Você está na página 1de 35

2022.

DIREITO PENAL II
Professor(a) Álvaro Barros Medeiros Lima

INFANTÍCIDIO E ABORTO
INFANTÍCIDIO

CP, Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o


próprio filho, durante o parto ou logo após; Pena –
Detenção, de dois a seis anos.

Conduta específica da mãe, que durante o trabalho de parto ou logo após,


mata o próprio filho, sob influência do chamado estado puerperal. O estado
puerperal é um estado clínico peculiar e temporário que afeta as mulheres
entre o desprendimento da placenta e o posterior retorno do organismo
materno às suas condições anteriores à gestação.
Ao contrário dos delitos que estudamos até agora, o infanticídio não é
um crime comum, e sim um crime próprio, pois possui um autor
específico: A mãe da criança. Não pode ser praticado por outra pessoa.

Nesse sentido, se outra pessoa matar a criança, estamos falando de


homicídio. Além disso, se a mãe matar outra criança (sabendo se tratar
de outra e não do próprio filho), também responderá por homicídio.
INFANTICIDIO E CONCURSO DE AGENTES

PERGUNTA: E se a Mãe tiver ajuda?

A resposta é simples: tanto a mãe, quanto o terceiro, responderão por


infanticídio.

A razão disso está no art. 30 do Código Penal. Vejamos:

Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições


de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime.
As circunstâncias de caráter pessoal não se comunicam – salvo quando
elementares do crime. Circunstâncias elementares do crime são aquelas
que integram a descrição do tipo penal. Nesse caso, o estado puerperal é
uma elementar do crime – está prevista diretamente no caput do art. 123.
ABORTO
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou
consentir que outrem lhe provoque: Pena –
detenção, de um a três anos.
Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento
da gestante: Pena – reclusão, de três a dez anos.

Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da


gestante:
Pena – reclusão, de um a quatro anos.
CARACTERÍSTICAS
PERGUNTA: QUANDO efetivamente a conduta deixa de ser ABORTO e se torna
HOMICÍDIO ou INFANTICÍDIO?

Iniciado o trabalho de parto, não há crime de aborto, mas sim


homicídio ou infanticídio con- forme o caso. Para configurar o crime de
homicídio ou infanticídio, não é necessário que o nascituro tenha
respirado, notadamente quando, iniciado o parto, existem outros elemen-
tos para demonstrar a vida do ser nascente, por exemplo, os batimentos
cardíacos. STJ/5ª Turma/HC 228998
Durante o parto ou logo após o parto, só poderá existir homicídio ou
infanticídio, e não o aborto! A doutrina inclusive diz que a conduta de
homicídio ou infanticídio praticada durante o parto pode ser chamada
de feticídio.
PERGUNTA: É possível a participação de outra pessoa no Art. 124?

A resposta é SIM. Uma hipótese que já foi objeto de prova é a do namorado


que compra substância abortiva e insiste para que a namorada faça a
ingestão. Ele não responderá pelo artigo 126, pois não foi ele que provocou o
aborto (e sim a namorada, ao ingerir a substância), mas como partícipe do
crime previsto no art. 124.
Causas de aumento de pena

São causas de aumento de pena, previstas apenas para os art. 125 e 126 (condutas perpe
tradas por terceiros):

Art. 127. As penas cominadas nos dois artigos anteriores são


aumentadas de um terço, se, em con- sequência do aborto ou dos
meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal
de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas,
lhe sobrevém a morte.
RESUMINDO: A pena será aumentada em 1/3 se a gestante sofrer lesão
corporal grave, e será duplicada se a gestante vier a falecer.

ESPECIFICIDADE DO ART. 126

O artigo 126 (provocar aborto com o consentimento da gestante) possui uma pena
mais branda do que o artigo 125 (provocar aborto sem o consentimento da gestante).
No entanto, é importante observar o que diz seu parágrafo único:
Parágrafo Único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior
de quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é
obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência.

Portanto, se um terceiro provocar o aborto em uma gestante menor de quatorze


anos, alienada ou débil mental, ou se o consentimento for obtido mediante fraude,
grave ameaça ou violência, será aplicada a pena prevista para a provocação de
aborto sem o consentimento (Art. 125).
EXCLUDENTES DE ILICITUDE ESPECÍFICAS PARA O ABORTO
Existem duas hipóteses em que o legislador brasileiro autoriza a prática do aborto. Vejamos o
que diz o art. 128 do Código Penal:
 
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:
Aborto necessário
Se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
Se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de
consentimento da gestante ou, quan- do incapaz, de seu representante
Assim, nas duas hipóteses acima, o aborto poderá ser praticado de forma lícita,
pois a norma autoriza expressamente a prática da conduta para tais casos

Antes de finalizar este assunto, é importante verificar que existe uma


terceira hipótese de aborto permitido em nosso ordenamento jurídico: o de
fetos anencéfalos.
Tal permissão foi obtida através do julgamento de uma ADPF (Ação de
Descumprimento de Preceito Fundamental 54) pelo STF, que tornou lícita essa
prática mesmo sem previsão expressa em lei.

Devemos ainda comentar que, a primeira turma do STF, em novembro de 2016,


chegou a mencionar a possibilidade de uma nova hipótese excepcional de não
punição do aborto, quando este for praticado no primeiro trimestre de gestação.
Atividade de
Fixação
QUESTÃO 01 - Carla, sob influência do estado puerperal, desejando matar
seu filho Guilherme, recém-nascido que estava em uma incubadora no
hospital onde acabara de nascer, levanta de sua cama e vai até o berçário,
local onde seu filho se encontrava. Lá chegando, Carla pega sua arma de
fogo, aponta na direção da incubadora de seu filho e, no momento do
disparo, devido ao tranco da arma, acerta a incubadora ao lado da do seu
filho, matando Joaquim, filho de Paula, outra paciente do hospital. Diante do
caso narrado é correto afirmar que Carla responderá pelo crime de:
A. Infanticídio por erro sobre a pessoa, nos termos do Art. 20, § 3º, do
Código Penal.

B. Homicídio, uma vez que só poderia haver infanticídio se tivesse acertado o


próprio filho. 

C. Infanticídio por erro na execução, nos termos do Art. 73 do Código Penal.

D. Infanticídio em razão da incidência do Art. 74 do Código Penal, que trata do


resultado diverso do pretendido. 

E. Homicídio em razão do erro na execução, nos termos do Art. 73 do Código


Penal.
A. Infanticídio por erro sobre a pessoa, nos termos do Art. 20, § 3º, do
Código Penal.

B. Homicídio, uma vez que só poderia haver infanticídio se tivesse acertado o


próprio filho. 

C. Infanticídio por erro na execução, nos termos do Art. 73 do Código Penal.

D. Infanticídio em razão da incidência do Art. 74 do Código Penal, que trata do


resultado diverso do pretendido. 

E. Homicídio em razão do erro na execução, nos termos do Art. 73 do Código


Penal.
QUESTÃO 02 - Janaína está grávida de dez semanas e deseja praticar um aborto. Ela
descobre que está próximo à costa brasileira, mas em espaço classificado como “alto-
mar”, o navio de uma ONG holandesa que viaja pelo mundo fornecendo informações,
contraceptivos e realizando abortos seguros em gestações de até doze semanas, nos
termos da legislação holandesa. Para tanto, Janaína aluga uma embarcação privada e
sai do porto de Santos-SP com destino ao navio da mencionada organização não
governamental, que está ancorado a vinte milhas náuticas da costa brasileira. Ali, de
forma livre e consciente, Janaína realiza o aborto. Na volta, ao descer da embarcação
alugada, já em solo brasileiro, Janaína é presa pela Polícia Federal pela prática de
delito de aborto, sendo certo que ela confessa toda a sua conduta. Nessa hipótese,
assinale a alternativa correta.
A. Janaína pode ser responsabilizada pelo delito de aborto segundo a lei penal brasileira, pois a
execução começou a se dar no território nacional, já que ela alugou um barco com essa
finalidade.

B. Janaína não praticou crime algum. O aborto foi cometido fora do território nacional, mais precisamente em
território holandês, pois a embarcação holandesa estava em alto-mar. Dessa forma, Janaína não pode ser
responsabilizada pela lei penal brasileira na hipótese.

C. Como Janaína alugou uma embarcação privada para dirigir-se até o navio da ONG, considera-se que o início da
execução do delito se deu em território nacional; portanto, a lei penal brasileira é aplicável, e Janaína poderá
responder pelo delito de aborto.

D. Houve crime de aborto e Janaína poderá ser responsabilizada por ele, mesmo tendo sido praticada, a conduta,
a bordo de um navio privado de bandeira holandesa, pois, como a embarcação é privada, aplica-se a lei penal
E. brasileira.

Como a embarcação é privada e estava em alto-mar, vale a lei penal brasileira, razão pela qual Janaína poderá
ser responsabilizada pelo delito de aborto desde que a Holanda não resolva processá-la criminalmente pelo
A. Janaína pode ser responsabilizada pelo delito de aborto segundo a lei penal brasileira, pois a
execução começou a se dar no território nacional, já que ela alugou um barco com essa
finalidade.

B. Janaína não praticou crime algum. O aborto foi cometido fora do território nacional, mais precisamente em
território holandês, pois a embarcação holandesa estava em alto-mar. Dessa forma, Janaína não pode ser
responsabilizada pela lei penal brasileira na hipótese.

C. Como Janaína alugou uma embarcação privada para dirigir-se até o navio da ONG, considera-se que o início da
execução do delito se deu em território nacional; portanto, a lei penal brasileira é aplicável, e Janaína poderá
responder pelo delito de aborto.

D. Houve crime de aborto e Janaína poderá ser responsabilizada por ele, mesmo tendo sido praticada, a conduta,
a bordo de um navio privado de bandeira holandesa, pois, como a embarcação é privada, aplica-se a lei penal
E. brasileira.

Como a embarcação é privada e estava em alto-mar, vale a lei penal brasileira, razão pela qual Janaína poderá
ser responsabilizada pelo delito de aborto desde que a Holanda não resolva processá-la criminalmente pelo
QUESTÃO 03 - Regina dá à luz seu primeiro filho, Davi. Logo após realizado o
parto, ela, sob influência do estado puerperal, comparece ao berçário da
maternidade, no intuito de matar Davi. No entanto, pensando tratar-se de
seu filho, ela, com uma corda, asfixia Bruno, filho recém-nascido do casal
Marta e Rogério, causando-lhe a morte. Descobertos os fatos, Regina é
denunciada pelo crime de homicídio qualificado pela asfixia com causa de
aumento de pena pela idade da vítima. Diante dos fatos acima narrados,
o(a) advogado(a) de Regina, em alegações finais da primeira fase do
procedimento do Tribunal do Júri, deverá requerer
A. O afastamento da qualificadora, devendo Regina responder pelo crime de
homicídio simples com causa de aumento, diante do erro de tipo.

B. A desclassificação para o crime de infanticídio, diante do erro sobre a pessoa, não podendo
ser reconhecida a agravante pelo fato de quem se pretendia atingir ser descendente da
agente.

C. A desclassificação para o crime de infanticídio, diante do erro na execução (aberratio ictus),


podendo ser reconhecida a agravante de o crime ser contra descendente, já que são
consideradas as características de quem se pretendia atingir.

D. A desclassificação para o crime de infanticídio, diante do erro sobre a pessoa, podendo ser
reconhecida a agravante de o crime ser contra descendente, já que são consideradas as
características de quem se pretendia atingir.
A. O afastamento da qualificadora, devendo Regina responder pelo crime de
homicídio simples com causa de aumento, diante do erro de tipo.

B. A desclassificação para o crime de infanticídio, diante do erro sobre a pessoa, não podendo
ser reconhecida a agravante pelo fato de quem se pretendia atingir ser descendente da
agente.

C. A desclassificação para o crime de infanticídio, diante do erro na execução (aberratio ictus),


podendo ser reconhecida a agravante de o crime ser contra descendente, já que são
consideradas as características de quem se pretendia atingir.

D. A desclassificação para o crime de infanticídio, diante do erro sobre a pessoa, podendo ser
reconhecida a agravante de o crime ser contra descendente, já que são consideradas as
características de quem se pretendia atingir.
QUESTÃO 04 - Considere o seguinte excerto:

“O direito à vida engloba diferentes facetas que vão desde o direito de nascer, de
permanecer vivo, e de defender a própria vida e, com discussões cada vez mais agudas em
virtude do avanço da medicina, sobre o ato de obstar o nascimento do feto, decidir sobre
embriões congelados e ainda optar pela própria morte. Tais discussões envolvem aborto,
pesquisas científicas, suicídio assistido e eutanásia[...]”

RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 6ª Edição. São Paulo: Editora
Saraiva, 2019.

Em relação ao tema expresso no excerto, analise as assertivas a seguir e assinale a


alternativa correta.
I. Apesar de a Constituição Federal não dispor expressamente sobre o início da vida humana, a
Convenção Americana de Direitos Humanos determina que o direito à vida deve ser protegido pela lei e,
em geral, desde o momento da concepção.
II. De acordo com o Supremo Tribunal Federal, é inconstitucional a interpretação segundo a qual a
interrupção da gravidez de feto anencefálico é conduta tipificada nos arts. 124, 126, e 128, I e II do Código
Penal Brasileiro (que tipificam o crime de aborto provocado pela gestante, aborto provocado por terceiro
com consentimento da gestante, aborto necessário e aborto no caso de gravidez resultante de estupro,
respectivamente).
III. A eutanásia, conhecida como o ato de dar fim à vida de pessoa que esteja acometida por enfermidade
em estado terminal, no intuito de se interromper os sofrimentos a que está submetida por longo período,
é permitida no Brasil, por se tratar de “morte doce”, não havendo que se falar, nesse caso, de violação ao
direito à vida previsto no caput do art. 5º da Constituição Federal.
IV. A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal já concedeu habeas corpus considerando que o aborto
realizado até o terceiro mês de gravidez deve ser considerado fato atípico, pois sua criminalização violaria
os direitos sexuais reprodutivos da mulher, a liberdade da mulher, a integridade física e psíquica da
gestante e a igualdade da mulher, visto que os homens não engravidam.
A. Todas as assertivas estão corretas.

B. Apenas as assertivas I, II e IV estão corretas.

C. Apenas as assertivas I, II e III estão corretas.

D. Todas as assertivas estão incorretas.

E. Apenas as assertivas II e IV estão corretas.


A. Todas as assertivas estão corretas.

B. Apenas as assertivas I, II e IV estão corretas.

C. Apenas as assertivas I, II e III estão corretas.

D. Todas as assertivas estão incorretas.

E. Apenas as assertivas II e IV estão corretas.


QUESTÃO 05 - Uma gestante de sete meses decide golpear o abdome com um
bastão de madeira, para matar o feto. Ela foi internada em hospital, com dores, e no
dia seguinte deu à luz a um feto morto, com sinais de morte muito recente. Esse
caso caracteriza um crime de
A. Homicídio.

B. Lesão Corporal.

C. Atentado Violento ao Pudor.

D. Aborto.

E. Infanticídio.
A. Homicídio.

B. Lesão Corporal.

C. Atentado Violento ao Pudor.

D. Aborto.

E. Infanticídio.
FIM
Até a próxima aula...

Você também pode gostar