Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
30/03/2022
1
A matéria da primeira frequência sai até aqui.
1
Direito do Trabalho II
A extinção do vínculo contratual por revogação está sujeito a forma escrita, conforme o
previsto na lei, e se tal não acontecer, esta forma de cessação torna-se inválida.
Em bom rigor, a extinção por revogação significa que o contrato cessa porque as partes o
acordam, mas normalmente os acordos que são celebrados (rescisões por acordo) são
situações em que apesar do que leva à extinção do vinculo seja um acordo entre as partes,
muitas vezes a influencia principal destes casos vem da arte do empregador.
Muitas vezes, os acordos de revogação, na prática, são um despedimento negociado, pois
o empregador quer livrar-se do trabalhador e acabam por acordar uma forma de ambos se
entenderem e existir igualmente o despedimento, através da revogação, pois o
empregador nestas situações pode não ter justa causa para despedir, e então arranja uma
forma de dinamizar o processo propondo uma extinção do vinculo contratual ao
trabalhador.
A figura da revogação, assim, por vezes acaba por configurar um verdadeiro
despedimento, por todas as razoes elencadas acima, e deste modo existe a preocupação
em acautelar este tipo de meios de extinção do vinculo contratual.
Quais são os termos do acordo? Estão previstos? Implicam obrigatoriamente a
necessidade de pagar uma importância ao empregador? Não, pois normalmente quando
se fala em revogação por acordo, fala-se igualmente em compensação ou indemnização
(artigo 349º/ 5 do CT), que são o preço da extinção do vinculo contratual, no entanto, esta
compensação ou indemnização não decorre da lei, têm de ser as partes a contemplar, se
não o fizerem, a mesma não é devida.
Assim, esta compensação mais não é do que um dos efeitos que as partes poderão
acrescentar ao acordo de revogação, nos termos do artigo 349º/ 4 do CT.
No fundo, o principal efeito do acordo de revogação do contrato é a extinção do contrato,
mas pode no entanto ser acompanhado de outros efeitos, estipulados pelas partes, que são,
por exemplo, a possibilidade de compensação ou a possibilidade de inclusão de um pacto
de não concorrência (artigo 136º do CT).
Relativamente à exigência de forma escrita, esta tem a ver com a proteção do trabalhador,
por um lado garantir que o acordo reflete uma vontade autentica, genuína, ponderada e
refletiva do trabalhador por fim ao contrato de trabalhador, isto é, garantir a autenticidade
da vontade do mesmo, daí ele ter que assinar e ficar com um exemplar desse mesmo
documento.
Regime da revogação:
Há exigências que a lei determina, em termos formais, tais como a data de celebração do
acordo, a data do inicio da produção dos efeitos e ainda os prazos legais para o exercício
do direito de fazer cessar o acordo de revogação.
No entanto, é possível celebrar o acordo e definir que a extinção não é imediata, tendo
assim um termo extensivo, definindo uma data para a extinção do vinculo que não
obrigatoriamente a data da celebração do artigo.
A lei determina que estas datas estejam previstas no acordo, de modo a garantir a
genuinidade da vontade do trabalhador quando o mesmo assina o acordo de revogação.
2
Direito do Trabalho II
Desta forma, no fundo, evita-se que o acordo funcione como um acordo dissimulado por
parte do empregador.
Direito de arrependimento – artigo 350º do CT:
Por vezes, o trabalhador poderia, por impulso, subscrever a um acordo que depois, com a
cabeça mais fria, se venha a arrepender pois o seu rendimento depende daquele trabalho.
Para afastar as praticas do despedimento dissimulado, o trabalhador pode assinar um
acordo de revogação e vir a arrepender-se pois apercebe-se que o ato que cometeu foi
uma precipitação, arrependendo-se do mesmo e querendo restituir os efeitos do acordo,
ponto fim ao mesmo. Este direito vem consagrado nos termos previstos no artigo 350º do
CT, tendo este a disponibilidade de 7 dias para proceder ao seu arrependimento.
O trabalhador não tem direito ao arrependimento se o acordo de revogação for assinado,
devidamente atado e as assinaturas serem objeto de reconhecimento notarial.
Prazos para o exercício deste direito:
O artigo 350º/ 3 do CT obriga o trabalhador a devolver as quantias recebidas quando se
arrependa e queira revogar o acordo estabelecido, logo, o direito de arrependimento só
produzi o seu efeito se o trabalhador devolver todas as quantias que recebeu em virtude
do mesmo.
Regra geral, a data da celebração pode coincidir com a data da produção dos efeitos,
sendo o principal efeito a extinção do contrato.
Nesta hipótese, a lei vem permitir ao trabalhador exercer o direito de arrependimento
dentro do prazo de 7 dias, podendo ainda no dia útil seguinte, através de carta registada
com aviso de recessão, estendendo deste modo o prazo inicialmente estabelecido.
Decorrido este prazo, reclute-se o direito de arrependimento.
No entanto, há casos em que ao acordo de revogação é posto um termo suspensivo, isto
é, o acordo só produzirá efeitos a partir de certa data, não coincidindo assim com a data
de celebração do mesmo.
Nesta segunda situação, os 7 dias, de acordo com a interpretação literal da lei, contam-se
da data de celebração e não da data da produção dos efeitos. O Doutor Leal Amada
sustenta que o prazo se deve contar da data de celebração quando as datas coincidem,
caso não coincidam, só faz sentido contar-se o prazo a partir da data da produção dos
efeitos.
Segundo o Doutor Leal Amado, a ratio legis deste direito de arrependimento não seria
salvaguardada se nesta hipótese o prazo de contasse da data da celebração do acordo e
não da data da produção dos efeitos.
Entende-se assim que o direito de arrependimento deve ser exercido longe do ambiente
de trabalho com mais serenidade, para poder refletir sobre o mesmo, logo não faria
sentido exercer este direito quando ainda não tinham sido produzidos efeitos do acordo.
Assim, o Doutor Leal Amado entende que a redação literal da norma deve ser objeto de
uma interpretação restritiva no sentido em que a data da celebração só deve ser contada
3
Direito do Trabalho II
para prazo de arrependimento caso coincida com a data da produção dos efeitos, caso
contrária, só é contada a data da produção dos efeitos do acordo.
No entanto, na redação antiga desta norma, eram estabelecidos menos dias como prazo
deste direito, no entanto só eram contados a partir da data dos efeitos do acordo.
A partir de 2019 o legislador passou a impor que o prazo para o exercício de direito de
arrependimento deve constar do acordo de revogação, e há quem entenda que esta
formulação tem em vista dar liberdade as partes de decidirem se ao 7 dias são contados
desde a celebração, ou da produção dos efeitos.
Se o acordo for celebrado com reconhecimento presencial das assinaturas (notário) cessa
o direito de arrependimento do trabalhador. O reconhecimento notarial reconhece
garantidamente a aceitação por parte do trabalhador do acordo revogatório, e por sua vez
o notário informará e esclarecerá todos os efeitos em virtude do referido acordo.
31/03/2022
4
Direito do Trabalho II
Assim, o trabalhador tem de fazer prova de que a compensação negociada não incluía os
créditos, no entanto, esta prova é particularmente difícil. Nestes casos, como pode o
trabalhador reagir? A única alternativa é exercer, desde que atempadamente, o direito de
arrependimento.
O trabalhador tem forma de clarificar que a compensação não inclui os créditos? Sim, é
uma questão de redação do acordo, pois se for determinado o direito a compensação para
além dos créditos, percebesse que a mesma não tem o caracter pecuniário global.
Conclui-se assim que deve haver aqui um particular cuidado do trabalhador quando
subscreve acordos de revogação.
Muitas vezes quando o contrato cessa, o empregador passa ao trabalhador uma declaração
para o mesmo assinar em que nada mais lhe é devido, e esta questão é muito pertinente,
pois por vezes o trabalhador mais tarde apercebesse que recebeu menos do que aquilo que
lhe é devido, logo, é necessário um particular cuidado sobre a mesma declaração tem um
caracter de quitação (que estabelece o recibo de todas as quantias devidas e pagas) ou de
remissão/ perdão (na qual há uma indicação clara e expressa de que o trabalhador aceita
renunciar de determinadas quantias que ainda não recebeu e acaba por abdicar).
Quando os contratos cessam por revogação, regra geral, o trabalhador não vai ter acesso
ao desemprego, pois um dos requisitos base para este acesso é o desemprego ser uma
situação involuntária do trabalhador, e nos casos de revogação, se há acordo, parte-se do
principio que o trabalhador age voluntariamente e por sua vontade.
No entanto, quando os acordos de revogação são realizados nos processos de redução de
pessoal (despedimento coletivo) trabalhador acaba por assinar o acordo mas sem ser da
sua pura vontade, sendo deste modo desemprego involuntário e que por essa via o mesmo
manterá o seu direito ao subsidio de desemprego, no entanto, esta não é de todo a regra
geral.