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Direito Penal III

27/04/2022 – aula após o teste

Interrupção da gravidez não punível – artigo 142º do CP:


Portugal foi dos países, na atual União Europeia, que de algum modo mais tarde teve
legislação no sentido de admitir a interrupção voluntaria da gravidez, só tendo sido
introduzida como tal em 1984.
Faz-se uma reconfiguração daquele que é o sistema de proteção da vida intrauterina, e
estabelece-se um modelo das indicações, em que há uma logica de limitar os casos
relativamente aos quais pode existir a interrupção voluntaria da gravidez.
No contexto da formulação desta lei houve uma enorme discussão sobre qual é que seria
a natureza de um artigo como o 142º do CP. Uma parte entendia que este artigo não
poderia ser entendido como uma causa de justificação, no entanto, mesmo no patamar
do artigo 131º do CP é possível existir uma causa de justificação, e portanto, se é
admitida justificação relativamente à vida, admitimos que em relação a esta é possível
ponderação.
É hoje, assim, mais ou menos consensual que se trata de uma verdadeira causa de
justificação especial para o crime do aborto. Por uma questão de curiosidade, a ideia da
alínea e) do artigo 142º do CP, em 1998 considerou-se que estariam reunidas algumas
condições para a existência da mesmo, e houve uma abstenção de cerca de 60% nesta
votação.
Houve um segundo referendo, e deu-se neste a tendência inversa, tendo uma grande
parte de respostas positivas e a taxa de abstenção ter sido mais baixa, mas não se chegou
ao 50% dos votos.
Desde que foi introduzida a alínea e) esta representa 97% das interrupções da gravidez
realizadas em Portugal, sendo todas as restantes alíneas combinadas o respetivo a 3%.
Artigo 142.º
Interrupção da gravidez não punível
Indicação terapêutica
1 - Não é punível a interrupção da gravidez efectuada por médico, ou sob a sua
direcção, em estabelecimento de saúde oficial ou oficialmente reconhecido e com o
consentimento da mulher grávida, quando:
a) Constituir o único meio de remover perigo de morte ou de grave e irreversível lesão
para o corpo ou para a saúde física ou psíquica da mulher grávida;
b) Se mostrar indicada para evitar perigo de morte ou de grave e duradoura lesão1
para o corpo ou para a saúde física ou psíquica da mulher grávida e for realizada nas
primeiras 12 semanas de gravidez;

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Pode ser diferente consoante as circunstancias da mulher.

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Indicação Embriopática
c) Houver seguros motivos para prever que o nascituro virá a sofrer, de forma
incurável, de grave doença ou malformação congénita2, e for realizada nas primeiras
24 semanas de gravidez, excecionando-se as situações de fetos inviáveis, caso em que a
interrupção poderá ser praticada a todo o tempo;
Indicação Criminal
d) A gravidez tenha resultado de crime contra a liberdade e autodeterminação sexual e
a interrupção for realizada nas primeiras 16 semanas.
Completa involuntariedade da mulher em relação a estado de gravidez em que se
encontra.
e) For realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas de gravidez.
2 - A verificação das circunstâncias que tornam não punível a interrupção da gravidez
é certificada em atestado médico, escrito e assinado antes da intervenção por médico
diferente daquele por quem, ou sob cuja direção, a interrupção é realizada, sem
prejuízo do disposto no número seguinte.
3 - Na situação prevista na alínea e) do n.º 1, a certificação referida no número
anterior circunscreve-se à comprovação de que a gravidez não excede as 10 semanas.
4 - O consentimento é prestado:
a) Nos casos referidos nas alíneas a) a d) do n.º 1, em documento assinado pela mulher
grávida ou a seu rogo e, sempre que possível, com a antecedência mínima de três dias
relativamente à data da intervenção;
b) No caso referido na alínea e) do n.º 1, em documento assinado pela mulher grávida
ou a seu rogo, o qual deve ser entregue no estabelecimento de saúde até ao momento
da intervenção e sempre após um período de reflexão não inferior a três dias a contar
da data da realização da primeira consulta destinada a facultar à mulher grávida o
acesso à informação relevante para a formação da sua decisão livre, consciente e
responsável.
5 - No caso de a mulher grávida ser menor de 16 anos ou psiquicamente incapaz,
respectiva e sucessivamente, conforme os casos, o consentimento é prestado pelo
representante legal, por ascendente ou descendente ou, na sua falta, por quaisquer
parentes da linha colateral.
6 - Se não for possível obter o consentimento nos termos dos números anteriores e a
efectivação da interrupção da gravidez se revestir de urgência, o médico decide em
consciência face à situação, socorrendo-se, sempre que possível, do parecer de outro
ou outros médicos.
7 - Para efeitos do disposto no presente artigo, o número de semanas de gravidez é
comprovado ecograficamente ou por outro meio adequado de acordo com as leges
artis.
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Em 1997 houve uma alteração e ajustou-se o português, adicionando o vocábulo «congénita», embora
esta alteração não seja totalmente apoiada em termos de lógica.

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O modelo das indicações, no fundo, parte da permissão do reconhecimento de situações


taxativamente identificadas, que de forma completamente diferente dos exemplos
padrão possuem duas características: serem controláveis por terceiro. São estas
premissas que permitem conter isto é, não sacrificar por completo a ideia da proteção da
vida intrauterina.
a) É absolutamente necessário que o perigo não possa ser removível de qualquer
outra forma.
É necessário que o perigo seja atual, ou seja, que a interrupção da gravidez seja
indispensável face ao perigo colocado naquele momento pela circunstancia.
A logica desta alínea é a intervenção ser o uni modo de salvar a vida da mulher.
Critério normativo – a indicação estará sempre presente quando, misturando o grau de
probabilidade com a incurabilidade de doença, juntando à condição física e psíquica da
mulher, leva à existência de um sofrimento que não é razoável exigir à mulher que o
tenha.
Indicações Clássicas – o assentimento tem sempre de existir, mas a lei não exige que o
mesmo seja prestado num determinado momento certo.
Período de reflexão mínimo obrigatório – condição sem a qual a interrupção não pode
acontecer, nomeadamente para a alínea e) do artigo 142º do CP.
28/04/2022

Crimes contra a integridade física – artigo 143º do CP:


Este é o tipo legal de crime fundamental no que refere a ofensas à integridade física, é
com base na ofensa à integridade física simples que depois temos a grave, a qualificada,
a privilegiada ou mesmo agravada pelo resultado.
A expressão integridade física é mais ampla do que a ideia de ofensas corporais,
nomeadamente no que refere aos elementos do tipo legal de crime.
Este crime é de resultado, sendo este um dano ou uma ofensa no corpo ou na saúde de
outrem, imputado à conduta do agente de acordo com as regras normais da causalidade.
Este é também um crime de realização instantânea, ou seja, para haver este tipo de
crime, basta que ocorra a produção do resultado descrito.
Do ponto de vista do bem jurídico, aqui o protegido é a integridade física, mas, é um
pouco difícil determinar com rigor qual é o alcance deste bem jurídico. Por um lado,
pode dar-se o caso de integridade física querer significar a pessoa da vitima no seu todo,
e se o entendimento for este, o bem jurídico integridade física abrange também a
integridade moral e a integridade psíquica; a outra hipótese é abranger apenas o corpo
em sentido objetivo.
Podemos já perceber que o legislador optou pela segundo hipótese, considerando a
integridade física como o corpo em sentido objetivo, visto que autonomizar crimes
contra a honra e contra a liberdade da pessoa.

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Esta autonomização faz com que tenhamos outro tipo de problema, pois há condutas
que ofendem simultaneamente a integridade física e outras formas de integridade. Surge
assim a questão pois nem sempre se justifica considerar que há concurso, uma vez que o
entendimento tem sido que numa situação destas, prevalece as ofensas à integridade
física, a não ser nas circunstancia em que apear de termos simultaneamente duas
ofensas, a ofensa à integridade física seja essencialmente simbólica ou residual.
Quanto ao tipo objetivo de ilícito, o objeto da ação é o corpo humano, entendido este no
sentido físico e, portanto, temos de determinar o que se considera ser o corpo humano
para entendermos o que é ou não protegido a titulo de integridade física. Uma parte do
corpo deixa de fazer parte dele quando cessa a ligação física.
A questão assume uma faceta diferente quando, em determinadas circunstancia, são
retiradas partes do corpo mas que tem, como objetivo, voltar a ser colocadas (por
exemplo tratamentos médicos).
As próteses consideram-se partes integrantes do corpo, mas depende do que
considerarmos por prótese. Uma prótese refere-se a algo que está ligado ao corpo em
substituição de algum membro ou parte natural do corpo, e que está ligada a este com
caracter de permanência, ou seja, o conceito de prótese não inclui, por exemplo, óculos
ou aparelhos auditivos.
É necessário, para a existência deste ilícito, ter uma ofensas ao corpo de outrem, sendo
que as auto-lesões não são puníveis. Coloca-se também aqui o problema das chamadas
lesões pré-natais, e a maioria da doutrina acha que devem ser consideradas como ofensa
à integridade física as lesões que se manifestem ou que perdurem após o parto, ou seja,
temos aqui uma situação excecional em que, nestas circunstancias, o feto goza de
proteção da sua integridade física ainda antes do seu nascimento, ou seja, ainda antes de
existir uma pessoa aos olhos do direito.
A realização do tipo de ilícito assume duas modalidades, a primeira é de ofensas no
corpo, e a segunda é de ofensas na saúde. Naturalmente que não se trata simplesmente
de uma questão de escolher entre uma ou outra, pois estas podem suceder
simultaneamente.
Um aspeto importante é que para termos uma ofensa à integridade física não é preciso
que exista dor, ou seja, sofrimento físico na outra pessoa. Por exemplo, se A agredir B,
que está alcoolizado e incapaz de sentir dor, A comete igualmente o crime de ofensas à
integridade física.
Não é relevante ao nível do tipo nem o meio utilizado para cometer o crime, nem a
respetiva duração (tempo que perdura a agressão) podendo ser relevados na
determinação da culpa e da pena. O que é importante para efeitos do tipo é que exista
uma atuação direta do agente sobre o corpo da vitima, independentemente do meio.
Ofensa ao corpo de alguém:
É prejudicar essa pessoa, no seu bem estar físico, de forma não insignificante. Dizer de
forma não insignificante permite-nos excluir do tipo legal de crime um conjunto de
circunstancias, nomeadamente as designadas bagatelas penais.

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Esta ofensa ao corpo pode traduzir-se na perda ou afetação da substancia corporal, ou


seja, pode estar em causa a perde de pele, dentes ou algum membro como braço ou
dedo.
Se a perda da substancia corporal se traduzir na perda de um membro importante, como
um braço, temos uma ofensa à integridade física grave.
Considera-se afetação da substancia corporal algo tao simples como uma pancada que
resulte em hematomas. Esta afetação pode também traduzir-se em alterações no corpo,
como um corte de cabelo, por exemplo, podendo também traduzir-se em perturbações
das funções físicas, como por exemplo um ruido que perturbe a audição de outrem.
A ofensa à integridade física é avaliada tendo em conta o estado da pessoa anterior a
ela.
Não se enquadram nas ofensas ao corpo as designadas lesões psíquicas, que são aquelas
que provocam apenas sofrimento moral, pois estas não provocam danos diretos no
corpo.
Apesar disto, já integram o conceito de ofensa à integridade física as situações nas quais
as próprias lesões físicas provoquem lesões à saúde.
Ofensa à saúde:
Uma ofensa à saúde é qualquer intervenção que ponha em causa o normal
funcionamento das funções corporais, e portanto, prejudica a vitima através da produção
ou do agravamento de uma patologia. Nas situações em que se cria uma patologia, cria-
se um estado de doença que pode ser, por exemplo, uma infeção, mas dizer que se cria
um estado de doença não significa que seja necessário tratamento, não importando
também, em principio, a duração da doença, exceto se a doença se tornar permanente.
No caso da doença se tornar permanente, saímos do domínio de ofensa à integridade
física simples e passamos para a ofensa à integridade física grave.
Quando falamos em agravamento de uma patologia, o que está em causa é manter ou
agravar uma doença já existente, por exemplo, não administrar analgésicos necessários.
São enquadráveis aqui as ofensas psicológicas que provoquem condições que podem ser
consideradas doenças, como o exemplo de um esgotamento nervoso.
A ofensa não pode ser insignificante, o próprio artigo 143º do CP faz alguma referencia
a isso, mas isto resulta sobretudo de princípios constitucionais do direito penal, como a
dignidade do bem jurídico, tudo isto decorre do critério da necessidade penal.
Há depois um conjunto de condutas que a doutrina tem considerado que nem sequer são
penalmente típicas, como o caso da circuncisão de menores (ocorre por razoes
religiosas, em relação aos judeus, e implica o corte de uma parte de pele no membro
intimo dos rapazes ao nascimento). Também não são penalmente típicas as chamadas
intervenções medicas curativas, pois estas não se traduzem numa ofensa a saúde mas
sim a um melhoramento da mesma.
Também podem não ser típicas ofensas a integridade física ocorridas em contexto de
atividade física, isto porque quando um atleta aceta participar numa determinada

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Direito Penal III

atividade desportiva, o mesmo dá uma espécie de assentimento para que seja ofendida a
sua integridade física, dentro de certos limites (por exemplo karaté ou box). É relevante
para sabermos a extensão deste assentimento o papel das regras da própria modalidade,
isto é, saber se uma lesão ocorreu no contexto da modalidade mas no seguimento de
uma conduta dentro das regras ou se ocorreu à margem destas.
O tipo legal de crime pode preencher-se quer por ação, quer por omissão, e para isso é
preciso que exista um dever jurídico de garante, no caso da omissão.
O tipo subjetivo diz-nos que estamos perante um crime doloso.
Causas de justificação:
Consentimento: é uma causa de exclusão de ilicitude e tanto pode ser expresso como
presumido. O artigo 149º/ 1 do CP define a integridade física como livremente
disponível, mas diz-nos também, o seu nº2, que o consentimento não pode contrariar os
bons costumes.
A doutrina tem entendido que nesta interpretação sobre saber se o consentimento ofende
ou não os bons costumes, devemos atender à gravidade da lesão que vamos praticar, e
isto leva à conclusão de que, como por definição, as lesões serão sempre de pouca
gravidade nas ofensas a integridade física simples, no caso o consentimento será sempre
válido.
Legitima defesa: as agressões não podem ser insignificantes.
Estado de necessidade: por exemplo, um bombeiro que quer entrar num prédio em
chamas para salvar a vida de alguém, mas não consegue porque há um conjunto de
pessoas a tapar a entrada, é legitimo se ele empurrar as pessoas que estão a obstruir, pois
está sob um estado de necessidade.
Discute-se a existência do chamado direito de correção de crianças, e esta é uma
questão complexa pois convoca vários patamares de analise.
Formas especiais de crime: a tentativa não é punível por aplicação das regras gerais da
tentativa devido à moldura penal das ofensas à integridade física simples. A
comparticipação ocorre nos termos gerais. Em relação ao concurso, haverá concurso
efetivo se o agente lesar a integridade física de várias pessoas.
Embora o artigo 143º e o 148º do CP se excluam um ao outro, pois uma é dolosa e outra
negligente, é possível que haja concurso efetivo entre ambas.
Quanto à pena: a pena de prisão é até 3 anos, e corresponde a um alargamento da
moldura penal originária deste artigo, que resulta da revisão de 1995.
O crime é ilegível para mediação penal, o que significa que pode haver acordo entre as
partes. É um crime semipúblico, logo o procedimento criminal depende de queixa. Não
é semipúblico nos casos do artigo 143º/2 do CP, pois há um interesse publico naquele
procedimento criminal que ultrapassa a vontade do próprio ofendido.
Numero 3 do artigo 143º do CP: há aqui duas hipóteses, a alínea a) em que houve lesões
reciprocas não se conseguindo provar quem é que agiu primeiro. – ideia de não
necessidade de pena, renunciando o estado ao direito de punir; alínea b), casos de

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retorção, ao gente limita-se a responder a uma agressão do ofendido, são situação que
saem fora do âmbito da legitima defesa. Há uma divergência sobre se a agressão da
origem tem que ser física ou de outro tipo, a doutrina considera aplicável esta alínea.
Ofensas à integridade física grave – artigo 144º CP:
O que faz a diferença entre este artigo e o 145º CP, é que a qualificação do 144º é tida
em virtude da gravidade da lesão, o 145º tem em conta o meio utilizado e o facto do
agente poder ter ou não perturbações. Desde logo isto significa que o meio utilizado
para o 144º não tem qualquer importância.
Este é um crime publico, logo há diferença nos efeitos da conduta típica.
Alínea a) do artigo – no fundo, órgão é uma componente de um corpo organizado que
realiza uma função particular; no caso de membro, este também está ligado à logica de
corpo organizado, mas de ligação externa através de articulações.
O corpo humano tem vários membros, e nem todos os membros têm a mesma
importância, é necessário que o membro, em si mesmo, tem de ser importante para este
crime ser agravado.
Coloca-se a questão de saber se deve ser u não atribuído algum peso aos fatores
individuais da pessoa privada. Por exemplo, uma pessoa cuja única função na vida é
estar sentada, talvez o peso dos seus dedos na sua vida é bastante diferente daquele de u
pianista, que vive do uso dos dedos. Aquilo que a lei pretende é uma analise objetivo do
corpo ao membro.
A logica maioritária sobre esta alínea não tem a ver com o destinatário mas sim com a
função do próprio órgão ou membro, pois a privação supõe a logica da separação do
corpo.
Em relação à desfiguração, a primeira coisa é o facto de ter de estar em causa uma
alteração substancial da aparência. A desfiguração tem de er em sentido efetivo, não
pode ser ligeira, ainda que esta tenha muito a ver com razoes de ordem estética (por
exemplo uma modelo que é queimada na cara com ácido).
Quanto à noção de grave, neste sentido tem a ver com a ideia da irreversibilidade da
lesão, sendo que aqui estranhamente é grave também tendo em conta aquilo que é a
logica de relações sociais ou naturais do lesado.
Não se exige que a logica de desfigurar seja em absoluto permanente, mas sim que haja
uma perspetiva dessa desfiguração ter uma duração de tempo indeterminado. Se houver
uma possibilidade de intervenção médica que facilmente é obtida, dificilmente se
consegue obter a logica da permanência.
Alínea b) do artigo – em termos gerais tem a ver com a perda de determinadas
capacidades, abrangendo também as sensações (deixar de ver, ouvir, etc). aqui tanto
cabe a logica da afetação completa dessas capacidades, como a diminuição das mesmas,
desde que seja significativa.
Quer a perda das capacidades, que a diminuição das mesmas terão de ser graves, na
podendo ser transitórias ou minoritárias, é necessária uma logica de permanência.

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Direito Penal III

Capacidade para o trabalho: este aspeto, no fundo tem a ver com uma ideia de
interrupção da atividade do ofendido relacionada com a sua força laboral (por exemplo,
um professor sofrer uma ofensa à integridade física que lhe retire a voz).
Neste caso, a afetação do trabalho pode ser permanente ou temporário, é apenas
necessário verificar-se a incapacidade para o trabalho, ainda que parcial.
Capacidade intelectual: afetação da inteligência e da vontade, esta afetação pode ser
passageira ou duradoura.
Capacidade de procriação e fruição sexual: uma das coisas que importa dizer é que a
partir do momento em que passamos a ter o artigo 144º, o âmbito de aplicação desta
alínea diminuiu, pois uma pratica que cabia aqui dentro passou a ter norma especifica,
como o caso do artigo 144º - A. Continuam a caber aqui as afetações de procriações ou
funções sexuais que não sejam culturalmente motivadas.
Na parte final desta alínea, fala-se de uma impossibilidade de utilização do corpo, e esta
é uma noção um bocadinho mais vaga que tem de ser percebida da perspetiva funcional,
não bastando aqui a perda de um órgão. Para que estejamos neste âmbito, é necessário e
exigível o sacrifício de uma função concreta biológico, como por exemplo a paralisia,
que gera uma incapacidade de movimento do corpo.
Impossibilidade de utilização de um sentido: por exemplo os casos do gás pimenta, que
pode afetar o olho humano, ou seja, a visão; outro exemplo, uma pessoa que já sofre de
gaguez, se apanhar um susto muito grande e ficar durante algum tempo com a gaguez
muito exacerbada, esta alínea não se aplica, ou seja, é necessário avaliar o momento
anterior à lesão para verificar se é ou não necessário um esforço considerável da parte
do lesado.
Na lógia da linguagem é necessário ter uma compreensão mais vasta, pois a linguagem
é todo o processo de compreensão humana, e não simplesmente a fala. No caso deste
artigo há uma interpretação mais restritiva, pois cabe nesta alínea apena a fala em si.
Alínea c) do artigo: aqui, o legislador valoriza, por um lado, a duração dos efeitos, e por
outro lado a impossibilidade de evitar os efeitos. A gravidade da doença é aferida por
padrões médios objetivos.
Alínea d) do artigo: em relação ao perigo para a vida, aqui estamos a falar da criação de
um perigo em abstrato e não em concreto. Em relação a esta alínea, é necessário que
exista o conhecimento das circunstancias que originem o perigo vida.
Tipo subjetivo de ilícito:
Trata-se de um crime doloso, que abrange o tipo fundamental e as consequências
efetivas.

Direito Penal Médico – Artigos 150º, 156º e 157º do CP:

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Direito Penal III

O artigo 150º exclui as intervenções e tratamentos medico cirúrgicos das ofensas


corporais. O consentimento do doente não é tido para efeito de atipicidade de
intervenções médico-cirúrgicas.
O artigo 156º CP cria um tipo legal de crime diferente, que são as intervenções e
tratamentos médico-cirúrgicos arbitrários, correspondente ao crime contra a liberdade
pessoal.

Quando exista um risco elevada que se venham a verificar leões para a saúde, só é
possível ajustar o consentimento tendo em atenção os fins e motivos do agente ou do
ofendido.
Artigo 144-A – crime culturalmente motivado – mutilação genital feminina
12/05/2022

Ofensas à integridade física qualificada – artigo 145º CP:


Há aqui um paralelo obvio entre o crime de ofensas à integridade física qualificado e o
homicídio qualificado, uma vez que são ambas formas qualificadas de crime, e ambos
fazem referencia a um tipo especial de culpa («especial perversidade e
censurabilidade»).
No fundo, o crime de ofensas à integridade física simples justifica a sua qualificação
coma especial censurabilidade ou perversidade e que esta se retira das circunstâncias do
crime ou do modo de execução do facto.
Este tipo legal foi alterado pela revisão de 2007, que realizou uma alteração substancial
importante, uma vez que no elenco de situações que se poderiam considerar como
qualificadas, estavam também as ofensas à integridade física agravadas pelo resultado
que podia depois ainda, alem disso, ser qualificada.
O legislador optou por retirar do artigo esta ofensa agravada pelo resultado, uma vez
que isso poderia levar a qualificar ofensas à integridade física negligentes, o que seria
um pouco incongruentes pois eram dois tipos de culpa incompatíveis entre si.
Além disto, a redação do artigo foi alterada em 2015 para incluir a referencia ao artigo
144-A, correspondente à mutilação genital feminina (diferente no comentário).
Para se aplicar este artigo é preciso ter uma ofensa simples ou grave, e soma-se a isto a
tal especial censurabilidade ou perversidade, e o próprio artigo remete para o 132º/ 2
CP, o que significa que o seu funcionamento é idêntico, ou seja, utiliza-se aqui também
a técnica dos exemplos padrão, que são usados como indícios de uma especial
censurabilidade ou perversidade mas que não são exemplos absolutos, tendo que passar
na peneira de se enquadrarem no caso concreto.
A propósito deste crime, surge um potencial problema, que é o da articulação com o
crime de maus tratos, previstos no artigo 152º - A CP. O problema é que a formulação
do nº1 deste artigo é idêntica à formulação da alínea c) do artigo 132º CP, surgindo um
problema potencial de aplicação.
Apesar de tudo este problema pode não ser tao complicado de resolver, pois apesar de
ambos referirem as mesmas circunstancias, o corpo do artigo 152º - A pressupõe uma

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determinada relação em particular, o que desde logo ajuda a delimitar quando acaba um
crime e começa outro.
Além disto, a alínea c) do artigo 132º/ 2 CP é menos abrangente do que a do 152º CP
uma vez que pressupõe apenas um leque restrito de razoes de indefensabilidade.
Há um outro elemento relevante, é que o crime de maus tratos abrange não apenas a
integridade física mas também ofensas psíquicas, o que já não é o caso do crime de
ofensas a integridade física qualifica, que só abrange o aspeto físico.
Em determinadas circunstancias pode haver um concurso aparente, mas o crime de
maus tratos está numa relação de especialidade com as ofensas à integridade física
qualificadas em particular, existindo assim uma subsidiariedade.
Casos em que a especial censurabilidade da conduta resulte de avidez, nos termos da
alínea e) do 132º/ 2, da alínea g) ou da alínea h) do mesmo artigo. O problema de
articulação aqui é com o crime de roubo, previsto do artigo 210º CP, pois o roubo
implica ofensa à integridade física e, simultaneamente, um furto.
É preciso considerar que há apenas concurso aparente, pois há uma relação de
consunção, uma vez que à primeira vista estão preenchidos os elementos do tipo da
ofensa à integridade física e do furto, logo consequentemente deve aplicar-se o crime de
roubo.
Quanto ao tipo de culpa, neste crime, existe uma discussão doutrinal sobre saber se as
circunstancias referidas no 132º/2 se integram nos elementos da culpa ou nos elementos
do ilícito (não tendo relevo pratico) uma vez que em ambos os casos, considerando o
grau elevado de culpa como elemento do ilícito, vamos ter que considerar que existe
uma censurabilidade maior do agente, seja direta ou indiretamente.
Este crime é punível a titulo doloso, bastando em principio o dolo eventual, mas claro
que é preciso entrar em linha de conta no que refere à remissão do artigo 145º/ 2 para o
132º/ 2. Ou seja, nem tudo o que está presente num artigo é possível de ser aplicado ao
outro sem qualquer tipo de modificação.
Há também uma discussão sobre saber se é necessário dolo apenas em relação ao
resultado ou também quanto ao elemento qualificador, ou seja, a circunstancia do crime
que permite qualifica-lo, e a tendência é considerar que basta dolo quanto ao resultado,
aquilo que temos depois é que apreciar autonomamente a circunstancia qualificadora
(da especial censurabilidade ou perversidade).
Quanto às formas especiais do crime, a tentativa é punível e é necessário ter em atenção
que é punível tanto da ofensa à integridade física simples qualificada como a tentativa
de ofensa à integridade física grave qualificada.
Quanto à comparticipação, é possível, mas temos sempre eu ter atenção ao artigo 29º
CP, ou seja, é necessário emitir um juízo de culpa individual ara cada um dos agentes.
Quanto à pena aplicável, isto depende de que ofensa é que estamos a qualificar, se for
simples qualificada, a moldura penal é de 1 mês até 4 anos; se for mutilação genital
feminina no caso de atos preparatórios, a pena é de 1 a 5 anos; se estivermos perante

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Direito Penal III

ofensas graves qualificadas ou ainda mutilação genital feminina consumada qualificada,


a moldura penal é de 3 a 12 anos.
Ofensas à integridade física privilegiado – artigo 146º CP:
Este artigo está para os crimes de ofensa à integridade física como o artigo 133º CP está
para os crimes de homicídio.
A diminuição da culpa tem que ocorrer por um dos motivos previstos no artigo 133º CP.
Quais são os fatores do 133º CP que podem minorar a culpa? Ver no artigo.
O tipo de ilícito é idêntico ao dos artigos 143º e 144º, o que muda é o grau de culpa do
agente que é diminuído por força das concretas circunstancias em que ocorreu o crime,
dos quais resulta uma exigibilidade diminuída.
A tentativa é punível, mas só no caso da alínea b) do artigo 146º, no caso da alínea a)
não é possível pois a moldura penal não obriga à punibilidade da tentativa pelas regras
gerais.
Quanto a pena, a mesma é de até 2 anos de prisão ou possibilidade de substituição por
pena de multa e, no caso da alínea b) é mais agravada, e portanto é de 6 meses a 4 anos.
Ofensas À integridade física agravado pelo resultado – 147º CP:
Crime qualificado em função da produção de um resultado em particular, sendo que
esse resultado é naturalmente diferente daquele que pretendia o próprio agente, é isso
que leva a que tradicionalmente se enquadre a ideia do crime preterintencional (para
além da intenção).
A combinação é de dolo e de negligencia, o que significa no fundo que há um crime
fundamental em relação ao qual à dolo, e temos depois um resultado agravante, havendo
em relação a esse negligencia. O crime fundamental será, nos casos do nº1, qualquer
crime enquadrável nas ofensas à integridade física simples, grave, qualificada ou
privilegiada, existindo dolo; quanto ao nº2, a ofensa fundamental é a ofensa simples,
simples qualificada ou simples privilegiada.
O que sucede é que se verifica o crime fundamental, e depois há o resultado agravante,
que pode ser diferente nos números 1 e 2. No nº1 o resultado agravante é a morte da
vitima, enquanto que no nº 2 o resultado agravante é a produção de ofensas à
integridade física graves.
A opção de agravar pelo resultado este tipo de crime resulta não só de uma ideia de
desvalor de resultado acrescido, assim como uma desatenção qualificada por parte do
agente em relação ao perigo que a sua conduta inicial pode provocar.
Quanto ao bem jurídico protegido, não se trata apenas de um mas de dois, a integridade
física, por um lado, e a vida, que tem uma consequência pratica relevante, pois como
temos dois bens jurídicos protegidos, na ausência deste artigo, teríamos concurso
efetivo.
Existe aqui uma punição agravada dos crimes, o que pressupõe dois bens jurídicos.

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Direito Penal III

Quanto ao tipo objetivo de ilícito, para preenchermos este ilícito é necessário preencher
um dos tipos legais de crime da integridade física simples ou grave. O preenchimento
pode ser feito por ação mas também por omissão, se houver um dever jurídico de
garante e a ofensa à integridade física for dolosa.
O resultado agravante tem que resultar do resultado pretendido na ofensa à integridade
física, pode resultar da conduta?
O resultado agravante tem que ter origem no perigo especifico que foi pretendido e
criado pelo agente com a ofensa inicial, é, aliás, este o fundamento da agravação.
Tem que haver uma ligação direta entre o perigo causado pelo agente e o crime
fundamental doloso, não podendo haver quebra do nexo causal.

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