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Direito Penal
Direito Penal
“TCHÊ, É BOM ESTUDAR!” (aulas gravadas)
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
Olá, Alunos!
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
Direito Penal
Prof. Nidal Ahmad
SUMÁRIO
DA CONDUTA ......................................................................................................................... 6
1.1. Introdução........................................................................................................................ 6
1.2. Conceito .......................................................................................................................... 7
1.3. Ausência de conduta ....................................................................................................... 7
1.4. Dos crimes omissivos ....................................................................................................... 9
1.4.1. Crimes omissivos próprios ............................................................................................ 9
1.4.2. Crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão ......................................... 10
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
PADRÃO DE RESPOSTAS...................................................................................................... 94
Olá, aluno(a). Este material de apoio foi organizado com base nas aulas do seu curso preparatório
para a 2ª Fase do XXXIII Exame da OAB e deve ser utilizado como um roteiro para as respectivas
aulas. Além disso, recomenda-se que o aluno assista as aulas acompanhado da legislação
pertinente.
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
Da conduta
1.1. Introdução
Fato típico é o que se amolda ao modelo legal da conduta proibida. É o fato que se
enquadrar rigorosamente na descrição que consta no tipo penal, o fato será atípico.
CONDUTA
ELEMENTOS DO
TIPICIDADE RESULTADO
FATO TÍPICO
NEXO DE
CAUSALIDADE
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
1.2. Conceito
Conduta é a ação ou omissão humana consciente e dirigida a determinada
finalidade.
VONTADE é o querer ativo, apto a levar o ser humano a praticar um ato livremente.
O ato voluntário deve ser espontâneo, isto é, mediante um proceder por vontade própria;
caso contrário, será ato coagido e forçado, levando à exclusão do crime.
Ausente vontade ou consciência, não haverá conduta punível. Não havendo conduta
Pode-se dizer que há ausência de conduta nos seguintes casos, por exemplo:
exercida sobre ele. Quem atua obrigado por uma força irresistível não age
caso, não haverá conduta punível, por ausência de vontade, sendo o fato atípico em relação
Assim, não havendo vontade, não há conduta. Não havendo conduta, não há fato
típico. Não havendo fato típico, não há crime. Logo, o fato praticado pelo fisicamente
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
feita através da promessa de um mal, para que se determine o coato à realização do fato
Portanto, existe o fato típico, pois a ação é juridicamente relevante, mas não há que
se falar em culpabilidade, aplicando-se a regra do art. 22, 1ª parte, do Código Penal (causa
culpabilidade.
EM SÍNTESE:
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
b) Movimentos reflexos
Os atos reflexos não dependem da vontade, uma vez que são reações motoras,
EXEMPLO
c) Estados de inconsciência
Consciência “é o resultado da atividade das funções mentais. Não se trata de uma
Quando essas funções mentais não funcionam adequadamente se diz que há estado de
inconsciência, que é incompatível com a vontade, e sem vontade não há ação.
EXEMPLO
podendo, ainda, o agente praticar delito por meio de uma conduta omissiva, por um não
Os crimes omissivos podem ser próprios ou impróprios (ou comissivos por omissão).
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
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tipo descreve uma conduta omissiva. Nesse caso, o crime consiste em o sujeito amoldar a
sua conduta ao tipo legal que descreve uma conduta omissiva. Em síntese, o agente será
incriminadora.
dever de agir para que o delito se consume. A OBRIGAÇÃO DO AGENTE É DE AGIR E NÃO
uma qualificadora.
Art. 135 do CP. Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à
criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave
e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
CONDUTA RESULTADO
ART. 13, §2º CP
OMISSIVA
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
Nos crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão são aqueles em que o
tipo penal descreve uma conduta ativa, ou seja, o verbo nuclear do tipo descreve uma ação.
Nesse caso, o agente será responsabilizado por ter deixado de agir quando estava
agir, mas a OBRIGAÇÃO DE AGIR PARA EVITAR UM RESULTADO, isto é, deve agir com a
Ou seja, se o agente que tinha o dever de agir para evitar o resultado mantém-se
sua conduta omissiva se, nas circunstâncias, era possível agir para evitar o resultado.
EXEMPLO
condição de garantidor.
De fato, para que alguém responda por crime comissivo por omissão é preciso
que tenha o dever jurídico de impedir o resultado, previsto no artigo 13, § 2º, do Código
Penal:
Nesse caso, por expressa imposição da lei, o agente estará obrigado a agir para evitar
o resultado. Assim, se o agente se omitir, ou seja, deixar de agir, quando lhe era possível,
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
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agir, não busca evitar o resultado é considerado, pelo Direito Penal, como se o tivesse
causado.
É o caso, por exemplo, dos pais em relação aos filhos (art. 1634 e 1566, IV, ambos do
Código Civil) e do dever de mútua assistência entre os cônjuges (art. 1566 do Código Civil).
EXEMPLO
Mãe que deixa de alimentar o filho, que, por conta da sua negligência, acaba
morrendo por inanição. Essa mãe deverá responder pelo resultado gerado, qual
seja, homicídio culposo. Se, de outro lado, a mãe desejou a morte do filho ou
assumiu o risco de produzi-la, responderá por homicídio doloso.
A doutrina não fala mais em dever contratual, uma vez que a posição de garantidor
pode advir de situações em que não existe relação jurídica entre as partes. O importante é
que o sujeito se coloque em posição de garante no sentido de que o resultado não ocorrerá.
Aqui a obrigação de agir para evitar o resultado não decorre de lei, mas do fato de o
EXEMPLO
Babá que, por negligência, deixa de cumprir corretamente sua obrigação de cuidar
da criança, que acaba caindo na piscina e, por isso, morre afogada. Nesse caso,
responderá pelo resultado gerado, qual seja, homicídio culposo. Se, de outro lado,
desejou a morte da criança ou assumiu o risco de produzi-la, responderá por
homicídio doloso.
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
EXEMPLO
Salva-vidas Carlos que presta em clube social, que, com várias crianças brincando
na piscina, fica observando a beleza física da mãe de uma das crianças e, ao mesmo
tempo, falando no celular com um amigo, ficando de costas para a piscina. Se,
nesse momento, uma criança vem a falecer por afogamento, o salva-vidas
responderá por homicídio culposo, diante da sua omissão culposa, já que violou o
seu dever de garantidor.
para bens jurídicos alheios penalmente tutelados, de sorte que, tendo criado o risco, fica
EXEMPLO
Aluno veterano, por ocasião de um trote acadêmico, sabendo que a vítima não sabe
nadar, joga o incauto calouro na piscina. Nesse caso, contrai o dever jurídico de
agir para evitar o resultado, sob pena de responder por homicídio.
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
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1) (QUESTÃO 2 - V EXAME)
Joaquina, ao chegar à casa de sua filha, Esmeralda, deparou-se com seu genro, Adaílton,
mantendo relações sexuais com sua neta, a menor F.M., de 12 anos de idade, fato ocorrido
no dia 2 de janeiro de 2011. Transtornada com a situação, Joaquina foi à delegacia de polícia,
onde registrou ocorrência do fato criminoso. Ao término do Inquérito Policial instaurado
para apurar os fatos narrados, descobriu-se que Adaílton vinha mantendo relações sexuais
com a referida menor desde novembro de 2010. Apurou-se, ainda, que Esmeralda, mãe de
F.M., sabia de toda a situação e, apesar de ficar enojada, não comunicava o fato à polícia
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
C) Considerando que o Inquérito Policial já foi finalizado, deve a avó da menor oferecer
2) (QUESTÃO 04 – X EXAME)
Erika e Ana Paula, jovens universitárias, resolvem passar o dia em uma praia paradisíaca e,
de difícil acesso (feito através de uma trilha), bastante deserta e isolada, tão isolada que não
salva-vidas na praia. Ana Paula decide dar um mergulho no mar, que estava bastante calmo
naquele dia. Erika, por sua vez, sem saber nadar, decide puxar assunto com o salva-vidas,
Wilson, pois o achou muito bonito. Durante a conversa, Erika e Wilson percebem que têm
vários interesses em comum e ficam encantados um pelo outro. Ocorre que, nesse intervalo
de tempo, Wilson percebe que Ana Paula está se afogando. Instigado por Erika, Wilson
decide não efetuar o salvamento, que era perfeitamente possível. Ana Paula, então, acaba
morrendo afogada.
Nesse sentido, atento(a) apenas ao caso narrado, indique a responsabilidade jurídico-
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
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Da relação de causalidade
2.1. Introdução
Pela própria denominação (nexo causal) é possível perceber que consiste no vínculo
Todavia, pode ocorrer que, aliada à conduta do agente, outra causa contribua para o
2.2.1. Conceito
São aquelas que não tem origem na conduta do agente. A expressão “absolutamente”
serve para designar que a outra causa independente por si só produziu o resultado. São
Em síntese, por serem independentes, tais causas atuam como se tivessem por si sós
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Direito Penal
EXEMPLO
O agente desfere um disparo de arma de fogo contra a vítima, que, no entanto, vem
a falecer pouco depois, não em consequência dos ferimentos recebidos, mas
porque antes ingerira veneno com a intenção de suicidar.
Nesse caso, há a conduta do agente (efetuar o disparo), mas o que gerou o resultado
morte foi outra causa (o veneno). Essa outra causa é independente da conduta do agente
origem na conduta do agente, pois tendo ou não efetuado o disparo o resultado ainda assim
se produziria). É preexistente porque essa outra causa (veneno) já existia antes da ação do
agente.
b) Concomitantes
São as causas que não têm nenhuma relação com a conduta e produzem o resultado
EXEMPLO
“A” desfere golpe de faca contra “B” no exato momento em que este vem a falecer
exclusivamente por força de uma queda de um lustre sobre sua cabeça.
Nesse caso, há a conduta do agente (desferir o golpe de faca), mas o que gerou o
resultado morte foi outra causa (lustre na cabeça). O lustre na cabeça se trata de causa
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
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absolutamente independente (porque não teve origem na conduta do agente, pois tendo
porque essa outra causa (queda do lustre na cabeça) ocorreu exatamente no momento da
ação do agente.
c) Supervenientes
São causas que atuam após a conduta. Ou seja, que surgem depois da conduta
EXEMPLO
“A” ministra veneno na alimentação de “B”. Antes do veneno produzir efeitos, mas
minutos depois de ser ministrado, cai um lustre na cabeça da vítima, matando-a.
Nesse caso, há a conduta do agente (ministrar veneno), mas o que gerou o resultado
morte foi outra causa (lustre na cabeça). O lustre na cabeça é uma causa independente da
conduta do agente (porque por si só produziu o resultado). É absolutamente independente
(porque não teve origem na conduta do agente, pois tendo ou não ministrado o veneno o
resultado ainda assim se produziria). É superveniente porque essa outra causa (queda do
resolvido pelo art. 13, caput, do CP: Há exclusão da causalidade decorrente da conduta. Ou
seja, o agente responde somente por aquilo que deu causa.
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
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Nos exemplos, a causa da morte não tem ligação alguma com o comportamento do
agente. Em face disso, ele não responde pelo resultado morte, mas sim pelos atos
praticados antes de sua produção. Isso porque ocorreu quebra do nexo causal. Assim, se o
agente. Ou seja, essas causas somente surgiram porque o agente desenvolveu uma
conduta.
Como são causas independentes, produzem por si sós o resultado, não se situando
Aqui não há, de regra, uma quebra do nexo causal, mas uma soma entre as causas,
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
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EXEMPLO
“A”, com a intenção de matar, desfere um golpe de faca na vítima, que é hemofílica
e vem a morrer em face da conduta, somada à contribuição de seu peculiar estado
fisiológico. No caso, o golpe isoladamente seria insuficiente para produzir o
resultado fatal, de modo que a hemofilia atuou de forma independente, produzindo
por si só o resultado.
efetivamente o resultado morte foi outra causa (hemofilia). Essa outra causa é
tivesse desferido a facada, essa outra causa não seria desencadeada e o resultado não
ocorreria). É preexistente porque essa outra causa (hemofilia) já existia ao tempo da ação
do agente.
Nesse caso, como há uma soma de causas e não quebra do nexo causal, o agente
responde pelo resultado pretendido. No caso, homicídio consumado, a menos que não
Assim, se, por exemplo, o agente não sabia do estado de saúde da vítima ou não lhe
era previsível, não poderia lhe ser atribuído o resultado morte, responderia, pois, pelo delito
Se, no entanto, pretendia ferir a vítima, agredindo-a com um soco e, esta em razão
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
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b) Concomitantes
do agente.
EXEMPLO
Considera-se o ataque à vítima, por meio de disparo de arma de fogo, que, no exato
momento da agressão, sofre ataque cardíaco, vindo a falecer, apurando-se que a
soma desses fatores (causas) produziu a morte, já que a agressão e o ataque
cardíaco, considerados isoladamente, não teriam o condão do produzir o resultado
morte.
desencadeou efetivamente o resultado morte foi outra causa (ataque cardíaco). Essa outra
tivesse desferido a facada, essa outra causa não seria desencadeada e o resultado não
ocorreria). É concomitante porque essa outra causa (ataque cardíaco) já existia ao tempo
da ação do agente.
Nesse caso, como há uma soma de causas e não quebra do nexo causal, o agente
responde pelo resultado pretendido. No caso, homicídio consumado, a menos que não
c) Supervenientes
pelo agente.
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
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EXEMPLO
efetivamente o resultado morte foi outra causa (traumatismo decorrente do acidente). Essa
tivesse desferido a facada, a vítima não estaria na ambulância e, portanto, não teria falecido
por conta do acidente). É superveniente porque essa outra causa (traumatismo pelo
acidente) surgiu depois da conduta do agente.
Assim, o agente não responde pelo resultado ocorrido, mas somente pelos atos
CUIDADO:
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
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resultado se tiver agido com dolo ou culpa em relação à morte, sob pena de
responsabilidade objetiva.
Assim, para que o agente responda pelo resultado morte e, portanto, a concausa
objetiva. Foi o que caiu no XXI exame da OAB. O agente não foi responsabilizado pela morte,
porque não tinha conhecimento da causa preexistente, nem lhe era previsível. Responderia
Exemplo de questão
Paulo e Júlio, colegas de faculdade, comemoravam juntos, na cidade de São Gonçalo, o título
obtido pelo clube de futebol para o qual o primeiro torce. Não obstante o clima de
confraternização, em determinado momento, surgiu um entrevero entre eles, tendo Júlio
desferido um tapa no rosto de Paulo. Apesar da pouca intensidade do golpe, Paulo vem a
falecer no hospital da cidade, tendo a perícia constatado que a morte decorreu de uma
fatalidade, porquanto, sem que fosse do conhecimento de qualquer pessoa, Paulo tinha uma
lesão pretérita em uma artéria, que foi violada com aquele tapa desferido por Júlio e causou
sua morte. O órgão do Ministério Público, em atuação exclusivamente perante o Tribunal do
Júri da Comarca de São Gonçalo, denunciou Júlio pelo crime de lesão corporal seguida de
morte (Art. 129,§ 3º, do CP). Considerando a situação narrada e não havendo dúvidas em
relação à questão fática, responda, na condição de advogado(a) de Júlio:
A) É competente o juízo perante o qual Júlio foi denunciado? Justifique. (Valor: 0,65)
B) Qual tese de direito material poderia ser alegada em favor de Júlio? Justifique. (Valor: 0.60)
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar as respostas. A mera citação do dispositivo legal
não confere pontuação.
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
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GABARITO COMENTADO
A) O(A) examinando(a) deve concluir pela incompetência do Juízo, tendo em vista que o
crime praticado não é doloso contra a vida. Nos termos do Art. 74, § 1º, do Código de
Processo Penal (ou Art. 5º, inciso XXXVIII, alínea d, da CRFB), ao Tribunal do Júri cabe apenas
o julgamento dos crimes dolosos contra a vida e os conexos. No caso, mesmo de acordo
com a imputação contida na denúncia, o resultado de morte foi culposo; logo, a competência
é do juízo singular.
B) O(A) examinando(a) deve defender que não poderia Júlio responder pelo crime de lesão
corporal seguida de morte, porque aquele resultado não foi causado a título de dolo nem
culpa. O crime de lesão corporal seguida de morte é chamado de preterdoloso. A ação é
dirigida à produção de lesão corporal, sendo o resultado morte produzido a título de culpa.
Costuma-se dizer que há dolo no antecedente e culpa no consequente. Um dos elementos
da culpa é a previsibilidade objetiva, somente devendo alguém ser punido na forma culposa
quando o resultado não querido pudesse ser previsto por um homem médio, sendo que a
ausência de previsibilidade subjetiva, capacidade do agente, no caso concreto, de prever o
resultado, repercute na culpabilidade. Na hipótese, não havia previsibilidade objetiva, o que
impede a tipificação do delito de lesão corporal seguida de morte. Também poderia o
candidato responder que havia uma concausa preexistente, relativamente independente,
desconhecida, impedindo Júlio de responder pelo resultado causado. Em princípio, a
concausa relativamente independente preexistente não impede a punição do agente pelo
crime consumado. Contudo, deve ela ser conhecida do agente ou ao menos existir
possibilidade de conhecimento, sob pena de responsabilidade penal objetiva.
Agora, se, por exemplo, a intenção fosse de lesionar e resultou morte, tendo ciência
da hemofilia, responde por lesão corporal seguida de morte. Isso já caiu na prova da OAB.
Exemplo de questão
Wallace, hemofílico, foi atingido por um golpe de faca em uma região não letal do corpo. Júlio,
autor da facada, que não tinha dolo de matar, mas sabia da condição de saúde específica de
Wallace, sai da cena do crime sem desferir outros golpes, estando Wallace ainda vivo. No
entanto, algumas horas depois, Wallace morre, pois, apesar de a lesão ser em local não letal,
sua condição fisiológica agravou o seu estado de saúde. Acerca do estudo da relação de
causalidade, assinale a opção correta.
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
que o agente, no contexto do roubo por meio de ameaça, não responderia pelo resultado
morte de um rapaz jovem e de boa saúde, já que não era previsível que a vítima viesse a
falecer. Ou seja, não basta que haja um nexo naturalístico entre a conduta e o resultado.
Para imputar ao agente o resultado, é necessário que tenha agido com dolo ou culpa em
relação à morte.
157, § 3º, II, do CP, prevê que o roubo será qualificado quando da violência resulta morte,
se não tinha como prever eventual resultado morte, ou seja, não agiu nem com dolo ou
culpa em relação ao resultado morte, não responderá pela morte, mas por roubo
consumado ou tentado, conforme o caso. Isso já caiu na 1ª fase da OAB, no IX Exame. Note
que o enunciado traz a informação de que a vítima se trata de um rapaz jovem e de boa
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
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Exemplo de questão
José subtrai o carro de um jovem que lhe era totalmente desconhecido, chamado João. Tal
subtração deu-se mediante o emprego de grave ameaça exercida pela utilização de arma de
fogo. João, entretanto, rapaz jovem e de boa saúde, sem qualquer histórico de doença
cardiovascular, assusta-se de tal forma com a arma, que vem a óbito em virtude de ataque
cardíaco. Com base no cenário acima, assinale a afirmativa correta.
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
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Pedro, almejando a morte de José, contra ele efetua disparo de arma de fogo, acertando-o
na região toráxica. José vem a falecer, entretanto, não em razão do disparo recebido, mas
porque, com intenção suicida, havia ingerido dose letal de veneno momentos antes de
sofrer a agressão, o que foi comprovado durante instrução processual. Ainda assim, Pedro
foi pronunciado nos termos do previsto no artigo 121, caput, do Código Penal.
título obtido pelo clube de futebol para o qual o primeiro torce. Não obstante o clima de
desferido um tapa no rosto de Paulo. Apesar da pouca intensidade do golpe, Paulo vem a
falecer no hospital da cidade, tendo a perícia constatado que a morte decorreu de uma
fatalidade, porquanto, sem que fosse do conhecimento de qualquer pessoa, Paulo tinha
uma lesão pretérita em uma artéria, que foi violada com aquele tapa desferido por Júlio e
Tribunal do Júri da Comarca de São Gonçalo, denunciou Júlio pelo crime de lesão corporal
seguida de morte (Art. 129, § 3º, do CP). Considerando a situação narrada e não havendo
dúvidas em relação à questão fática, responda, na condição de advogado(a) de Júlio:
A) É competente o juízo perante o qual Júlio foi denunciado? Justifique. (Valor: 0,65)
B) Qual tese de direito material poderia ser alegada em favor de Júlio? Justifique. (Valor:
0.60)
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Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar as respostas. A mera citação do dispositivo legal
5) Durante uma grave discussão, ocorrida no serviço, Licurgo Moicano agrediu Coitinho
Lelo com uma paulada na cabeça, com a intenção de matá-lo. Atendido com rapidez,
Coitinho Lelo foi colocado dentro de uma ambulância que rumou para o Pronto Socorro
Vitor efetuou disparos de arma de fogo contra José, com a intenção de causar sua morte.
Ocorre que, por erro durante a execução, os disparos atingiram a perna de seu inimigo e
não o peito, como pretendido. Esgotada a munição disponível, Vitor empreendeu fuga,
dormia, José vem a ser picado por um escorpião, vindo a falecer no dia seguinte em razão
oferece denúncia em face do autor dos disparos pela prática do crime de homicídio
consumado, previsto no Art. 121, caput, do Código Penal. Após regular prosseguimento do
do Júri, quando da oitiva das testemunhas, o magistrado em atuação optou por iniciar a
oitiva das testemunhas formulando diretamente suas perguntas, sem permitir às partes
complementação. Após alegações finais orais das partes, o magistrado proferiu decisão de
pronúncia. Apesar da impugnação da defesa quanto à formulação das perguntas pelo juiz,
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o magistrado esclareceu que não importaria quem fez a pergunta, pois as respostas seriam
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3.1. Introdução
O conflito aparente de normas se revela quando se tem a percepção da incidência,
em tese, de duas ou mais normas em vigor sobre determinado fato. Neste caso, surge o que
impróprio de normas.
Há um fato, em tese, punível, mas que sobre ele podem incidir, aparentemente, duas
ou mais normas penais. Todavia, tendo em vista ser vedada a incidência de mais de uma
norma penal sobre fato único, apenas uma das normas possíveis deverá ser aplicada ao
caso concreto.
unidade do fato (há somente uma infração penal); b) pluralidade de normas (duas ou mais
Imaginemos o caso de uma mãe matar, sob influência do estado puerperal, o próprio
filho, logo após o parto. Há um único fato sobre o qual, aparentemente, pode incidir o crime
de homicídio, previsto no art. 121 do CP, ou infanticídio, previsto no art. 123 do CP. Eis o
conflito de normas estabelecido, já que apenas uma delas deverá incidir sobre o fato.
evitar o bis in idem, já que não se admite no nosso ordenamento jurídico dupla punição pelo
mesmo fato. Ou seja, não se mostra possível punir a mãe pelo crime de homicídio e de
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apenas aparente, porque, na realidade, somente uma delas acaba regulamentando o fato,
devendo sobre ela incidir apenas uma das normas vigentes. No concurso de crimes há
norma penal, uma para cada fato praticado, resultando na soma ou exasperação da pena
final.
aparente de normas, a doutrina aponta quatro princípios para solucionar tal conflito: a)
individualizado, que a particulariza em relação às demais normas. Dito de outro modo, além
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
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de reunir todos os elementos que integram a lei geral, a lei especial contém outros que a
E, nos termos do art. 12 do CP, a lei especial prevalece sobre a lei geral.
Tomemos, novamente, como exemplo o caso de uma mãe matar, sob influência do
estado puerperal, o próprio filho, durante ou logo após o parto. Há um único fato sobre o
qual, aparentemente, pode incidir o crime de homicídio, previsto no art. 121 do CP, ou
infanticídio, previsto no art. 123 do CP. O crime de infanticídio possui núcleo idêntico ao do
crime de homicídio, ou seja, reúne todos os elementos descritos no art. 121 do CP,
consistentes em “matar alguém”. Todavia, além dos elementos da norma geral, prevista no
art. 121 do CP, o art. 123 do CP contém elementos que o especializa e o diferencia do crime
de homicídio, quais sejam: autora do fato ser a própria genitora da vítima; vítima nascente
mas que é aparente, pois será solucionado pelo princípio da especialidade, prevalecendo,
no caso, a norma penal que define o crime de infanticídio, já que as elementares contidas
neste crime o torna especial em relação à norma geral que define o homicídio.
diploma legal, podendo estar previstas em leis distintas. Ou seja, não se afigura necessário
que a norma geral e a especial estejam previstas no Código Penal, por exemplo. É possível,
portanto, que a norma geral esteja prevista no Código Penal e a especial em legislação
extravagante.
É o que ocorre, por exemplo, entre os crimes de contrabando, previsto no art. 334-A
do CP, e o crime de tráfico de drogas, previsto no art. 33, caput, da Lei no 11.343/2006.
Sobre a conduta de importar cocaína pode, aparentemente, incidir duas normas: a que
define o crime de contrabando e a que prevê o crime de tráfico de drogas. Todavia, esse
conflito é resolvido pelo princípio da especialidade. O art. 33, caput, da Lei no 11.343/2006
reúne todos os elementos contidos no tipo penal que descreve o crime de contrabando,
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
acrescido de elementares que o especializa, qual seja, importar droga, prevalecendo, assim,
determinante para se definir qual a norma especial. De fato, a comparação entre as leis não
leva em conta a gravidade dos crimes, mas o critério especializante, mediante o confronto
A comparação não recai sobre o fato, mas entre as normas penais que aparentemente
podem incidir sobre o delito praticado. Assim, deve-se buscar adequar o fato praticado às
normas possíveis. Se, além de se enquadrar na norma geral, o fato praticado apresentar
algum elemento que o especialize, que o destaque, que o especifique em relação à conduta
descrita na norma geral, prevalecerá a incidência da lei especial. Em outras palavras, se,
além de abrigar todos os elementos da lei geral, conter ainda elementos que a
especifiquem, a lei especial prevalece sobre a geral.
de norma que descreve conduta de forma mais abrangente, que atinge com maior
Considera-se subsidiária a norma que descreve uma conduta que atinge em menor
grau um determinado bem jurídico, sendo, pois, menos grave do que a norma principal. A
norma subsidiária, portanto, além de ser menos grave, descreve conduta que representa
parte da execução do delito previsto na norma principal. A norma subsidiária está abarcada
Tomemos como exemplo o tipo penal que define o crime de constrangimento ilegal
(CP, art. 146) em consonância com o crime de estupro (CP, art. 213). O delito de
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constrangimento ilegal é menos grave que o de estupro. Além disso, o tipo penal que define
não é meramente entre as normas (uma mais especial do que a outra), mas em relação ao
do caso concreto, sendo insuficiente a mera comparação abstrata dos tipos penais,
devendo ser verificado, por exemplo, a intenção do agente, os meios empregados para a
prática do crime, além de outras circunstâncias que envolvem o contexto fático, a fim de
Isso porque a norma principal ou primária absorve a norma subsidiária, que incidirá
somente na impossibilidade de aplicação da norma principal mais grave. Primeiro, verifica-
conduta não se enquadrar perfeitamente no tipo penal mais grave, passa-se então a cogitar
A própria norma penal prevê expressamente que será aplicável somente quando outra
norma de maior gravidade não incidir. Em outras palavras, a própria lei faz expressa ressalva
exemplo de subsidiariedade expressa, porquanto o próprio art. 132 do CP prevê que incidirá
a pena de detenção, de três meses a um ano pela prática de tal delito, “se o fato não
34
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
constitui crime mais grave”. Assim, se não restar caracterizada a prática, por exemplo, de
tentativa de homicídio (norma primária), poderá, conforme o caso, incidir o delito previsto
subsidiariedade, uma vez que, como expressamente consta no art. 129, § 3o, do CP,
somente incidirá se “as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem
assumiu o risco de produzi-lo”. Logo, se não restar demonstrado que o agente quis a morte
da vítima ou assumiu o risco de causá-la, o que ensejaria a aplicação do art. 121 do CP (norma
A norma subsidiária que define o crime de subtração de incapaz, previsto no art. 249
do CP, somente incidirá “se o fato não constitui elemento de outro crime”. Assim, se, por
(norma principal).
O crime de importunação sexual, previsto no art. 215-A do CP, incluído pela Lei no
13.718/2018, incidirá “se o ato não constitui crime mais grave”, conforme expressamente
prevê o referido dispositivo legal. Logo, o delito de importunação sexual somente incidirá
se a conduta do agente não caracterizar crime mais grave, como, por exemplo, estupro (CP,
puxando-a pelo braço, para fazê-la tocar em seu órgão genital, não obtendo êxito porque a
vítima conseguiu dele se desvencilhar, enquadra-se no art. 213 c/c art. 14, II, ambos do CP,
já que se trata de ato mais grave do que aquele previsto no art. 215-A do CP. Poder-se-ia
pudor praticada com propósito lascivo contra a vítima tivesse ocorrido sem violência ou
grave ameaça.1
1
STJ, AgRg no REsp no 1767968/MG, rel. Min. Nefi Cordeiro, 6a T., j. 5-5-2020.
35
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
modo expresso, a sua incidência na hipótese de outra norma de maior gravidade punitiva
condição do contexto que envolveu o fato praticado, que não se enquadra em norma penal
mais grave. Busca-se, agora, adequar o fato ao tipo penal subsidiário, que prevê tratamento
menos grave, tanto que, não raras vezes, constitui elementar, qualificadora, causa de
primária.
ao crime de estupro (CP, art. 213). Assim, se, no caso concreto, não restar caracterizado que
constrangimento ilegal.
Logo, a conduta do agente que aponta uma arma em direção à vítima maior de idade,
determinando que fique nua, sem o dolo lascivo, mas tão somente para constrangê-la, não
se enquadra no crime de estupro, porque não foi compelida a praticar ou permitir que com
ela se pratique ato sexual. Todavia, porque a vítima foi constrangida a fazer algo contra sua
3.3.3.1. Introdução
Diversamente do princípio da subsidiariedade, em que a prática de um ato delituoso
deve ser enquadrada na norma mais grave, o princípio da consunção é aplicado para dirimir
isoladamente, constituem crime, mas que, ao final, devem ser subsumidos a um único tipo
36
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
penal. Em outras palavras, os atos delituosos praticados para alcançar o resultado esperado
golpe de faca na vítima, causando-lhe lesões corporais; na sequência, desfere outro golpe
de faca na vítima, gerando outra lesão corporal; e, por fim, desfere o golpe fatal, matando-
fatos delituosos surge o conflito aparente de normas. O agente deverá responder por três
consome, absorve, o(s) fato(s) menos abrangentes. Os fatos menos abrangentes figuram
como meio necessário ou normal fase de preparação ou execução de outro crime. Nesse
caso, a norma consuntiva prevalece sobre a norma consumida. Trata-se da hipótese de o
Prevalece, nessa hipótese, a norma penal que define o crime mais abrangente, que
absorverá a norma que prevê conduta de menor amplitude, evitando-se a incidência do bis
in idem.
pela norma menos abrangente já está tutelado pela norma mais abrangente. Além disso, a
violação da norma menos abrangente constitui meio necessário para atingir o bem jurídico
do CP. E, ainda, como a ofensa à integridade corporal constitui meio necessário para
37
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
a) Crime progressivo
grave, pratica previamente sucessão de fatos, que, isoladamente, constituem crime, até
alcançar o resultado final almejado. Ou seja, para alcançar o resultado pretendido, o agente
pratica atos antecedentes de menor gravidade, sem os quais não seria possível atingir a
passagem.
Tomemos como exemplo o agente que pretende desde o início produzir a morte da
vítima. Para tanto, utiliza-se de uma faca, golpeando a vítima em várias partes do corpo,
vindo ao final a aplicar o golpe fatal, causando-lhe a morte. Há um único elemento subjetivo,
sendo a conduta composta por vários atos praticados de forma progressiva até atingir o
resultado mais grave. Surge, assim, o conflito aparente de normas: o agente responderá
pelos delitos de lesão corporal (CP, art. 129) e homicídio (CP, art. 121) ou apenas pelo crime
de homicídio (CP, art. 121)?? Nesse caso, aplicando-se o princípio da consunção, o agente
responderá apenas pelo crime de homicídio (CP, art. 121), pois as várias lesões corporais
produzidas pelos golpes de faca constituíram meio necessário para a execução do delito
pretendido, sendo, por isso, absorvidas pelo crime de homicídio.
Convém ressaltar que o princípio da consunção somente poderá ser adotado se
38
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
consunção em relação aos crimes de porte ilegal de arma e homicídio, bem como crime de
porte ilegal de arma de fogo e roubo majorado pelo emprego de arma de fogo.
crime de porte ilegal de arma de fogo pelo de homicídio exige que as condutas tenham sido
modo que o porte tenha como fim unicamente a prática do delito de homicídio. 2
incidência de crimes autônomos e independentes entre si. Logo, nesse caso, o agente
material de crimes.
b) Progressão criminosa
durante a execução do delito, o agente delibera por cometer o crime mais grave. Há,
Assim, se o dolo inicial era o de praticar apenas lesão corporal, mas, ao longo da
modificação do dolo (primeiro, pretendia lesionar; após, deliberou por matar a vítima) e
praticadas.
2
STJ, AgRg no AgREsp no 1186399/MS, rel. Min. Nefi Cordeiro, 6a T., j. 3-5-2018.
39
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
c) Fatos impuníveis
Pode ocorrer de o agente realizar uma conduta anterior ou posterior, previstos como
delitos autônomos, mas que, ao final, são impuníveis. Trata-se das hipóteses dos chamados
O ante factum não punível ocorre quando um fato anterior menos grave constitui
meio necessário para a prática de outro fato, mais grave, ficando, por conseguinte, o
caracterizando fato definido como crime de dano (CP, art. 163), para subtrair uma bolsa
feminina que se encontra no interior do automóvel. Nesse caso, o dano provocado na porta
caracteriza o ante factum impunível, já que funcionou como meio de execução para a
subtração da bolsa. Logo, o agente responderá apenas pelo crime de furto qualificado pelo
rompimento de obstáculo (CP, art. 155, § 4º, I), sendo o fato anterior (dano) absorvido.
O post factum impunível ocorre quando, após realizada a conduta, o agente pratica
nova conduta voltada a ofender o mesmo bem jurídico, visando apenas tirar proveito da
prática anterior. Trata-se, pois, de mero exaurimento. Assim, se após o furto o agente destrói
a coisa subtraída, só responde pelo furto (CP, art. 155), que absorverá o crime de dano (CP,
art. 163). Neste caso, a lesão ao interesse jurídico causada pela conduta precedente torna
falsificado (CP, art. 304) deve ser absorvido pela falsificação do documento público ou
privado (CP, arts. 297 e 298), quando praticado pelo mesmo agente, caracterizando o delito
de uso post factum não punível, ou seja, mero exaurimento do crime de falso, não
3
STJ, AgRg no RHC no 112730/SP, rel. Min. Ribeiro Dantas, 5a T., j. 3-3-2020.
40
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
variado, no qual o tipo penal descreve duas ou mais condutas como verbos nucleares do
tipo. Nesse caso, o tipo penal descreve várias condutas, que, se praticadas pelo agente, de
das condutas previstas no art. 33 da Lei no 11.343/2006, deverá ser imputado a ele a prática
41
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
Breno, nascido em 07 de junho de 1945, na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul,
5.000,00 (cinco mil reais). Após a apresentação do cheque, apesar de a falsificação não ser
grosseira e ser apta a enganar, o gerente do estabelecimento comercial percebe que aquele
cheque não fora assinado pelo verdadeiro correntista do banco, já que o nome que
constava do título de crédito era de um grande amigo seu. Descoberta a fraude, o referido
pretendida. Com o recebimento dos autos, o Ministério Público opina pela liberdade de
Breno e oferece denúncia pela prática dos crimes do Art. 171, caput, e Art. 297, § 2º, na
forma do Art. 69, todos do Código Penal. Após concessão da liberdade provisória e
recebimento da denúncia, houve juntada do laudo pericial do cheque, constatando a
Criminais, no qual consta uma condenação definitiva pela prática, no ano anterior, do crime
de homicídio culposo na direção de veículo automotor, além de uma ação em curso pela
suposta prática de crime de furto. Durante a instrução, todos os fatos acima descritos são
confirmados pelas testemunhas, não tendo sido o réu interrogado, já que, apesar de
intimado, apresentou problemas de saúde no dia e não pôde comparecer à audiência. Ainda
suas alegações, sendo consignado pela defesa o inconformismo com a ausência do réu, já
que foi apresentado atestado médico, e, em seguida, o juiz proferiu sentença condenatória
nos termos da denúncia, condenando o agente pela prática dos dois delitos em suas
modalidades consumadas. No momento de fixar a pena-base, aumentou o magistrado a
qualquer dúvida de que agiu com dolo. Já a pena do uso de documento falso foi aplicada
em seu patamar mínimo. Na segunda fase, não foram reconhecidas atenuantes, mas foi
42
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
cumprimento de pena aplicado pelo magistrado foi o semiaberto e não houve substituição
do agente. Intimado da decisão, o Ministério Público apenas tomou ciência de seu teor, não
apresentando qualquer medida. Já a defesa técnica de Breno foi intimada de seu teor em
43
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
Concurso de crimes
4.1. Introdução
Quando um sujeito, mediante unidade ou pluralidade de ações ou omissões, pratica
crimes e contravenções.
justamente porque sua incidência repercute no total da pena aplicada ao agente que
continuado.
Nos termos do art. 394 do CPP, para determinar o procedimento a ser seguido, deve-
formal perfeito e crime continuado, considera-se a pena mais grave, com a elevação da
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
fração que mais aumenta a pena (1/2, se concurso formal perfeito; 2/3, se crime
continuado).
pena mínima cominada ao delito não seja superior a um ano (Lei no 9.099/1995, art. 89),
material de crimes, as penas mínimas cominadas devem ser somadas. Se as penas mínimas
somadas superarem um ano, o réu não poderá ser beneficiado pela suspensão condicional
do processo.
fração que menos aumenta a pena. É o que dispõe a Súmula nº 723 STF:
base na pena máxima cominada ou na pena imposta na sentença em relação a cada um dos
45
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
STF: “Quando se tratar de crime continuado, a prescrição regula-se pela pena imposta na
mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não (CP, art. 69,
caput), não sendo necessário que tenham sido praticados no mesmo contexto fático. Há,
seria possível atribuir, em relação ao outro, pena restritiva de direitos, porque, em tese, seria
liberdade, será possível a substituição dessa pena pela restritiva de direitos em relação ao
outro delito, já que, uma vez suspensa a execução da pena privativa de liberdade, não
Imaginemos, por exemplo, que o réu tenha sido condenado pelo crime de lesão
corporal grave (CP, art.129, § 1o), com pena aplicada de um ano e oito meses de reclusão,
material de crimes, pelo crime de furto (CP, art. 155), com pena aplicada em um ano. Logo,
como foi concedida a suspensão condicional da pena em relação ao crime de lesão corporal
grave, pode o magistrado substituir a pena privativa de liberdade por restritiva de direitos,
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
prestação de serviço à comunidade e uma prestação pecuniária. Por outro lado, diante da
Imaginemos, por exemplo, que o agente tenha sido condenado pelo crime de furto
simples (CP, art. 155), em concurso material com o crime de estelionato (CP, art. 171). Em
relação ao crime de furto foi aplicada a pena privativa de liberdade de um ano, substituída
pena privativa de liberdade de dois anos, também substituição por prestação de serviço à
comunidade de forma sucessiva: Assim, por exemplo, após cumprir a pena do crime de
estelionato.
Na hipótese de crimes conexos apurados na mesma ação penal, a soma das penas,
pelo concurso material, será realizada na própria sentença, após a adoção do critério
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
Exemplo: O agente pratica o crime de estupro (CP, art. 213) e, para assegurar a sua
qualificado (CP, art. 121, § 2º, V). Imaginemos que o juiz fixe, em relação ao delito de estupro,
aplicar o sistema do cúmulo material, mediante o somatório das penas. Logo, no caso, a
De outro lado, na hipótese de não haver conexão entre os crimes, sendo, por isso,
julgados em processos distintos, a soma das penas será realizada perante o juízo da
omissão, pratica dois ou mais crimes (CP, art. 70, caput). Há unidade de conduta e
pluralidade de crimes.
contexto espacial e temporal, não sendo necessário que seja praticado em ato único. De
fato, pode haver unidade de conduta mesmo quando fracionada em vários atos, como, por
exemplo, agente que subtrai objetos pertencentes a pessoas distintas, no mesmo contexto
fático.
Para incidir o concurso formal de crimes, a única conduta deve produzir duas ou mais
pluralidade de resultados.
Assim, quem efetua disparos em direção a uma pessoa, atingindo a vítima pretendida
e também pessoa diversa, terá praticado, mediante uma única ação, dois crimes, uma vez
48
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
Do mesmo modo, o motorista que conduz seu veículo de modo imprudente, vindo a
crimes.
CP. Ocorre quando o agente pratica duas ou mais infrações penais mediante uma única
conduta, movido por um único desígnio. O agente, por meio de um só impulso volitivo, dá
causa a dois ou mais resultados, sem desígnios autônomos em relação a cada um dos
resultados.
agente, assim compreendido como sendo o desejo de realizar apenas um crime e obter um
causa a morte de uma pessoa e lesão corporal em outra, praticará o crime de homicídio
culposo na condução de veículo automotor (CTB, art. 302) e o crime de lesão corporal
culposa na condução de veículo automotor (CTB, art. 303), em concurso formal perfeito, já
única conduta, atingir dois ou mais resultados. Ou seja, o agente, mediante uma ação ou
isoladamente.
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
EXEMPLO 1:
EXEMPLO 2:
eventual. Assim, haverá concurso formal imperfeito, por exemplo, entre o delito de
O concurso formal próprio ou perfeito (CP, art. 70, primeira parte) foi concebido com
a finalidade de conferir tratamento menos severo a agente que, mediante uma conduta,
Por esse motivo, em relação ao concurso formal perfeito, ou próprio, o Código Penal
adotou o sistema de exasperação da pena. Aplica-se a pena do crime a mais grave ou, se
iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade.
50
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
O concurso formal próprio ou perfeito (CP, art. 70, primeira parte), cuja regra para a
aplicação da pena é a da exasperação, foi criado com intuito de favorecer o réu nas
se, pois, os rigores do concurso material (CP, art. 69). Nesse diapasão, o parágrafo único do
ao réu, em comparação com o cúmulo material. Nos termos da jurisprudência deste STJ, o
aumento da pena decorrente do concurso formal próprio é calculada com base no número
aplica-se a fração de aumento de 1/6 pela prática de 2 infrações; 1/5, para 3 infrações; 1/4
decorrência do concurso formal perfeito de crimes tem relação com o número de crimes
4
STJ, HC no 325411/SP, rel. Min. Ribeiro Dantas, 5a T., j. 19-4-2018.
51
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
Como dissemos, o critério da exasperação da pena visa a favorecer o agente que, por
meio de uma conduta, produz dois ou mais resultados, sem desígnios autônomos em
conduta, recai sobre o agente maior grau de reprovabilidade, já que revelou desígnios
autônomos em relação a cada resultado, não merecendo, por isso, tratamento menos
devendo ser somadas as penas aplicadas em relação a cada um dos crimes praticados pelo
Imaginemos que Wilson, pretendendo matar dois colegas de trabalho que exerciam
suas atividades em uma sala ao lado da dele, inseriu substância tóxica no sistema de
ventilação dessa sala, o que causou o óbito de ambos em poucos minutos. Nessa situação,
Wilson, com uma única conduta, praticou dois resultados, com desígnios autônomos em
relação a cada um deles. Trata-se, pois, de dois homicídios dolosos em concurso formal
imperfeito.
vítimas, e, ao final, aplicar o critério do cúmulo material. Assim, vamos considerar que, em
relação a vítima “A”, a pena aplicada foi de 12 anos, e, em relação à vítima “B”, a pena
aplicada tenha sido de 15 anos. Como se trata de concurso formal imperfeito, o magistrado
terá de adotar o critério do cúmulo material, somando as penas, ficando a pena definitiva
em 27 anos.
decorrentes de conduta única. Logo, a partir da conduta do agente, devem resultar dois ou
mais crimes.
52
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
crime único. Quando, por exemplo, há o emprego de violência ou grave ameaça contra
várias pessoas, mas subtração de patrimônio pertencente a apenas uma delas, estaremos
diante de crime único de roubo, já que ocorreu crime contra apenas um patrimônio.
Todavia, se, num mesmo contexto fático, são subtraídos bens pertencentes a vítimas
distintas, não haverá crime único, mas concurso formal, já que com uma conduta, o agente
atingiu patrimônios distintos. caracterizando concurso formal, por terem sido atingidos
O STJ tem entendido que a prática do crime de roubo contra vítimas diversas, no
mesmo contexto fático, configura uma única ação, incidindo, por isso, as regras do
omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie, devendo os subsequentes, pelas
condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, ser havidos como
continuação do primeiro.
4.5.2. Requisitos
Para a incidência das regras do crime continuado é preciso verificar a presença de
5
STJ, HC no 608932/SP, rel. Min. Ribeiro Dantas, 5a T., j. 6-10-2020.
6
STJ, AgRg no HC no 412140/MG, rel. Min. Sebastião Reis Júnior, 6a T., j. 1-3-2018.
53
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
praticar crimes mediante mais de uma ação ou omissão, exigindo, pois, pluralidade de
condutas.
tentadas ou consumadas.
Além disso, para caracterizar crimes da mesma espécie, é necessário que os crimes
parcelares devem tutelar os mesmos bens jurídicos e possuem a mesma estrutura jurídica.
Por isso, a teor da jurisprudência do STJ, não há como reconhecer a continuidade delitiva
que tutelam bens jurídicos diferentes, uma vez que o roubo tutela o patrimônio e a
54
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
A jurisprudência tem admitido crime continuado quando entre as infrações penais não
houver decorrido período superior a 30 dias.
55
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave
ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a
conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as
circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave,
se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do
art. 75 deste Código.
7
STJ, HC no 419094/RJ, rel. Min. Ribeiro Dantas, 5a T., j. 15-3-2018.
56
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
Assim, admite o Código Penal nexo de continuidade entre homicídios, lesões corporais ou
roubos contra vítimas diversas, podendo o juiz, de acordo com as circunstâncias judiciais do art.
59, caput, do CP, aumentar a pena de um dos delitos até o triplo, desde que a pena não seja
superior à que seria imposta se o caso fosse de concurso material.
b) Com violência ou grave ameaça à pessoa
Mesmo que o crime seja contra vítimas diferentes, se não houver violência – real ou ficta
– contra a pessoa, não haverá a continuidade específica.
c) Somente em crimes dolosos
Se a ação criminosa for praticada contra vítimas diferentes, com violência à pessoa, mas
não for produto de uma conduta dolosa, não estará caracterizado o crime continuado específico.
8
STJ, AgRg no EDcl-AgREsp no 1629001/SP, rel. Min. Laurita Vaz, 3a Seção, j. 28-10-2020.
57
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
Tratando-se de crime continuado específico, previsto no art. 71, parágrafo único, do CP,
aplica-se a pena do crime mais grave aumentada até o triplo. Todavia, segundo o entendimento
do STF, no crime continuado qualificado, a majoração da pena não está adstrita ao número de
infrações praticadas, uma vez que o art. 71, parágrafo único, do CP, determina que poderá
se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo”. Logo, a fração de aumento de pena
no crime continuado qualificado lastreia-se nos vetores em questão, e não apenas no número de
infrações praticadas. 9
Se, da aplicação da regra do crime continuado, a pena resultar superior à que restaria se
somadas as penas, aplica-se a regra do concurso material benéfico (CP, art. 71, parágrafo único,
parte final).
9
STF, HC no 131871/PR, rel. Min. Dias Toffoli, 2a T., j. 31-5-2016.
58
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
Diego e Júlio caminham pela rua, por volta das 21h, retornando para suas casas após mais
um dia de aula na faculdade, quando são abordados por Marcos, que, mediante grave
ameaça de morte e utilizando simulacro de arma de fogo, exige que ambos entreguem as
mochilas e os celulares que carregavam. Após os fatos, Diego e Júlio comparecem em sede
com Marcos nas proximidades do local do fato e verificam que ele possuía as mesmas
características físicas do roubador. Todavia, não são encontrados com Marcos quaisquer
dos bens subtraídos, nem o simulacro de arma de fogo. Ele é encaminhado para a Delegacia
59
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
autoridade policial liga para as residências de Diego e Júlio, que comparecem em sede
Marcos como responsável pelo assalto. O Delegado, então, lavra auto de prisão em
crime previsto no Art. 157, caput, do Código Penal, por duas vezes, na forma do Art. 69 do
Código Penal. Diante disso, Marcos liga para seu advogado para informar sua prisão. Este
responda, de acordo com a jurisprudência dos Tribunais Superiores, aos itens a seguir.
A) Qual requerimento deverá ser formulado, de imediato, em busca da liberdade de
poderá ser apresentado pela defesa para questionar a capitulação delitiva constante da
nota de culpa, em busca de uma punição mais branda? Justifique. (Valor: 0,60)
ao local de trabalho de Lucas, sendo encontradas, no interior do imóvel, duas armas de fogo
de calibre .38, calibre esse considerado de uso permitido, devidamente municiadas, ambas
com numeração suprimida. Em razão disso, Lucas foi preso em flagrante e denunciado pela
prática de dois crimes previstos no Art. 16, caput, da Lei 10.826/2003, em concurso
material, sendo narrado que “Lucas, de forma livre e consciente, guardava, em seu local de
Após a instrução, em que os fatos foram confirmados, foi juntado o laudo confirmando o
calibre .38 das armas de fogo, a capacidade de efetuar disparos, bem como que ambas
60
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
em sentença, considerando o teor do laudo, condenou Lucas pela prática de dois crimes
previstos no Art. 16, parágrafo único, inciso IV, da Lei nº 10.826/2003, em concurso formal.
Eduardo foi preso em flagrante no momento em que praticava um crime de roubo simples,
no bairro de Moema. Ainda na unidade policial, compareceram quatro outras vítimas, todas
narrando que tiveram seus patrimônios lesados por Eduardo naquela mesma data, com
intervalo de cerca de 30 minutos entre cada fato, no bairro de Moema, São Paulo.
As cinco vítimas descreveram que Eduardo, simulando portar arma de fogo, anunciava o
assalto e subtraía os bens, empreendendo fuga em uma bicicleta. Eduardo foi denunciado
pela prática do crime do Art. 157, caput, por cinco vezes, na forma do Art. 69, ambos do
policial.
Assistido por seu advogado Pedro, Eduardo confessou os crimes, esclarecendo que
pretendia subtrair bens de seis vítimas para conseguir dinheiro suficiente para comprar uma
motocicleta. Disse, ainda, que apenas simulou portar arma de fogo, mas não utilizou
condenou o réu nos termos da denúncia, sendo aplicada a pena mínima de 04 anos para
cada um dos delitos, totalizando 20 anos de pena privativa de liberdade a ser cumprida em
regime inicial fechado, além da multa. Ao ser intimado do teor da sentença, pessoalmente,
já que se encontrava preso, Eduardo tomou conhecimento que Pedro havia falecido, mas
61
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
que foram apresentadas alegações finais pela Defensoria Pública por determinação do
B) Diante da confirmação dos fatos pelo réu, qual argumento de direito material poderá
FIQUE LIGADO!
62
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
Concurso de pessoas
infração penal. Ocorre quando duas ou mais pessoas, em conjugação de esforços, reúnem-
5.2. Requisitos
Não basta a contribuição de duas ou mais pessoas na prática delituosa para
Assim, para que haja concurso de pessoas, exige-se que cada um dos agentes tenha
realizado ao menos uma conduta relevante. Pode ser autoria e participação, em que há uma
conduta principal e outra acessória, praticadas, respectivamente, por autor e partícipe, bem
63
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
prática de um delito incide nas penas a este cominadas. A expressão de “qualquer modo”
Extrai-se, ainda, do art. 29, caput, do CP, que, para incidir a hipótese de concurso de
pessoas, a conduta do agente deve concorrer para o crime, contribuindo, ainda que
agente tenha sido relevante para a infração penal, a ponto de, se excluída do curso causal,
Em outras palavras, se a conduta não tem qualquer relevância causal, isto é, se não
pessoas.
participação. Assim, se, sem realizar qualquer outra conduta, simplesmente manifestar que
irá concorrer para a prática de um homicídio que efetivamente foi consumado, o crime não
poderá ser imputado ao agente, por força do concurso de pessoas, uma vez que sua
por ter sido ofendida pela patroa, observa que há uma movimentação suspeita no lado
externo da casa, concluindo que era alguém observando o local para praticar o delito de
furto. Para facilitar o sucesso da subtração, a empregada deixa aberta a porta da frente da
residência. Durante a empreitada criminosa, sem saber que a porta da frente se encontrava
residência, e subtraiu diversos objetos. Diante desse quadro fático, a empregada doméstica
64
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
não deverá responder por qualquer infração penal, uma vez que a sua contribuição foi
delito, não haverá concurso de pessoas, podendo incidir, conforme o caso, um delito
autônomo, como, por exemplo, receptação (CP, art. 180), favorecimento pessoal (CP, art.
Os agentes devem atuar conscientes de que participam de crime comum, ainda que
não tenha havido acordo prévio de vontades. A ausência desse elemento psicológico
A atuação de cada um dos agentes deve ser voltada para a produção do mesmo
prática do mesmo crime, ainda que não haja combinação prévia, ou seja, que um dos
agentes não saiba da contribuição do outro.
agentes tenha conhecimento que está contribuindo para prática delituosa, ainda que não
tenha havido combinação prévia com o outro agente envolvido no delito. Basta, em síntese,
um dos agentes aderir à conduta ou à vontade de outrem, e concorrer, ainda que sem o
lado externo da casa, concluindo que era alguém observando o local para praticar o delito
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
de furto. Para facilitar o sucesso da subtração, a empregada deixa aberta a porta da frente
deixada aberta, e subtraiu diversos objetos. Agora, diante desse quadro fático, a empregada
doméstica deverá responder pelo furto praticado na residência, já que sua contribuição foi
relevante para o resultado (se não tivesse deixado a porta aberta, o furto não teria ocorrido
concurso de pessoas, diante da concorrência de vontades, uma vez que aderiu à conduta
crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade”. Significa que,
via de regra, todos aqueles que contribuem para a prática de delito responderão pelo
mesmo crime.
É a aplicação da teoria unitária ou monista, segundo a qual haverá um único crime
para os diversos agentes. Assim, o agente que anuncia o assalto e realiza a subtração
responderá pelo mesmo crime daquele que o conduziu até o local do roubo, aguardando-
o para empreender fuga, e daquele que planejou toda a atividade criminosa. Os três agentes
66
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
5.3.1. Autoria
Para a adequada imputação do delito ao agente, revela-se necessário identificar o
condição de autor.
revela tarefa das mais pacíficas, surgindo, em razão disso, várias teorias para a definição do
Dentre essas teorias, merecem destaque: a) teoria objetiva (na qual está alojada a
autor, uma vez que estabelece evidente distinção entre a figura do autor e do partícipe,
Com efeito, ao contrário da teoria extensiva, que tratava a autoria como figura única,
partícipe.
Agora, com a teoria objetiva, na vertente restritiva, não há só a figura do autor, mas a
Para a teoria objetivo-formal, autor é aquele que realiza a ação ou omissão descrita
no verbo nuclear do tipo penal que define o crime ou contravenção. É, em síntese, aquele
67
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
que pratica a conduta descrita no tipo penal incriminador. É aquele que pratica, por
exemplo, a ação de “matar” (CP, art. 121); de subtrair (CP, arts. 155 e 157); de constranger
Partícipe é aquele que contribui, de qualquer modo, para a empreitada delituosa, mas
sem realizar a ação ou omissão descrita no verbo nuclear do tipo. É aquele que induz, instiga
Assim, o agente que efetua disparos contra a vítima, atuará no crime de homicídio na
condição de autor, ao passo que aquele que induziu a matá-la atuará na condição de
partícipe.
Quem ingressa numa agência bancária e, portando uma arma de fogo, anuncia o
de autor, enquanto o agente que se posta no lado externo do prédio e aguarda, com o motor
do veículo acionado, o comparsa para empreenderem fuga, atua no delito na condição de
partícipe.
atípica, pois, teoricamente, não se enquadra no modelo legal de conduta proibida descrita
no tipo penal. Não existe tipo penal definindo a conduta de “mandar matar” ou “auxiliar a
subtrair”. Se não existisse a norma de extensão do art. 29, caput, do CP essas condutas
Por meio dessa norma de extensão, que serve como verdadeira ponte, é possível
adequar, ainda que de forma indireta, a conduta do partícipe ao tipo penal que descreve a
conduta criminosa.
típica, por força da norma de extensão (ou ponte de ouro) do art. 29, caput, CP, que
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
circunstâncias. O partícipe não tem o domínio do fato, pois apenas coopera, induz e incita
a prática do delito.
também o agente que realiza uma parte necessária da execução do plano global, com o
domínio funcional do fato, mesmo que não constitua um ato típico em sentido estrito. É
aquele que domina a realização do fato, quem tem poder sobre ele, bem como quem tem
Assim, para a teoria do domínio do fato, a figura do autor não se restringe somente
aquele que executa a conduta descrita no tipo penal, mas também aquele que tem o
controle da ação típica dos demais agentes, inserindo-se, nesse contexto, o autor executor,
O partícipe é aquele que contribui para o delito alheio, sem realizar a figura típica,
nem tampouco comandar a ação. É quem não domina a realização do fato, mas contribui
EXEMPLO 1:
Clodoaldo, Alan e Patrícia, todos maiores e capazes, deliberaram para assaltar uma
empresa local. Em data e hora combinadas, no período noturno e após o
fechamento, Clodoaldo e Alan arrombaram a porta dos fundos da empresa, na qual
entraram e ficaram vigiando enquanto Patrícia subtraía objetos valiosos, que
seriam divididos igualmente entre os três. Como se vê, a rigor somente Patrícia
praticou a ação nuclear do tipo penal que define o crime de furto, já que somente
ela praticou o ato de subtrair. Não há dúvida que Patrícia atuou no delito na
condição de autora. Clodoaldo e Alan não realizaram a ação descrita no tipo penal,
mas, sem dúvida, tinham o controle de toda a ação delituosa, o domínio final do
fato, sendo, portanto, também autores do delito.
69
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
EXEMPLO 2:
5.3.2. Coautoria
A coautoria é a modalidade de atuação no concurso de pessoas em que dois ou mais
resultado.
EXEMPLO:
Um dos agentes segura a vítima, enquanto o outro desfere nela golpes de faca.
A coautoria direta (ou material) é aquela em que todos os agentes executam atos
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
EXEMPLO:
Mauro e Arnaldo, ambos portando faca, desferem golpes de faca contra a vítima até
levá-la à morte.
5.3.3. Participação
Conforme a teoria restritiva de autoria, partícipe é quem contribui para que o autor
ou coautores realizem a conduta principal, ou seja, aquele que, sem praticar o verbo nuclear
do tipo, concorre de algum modo para a produção do resultado. De acordo com a teoria do
Assim, considerando a teoria restritiva, adotada pelo Código Penal, autor seria o
agente que pratica a conduta descrita no verbo nuclear do tipo incriminador, ao passo que
partícipe seria aquele que contribui, de qualquer modo, para a atividade delituosa, mas sem
EXEMPLO:
do autor com a prática de uma ação que, em si mesma, não é penalmente relevante no
sujeito que induz, instiga ou auxilia na prática do crime, sem praticar a conduta típica.
71
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
Somente haverá participação se o agente der início à execução do delito. Se o crime nem
sequer chegar a ser tentado, não haverá participação punível (CP, art. 31).
apenas, que quem, de qualquer modo, concorre para o crime responderá nas penas a este
cominadas.
genérica para alcançar a conduta daquele que contribuiu, ainda que minimamente, para a
produção do resultado.
tinha a representação mental da prática delituosa, sendo induzido pelo partícipe a cogitar
intenção delituosa.
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
EXEMPLO:
ou que o cometa depois de longo tempo. Pode apresentar-se sob as formas de mandato,
b) Instigar
mediante promessa de ajuda material ou moral após o cometimento por parte do executor.
Do contrário, há determinação e não instigação, embora as duas formas possam coexistir
EXEMPLO:
73
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
aproximação de terceiro; quem leva o ladrão em seu veículo ao local do furto; quem
crime tenha sido iniciado. Com efeito, o ajuste, a determinação, a indução, instigação e o
auxílio somente serão punidos se o autor der início à execução do delito. Se o crime nem
sequer chegar a ser tentado, a conduta do partícipe não será punível (CP, art. 31).
Imaginemos que Fabrício contrata Félix para matar Mafalda. Félix sai em busca de
Mafalda e, ao avistá-la, apiedado, nem sequer dá início aos atos executórios. Nesse caso,
tanto Fabrício quanto Félix não sofrerão qualquer tipo de punição, uma vez que o delito
que, para existir participação punível, afigura-se imprescindível que o autor ao menos tenha
dado início à prática de um fato típico e ilícito.
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
determinação, instigação ou auxílio são tipificados como crimes autônomos, como, por
exemplo, nos crimes de incitação ao crime (CP, art. 286) e de associação criminosa (CP, art.
praticados.
conforme o caso, o crime de favorecimento pessoal (CP, art. 348) ou real (CP, art. 349),
dentre outros.
E aqui cabe uma ressalva. Pode ser que a conduta do partícipe se limite a encorajar
consumação do delito. Nesse caso, o partícipe responderá pelo crime praticado pelo autor,
uma vez que sua contribuição, no sentido de influenciar, instigar, encorajar, ocorreu antes
da consumação do delito.
praticar o crime de furto de um veículo, sob a promessa de que ficaria com o automóvel,
juntamente com o autor, pelo crime de furto qualificado, uma vez que sua contribuição foi
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
consumação do delito, o agente não responderá pelo crime praticado pelo autor, podendo,
conforme o caso, responder por delito autônomo. É o caso do sujeito que, sem qualquer
Evidentemente não responderá pelo crime de furto, mas de receptação, previsto no art. 180
AUTOR executa a
ação descrita no
verbo nuclear do
≠ PARTÍCIPE NÃO EXECUTA AÇÃO
DESCRITA NO VERBO
NUCLEAR DO TIPO
tipo:
FORMAS
TEORIA
RESTRITIVA
MORAL MATERIAL
INDUZIR; AUXILIAR
INSTIGAR
ainda que tenha sido pequena, a contribuição do coautor não pode ser considerada de
menor importância, uma vez que atuou diretamente na execução do crime. A sua
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
do art. 29, caput, do CP, e a pena a ser fixada obedecerá aos limites abstratos previstos pelo
O partícipe que houver tido “participação de menor importância” poderá ter sua pena
de crime mais grave, deve responder pelo que pretendeu fazer, não se podendo a ele
objetiva.
Esse dispositivo cuida da hipótese de o autor principal cometer delito mais grave que
EXEMPLO:
“A” determina “B” a espancar “C”. “B” mata “C”. Segundo o art. 29, § 2º, “A”
responde por crime de lesão corporal, cuja pena deve ser aumentada até metade
se a morte da vítima lhe era previsível.
De fato, a solução dada pelo CP leva à punição de “A” pelo delito de lesões corporais,
que foi o crime desejado, cuja pena será elevada até a metade se o homicídio for previsível.
77
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
PARTICIPAÇÃO DE COOPERAÇÃO
MENOR IMPORTÂNCIA DOLOSAMENTE DISTINTA
Aumenta-se até a
metade, na hipótese
Causa de diminuição
de ter sido previsível
de pena de 1/6 a 1/3
o resultado mais
grave.
integram o tipo penal, figurando, no caso, como verdadeira elementar no tipo penal. Nesse
caso, quando também constituem o tipo penal, ou seja, figuram como elementares do tipo
EXEMPLO:
78
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
EXEMPLO:
“A” instiga “B” a praticar homicídio contra “C”. “B”, para a execução do crime,
emprega asfixia. O partícipe não responde por homicídio qualificado (art. 121, § 2º,
III, 4ª figura), a não ser que o meio de execução empregado pelo autor principal
tenha ingressado na esfera de seu conhecimento.
se a todos os agentes (se por eles conhecidas). Assim, por exemplo, a condição de
funcionário público, elementar do crime de peculato (CP, art. 312), estende-se ao coautor
ou partícipe que não ostente tal qualidade, fazendo com que ele, embora particular,
forem conhecidas pelos demais concorrentes). Por esse motivo, o emprego de arma por
um dos agentes no crime de roubo provoca, com relação a todos, a incidência da causa de
aumento de pena daí decorrente (CP, art. 157, § 2º, I). Se subjetivas, serão incomunicáveis.
EXEMPLO:
O motivo egoístico, que qualifica o crime de dano (CP, art. 163, parágrafo único,
IV, primeira figura), não se comunica aos demais concorrentes que tenham
colaborado com o fato por outros motivos.
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
tem onde guardá-lo antes de vendê-lo para a pessoa que o encomendara. Assim, resolve
ligar para um grande amigo seu, Henrique, e após contar toda sua empreitada, pede-lhe
que ceda a garagem de sua casa para que possa guardar o veículo, ao menos por aquela
noite. Como Henrique aceita ajudá-lo, Raimundo estaciona o carro na casa do amigo. Ao
raiar do dia, Raimundo parte com o veículo, que seria levado para o comprador.
80
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
Caio e Bruno são irmãos e estão em dificuldades financeiras. Caio, que estava sozinho em
seu quarto, verifica que a janela da casa dos vizinhos está aberta; então, ingressa no local e
subtrai um telefone celular avaliado em R$500,00. Ao mesmo tempo, apesar de não saber
da conduta de seu irmão, Bruno percebe que a porta da residência dos vizinhos também
Os fatos são descobertos dois dias depois, e Bruno e Caio são denunciados pelo crime de
furto qualificado (Art. 155, § 4º, inciso IV, do Código Penal), sendo acostadas as Folhas de
Antecedentes Criminais (FAC), contendo, cada uma delas, outra anotação pela suposta
prática de crime de estelionato, sem, contudo, haver condenação com trânsito em julgado
em ambas.
Após instrução, a pretensão punitiva do Estado é julgada procedente, sendo aplicada pena
B) Mantida a capitulação acolhida na sentença (Art. 155, § 4º, inciso IV, do Código Penal),
existe argumento em busca da redução da pena aplicada? (Valor: 0,65)
O(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal
Sabendo que Vanessa, uma vizinha com quem nunca tinha conversado, praticava diversos
furtos no bairro em que morava, João resolve convidá-la para juntos subtraírem R$ 1.000,00
de um cartório do Tribunal de Justiça, não contando para ela, contudo, que era funcionário
81
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
público e nem que exercia suas funções nesse cartório. Praticam, então, o delito, e Vanessa
fica surpresa com a facilidade que tiveram para chegar ao cofre do cartório. Descoberto o
2015, pela prática do crime de peculato. João foi notificado e citado pessoalmente,
enquanto Vanessa foi notificada e citada por edital, pois não foi localizada em sua
ré não tomou conhecimento. Foi decretada a revelia de Vanessa, que não compareceu aos
atos processuais. Ao final, os acusados foram condenados pela prática do crime previsto
no Art. 312 do Código Penal à pena de 02 anos de reclusão. Ocorre que, na verdade,
Vanessa estava presa naquela mesma Comarca, desde 05 de março de 2015, em razão de
prisão preventiva decretada em outros dois processos. Ao ser intimada da sentença, ela
procura você na condição de advogado(a). Considerando a hipótese narrada, responda
aos itens a seguir.
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
se uma ação penal, que pode ser pública ou privada. Observando as garantias
Judiciário, aplicar uma sentença ou acórdão condenatório, com a fixação de uma pena.
mas também em outras áreas do direito, como cível, administrativa, eleitoral, por exemplo.
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
hipótese de prática de novo crime, ressalvada a hipótese do artigo 44, § 3º, do Código
Penal;
crime (Art. 77, inciso I, do CP), e revogação da “sursis” (Art. 81, inciso I, e § 1º, do CP);
reconhecida a reincidência pela prática de outro crime (Arts. 110, caput, e 117, inciso VI,
ambos do CP);
processo, em relação ao novo crime (Arts. 76, § 2º, inciso I, e 89, caput, ambos da Lei nº
9.099/95).
gera efeitos extrapenais, ou seja, em outras áreas do direito, como na esfera cível,
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
não sendo necessário, portanto, o juiz declarar na sentença. É o que se extrai, a contrario
termos do artigo 92, parágrafo único, do Código Penal, esses efeitos não incidem de forma
Nos termos do artigo 91, inciso I, do Código Penal, constitui efeito da sentença penal
condenatória “tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime”. Trata-se
ação de execução ex delicto, nos termos do artigo 63 do Código de Processo Penal, já que
constitui título executivo judicial, conforme prevê o artigo 515, inciso I, do Código de
boa-fé, dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico,
É a hipótese do confisco como efeito da condenação, previsto no artigo 91, inciso II,
do Código Penal. Trata-se da perda em favor da União de bens de origem ilícita, decorrente
do delito praticado.
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
c) Confisco alargado
penal condenatória.
Nos termos do artigo 91-A do Código Penal, na hipótese de condenação por infrações
às quais a lei comine pena máxima superior a 6 (seis) anos de reclusão, poderá ser
diferença entre o valor do patrimônio do condenado e aquele que seja compatível com o
Para efeito da perda prevista no caput do referido artigo, entende-se por patrimônio
A perda prevista neste artigo deverá ser requerida expressamente pelo Ministério
Justiça onde tramita a ação penal, ainda que não ponham em perigo a segurança das
pessoas, a moral ou a ordem pública, nem ofereçam sério risco de ser utilizados para o
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
O artigo 92, inciso I, do Código Penal, prevê duas hipóteses de perda de cargo,
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano,
nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração
Pública;
b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro)
exercício das suas funções ou em razão dela, e a pena privativa de liberdade seja aplicada
eletivo poderá incidir quando a pena aplicada for igual ou superior a quatro anos.
Esse efeito, no entanto, não é automático, ou seja, exige para sua incidência que o
juiz declare expressamente em decisão motivada (Art. 92, parágrafo único, do CP).
curatela
de duas condições: a) que o crime seja doloso; b) que seja cominada pena de reclusão.
motivada, conforme se extrai do artigo 92, parágrafo único, do Código Penal. Assim,
condenado pela prática do crime estupro de vulnerável (Art. 217-A do CP) contra filha de
tenra idade.
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
c) A inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática
de crime doloso.
A aplicação desse efeito específico depende de dois requisitos: a) que o crime seja
doloso; b) que o veículo tenha sido utilizado “como meio” para a sua prática. Logo, não
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
Descriminantes putativas
7.1. Conceito
É a causa excludente da ilicitude erroneamente imaginada pelo agente. Ela não existe
na realidade, mas o sujeito pensa que sim, porque está errado. Só existe, portanto, na
mente, na imaginação do agente. Por essa razão, é também conhecida como descriminante
7.2. Espécies
A) Descriminante putativa por erro de tipo
Legítima defesa
Estado de necessidade
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
Assim, por exemplo, se o agente praticar uma conduta supondo estar diante de uma
agressão injusta, mas, que na verdade, não existe. Trata-se de legítima defesa putativa.
O agente pratica uma conduta supondo estar numa situação de perigo, que, na
Os efeitos são os mesmos do erro de tipo, já que a descriminante putativa por erro
de tipo não é outra coisa senão erro de tipo essencial incidente sobre tipo permissivo.
Assim, se o erro for vencível, o agente responde por crime culposo, já que o dolo
será excluído, da mesma forma como sucede com o erro de tipo propriamente dito; se o
circunstâncias do fato, responde por crime de homicídio culposo (art. 20, § 1º, CP).
O agente tem perfeita noção de tudo o que está ocorrendo. Não há qualquer engano
acerca da realidade. Não há erro sobre a situação de fato. Ele supõe que está diante da
causa que exclui o crime, porque avalia equivocadamente a norma: pensa que esta permite,
quando, na verdade, ela proíbe; imagina que age certo, quando está errado; supõe que o
injusto é justo.
O sujeito imagina estar em legítima defesa, estado de necessidade etc., porque
Exemplo: uma pessoa de idade avançada recebe um violento tapa em seu rosto,
desferido por um jovem atrevido. O idoso tem perfeita noção do que está acontecendo,
sabe que seu agressor está desarmado e que o ataque cessou. Não existe, portanto,
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
putativa (imaginária, já que não existe no mundo real) por erro de proibição (pensou que a
defesa, foi putativa, pois só existe na mente do homicida, que imaginou que a lei lhe tivesse
permitido matar. Essa equivocada suposição foi provocada por erro de proibição, isto, por
cometido um crime doloso, mas não responderá por ele; se evitável, responderá pelo crime
7.3. Consequências
No contexto das descriminantes putativas, aplica-se a teoria limitada da
culpabilidade.
pressupostos de uma situação de fato (exemplo: o agente imaginar que está diante de
uma injusta agressão, mas que era imaginária. Supor que o desafeto iria sacar uma arma,
do erro de tipo (art. 20, CP): Se o erro foi invencível, exclui o dolo e a culpa; se vencível,
exclui o dolo, mas o agente responde pelo delito culposo, se previsto em lei. Para Cleber
estrutura da conduta. Sem eles não há conduta, e sem conduta o fato é atípico”.
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
proibição: se inevitável, o agente será isento de pena; se evitável, o agente responde pelo
delito, mas terá a pena reduzida (art. 21, CP). Exemplo: um senhor de idade recebe um soco
de um jovem rapaz e acredita estar autorizado a revidar, lesionando-o gravemente por conta
do desaforo. O senhor sabe exatamente o que está fazendo, mas ignora que sua conduta
será ilícita (que, no caso, não se trata de hipótese de legítima defesa). É o caso das
Revoltada com o fato de que sua melhor amiga Clara estaria se relacionando com seu ex-
companheiro João, Maria a procurou e iniciou uma discussão.
Durante a discussão, Clara, policial militar, afirmou que, se Maria a xingasse novamente, ela
a mataria gastando apenas uma munição da sua arma. Persistindo na discussão, Maria
voltou a ofender Clara. Esta, então, abriu sua bolsa e pegou um bem de cor preta.
Acreditando que Clara cumpriria sua ameaça, Maria desferiu um golpe na cabeça da rival,
utilizando um pedaço de pau que estava no chão. A perícia constatou que o golpe foi a
causa eficiente da morte de Clara. Posteriormente, também foi constatado que Clara, de
fato, estava com sua arma de fogo na bolsa, mas que ela apenas pegara seu telefone celular
A) Qual o recurso cabível da decisão proferida pelo magistrado? Caso tivesse ocorrido
a impronúncia, o recurso pela parte interessada seria o mesmo? Justifique. (Valor: 0,65)
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
B) Qual a tese de direito material a ser apresentada em sede de recurso para combater
Ao chegar a um bar, Caio encontra Tício, um antigo desafeto que, certa vez, o havia
ameaçado de morte. Após ingerir meio litro de uísque para tentar criar coragem de abordar
Tício, Caio observou que seu desafeto bruscamente pôs a mão por debaixo da camisa,
momento em que achou que Tício estava prestes a sacar uma arma de fogo para vitimá-lo.
Em razão disso, Caio imediatamente muniu-se de uma faca que estava sobre o balcão do
bar e desferiu um golpe no abdome de Tício, o qual veio a falecer. Após análise do local por
peritos do Instituto de Criminalística da Polícia Civil, descobriu-se que Tício estava tentando
apenas pegar o maço de cigarros que estava no cós de sua calça.
Considerando a situação acima, responda aos itens a seguir, empregando os
B) Supondo que, nesse caso, Caio tivesse desferido 35 golpes na barriga de Tício, como
deveria ser analisada a sua conduta sob a ótica do Direito Penal? (Valor: 0,60)
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
PADRÃO DE RESPOSTAS
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
1) (QUESTÃO 2 - V EXAME)
Joaquina, ao chegar à casa de sua filha, Esmeralda, deparou-se com seu genro, Adaílton,
mantendo relações sexuais com sua neta, a menor F.M., de 12 anos de idade, fato ocorrido
no dia 2 de janeiro de 2011. Transtornada com a situação, Joaquina foi à delegacia de polícia,
para apurar os fatos narrados, descobriu-se que Adaílton vinha mantendo relações sexuais
com a referida menor desde novembro de 2010. Apurou-se, ainda, que Esmeralda, mãe de
F.M., sabia de toda a situação e, apesar de ficar enojada, não comunicava o fato à polícia
C) Considerando que o Inquérito Policial já foi finalizado, deve a avó da menor oferecer
GABARITO COMENTADO
B) Sim. Esmeralda também praticou estupro de vulnerável (artigo 217-A do CP c/c artigo 13,
§2º, “a”, do CP), uma vez que tinha a obrigação legal de impedir o resultado, sendo
garantidora da menor.
C) Não, pois se trata de ação penal pública incondicionada, nos termos do art. 225,
relação aos crimes contra a dignidade sexual. Agora a ação penal pública
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
contra vulnerável (arts. 213 a 218-C) e está prevista no artigo 225, caput, do Código
Penal.
ITEM PONTUAÇÃO
A) Sim. Estupro de vulnerável (0,2) – art. 217-A do CP (0,1) 0 / 0,1 / 0,2 / 0,3
B) Sim. Estupro de vulnerável (0,3) – artigo 217-A do CP c/c artigo 13, §2º, “a”, do
CP OU era garantidora (0,2). 0 / 0,3 / 0,5
Não pontua só artigo ou fundamento isolados.
C) Não, por se tratar de ação penal pública incondicionada (0,35). Art. 225,
0 / 0,35 / 0,45
parágrafo único, do CP (0,1).
2) (QUESTÃO 04 – X EXAME)
Erika e Ana Paula, jovens universitárias, resolvem passar o dia em uma praia paradisíaca e,
de difícil acesso (feito através de uma trilha), bastante deserta e isolada, tão isolada que não
jovens chegam bastante cedo e, ao chegarem, percebem que além delas há somente um
salva-vidas na praia. Ana Paula decide dar um mergulho no mar, que estava bastante calmo
naquele dia. Erika, por sua vez, sem saber nadar, decide puxar assunto com o salva-vidas,
Wilson, pois o achou muito bonito. Durante a conversa, Erika e Wilson percebem que têm
vários interesses em comum e ficam encantados um pelo outro. Ocorre que, nesse intervalo
de tempo, Wilson percebe que Ana Paula está se afogando. Instigado por Erika, Wilson
decide não efetuar o salvamento, que era perfeitamente possível. Ana Paula, então, acaba
morrendo afogada.
96
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
GABARITO COMENTADO
Segundo os dados narrados na questão, Wilson, por ser salva-vidas, tem o dever legal de
agir para evitar o resultado e, naquele momento, podia perfeitamente agir. Assim, trata-se
de agente garantidor. Nesse caso, responde por delito comissivo por omissão, qual seja,
homicídio doloso praticado via omissão imprópria: art. 121 c/c art. 13, § 2º, alínea 'a', ambos
do CP. Erika, por sua vez, por ter instigado Wilson a não realizar o salvamento de Ana Paula,
responde como partícipe de tal homicídio, nos termos do art. 29 do CP. Não há que se falar
em omissão de socorro por parte de Erika, pois, conforme dados expressos no enunciado,
ela não sabia nadar e nem tinha como chamar por ajuda.
ITEM PONTUAÇÃO
Wilson, por ser agente garantidor (0,30) /responde pelo delito de homicídio
0,00/0,30/0,60/0,90
(0,30) / praticado via omissão imprópria. (0,30)
Erika responde como partícipe de tal homicídio (0,35). 0,00/0,35
Pedro, almejando a morte de José, contra ele efetua disparo de arma de fogo, acertando-o
na região toráxica. José vem a falecer, entretanto, não em razão do disparo recebido, mas
porque, com intenção suicida, havia ingerido dose letal de veneno momentos antes de
sofrer a agressão, o que foi comprovado durante instrução processual. Ainda assim, Pedro
foi pronunciado nos termos do previsto no artigo 121, caput, do Código Penal.
O prazo de interposição;
97
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
GABARITO COMENTADO
I – Recurso em sentido estrito, nos termos do artigo 581, IV, do Código de Processo Penal.
(0,2)
III – deveria ser requerida a desclassificação do crime consumado para tentado, já que a
ação de Pedro não deu origem a morte de José. Trata-se de hipótese de concausa
título obtido pelo clube de futebol para o qual o primeiro torce. Não obstante o clima de
confraternização, em determinado momento, surgiu um entrevero entre eles, tendo Júlio
desferido um tapa no rosto de Paulo. Apesar da pouca intensidade do golpe, Paulo vem a
falecer no hospital da cidade, tendo a perícia constatado que a morte decorreu de uma
fatalidade, porquanto, sem que fosse do conhecimento de qualquer pessoa, Paulo tinha
uma lesão pretérita em uma artéria, que foi violada com aquele tapa desferido por Júlio e
Tribunal do Júri da Comarca de São Gonçalo, denunciou Júlio pelo crime de lesão corporal
seguida de morte (Art. 129, § 3º, do CP). Considerando a situação narrada e não havendo
A) É competente o juízo perante o qual Júlio foi denunciado? Justifique. (Valor: 0,65)
98
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
B) Qual tese de direito material poderia ser alegada em favor de Júlio? Justifique. (Valor:
0.60)
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar as respostas. A mera citação do dispositivo legal
GABARITO COMENTADO
A) O(A) examinando(a) deve concluir pela incompetência do Juízo, tendo em vista que o
crime praticado não é doloso contra a vida. Nos termos do Art. 74, § 1º, do Código de
Processo Penal (ou Art. 5º, inciso XXXVIII, alínea d, da CRFB), ao Tribunal do Júri cabe apenas
o julgamento dos crimes dolosos contra a vida e os conexos. No caso, mesmo de acordo
corporal seguida de morte, porque aquele resultado não foi causado a título de dolo nem
dirigida à produção de lesão corporal, sendo o resultado morte produzido a título de culpa.
da culpa é a previsibilidade objetiva, somente devendo alguém ser punido na forma culposa
quando o resultado não querido pudesse ser previsto por um homem médio, sendo que a
corporal seguida de morte. Também poderia o candidato responder que havia uma
preexistente não impede a punição do agente pelo crime consumado. Contudo, deve ela
99
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
ITEM PONTUAÇÃO
A) O Tribunal do Júri não é o juízo competente, pois o crime imputado não é doloso
contra a vida (0,55), nos termos do Art. 74, § 1º, do CPP OU do Art. 5º, inciso XXXVIII, 0,00 / 0,55 / 0,65
da CRFB/88. (0,10)
B) Júlio não poderia responder pelo resultado morte (0,25), nem mesmo a título de
culpa, em razão da ausência de previsibilidade OU porque existe causa relativamente
independente preexistente desconhecida OU porque a atribuição do resultado
violaria o princípio da vedação da responsabilidade objetiva (0,35). 0,00 / 0,25 /
0,35 / 0,60
Obs.: A mera repetição do enunciado no sentido de que o resultado decorreu de uma
fatalidade em razão de lesão em artéria desconhecida, sem qualquer fundamentação
jurídica, não é suficiente para atribuição do segundo intervalo de pontuação.
5) Durante uma grave discussão, ocorrida no serviço, Licurgo Moicano agrediu Coitinho
Lelo com uma paulada na cabeça, com a intenção de matá-lo. Atendido com rapidez,
Coitinho Lelo foi colocado dentro de uma ambulância que rumou para o Pronto Socorro
pertinente ao caso.
GABARITO COMENTADO
Ocorre que, por erro durante a execução, os disparos atingiram a perna de seu inimigo e
não o peito, como pretendido. Esgotada a munição disponível, Vitor empreendeu fuga,
100
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
dormia, José vem a ser picado por um escorpião, vindo a falecer no dia seguinte em razão
oferece denúncia em face do autor dos disparos pela prática do crime de homicídio
consumado, previsto no Art. 121, caput, do Código Penal. Após regular prosseguimento do
do Júri, quando da oitiva das testemunhas, o magistrado em atuação optou por iniciar a
oitiva das testemunhas formulando diretamente suas perguntas, sem permitir às partes
complementação. Após alegações finais orais das partes, o magistrado proferiu decisão de
pronúncia. Apesar da impugnação da defesa quanto à formulação das perguntas pelo juiz,
o magistrado esclareceu que não importaria quem fez a pergunta, pois as respostas seriam
GABARITO COMENTADO
do Art. 581, inciso IV, do CPP. Em relação ao argumento de direito processual, deveria o
candidato alegar que houve nulidade durante a instrução probatória, tendo em vista que o
Processo Penal prevê o sistema de cross examination para oitiva das testemunhas, cabendo
101
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
complementados pelo magistrado, na forma do Art. 411 e do Art. 212, ambos do CPP. No
configura cerceamento de defesa, de modo que devem ser anulados todos os atos desde a
instrução.
capitulação jurídica realizada pelo Ministério Público. De fato, Vitor, ao efetuar disparos de
arma de fogo contra José, em direção ao seu peito, tinha a intenção de matá-lo, como o
enunciado deixa claro. Todavia, os disparos de Vitor não foram suficientes para causar a
morte de seu inimigo por circunstâncias alheias à sua vontade, já que os projéteis atingiram
a perna de José. José recebeu atendimento médico e já estava no quarto com curativos.
Posteriormente, José veio a ser mordido por escorpião, sendo que o veneno do animal
causou, exclusivamente, sua morte. Certo é que José só estava no hospital em razão dos
disparos de Vitor, mas houve causa superveniente, relativamente independente, que por si
só causou a morte de José. Diante disso, o resultado fica afastado, mas responde Vitor pelos
atos já praticados, conforme previsão do Art. 13, § 1º, do Código Penal. Assim, por mais que
José tenha falecido, Vitor deveria responder pelo crime de tentativa de homicídio.
ITEM PONTUAÇÃO
102
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
Breno, nascido em 07 de junho de 1945, na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul,
5.000,00 (cinco mil reais). Após a apresentação do cheque, apesar de a falsificação não ser
grosseira e ser apta a enganar, o gerente do estabelecimento comercial percebe que aquele
cheque não fora assinado pelo verdadeiro correntista do banco, já que o nome que
constava do título de crédito era de um grande amigo seu. Descoberta a fraude, o referido
pretendida.
Com o recebimento dos autos, o Ministério Público opina pela liberdade de Breno e oferece
denúncia pela prática dos crimes do Art. 171, caput, e Art. 297, § 2º, na forma do Art. 69,
todos do Código Penal. Após concessão da liberdade provisória e recebimento da
capacidade para iludir terceiros, bem como da Folha de Antecedentes Criminais, no qual
consta uma condenação definitiva pela prática, no ano anterior, do crime de homicídio
culposo na direção de veículo automotor, além de uma ação em curso pela suposta prática
de crime de furto.
Durante a instrução, todos os fatos acima descritos são confirmados pelas testemunhas,
não tendo sido o réu interrogado, já que, apesar de intimado, apresentou problemas de
saúde no dia e não pôde comparecer à audiência. Ainda durante a audiência de instrução e
pela defesa o inconformismo com a ausência do réu, já que foi apresentado atestado
médico, e, em seguida, o juiz proferiu sentença condenatória nos termos da denúncia,
condenando o agente pela prática dos dois delitos em suas modalidades consumadas. No
destacando que o comportamento de Breno não deixa qualquer dúvida de que agiu com
dolo. Já a pena do uso de documento falso foi aplicada em seu patamar mínimo. Na segunda
103
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
fase, não foram reconhecidas atenuantes, mas foi reconhecida a agravante da reincidência,
momento, não foram reconhecidas causas de aumento ou de diminuição. Assim, foi fixada
magistrado foi o semiaberto e não houve substituição da pena privativa de liberdade por
Intimado da decisão, o Ministério Público apenas tomou ciência de seu teor, não
apresentando qualquer medida. Já a defesa técnica de Breno foi intimada de seu teor em
apresentando todas as teses jurídicas pertinentes. A peça deverá ser datada no último
GABARITO COMENTADO
Recurso de Apelação, na forma do Art. 593, inciso I, do CPP, com elaboração da petição de
deveria ser direcionada para o Juízo da Vara Criminal da Comarca de Porto Alegre/RS,
enquanto que as razões recursais deveriam ser endereçadas para o Tribunal de Justiça do
Estado do Rio Grande do Sul. A data indicada deveria ser o dia 11 de dezembro de 2017,
tendo em vista que o ato foi realizado na ausência do réu, que não pode comparecer
104
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
justificadamente, inclusive sendo apresentado atestado médico pela defesa técnica. Dessa
forma, houve violação ao princípio da ampla defesa, em seu elemento autodefesa (direito
de presença), de modo que configurado cerceamento de defesa, pois o réu não foi
interrogado.
em vista que a falsificação do cheque foi apenas um meio para prática do crime de
estelionato, de modo que o delito previsto no Art. 297, §2º do Código Penal deveria ser
Em princípio, quando um delito é praticado apenas como meio para a prática de outro
delito, aquele deve ficar absorvido por este, em respeito ao princípio da consunção. Trata-
estelionato, pois aquele foi apenas um crime meio para a prática do mesmo e o potencial
Na hipótese apresentada, não há dúvidas de que a intenção do agente era praticar um crime
297, §2º do Código Penal deveria ser absorvido, restando apenas o crime de estelionato.
suspensão condicional do processo, tendo em vista que o réu responde a outros processos,
não preenchendo os requisitos do Art. 89 da Lei nº 9.099/90, não havendo prejuízo, porém,
105
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
especialmente.
denunciado agiu com dolo. Ocorre que o delito de estelionato somente é punido em razão
de modo que o elemento subjetivo dolo já é inerente ao tipo, não podendo o magistrado
Na segunda fase, deveria ter sido reconhecida a atenuante em razão da idade do autor do
fato, tendo em vista que o agente era maior de 70 anos na data da sentença, pois nascido
Já na terceira fase, deveria ser reconhecida a causa de diminuição de pena da tentativa. Isso
porque o crime de estelionato é delito classificado pela doutrina como sendo de natureza
material, ou seja, existe um resultado naturalístico previsto no tipo e ele precisa ocorrer para
obter vantagem patrimonial em prejuízo alheio. Todavia, quando buscava realizar, mediante
impedindo a consumação do delito. Assim, necessária a aplicação do Art. 14, inciso II, do
do agente, em que pese, de fato, configure reincidência, não impede a substituição, uma
vez que o Art. 44 do Código Penal apenas veda a medida para o condenado reincidente na
prática de crime doloso. Na hipótese, a pena aplicada foi inferior a 04 anos e o agente
apenas tinha uma condenação anterior pela prática de crime culposo, logo possível a
substituição.
106
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
Caso não acolhido o pleito de substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de
direitos, mesmo que mantida a pena aplicada em primeira instância, caberia o pedido de
suspensão condicional da pena, nos termos do Art. 77, § 2º, do Código Penal, tendo em
vista que a sanção aplicada foi inferior a 04 anos e o réu é maior de 70 anos, logo aplicável
o sursis etário.
de interrogatório;
c) Aplicação da pena base no mínimo legal, tendo em vista que o dolo é elemento inerente
ao tipo penal;
d) Reconhecimento da atenuante pelo fato de o réu ser maior de 70 anos na data da
sentença;
f) Substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, tendo em vista que
ITEM PONTUAÇÃO
Petição de Interposição
1) Endereçamento: Vara Criminal da Comarca de Porto Alegre/RS (0,10). 0,00/0,10
2) Fundamento legal: Art. 593, inciso I, do Código de Processo Penal (0,10). 0,00/0,10
Razões Recursais
3) Endereçamento: Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (0,10). 0,00/0,10
4) Preliminarmente, nulidade dos atos de instrução ou da sentença (0,30) 0,00/0,30
107
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
Diego e Júlio caminham pela rua, por volta das 21h, retornando para suas casas após mais
um dia de aula na faculdade, quando são abordados por Marcos, que, mediante grave
ameaça de morte e utilizando simulacro de arma de fogo, exige que ambos entreguem as
mochilas e os celulares que carregavam. Após os fatos, Diego e Júlio comparecem em sede
com Marcos nas proximidades do local do fato e verificam que ele possuía as mesmas
características físicas do roubador. Todavia, não são encontrados com Marcos quaisquer
dos bens subtraídos, nem o simulacro de arma de fogo. Ele é encaminhado para a Delegacia
108
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
autoridade policial liga para as residências de Diego e Júlio, que comparecem em sede
Marcos como responsável pelo assalto. O Delegado, então, lavra auto de prisão em
crime previsto no Art. 157, caput, do Código Penal, por duas vezes, na forma do Art. 69 do
Código Penal. Diante disso, Marcos liga para seu advogado para informar sua prisão. Este
poderá ser apresentado pela defesa para questionar a capitulação delitiva constante da
nota de culpa, em busca de uma punição mais branda? Justifique. (Valor: 0,60)
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo
GABARITO COMENTADO
A) A defesa de Marcos deverá formular requerimento de relaxamento da prisão, tendo em
vista que não havia situação de flagrante a justificar a formalização do Auto de Prisão em
Flagrante. Narra o enunciado que, de fato, Marcos, mediante grave ameaça, inclusive com
emprego de simulacro de arma de fogo, subtraiu coisas alheias móveis de Diego e Julio,
denúncia. Todavia, não havia situação de flagrante a justificar a prisão do acusado. Isso
109
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
sendo certo que não houve perseguição e nem com o agente foram encontrados
instrumentos ou produtos do crime. Dessa forma, nenhuma das situações previstas no Art.
a prisão ilegal, sequer deveriam ser analisados os pressupostos dos Artigos 312 e 313 do
Código de Processo Penal nesse momento. Além disso, a princípio, não seria caso de
reconhecimento de ausência dos motivos da preventiva, já que foi praticado crime com
crimes. Sem dúvidas, confirmados os fatos, houve crime de roubo, já que foram subtraídas
coisas alheias móveis e houve emprego de grave ameaça, ainda que apenas através de
palavras de ordem e emprego de simulacro de arma de fogo. Da mesma forma, dois foram
os crimes patrimoniais praticados. Isso porque dois patrimônios foram atingidos e presente
o elemento subjetivo, tendo em vista que Marcos sabia que estava subtraindo pertences de
duas pessoas diversas. Todavia, com uma só ação, mediante uma ameaça, foram subtraídos
bens de dois patrimônios diferentes. Assim, deverá ser reconhecido o concurso formal de
DISTRIBUIÇÃO DE PONTOS
ITEM PONTUAÇÃO
A) O requerimento a ser formulado é de relaxamento da prisão (0,35), tendo em
vista que não está presente nenhuma das situações de flagrante elencadas no Art. 0,00/0,30/0,35/0,65
302 do CPP (0,30).
B) O argumento é que houve concurso formal de crimes (0,35), tendo em vista
0,00/0,15/0,25/0,35/
que, com uma só ação, foram praticados dois delitos (0,15), nos termos do Art. 70
0,45/ 0,50/0,60
do CP (0,10).
110
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
ao local de trabalho de Lucas, sendo encontradas, no interior do imóvel, duas armas de fogo
de calibre .38, calibre esse considerado de uso permitido, devidamente municiadas, ambas
com numeração suprimida. Em razão disso, Lucas foi preso em flagrante e denunciado pela
prática de dois crimes previstos no Art. 16, caput, da Lei 10.826/2003, em concurso
material, sendo narrado que “Lucas, de forma livre e consciente, guardava, em seu local de
Após a instrução, em que os fatos foram confirmados, foi juntado o laudo confirmando o
calibre .38 das armas de fogo, a capacidade de efetuar disparos, bem como que ambas
em sentença, considerando o teor do laudo, condenou Lucas pela prática de dois crimes
previstos no Art. 16, parágrafo único, inciso IV, da Lei nº 10.826/2003, em concurso formal.
Intimada a defesa técnica da sentença condenatória, responda, na condição de
GABARITO COMENTADO
ampla defesa e ao princípio do contraditório. Isso porque a denúncia narrou que Lucas
Sem que houvesse aditamento da denúncia, o magistrado condenou o réu pela prática de
dois crimes de posse de arma de fogo de numeração suprimida, previsto no Art. 16,
111
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
parágrafo único, inciso IV, da Lei 10.826/03. Apesar do crime imputado na denúncia e o
confundem e a narrativa dos fatos é diferente. O réu somente se defendeu sobre as armas
apreendidas como sendo de uso restrito, não podendo, então, o magistrado modificar os
fatos para dar nova capitulação jurídica, nos termos do Art. 384 do CPP. Se não houvesse
alteração dos fatos, poderia o juiz aplicar o Art. 383 do CPP, mas não foi isso que ocorreu
conduta de Lucas de guardar, em seu local de trabalho, duas armas de fogo com numeração
suprimida configura crime único previsto no Art. 16, parágrafo único, inciso IV, da Lei
10.826/03 e não dois crimes autônomos, seja em concurso material ou formal. As armas
da aplicação da pena.
ITEM PONTUAÇÃO
A) Houve violação ao princípio da correlação OU não houve aditamento dos
fatos narrados na denúncia, não podendo o magistrado alterá-los (0,40), nos 0,00/0,15/0,25/0,40/
termos do Art. 384 do CPP (0,10), o que representa violação ao princípio da 0,50/0,55/0,65
ampla defesa OU contraditório (0,15)
B) Houve crime único OU Não houve qualquer espécie de concurso de delitos
(0,50), tendo em vista que as armas de fogo foram apreendidas em um mesmo 0,00/0,10/0,50/0,60
contexto (0,10)
no bairro de Moema. Ainda na unidade policial, compareceram quatro outras vítimas, todas
narrando que tiveram seus patrimônios lesados por Eduardo naquela mesma data, com
intervalo de cerca de 30 minutos entre cada fato, no bairro de Moema, São Paulo.
112
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
As cinco vítimas descreveram que Eduardo, simulando portar arma de fogo, anunciava o
assalto e subtraía os bens, empreendendo fuga em uma bicicleta. Eduardo foi denunciado
pela prática do crime do Art. 157, caput, por cinco vezes, na forma do Art. 69, ambos do
policial.
Assistido por seu advogado Pedro, Eduardo confessou os crimes, esclarecendo que
pretendia subtrair bens de seis vítimas para conseguir dinheiro suficiente para comprar uma
motocicleta. Disse, ainda, que apenas simulou portar arma de fogo, mas não utilizou
condenou o réu nos termos da denúncia, sendo aplicada a pena mínima de 04 anos para
cada um dos delitos, totalizando 20 anos de pena privativa de liberdade a ser cumprida em
regime inicial fechado, além da multa. Ao ser intimado do teor da sentença, pessoalmente,
já que se encontrava preso, Eduardo tomou conhecimento que Pedro havia falecido, mas
que foram apresentadas alegações finais pela Defensoria Pública por determinação do
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo
113
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
GABARITO COMENTADO
Narra o enunciado que Eduardo teria praticado cinco crimes de roubo, contra vítimas
diferentes, todos no bairro de Moema, com curto intervalo de tempo entre os fatos, com o
mesmo modo de agir, sendo seu objetivo obter dinheiro suficiente para a compra de uma
motocicleta.
defesa técnica, tendo em vista que as alegações finais foram apresentadas pela Defensoria
Pública, não sendo o acusado intimado para, querendo, constituir novo patrono. De acordo
com o que consta do enunciado, durante a instrução processual, Eduardo foi assistido por
Pedro, advogado por ele constituído. Ocorre que, ao tomar conhecimento de que Pedro
apresentação de alegações finais, o que foi incorreto, já que o réu deveria ter sido intimado
pessoalmente, pois estava preso, para esclarecer se teria interesse em ser assistido pela
o que geraria redução da sanção penal aplicada. De acordo com o que consta do
enunciado, de fato foram praticados cinco crimes de roubo. Mesmo sem emprego de arma
de fogo ou simulacro de arma de fogo, houve grave ameaça na subtração dos bens de cinco
vítimas diferentes, logo cinco patrimônios foram atingidos e cinco crimes autônomos foram
praticados. Ainda que Eduardo tenha confessado os fatos, a pena mínima foi aplicada, não
cabendo redução com fundamento na atenuante do Art. 65, III, d, do CP, nos termos da
somou a pena aplicada para cada um dos delitos. De acordo com o Art. 71 do CP, a pena de
apenas um dos crimes será aplicada e aumentada de 1/6 a 2/3 quando o agente, mediante
114
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
mais de uma ação, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie, nas mesmas condições
bairro, com intervalo de 30 minutos entre eles, sempre com o mesmo modo de execução.
A intenção do agente sempre foi praticar vários crimes, um em continuidade do outro, para
obter dinheiro suficiente para comprar uma motocicleta. Assim, ao invés do cúmulo
material, deveria o magistrado ter aumentado a pena de um dos delitos (04 anos) em 1/6 a
2/3, ou, até mesmo, aplicar a previsão do Art. 71, parágrafo único, do CP.
ITEM PONTUAÇÃO
A) Sim. Tendo em vista que Eduardo deveria ter sido intimado para manifestar seu
interesse em constituir novo advogado ou ser assistido pela Defensoria Pública,
0,00/0,15/0,25/0,40/
para oferecimento das alegações finais, em razão do falecimento do antigo patrono
0,50/0,55/0,65
(0,40), houve violação ao princípio da ampla defesa (0,15), nos termos do Art. 5º,
inciso LV, da CRFB (0,10).
B) Reconhecimento da continuidade delitiva (0,35), na forma do Art. 71 do CP
0,00/0,15/0,25/0,35/
(0,10), já que os crimes são da mesma espécie e foram praticados nas mesmas
0,45/0,50/0,60
condições de tempo, local e modo de execução (0,15).
ligar para um grande amigo seu, Henrique, e após contar toda sua empreitada, pede-lhe
que ceda a garagem de sua casa para que possa guardar o veículo, ao menos por aquela
noite. Como Henrique aceita ajudá-lo, Raimundo estaciona o carro na casa do amigo. Ao
raiar do dia, Raimundo parte com o veículo, que seria levado para o comprador.
seguir.
115
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
GABARITO COMENTADO
A) Não há concurso de agentes, pois o auxílio foi proposto após a consumação do crime de
ITEM PONTUAÇÃO
A) Não, pois o auxílio foi proposto após a consumação do crime de furto (0,75) OU
Não, pois inexistente liame subjetivo e identidade da infração penal entre ambos 0,00/ 0,75
(0,75).
B) Favorecimento real OU praticou o delito descrito no Art. 349, do CP (0,50). 0,00/ 0,50
Caio e Bruno são irmãos e estão em dificuldades financeiras. Caio, que estava sozinho em
seu quarto, verifica que a janela da casa dos vizinhos está aberta; então, ingressa no local e
subtrai um telefone celular avaliado em R$500,00. Ao mesmo tempo, apesar de não saber
da conduta de seu irmão, Bruno percebe que a porta da residência dos vizinhos também
Os fatos são descobertos dois dias depois, e Bruno e Caio são denunciados pelo crime de
furto qualificado (Art. 155, § 4º, inciso IV, do Código Penal), sendo acostadas as Folhas de
Antecedentes Criminais (FAC), contendo, cada uma delas, outra anotação pela suposta
prática de crime de estelionato, sem, contudo, haver condenação com trânsito em julgado
em ambas.
Após instrução, a pretensão punitiva do Estado é julgada procedente, sendo aplicada pena
116
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
B) Mantida a capitulação acolhida na sentença (Art. 155, § 4º, inciso IV, do Código Penal),
O(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal
GABARITO COMENTADO
A) Sim, a capitulação jurídica realizada pelo Ministério Público e acolhida na sentença
poderá ser questionada, tendo em vista que não deveria ter sido imputada a qualificadora
do concurso de agentes. O Art. 155, § 4º, inciso IV, do CP prevê qualificadora do furto
Ocorre que, apesar de Caio e Bruno serem irmãos e terem praticado crimes de furto no
mesmo local, data e horário, não houve concurso de agentes. Dentre os requisitos para
configuração do concurso de agentes está o liame subjetivo, que não restou configurado
na hipótese apresentada. A todo momento o enunciado deixa claro que Caio e Bruno sequer
sabiam da conduta um do outro, não havendo que se falar, então, em comunhão de ações
Art. 155, § 2º, do CP. Apesar de os agentes responderem a outras ações penais, nos termos
da Súmula 444 do STJ, não havendo sentença condenatória anterior com trânsito em
coisas furtadas podem ser consideradas de pequeno valor, não havendo que se falar em
117
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
insignificância, na hipótese, seja pelo valor dos bens seja porque o enunciado indaga sobre
a figura do furto privilegiado poderá ser reconhecida ainda que o crime em questão seja de
ITEM PONTUAÇÃO
A) Sim, o argumento seria pela inexistência de liame subjetivo entre os agentes
0,00/0,15/0,45/0,60
(0,45), afastando-se a qualificadora do concurso de pessoas (0,15).
B) Sim, aplicação do furto privilegiado (0,35), já que a coisa é de pequeno valor 0,00/0,20/0,30/0,35/
e os réus são primários (0,20), conforme a Súmula 511 do STJ (0,10). 0,45/0,55/0,65
Sabendo que Vanessa, uma vizinha com quem nunca tinha conversado, praticava diversos
furtos no bairro em que morava, João resolve convidá-la para juntos subtraírem R$ 1.000,00
de um cartório do Tribunal de Justiça, não contando para ela, contudo, que era funcionário
Praticam, então, o delito, e Vanessa fica surpresa com a facilidade que tiveram para chegar
ao cofre do cartório. Descoberto o fato pelas câmeras de segurança, são os dois agentes
notificado e citado pessoalmente, enquanto Vanessa foi notificada e citada por edital, pois
A família de Vanessa constituiu advogado e o processo prosseguiu, mas dele a ré não tomou
conhecimento. Foi decretada a revelia de Vanessa, que não compareceu aos atos
processuais. Ao final, os acusados foram condenados pela prática do crime previsto no Art.
312 do Código Penal à pena de 02 anos de reclusão. Ocorre que, na verdade, Vanessa estava
presa naquela mesma Comarca, desde 05 de março de 2015, em razão de prisão preventiva
118
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
decretada em outros dois processos. Ao ser intimada da sentença, ela procura você na
condição de advogado(a).
GABARITO COMENTADO
mesma unidade da Federação do juízo processante, logo sua citação foi nula, conforme
Enunciado 351 da Súmula de Jurisprudência do STF. Como ela não tomou conhecimento da
ação e nem mesmo foi interrogada, pois teve sua revelia decretada, o prejuízo é claro.
buscar a anulação de todos os atos após sua citação, inclusive da sentença. Poderia, ainda,
o candidato justificar a nulidade na exigência trazida pelo Art. 360 do CPP, que prevê que
B) Vanessa não foi corretamente condenada pela prática do crime de peculato. Em que
desse dispositivo, porque o enunciado deixa claro que Vanessa não tinha conhecimento da
condição de funcionário público de João, não sendo possível responsabilizá-la por peculato.
desde que o agente tenha dessa situação. Da mesma forma, inadequada a afirmativa no
119
Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
sentido de que o particular não pode ser responsabilizado pelo crime próprio de peculato,
pois insuficiente.
ITEM PONTUAÇÃO
A) Nulidade dos atos processuais praticados após sua citação OU nulidade da
sentença (0,25), pois a citação por edital foi inválida, já que Vanessa estava presa 0,00/0,10/0,25/0,30/
OU já que a citação de Vanessa deveria ter sido realizada pessoalmente (0,30), nos 0,35/0,40/0,55/0,65
termos da Súmula 351 do STF OU do art. 360, CPP (0,10).
B) Vanessa não foi corretamente condenada por peculato porque não tinha
conhecimento da condição de funcionário público de João, dependendo a
0,00 / 0,60
comunicação da elementar desse elemento subjetivo OU porque não pode ser
aplicado o Art. 30 do CP pela ausência de elemento subjetivo (0,60).
Revoltada com o fato de que sua melhor amiga Clara estaria se relacionando com seu ex-
Durante a discussão, Clara, policial militar, afirmou que, se Maria a xingasse novamente, ela
a mataria gastando apenas uma munição da sua arma. Persistindo na discussão, Maria
voltou a ofender Clara. Esta, então, abriu sua bolsa e pegou um bem de cor preta.
Acreditando que Clara cumpriria sua ameaça, Maria desferiu um golpe na cabeça da rival,
utilizando um pedaço de pau que estava no chão. A perícia constatou que o golpe foi a
causa eficiente da morte de Clara. Posteriormente, também foi constatado que Clara, de
fato, estava com sua arma de fogo na bolsa, mas que ela apenas pegara seu telefone celular
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Penal 2ª Fase XXXIII Exame de Ordem
Direito Penal
A) Qual o recurso cabível da decisão proferida pelo magistrado? Caso tivesse ocorrido
a impronúncia, o recurso pela parte interessada seria o mesmo? Justifique. (Valor: 0,65)
B) Qual a tese de direito material a ser apresentada em sede de recurso para combater
GABARITO COMENTADO
A) A questão narra que Maria foi pronunciada pela suposta prática de crime de homicídio
pronúncia caberá recurso em sentido estrito, nos termos do Art. 581, inciso IV, do CPP. Caso
a decisão proferida pelo magistrado fosse de impronúncia, não haveria que se falar em
legislativa e, desde então, da decisão de impronúncia, por ser terminativa, caberá recurso
de apelação, assim como ocorreria na absolvição sumária, conforme previsão do Art. 416
do CPP.
B) A tese de direito material seria que Maria agiu em legítima defesa putativa, nos termos
do Art. 20, §1º do Código Penal (erro de tipo permissivo), tendo em vista que acreditava
estar atuando em legítima defesa. Isso porque Clara havia ameaçado Maria de morte caso
arma de fogo configuraria uma injusta agressão, pois, no mínimo, haveria excesso em sua
conduta. Caso, de fato, Clara tivesse pego, em sua bolsa, sua arma de fogo, configurada
na verdade Maria supôs situação que não existia, já que Clara apenas pegou seu celular para
realizar uma ligação. Diante disso, a atuação em legítima defesa foi apenas putativa
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Direito Penal
ITEM PONTUAÇÃO
A1) O recurso cabível da decisão de pronúncia é o recurso em sentido estrito
0,00/0,30/0,40
(0,30), conforme Art. 581, inciso IV, do CPP (0,10).
A2) Caso a decisão fosse de impronúncia, o recurso cabível seria de apelação
0,00/0,15/0,25
(0,15), conforme previsão do Art. 416 do CPP (0,10).
B) A tese de direito material seria que Maria agiu em legítima defesa putativa
0,00/0,15/0,25/0,35/
(0,15), estando amparada por descriminante putativa OU erro de tipo permissivo
0,45/0,50/0,60
(0,35), conforme Art. 20, §1º do CP (0,10).
Ao chegar a um bar, Caio encontra Tício, um antigo desafeto que, certa vez, o havia
ameaçado de morte. Após ingerir meio litro de uísque para tentar criar coragem de abordar
Tício, Caio observou que seu desafeto bruscamente pôs a mão por debaixo da camisa,
momento em que achou que Tício estava prestes a sacar uma arma de fogo para vitimá-lo.
Em razão disso, Caio imediatamente muniu-se de uma faca que estava sobre o balcão do
bar e desferiu um golpe no abdome de Tício, o qual veio a falecer. Após análise do local por
peritos do Instituto de Criminalística da Polícia Civil, descobriu-se que Tício estava tentando
B) Supondo que, nesse caso, Caio tivesse desferido 35 golpes na barriga de Tício, como
deveria ser analisada a sua conduta sob a ótica do Direito Penal? (Valor: 0,60)
GABARITO COMENTADO
A) Não, pois atuou sob o manto de descriminante putativa, instituto previsto no art. 20,
parágrafo 1º do CP, uma vez que supôs, com base em fundado receio, estar em situação de
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Direito Penal
legítima defesa. Como se limitou a dar uma facada, a sua reação foi moderada, não havendo
B) Ainda que tenha procurado se defender de agressão que imaginou estar em vias de
ocorrer, Caio agiu em excesso doloso, devendo, portanto, responder por homicídio doloso,
ITEM PONTUAÇÃO
A) Não, pois atuou sob o manto de descriminante putativa, uma vez que supôs estar
em situação de legítima defesa, (0,5) nos termos do artigo 20, §1º, do CP (0,15). 0,00/0,50/0,65
Obs.: A mera indicação do artigo não é pontuada.
B) Ainda que tenha procurado se defender de agressão que imaginou estar em vias
de ocorrer, Caio agiu em excesso doloso (0,45), na forma do artigo 23, parágrafo 0,00/0,45/0,60
único, do CP (0,15).
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