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AUTO-ABORTO OU COM O CONSENTIMENTO DA GESTANTE

Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou


consentir que outrem lho provoque:
Pena - detenção, de um a três anos.

Registre-se também observar que


“anunciar processo, substância ou objeto
destinado a provocar aborto” caracteriza
contravenção penal (LCP-Decreto-Lei
n.3.688/41, art.20).
ABORTAMENTO
• Definição: é  a interrupção ilegal de uma
gestação. Ou a cessação da gravidez com a
consequente destruição do produto da
concepção.
• Concepção: se dá com a nidação, também
chamada de implantação, ou seja, à fixação do
óvulo fecundado pelo espermatozoide na
parede do útero, dando início ao processo
gestacional, segundo a Medicina.
• Tipos: a) natural (aborto ocorre
espontaneamente); b) provocado (doloso).
ABORTO-ART.124, CP
• Auto - aborto: provocar aborto em si mesma. Pena: detenção
de 1 a 3 anos.
• Aborto com o consentimento da gestante. Pena: detenção
de 1 a 3 anos.

Quem o realiza é o extraneus (terceira pessoa,


conhecida da gestante, ou não). Todavia, este será
enquadrado no art.126, do Código Penal.
• Objeto jurídico: no caput é a vida humana intrauterina. Todavia, deve
estar comprovado que o feto encontrava-se vivo, pois, caso contrário,
caracteriza crime impossível (art.17, CP), por absoluta impropriedade
do objeto.
ELEMENTOS OBJETIVOS
• Núcleo: provocar aborto é dar causa ao aborto
(autoaborto) ou consentir que outrem lho provoque.
• Objeto material: o óvulo fecundado (3 semanas de
gestação), o embrião (3 primeiros meses); e o feto
(a partir de 3 meses).
• Não há aborto: na gravidez molar
(desenvolvimento completamente anormal do ovo)
e na gravidez extrauterina (estado patológico que
impede o embrião de se desenvolver normalmente,
passível de não caracterizar crime de aborto desde
que não se tenha possibilidade médica de
solucionar a questão).
ELEMENTOS OBJETIVOS

• Meios de execução (Capez) - (a) por ação: meio


químicos (arsênio, fósforo, mercúrio, quinina,
estricnina, ópio etc.), psíquicos (susto, terror etc.);
físico: mecânicos, p.ex. curetagem, térmicos, p.ex.,
aplicação de bolsas de água quente e fria no ventre e
elétricos, p.ex., emprego de corrente galvânica.
• b) omissivo impuro (impróprio ou comissivo por
omissão), refere-se ao dever de agir, previsto no
art.13§2º. Exemplo: o médico, percebendo o aborto
espontâneo não atua para evitá-lo. Mãe percebe
sangramento vaginal e almejando o abortamento
não procura ajuda para evita-lo.
ELEMENTOS OBJETIVO/SUBJETIVO
• Elementos objetivos: sujeitos: a)
ativo/ gestante (Art.124, CP/crime
próprio); b) passivo: óvulo, embrião
ou feto.

• Elemento subjetivo: dolo.

• Não existe a modalidade culposa.


CONSUMAÇÃO
• Consumação: com a morte do feto. Trata
de crime material, portanto, cabe tentativa.
• Expulsão do feto: é irrelevante para a
consumação do crime, pois há vários
casos em que o feto é absorvido pelo
organismo do ventre materno.
• Nexo causal: depende de exame de
corpo de delito direto ou indireto (pericial,
documental, testemunhais etc.).
PARTICIPAÇÃO EM AUTOABORTO?
• Cabe participação no autoaborto do qual
resulte lesão corporal ou morte da vítima?
• Capez (2020) apresenta os seguintes
posicionamentos doutrinários:
• Capez e Nélson Hungria: responderá por lesão
corporal culposa ou homicídio culposo. Já
Magalhães Noronha, responderá tão somente
por participação em suicídio. Damásio entende
que responderá pelo Art. 124, mais lesão ou
homicídio, ambos culposos.
CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA
crime simples, próprio, material, de
forma livre, comissivo ou omissivo
impuro (comissivo por omissão);
instantâneo, de dano, unissubjetivo ou
monossubjetivo, de concurso eventual,
plurissubsistente, de ação penal
pública incondicionada, de
competência do Tribunal do Júri, etc.
ABORTO SEM CONSENTIMENTO
• Art. 125 - Provocar aborto, sem o
consentimento da gestante:
• Pena – reclusão, de 3 a 10 anos.
• Aborto mais grave: como se verifica
do seu preceito secundário é o tipo
de aborto mais grave.
• Objeto jurídico: vida humana
ELEMENTOS OBJETIVOS
• Núcleo: provocar aborto, que é dar causa ao aborto.

• Objeto material: feto/ embrião e a gestante.

• Sujeitos: a) ativo/ qualquer pessoa; b) passivo: crime de


subjetividade passiva, ou seja, feto/ embrião e gestante.

• Exemplo: se a mulher estiver grávida de gêmeos (ou trigêmeos),


e essa circunstância for do conhecimento do terceiro, haverá
dois ou três crimes de aborto, em concurso formal impróprio ou
imperfeito, art.70, caput, parte final, CP. Contudo, se ele ignorar
esse fato, responderá por um único crime, afastando-se a
responsabilidade penal objetiva (Victor Rios Gonçalves, 2021),
QUANDO SE CARACTERIZA (§ UN. ART.126)
• quando não há, no plano fático, qualquer
autorização por parte da gestante. Exemplos:
quando alguém agride uma mulher grávida
para causar o abortamento, ou, ainda,
quando, clandestinamente, introduz
substância abortiva na bebida dela.
• quando há, no plano fático, autorização da
gestante, mas tal anuência carece de valor
jurídico em razão do que dispõe o texto legal.
É o que se dá nas cinco hipóteses elencadas
no art.126, parágrafo único do Código Penal.
ART.126, § ÚNICO
• fraude, por exemplo: o médico e o pai da criança
em gestação, que, mancomunados, falsificam
exame e convencem a moça de que o
prosseguimento da gravidez provocará a morte dela
e, com isso, obtêm sua assinatura concordando
com a realização do aborto. Descoberta a farsa, o
médico e o pai respondem por aborto sem o
consentimento. Para a gestante enganada, o fato
não é considerado crime;
• consentimento obtido com emprego da grave
ameaça ou com emprego de violência;
• gestante não maior de 14 anos ou alienada/ débil
mental.
ELEMENTO SUBJETIVO/ CONSUMAÇÃO
• Elemento subjetivo: dolo. Não existe a
modalidade culposa.
• Consumação: com a morte do feto. Trata de
crime material, portanto, cabe tentativa.
Aquele que realizar o procedimento abortivo
com o intuito de lucro estará incurso também
na circunstância genérica agravante, prevista
no art.61, II, a (motivo torpe/cupidez), todavia
não cabe a agravante pela gravidez (art.61,
II, h) por já constituir o tipo de aborto.
CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA
crime comum, material,
instantâneo, comissivo ou
comissivo por omissão, de dano,
unissubjetivo, unilateral, de
concurso eventual, de forma livre,
plurissubsistente, de ação penal
pública incondicionada, de
competência do Tribunal do Júri.
ABORTO CONSENTIDO
• Art. 126 - Provocar aborto com o
consentimento da gestante:

• Pena - reclusão, de um a quatro


anos.

• Objeto jurídico: vida humana.


ELEMENTOS OBJETIVOS
• Núcleo: provocar é dar causa ao aborto.
• Objeto material: embrião ou feto.

• Sujeitos - ativo: qualquer pessoa (crime comum);


passivo: (embrião ou feto). É crime plurissubjetivo, pois na
realidade há concurso de pessoas entre o sujeito ativo do
aborto e a gestante. Neste caso, há exceção pluralística
ao concurso monista adotado no art.29, CP. A mãe entra
no art.124, 2ªparte; já o autor do aborto será enquadrado
no art.126, CP.

• Modus operandi: de qualquer forma.


ELEMENTO SUBJETIVO E CONSUMAÇÃO

• subjetivo: dolo.

• culpa: não existe.

• Consumação: com a morte do feto (crime


material).

• Tentativa: cabe tentativa.


CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA

comum, material, forma livre,


comissivo, instantâneo, dano,
plurissubjetivo, de concurso
necessário, plurissubsistente, de
ação penal pública incondicionada,
de competência do Tribunal do Júri,
etc.
CAUSA ESPECIAL DE AUMENTO DE PENA

• Trata de crime preterdoloso ou


preterintencional, inadequadamente chamada
de forma qualificada pelo CPB.
• Art. 127 - As penas cominadas nos dois
artigos anteriores (artigos 125 e 126) são
aumentadas de um terço, se, em
consequência do aborto ou dos meios
empregados para provocá-lo, a gestante sofre
lesão corporal de natureza grave; e são
duplicadas, se, por qualquer dessas causas,
lhe sobrevém à morte.
MORTE DA GESTANTE E ABORTO TENTADO?
• Não cabe tentativa em crime preterdoloso .

• Todavia, Capez (2020) entende que aqui há uma


exceção onde o sujeito deve responder por aborto
qualificado consumado, como acontece com o crime
de latrocínio, onde se reputa consumado com a
morte da vítima, independente do roubo se
consumar.

• Súmula 610 do STF: “Há crime de latrocínio, quando


o homicídio se consuma, ainda que não realize o
agente a subtração de bens da vítima”.
CAUSAS DE EXCLUSÃO DA ILICITUDE
• Art. 128 - Não se pune o aborto praticado
por médico:
• Aborto necessário
• I - se não há outro meio de salvar a vida da
gestante;
• Aborto no caso de gravidez resultante de
estupro (aborto humanitário ou ético)
• II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto
é precedido de consentimento da gestante ou,
quando incapaz, de seu representante legal.
ABORTO NECESSÁRIO E HUMANITÁRIO
• Para Nucci (2021): “em nenhuma das hipóteses, é
preciso alvará judicial. No primeiro caso, a decisão
é exclusivamente médica. No segundo, demanda-
se, apenas, o registro da ocorrência na polícia (BO)
pela gestante, narrando à ocorrência do estupro”.
• Se a enfermeira auxilia o médico na realização do
aborto ético não haverá crime, uma vez que não há
crime para o médico. Já se a autora for enfermeira
entendem que responderá pelo delito. Todavia,
trata-se de causa excludente de
culpabilidade/inexigibilidade de conduta diversa
(Damásio E. Jesus e Cezar Roberto Bitencourt).
ABORTO EUGENÉSICO
• Não é permitido em nossa legislação.
• Eugenia é expressão que tem forte conteúdo
discriminatório, cujo significado é purificação de
raças. Logo, a vida intrauterina perfeita ou não é
protegida pelo Direito Penal.
• Entretanto, o STJ / 5ª T., HC 56.572/SP, rel. Min.
Arnaldo Esteves Lima, j. 25-4-2006, DJ, 15-5-2006,
p.273) entendeu que, diante da inviabilidade do feto,
mediante laudos subscritos por juntas médicas, não
há aborto.
 
FETO ANENCEFÁLICO
O aborto pode ser realizado quando há
a comprovação de anencefalia, quando
o feto não apresenta total ou
parcialmente a calota craniana e o
cérebro. Não configura crime de
aborto, pois não existe vida viável.
Esse é o entendimento do STF - ADPF
– Arguição de descumprimento de
Preceito Fundamental n.54 de 12-4-
2012.
FECUNDAÇÃO IN VIDRO
• a fecundação in vitro: o sêmen do homem é
recolhido, congelado e, em seguida,
introduzido no óvulo retirado da mulher, que
depois de fecundado é colocado no útero.
• É os embriões excedentários, quais sejam
aqueles que são congelados e não utilizados
pelo casal?
• Capez (2020) entende que não configura
aborto, uma vez que não se trata de vida
intrauterina. O Direito Penal não admite
analogia em norma penal incriminadora.
ABORTO?
• Brasil: não permite aborto social ou econômico cometido
quando há famílias numerosas em que mais filhos poderiam
gerar crise financeira ou social.

• Latrocínio de mulher grávida e aborto? Roubo com emprego


de arma de fogo em que o agente mata a gestante e o feto.
Se tiver ciência da gravidez por ser ela visível diante da
idade gestacional e, em tais casos, o agente responde por
latrocínio e por crime de aborto sem o consentimento da
gestante” ( Victor Rios). Concurso de crimes.

• Crime impossível por absoluta ineficácia do meio: utilização


de medicamentos, chás que, por si só, não provocam
aborto.
REFERÊNCIAS
• CAPEZ, Curso de Direito Penal – parte especial. 20ªed.
São Paulo: Saraiva Educação, 2020.
• CÓDIGO PENAL, São Paulo: Saraiva Educação: 2021.
• GONÇALVES, Victor Eduardo Rios, Direito Penal
Esquematizado – parte especial, 11ªed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2021.
• GRECO, Rogério - Curso de Direito Penal - parte
especial. Vol.II, 13ªed. Niterói, RJ: Impetus.
• MASSIN, Cleber. Direito Penal – parte especial. 14ª ed.
Rio de Janeiro: Forense; Método, 2021.
• NUCCI, Guilherme de Souza, Direito Penal – partes
geral e especial. 7ºed. Rio de Janeiro: Forense;
Método, 2021.

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