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14/09/2021
O direito das obrigações apoia-se em duas bases, o direito constitucional e o direito civil. Este
direito é um dos quatro ramos do direito civil, e é o primeiro a ser lecionado apos a parte geral do
Código Civil.
O Direito das Obrigações é então sinonimo do Direito de Créditos uma vez que o direito das
obrigações é o conjunto das normas jurídicas que regulam as relações de crédito, sendo que estas
relações têm, de um lado, um sujeito designado de credor que é titular de um direito subjetivo, e
por outro lado, um sujeito passivo que é designado por devedor e a Este é atribuído um dever de
prestar. Assim, temos um sujeito ativo (o credor) que é titular de um direito subjetivo, e temos
depois um sujeito passivo (o dever) que possui o dever de prestar.
É este dever de prestar que torna específico o direito das obrigações em relação ao esquema geral,
distinguindo a relação jurídica obrigacional de outras relações jurídicas (como as reais, entre
outras). O direito das obrigações vai se dedicar o estudo de todas as relações de crédito
encontrando soluções para as mesmas.
As fontes das obrigações são o facto constitutivo (jurídico) da relação jurídica obrigacional. São
elas então:
1. Contratos;
2. Negócios jurídicos unilaterais;
3. Gestão de negócios;
4. Enriquecimento sem causa;
5. Responsabilidade civil.
A matéria de direito das obrigações está consagrada no Livro II do Código Civil, entre os artigos
397º e 1250º do mesmo. As obrigações constituem uma matéria que é também regulada por outras
disciplinas jurídicas, como por exemplo o direito comercial.
As obrigações constituem uma rede importante de vínculos jurídicos que protegem não só a vida
em sociedade, como também a vida económica, disciplinando a alienação, a oneração e a
circulação de serviços e bens, assim como a regulação do funcionamento e organização das
sociedades, a prevenção de riscos individuais capazes de afetarem a economia pessoal, familiar
ou de empresa (por exemplo, contrato de seguro ou arrendamento), a reparação patrimonial dos
danos sofridos em consequência da violação de um contrato, caso haja violação de direitos
absolutos, entre outros aspetos.
Analisando qualquer relação jurídica obrigacional de forma isolada (por exemplo, a relação do
comprador de um bem e o vendedor quanto à entrega do preço) verifica-se que a obrigação se vai
traduzir no sacrifício que é imposto a uma das partes (comprador) a fim de proporcionar uma
vantagem patrimonial à outra (credor) sob pena de uma culminação de sanções próprias da
respetiva matéria. Coloquemos agora duas situações:
Imaginemos que A atropela B, com ou sem culpa, e causa danos B.
Imaginemos ainda que C, trabalhador, fere-se gravemente enquanto trabalhava na fábrica
de D.
Se A e D forem considerados responsáveis, e, por conseguinte, tiverem de indemnizar B e C,
respetivamente, isso significa que a lei, através do instituto da responsabilidade civil, esta a impor
a A e D um sacrifício patrimonial que diz respeito à entrega da soma correspondente ao dano,
com o fim de proporcionar a estes uma vantagem patrimonial.
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Direito das Obrigações
O direito das obrigações não pode ignorar a autonomia da vontade (autonomia privada),
destacando-se ainda o facto deste direito se caracterizar pela estabilidade no tempo e uniformidade
no espaço, uma vez que o direito das obrigações, de modo geral e comparativamente aos outros
ramos, é o ramo jurídica que tem vindo a sofrer menos alterações ao longo do tempo. É também
o ramo jurídico com menos influencias, como as religiosas ou políticas.
No direito das obrigações temos três princípios fundamentais – o princípio da autonomia da
vontade, o princípio da boa-fé, e o princípio da proteção da parte mais fraca. O princípio da boa-
fé ganhou mais amplitude a partir de 1966, sobretudo no que se refere à formação e preparação
dos contratos (artigo 227º) e na questão do cumprimento da obrigação e respetivo exercício desse
direito (artigo 762º). Com a reforma de 1966, passou também a existir condenação explicita do
abuso do direito e deu-se a importância ao dever de restituir em todas as situações do
enriquecimento sem causa (artigo 334º), dando-se também reconhecimento às obrigações naturais
como figura de caracter geral, assim como a introdução da questão da resolução ou modificação
do contrato por alteração anormal das circunstancias (artigo 437º e seguintes), houve também o
alargamento do âmbito de aplicação dos negócios usuários.
O direito subjetivo é a faculdade de exigir de outrem um determinado comportamento, positivo
ou negativo. Este direito, na sua concessão ampla, divide-se em direito subjetivo propriamente
dito e direito potestativo, neste último, o sujeito passivo está apenas num estado de sujeição.
O dever jurídico é a necessidade imposta pelo direito a uma pessoa, de observar determinado
comportamento, sendo assim uma ordem ou comando. Normalmente, no dever jurídico, a
exigência da sua realização é acompanhada de uma culminação, e este é tutelado por essa sanção
por motivos de interesse da coletividade, interesses do estado, interesses de uma generalidade de
pessoas ou de um conjunto determinado. Este dever jurídico corresponde sempre a um direito
subjetivo.
Na relação jurídica obrigacional, o sujeito ativo possui um direito subjetivo que se traduz num
direito à prestação e, do lado do sujeito passivo, há uma restrição, pois o sujeito passivo da relação
obrigacional tem o dever específico de prestar, de modo a satisfazer a vantagem patrimonial do
credor.
O direito potestativo é a faculdade que o sujeito ativo tem de produzir certos efeitos jurídicos
mediante a declaração de vontade, normalmente o exercício desta faculdade é feito por via
judicial, sendo deste modo diferente do dever jurídico.
O ónus jurídico consiste na necessidade de observância de determinado comportamento com o
fim de obtenção ou manutenção de uma vantagem para o próprio onerado.
Conceito de obrigação – artigo 397º do Código Civil - «é o vínculo jurídico por virtude do qual
uma pessoa fica adstritiva à realização de uma prestação»
Diz-se obrigação a relação jurídica por virtude da qual uma ou mais pessoas pode exigir à outra
a realização de uma prestação. (Manuel Andrade)
21/09/2021
Distinção entre relação jurídica obrigacional una/ simples e relação jurídica obrigacional
complexa/ múltipla:
Uma relação jurídica em geral é una ou simples quando corresponde ao direito subjetivo do sujeito
ativo e ao respetivo dever jurídico ou estado de sujeição do sujeito passivo. É constituída apenas
por um direito de crédito e um direito de débito (atribuídos ao credor e ao devedor,
respetivamente).
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Direito das Obrigações
Por exemplo – o Carlos, estudante de direito, empresta um livro ao seu colega Paulo, para que
este possa estudar durante 15 dias por esse mesmo livro. Aqui nasce uma relação jurídica
obrigacional (contrato de comodato) que se vai traduzir no direito que Carlos tem de exigir, ao
final dos 15 dias, a entrega do livro, e Paulo tem o dever jurídico de restituir a coisa emprestada.
Deste modo, há apenas um crédito e um debito.
Por exemplo – O António estava a conduzir o seu automóvel e atropela culposamente a Beatriz,
que estava a atravessar a rua na passadeira. Entre o António e a Beatriz vai gerar-se uma obrigação
de natureza extracontratual que leva o António a ter o dever jurídico de indemnizar a Beatriz, e a
Beatriz tem o direito subjetivo de exigir o pagamento dessa mesma indeminização.
A relação jurídica em geral será complexa ou múltipla quando abrange um conjunto de direitos e
deveres, ou estado de sujeição, quando são oriundos do mesmo facto jurídico. Aqui, existem
vários direitos e vários deveres. Nesta relação, podemos ter do lado do sujeito ativo (credor) um
direito subjetivo (poder de exigir) e em algumas situações um direito potestativo (matéria de
contratos).
Por exemplo – O António e o Bernardo celebram um contrato de compra e venda que tem por
objeto um automóvel. O António é o vendedor e o Bernardo o comprador. Quis são os efeitos
principais de um contrato de contra e venda? Um efeito real [transmissão de propriedade], e dois
efeitos obrigacionais [a obrigação de entregar a coisa e a obrigação de pagar o preço] – artigo
879º do Código Civil.
Modalidades de prestação:
Os deveres jurídicos dividem-se em duas categorias – deveres gerais ou deveres especiais. Os
deveres de prestação são deveres especiais, assim como os deveres acessórios de conduta ou
deveres laterais.
Os deveres de prestação, em geral, correspondem ao conteúdo da relação jurídica obrigacional.
A distinção entre os deveres jurídicos primários e os deveres acessórios é feita através de dois
critérios: o critério do grau hierárquico, que divide os deveres de prestação em deveres principais
e acessórios; é o critério da originalidade que os divide em deveres primários e secundários.
Deveres principais ou primários de prestação: São aqueles, que juntamente com os respetivos
direitos subjetivos, vão constituir o núcleo essencial da relação jurídica obrigacional [por
exemplo, no caso do contrato de locação, o dever principal pode ser o pagamento da renda]. Esta
classificação esta associada ao comportamento conformado pelas partes da relação jurídica, ou
seja, ao princípio da autonomia da vontade.
Deveres acessórios ou secundários de prestação: São aqueles que vão complementar o
conteúdo obrigacional, por exemplo, cumprindo a função instrumental relativamente aos deveres
principais, contribuindo para preparar e realizar o cumprimento dos deveres principais. Estes
deveres podem ser subdivididos em:
❖ Deveres secundários meramente acessórios da prestação principal – são aqueles que
efetivamente se destinam a preparar o cumprimento ou a assegurar a perfeita realização
da prestação, como por exemplo do dever de conservar a coisa até a entrega.
❖ Deveres secundários de prestação autónoma – são aqueles que se revelam sucedâneos ap
dever principal de prestação ou então coexistem com o dever principal de prestação, por
exemplo, é considerado um dever secundário de prestação autónoma a situação da
indeminização resultante da impossibilidade culposa da prestação originaria.
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Direito das Obrigações
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Direito das Obrigações
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Direito das Obrigações
A sequela é outra característica, e esta confere ao titular do direito real a possibilidade de perseguir
a coisa onde quer que ela se encontre, mesmo que já esteja na posse de outro sujeito.
As prestações quanto ao objeto podem ser prestação de facto – só têm um objeto imediato, que é
a prestação em si mesmo – e as prestações de coisa – tem um objetivo imediato, que é a prestação,
e um objeto mediato, que é a própria coisa que deve ser prestada ao credor.
No direito das obrigações, o princípio fundamental é o da autonomia da vontade, que se traduz na
liberdade das partes celebrarem ou não u determinado negócio jurídico, e na liberdade da
delimitação do conteúdo jurídico da relação obrigacional [artigo 398º n.1 do Código Civil].
Nos direitos reais vigora o princípio da tipicidade e taxatividade do conteúdo, o que significa que
só existem os direitos reis previstos na lei, e embora as partes tenham a liberdade de constituir
esses direitos, elas não podem alterar o conteúdo.
Em relação à publicidade social típica, não existe nos direitos de crédito as chamadas garantias
naturais ou organizadas de forma ou substância ligadas à constituição dos direitos reais.
Direitos Pessoais de Gozo:
Os direitos pessoais de gozo possibilitam ao seu titular o gozo (uso e a fruição) direto e autónomo
de determinada coisa. Por exemplo, são entendidos como direitos pessoais de gozo a situação do
contrato de locação (arrendamento) pois atribui ao arrendatário a possibilidade de usar e fruir da
coisa, no caso, do imóvel.
A posição maioritária é a de que os direitos pessoais de gozo são direitos relativos, pois só tem
eficácia entre o senhorio e o arrendatário, ou seja, interpartes, e se forem violados apenas originam
responsabilidade contratual.
De acordo com Andrade Mesquita, que confira os direitos pessoais de gozo, ele defende que estes
são constituídos por um núcleo central que é constituído pelo direito de retirar certas utilidades
da coisa, e uma a zona periférica é constituída pelas obrigações positivas ou negativas que são
indispensáveis à constrição e ao exercício do núcleo central. Por exemplo, o núcleo será a fruição
de coisa arrendada, e a zona periférica engloba o poder do arrendatário exigir da senhoria
determinados comportamentos positivos (realização de obras) e determinados comportamentos
negativos (exigir que pratique determinados atos que impeçam o gozo da coisa).
Artigo 407º do Código Civil – Numa primeira teoria vai prevalecer o contrato que foi celebrado
em primeiro lugar, portanto o contrato de arrendamento celebrado em janeiro, mesmo que a
pessoa só tenha que ir para lá habitar depois, vai prevalecer um contrato de arrendamento
celebrado primeiro lugar.
Numa segunda teoria, em primeiro lugar só a partir do cumprimento é que nasce o direito pessoal
de gozo em sentido estrito e não à data em que ele é constituído.
Nota: O direito das obrigações, o direito da família e direito das sucessões: no âmbito do direito
da família vão nascer obrigações. No direito da família, as suas normas, ao contrário do que
acontece com o direito de todas as obrigações, que é um direito essencialmente patrimonial,
algumas das normas do direito da família são formadas conforme a sociedade. Nas sucessões
também vão nascer relações jurídicas obrigacionais, por exemplo a obrigação que vai recair sobre
o cabeça de casal ou as obrigações que estão relacionadas com os encargos da herança.
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Direito das Obrigações
28/09/2021
A parcialidade ativa é quando um do credor só pode exigir ou manter a parte que lhe compete
no crédito.
A parcialidade passiva é quando cada um dos devedores só responde pela parte que lhe compete
como devedor.
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Direito das Obrigações
Exigência da Prestação
Artigo 528º n.2 do Código Civil – Há situações em que o devedor demandado pode prestar a cada
um dos credores a parte que lhes cabe no crédito comum ou satisfazer a algum dos outros credores
a prestação com dedução da parte do demandante.
Imaginemos que há uma impossibilidade de realizar a prestação por facto imputável ao devedor:
de acordo com o artigo 529º do Código Civil vai se manter a solidariedade relativamente à
obrigação de indemnizar.
Artigo 332º do Código Civil – Formas de satisfazer o direito de crédito a um dos credores.
Artigo 530º do Código
Civil – A prestação de um
dos créditos pode ser
invocada pelo devedor
comum em fase dos
demais credores.
Artigo 512º n.1, 1ª parte do Código Civil – é a definição dos efeitos da solidariedade passiva.
Artigo 813º do Código Civil – A situação em que o um devedor quer realizar a liquidação total da
divida, em que todos os outros devedores iriam sair favorecidos, leva o devedor a entrar em mora.
Artigo 516º do Código Civil – a cada devedor ou credor solidário correspondem partes iguais na
divida ou no crédito.
Artigo 649º do Código Civil – exemplo de solidariedade passiva legal, o caso dos fiadores.
Quanto ao caso julgado que existe entre o credor e um dos devedores, de acordo com o artigo
522º do Código Civil, não é oponível aos restantes. O objetivo deste artigo consiste em evitar que
os codevedores não acionados sofram os efeitos da negligencia do demandado ou até situações
de simulações ou fraude com o credor.
Quanto à prescrição, no caso dos débitos do devedor, em regra, e conforme o artigo 521º do
Código Civil, não aproveita aos restantes, portanto temos uma situação em que a prescrição corre
autonomamente em relação a cada um dos codevedores.
Meios de defesa – artigo 514º do Código Civil:
Meios de defesa comuns – Os meios de defesa comum consistem
nas exceções materiais eles dizem respeito a todos os credores
solidários ou a todos os devedores solidários, afetando todo o
negócio. Por exemplo, causas de nulidade, como a falta de forma,
a incapacidade do credor, questões de impossibilidade de prestação.
Meios de defesa pessoais – são exceções materiais que se
caracterizam pela ligação individual a um dos sujeitos da relação
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Direito das Obrigações
jurídica, ou seja, só dizem respeito a um dos credores ou a um dos devedores. Por exemplo, a
incapacidade do devedor para celebrar um negócio jurídico devido à menoridade, situações de
alguém que celebra um negócio jurídico com vicio da vontade, entre outros. Embora estes só
possam ser invocados por quem for afetado por eles, há situações em que vão aproveitar aos
demais sujeitos, como é o caso da compensação.
Caso Prático:
O António é credor do Belmiro, do Carlos, do Daniel e do Eduardo, por uma dividida comercial
de 200 mil €. O António exigiu judicialmente o pagamento ao Belmiro, sendo que este foi
condenado, mas o credor não viu judicialmente satisfeito o seu crédito uma vez que o Belmiro,
entretanto ficou insolvente. Na celebração deste contrato de empréstimo ficou estipulado que os
devedores respondiam solidariamente pela divida.
1. O António pretende agora obter o pagamento do Carlos, será que o pode fazer?
2. E se Carlos vier a pagar aquela quantia, que direitos terá em relação aos outros devedores?
Sabendo que o Daniel era menor à data da celebração do contrato que resultou a divida.
Resolução:
Classificar a obrigação:
❖ obrigação plural uma vez que tem mais do que dois sujeitos da relação jurídica
obrigacional;
❖ é uma obrigação passiva pois só há um credor e vários devedores, uma consequência
imediata é que o credor tem o poder de exigir a prestação integral a qualquer um dos
devedores [artigo 512º e 519º Código Civil].
❖ é uma obrigação conjunta porque a pluralidade de sujeitos é cumulativa;
❖ é um regime de solidariedade, que tem de resultar da lei ou de acordo entre as partes.
1. O credor tem duas vias para exigir o pagamento – extrajudicialmente ou judicialmente – neste
caso, o A recorreu pela via judicial em relação a B, será que este pode também acionar C pela
mesma via? Em regra, quando aciona a via judicial, a consequência é que este fica inibido do
mesmo procedimento aos demais devedores, salvo se houver insolvência, tal como aconteceu
neste caso. Portanto, A tem a legitimidade de avançar com uma ação judicial contra C para
exigir o cumprimento da totalidade da prestação.
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Direito das Obrigações
2. Efeitos internos [relações internas] da solidariedade passiva – Carlos pode exigir aos outros
devedores a parte que cada um deveria pagar, pois foi Carlos que pagou a totalidade da
prestação [200 mil €] com base no direito de regresso – artigo 516º do Código Civil – assim,
dos 200 mil €, a cada devedor ia competir 50 mil €.
O artigo 526º diz-nos que como o B está insolvente no pode cumprir obrigação de restituir e este
prejuízo será suportado pelos outros codevedores, ou seja, os 50 mil € pertencentes a B, tem de
ser divididos entre C, D e E.
Daniel, sendo menor, há uma incapacidade negocial de exercício, assim, possui um meio de
defesa pessoal. A menoridade é então um meio de defesa pessoal porque só diz respeito ao Daniel
e não pode ser invocado por qualquer outro dos codevedores. Como o negócio será sujeito a
anulação por força da menoridade, Daniel não terá de cumprir a obrigação de restituir.
Assim, isto significa a quota arte do D tem de ser dividida por E e C, que terão de suportar o valor
a pagar da divida. Desta fora, conclui-se que C e E teriam de pagar 100 mil € por esta prestação.
Para concluir, C, enquanto devedor, nas relações externas, podia ser chamado por A para efetuar
o pagamento de forma integral uma vez que estamos perante uma obrigação solidaria. Assim, C
passa a ter o direito de regresso em relação aos demais.
No entanto, existiam particularidade, o facto de D ser menor e B estar insolvente. Assim, a divida
só seria suportada por dois devedores, C e E.
Prestação
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Direito das Obrigações
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Direito das Obrigações
Consequências: Se estamos perante uma prestação que ad início [impossibilidade originária] não
pode ser constituída, vamos ter uma nulidade do negócio jurídico, pelo contrário, a
impossibilidade superveniente terá como consequência extinguir a obrigação quando não seja
imputável ao devedor transformar o vínculo obrigacional numa relação de responsabilidade civil
contratual.
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Direito das Obrigações
Embora a lei não admita a constituição onde uma prestação que ad início não é possível, se
olharmos para o artigo 401º n.2 do CC, excecionalmente o legislador admite a validade do negócio
se a obrigação for assumida para o caso da prestação se tornar possível, ou se ficar sujeita a uma
condição suspensiva ou a termo inicial.
A impossibilidade da prestação pode ser ainda uma impossibilidade em relação a todos os sujeitos
– a impossibilidade objetiva – que se contrapõe à – impossibilidade subjetiva que é só em relação
ao devedor.
Artigo 401º n.3 – Só se considera impossível a prestação que o seja relativamente ao objeto e não
em relação à pessoa do devedor, desta fora, apenas e unicamente a impossibilidade objetiva
poderá invalidar a obrigação, uma vez que na impossibilidade objetiva nem o devedor, nem
qualquer outra pessoa, poderá cumprir a prestação, a mera impossibilidade subjetiva não impede
que a obrigação se constitua, pois o devedor pode se fazer substituir no cumprimento da prestação,
a menos que esteja perante uma prestação infungível
Impossibilidade Absoluta – consiste numa impossibilidade propriamente dita que impede de todo
a realização da prestação.
Impossibilidade Relativa – consiste numa simples dificuldade ou onerosidade excessiva da
prestação. Em regra, esta não terá efeitos anulatórios.
A prestação tem que ser física e legalmente possível, portanto, haverá uma impossibilidade física
quando a impossibilidade resultar da própria natureza das coisas, por exemplo, uma prestação que
verse sobre um facto irrealizável, ou uma prestação que consiste em algo que não existe no
momento da sua constituição nem poderá vir a existir.
Pelo contrário, estaremos perante uma situação de impossibilidade legal ou jurídica quando esta
resulta da própria lei, ou seja, situações em que a prestação consiste em algo que a lei impede de
se produzir, por exemplo, a celebração de um negócio que é proibido de acordo com o Código
Civil e que se for celebrado terá como consequência a nulidade.
Licitude:
A prestação não pode ser contraria à lei [não pode ser ilícita], assim como não pode ser contraria
aos bons costumes [artigo 280º n.2] e à ordem publica. Desta forma, desde logo, existirá ilicitude
quando a prestação consiste num comportamento que viola uma proibição legal.
Ilicitude por imoralidade – considera-se de u modo geral aquelas normas de ordem publica que
visam tutelar direta u indiretamente os interesses superiores da coletividade.
Determinação ou Determinabilidade:
Artigo 400º conjugado com o 280º n.1 do Código Civil – o conteúdo da prestação, em regra, deve
ficar inicialmente determinado ou, quando muito, deverá ser determinável em momento posterior
através de um critério fixado pelas partes ou pela própria lei.
Devem ser tidos em consta juízos de equidade se não tiverem sido considerados critérios pelas
partes.
Conteúdo digno de tutela jurídica:
O conteúdo terá de corresponder sempre a um interesse digno de tutela jurídica e a prestação não
tem de corresponder necessariamente a um valor pecuniário [não necessita de ser avaliada em
dinheiro].
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Direito das Obrigações
12/10/2021
Caso Prático:
O António, caçador amador, e proprietário de um pequeno terreno, combinou com o seu vizinho,
o Bruno, que possui um terreno muito maior, a possibilidade de na época de caça entrar na
propriedade de Bruno para caçar. Em troca, o António deverá dar a Bruno metade do que apanhar
na caça.
1. Classifique estas prestações quanto à distinção entre obrigações de prestação de facto e
obrigações de prestação de coisa.
Em primeiro lugar, podemos começar por dizer que para o Direito das Obrigações, a prestação é
o objeto imediato da relação jurídica obrigacional que se traduz na atividade ou comportamento
que o devedor deve desempenhar [ação] ou abster-se de desempenhar, caso se trate de uma
omissão.
Neste caso concreto, encontramos duas prestações – de um lado temos o Bruno, que é o
proprietário do terreno maior, compromete-se com o António a deixá-lo entrar no seu terreno, ou
seja, Bruno tolera que António possa ir para o seu terreno caçar – esta situação diz respeito a uma
obrigação de prestação de facto uma vez que só temos objeto mediato nesta relação jurídica
obrigacional.
Por outro lado, a outra prestação diz respeito à entrega de metade do resultado obtido com a caça,
estamos perante uma obrigação de prestação de coisa, uma vez que existe objeto mediato [conduta
do devedor, propriamente dita] e imediato [a coisa, propriamente dita].
Trata-se aqui de uma coisa de natureza futura, conforme o artigo 211º em conjunto com o artigo
399º do Código Civil – coisa futura é aquela que não existe ou não está na disposição do alienante
no momento do negócio jurídico e pode ser objeto da relação jurídica obrigacional.
Facto jurídico da relação obrigacional:
Podemos ter três tipos de factos:
1. Constitutivos;
2. Modificativos;
3. Extintivos.
Factos jurídicos constitutivos da relação jurídica obrigacional:
São sinonimo das fontes das obrigações, que podem ser:
1. Contratos;
2. Negócios jurídicos unilaterais;
3. Gestão de negócios;
4. Enriquecimento sem causa;
5. Responsabilidade civil.
Os contratos e os negócios jurídicos unilaterais devem a sua criação à vontade das partes, portanto,
num critério que se utiliza para distinguir a criação da obrigação – critério da autonomia.
Pelo contrário, na gestão de negócios, enriquecimento sem causa e responsabilidade civil, a
relação jurídica obrigacional não nasce por vontade das partes, mas sim por força da lei – critério
da heteronomia.
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Direito das Obrigações
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Direito das Obrigações
Assim, sabemos que a cessão de créditos pode ser realizada a título oneroso ou a título gratuito,
e a obediência a estes preceitos do negócio jurídico base uma vez que o cedente [credor originário]
terá que garantir ao cessionário a existência do crédito transmitido e, portanto, se o negócio
jurídico base determinar a observância de determinada forma, o contrato da cessão de forma
também terá que seguir essa forma. Alem disso, os direitos do cessionário vão derivar do negócio
que lhe serve de base.
Requisito específicos da cessão de créditos:
Credibilidade ou Transmissibilidade do Crédito
Esta relacionado com a possibilidade de se poder transmitir o crédito – a regra é que todos os
créditos são transmissíveis, uma vez que esta subjacente o poder de disposição que é atribuído à
generalidade dos direitos de ordem patrimonial.
Há exceções em que a lei proíbe a transmissão de créditos, como os créditos referentes ao direito
de alimentos [artigo 2008º do Código Civil], o direito de preferência [artigo 220º do Código
Civil], nestes casos a lei proíbe a transmissão de créditos.
O credor e o devedor podem estipular a não possibilidade de cessão de créditos, por vontade dos
mesmos, e esta estipulação pode ser expressa ou tácita, tento algumas limitações.
Além do crédito ser possível de transmissão, não pode estar em causa um crédito com caracter
litigioso – artigo 579º do Código Civil – não pode estar em causa um crédito que tenha sido
contestado judicialmente.
Exceções à proibição – artigo 581º do Código Civil:
A proibição da cessão dos créditos ou direitos litigiosos não tem lugar nos casos seguintes:
a) Quando a cessão for feita ao titular de um direito de preferência ou de remição relativo ao
direito;
b) Quando a cessão se realizar para defesa de bens possuídos pelo cessionário;
c) Quando a cessão se fizer ao credor em cumprimento do que lhe é devido. Um outro requisito é
a possibilidade da cessão de créditos futuros, mas para tal é necessário que este crédito futuro seja
determinável nos termos do artigo 399º do Código Civil.
Efeitos na relação entre o credor originário [cedente] e o novo credor [cessionário]:
O efeito principal nesta relação jurídica obrigacional é a transmissão do crédito, no entanto, além
deste efeito principal, temos um outro, que nos diz que com o crédito, são também transferidas
para o cessionário todas as garantias que não sejam separáveis do cedente – artigo 582º n.1 do
Código Civil.
Por último, temos como efeito o facto de que cedente fica obrigado a entregar ao cessionário os
documentos e demais meios de prova do crédito que se encontrem na sua pose.
Efeitos na relação entre o credor em relação ao devedor:
Para que a cessão de créditos seja eficaz em relação ao devedor, tem de lhe ser notificado, judicial
ou extrajudicialmente, ou então tem de ser aceite pelo mesmo. A notificação sem a aceitação não
produz efeitos em relação ao devedor – artigo 583º do Código Civil.
Cessão de várias pessoas:
Se tivermos várias cessões sobre um mesmo crédito, vai permanecer a cessão que foi notificada
e aceite em primeiro lugar – artigo 584º do Código Civil.
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Direito das Obrigações
Em conclusão:
A cessão de créditos é realizada uma vez que o cedente [credor originário] pode ter como objetivo
fazer uma doação ao cessionário [novo credor] – a designada cessão a nível gratuito – pois esta
pode ter interesse em adquirir uma contrapartida ou então tem interesse em extinguir a obrigação.
Se o contrato que estava na base do crédito era anulável ao credor originário, também será
anulável em relação ao novo credor. Este regime também se aplica à cessão que ocorra por
transferência legal ou judicial de créditos, ou no caso de transferências que são determinadas pelo
tribunal ou ocorridas em processos de execução – artigo 585º do Código Civil.
Caso Prático:
António, credor de Carlos de uma divida comercial de 60 mil €, cede o seu crédito ao Belmiro.
Carlos, interpelado por Belmiro para pagamento integral da divida, recusa-se a efetuá-lo, alegando
que não o conhece como seu credor.
Estamos perante uma modificação subjetiva da relação jurídica obrigacional, nomeadamente a
cessão de créditos que está prevista nos artigos 577º e seguintes do Código Civil. [dizer a noção
de cessão de créditos e concretizar no caso concreto] A celebrou um contrato com Belmiro no
qual lhe transmitiu a totalidade do seu crédito sem necessidade do consentimento do devedor.
Para que este contrato seja valido, são necessários cumprir os requisitos gerais e específicos.
Em relação ao requisito geral, o contrato da cessão de créditos terá que obedecer às mesmas regras
que o contrato que está na sua base – artigo 939º do Código Civil – este artigo manda aplicar aos
contratos onerosos as regras gerais do contrato de compra e venda.
O contrato de cessão de créditos tem de seguir o contrato que está na sua base, e neste caso
concreto presume-se que os requisitos estejam cumpridos pois não temos dados suficientes.
Em relação aos requisitos específicos, sabemos que o crédito tem de ter a possibilidade de
transmissão, não temos qualquer informação sobre o seu caracter litigioso nem se trata de um
crédito futuro.
Para que a cessão de créditos produza efeitos ao devedor, tem de existir a notificação ou a
aceitação. Neste caso concreto, quando Belmiro foi interpelar Carlos para p pagamento da divida,
o mesmo não o conheceu, e este comportamento pode traduzir-se em duas situações:
1. Ou porque este não teve conhecimento da cessão de créditos;
2. Ou este não aceitou a mesma cessão de créditos.
Na hipótese de Carlos não conhecer a cessão de créditos, sabemos que este contrato, em relação
ao cedente e ao cessionário, produz os efeitos desde o momento da sua celebração, no entanto,
em relação ao devedor, esse contrato só lhe é oponível a partir da notificação ou aceitação, o que
significa que Carlos só terá de pagar a Belmiro a partir do momento em que lhe for notificada a
cessão de créditos.
Na hipótese de Carlos ter sido notificado, mas não aceitar a cessão de créditos, esta recusa não
produz efeitos uma vez que é irrelevante a aceitação do devedor. Carlos terá então de pagar ao
novo credor e o primeiro efeito em relação ao cessionário é então a transmissão de créditos,
podendo este exigir a prestação do devedor, perdendo o cedente esse direito.
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Direito das Obrigações
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Direito das Obrigações
A assunção de dividas consiste então no ato pelo qual um terceiro se vincula perante o credor a
efetuar uma prestação devida por outrem. A ideia subjacente a esta figura a de transferência de
divida do devedor antigo para um novo devedor, mantendo-se a mesma relação jurídica
obrigacional.
A transmissão da posição do devedor pode ser feita de duas formas:
1. Por acordo – artigo 595º do Código Civil - entre o antigo e o novo devedor ou entre o
novo devedor e o credor;
2. Transmissão da posição contratual – artigo 424º do Código Civil.
A assunção de divida pode ser cumulativa ou privativa:
❖ Cumulativa – o antigo devedor não é exonerado, ou seja, o antigo e o novo devedor
respondem solidariamente perante o credor;
❖ Privativa – o antigo devedor é exonerado e só o novo devedor responde perante o credor.
A regra, conforme o artigo 595º n.2, é a da assunção cumulativa.
A transmissão de dividas depende da vontade e do consentimento do credor, e este consentimento
tem de ser dado através de uma declaração expressa.
Transmissão/ Cessão da Posição Contratual:
Neste caso, é tudo transferido em bloco, ou seja, direitos e obrigações, do credor e do devedor.
Trata-se então da faculdade que é admitida a qualquer um dos contraentes em contratos com
prestações recíprocas de transmitir a sua inteira posição contratual, isto é, de transmitir o
complexo unitário constituído por créditos e dividas que resultam daquele contrato, e são
transferidos ao cessionário desde que o outro contraente consinta na transmissão – artigo 424º do
Código Civil.
Por exemplo, um contrato de compra e venda possui prestações recíprocas, pois temos
simultaneamente um conjunto de deveres e obrigações para ambas as partes. Imaginemos que:
A é o vendedor e B o comprador. B tem a obrigação de entregar o preço, mas A, por sua vez, tem
a obrigação da entrega da coisa, logo há aqui prestações recíprocas. Aqui, A pode transmitir a sua
posição contratual a C, portanto este assume as posições de crédito, assim como os seus direitos
e as suas obrigações.
Desta forma, para que a transmissão da posição contratual seja valida, tem de obedecer a dois
requisitos:
1. Tem de estar em causa um contrato com obrigações recíprocas;
2. Exige-se o consentimento do outro contraente, consentimento este que pode ser prestado
antes ou depois da transmissão, de acordo com o artigo 424º n.2 do Código Civil – se for
antes, só irá produzir efeitos a partir da notificação ou reconhecimento.
Concluindo, as figuras mais utilizadas são a cessão de créditos e a sub-rogação.
Modificação Objetiva:
Neste caso, opera-se uma alteração do conteúdo ou objeto da relação jurídica obrigacional, e esta
modificação pode operar por vontade das partes ou por força da lei. Por exemplo, os contratos em
que alguma das partes pede para alterar ou o tempo de cumprimento da obrigação.
Modificação Legal: uma decisão judicial que reduz o valor da clausula penal – artigo 812º do
Código Civil.
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Direito das Obrigações
Existe uma modificação objetiva no caso do negócio jurídico que é atingido por uma atração
normal das circunstâncias – artigo 437º do Código Civil.
NOTA: Para Manuel Andrade e Mota Pinto, estes apresentam como exemplo típico de
modificação objetiva da relação obrigacional a conversão do dever de prestar em dever de
indemnizar quando não é possível realizar a prestação por facto imputável ao devedor. Para estes,
um exemplo típico é quando há uma impossibilidade de cumprir a prestação e o dever de prestar
se transforma num dever de indemnizar.
Esta posição não é defendida por Gomes da Silva, pois este defende a autonomia do dever de
indemnizar, ou seja, para ele, quando não é possível cumprir o dever de prestar, este dever
extingue-se e nasce uma nova obrigação, que é a obrigação de indemnizar. Esta posição é
defendida com base em três argumentos principais:
1. Diferença na fonte;
2. Diferença do objeto;
3. Diferença do fim.
Gomes da Silva diz que o dever de prestar e o dever de indemnizar têm fontes distintas, o primeiro
tem como fonte um facto lícito, enquanto o dever de indemnizar tem como fonte um facto ilícito.
Em relação à diferença do objeto, refere que ambos são diferentes e pode nem sequer corresponder
inteiramente à prestação, portanto, o objeto do dever de indemnizar não coincide com o dever de
prestar.
No que refere à diferença do fim, este autor diz-nos que o fim do dever de prestar consiste em
criar uma situação de facto ou de direito favorável para que seja realizada a prestação em favor
do credor, pelo contrário, o fim do dever de indemnizar consiste em reparar ou eliminar ou danos
ou prejuízos causados pelo não cumprimento.
Mota Pinto critica esta posição, pois em relação à fonte afirma que a fonte do dever de prestar e
de indemnizar é a mesma pois estamos sempre a falar, segundo ele, em responsabilidade
contratual; quanto ao objeto, Mota Pinto diz-nos que os deveres podem alterar-se, o facto de a
prestação não corresponder exatamente ao dever de indemnizar, não significa que haja uma
incompatibilidade pois os deveres podem alterar-se mas o seu núcleo essencial vai se manter; no
que refere ao fim, diz-nos que quando há reparação de danos, pretende-se colocar o credor na
situação que estaria se tivesse ocorrido o cumprimento da obrigação.
19/10/2021
Garantias. Publicas:
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Direito das Obrigações
Nas garantias publicas o titular do direito subjetivo [credor] defende o seu direito através dos
meios do estado, ou seja, recorre à força publica. Este credor pode fazê-lo através de:
1. Ação judicial declarativa;
2. Ação judicial executiva.
Ação judicial declarativa:
Artigo 10º do Código de Processo Civil estabelece três tipos de ações declarativas:
1. Simples apreciação – pretende-se obter unicamente a declaração da existência ou
inexistência de um direito ou de um facto;
2. Condenação – exige-se a prestação de uma coisa ou de um facto prossupondo ou
prevendo a violação de um direito;
3. Constitutivas – autoriza-se uma mudança na ordem jurídica existente criando-se uma
nova relação jurídica.
No direito das obrigações, em regra, só temos ações de simples apreciação ou de condenação.
Quando o credor intenta uma ação de simples apreciação, ele pede ao tribunal que declare a
existência do direito de crédito; já nas ações de condenação [mais frequentes], o credor pede ao
tribunal que condene o devedor a cumprir a obrigação ou a indemnizá-lo por incumprimento.
Excecionalmente, podemos ter ações constitutivas quando a relação jurídica obrigacional tem
por objeto a prestação de um facto jurídico designadamente nas relações jurídicas obrigacionais
constituídas por contrato promessa, neste caso, o credor pode intentar uma ação constitutiva que
lhe vai permitir transformar a relação jurídica do contrato de promessa num efetivo contrato de
compra e venda ou de outra natureza consoante o negócio.
Ação judicial executiva:
Permite ao credor, com ou sem vontade do devedor, e à custa do património do devedor, obter o
mesmo benefício ou benefício equivalente. A execução judicial é feita em três momentos:
1. Penhora dos bens do devedor;
2. Venda judicial dos bens penhorados;
3. Pagamento aos credores.
A ação executiva pode ser de dois tipos:
1. Ação de execução especifica – atribui-se ao credor o mesmo beneficio que lhe traria o
cumprimento voluntário – quando estamos perante uma obrigação de prestação de coisa,
esta execução vai consistir na apreensão da coisa para que seja entregue ao credor – nas
obrigações de prestação de facto, se for infungíveis não há nada a fazer, no caso de ser
positiva fungível a realização da prestação vai ser feita por outrem [artigo 828º do Código
Civil] – no caso de ser negativa, o artigo 829º do Código Civil eu está relacionado para
factos materiais coloca a questão de saber se é possível estender por analogia a todos
aqueles factos que são praticados pelo devedor, sejam eles materiais ou não.
Por exemplo, será que o credor de uma obrigação de não concorrência poderá pedir o
encerramento do estabelecimento comercial que o devedor abriu?
A doutrina divide-se entre a pratica de atos materiais [doutrina maioritária] e a doutrina
de Pinto de Oliveira [doutrina minoritária] que considera que o artigo 829º se aplica a
todos os factos praticados pelo devedor, sendo que tal resultado principio geral que nos
diz que quem está obrigado a não praticar certo facto, se o praticar, poderá ser condenado
a repor as coisas no estado que se encontravam antes da infração [restituição natural].
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Direito das Obrigações
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Direito das Obrigações
âmbito da impugnação pauliana, podemos incluir todos aqueles atos que envolvam a diminuição
da garantia patrimonial do crédito e não sejam de natureza pessoal.
Por exemplo, alienações, renuncia ou assunção de dividas.
O facto de um ato praticado pelo devedor ser nulo não impede que o credor possa fazer uso da
impugnação pauliana. Assim, quando o ato praticado pelo devedor é nulo, o credor pode ir pela
via de ação de nulidade, ou então opta pela ação de impugnação pauliana, assim, o credor tem a
faculdade de optar.
Artigo 615º n.2 do Código Civil – o cumprimento de obrigação vencida não está sujeito a uma
ação de impugnação pauliana uma vez que o devedor já pagou o que devia e o credor já recebeu
aquilo a que tinha direito. Pelo contrário, poderá ser impugnável o cumprimento da obrigação que
ainda é exigível, assim como das obrigações naturais.
Requisitos para intentar a ação de impugnação pauliana:
Os requisitos variam consoante se trate de uma primeira transmissão, neste caso, no âmbito das
relações imediatas, ou consoante existam transmissões posteriores de direito, neste caso falamos
de ação de impugnação pauliana no âmbito das ações subsequentes.
Requisitos da impugnação pauliana no âmbito das relações imediatas:
1. O crédito tem de ser anterior ao ato de impugnar [anterioridade do crédito] – artigo 610º
alínea a) do Código Civil.
Esta situação de exigência de o crédito ser anterior ao ato sofre uma restrição importante e
que se refere à possibilidade de ser impugnado ato anterior ao crédito quando se prove que o
ato praticado pelo devedor foi realizado dolosamente com o fim de impedir a satisfação do
direito do futuro credor.
Por exemplo: A conversa com B sobre a intenção de celebrar um contrato de mutuo [empréstimo]
pelo valor de 30 mil €, no entanto, durante o contrato, A decide vender a C todos os seus bens,
com o propósito fraudulento de se tornar insolvência e assim prejudicar o futuro credor, que era
B. nesta situação, o ato praticado por A é feito ainda antes da constituição do credito, pode ser
invocada a ação de impugnação pauliana – artigo 614º do Código Civil.
2. Agravamento da impossibilidade de satisfação integral do crédito – o ato praticado pelo
devedor agrava a impossibilidade de o credor conseguir a inteira satisfação do seu crédito,
portanto, para o credor intentar uma ação de impugnação pauliana, não basta o mero interesse
do credor. O ónus de prova cabe ao credor [artigo 611º do Código Civil] cabendo ao devedor
provar que possui bens que podem satisfazer o crédito em causa.
3. Má-fé – consciência do prejuízo que se está a causar ao credor pela celebração daquele ato,
normalmente associada a uma suspeita de fraude, mas este é um requisito que não se exige
em todos os negócios jurídicos, uma vez que se:
✓ Se o ato praticado pelo devedor for oneroso, é sempre necessária a má-fé;
✓ Se o ato foi gratuito, não é necessária a verificação deste requisito, ou seja, o credor
vai poder intentar uma ação pauliana independentemente da boa-fé quando o ato tem
natureza gratuita pois isto significa que no património do devedor não entrou
qualquer contraprestação.
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Direito das Obrigações
Por exemplo, o devedor A vende de má-fé um prédio a B, tendo este também realizado o contrato
de má-fé. Por sua vez, B transmite o prédio a C, que estava de boa-fé. Poderão os credores de A,
mediante ação de impugnação pauliana, agir contra C?
❖ É necessário estarem preenchidos os requisitos do artigo 613º do Código Civil, que são
os seguintes:
1. Que se verifiquem relativamente à primeira transmissão os requisitos de
impugnação geral – o crédito tem de ser anterior ao ato, e se for posterior tem
de haver comportamento doloso;
2. Possibilidade de satisfação integral do crédito ou agravamento;
3. Má-fé – em relação à segunda transmissão, o sub-alienante e o sub-adquirente
têm de ter atuado de má-fé no caso da nova transmissão ter sido celebrada a
título oneroso – artigo 613º n.1 alínea b) do Código Civil.
Efeitos da impugnação pauliana:
Uma vez intentada a ação pauliana, nas relações entre credor e o adquirente socorremo-nos do
artigo 616º do Código Civil que nos diz que o credor que impugna com êxito o ato do devedor
tem o direito à restituição dos bens na medida do seu interesse. O credor poderá executar os bens
e praticar quanto a eles os atos de conservação da garantia patrimonial.
O adquirente de má-fé responde pelo valor dos bens que tenha alienado e mesmo por aqueles que
se podem ter danificado, exceto se em relação a estes se prove que teriam sido danificados de
igual forma se tivessem na posse do devedor.
O adquirente de boa-fé só responde na medida do enriquecimento sem causa.
Nas relações entre os credores – artigo 616º n.4 do Código Civil – a impugnação pauliana apenas
vai aproveitar ao credor que a tenha requerido e não aos demais credores do devedor.
Artigo 617º do Código Civil – efeitos nas relações com o devedor e distinção consoante o ato
tenha sido praticado a título gratuito ou oneroso, pois se o ato tem natureza gratuita, o devedor
responde para com o adquirente nos termos gerais do contrato de doação [artigo 956º do Código
Civil]; se o ato tiver sido praticado a título oneroso, o adquirente apenas pode exigir do devedor
aquilo que o devedor se enriqueceu à custa da celebração do negócio.
Ação de sub-rogação do credor e do devedor – artigo 606º a 609º do Código Civil – consiste na
faculdade de o credor reagir contra ações negligentes ou omissões do devedor substituindo-se no
exercício de direitos de conteúdo especial.
Por exemplo, um devedor insolvente é chamado, e este, ao invés de aceitar a herança, recusa,
pois, sabe que aquele património irá para o credor. Assim, há aqui um ato negligente, e para evitar
esta situação, o credor pode substituir-se ao devedor e aceitar a herança.
Requisitos:
1. Verificação da inercia do devedor que se traduz numa inatividade consciente;
2. A sub-rogação tem de ser essencial, ou seja, é indispensável esta ação à satisfação do
direito do credor – artigo 606º n.2 do Código Civil;
3. Quando a sub-rogação ocorre por via judicial, é necessária a citação do devedor – artigo
608º do Código Civil.
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Direito das Obrigações
2. Garantias reais:
O credor tem direito de ver satisfeito o seu crédito com preferência sobre outros credores. Estas
garantias dividem-se em:
I. Garantias Legais:
✓ Prestação de caução legal;
✓ Hipoteca legal – confere ao credor o direito de ser pago em primeiro lugar pelo
valor de certas coisas imoveis ou moveis sujeitas a registo – artigo 704º do
Código Civil;
✓ Privilégios creditórios – artigo 735º do Código Civil;
✓ Direito de retenção – artigo 754º do Código Civil.
26/10/2021
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Direito das Obrigações
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Direito das Obrigações
Estes indícios correspondem a concretizações de deveres de atuar sob a aboa fé que, de acordo
com a teoria de Menezes Cordeiro, estes deveres de boa-fé podem classificar-se como deveres
acessórios de proteção, informação e lealdade.
No artigo 227º do CC, ao se estabelecer que as partes, tanto numa fase previa como na própria
formação do contrato, devem atuar segundo as regras da boa-fé, o legislador estabeleceu deveres
de proteção por forma a evitar que durante as negociações ocorram danos para alguma das partes.
Alem disso, estabeleceu também dever de informação com o objetivo de as partes terem à sua
disposição a informação esclarecida sobre objeto de negociação, estando também previsto os
deveres de lealdade, e deles resulta um dever de não romper injustificadamente as negociações.
No cumprimento das obrigações, necessariamente vai impor-se o conjunto de deveres acessórios,
isto é, proteção, lealdade e esclarecimento, de forma quer a proteger o direito ativo, como também
o sujeito passivo na execução contratual.
O abuso de direito ocorre quando o exercício de um direito se torna ilegítimo porque no caso
contrato a sua ilicitude seria contraria à boa fé. Na alteração das circunstancias, é a exigência do
cumprimento do contrato que se torna ilegítima quando as circunstancias em que este contrato se
fundou se alteram profundamente após a sua celebração.
Em todos estes institutos temos inserido o principio da boa fé na vertente objetiva, como um
principio de atuação geral.
Fontes das Obrigações:
Facto jurídico de onde nasce o vinculo obrigacional. A classificação que tem mais consenso
quanto às fontes das obrigações é a seguinte:
1. Contratos;
2. Negócios jurídicos unilaterais;
3. Gestão de negócios;
4. Enriquecimento sem causa;
5. Responsabilidade civil.
Autonomia e heteronomia:
Autonomia – contrato e negócios jurídicos unilaterais;
Heteronomia – gestão de negócios, enriquecimento sem causa e responsabilidade civil.
O que distingue um negocio jurídico unilateral de bilateral?
As declarações de vontade. O negocio jurídico é, antes de mais, o facto voluntario licito assente
numa ou varias declarações de vontade dirigida a produção de determinados efeitos que a ordem
jurídica vai conformar em concordância com a intenção objetiva dos seus autores.
Os negócios jurídicos podem então ser divididos em:
❖ Unilaterais – é aquele em que apenas existe uma declaração de vontade;
❖ Bilaterais – existem duas declarações de vontade;
❖ Plurilaterais – serão aqueles constituídos por mais do que duas declarações de vontade.
Definição de contrato:
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Direito das Obrigações
O contrato é um acordo vinculativo assente em duas ou mais declarações de vontade sendo que
estas declarações são contrapostas mas harmonizáveis entre si, ou seja, elas visam estabelecer
uma composição unitária de interesses. Em regra, o contrato fica concluído por mutuo consenso
[artigo 232º do CC].
O contrato tem como elemento essencial o mutuo consenso uma vez que as declarações de
vontade que são opostas têm de se ajustar uma à outra sob pena do contrato não ficar concluído.
É necessário que as partes se queiram vincular juridicamente pois um simples acordo amigável
ou de cortesia não configura um acordo de vontades [um contrato].
Tem-se discutido na doutrina a natureza jurídica do próprio contrato, e a doutrina maioritária
entende-o como sendo um acordo de vontades que vai fazer gerar obrigações ou efeitos jurídicos.
Há ainda quem entenda o contrato como sendo propriamente limitado à relação jurídica que vai
nascer nesse contrato.
Há também quem entenda o contrato como sendo o expoente máximo do principio da autonomia
privada mas esta corrente doutrinaria entende o contrato como a possibilidade das partes criarem
normas reguladores dos seus conflitos de interesses, sendo sobretudo uma concessão objetivista
do contrato que é objeto de muitas criticas, pois as partes podem regular determinadas situações
da vida jurídica, mas não podem criar normas jurídicas.
A importância dos contratos está também associada a um valor económico que os contratos
representam na sociedade, embora nos últimos anos essa importância tenha diminuído, por um
lado, ou por outro lado alargou-se por outras áreas transcendendo a económica. Mais
recentemente, houve uma necessidade de adaptar o direito dos contratos às novas realidades que
fizeram emergir um conjunto de novas figuras contratuais.
Ultimamente, tem-se discutido uma figura que se denomina de «Relações Contratuais de Facto»
– neste tipo de relações não seria necessário um acordo de vontades, bastando a verificação de
uma relação contratual de facto para lhe ser aplicado o regime dos contar-tos. Estas relações de
facto são assentes em puras atuações de facto não nascendo de um negocio jurídico, sendo assim
uma nova categoria dogmática que se baseia na ideia de que no trafico jurídico corrente de bens
e serviços existem determinadas condutas que vão gerar vínculos obrigacionais sem ser necessário
duas declarações de vontade à produção do efeito jurídico.
Esta ideia das relações contratuais de facto está sobretudo associada à ideia de bens ou serviços
em massa que segundo um comportamento social típico tendem a produzir consequências
jurídicas que se configuram como uma atuação negocial mas que dela se distinguem. Por
exemplo, nos transportes coletivos, normalmente, não é exigida a obtenção previa de bilhete, a
pessoa que utiliza estes meios encontra-se obrigada ao pagamento do peço, adquirindo o direito
a ser transportada quando compra o bilhete, mas este procedimento é feito sem que corresponde
propriamente à declaração de duas vontades das partes de um contrato.
Responsabilidade civil pré-contratual [artigo 227º do CC] – relações jurídicas nascidas do simples
contacto social entre sujeitos antes do simples contrato configuram relações contratuais de facto.
São ainda relações contratuais de facto aquelas que decorrem de negócios jurídicos ineficazes.
O que se tem apontado a esta teoria é que não é necessário configurar todas estas situações em
relações contratuais de facto, uma vez que o próprio direito apresenta em si soluções para as
resolver.
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Direito das Obrigações
Autonomia Privada:
A autonomia privada é um dos princípios fundamentais do direito das obrigações e, em geral, a
expressão «autonomia privada» consiste na possibilidade de alguém estabelecer as suas próprias
regras. Juridicamente falando, não podemos acolher esta expressão no seu todo, dado que as
regras jurídicas se caracterizam pela generalidade e abstração, pelo que não podem ser criadas
por atos privados, portanto, por força deste principio, o que os privados criam são comandos que
só para eles vão vigorar, na verdade a autonomia privada traduz-se na possibilidade de alguém
estabelecer os efeitos jurídicos que se vai manifestar na sua própria esfera jurídica.
A autonomia privada consiste num espaço de liberdade que vai, dentro dos limites da lei, permitir
que as partes desencadeiem a produção de certos efeitos jurídicos, e para a produção desses efeitos
jurídicos, será necessária a realização de um negocio jurídico.
Negócio Jurídico ≠ Simples ato jurídico
No simples ato jurídico existe apenas a liberdade de celebração uma vez que a produção dos
efeitos jurídicos vai decorrer imperativamente da lei; pelo contrario, no negocio jurídico, vamos
ver que existe tanto a liberdade de celebração como também a liberdade de determinar os efeitos
jurídicos desse negocio.
➢ Liberdade Contratual – artigo 405º do CC:
A liberdade contratual pode ser dividida em:
❖ Liberdade de celebração/conclusão de um contrato;
❖ Liberdade de conformação/ fixação do conteúdo de um contrato.
Liberdade de celebração/conclusão de um contrato:
Esta liberdade de celebração traduz-se numa liberdade positiva de celebrar um contrato e também
a liberdade de escolher a contraparte, podendo ainda incluir aqui a liberdade de modificação ou
extinção do contrato [artigo 1406º do CC] sendo que, desta forma, esta liberdade se vai traduzir
na faculdade que é reconhecida a qualquer pessoa de criar acordos destinados a regular os seus
interesses.
Liberdade de conformação/ fixação do conteúdo de um contrato:
Esta liberdade permite às partes estabelecer o conteúdo do contrato, querendo isto verificar-se
através de três formas distintas:
1. Pela celebração de contratos que esteja, tipificados pela lei [contratos típicos ou
nominados] e são aqueles em que quando as partes o celebram, fazem-no nos exatos
termos em que eles estão tipificados;
2. As partes, por força da liberdade de conteúdo, tem a faculdade de aditar, a cada um desses
contratos tipificados, clausulas que entenderem mais adequadas de acordo com os seus
interesses e, neste caso, falamos de contratos atípicos ou inominados;
3. Faculdade de as partes celebrarem contratos distintos daqueles que não estão previstos na
lei, e elas podem-no fazer através da reunião de varias características de vários contratos
e quando estão reunidas todas elas num só contrato, utiliza-se a expressão contratos
mistos.
Ambas as liberdades não são absolutas, pois a liberdade tem de ser realizada dentro dos limites
da lei, existindo deste modo restrições:
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Direito das Obrigações
02/11/2021
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Direito das Obrigações
Em regra, basta o acordo de vontades para a perfeição do contrato, isto é, normalmente para um
contrato ficar celebrado basta o acordo das partes, não é obrigatoriamente necessário o ato de
entrega da coisa, para que o contrato fique concluído.
Este principio vai traduzir-se na regra geral da liberdade de forma, que se encontra mencionada
no artigo 217º do Código Civil onde se reconhece que as declarações negociais podem ser
expressas ou tácitas e o silencio só pode valer em situações excecionais que resultem da lei.
Vigora o principio da liberdade de forma – artigo 219º do Código Civil – para os negócios
jurídicos em geral. Por regra, um negocio jurídico pode ser celebrado por qualquer forma, embora
esta liberdade de forma tenha uma limitação, quando da própria lei é determinada a exigência de
se seguir uma determinada forma para a celebração do negocio jurídico.
Quando a lei exige determinada forma legal e a mesma não é observada, a consequência é a
nulidade do negocio jurídico, conforme os artigo 220º e 286º do Código Civil.
Principio da Força Vinculativa dos Contratos – artigo 406º do Código Civil:
Este principio vai manifestar-se quer nas relações internas quer nas externas. O artigo 406º do
Código Civil dá-nos a regra geral da eficácia dos contratos, que nos diz que uma vez celebrado o
contrato, o mesmo tem que ser imperativamente cumprido, e este principio divide-se:
❖ Principio da pontualidade: por um lado, impõe que o contrato seja cumprido num prazo
estabelecido, por outro lado, significa que o contrato tem de ser cumprido ponto por ponto,
isto é, todas as clausulas desse contrato devem ser cumpridas.
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Direito das Obrigações
É convencional quando resulta do acordo das partes e pode ser estabelecida desde logo no
contrato, podendo ainda ser feita através de uma declaração unilateral extrajudicial [a parte que
quer resolver o contrato comunica a outra parte essa intensão extrajudicialmente, artigo 436º n.1
e 2 do Código Civil] e noutras situações esta resolução pode ser feita judicialmente, conforme o
artigo 1047º do Código Civil, neste caso, em regra exige-se que o autor invoque e prove o
fundamento da resolução [artigo 801º n.2 e 802º n.1 do Código Civil] embora possam as partes
também afastar esta inovação e prova do fundamento se tal ficar estipulado no contrato.
É legal nas situações em que é a própria lei que determina a resolução do contrato, e esta resolução
pode ocorrer também por forma tácita, não tendo que ser necessariamente por declaração
expressa. A lei admite a resolução por via da lei em casos como:
▪ Perda de interesse do credor – artigo 808º do Código Civil;
▪ Incumprimento definitivo imputável ao devedor – artigo 801º do Código Civil;
Artigo 434º do Código Civil – só pode ser feita a resolução do contrato se for possível devolver
aquilo que foi prestado, só quem estiver nestas condições de devolver a coisa é que pode resolver,
pois a resolução tem efeitos retroativos
Em regra, de acordo com o artigo 433º do Código Civil, a resolução vai produzir os mesmos
efeitos que terá uma declaração de nulidade ou anulabilidade do negocio.
No entanto, a resolução não vai ter eficácia retroativa [nulidade/anulabilidade] relativamente:
▪ Às partes se essa retroatividade for contraria à vontade das partes ou à própria finalidade
da resolução – artigo 434º n.1 do Código Civil;
▪ Nos contratos de execução continuada ou periódica, pois a resolução somente abrange as
prestações já efetuadas se na causa da resolução existir um vinculo que as legitime –
artigo 434º n.2 do Código Civil.
▪ A resolução do contrato não prejudica os direitos entretanto adquiridos exceto se respeitar
a bens sujeitos a registo e se o registo da ação de resolução anteceder o desses direitos –
artigo 435º do Código Civil.
Revogação:
Permite a destruição do vinculo contratual mediante uma declaração dos contraentes oposta à
declaração inicial. Os efeitos da revogação só se verificam a partir do momento em que se
verifica/emite a declaração no sentido de revogar o contrato, não tendo efeitos retroativos.
A revogação pode acontecer por vários motivos:
▪ Há um contrato ainda em curso, a ser executado, e uma das partes não quer permanecer
vinculada, e pode ocorrer por acordo das partes;
▪ Por força da lei em situações como a prevista no artigo 969º n.1 do Código Civil;
▪ Doações que podem ser revogadas por ingratidão do donatário, conforme o artigo 970º e
978º n.2 do Código Civil.
Denuncia:
A denuncia do contrato vai se traduzir na declaração de vontade de uma das partes do contrato,
nomeadamente nos contratos de prestações duradouras, de não renovar/ continuar o contrato. Esta
denuncia não pode operar em qualquer momento, esta tem de se fazer no termo do prazo da
renovação destes contratos, exceto tratando-se de contratos por tempo indeterminado.
Imaginemos: um contrato de arrendamento por duração de 1 ano, que seria renovável por períodos
idênticos. No prazo final, se o arrendatário não quer continuar com aquela relação contratual, tem
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Direito das Obrigações
que comunicar ao senhorio, fazendo-lhe o pré-aviso de denuncia, deixando claro que quer fazer
cessar aquela relação contratual. A denuncia não produz também efeitos retroativos.
Desvios à mera eficácia interpartes, ou seja, o contrato produz efeitos erga omnes:
▪ Contrato promessa com eficácia real – artigo 413º do Código Civil;
▪ Pactos de preferência com eficácia real – artigo 421º do Código Civil;
▪ Contrato por pessoa a nomear – artigo 452º a 456º do Código Civil.
Quando estejam em causa invalidades sequenciais em que foi adquirido um direito de
oponibilidade relativa por força da lei que vai conferir se estiverem preenchidos todos os
requisitos do artigo 291º do Código Civil, a possibilidade de transformar esse direito de
oponibilidade relativa num direito absoluto.
Principio da igualdade e proteção da parte mais fraca:
Impõe-se uma igualdade quer na celebração dos contratos, quer no cumprimento quer na
celebração. Esta igualdade, em determinados contratos, é meramente aparecente, pois uma das
partes acaba por estar numa posição mais frágil do que outra e assim ter menos poder do que
outra.
O principio da proteção da parte mais fraca surge para estabelecer um conjunto de direito,
garantias e regulação das relações contratuais em negócios como é o caso do contrato de consumo,
em que uma das partes, o consumidor, é a parte mais débil.
Âmbito dos Contratos:
Contratos Unilaterais ≠ Contratos Bilaterais
O contrato unilateral é aquele que vai gerar apenas uma obrigação para uma das partes contratuais,
como é o caso, em regra, da doação pura e do contrato de mutuo.
O contrato bilateral é aquele que vai gerar duas ou mais obrigações para ambas as partes do
contrato, e estes podem ser:
▪ Contratos bilaterais perfeitos/ sinalagmáticos;
▪ Contratos biliterais imperfeitos/ não sinalagmáticos.
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Contratos Mistos: são aqueles que vão reunir elementos de dois ou mais contratos, que podem
estar total ou parcialmente regulados na lei. O contrato misto não deve ser confundido com a
união de contratos.
Contratos Não Formais ≠ Contratos Formais ou Solenes
Contratos Não Formais:
Estes contratos são aqueles em que a sua validade não depende da observância de uma forma
especial, ou seja, estamos a falar de contratos em que a declaração negocial pode ser efetuada por
qualquer meio, incluindo verbalmente, e isto leva-nos ao principio da consensualidade.
Em regra, nos termos do artigo 219º do Código Civil, a validade da declaração negocial não
depende de uma forma especial.
Contratos Formais ou Solenes:
São aqueles que dependem de determinada forma sob pena de nulidade, estamos então a falar de
contratos cuja validade dispõe da observância de determinada forma – artigo 220º do Código
Civil.
Contratos Reais ≠ Contratos Consensuais
Contratos Reais:
São aqueles em que para a sua celebração está dependente da entrega da coisa, ou seja, nestes
contratos, para a sua celebração/ constituição é exigido a tradição ou a entrega da coisa de que
são objeto.
Contratos Consensuais:
São aqueles em que será dispensada a entrega da coisa.
Contratos Reais ≠ Contratos Obrigacionais
Contratos Obrigacionais:
São aqueles que me conduzem à criação, modificação ou extinção das relações creditícias sendo
a sua eficácia sobre a esfera jurídica das partes de forma imediata.
Contratos Reais:
São aqueles que vão gerar eficácia absoluta, e estamos a falar de efeitos no domínio de direitos
reais como contratos familiares e sucessórios que vão gerar um efeito que tem uma natureza
absoluta e também uma natureza oponível erga omnes.
09/11/2021
Artigo 409º do Código Civil – trata daquilo a que chamamos de «Clausula de Reserva de
Propriedade» que significa que as próprias partes de um contrato podem estipular que a
transferência da propriedade ocorra apenas quando há o cumprimento total ou parcial das
obrigações do adquirente ou por exemplo quando ocorre a entrega efetiva da coisa, ou mesmo
com a verificação de qualquer outro evento.
Esta clausula é muito frequente em contratos de compra e venda a prestações, pois acaba por
proteger o vendedor em caso de incumprimento ou eventual insolvência do credor. Assim, esta
clausula é uma exceção à regra geral da transferência da propriedade por mero efeito do contrato.
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Nota introdutória:
Quer o contrato promessa quer o pacto de preferência são contratos preliminares, o que significa
que estes contratos são aqueles cuja execução prossupõe a celebração de um outro contrato –
artigo 410º e seguintes do Código Civil. No contrato promessa temos a assunção de uma obrigação
de celebrar um contrato definitivo. No pacto de preferência há uma obrigação de dar preferência
a outrem na celebração de um determinado contrato.
Contrato Promessa:
Tem em vista a celebração de um contrato definitivo, que também é designado por contrato
prometido, e quando se celebra o contrato promessa vai se assumir uma obrigação de no futuro
se vir a emitir uma declaração negocial no sentido de celebrar determinado contrato. O contrato
promessa tem a característica de possuir uma obrigação de contratar que se traduz, no futuro, na
celebração do contrato definitivo, e a obrigação de contratar é uma prestação de facto positiva e
jurídica
Pacto de Preferência:
Não há obrigação de celebrar um determinado contrato, o que há é a obrigação de, se
eventualmente decidir contratar, escolher determinada pessoa para se contratar.
Pactos de Opção:
Nestes casos, uma das partes emite logo uma declaração negocial correspondente ao contrato que
pretende celebrar enquanto a outra parte se vai reservar à faculdade de aceitar ou declinar o
contrato dentro de um determinado prazo. Se aceitar, o contrato vai se aperfeiçoar sem
necessidade de qualquer declaração da contraparte.
O pacto de opção distingue-se assi do contrato promessa unilateral em que é necessário um acordo
posterior para a celebração do contrato definitivo.
Este pacto de opção é um caso típico, por exemplo, de um comerciante que insiste com o cliente
para que ele fique com determinado produto, sendo que este cliente fica com a faculdade possa
desistir da contratação se não tiver a vontade de ficar com a coisa.
O contrato promessa pode ter duas modalidade – bilateral e unilateral:
No bilateral ambas as partes se vinculam à celebração de um contrato futuro. Por exemplo, A
promete vender a B determinado imóvel por certo preço, e simultaneamente o B compromete-se
a comprar esse mesmo imóvel.
No unilateral apenas uma das partes se vincula à celebração do contrato definitivo. Por exemplo,
A compromete-se a vender o imóvel por um certo preço a B, mas este B não se compromete a
comprar esse mesmo imóvel, ficando livre de o fazer ou não. Este contrato pode ser remunerado
conforme decorre do artigo 411º do Código Civil, e existe esta possibilidade sempre que a outra
parte assume a obrigação de pagar ao promitente determinada quantia como contrapartida pelo
facto de se manter durante certo tempo, vinculado à celebração de um contrato – preço de
imobilização.
Artigo 411º do Código Civil – no contrato promessa unilateral a lei considera que o contrato
definitivo deve ser celebrado dentro de um determinado prazo, ou seja, o promitente não pode
ficar vinculado ad eterno. Quando não há estipulação, é possível que seja o promitente a fixar esse
prazo, findo o qual o contrato promessa caduca.
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Artigo 892º do Código Civil – normalmente a regra é que para a alienação e oneração de direitos
reais, tem que existir legitimidade, mas em relação à constituição de obrigações não será exigida
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essa legitimidade, o que significa que ao contrato promessa não vai ser aplicado o regime deste
artigo.
Por exemplo: A, em janeiro de 2020, celebra com B um contrato promessa que tem por objeto a
obrigação futura de vir a celebrar um contrato de compra e venda de um automóvel. Entretanto,
em fevereiro, A celebra com C um contrato de compra e venda desse mesmo automóvel. Neste
momento, quem é o proprietário do automóvel? O proprietário é o C.
Por exemplo: A celebra com B um contrato de compra e venda, em janeiro de 2020, de um imóvel.
Vamos supor que este contrato é válido, no entanto, A celebra, um mês depois, um contrato
promessa com C que tem por objeto esse imóvel. Quem é o proprietário do imóvel? O proprietário
é B. Então quando A celebra com C o contrato promessa, o imóvel já pertencia a B. Assim, embora
seja um contrato promessa que tenha por objeto uma obrigação que A não poderá cumprir, a lei
não impede a sua celebração, uma vez que não se exige a legitimidade para a constituição da
obrigação de vir a celebrar um contrato definitivo.
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conjugada com o artigo 423º do Código Civil, que admite igualmente a assunção da obrigação de
preferência em relação a outros contratos desde que compatível com essa obrigação devendo fazer
portanto uma interpretação ampla do artigo 414º, podendo desta forma definir o pacto de
preferência como sendo um contrato unilateral pelo qual alguém se compromete a dar preferência
a outra pessoa, isto é, assume a obrigação de escolher outrem como contraente, na eventualidade
de decidir contratar.
O pacto de preferência é unilateral pois só faz nascer a obrigação para uma das partes, no caso,
para o obrigado à preferência, e o titular da preferência é livre de exercer esse direito (de
preferência). É um contrato constitutivo de uma obrigação condicionada uma vez que só se o
obrigado à preferência decidir celebrar um contrato é que se dará lugar a esta, logo este contrato
está associada à vontade dessa parte.
Quanto à transmissão de direitos e obrigações de preferência, que se encontra regulada no artigo
420º do Código Civil, existe uma regra – em regra não se transmitem direitos e obrigações
decorrentes de um pacto de preferência - ou seja, a regra é a da não transmissibilidade, no entanto,
existe uma exceção, pois pode haver transmissão se as partes estipularem uma clausula que
permita essa mesmo transmissão, isto é, por vontade das partes, esta transmissão é possível.
Regime jurídico do pacto de preferência:
Requisitos formais – artigo 415º do Código Civil:
Este artigo manda aplicar às questões de forma do pacto de preferência o regime jurídico do
contrato promessa, o que significa que, em regra, um pacto de preferência não estará sujeito a
forma legal especial. A observância desta forma vai ser exigida nas situações equiparáveis ao
artigo 410º n.2 do Código Civil, ou seja, quando o contrato definitivo está sujeito a forma especial,
aqui o pacto de preferência também terá de seguir uma determinada forma, não tendo de ser
necessariamente a forma do contrato definitivo, bastante um mero documento particular
autenticado.
No pacto de preferência não é aplicado o regime do artigo 410º n.3 do Código Civil quanto às
formalidades adicionais, portanto aqui apenas se exige o documento particular assinado pelo
obrigado à preferência quando o contrato a celebrar esteja sujeito a forma.
Requisitos de substancia:
Para o pacto de preferência a lei não estabelece o principio da equiparação, o que significa que ao
pacto de preferência vamos aplicar, nos termos gerais de direito, as suas regras quanto à nulidade
ou vícios da vontade.
Efeitos do pacto de preferência:
Em regra, o pacto de preferência só produz efeitos meramente obrigacionais, isto é, só vincula as
partes, sendo que o obrigado a contratar assume a natureza de um mero direito de credito que se
for violado apenas dará direito a uma indeminização.
Imaginemos que: A celebra com B um pacto de preferência no qual A se compromete a dar
preferência a B na eventualidade de decidir vender a sua casa. Este pacto foi celebrado a janeiro
de 2021 e alguns meses depois A decide celebrar um contrato de comora e venda daquela casa
com C. Entre A e B temos um pacto de preferência, em que A assumiu a obrigação de dar
preferência a B na eventualidade de vir a celebrar uma venda da casa, no entanto vende a C sem
nada dizer ao seu.
Neste caso, A sendo proprietário tinha legitimidade para alienar o imóvel. B tinha apenas um
mero direito de credito, que decorre do pacto de preferência. No entanto, como A vendeu a C,
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torna inviável B poder adquirir a casa. Faltou neste caso, da parte de a, comunicar a B a venda da
casa. Assim, B terá direito a uma indeminização por virtude do incumprimento do pacto de
preferência.
Artigo 421º do Código Civil – pactos de preferência com eficácia real:
Esta eficácia real vai reforçar o direito do titular da preferência permitindo-lhe opor esse direito
em qualquer direção. Para que um pacto de preferência tenha eficácia real, tem de obedecer a
requisitos cumulativos. Temos de estar perante:
❖ Bens imoveis ou moveis sujeitos a registo;
❖ O pacto de preferência tem de ser celebrado por documento particular autenticado ou escritura
pública, exceto se o contrato definitivo não estiver sujeito a forma, neste caso basta o
documento particular autenticado;
❖ O pacto de preferência tem de ser registado;
❖ É necessária uma declaração expressa da vontade de atribuir eficácia real ao pacto de
preferência.
Se tem eficácia real, é aqui reforçado o direito do titular de preferência, e poderá ir mais além de
uma mera questão de indeminização.
Imaginemos que: A celebra com B um pacto de preferência com eficácia real, o que significa que
B terá o direito de opor a qualquer sujeito este pacto. Se apos a celebração do pacto devidamente
registado A celebrar um contrato de compra e venda com C, B vai poder opor o seu direito à
preferência a C.B vai poder então intentar uma ação de preferência – artigo 421º n.2 do Código
Civil – cujo objetivo será substituir C por B no contrato de compra e venda.
O pacto de preferência, nos termos do 414º do Código Civil, resulta de um ato de vontade das
partes e é portanto um direito convencional de preferência, o que significa que é feito por mero
acordo entre as partes, e este opõe-se aos direitos legais de preferência, neste ultimo caso, é por
força da lei que se concede a certos titulares de direitos reais ou pessoais de gozo sobre
determinada coisa, a preferência, por exemplo na alienação de determinado bem (artigo 1409º,
1091º, 1535º do Código Civil). No caso das preferências legais, estas possuem sempre uma
eficácia real, o que faz com que prevaleçam sobre os direitos convencionais de preferência, ainda
que estes últimos possam ter eficácia real nos termos do 421º do Código Civil.
Qual é a natureza jurídica do pacto de preferência?
Tal como acontecia em relação ao contrato promessa, a doutrina também se divide.
Por um lado, a generalidade da doutrina, é entendido como um direito real de garantia quando
tem natureza real, enquanto que nos demais casos ele é entendido apenas como um direito de
crédito que pode assumir uma natureza reforçada.
Quanto à natureza da obrigação de preferência, para Manuel de Andrade e Galvão Teles a
obrigação de preferência corresponde a uma verdadeira obrigação de contratar que está sujeita a
uma condição potestativa nomeadamente a condição de que devedor tome a decisão de contratar
e a de que o credor exerça a preferência.
Para Carlos Barata, a obrigação de preferência tem um conteúdo negativo que é, nomeadamente,
o de não celebrar com mais ninguém um contrato em relação ao qual se deu preferência a não ser
com o titular da mesma salvo de esta renunciar.
Para Antunes Varela, Menezes Cordeiro e João Rendinha não existiria, na obrigação de
preferência, nem uma obrigação de contratar, nem um negocio condicional, entendendo que a
obrigação de preferência possui um conteúdo positivo, ou seja, o titular da preferência, como
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Quando é uma notificação judicial, o contrato deve ser celebrado no prazo de 20 dias aos o
exercício da preferência, se tal não acontecer, isto é, se o contrato não for celebrado neste prazo,
o preferente terá que requerer, nos 10 dias subsequentes, que se designe hora e dia para a parte
contraria receber o preço sob pena de ter que ser depositado, inclusive pode o preferente deposita-
lo no dia seguinte, se a parte contraria devidamente notificada não comparecer ou recusar a
receber o preço. Faltando tudo isto, os bens são adjudicados ao tribunal com eficácia retroativa à
data do pagamento ou do deposito.
O direito à preferência nasce em concreto quando o obrigado toma a decisão de celebrar o contrato
em relação ao qual tenha concedido a preferência, dai não existir incumprimento da obrigação de
preferência nos casos em que o obrigado celebra um contrato de natureza diversa do contrato
preferível, mesmo que esse contrato implique a não celebração em definitivo deste ultimo.
Incumprimento do direito de preferência:
Quando o pacto de preferência é meramente obrigacional e existe um incumprimento, existe:
1. O direito à indeminização, nos termos da responsabilidade contratual, nos termos do
artigo 798º do Código Civil.
Quando o pacto de preferência possui eficácia real e existe um incumprimento:
1. O direito do preferente (com eficácia erga omnes) prevalece contra quaisquer direitos que
tenham sido constituídos posteriormente ao seu.
2. O titular da preferência tem o direito à ação de preferência, conforme os artigos 421º/2
juntamente com o 1410º do Código Civil. Esta ação visa substituir o preferente num
negocio jurídico que foi celebrado pelo obrigado.
Artigo 1410º do Código Civil:
« 1. O comproprietário a quem se não dê conhecimento da venda ou da dação em cumprimento
tem o direito de haver para si a quota alienada, contanto que o requeira dentro do prazo de seis
meses, a contar da data em que teve conhecimento dos elementos essenciais da alienação, e
deposite o preço devido nos 15 dias seguintes à propositura da ação.
2. O direito de preferência e a respetiva ação não são prejudicados pela modificação ou distrate
da alienação, ainda que estes efeitos resultem de confissão ou transação judicial.»
Litisconsórcio necessário passivo: saber contra quem o titular de preferência vai intentar a ação
de preferência. O titular da preferência tem que chamar a esta ação quer o obrigado à preferência,
quer o adquirente do bem, uma vez que esta ação passa pela substituição do adquirente na ação
criada.
Conforme o 1410º será que o preferente apenas tem que depositar o que corresponde ao preço
propriamente dito da coisa ou também vai incluir despesas que por força da ei ficam a cargo do
comprador?
Este deposito apenas deve abranger o preço devido pela coisa, ou seja, o preferente apenas deve
depositar o preço devido pela coisa, ainda que a mesma possa estar sujeita a outras despesas, sem
prejuízo de se a ação for julgada procedente, e portanto quem fica com o bem é o procedente, este
tem de suportar as despesas realizadas pelo anterior adquirente se estas configurarem uma
situação de enriquecimento sem causa.
Situações de simulação de preços:
A simulação está regulada nos artigos 240º e seguintes do Código Civil, e aqui existe um acordo
de vontades entre o declarante e o declaratário. Os casos que nos interessam nesta matéria são os
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