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Direito das obrigações

Características próprias das obrigações:

Formalmente encontramos 3 características que permitem apurar a


existência ou não de uma obrigação, não obstante uma delas (a
patrimonialidade) parece não ser tida em conta, nos termos do artigo 398 nº2
CC

Patrimonialidade

A patrimonialidade de hoje não é verdadeiramente uma


característica essencial para definir obrigação, consistia resumidamente em ser
ou não uma obrigação caso o seu conteúdo resultasse de um carater
patrimonial ou não, respetivamente.

Autonomia

É uma outra característica própria da obrigação e diz-se que é


autónoma aquela que liga dois sujeitos jurídicos de modo originário, isto é, liga-
os sem que estivessem sujeitos a qualquer outro vínculo ou ainda que ele
exista não é relevante para a obrigação em causa, por exemplo, se A celebrar
e B sua irmã um contrato de compara e venda as obrigações decorrentes, não
são em nada distantes caso B não fosse irmã de A. Embora A e B estejam
ligados entre si por um vinculo jurídico (parentesco) não é relevante esse
vínculo para a qualificação daquelas obrigações resultantes daquele contrato
de compra e venda. É obrigação, não autónoma aquela que depende na sua
constituição (criação de uma relação jurídica não obrigacional, previamente
existente entre os sujeitos, por exemplo, obrigação de alimentos, artigo 2003º
CC; existência de uma relação jurídica de compropriedade, artigo 1411 nº11
CC)

Disponibilidade

Tipicamente os direitos de credito são disponíveis, isto é, os seus


titulares, podem dele livremente dispor. Quer isto dizer, que um sujeito pode
ser titular de um direito de crédito, só dele resulta a existência de obrigação
quando dele puder livremente transmitir, onerar, renunciar, etc. Ao contrario do
que acontece com a autonomia, a disponibilidade é uma característica
tendencialmente própria das obrigações embora se admita que a sua
existência não seja absoluta.
Esquema

SA SP
(sujeito ativo) (sujeito passivo )

Titular de um direito subjetivo titular de um dever jurídico


Ex: direito potestativo Estado de sujeição

Credor Devedor

Titular de direito titular de uma obrigação


de crédito

Sujeito ativo de uma Relação Jurídica Obrigacional simples (porque


existe um credor e um devedor) + plural ou composta (por exemplo
vários devedores e um credor, a pluralidade da relação jurídica
obrigacional reside do lado passivo e vice-versa)

Prestação

Comportamento que tem de adotar o devedor, para a satisfação


do credor.

Embora próximos, são distintos os contratos entre:


- Obrigação e dever jurídico
- Obrigação e ónus jurídico
- Obrigação e estado de sujeição

1. Obrigação e dever jurídico


A obrigação é uma espécie de um dever jurídico. Este está ligado a um
comportamento que tem de ser adotado no interesse geral ou no de um sujeito
em particular.
Na obrigação, o comportamento correspondente visa sempre satisfazer o
interesse de um sujeito em particular designado por Credor.
2. Obrigação e ónus jurídico
No ónus também há a necessidade de adotar um comportamento. Porém, a
necessidade resulta do próprio interesse de quem tem a necessidade.

3. Obrigação e estado de sujeição


A sujeição é uma situação passiva em que se encontra um sujeito em
virtude da existência de um direito potestativo. Nessa circunstância ele vê
produzidos os efeitos jurídicos na sua esfera sem que, para isso, concorra a
sua vontade.
Esta circunstância da sujeição não ocorre nas relações jurídicas obrigacionais.

Sujeitos da Relação Jurídica Obrigacional


São, o credor do lado ativo e o devedor do lado passivo. O credor é
titular de um direito de crédito e o devedor da correspondente obrigação.

Quer isto dizer:


Que o credor pode exigir do devedor a adoção de um comportamento por ação
ou por omissão, comportamento esse que se chama prestação.

É assim nas Relações Jurídicas Obrigacionais simples, isto é, dela


fazem parte apenas um credor e um devedor. Porém nem sempre as relações
jurídicas obrigacionais são simples, na medida em que podemos encontrar na
mesma RJO, dois ou mais credores e um devedor; dois ou mais devedores e
um so credor, ou dois ou mais credores e dois ou mais devedores. Em
quaisquer das 3 circunstâncias diz-se agora que a RJO é plural ou complexa.

Pluralidade

Diz-se ativa se existirem dois ou mais credores sendo que será


pluralidade passiva se existirem dois ou mais devedores.

Para resolver as questões ligadas a pluralidade das RJO, as RJO plurais a lei
adotou 2 regimes: o regime da conjunção e o regime da solidariedade.

Regime da solidariedade: é do lado passivo, significa que o credor pode exigir


indiferentemente a um só dos devedores a totalidade da prestação.
Do lado ativo significa que um só dos credores pode exigir do devedor a
realização da totalidade da prestação. Os demais credores têm o chamado
direito de regresso sobre aquele que recebem a totalidade da prestação.

Regime de conjunção: significa que nenhum dos credores (pluralidade ativa)


pode exigir do devedor a realização da totalidade da prestação.
Do lado passivo significa que nenhum devedor está obrigado a realizar mais do
que a sua quota parte da prestação. Do artigo 513ºCC resulta que o regime é o
da conjunção pois só será o da solidariedade quando a lei o indicar ou permitir
que as partes o escolham.
Do objeto da prestação
De acordo com o artigo 397ºCC, a obrigação tem de pôr objeto uma
prestação.
A prestação corresponde ao comportamento que o devedor deve adotar por
ação ou omissão, com vista à satisfação do direito de crédito do credor.

Tipos de prestação

1. Prestação de coisa
Em síntese traduz-se na entrega de uma coisa e tem 3 espécies:
- De dar: ocorre quando o devedor entrega ao credor uma coisa que já é do
credor ou passa a ser dele pela circunstância da própria entrega;

- De prestar: verifica-se quando o devedor entrega ao credor um bem para que


ele o use e restitua mais tarde;

- De restituir: ocorre quando o devedor restitui ao credor algo que ele tinha em
seu poder, em virtude de qualquer causa jurídica.

2. Prestação de facto
Subdivide-se em 2 espécies:
- Positiva: ocorre quando o devedor realiza determinada ação, como por
exemplo, a prestação de uma reparação.

- Negativa: a prestação a realizar pressupõe a omissão comportamental, isto é,


a prestação é de nada fazer.

Exemplos:
- Contrato de compra e venda (vendedor e comprador)
 Vendedor: é devedor de uma prestação de dar, porque a coisa que
entrega ao comprador (credor da obrigação) já é dele por efeito do
contrato de compra e venda (artigos 879ºCC e 408º n1CC)
 Comprador: tem de realizar uma prestação de dar, porque o preço já é
direito do vendedor.

- Contrato de doação (doador e donatário)


 Doador: é devedor de uma prestação de dar nos mesmos termos do
vendedor
 Donatário: não tem obrigações, em regra.

- Contrato de arrendamento (senhorio e inquilino ou arrendatário)


 Senhorio: é devedor de uma prestação de prestar, porque a coisa
entregue não é nem será do inquilino ou arrendatário que a tem de
restituir.
 Inquilino ou arrendatário: é devedor de uma prestação de restituir na
medida em que já havia recebido a casa para a devolver mais tarde.

- Contrato de comodato (comodante e comodatário)


 Comodante: é devedor de uma prestação de prestar, nos mesmo termos
que o senhorio.
 Comodatário: é devedor de uma prestação de restituir, nos mesmos
termos que o arrendatário.

Os contratos podem produzir diversos tipos de efeitos, como por exemplo,


efeitos reais e efeitos obrigacionais.

Significa que o contrato é apto ou idóneo para transmitir, modificar, constituir ou


extinguir um direito real. Esse efeito real, em regra, ocorre pela mera
celebração do contrato, artigo 408 nº1CC.

Classificação das prestações


As prestações podem ser instantâneas ou duradouras

- Instantâneas: serão as que podem ser realizadas num único momento e esse
momento corresponde à melhor satisfação do interesse do credor. Podem as
partes, por convenção, considerar o fracionamento da prestação no qe diz
respeito ao momento da realização dela, como é exemplo, a compra e venda a
prestações.

- Duradouras: nestas prestações a sua execução prolonga-se no tempo, e tal


circunstância tem influência no conteúdo da prestação e esse prolongamento é
a melhor forma de satisfazer os interesses do credor.
A prestação duradoura pode ainda ser continuada ou periódica. O exemplo que
melhor ilustra a existência de uma prestação duradoura continuada é a
prestação do senhorio num contrato de arrendamento, e o melhor exemplo de
uma prestação duradoura periódica é a do inquilino.

Em aspetos o regime das prestações instantâneas fracionadas é


diferente das prestações duradouras periódicas:
- O artigo 781ºCC só é aplicável às prestações instantâneas fracionadas. Quer
isto dizer que, só nestas é que é possível que o credor possa exigir a
realização de todas as prestações quando o devedor não cumprir algumas
delas.
- A resolução enquanto modo extintivo dos contratos tem tratamento
diferenciado. Em regra, a resolução tem efeito retroativo e tal não acontece se
o contrato resolvido tiverem resultado prestações duradouras.
- A denuncia é também uma forma extintiva dos contratos, mas é privativa dos
contratos dos quais emergem prestações duradouras.

Prestações fungíveis

São quando a realização da prestação puder ser feita pelo


próprio devedor, ou por um qualquer terceiro.

Prestações infungíveis

São quando a realização da prestação só puder ser feita pelo


próprio devedor.

Fungibilidade

Se nada estiver convencionado em contrario, e a convenção não


afetar a perda do interesse por parte do devedor, a fungibilidade é a regra.

Infungibilidade

Pode ser, por sua vez, convencional ou natural.


 Convencional: o devedor não pode fazer-se substituir por um qualquer
terceiro na realização prestação, porque assim foi contratualmente
estabelecido.
 Natural: o devedor não pode fazer-se substituir por um qualquer terceiro
pela própria natureza da prestação, como por exemplo, a pintura de um
quadro.

Nota: A distinção entre fungibilidade e a Infungibilidade das prestações é


relevante em relação á legitimidade do cumprimento e ao regime da
execução especifica(artigo 328 e ss CC)

Facto jurídico nas relações jurídicas obrigacionais:

O facto jurídico é composto por um direito de crédito e por uma


obrigação. Corresponde respetivamente ao poder que o credor tem de exigir a
prestação e o dever que o devedor tem de realizar essa prestação. Esse direito
de crédito e obrigação correspondentes que vão surgir ou resultar de factos
humanos ou naturais capazes de produzir efeitos jurídicos.

Garantia nas relações Jurídicas Obrigacionais:


A garantia numa relação jurídica obrigacional não é diferente da garantia
em qualquer outra relação jurídica.
Particularmente no que toca às obrigações diz-nos o artigo 817º CC, que o
credor pode recorrer à força para obter o cumprimento da obrigação por parte
do devedor. quer isto dizer que, se a obrigação não for cumprida
voluntariamente, tem o credor ao seu dispor a possibilidade de propor ações
judiciais com vista à satisfação do seu direito.

Essas ações judiciais têm duas vertentes:


1. Vertente condenatória ou declarativa: nesta o credor, se lhe for dada
razão, obtém sentença; reconhece a existência do seu direito e,
condena o devedor no cumprimento da obrigação.
Caso ainda assim o devedor não cumpra a sua obrigação pode o credor
propor:
2. Ação executiva: isto é, processo judicial através do qual pode o credor
obter a apreensão física e/ou jurídica dos bens do devedor (penhora) e,
eventualmente, promover a sua venda coercitiva para satisfação do seu
direito.

O artigo 601ºCC, prevê quais os bens suscetíveis de penhora. Daquele


artigo resulta então, que há 3 espécies de penhora de bens:

- Bens absolutamente impenhoráveis:


Bens que não podem, em circunstância alguma, ser alvo de penhora.
São eles: os bens indispensáveis à vida do devedor, como por exemplo
moveis e roupas essenciais, mas também s bens relativos ao culto da
religião, e os bens de insignificante valor económico.

- Bens parcialmente impenhoráveis:


São os que se referem aos rendimentos do trabalho ou pensões.

- Bens relativamente impenhoráveis:


São bens do Estado, ou de outras pessoas coletivas publicas, a não ser
que esses bens sirvam para pagar quantias certas ou divida com garantia
real.

A lei confere ao credor, ainda o respeito da garantia da relação jurídica


obrigacional, um conjunto de meios através dos quais pode ser preservada
a integralidade do património do devedor. A este conjunto chamamos:

Meios de conservação da Garantia Patrimonial do credor:


Os meios que a lei prevê são 4:
 Declaração de nulidade (artigo 605ºCC)
 Sub-rogação (artigo 606º a 609ºCC)
 Impugnação pauliana ou ação pauliana (artigo 610ºCC)
 Arresto (artigo 619ºCC)
1) Quanto à declaração de nulidade
Do artigo 286ºCC, já consta que a invocação da nulidade possa ser feita
por um qualquer interessado. Por tal circunstância pode mesmo dizer-se
que o artigo 605ºCC seria desnecessário. No entanto, a sua existência s
para reforçar a possibilidade do credor propor ações judiciais pedindo a
declaração de nulidade de negócios jurídicos que hajam sido realizados
pelo devedor com quaisquer terceiros, e por via desses negócios
jurídicos fique diminuído, ou até deixe de existir o património do devedor.

2) Quanto a sub-rogação
A lei permite ao credor que se substitua no exercício de direitos que o
devedor tem perante terceiros.
Há, no entanto, um conjunto de direitos que o devedor pode ter perante
terceiros que não podem ser sub-rogados, como por exemplo, o direito
de aceitar ou repudiar uma herança ou o direito de resolver um contrato.
De acordo com a artigo 609ºCC, se o credor exercer um direito no lugar
do devedor, e em consequência disse, tiver ingressado no património do
devedor determinado bem, esse bem vai responder pelas dividas que o
devedor tenha para com o credor.

3) Quanto à impugnação pauliana ou ação pauliana


O credor pode impugnar certos atos do devedor que envolvam uma
diminuição do seu património, de tal modo que, por força desses atos, o
credor pode não conseguir obter a satisfação do seu direito de crédito ou
ver agravada a impossibilidade de satisfação.

Para que a impugnação pauliana proceda é necessário que:


- O ato impugnável resulte na impossibilidade de satisfação do direito de
crédito, ou no agravamento dessa impossibilidade.
- O direito de crédito seja anterior ao ato de impugnar
- Ainda que o direito de crédito seja posterior ao ato a impugnar, este
tenha sido praticado de má-fé, com vista à inviabilidade do cumprimento
da obrigação.

A propósito do requisito de má-fé o artigo 612ºCC diz-nos que:


- Se o ato a impugnar for gratuito há lugar à impugnação.
- Se o ato a impugnar for oneroso só há impugnação se houver má-fé do
devedor e do terceiro.

4) Quanto ao arresto:
Corresponde a uma imobilização jurídica e económica dos bens do
devedor enquanto se mostrar justificado o receio que o credor tenha de
o devedor praticar atos de diminuição do seu património.
Os efeitos jurídicos de arresto encontram-se previstos no artigo 612ºCC.

Obrigações civis e obrigações naturais:


A obrigação natural não é suscetível de ser exigida coercivamente,
razão pela qual a garantia, neste tipo de obrigação e praticamente inexistente.
Aliás, a nossa lei caracteriza-a de forma algo vaga no artigo 402ºCC. Apesar
disso, a obrigação natural, é ainda assim, uma obrigação juridicamente
tutelada, na medida em que o artigo 403ºCC prevê a irrepetibilidade, isto é, se
o devedor realizar a prestação relativa a uma prestação natural, não pode pedir
a restituição da prestação apesar de não poder ser aquela obrigaçao exigida
judicialmente.
Daí que o regime jurídico das obrigações naturais, em tudo igual ao das
obrigações civis, exceto no que toca à garantia, isto é, à possibilidade da
exigência coercitiva da prestação.

A lei prevê certas obrigações como obrigações naturais são elas:


- Obrigação prescrita. A prescrição corresponde a um prazo, durante o qual o
titular do direito tem o ónus de o exercer sem que o direito se extinga. A esse
respeito trata o artigo 298º nº2 CC. Quando a obrigação prescreve pode dizer-
se que se extinguiu a obrigação, mas enquanto obrigação civil, já que não
prescreve enquanto obrigação natural, artigo 304º nº2 CC.
- Obrigações provenientes de contratos de jogo e de aposta.
- Obrigação de alimentos.

Garantias especiais das obrigações


A garantias especiais das obrigações podem ser pessoais ou reais.

Garantias pessoais: alguém garante perante o credor o cumprimento da


obrigação, caso o devedor não cumpra, ficando o seu património
genericamente considerado responsável por esse cumprimento.

A fiança é a principal garantia especial pessoal das obrigações. Assim, o


fiador garante ao credor que a obrigação se mostrara cumprida por caso o
devedor não cumpra, e se o próprio fiador não cumprir, o seu património pode
ser coercitivamente celebrado alienado para a satisfação do direito de crédito.
De acordo com o artigo 631º CC, o âmbito da divida principal é o âmbito da
fiança, isto é, a fiança não pode ser mais ampla do que a divida que garante.
Pode, no entanto, ter um âmbito mais reduzido.

O fiador beneficia do principal da execução prévia (artigo 632ºCC). Este


princípio permite que o fiador só tenha de realizar a prestação do devedor
voluntariamente, ou de modo coercitivo quando se esgotar a possibilidade de
satisfação do direito de crédito através do património do devedor. Dito de outro
modo, o fiador pode opor-se ao cumprimento da obrigação que garantiu,
enquanto não se tiver esgotado todos os bens do devedor.
A ação judicial que o credor pode propor, pode logo ser proposta contra
o devedor e fiador, o que não pode, é serem executados os bens do fiador
antes de se esgotar o património do devedor (artigo 641ºCC).
Porém, este benefício de execução prévia pode ser renunciado pelo
fiador (artigo 640ºCC).
Quando o fiador cumpre a obrigação que era do devedor fica sub-rogado
nos direitos que o credor tinha perante o devedor, isto é, tudo se passa como
se o fiador fosse, desde o início, o credor (artigo 644ºCC).
São várias as garantias especiais reais que o código civil prevê:
 Penhor (artigo 666 e ss CC)
 Hipoteca (artigo 686 e ss CC)
 Consignação de rendimentos (artigo 656 e ss CC)
 Privilégios creditórios (artigo 733 e ss CC)
 Direito de retenção (artigo 754º CC)

Quanto ao penhor:

O penhor confere ao credor o direito á satisfação seu crédito, bem


como dos juros, se os houver, com preferência sobre os demais credores, pelo
valor de certa coisa móvel ou pelo valor de outros direitos não suscetíveis de
hipoteca pertencentes ao devedor ou a terceiros (artigo 666º nº1 CC)
Havendo relações jurídicas obrigacionais e prestadas garantia através de
penhor, o respetivo credor passa a designar-se por credor pignoratício.

Quanto á hipoteca:

A hipoteca confere ao credor o direito de ser paga pelo valor de


certas coisas imoveis (ou moveis, sujeitos a registo) pertencentes ao devedor
ou a um terceiro com preferência sobre os demais credores que não gozem de
privilégio especial ou de prioridade de registo (artigo 686ºCC).
Se for vendido o bem hipotecado para a satisfação do direito do credor, e o
valor pelo qual for vendido é superior ao da divida, os demais credores que
possa o devedor ter de concorrer entre si, em pé de igualdade (exceto se
algum desses outros credores for também titular de hipoteca mas posterior a
outra).
Enquanto não se mostrar registada a hipoteca na Conservatória do Registo
Predial ou Registo Automóvel, o direito real de garantia não existe ainda na
esfera jurídica do credor. Quer isto dizer que, o registo de hipoteca é
constitutivo, pelo que o artigo 687ºCC refere que a hipoteca deve ser registada
sob pena de não produzir efeitos mesmo em relação às partes.
Há 3 distintas espécies de hipotecas:
 Hipotecas voluntarias (artigo 712 e ss CC)
 Hipotecas legais (artigo 704 e ss CC)
 Hipotecas judiciais (artigo 710 e ss CC)

Quanto à consignação de rendimentos:

Na consignação de rendimentos não fica um bem a garantir o


cumprimento da obrigação, mas o rendimento e certo bem diretamente afetado
ao cumprimento da obrigação.

Quanto aos privilégios creditórios:


Nos privilégios creditórios a lei concede a certos credores um
direito de serem pagos preferencialmente em relação aos restantes credores.
Os privilégios creditórios podem ser mobiliários ou imobiliários (artigo 735ºCC).
Respetivamente respondem os bens móveis e os imóveis.

Quanto ao direito de retenção:

O direito de retenção surge no artigo 754ºC e permite, que o


credor não devolva determinada coisa, enquanto a obrigação não se mostrar
cumprida.

Fontes das obrigações


Como em qualquer outra fonte, as relativas às partes são todos os factos
jurídicos dos quais resultem obrigações.
Podem elencar-se 6 fontes das obrigações:
- A lei;
- Os contratos;
- Negócios Jurídicos Unilaterais;
- Gestão de Negócios;
- Enriquecimento sem causa;
- Responsabilidade Civil

Os contratos:
É o negócio jurídico bilateral ou plurilateral e corresponde à conjunção
de duas ou mais vontades, com vista à produção dos efeitos pretendidos pelas
partes.
O princípio norteador desta fonte de obrigações é o princípio da liberdade
contratual, previsto no artigo 405ºCC.
Deste princípio resulta o seguinte:
a) Princípio da estipulação
b) Princípio da celebração
c) Permissão de misturar o conteúdo de contratos típicos com atípicos ou
até o conteúdo de típicos; com outros também tipificados
d) Celebrar contratos atípicos

O princípio da liberdade contratual não é naturalmente um principio ilimitado


ou absoluto. Há limitações a essa liberdade contratual. Essas limitações podem
ser ao nível da liberdade de celebração ou da estipulação.
Na sequência dessas limitações, a lei pode proibir ou impor a celebração
de certos contratos.
Os contratos podem ser gratuitos ou onerosos.

Quando deles resultar apenas


sacrifico patrimonial económico Os contratos quando deles resultam
para uma das partes, como por sacrifícios de natureza patrimonial ou
exemplo, o contrato de doação, o económica para ambos os
contrato de comodato e o de contraentes.
mútuo gratuito.

O valor relevante para saber se um contrato é ou não oneroso é o valor do


património de uma das partes no momento da celebração do contrato
comparado com o valor do património dessa mesma parte, depois do contrato
produzir os seus efeitos.
A distinção entre contrato gratuito e oneroso é importante para os seguintes
aspetos:
a) Efeitos da declaração de nulidade e de anulação (artigo 289º nº2 CC)
b) Enriquecimento sem causa (artigo 481º nº1 CC)
c) Impugnação pauliana (artigo 612º CC)
d) A compra e venda é a chave dos muitos contratos não tipificados (artigo
939º CC)

Os contratos podem ser unilaterais e bilaterais

Serão bilaterais todos os contratos


São unilaterais se deles dos quais resultem obrigações
resultam obrigações apenas para ambos os contraentes. A esta
para um dos contraentes. categoria pertence a maioria dos
contratos.

Ainda que nem todos assim o defendam, os contratos bilaterais podem


ser sinalagmáticos ou não. São sinalagmáticos aqueles onde se verifique a
existência de um nexo logico de reciprocidade entre as varias obrigações
geradas, isto é, entre elas existe uma relação de interdependência e uma tem
como reflexo a existência da outra.
Os contratos bilaterais sinalagmáticos têm regime próprio. Quer isto
dizer, que só a estes contratos (quase todos) são aplicáveis determinadas
regras não observadas noutro tipo de contrato.
Esse regime próprio abrange:
- A exceção do não cumprimento
- A impossibilidade objetiva
- A impossibilidade culposa
- A cessão da posição contratual a terceiros

A exceção do não cumprimento


Daqui resulta que, enquanto uma das obrigações não for cumprida, a
que lhe corresponde não tem ainda de ser cumprida igualmente. Senão se tiver
convencionado no contrato as varias obrigações das partes deveriam ter lugar
um momento diferente para cada uma das partes, o credor ou devedor,
consoante os casos, tem a faculdade de recusar o cumprimento da sua
obrigação com o fundamento de que outra parte ainda não cumpriu a sua
obrigação (artigo 421ºCC).
Para que a exceção de não cumprimento possa ser invocada é
necessário que o contrato seja sinalagmático, que não esteja convencionado,
que o cumprimento das obrigações se efetua em momentos distintos e
enquanto se verificar esse incumprimento.

A impossibilidade objetiva:
Prevista no artigo 790ºCC, significa que a obrigação se extingue quando
a prestação a realizar pelo devedor se torne impossível por causa não
imputável ao devedor. Nos termos do artigo 795ºCC, nos contratos bilaterais e
sinalagmáticos a extinção de uma obrigação implica que a contra obrigação
também se extingue e se já tiver sido realizada a prestação, pode exigit-se a
sua restituição.

A impossibilidade culposa:
Se uma prestação se torna impossível por culpa do devedor é este
responsável, como se tivesse fado ao cumprimento da obrigação, e o credor
tem o direito de resolver o contrato (artigo 801º CC).

A cessão da posição contratual a terceiros:


Só é aplicável aos contratos sinalagmáticos. Para que produza efeitos
perante as partes é necessário a autorização da outra parte. Esta autorização
pode ser dada no próprio contrato aquando da cessão ou posteriormente.
Cedente é aquele que cede a sua posição no contrato; cessionário é aquela
pessoa quem a posição é cedida e o que permanece no contrato é designado
por cedido.
A cessão da posição contratual é uma forma de transmissão jurídica da
posição que um sujeito tem (ativa ou passiva) num determinado contato. Para
que seja possível a cessão da posição contratual é necessário que a
contraparte consinta.
Eficácia dos contratos:
Os contatos produzem efeitos jurídicos de natureza variável.
Destacamos aqui 2 dos seus principais efeitos dos quais sejam os efeitos
obrigacionais e os efeitos reais.
Diz-se que o contrato produz efeitos obrigacionais quando, para as
partes resultam na criação de obrigações recíprocas ou não. Em princípio,
quando os contratos produzem efeitos obrigacionais, só as partes que o
celebraram são por eles afetadas. Dito de outro modo, os efeitos obrigacionais
do contrato repercutem-se, em princípio, nas partes e não afetam terceiros.
Este é o princípio geral que resulta do artigo 406º nº2 CC.
No que diz respeito aos efeitos reais, deve dizer-se que esses contratos
são também conhecidos como, reais quanto aos seus efeitos ou ainda reais
quoad effetetum.
Os contratos que produzem efeitos reais podem ser de natureza
transmissiva, modificativa, constitutiva ou até mesmo extintiva dos direitos
reais. Em regra, e por princípio, estes efeitos reais dos contratos produzem-se
pela mera celebração do respetivo contrato. Este é o princípio previsto no
artigo 408ºCC. Quer isto dizer que, por este princípio aqueles distintos efeitos
reais (transmitir, modificar, constituir e extinguir) ocorrem pela mera celebração
do contrato. Não se necessita, pois, de nenhum ato de natureza material,
contemporânea ou posterior ao contrato para que esses efeitos reais ocorrem.
Este é um sistema jurídico que não é uniforme na Europa Continental, já
que por exemplo, em Espanha e na Alemanha, um contrato de compra e venda
tem efeito meramente obrigacional e, é em regra, a entrega de coisa enquanto
ato material posterior que vai libertar os efeitos reais desse contrato, como por
exemplo, a transmissão de direito de propriedade sobre a coisa comprada.
Há no nosso ordenamento jurídico, no entanto, um conjunto de contratos
designados por reais quanto à sua constituição de reais quoad constiutionem.
São contratos nos quais a entrega da coisa, objeto deles, é elemento
constitutivo do próprio contrato, isto é, o contrato não se mostra concluído, o
contrato não se mostra perfeito, a não ser com a entrega da coisa.
São vários os contratos reais quanto a sua constituição previstos no
Código Civil:
- Mútuo
- Comodato
- Deposito
- Constituição de penhor

Por outro lado, estes contratos que são reais quanto à sua constituição,
podem ou não produzir efeitos reais, isto é, podem ou não também ser aptos
ou idóneos para transmitir, modificar, constituir ou extinguir direitos reais. Os
contratos reais quanto à sua constituição e que não produzam efeitos reais são
o deposito e o comodato.
Os contratos reais quanto à sua constituição e que simultaneamente
produzem efeitos reais é o contrato de mútuo.
O artigo 408º nº2 e 409º CC, apresenta um conjunto de circunstancias
que afastam a aplicação do principio enunciado no artigo 408º nº1 CC. Por
exemplo, se a coisa, o objeto do contrato com eficácia real for futura, o efeito
real do contrato não ocorre pela mera celebração dele, mas tão só no momento
em que a coisa passar a ser presente.
Um outro exemplo está previsto no artigo 409º CC, a propósito da
reserva de propriedade no contrato de compra e venda a prestações. O efeito
real característico do contrato de compra e venda, só irá ocorrer quando se
verificar o facto certo ou incerto que as partes previram no contrato de compra
e venda a prestações. É muito vulgar que esse facto seja o pagamento da
última prestação.

Formas de extinção dos contratos:


São 4 as fontes de extinção dos contratos que a lei prevê:
- Mútuo consenso ou revogação
- Caducidade
- Denuncia
- Resolução rescisão

Mútuo consenso

Está previsto no artigo 406º e é a forma mais pacifica de extinção


dos contratos na medida em que pressupõe um acordo dos contraentes para
pôr termo ao contrato.
Em regra, os efeitos decorrentes da revogação são apenas prospetivos,
embora as partes atribuem eficácia retroativa, mas sem que isso possa afetar
ou prejudicar quaisquer terceiros.

Caducidade

Existe quando o contrato tem um prazo de duração


convencionado pelas partes ou previsto na lei. Verificado o facto que a lei prevê
ou que as partes previram (certo ou incerto), o contrato extingue-se por via da
caducidade.

Denuncia

É uma forma de extinção dos contratos de execução duradoura.


Significa que as partes podem mediante algumas circunstâncias pôr termo
unilateralmente ao contrato bastando para tal, que seja antecipadamente
comunicada essa intenção. Este período de antecipação destina-se
fundamentalmente a dar a conhecer com antecedência o fim do contrato
permitindo à outra parte posicionar-se e atuar conforme lhe aprouver.
Resolução

É, a par da denuncia, uma forma extintiva unilateral dos contratos,


mas, ao contrário da denuncia, alicerçado num motivo contratual previsto ou
indicado pela lei.
No fundo, não basta, ao contrário da denuncia, que uma das partes avise
antecipadamente que vai pôr termo, à contrário. Aqui é imprescindível que essa
vontade de pôr termo ao contrato uma causa ou motivo previsto no contrato ou
na lei. É, por isso, que se diz que a resolução ocorre por vontade de uma das
partes, mas essa vontade é vinculada. Assim, diz o artigo 432º n1 do CC. Ao
contrário da revogação e até mesmo da denuncia, a resolução tem eficácia
retroativa.
Assim nos dizem os artigos 433º e 434º nº1 do CC.

Contrato – promessa (artigo 410º e ss CC)


É um contrato pelo qual as partes se obrigam a, no futuro, a celebrar um
outro contrato. É o mais vulgar. No entanto também é contrato-promessa a
convenção pela qual as partes se obrigam a, no futuro, celebrar um negócio
jurídico unilateral.
O princípio geral do regime jurídico do contrato-promessa é o princípio
da equiparação (artigo 410º nº1 CC). Significa que ao contrato-promessa são
aplicáveis adaptadamente as regras relativas à forma.
Este princípio tem duas vertentes de exceção:
1º- Não são aplicáveis ao contrato-promessa, as regras relativas à forma do
contrato prometido;
2º- Também não são aplicáveis ao contrato-promessa, as regras do contrato
prometido, que pela sua razão de ser não devam considerar-se extensíveis ao
contrato-promessa.

Uma das manifestações mais visíveis quanto a essa razão de ser tem
haver com o facto de, por exemplo, não ser nunca possível que um contrato
promessa de compra e venda tenha efeitos reais. Deve ser exceção porque o
contrato-promessa não tem por finalidade a produção de efeitos reais.

Formas do contrato de promessa:


Convém relembrar que o regime da forma do contrato-promessa não é a
do contrato prometido. Por princípio, a forma do contrato promessa é livre e,
portanto, comunga do princípio do artigo 219º CC.
Há, no entanto, casos de existência formal para o contrato-promessa.
Dispõe no artigo 410º nº2 CC que, quando para o contrato prometido, a lei exija
documento particular autenticado ou autêntico, o contrato-promessa respetivo
só é valido se for reduzido a escrito.
Para além do disposto no artigo 410º nº2 CC e já numa perspetiva forma
em sentido escrito, mas sim da formalidade acessória, casos há em que se
exija, para além da redução a escrito, que sejam reconhecidas presencialmente
as assinaturas dos contraentes e, exibida a licença camararia de construção ou
de utilização. Esta exigência prevista no artigo 410º nº3 CC, só as aplica
quando cumulativamente se verificarem os seguintes requisitos:
1- Ser o contrato prometido oneroso;
2- Ser o contrato prometido apto a transmissão ou à constituição de
direitos reais.
3- O objeto de contrato-promessa tem de ser um edifício ou uma fração
autónoma dele, construído, em construção ou a construir.

Regime do não cumprimento do contrato-promessa:


Em regra, o não cumprimento de uma obrigação pode ser temporário ou
definitivo. Quer isto dizer que, podemos estar perante a simples mora (atraso)
do devedor ou perante o incumprimento definitivo.
O sinal não é privativo do contrato-promessa, mas é muito comum que a
ele esteja associado.
O sinal corresponde à entrega, por um dos contraentes ao outro, de uma
coisa normalmente fungível para que funcione, em regra, como uma
antecipação do cumprimento, da obrigação.

Regras gerais quanto ao sinal:


Dispõe o artigo 442º nº1 CC que, quando a natureza da coisa entregue a
título de sinal for da mesma espécie a que corresponde a prestação a realizar
pelo devedor, é esse sinal imputável nessa prestação. Aliás, o nº1 do artigo
442º CC diz mesmo que, a coisa entregue deve ser imputada na prestação
devida.
Quando o sinal esteja associado a um contrato-promessa presume-se
que toda a quantia entregue pelo promitente comprador, é sempre tido como
sinal nos termos do artigo 441º CC.
Do artigo 442º nº2 (1º parte), resulta claro que, se quem constituiu o
sinal deixar de cumprir a obrigação pode, a outra parte fazer sua a coisa
entregue. Ainda nesse nº2 decorre que se, quem cumpriu a obrigação foi quem
recebeu o sinal, pode o outro contraente exigir o sinal em dobro.
O nº2 do artigo 442º (2º parte), acrescentou uma alternativa para o
contraente não faltoso, por não se ter sentido a necessidade de evitar ou obstar
ao tentador incumprimento contratual em resultado de especulação imobiliária
ocorrida em meados dos anos 80. Com efeito, não fosse esta 2º parte do nº2 e,
o promitente não faltoso poderia apenas exigir o sinal em dobro e essa perda
patrimonial do promitente incumpridor seria compensada pela diferença de
preço que conseguiria obter em função dessa especulação. Por exemplo, se A
entregou a B, 10.000€ de sinal num contrato-promessa de compra e venda, e
sendo o preço de 100.000€, apenas poderia exigir o dobro do sinal, enquanto o
nº2 não foi alterado. O promitente vendedor antes da realização do contrato
promitente, poderia dolosamente incumprir a promessa e vender o imóvel a um
terceiro por conseguir facilmente dele obter 140.000€. com esta alternativa do
nº2 do artigo 442 (2º parte), o promitente comprador pode exigir a devolução,
em sigilo, dos 10.000€ que havia entregue, mais 40.000€ por ser essa a
diferença entre os 100.000€ (preço no contrato-promessa) e os 140.000€
(preço pelo qual o imóvel foi vendido ou podia ter sido).
Porém, esta alternativa só é possível se tiver havido a tradição da coisa
a que se refere o contrato.

Execução especifica (artigo 830º CC):


Ao contrário do regime do sinal, o da execução especifica e privativa do
contrato promessa. De acordo com o artigo 830º nº1 do CC, se alguém se tiver
obrigado a celebrar certo contrato e não cumpriu a promessa, pode a outra
parte, na falta convenção em contrário, obter sentença que produza os efeitos
da declaração negocial do faltoso, sempre que a isso não se oponha a
natureza da obrigação assumida.
Quer isto dizer que, a obrigação em falta tem de ter natureza fungível
pois só assim a sentença poderá substituir a declaração negocial do faltoso.
Não se trata de uma ação executiva, embora do artigo 830º pareça
tratar-se de tal espécie de ação judicial. Se se tratasse de uma ação
declarativa condenatória, o promitente não faltoso apenas conseguiria que o
tribunal condenasse o promitente incumpridor na realização do contrato
prometido. Ora, não é isso claramente que decorre do artigo 830º nº1 ao referir:
«… obter sentença que produza os efeitos da declaração negocial do
faltoso…».
Porém, não é uma ação judicial executiva porque, elenco dos títulos
executivos que a lei prevê, não faz parte da situação.
No entanto, não é à toa que a expressão execução é utilizada, na
medida em que, do artigo 830º nº1, resulta evidente a coercibilidade da decisão
judicial, que é característica de qualquer ação executiva.
Obtinha a sentença a que se refere o artigo 830º nº1, o contrato
prometido, que não havia até então sido realizado, mostra-se concluído
dispensando-se assim, o comportamento voluntário e declarativo do promitente
faltoso.
Desse mesmo artigo 830º nº1 CC resulta ainda que não é possível a
utilização deste mecanismo se:
a) O incumprimento da obrigação se for definido ou o cumprimento se
mostrar impossível.
b) Se a obrigação em falta não for fungível
c) Se tiver havido convenção em contrário.

Entende-se ter havido convenção em contrário se o contrato promessa tiver


sinal. É o que decorre do artigo 830º nº2. Para que haja execução
especifica num contrato promessa que não se refira ao artigo 410º nº3, e
que nele tenha havido sinal, é necessário que as partes, assim e
expressamente o indiquem. Para que não haja lugar à execução especifica
de um contrato promessa, no qual não houve sinal, e que não se enquadre
no artigo 410º nº3 CC, é necessário que as partes, expressamente
pretendam o seu afastamento. Se, porém, o contrato promessa disser
respeito ao artigo 410º nº3, haja ou não haja sinal, queiram ou não as
partes, é sempre possível o recurso à execução especifica. Assim nos diz o
artigo 830º nº3, 1º parte.
Contrato-promessa com eficácia real (artigo 413ºCC)
Dispõe no artigo 413ºCC, que as partes por declaração expressa,
documento solene e inscrição no registo podem conferir ou atribuir ao contrato-
promessa, eficácia real. É o que resulta do artigo 413ºCC.
Os contratos que produzem efeitos reais são os que permitem a
transmissão a constituição de direitos reais, mas também a sua modificação ou
até a sua extinção. Alguns destes contratos, para além da sua aptidão para
produzir efeitos reais, veem esses efeitos verificados pela mera celebração, de
acordo com o artigo 408º CC. Se o contrato produz efeitos reais, em particular,
se dele for transmitido ou constituído um direito um direito real significa um dos
contraentes passará a ser titular de um direito real que até então não fazia
parte da sua esfera jurídica.
A par dos direitos de personalidade, os direitos reais possuem uma
característica semelhante, qual seja, a da oponibilidade erga omnes. Assim, um
titular de um direito real pode, em princípio, opor o seu direito a todos quando
estejam em situação que o ponham em causa. Não se circunscreve apenas,
pois, à eficácia inter partes.
Feita esta análise prévia, sabendo que o contrato promessa, nem com
eficácia real produz qualquer efeito real, isto é, não é nunca apto para
transmitir, construir, modificar ou extinguir direitos reais, torna-se necessário
saber qual o sentido da expressão «eficácia real» do artigo 413ºCC. O que se
pretende com a expressão é permitir ao promitente adquirente que se possa
comportar perante terceiros, como se titular de um direito real já fosse, embora
apenas continue a ser titular de um direito de crédito. Dito de outro modo pode
o promitente adquirente fazer valer perante terceiros, um direito de crédito
como se já fosse titular do direito real que irá adquirir, quando e só for
celebrado o contrato prometido.

Pacto de preferência (ou contrato de preferência, artigo 410º e ss CC):


O pacto de preferência consiste na convenção pelo qual alguém assume
a obrigação de dar preferência a outrem na venda de determinada coisa.
Responda, pois, a um contrato pelo qual alguém se obriga a dar preferência a
certa pessoa, desde que o obrigado à preferência decida celebrar o negócio
objeto do pacto de preferência. Assim, nas mesmas condições que um terceiro
pudesse adquirir a coisa, nessa aquisição tem preferência aquele a quem foi
conferido o direito.
O artigo 414º CC refere a compra e venda, mas o seu regime é aplicável
ou extensível a outros negócios jurídicos que tenham os mesmos efeitos da
compra e venda, conforme resulta do artigo 423º CC. Deste normativo resulta
que, as disposições dos artigos precedentes relativos à compra e venda são
extensíveis, adaptadamente, às obrigações de preferência, tiverem por objeto,
outros contratos com ela (compra e venda) compatíveis. De fora ficam,
naturalmente, os contratos gratuitos tendo presente que a onerosidade é
característica essencial da compra e venda.
Quanto à forma deste tipo de contrato, a regra é a liberdade de forma
aplicando-se adaptadamente o disposto no artigo 410 nº2 CC, quando o
contrato que é objeto de preferência tiver forma exigida na lei.
O artigo 416º, sob a epígrafe «conhecimento do preferente» diz-nos que,
querendo vender a coisa que é objeto do contrato de preferência, o obrigado à
preferência deve comunicar ao titular do direito de preferência, o projeto de
venda e as clausulas do respetivo contrato. Recebido a comunicação, o direito
de preferir caduca se o titular do direito não exercer, em regra, dentro do prazo
de 8 anos.
Se o preferente nada fazer, o direito de preferir caduca nas condições do
projeto apresentado, pois se mudarem essas condições volta o preferente a ter
de exercer o seu direito.
Querendo preferir e comunicando tal circunstância ao obrigado à
preferência, o contrato objeto preferência será celebrado entre eles nas
condições constantes do projeto de venda.
De algum modo, discutível é saber se o obrigado à preferência, ao
comunicar o projeto de venda e as respetivas clausulas, deve ou não identificar
o terceiro ou terceiros com quem está disposto a celebrar o contrato de compra
e venda, caso o preferente não queira. Parece resultar do princípio geral da
boa-fé, que o obrigado à preferência deva incluir no projeto de venda à
identificação do terceiro pois só assim poderá o titular do direito de preferência
formar a sua vontade de preferir ou não proferir. Diz-se que é discutível, porque
vender a A ou a B não é necessariamente elemento estrutural do processo
formativo da vontade de proferir e, como tal, só se deve aceitar como exigível,
a identificação do terceiro quando no caso concreto for efetivamente relevante
conhecê-la, para a boa formação da decisão de preferir ou não preferir.
Tal qual ocorre com o contrato promessa, e em condições em tudo
semelhantes, as partes que celebram o pacto de preferência podem igualmente
atribuir-lhe eficácia real.
É o que resulta o artigo 421º CC. À semelhança do que atrás dissemos a
propósito do artigo 413ºCC, também no artigo 421ºCC deve ser interpretado no
sentido de não abranger apenas o contrato de compra e venda, mas também
outros contratos onerosos que produzam efeitos reais.

1- Direito de preferência
O direito de preferência pode ser convencional ou legal. O mesmo se dirá
na perspetiva da obrigação, que a obrigação de dar preferência pode ser
convencional ou legal, quer isto dizer, a obrigação de dar preferência pode
resultar da vontade das partes (convenção) ou pode resultar de norma legal. a
preferência convencional pode ter eficácia meramente obrigacional (artigo
413ºCC) ou com eficácia real (artigo 421ºCC).
Quando relativamente ao mesmo contrato e ao mesmo objeto existam
vários direitos de preferência, há que atentar ao disposto no artigo 422ºCC, no
qual se mostra prevista uma regra de hierarquização. De acordo com este
normativo significa que o direito de preferência convencional meramente
obrigacional é o que cede perante os outros.
De seguida, o direito de preferência convencional com eficácia real, sobre
estes dois prevalece sempre o direito de preferência legal. Se no caso, o direito
de preferência for convencional, mas com eficácia real ou legal, o seu titular
tem ao seu alcance o mecanismo previsto no artigo 1410º CC chamado «Ação
de preferência». Embora previsto para a preferência na compropriedade, este
normativo é aplicável a todas as situações de preferência legal ou
convencional, mas com eficácia real.

2- Ação de preferência:
É um instrumento de tutela judicial do preferente legal ou co convencional
com eficácia real e é proposta contra o obrigado à preferência e, contra o
terceiro com quem afinal o obrigado à preferência celebrar o contrato.
Caduca o direito a esta ação judicial, se não for proposta no prazo de 6
meses a contar do conhecimento dos elementos essenciais do contrato, por
parte do preferente. Proposta a ação de preferência é a condição da sua
procedência, o deposito do preço por parte do preferente. Tem de o fazer no
prazo de 15 dias contado da data da propositura da ação.
Se a ação de preferência proceder o titular do direito de preferência
ofendido fica investido na titularidade do direito real em causa passando a
constar esse direito na sua esfera patrimonial.

3- Negócios jurídicos unilaterais enquanto fontes de obrigações:


São aqueles em que existe uma só declaração de vontade ou vários, mas
no mesmo sentido.
Resulta do artigo 457ºCC, que podem surgir obrigações na sequência da
realização de negócios jurídicos unilaterais.
Porém, ao contrário do que acontece com os contratos (liberdade de
celebrar os que se entender, e dele resultarem obrigações), os negócios
jurídicos unilaterais só são fontes de obrigações quando a lei o preveja. Dito de
outro modo, só podem resultar obrigações tutelados pela lei em resultado dos
negócios jurídicos unilaterais que a preveja. Vigora aqui o princípio da
tipicidade quanto aos negócios jurídicos unilaterais produtores de obrigações.
Dois são os negócios jurídicos unilaterais que aqui destacamos, e que a lei
prevê enquanto fonte de obrigações. São eles: a promessa publica e o
concurso publico (que não seja regulado pelo direito publico).

4- Gestão de negócios
Constitui uma outra fonte de obrigações e está regulada nos artigos 464 e
ss CC.
Pressupõe a existência de requisitos cumulativos, quais sejam:
a) Alguém assume a direção de um assunto alheio
b) Quem o assume deve fazê-lo por conta do respetivo dono ou
interessado. Atuar por conta significa atuar com intenção de fazer
projetar na esfera patrimonial e jurídica do outro, os efeitos dos atos
praticados positiva ou negativamente.
c) O gestor atua no interesse do gestido. Atua de acordo com o interesse
objetivo do dono do negócio
d) É indispensável que o gestor não esteja autorizado a praticar aqueles
atos de gestão.
Da gestão de negócios emergem obrigações para o gestor e para o gestido.
Para o gestor:
a) Tem de se conformar com a vontade e o interesse real ou presumível do
dono do negócio (artigo 465, alínea a) CC)
b) Avisar o dono do negócio, logo que seja possível, que assumiu a gestão
(artigo 465º, alínea b) CC)
c) Prestar contas finda o negócio (artigo 465º, alínea c) CC)
d) Prestar ao gestido todas as informações relativas à gestão (artigo 465,
alínea d) CC)
e) Entregar ao gestido tudo quando tenha recebido de terceiros no
exercício da gestão (artigo 465º, alínea e) CC)
f) Responder perante o dono do negócio, tanto pelos danos a que deve
causa por culpa sua, como os que causar em face de injustificada
interrupção do negócio (artigo 466º, nº1 CC numa interpretação
enunciativa à contrário sensu).

Para gestido:
1. Se a gestão tiver sido regular, isto é, se foram cumpridas todas as
obrigações do gestor, o gestido fica obrigado a reembolsar o gestor de
todas as despesas que este haja suportado (artigo 468º, nº1 CC)
2. Indemnizar o gestor pelos danos que este haja sofrido durante a gestão
(artigo 468º, nº1, parte final CC)
3. Pode o gestido ter de remunerar o gestor, embora esta obrigação só
exista quando o gestor intervir no exercício de uma atividade profissional
(artigo 470º CC)

Relação entre aprovação e ratificação

Aprovação:

A aprovação da gestão é resultado da iniciativa do gestido ou em


consequência da decisão judicial favorável ao gestor significa que a este
assiste o direito de exigir do gestido o reembolso das despesas que haja
suportado e, bem assim ser indemnizado pelos danos que haja sofrido no
exercício regular da gestão.

Ratificação:

Só ocorre quando a gestão de negócios tiver implicado a


realização de um negócio jurídico entre o gestor e um terceiro, que carece
de confirmação (ratificação) por parte do gestido, se ele assim o entender. É
exatamente por causa da expressão final da frase anterior, que a aprovação
da gestão não tem necessariamente de implicar a ratificação do negócio
jurídico realizado entre o gestor e um terceiro. Assiste sempre ao dono do
negócio, o direito de ratificar ou não, o negócio jurídico celebrado pelo
gestor.
Em nada se afastam as expectativas do terceiro, na medida em que
depende da vontade dele, celebrar ou não, o negócio jurídico com o gestor,
não podendo ignorar que se o fizer ficará sujeito a que a libertação dos
efeitos jurídicos do negócio jurídico celebrado, só ocorre com a ratificação
do negócio jurídico.
Ao invés, se o gestido ratificar o negócio jurídico implicitamente, estará a
aprovar a gestão pois, se concorda com o negócio jurídico celebrado e,
pretende a produção dos correspondentes efeitos jurídicos, não pode deixar
de se considerar aprovada a gestão, sob pena de o gestido beneficiar dos
efeitos da ratificação e não aprovar a gestão, quando ela necessariamente
for regular.

5- Enriquecimento sem causa (artigo 473º e ss CC)


Destina-se a desfazer uma deslocação patrimonial entre o acervo de dois
sujeitos jurídicos, nos casos em que essa deslocação patrimonial, não teve
fundamentação jurídica.
Não se trata de penalizar ou sancionar, mas sim fazer regressar o
património deslocado a quem de direito.
Para que haja enriquecimento sem causa têm de se verificar alguns
pressupostos:
1º- Tenha havido deslocação patrimonial entre dois sujeitos, isto é, que um
deles veja enriquecido o seu património à custo do outro. O regime jurídico do
enriquecimento sem causa, tanto se aplica nos casos em que o enriquecimento
corresponde a um aumento do ativo, como na diminuição do passivo.
2º- Tem de haver um correspondente empobrecimento patrimonial.
3º- Tem de existir um nexo de ligação entre o enriquecimento e o
empobrecimento. Esta obrigação tem de permitir que se diga que o
enriquecimento sem causa, de um sujeito foi obtido à custa do empobrecimento
do outro.
4º- Vista enquanto requisito negativo, tem de faltar causa jurídica para o
empobrecimento e enriquecimento.
Diz-se que falta causa quando não há fundamento jurídico para a
deslocação patrimonial, fundamento esse que não pode ser, nem impositivo,
nem permissivo.
Verificado o enriquecimento sem causa, a obrigação dele emergente traduz-
se na restituição ao empobrecimento da coisa que se deslocou para o
património do outro.
Porém, e nos termos do artigo 474ºCC diz-se que não há lugar à restituição
por enriquecimento sem causa, quando a lei facultar ao empobrecido outro
meio de ser, indemnizado, ou restituído, ou atribuir outros efeitos do
enriquecimento.
A lei prevê ainda os chamados casos especiais de enriquecimento sem
causa. Falamos, em particular do disposto no artigo 476º CC, com epigrafe
«repetição do indevido».

6- responsabilidade civil extrajudicial «ou extra obrigacional (artigo


483º CC)
Corresponde à chamada responsabilidade civil subjetiva, isto é, a que
tem por base a culpa.
Para que surja a obrigação emergente da responsabilidade civil
extracontratual é necessário que se verifiquem vários pressupostos:
1º- Ato voluntário do sujeito tem de corresponder a uma situação
controlada ou controlável pela vontade do sujeito.
2º- O comportamento do sujeito deve ser ilícito. Haverá ilicitude quando
o ato praticado pelo sujeito se traduz na violação de um direito subjetivo não
creditício de outrem. Estamos perante a violação de um direito absoluto
(direitos reais e direitos de personalidade).
3º- O comportamento há de ter sido culposo, isto é, o sujeito não adota
diligencia exigível de modo a evitar a violação de um direito de outrem.
Comportamento culposo não tem necessariamente que significar a intenção
de violar um direito de um terceiro, pois pode apenas significar que o
agente, não tenha adotado ou tomado diligências julgados necessários,
para evitar que o ato ilícito se verificasse.
A adoção destas diligências é exigível do agente em concreto, como o
seria a qualquer homem médio minimamente diligente que, é colocado na
posição concreta daquele que também teria de adotar ou tomar aquelas
diligências (paradigma do homem médio ou do bonus pater familiais).
A culpa subdivide-se em dolo e negligência ou mera culpa. O dolo, por
sua vez, pode ser direto, necessário ou eventual. Será direto, quando o
agente pretendeu com o seu ato, o fim ilícito. Será necessário, quando o
objetivo agente não é o resultado ilícito, mas sabe que para atingir o seu
propósito, o ilícito terá necessariamente de ocorrer. Será dolo eventual,
quando o agente não pretende o resultado ilícito, mas sabe que
eventualmente esse ilícito pode ocorrer.
A negligência ou mera culpa divide-se, por sua vez, em consciente e
inconsciente. A negligência é consciente quando o agente prevê o ilícito,
mas acredita que conseguirá os seus objetivos, sem que o ilícito ocorra.
Será inconsciente a negligência pela simples circunstância de o agente nem
sequer ter previsto o ilícito.
4º- Têm de existir dano. Indemnizar significa tornar sem dano.
5º- Tem de existir um nexo de causalidade entre o ato do agente e o
dano causado. Para que alguém seja obrigado a indemnizar outrem é
necessário que o ato praticado pelo agente seja causa jurídica do prejuízo
sofrido pelo lesado. Quer ainda dizer, que nesta relação causal, um ato só,
pode ser causa do dano, se for idóneo para tal, ou seja, sem aquele ato não
haveria aquele dano.

Causas de exclusão:
São circunstâncias que podem tornar um determinado ato como licito e
que noutras circunstâncias, esse mesmo ato seria ilícito. Falamos em
particular das situações previstas nos artigos 336º, 337º, 339º, 340º e 1877º
e ss CC.

Causas da exclusão da culpa:


São as circunstâncias que no caso concreto tornam o comportamento do
agente como são culposos, e não fossem essas circunstâncias, e o
comportamento seria naturalmente culposo.
A nossa lei não prevê especialmente estas causas de exclusão da culpa,
mas faz referência a duas delas, medo (artigo 337º, nº2 CC) e erro (artigo
338º CC).

Quanto ao dano, ele pode ser de vários tipos. Falamos de danos


materiais e de danos pessoais. Os danos materiais são aqueles que
consubstanciam uma afetação de coisas, e os pessoais, os que dizem
respeito à violação de direitos de personalidade.
Os danos podem ainda ser visto como: patrimoniais e não patrimoniais.
Os patrimoniais são aqueles que se traduzem na afetação de um valor ou
interesse suscetível de avaliação pecuniária, e os não patrimoniais
repercutem-se na afetação do interesse ou de um valor que em si mesmo,
não é suscetível de avaliação pecuniária.
Por sua vez, os danos patrimoniais dividem-se em emergentes e lucros
cessantes. Os emergentes correspondem à diminuição do património do
lesado, em consequência da lesão; e os lucros cessantes correspondem à
frustração do ganho que o lesado teria tido, mas que não obteve em
consequência da lesão.
Em particular, e no que diz respeito aos danos morais ou não
patrimoniais, há que atender ao disposto no artigo 496º CC. De acordo com
este artigo discute-se se o dano morte é ou não, em si mesmo indemnizado.
Para aqueles que defendem que não, alegam a morte é o único dano em
que, nem a indemnização, nem a compensação são possíveis. O que perde
a vida fica impossibilitado de ser compensado pela sua morte. Nada lhe
pode ser proporcionado para o compensar.
Para os que defendem que sim, justificam a sua posição alegando que,
se o dano decorrente da violação de qualquer direito subjetivo é
indemnizável, estranho seria que a violação do direito de personalidade
mais relevante, o não fosse. Para os defensores da admissibilidade da
compensação pelo dano morte, alegam ainda que a responsabilidade civil
ao lado da função reparatória desempenha, de igual modo e não menos
importante uma função punitiva.
Questão distinta está em encontrar o destinatário do valor a compensar
pelo dano morte que haja sofrido.
É obvio que, se os sujeitos morrem, cessando a sua personalidade
jurídica, não pode continuar a ser sujeito de direitos e obrigações. Dai que,
do artigo 496º CC se deva retirar que são duas as circunstâncias distintas,
mas ambas compensadas. São elas:
a) o dano morte sofrido pelo sujeito, cuja compensação tem como
destinatária a sua herança
b) o dano que os familiares possam e próprios ter sofrido pelo dano que
o seu ente querido sofreu, sendo deles o direito a serem, por tal
facto, compensados.

Responsabilidade civil objetiva ou sem culpa (artigo 499º CC)


Corresponde àquela que não se mostra dependente da culpa de quem
causou o dano. Sempre que haja lugar à responsabilidade objetiva ou sem
culpa, aplicar-se-á o regime específico previsto nos artigos 499º e ss CC e só,
subsidiariamente, é que se aplicam as regras gerais da responsabilidade civil
extracontratual dos artigos 483º e ss CC.

Obrigação de indemnizar (artigo 562º e ss CC)


O regime jurídico relativo à obrigação de indemnizar é, autónomo pois é
aplicável, quer a obrigação de indemnizar ou compensar resulte da
responsabilidade civil extracontratual ou contratual.
Aliás, diz o artigo 562ºCC, que quem estiver obrigado a reparar um
dano, deve reconstituir a situação que existiria se não se tivesse verificasse o
evento que obriga à reparação.
Pode o obrigado à indemnização reconstituir a situação natural, mas se
esta for importante ou demasiadamente excessiva pode, no lugar da
reconstituição natural, indemnizar o lesado em dinheiro. É esse o sentido do n1
do artigo 566ºCC.

Cumprimento das obrigações:


As obrigações nascem com o fim natural de se extinguirem pelo
cumprimento. Este cumprimento consiste, pois, na realização da prestação
pelo devedor ou por terceiro, se a prestação for fungível.
Além da boa-fé que deve estar sempre presente, no que toca ao
comportamento do devedor e do próprio credor, há que salientar ainda, o
princípio da pontualidade, que nos diz eu a obrigação deve ser cumprida a seu
tempo, e ponto por ponto.
Salvo se coisa deferente for convencionada, a prestação parcial pode
implicar a não aceitação por parte do credor. O devedor não se exonera da
obrigação a que está abstrato se realizar, junto do credor, prestação distinta a
que está obrigado, a não ser que o credor nisso consinta, artigo 837º CC.
O credor não pode recusar o cumprimento por terceiro da obrigação,
desde que a prestação seja fungível. Caso o faça entra em mora (atraso), nos
termos do artigo 813º e ss CC. No entanto, casos há em que a lei prevê a
possibilidade de a prestação ser recusada pelo credor, quando haja um terceiro
que a queira realizar (artigo 768º, nº2 e 598º CC)

Lugar do cumprimento da obrigação:


Em regra, será cumprida a obrigação, no lugar que tenha sedo pelas
partes convencionado. Caso não tenha sido convencionado pelas partes o
lugar do cumprimento da obrigação, seguem-se as regras supletivas previstas
nos artigos 772º e ss CC.
Quando a prestação for de dar, de coisa movel, o lugar do cumprimento
da obrigação é aquele onde for celebrado o correspondente negócio jurídico, e
do qual nasceu a obrigação em causa (artigo 773º, nº1 CC)
Se a obrigação for de natureza pecuniária, o lugar do cumprimento é o
do domicílio do credor (artigo 774º CC).
Prazo do cumprimento:
Vencimento é o termo que define o momento do cumprimento da
obrigação, e que não se confunde, necessariamente com o momento do
nascimento da obrigação.
Assim duas são as situações possíveis:
a) ou a obrigação tem um prazo ou termo certo (artigo 777º CC)
b) ou não tem prazo a obrigação e vence-se pela interpelação feita pelo
credor ou devedor. A interpelação tanto pode ser judicial como
extrajudicial (artigo 805º, nº1 CC)
A questão do prazo do cumprimento pode ainda ser vista qualificando as
obrigações como, puras ou a prazo. É igualmente conhecida como
obrigação sem prazo, a pura.
O prazo do cumprimento de uma obrigação implica uma vantagem,
tipicamente a favor do devedor. De tal ordem é assim, que é a própria lei que
presume esse benefício, a favor do devedor quando a obrigação tenha prazo
(artigo 779º CC).
Casos há, porém, em que o prazo beneficia o credor, ou até mesmo ambos.
Exemplo: contrato de deposito gratuito: se houver prazo, quem beneficia é só o
credor. Se o contrato de deposito for oneroso o prazo beneficia ambos.
É tão importante saber quem é o beneficiário do prazo numa obrigação a
prazo, porque só assim se pode saber quando é que o credor pode exigir a
realização da prestação ao devedor, ou até, quando assim for possível impor
ao devedor uma antecipação da realização da prestação é igualmente
relevante, porque se o prazo beneficiar o devedor pode este, unilateralmente,
realizar a prestação em momento anterior ao do vencimento da obrigação sem
que o credor possa opor-se a tal antecipação.
Se o prazo beneficiar apenas o credor, o devedor não pode impor um
cumprimento antecipado, pois no caso, quem pode exigir antecipadamente a
realização da prestação é o credor.
Se o prazo beneficiar ambos, vai depender do acordo que as partes
estabeleceram, exceto quando a lei diga o contrário.
Aspeto importante a propósito do prazo é ainda o que se mostra previsto no
artigo 780º CC, e que se trata da perda do benefício do prazo. De acordo com
este normativo, quando o prazo do cumprimento da obrigação beneficiar o
devedor pode perder esse beneficio, se se verificarem algumas das seguintes
circunstâncias.
a) Ter-se tornado insolvente
b) Tenha, por culpa sua, diminuído as garantias especiais das suas
obrigações
c) Não tenha cumprido a promessa de prestar garantia para o cumprimento
das suas obrigações, por culpa sua.
Se o prazo beneficiar o devedor e se o perder, pode o credor exigir a
realização da prestação antes do vencimento do prazo, e em especial, se a
obrigação puder ser liquidada em duas ou mais prestações, a falta de
realização de uma delas importa o vencimento de todas (artigo 781º CC)
Não cumprimento das obrigações (incumprimento das obrigações) -
(artigo 790º e ss CC):
Há várias modalidades de incumprimento:

1º modalidade:
- Incumprimento culposo e incumprimento não culposo:
Dentro de cada uma destas modalidades há submodalidades. São elas,
o incumprimento temporário e o incumprimento definitivo que, por sua vez, se
subdividem-se em incumprimento pontual ou parcial e incumprimento total.
Não é vulgar que se trate esta matéria do incumprimento estabelecendo
as distinções atrás indicadas. Quer isto dizer que, nem todos os doutrinadores
tratam a questão da mesma forma. No entanto, esta parece-nos ser uma forma
mais simples de entender o regime jurídico do incumprimento das obrigações.

- Incumprimento não culposo (sem culpa):


A nossa lei trata-o sob a designação de impossibilidade de cumprimento
não imputável ao devedor. Refere-se tanto as situações em que o cumprimento
se impossibilitou porque objetivamente se tornou impossível de cumprir, como
as situações em que o credor perde o interesse no cumprimento.
A impossibilidade de cumprimento que aqui é referida em tudo defere da
impossibilidade originária. É que a primeira é superveniente.
A consequência da impossibilidade do cumprimento não imputável ao
devedor é a extinção da obrigação (artigo 790º e ss CC)
Ainda que o regime jurídico do incumprimento temporário tenha sido
pensado para o incumprimento culposo, a verdade é que a lei também admite
que haja mora em relação ao incumprimento não culposo. De acordo com o
artigo 790º CC, também aqui o devedor não corresponde pela mora.

- Incumprimento imputável ao devedor (ou incumprimento culposo):


Se o incumprimento se ficar a dever, a culpa do dever, o efeito do
incumprimento, seja ele qual for, é tornar o devedor responsável pelo prejuízo
que haja causado (artigo 798º CC).
É por esta norma, que falamos na responsabilidade civil obrigacional ou
contratual. Os pressupostos para que possa haver responsabilidade civil
obrigacional ou contratual são os mesmo da responsabilidade civil
extracontratual, quais sejam o comportamento do sujeito, ilicitude, culpa, dano
e não causal.
No entanto há que atender a algumas diferenças entre aquelas duas
modalidades de responsabilidade civil:
1- A culpa na responsabilidade civil obrigacional é presumida em relação
ao devedor, ao contrário do que acontece na extracontratual, na qual se
presume, em regra, a culpa do lesado.
2- Quanto à ilicitude, também na responsabilidade civil contratual, pode ser
afastada em face da existência de causas de exclusão da ilicitude
previstas para a responsabilidade civil extraobrigacional, acrescidas de
duas outras próprias da responsabilidade civil obrigacional. São elas a
exceção do não cumprimento e o direito de retenção.
Tipos ou espécies de incumprimento culposo ou incumprimento ao devedor:

Mora do devedor:
Para que haja mora é preciso que:
 O devedor não cumpra a obrigação no momento do seu vencimento.
 Que o incumprimento seja culposo.
 Que o incumprimento seja um mero atraso no cumprimento da obrigação,
o que significa que esse incumprimento não corresponde à
impossibilidade em cumprir, nem se funda na perda do interesse por
parte do credor.

São 4 os efeitos jurídicos da mora:


 Reparar os danos que a mora tiver causado, artigo 804ºCC
 Pode originar vencimentos de juros (moratórios), mas tao só quando a
obrigação em mora for de natureza pecuniária, artigo 806ºCC
 A doutrina classifica como inversão de risco a consequência da mora, isto
é, se em mora o devedor responde perante o credor pela perda ou
deterioração da coisa, mesmo que não sejam imputáveis ao devedor,
artigo 807ºCC.
 Transformação da mora em incumprimento definitivo. O devedor entra
em mora, quando no momento em que a obrigação se venceu é ainda
possível cumpri-la e o credor, nesse cumprimento tardio tem ainda
interesse. De modo que o credor não venha a cumprir tardiamente, deve
conceder ao devedor prazo suplementar para que esse cumprimento se
realize, para que, não se realizando novamente, possa o credor declarar
ter perdido o interesse no negócio e, consequentemente, ver
transformada a mora (incumprimento temporário) em incumprimento
definitivo.

Os artigos 801 e ss CC tratam do regime do incumprimento definitivo culposo.


Este é outro tipo de incumprimento culposo. O artigo 801º CC, em particular nos
nºs. 1 a 3 apresentam-nos as consequências deste incumprimento culposo e
definitivo.

Uma outra modalidade ou forma de incumprimento culposo é o incumprimento


definitivo parcial (artigo 802ºCC).
Esta norma é paralela ao artigo ao artigo 793º CC, embora não de uma forma
plena. Em ambos os casos se dá ao credor o direito de resolver o contrato caso
este seja bilateral. Ao contrário do artigo 793º CC é apresentado ao credor no
artigo 802ºCC uma alternativa à resolução.

A principal consequência resultante do incumprimento culposo na


responsabilidade contratual é a mesma que a lei prevê para o incumprimento
culposo na responsabilidade civil extracontratual. No entanto há algumas
diferenças de regime:
Na responsabilidade obrigacional também o devedor responde pelos atos dos
seus auxiliares ou dos seus substitutos. Pode, pois, comparar-se os artigos 800º
(responsabilidade obrigacional) e o 500º (responsabilidade extracontratual).
Há, no entanto, diferenças de regime entre aqueles artigos 800º e 500º CC.
Para que haja responsabilidade civil obrigacional do devedor, por ato de
terceiros seus auxiliares ou substitutos, e nos termos do artigo 800º CC, não é
indispensável que entre o devedor e o auxiliar ou substituto haja uma relação
de comissão, isto é, que haja uma qualquer relação de submissão ou de
hierarquia entre eles. É neste particular que se encontra uma das principais
diferenças entre o regime do artigo 800º e do 500º CC.

- O «incumprimento» pelo credor (artigo 813 e ss CC)


Neste caso o incumprimento não implica culpa do credor. Não pode
dizer-se, sem mais, que o credor tenha culpa, isto porque, em princípio a não
aceitação da prestação por parte do credor, que pontualmente foi oferecida
pelo devedor, não é de imediato um ato ilícito.
Para que haja mora do credor, ou o credor recusa o recebimento da
prestação pontual oferecida pelo devedor e essa recusa é injustificada, ou o
credor não praticou determinados atos tendo o ónus de as praticar impedindo
assim, que o devedor pudesse cumprir a sua obrigação.
Os efeitos jurídicos da mora do credor estão previstos nos artigos 814º a
816º CC. Um dos efeitos é a atenuação da responsabilidade civil do devedor. A
partir do momento em que o credor se constitui em mora, o devedor só se torna
responsável civilmente se tiver atuada com dolo.

- Execução especifica (artigo 827º e ss CC)


Ver as aulas anteriores.

Causas de extinção das obrigações distintas do cumprimento (artigo 857º


e ss CC)
São várias as causas de extinção das obrigações para além do
cumprimento que o Código Civil prevê.
São elas:
 Dação em cumprimento
 Consignação em deposito
 Compensação
 Novação
 Remissão
 Confusão

Dação em cumprimento:

A dação em cumprimento tem duas modalidades, embora


expressamente prevista no Código Civil e no seu artigo 840º CC, esta a datio
pro solvendo. Para além desta modalidade admite-se uma outra que
expressamente não está prevista, e que tem a designação de datio in solutum.
A primeira modalidade pressupõe que, com o acordo do credor, o devedor
realiza junto dele uma prestação que não corresponde àquela em relação à
qual se mostrava vinculado estregando-se uma coisa para que o credor a
venda, e se mostre total ou parcialmente satisfeito com o produto da venda. Se
o valor da coisa vendida não for suficiente, não fica desonerado o devedor,
mas dá-se uma modificação no conteúdo da obrigação, agora de valor inferior.
Se o valor da coisa vendida for superior, deve o credor devolver ao devedor a
diferença.
Na datio in solutum (modalidade menos comum) o devedor, igualmente
com o acordo do credor, também lhe entrega coisa para que seja vendida,
realizando, pois, junto dele prestação diferente daquela a que estava adstrito.
Difere esta modalidade da outra, pelo facto de a coisa entregue para
venda ser sempre suficiente para a extinção da obrigação, mesmo no caso em
que o valor obtido pela venda seja inferior à divida. Consequentemente,
também não tem o credor que devolver ao devedor a diferença, caso o valor da
coisa vendida seja superior.

Consignação em deposito

A consignação em deposito prevista no artigo 841º CC é uma das


consequências jurídicas da mora do credor.
Com esta figura confere-se ao devedor a possibilidade de depositar a
prestação a que estava adstrita, junto de um terceiro, avisando o credor desse
depósito.
Em regra, consignar em depósito significa recurso o juízo exceto quando
se trata de renda num contrato de arrendamento.
A obrigação extingue-se quando o credor aceitar a consignação ou
quando o tribunal a declarar valida, artigo 816º CC.

Compensação

Compensar é uma espécie de «acerto de contas». Só é admitida


a compensação em relação a prestações fungíveis de igual espécie e
qualidade. Os seus requisitos mostram-se previstos no artigo 847ºCC.

Novação

Dispõe o artigo 857ºCC, uma outra modalidade extintiva e que


também carece de acordo entre credor e devedor.
A novação consiste na contratação de uma nova obrigação pelo mesmo
devedor, junto do mesmo credor, substituindo a anterior obrigação.
Quando essa substituição é acompanhada de modificação de alguma
das partes (credor ou devedor) designa-se por novação subjetiva.
Aspeto incontornável da novação reside no facto de a vontade inovativa
da obrigação, ter de ser manifestada expressamente, nunca se admitindo a
declaração tacita, artigo 859º CC.
Remissão

O artigo 863ºCC prevê a remissão, também conhecida como


perdão da divida. Porém, apesar de ser um perdão, carece sempre do acordo
do devedor. É tipicamente um ato gratuito e, se reunir as características
essenciais duma doação (espírito de liberdade ou ónus donandi), à remissão é
aplicado adaptadamente, o regime das doações.

Confusão

A confusão mostra-se prevista, no artigo 868ºCC, e pressupõe


que, a dado momento (posterior ao nascimento da obrigação), se reúne na
titularidade do mesmo sujeito, a figura do credor e do devedor.

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