do produto, assumindo o risco em caso de perda ou falta da produção.
Em razão de uma estiagem, nada é colhido. Nesta situação João poderia pleitear a
exclusão da sua responsabilidade contratual alegando: caso fortuito, onerosidade
excessiva ou o princípio da boa fé contratual?
o Apesar da estiagem ser um caso fortuito, neste caso ela não afasta a
responsabilidade contratual, devido a característica do contrato aleatório e se
a parte assumiu o risco se comprometendo a entregar duas toneladas de soja,
terá que entregar mesmo que não tenha colhido nada. Se o contrato fosse
comutativo, essa situação somente se repetiria caso João assumisse a
responsabilidade mesmo na ocorrência de caso fortuito ou força maior.
o Como a estiagem é algo previsível, ele também não poderá alegar onerosidade
excessiva, como base para pedir a revisão do contrato.
o Com relação ao principio da boa fé, ele diz respeito ao fato de que em todo
contrato as partes precisam agir com ética, buscando evitar que alguém
celebre um contrato dentro das previsões legais, no entanto, fora dos padrões
morais. Neste caso, não podemos falar em falta de honestidade ou ética da
outra parte, visto que João assumiu o risco livremente, dessa forma, também
não haveria como fazer uma revisão do contrato sob essa alegação.

 Emptio rei speratae ou venda da coisa esperada

Art. 459, CC – Se for aleatório, por serem objeto dele coisas futuras,
tomando o adquirente a si o risco de virem a existir em qualquer
quantidade, terá também direito o alienante a todo o preço, desde que
de sua parte não tiver concorrido culpa, ainda que a coisa venha a
existir em quantidade inferior à esperada. Parágrafo único. Mas, se
da coisa nada vier a existir, alienação não haverá, e o alienante
restituirá o preço recebido.

Kleber Luciano Ancioto Página 110


DIREITO CIVIL IV

Na primeira situação, prevista no Art. 458, CC, se nada for produzido, o adquirente
terá que pagar a totalidade do que foi combinado, enquanto que neste segunda situação,
prevista no Art. 459, Parágrafo único CC, se nada for produzido, o adquirente não terá que
pagar nada, no entanto, se produzir qualquer coisa além do nada o adquirente terá que pagar
a totalidade combinada (Art. 459, caput, CC). Sendo, portanto, duas situações muito
próximas, visto que, qualquer coisa além do zero, faz com que o adquirente tenha que pagar a
totalidade combinada.

A Jurisprudência, no entanto, tem mitigado um pouco essa situação, exigindo pelo


menos uma quantidade mínima de produção para que o alienante faça jus ao recebimento da
totalidade combinada. Isso significa que se o adquirente combina por essa modalidade de
contrato, comprar 2 toneladas de banana, não pode o alienante chegar com 5 bananas
produzidas e exigir o recebimento da totalidade da prestação.

 Coisa existente, mas sujeita a perecimento e depreciação

Art. 460, CC – Se for aleatório o contrato, por se referir a coisas


existentes, mas expostas a risco, assumido pelo adquirente, terá
igualmente direito o alienante a todo o preço, posto que a coisa já não
existisse, em parte, ou de todo, no dia do contrato.

Imagine alguém que compra uma carga de banana que esta vindo da África, no
entanto, sem ter noção de como essa carga irá chegar, ele resolve repassa-la para outro
adquirente. Neste caso, pode acontecer do carregamento chegar completamente viável para o
consumo, chegar somente uma parte viável, ou ainda chegar tudo impróprio para o consumo,
justamente por isso, normalmente o adquirente paga valor menor que o preço de mercado,
assumindo o risco.

O contrato aleatório nessa modalidade é valido mesmo se a coisa no momento em que


foi vendida não existia mais, ou seja, pode ser que quando a banana foi negociada ela já tinha
estragado e mesmo assim o contrato será valido, salvo se o alienante sabia previamente da
condição da carga, não caracterizando um contrato de risco, conforme prevê o artigo abaixo:

Art. 461, CC – A alienação aleatória a que se refere o artigo


antecedente poderá ser anulada como dolosa pelo prejudicado, se
provar que o outro contratante não ignorava a consumação do risco, a
que no contrato se considerava exposta a coisa.

Em outras palavras, para a celebração dessa modalidade de contrato é necessário que


o estado da coisa seja desconhecido de ambos os contratantes, ou seja, no nosso exemplo,
nenhum dos contratantes pode saber previamente a celebração do contrato que as bananas já
tinham estragado, pois, caso contrário, descaracterizaria o contrato de risco para a parte que
detinha tal informação. O exemplo utilizado é muito parecido com dolo por omissão, pois o
alienante sabendo que a carga já havia perecido a vende omitindo tal informação e neste caso,
como não caracteriza um contrato de risco para ele, o contrato é considerado nulo.

Kleber Luciano Ancioto Página 111


DIREITO CIVIL IV

É muito comum o indivíduos que descobrem ter câncer terminal, fazerem seguro de
vida no dia seguinte, como vimos, o contrato de seguro é aleatório, havendo risco para ambos
os lados, no entanto, a partir do momento que o indivíduo sabe que esta com uma doença
terminal e faz um seguro de vida, não há risco para ele, visto que ele sabe que morrerá e os
herdeiros dele irão lucrar.

Acerca disso existem inúmeras decisões e o que vem prevalecendo é que a seguradora
dever arcar com o previsto no contrato, visto que, quando ela realiza um contrato de seguro
tem o direito de examinar o segurado, no entanto, elas preferem celebrar um grande número
de contratos sem tomar tal precaução. Além disso, o consumidor ao fazer um seguro, celebra
um contrato de adesão, onde ele não pode discutir as cláusulas contratuais e sabe que se
informar qualquer problema de saúde a proposta não será aceita pela seguradora, por isso,
ninguém que deseja realizar um seguro de vida informa que sua saúde não esta boa.

Exercício

 Maurício se compromete adquirir por R$ 800,00 todos os peixes que um pescador


conseguir pescar em determinado dia, independentemente da quantidade pescada.

o Qual será a consequência se o pescador não consegue pescar nada naquele dia
em razão de uma tempestade que o impediu de sair com o barco?
 O risco assumido pelo adquirente é em relação a coisa a ser produzida,
colhida ou, neste caso, pescada, dessa forma, é necessário que a outra
parte no mínimo tenha saído para pescar. Sendo assim, se a parte não
pescou nada porque teve uma tempestade quando estava em alto
mar, azar do adquirente, que terá que pagar o combinado e não
receberá nada, mas, neste caso, como ele nem saiu para pescar o que
ocorre é o desfazimento do contrato sem culpa das partes.
 Em outras palavras, o adquirente assume o risco desde que a
outra parte cumpra a obrigação dela, que seria sair para
pescar.

o E se sair com o barco e não pescar nada?


 Neste caso, caímos na regra geral do Art. 458, CC e ele receberá a
totalidade do que foi combinado previamente (R$ 800,00).

o E se não pescar nada porque bebeu e ficou dormindo durante a pescaria?


 Nesta situação, como não houve pescaria por dolo ou culpa do
alienante, o adquirente não terá que pagar nada, conforme prevê a
segunda parte do Art. 458, CC.

 No caso anterior, se o contrato é do tipo venda da coisa esperada, qual será a solução
se o pescador pescar apenas um lambari porque é um péssimo pescador? E se foi
porque estava embriagado? E se não pescar nada?

Kleber Luciano Ancioto Página 112


DIREITO CIVIL IV

o Se o adquirente escolheu o péssimo pescador, pela regra do Art. 459, CC, ele
teria que pagar tudo, no entanto, há duas ressalvas: a jurisprudência entende
que pagar R$ 800,00 por um lambari seria desproporcional, sendo necessária
uma produção mínima de peixe; outra questão, que devemos analisar é se o
fato do indivíduo ser um mal pescador caracteriza imperícia, pois, neste caso,
ele agiria com culpa e o adquirente não teria que pagar nada.
o Se o pescador pescou apenas um lambari porque estava embriagado, o
adquirente não terá que pagar nada devido o fato do alienante ter agido com
culpa ou dolo. E o mesmo, ocorre se ele não pescar nada, mesmo sem agir
com culpa ou dolo, visto que, pela Regra do Art. 459, CC, para que ele receba
a totalidade do que foi combinado é necessário que a pescaria produza algo
diferente de zero.

05/11/2014

CONTRATO PRELIMINAR

É um contrato que possui como objetivo definir a realização de um contrato futuro e


definitivo. Isso porque às vezes a situação concreta não indica que naquele momento as partes
devam realizar o contrato definitivo.

Por exemplo, duas construtoras que participam de uma licitação para construção de
uma rodovia podem acertar em um contrato preliminar que se elas vencerem a licitação será
interessante se fundirem para a realização da obra, visto que a fusão só se tornaria
interessante se ambas vencessem a licitação. Dessa forma, elas assumem a obrigação de se
fundirem somente se elas ganharem a licitação, sendo, portanto, uma obrigação de fazer.

 Negociação Preliminar vs Contrato Preliminar

A negociação preliminar é uma fase prévia a formação do contrato, enquanto que o


contrato preliminar já é um contrato propriamente dito, que possui como objeto a realização
de outro contrato, sendo assim, é possível termos uma negociação preliminar em um contrato
preliminar.

Outra diferença é que no contrato preliminar, em regra, se ele não for cumprido há
possibilidade de responsabilização civil, enquanto que na negociação preliminar, em regra, não
há responsabilização civil.

 Compromisso de Compra e Venda

O compromisso de compra e venda, nada mais é que um contrato preliminar.

Kleber Luciano Ancioto Página 113


DIREITO CIVIL IV

Ele é muito utilizado em loteamentos, onde o indivíduo se compromete a pagar


parcelas e ao final o vendedor se compromete a vender um lote. Dessa forma, se o indivíduo
não pagar as parcelas, a loteadora não estará obrigada a realizar o contrato definitivo e o lote
continua sendo dela.

 Contrato Bilateral vs Unilateral

No contrato preliminar bilateral, uma vez implementada a condição estabelecida no


contrato preliminar, qualquer um dos contratantes poderá exigir do outro que realize o
contrato definitivo. Ex. No caso das construtoras, utilizado acima, caso ambas vençam a
licitação, qualquer uma delas poderá exigir da outra a celebração do contrato definitivo.

Já o contrato preliminar unilateral, permite que uma das partes faça a opção por
realizar ou não contrato definitivo, ou seja, uma parte estará obrigada a realiza-lo, mas ficará
na pendencia da decisão da outra parte. Ex. Imaginemos que um olheiro do Santos se interesse
por um jogador da equipe de base do Grêmio Prudente, o Santos poderá realizar um contrato
preliminar com o Grêmio Prudente pagando, por exemplo, R$ 10.000,00, estipulando que
daqui dois anos, se for do interesse deles, aquele jogador específico será transferido para o
time por R$ 50.000,00. Com isso, o Santos possui a opção de realizar ou não o contrato
definitivo. Esse contrato é denominado Opção de Compra, porque um dos contratantes fica
vinculado a celebrar o contrato definitivo, caso seja a vontade do outro contratante.

 Forma

Se um indivíduo tem dúvidas sobre a aquisição de um imóvel, pode realizar um


contrato preliminar unilateral e se posteriormente decidir pela aquisição, realizará o contrato
definitivo, que no caso deve ser por Escritura Pública.

Segundo o artigo abaixo, o contrato preliminar deverá conter os requisitos que


deverão existir no contrato definitivo, mas não há necessidade respeitar a forma, o que
significa que mesmo que o contrato definitivo deva ser realizado por escritura pública, o
contrato preliminar não precisará seguir a mesma forma, podendo ser realizado por
instrumento particular.

Art. 462, CC – O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve


conter todos os requisitos essenciais ao contrato a ser celebrado.

Existe, no entanto, certa divergência doutrinaria, visto que o Art. 462, CC, normatiza
que o contrato preliminar não precisa necessariamente ter forma pública, mas, o Parágrafo
único do Art. 463, CC, normatiza que é necessário o registro.

Acerca dessa situação a maioria da doutrina entende que para o contrato preliminar
ter validade inter partes, não precisa ter registro, no entanto, para ter validade frente a
terceiros será necessário o registro.

Kleber Luciano Ancioto Página 114


DIREITO CIVIL IV

Art. 463, Parágrafo único, CC – O contrato preliminar deverá ser


levado ao registro competente.

 Descumprimento do Contrato Preliminar

Neste caso, pode ser requerido ao Juiz que supra a vontade da parte que se recusa a
cumpri-lo, conforme disciplinam os artigos abaixo:

Art. 463, CC – Concluído o contrato preliminar, com observância do


disposto no artigo antecedente, e desde que dele não conste cláusula
de arrependimento, qualquer das partes terá o direito de exigir a
celebração do definitivo, assinando prazo à outra para que o efetive.

Art. 464, CC – Esgotado o prazo, poderá o juiz, a pedido do


interessado, suprir a vontade da parte inadimplente, conferindo
caráter definitivo ao contrato preliminar, salvo se a isto se opuser a
natureza da obrigação.

Dessa forma, o Juiz possui o poder de transformar o contrato preliminar em contrato


definitivo. Existe uma ação denominada Ação de Adjudicação Compulsória, que visa obter a
coisa compulsoriamente quando a parte se recusa a fazer.

 Prazo de manifestação no contrato unilateral

Art. 466, CC – Se a promessa de contrato for unilateral, o credor, sob


pena de ficar a mesma sem efeito, deverá manifestar-se no prazo nela
previsto, ou, inexistindo este, no que lhe for razoavelmente assinado
pelo devedor.

Há um prazo para que a parte opte por fazer ou não o contrato definitivo e se passar o
prazo a outra parte fica desobrigada a realizar o contrato definitivo.

 Perdas e Danos

Art. 465, CC – Se o estipulante não der execução ao contrato


preliminar, poderá a outra parte considerá-lo desfeito, e pedir perdas e
danos.

Dessa forma, cabe perdas e danos, mora e tudo o que estudamos em contratos no
caso do descumprimento de um contrato preliminar.

Exercício

 João adquire um terreno de Marcos mediante o pagamento de 10 parcelas mensais de


R$ 5.000,00 ficando convencionado por escritura pública que a transferência da

Kleber Luciano Ancioto Página 115


DIREITO CIVIL IV

propriedade ocorrerá após o término do pagamento. Depois de pagar 5 parcelas, João


assina um contrato com Pedro comprometendo-se a realizar um contrato de compra e
venda do mesmo imóvel por R$ 60.000,00 quando se tornar proprietário do bem.
o O contrato entre João e Pedro pode ser por instrumento particular? Pode ser
verbal? Quais cláusulas deve conter? Quem pode exigir o cumprimento deste
contrato? Quando? Qual a solução se a opção de compra é de Pedro?

Na verdade, neste exercício, temos dois contratos, um realizado entre João e Marcos,
onde João se obriga a pagar 10 parcelas de R$ 5.000,00 e Marcos em transferir o imóvel para o
nome de João após os pagamentos e outro realizado entre João e Pedro, no qual, João se
compromete a transferir o imóvel para o nome de Pedro por R$ 60.000,00, assim que ele
estiver em seu nome. O primeiro contrato, como o problema não fala poderia ser tanto um
contrato preliminar como um definitivo, ao passo que o segundo contrato será
obrigatoriamente um contrato preliminar.

Sendo assim, o contrato preliminar realizado entre João e Pedro, não precisa ter as
mesmas formalidades do contrato definitivo, embora para ter efeitos contra terceiro tenha
que ser registrado.

O contrato preliminar possui forma livre, podendo, portanto, ser verbal, mas a
dificuldade, neste caso, seria provar a existência do contrato.

Faz-se necessário conter no contrato preliminar todos os requisitos do contrato


definitivo e por se tratar de um contrato bilateral, qualquer um dos contratantes pode exigir o
cumprimento do contrato que é a realização do contrato definitivo, no entanto, essa
possibilidade semente se inicia quando João terminar de pagar as parcelas e se tornar o
proprietário do imóvel.

Se houvesse opção de compra de Pedro, o contrato tornar-se-ia unilateral, e, assim


sendo, Pedro deveria decidir dentro do prazo convencionado no contrato, ou na falta desse,
dentro de um prazo razoável estipulado pelo devedor.

Neste caso, João já tendo a intenção de revender o imóvel, poderia ter realizado
inicialmente com Marcos um contrato com pessoa a declarar, o que tornaria desnecessário a
realização dois contratos.

 João realiza a importação de um container de frutas que já esta pronto para embarque
em um porto da Europa há 30 dias. Se, ao receber a mercadoria, percebe que as frutas
estão estragadas, poderá recusa-las? E se desconhecesse o fato de que as frutas já
estavam no porto há 30 dias?

Neste caso temos o exemplo de venda de coisa sujeita a depreciação, onde o


indivíduo que compra assume o risco de comprar algo que poderá chegar deteriorado. A
discussão, neste caso, será apenas em questão sobre saber ou não que as frutas estavam no
porto esperando para serem embarcadas a 30 dias, visto que, o contrato de risco é válido
somente se o contratante possui conhecimento do risco, dessa forma, se ele não sabia poderá
pedir a anulação do contrato.

Kleber Luciano Ancioto Página 116


DIREITO CIVIL IV

 Elias anuncia em jornal que possui interesse na aquisição de um touro nelore de cor
inteiramente branco, até um valor “X”.

o Se Anânias possui um animal desta espécie e mostra para Elias, este será
obrigado a comprar o touro?
 Não, porque se trata da fase de negociação preliminar, visto que, ele
publicou que possui interesse apenas. Para caracterizar uma proposta
pública é necessário conter todos os requisitos do contrato definitivo,
sendo assim, se ele tivesse anunciado que compraria todo e qualquer
touro branco, nelore, pelo valor “X”, seria uma proposta pública e ele
estaria obrigado a cumprir a proposta.

o Se Elias liga para Anânias questionando se este possui interesse na venda do


touro por um preço “X”, no caso de concordância, será obrigado a realizar o
negócio?
 Aqui temos a mesma situação, Elias esta na fase de negociação
preliminar, demonstrando interesse na compra, sendo diferente dele
oferecer um valor “X”, por um touro branco, nelore, com pagamento a
vista, que seria uma proposta.

o Aceitando a proposta de compra, mas posteriormente verificando que o valor


de mercado do animal era muito superior ao preço de venda, o vendedor
poderá exigir um aumento no preço como condição para entrega-lo?
 Uma vez passado o momento de formação do contrato, cria-se um
vínculo jurídico, dessa forma, o principio da obrigatoriedade regula
que o contrato faz lei entre as partes e, portanto, deve ser cumprido
tal como foi estipulado.

o Pode pedir judicialmente que o contrato seja rescindido?


 Pelo mesmo motivo da situação anterior, devido ao principio da
obrigatoriedade o Juiz não pode alterar o contrato.

Kleber Luciano Ancioto Página 117

Você também pode gostar