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ARTIGO 125 DO CÓDIGO PENAL

ABORTO PROVADO POR TERCEIRO SEM CONSENTIMENTO DA GESTANTE

Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:


Pena - reclusão, de três a dez anos.1

Ocorrerá o delito de aborto sem consentimento da gestante, quando não houver o


consentimento da gestante para a manobra abortiva, ou seja, quando houver dissenso da
gestante.

O dissentimento será real quando houver emprego de: a) violência, b) grave


ameaça, c) fraude;

O dissentimento será presumido quando: a) a gestante é menor de 14 anos; b) se a


gestante é alienada o débil mental, ou seja, padece de doença mental que lhe retirar a
capacidade de entendimento acerca do ato.

- OBJETO JURÍDICO

No delito previsto no artigo 125 do CP, o objeto jurídico, ou o bem jurídico


protegido é a vida humana intrauterina, e de forma subsidiária a vida e a integridade
física da gestante. Portanto, o artigo 125 do CP tem dupla objetividade jurídica.

- OBJETO MATERIAL.

O objeto material é o produto da concepção, ou seja, óvulo fecundado, embrião ou


feto, desde com vida intrauterina. De forma subsidiaria a gestante, já que sua vida e sua
integridade física dela também se constitui em objeto jurídico do art. 125 do CP.

- SUJEITO ATIVO

Por se tratar de crime comum, no delito tipificado no artigo 125 do CP, o sujeito
ativo pode ser qualquer pessoa, exceto a gestante.

Nesse delito é possível o concurso de pessoas, na modalidade participação.

- SUJEITO PASSIVO.

O Sujeito passivo (vítima) é o produto da concepção, ou seja, óvulo fecundado,


embrião ou feto, desde com vida intrauterina, bem como a gestante.

Obs.: O professor Júlio Fabbrini Mirabete entendia que o produto da concepção não
era titular de bem jurídico e, portanto, o sujeito passivo é o Estado ou a comunidade
nacional.

1
BRASIL. DECRETO-LEI Nº 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940.
- TIPO OBJETIVO.

O artigo 125 do CP tem como conduta nuclear (verbo núcleo do tipo), o verbo
provocar, que significa dar causa, originar o aborto.

Nesse caso, o agente provoca a manobra abortiva na gestante sem o consentimento,


sem a autorização dela.

- TIPO SUBJETIVO.

Nessa modalidade de delito o tipo subjetivo é o dolo, direto ou eventual.

É a vontade livre e consciente dirigida à destruição do produto da concepção com


vida intrauterina (dolo direto), ou assunção do risco (risco próximo) de produzir o
resultado, ou seja, a destruição do produto da concepção com vida intrauterina (dolo
eventual).

No dolo eventual o agente prevê o resultado (risco próximo) e não se importa com
a produção desse resultado, de modo que não altera a sua conduta.

- CONSUMAÇÃO.

Dá-se a consumação do delito previsto no artigo 125 do CP no momento em que


houver a destruição do produto da concepção com vida intrauterina, ou seja, com a morte
do óvulo, embrião ou feto.

Observação: se o agente praticar a manobra abortiva e o feto for expulso com vida,
vindo a morrer posteriormente (fora do ventre materno) em decorrência da manobra
abortiva realizada, o crime será de aborto provocado por terceiro sem consentimento da
gestante na forma consumada, já que o ataque se deu em face da vida na fase intrauterina
(art. 4º do Código Penal).

- NEXO CAUSAL.

A destruição do produto da concepção em decorrência da interrupção da gravidez


deve ser resultado direto do emprego dos meios ou das manobras abortivas.

Ademais, exige-se provas de que o produto da concepção se encontrava com vida


quando do emprego da manobra abortiva.

Se no momento em que se realizou a manobra abortiva o produto da concepção já


não possuía vida (intrauterina), a conduta caracterizar-se-á em crime impossível, por
absoluta impropriedade do objeto.

- FORMA TENTADA.
Por se tratar de delito material, e plurissubsistente (a execução pode ser fracionada),
é possível a forma tentada, que se dará quando iniciada a execução o resultado não se
consumar por circunstância alheia à vontade do agente.
- CRIME DE ABORTO. SUJEITO PASSIVO GÊMEOS.

Da mesma maneira que no artigo 126 do Código Penal, havendo a existência de dois
ou mais fetos, a quantidade de delitos dependera do conhecimento pelo sujeito ativo da
quantidade de vítimas. Assim, se o agente tem conhecimento de que a gravidez é de
gêmeos, responderá por dois delitos em concurso formal homogêneo (uma ação e dois
resultados). Se o agente não tem conhecimento dessa circunstância e imagina se tratar de
apenas 1 (um) feto, responderá por crime único.

- FORMA MAJORADA.

Haverá a majoração da pena, na proporção de um terço (1/3) se, em consequência


do aborto ou dos meios empregados para provoca-lo, a gestante sofrer lesão corporal de
natureza grave, nos termos da primeira parte do artigo 127 do Código Penal.

Vale ressaltar que lesão corporal de natureza grave a que o artigo 127 do CP faz
menção são aqueles resultados previstos nos §§1º e 2º do artigo 129 do Código Penal.

Trata-se de delito preterdoloso, de sorte que a aplicação da majorante, ou seja, do


aumento de 1/3 na pena, só ocorrerá se o resultado lesão corporal grave ou gravíssimo
decorrer de culposa do agente.

Assim deverá existir dolo no antecedente (no aborto) e culpa no consequente (na
lesão corporal grave), vale dizer, o dolo do agente é de causação do resultado aborto, não
abrangendo a lesão corporal grave, sendo esta imputável ao agente a título de culpa, haja
vista que eram consequências previsíveis e evitáveis.

- FORMA MAJORADA (OU QUALIFICADA).

Haverá a duplicação da pena se, em consequência do aborto ou dos meios


empregados para provoca-lo, sobrevier a morte da gestante, nos termos do artigo 127, in
fine, do Código Penal.

Vale ressaltar que o resultado morte a que o artigo 127 do CP faz menção, deve
decorrer de culpa, não podendo decorrer de dolo direto ou eventual, tratando-se de delito
preterdoloso.

Assim deverá existir dolo no antecedente (no aborto) e culpa no consequente (no
resultado morte), vale dizer, o dolo do agente é de causação do resultado aborto, não
abrangendo o resultado morte, sendo este resultado imputável ao agente a título de culpa,
haja vista que era consequência previsível e evitável.

Há um crime doloso (aborto) ligado a um resultado não querido, nem mesmo


eventualmente (morte), mas imputável ao agente a título de culpa (consequência previsível
do aborto que se quis realizar e, por consequência, evitável).
- AÇÃO PENAL.

A ação penal é pública incondicionada, ou seja, o Ministério Pública tem atribuição


exclusiva para a propositura da ação, independentemente de representação do ofendido,
não se submetendo a qualquer condição de procedibilidade.

- COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO.

Por se tratar de crime doloso contra a vida, a competência para o julgamento desse
delito é do Tribunal do Júri.

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