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02/05/2018

INFANTICÍDIO

Infanticídio

Art. 123 - Matar, sob a influência do estado


puerperal, o próprio filho, durante o parto ou
logo após:

Pena - detenção, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

O infanticídio nada mais é do que um homicídio


privilegiado em razão do estado fisiopsíquico da
autora.

INFANTICÍDIO
O artigo 121 pune “matar alguém”. O artigo 123 também pune o
“matar alguém”. Há um conflito aparente de normas.

Mas como no artigo 123 temos um sujeito ativo e um sujeito


passivo próprios (Crime Bipróprio), uma condição de tempo e
uma elementar fisiopsíquica, o artigo 123 deve ser aplicado em
razão do princípio da especialidade.

Essas elementares que tornam o artigo 123 especial em relação ao


artigo 121 são as chamadas “Especializantes”.

Não podemos nos esquecer que, a exemplo do artigo 121 e 122, o


Infanticídio é crime doloso contra a vida. Portanto, é crime
julgado pelo Júri.

Obs.: O infanticídio NÃO É CRIME HEDIONDO. Mesmo que


praticado com os meios mais cruéis.

INFANTICÍDIO
ESPECIALIZANTES

Sujeito Ativo
O sujeito ativo é a parturiente sob influência do Estado
Puerperal. Estamos diante de um Crime Próprio.

Esse crime admite concurso de pessoas?

1ª - c) Não admite, pois o estado puerperal é elementar


personalíssima incomunicável. Corrente criada por Nelson
Hungria. Mas ele próprio mudou de posição nas suas últimas
obras.

2ª - c) Admite, pois nos termos do artigo 30 do CP, não existe


condição personalíssima, mas sim condição pessoal, comunicável
quando elementar.

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INFANTICÍDIO

Não existe condição personalíssima. Isso seria


contra legem. O que existe, no sistema penal, é a
condição pessoal, que se comunica quando
elementar

Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e


as condições de caráter pessoal, salvo quando
elementares do crime.

Assim, o Estado Puerperal se comunica aos


coautores e partícipes. E essa segunda corrente é
maioria, e admitida pelo próprio Nelson Hungria.

INFANTICÍDIO
Casos Concretos

1ª situação: parturiente e médico executam o verbo


matar.
Tanto a parturiente como o médico praticam o crime de
infanticídio (artigo 123). A parturiente estava sob o estado
puerperal, e o médico responde juntamente na condição
de coautores.

2ª Situação: parturiente instigada pelo médico executa


o verbo matar.
Aqui só a parturiente matou. O médico apenas a instigou.
Assim, a parturiente pratica o artigo 123, e o médico
também pratica o artigo 123 na condição de partícipe.

INFANTICÍDIO
3ª situação: médico, instigado pela parturiente, executa o verbo matar.
Quem matou, nesse caso, foi o médico (que obviamente não está sob influência
do estado puerperal). O médico, portanto, praticou o artigo 121. A parturiente,
tecnicamente, também praticou o homicídio na condição de participe. Mas isso é
uma incoerência, pois, se ela matasse responderia a um crime mais brando
(infanticídio). Para que não haja essa incoerência, a doutrina diz o seguinte:

1ª - c) Parturiente e médico respondem por infanticídio. Aqui a doutrina busca


corrigir a incoerência, mas acaba beneficiando o médico. Essa primeira corrente
trabalha com o monismo (os dois respondem pelo mesmo crime). Corrige a
incoerência aplicando um monismo benéfico para os dois. É a corrente que
prevalece.

2ª - c) Assume que a incoerência só existe em relação à parturiente. Assim, o


médico responde por homicídio, e a parturiente por infanticídio. Essa corrente
trabalha com pluralismo. Corrige a incoerência aplicando o pluralismo. Não é a
corrente que prevalece

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INFANTICÍDIO
Sujeito Passivo

A vítima do infanticídio é o próprio filho nascente ou neonato. O sujeito passivo


também é próprio.

Hoje esse crime é Bipróprio, pois exige condição especial dos dois sujeitos (o
que é raro no CP).

A mãe que mata outra criança na maternidade, pensando que era sua?
Entende-se que aqui a autora praticou o crime de Infanticídio da mesma forma, pois
aqui aplicamos o Erro sobre a Pessoa (artigo 20, §3º).

Art. 20 (...)
§ 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de
pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima,
senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime

Aqui se trata de um Erro de Tipo Acidental sobre a pessoa.

INFANTICÍDIO

E se o filho da parturiente já estivesse morto


quando ela matou o filho de outra mãe?

Se ela tivesse dado a facada no próprio filho, seria


um crime impossível (pois já estava morto). Aqui,
todavia, o crime é real. Mas no campo hipotético,
trocamos os filhos para analisar qual é o crime
cometido. E, no campo das hipóteses, seria um
crime impossível em razão do mesmo artigo 20, §
3º.

INFANTICÍDIO
Elementos do Tipo

Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o
parto ou logo após:

Matar (o próprio filho)


É um crime de execução livre. Pode ser praticado por ação ou omissão, por meios
diretos ou indiretos.

Durante ou logo após o parto


Aqui temos uma circunstância de tempo, o que é importantíssimo. Se foi antes do
parto, temos o aborto. Se foi muito tempo após, temos o homicídio.

Assim, para ser infanticídio, tem que se respeitar essa baliza temporal. Tem que ser
“durante” ou “logo após” o parto.

Até quanto dura o “logo após”?


Diante da dificuldade em se considerar o intervalo de tempo, a jurisprudência
entende que haverá o “logo após” enquanto perdurar o estado puerperal.

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INFANTICÍDIO
Estado Puerperal

É imprescindível a relação de causa e efeito entre o estado de desequilíbrio


fisiopsiquico e o crime, pois nem sempre tal estado produz perturbações
psíquicas na parturiente.

Estado Puerperal é o estado em que envolve a parturiente durante a expulsão


da criança do ventre materno. Provoca profundas alterações psíquicas e físicas
que chegam a transtornar a mãe, deixando-a sem plenas condições de
entender o que está fazendo.

Puerpério é o período que se estende do início do parto até a volta da mulher


às condições pré-gravidez (o MP/RJ perguntou a diferença entre estado
puerperal e puerpério).

INFANTICÍDIO

Essa parturiente que mata o próprio filho sob influência do Estado


Puerperal pode sofrer medida de segurança? Ou seja, pode ser tratada
como uma semi-imputável ou inimputável?

A doutrina diz que, dependendo do grau de desequilíbrio fisiopsíquico,


ela pode ser tratada como uma semi ou mesmo uma inimputável e
sofrer medida de segurança.

Nucci chega a dizer que o infanticídio é uma forma de semi-


inimputabilidade, mas é minoria absoluta.

INFANTICÍDIO
Elemento Subjetivo
Tem que ser doloso (direto ou eventual). Esse crime não admite a
modalidade culposa.
Que crime pratica a mãe que, sob influência do estado puerperal, mata
o filho culposamente? (exemplo, sem querer deita em cima do filho
enquanto o amamenta).

Há duas correntes:
1ª - c) O fato é atípico, pois mostra-se inviável na hipótese atestar a
ausência de prudência normal em mulher desequilibrada
psiquicamente. OU seja, para saber se a mãe foi negligente ou não, tem
que trabalhar com o estado normal de consciência. Quando ela está
sob estado puerperal, não dá pra analisar a eventual negligência de seu
comportamento. (Corrente Minoritária, adotada por Damásio).

2ª - c) O Estado Puerperal não elimina a capacidade de diligência


normal e esperada do ser humano, configurando homicídio culposo,
influenciando na dosagem da pena somente. É a corrente adotada por
Hungria, Bittencourt - Majoritária.

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INFANTICÍDIO
Consumação
Esse crime se consuma com a morte do nascente ou
neonato. É um crime material (como o de homicídio).

Admite tentativa, por isso é um crime Plurissubsistente (a


execução comporta fracionamento em vários atos).

Diferença entre Infanticídio e o Abandono de Recém-


nascido com o Resultado Morte
Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para
ocultar desonra própria:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - detenção, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

INFANTICÍDIO

As diferenças são as seguintes:


Infanticídio (artigo 123) Abandono de recém-nascido com
Resultado Morte (artigo 134, § 2º)

É crime contra a vida. É crime de perigo de vida.


Dolo de Dano (quer matar). Dolo de Perigo (quer expor a risco).
A morte é dolosa. A morte é culposa.
A intenção é matar o próprio filho. A intenção é ocultar desonra própria.
Competência do Júri. Competência comum.

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