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MONTE APRAZÍVEL
BACHARELADO EM DIREITO
MONTE APRAZÍVEL
2022
VICTOR MASSAYUKI KOGA AUGUSTO
MONTE APRAZÍVEL
2022
VICTOR MASSAYUKI KOGA AUGUSTO
BANCA EXAMINADORA
_______________________________Prof.(a) Dr.(a)
_______________________________Prof.(a) Dr.(a)
MONTE APRAZÍVEL
2022
A TEORIA DE DOMÍNIO DO FATO E SUA APLICABILIDADE NO
SISTEMA JUDICIÁRIO BRASILEIRO
RESUMO
O presente artigo visa a análise da Teoria do Domínio do Fato no sistema judiciário
brasileiro, contemplando questões que envolvam a resolução de problemas acerca
da autoria delitiva. A teoria do domínio do fato expandiu o conceito de autor para
atingir aqueles mais distantes, o autor intelectual, dessa maneira por meio de
levantamentos bibliográficos que envolvam artigos jurídicos, revistas jurídicas e na
legislação, busca-se por meio do método dedutivo chegar a um diagnóstico em
como a Teoria do Domínio do Fato se comporta no ordenamento jurídico brasileiro,
objetivando um parecer real sobre o tema.
INTRODUÇÃO
portanto, é a nota distintiva entre esta teoria e as que lhe antecedem, sendo
posteriormente foi lapidada por Claus Roxin 3 que teve como objetivo complementar
as teorias restritivas do conceito de autor, partindo da fragilidade e intangibilidade
das lacunas que a Teoria de Welzel havia deixado.
2
Hans Welzel foi um jurista e filósofo alemão, considerado o pai da Teoria Finalista da Ação, adotada
pela reforma da Parte Geral do Código Penal Brasileiro de 1984, nascido em 25 de março de 1904,
em Artern, na Alemanha.
3
Claus Roxin é um jurista alemão, detentor de doutorados honorários conferidos por 17
universidades no mundo, nascido em Hamburgo, norte da Alemanha, em 15 de maio de 1993.
A princípio, na visão de Welzel, o sujeito que executa direta, voluntária, e
conscientemente do que resulta ao final do fato, que têm domínio da execução e da
decisão, atendido a todos os pressupostos objetivos e pessoas dispostas. 4
Em contrapartida, Claus Roxin, jurista alemão, elucida com uma estrutura
absolutamente inovadora e original a de Welzel a teoria do domínio do fato, em sua
obra intitulada “Taterschaft und Tatherrschaft" em tradução livre em português
“Perpetração e Tirania”. Obra que se enraizou pelo contexto histórico do momento,
onde demonstrava o anseio pela justiça aos crimes praticados contra os judeus por
oficiais e soldados do partido nazista, época em que o nazismo ainda se encontrava
no poder. Nesta época, os tribunais consideravam os oficiais apenas partícipes, de
modo que, essa obra foi um marco, onde desenvolveu-se a teoria tratada antes por
Welzel com algumas variações, causando grande impacto em toda a Europa. Roxin
se opõe excluindo que a ideia de domínio do fato seja um conceito indeterminado,
colocando-a como uma possível solução para sanar as questões de autoria.
Tendo como concepção o autor como a figura principal do fato ilícito, que
media, mesmo que por fora, sendo aquele que possui o domínio da ação
desempenhando um papel fundamental e decisivo para a prática do crime.
O Código penal brasileiro adotou a teoria restritiva objetivo-formal, onde
ocorre a diferenciação entre autoria e participação, sendo o autor quem pratica o
núcleo do tipo e partícipe é aquele que contribui de outra forma, não praticando o
núcleo do tipo.
A teoria do domínio do fato surge como um complemento para a teoria
restritiva, para que juntas possam preencher as lacunas encontrando uma solução
acerca dos demais casos de autoria e participação.
CONCEITO
O campo do direito penal representa uma busca para assegurar que o mínimo
ético exista para que uma sociedade prospere, desse modo, a evolução do concurso
de pessoas no ordenamento jurídico acompanha os avanços mundiais da
sociedade, representando um subproduto de uma dogmática norteada para as
4
ALFLEN, 2014, p.9
consequências, em busca de eficiência na repreensão tratando-se das novas formas
de criminalidade. A partir do surgimento de novas questões, como a teoria do
domínio do fato, foram originadas neste instituto jurídico que vem sendo expandido
nas últimas décadas diante a necessidade em frente às mudanças de paradigmas
da sociedade pós-moderna.
Aflorou a necessidade da criação de regras singulares que se voltem para o
combate da criminalidade organizada, com estruturas semelhantes à forma pré-
mafiosa, uma vez que o conceito de crime organizado, está mais complexo tendo
diversos elementos que o compõem, quais sejam, estrutura empresarial semelhante
às das grandes empresas, ou seja, possuindo planejamento empresarial, poder
econômico-financeiro, fachada legal, demanda de mercado, corrupção e alto poder
de intimidação, procurando expandir sua atuação em todo território nacional e além
das fronteiras.
A teoria do domínio do fato, como toda teoria jurídica, direta ou indiretamente,
o deve ser, é uma resposta a um problema concreto. A aplicação desta teoria ocorre
somente nos crimes dolosos, tendo em vista que, nos crimes culposos, percebemos
necessariamente que nesse tipo de conduta o agente não quer o resultado, portanto
não pode ter domínio final sobre algo que não deseja 5.
Conforme BITENCOURT 6, a teoria do domínio do fato parte de um conceito
restritivo do autor, ou seja, tem a pretensão de sintetizar os aspectos objetivos e
subjetivos. Embora o domínio do fato suponha um controle final total, não há de se
requerer somente finalidade, mas também uma posição objetiva que determine o
efetivo domínio do fato.
O domínio do fato como expressão da ideia reitora da figura central do
acontecer típico manifesta-se, por sua vez, de três formas concretas, a saber: o
domínio da ação, o domínio da vontade, e o domínio funcional do fato. 7
5
CAPEZ, 2004, p. 319
6
BITENCOURT, 2013, p. 559
7
GRECO et al., 2014, p.
outrem, ou mesmo em erro de proibição inevitável determinado por um terceiro,
sendo ainda assim autor do fato típico, ainda que não necessariamente o único.
O domínio da vontade ocorre quando um terceiro é reduzido a mero
instrumento. Esse domínio é próprio do autor imediato e pode se dar por três razões
segundo propõe GRECO et al. citando Roxin.
A primeira é pela coação, sendo chamado por ele de Princípio da
Responsabilidade ao relevar o sujeito da frente em certos casos de coação, como
expresso no artigo 22 do Código Penal que possui a seguinte redação: “Se o fato é
cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não
manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da
ordem.”
Posteriormente, o erro é também um dos motivos em que o terceiro pode ser
reduzido a um instrumento, este pode ser dar desde o erro de tipo até o erro de
proibição evitável.
E a terceira forma de autoria mediata vai além do domínio sobre a vontade de
um terceiro por meio de erro ou de coação, propõe Roxin, de forma original, que se
reconheça a possibilidade de domínio por meio de um aparato organizado de poder.
Isso significa que pessoas em posições de comando em governos totalitários ou em
organizações criminosas ou terroristas são autores mediatos, o que está em
conformidade não apenas com os parâmetros de imputação existentes na história,
como com o inegável fato de que, em estruturas verticalizadas dissociadas do
direito, a responsabilidade tende não a diminuir e sim a aumentar em função da
distância que se encontra um agente em relação ao acontecimento final.
TEORIA UNITÁRIA
8
ALFLEN; BITENCOURT, C. R.; FRAGOSO, H. C.
maneira, no sistema supracitado, a forma e a intensidade da contribuição de cada
um dos concorrentes são relevantes apenas na aplicação da pena. 9
Pode-se afirmar que esse sistema é aquele que iguala todas as contribuições
causais para o delito prevendo marcos penais idênticos para todos sujeitos e
continua prevendo os mesmos marcos penais para as diferentes formas de
intervenção. Sendo as diferenças no grau de participação de cada um levada em
consideração pelo juiz no momento de aplicação da pena. 10
Nesta teoria fica expresso que crime praticado por pessoas distintas em
conjunto não deixa de ser um crime. Logo, tanto os autores quanto os partícipes
respondem pelo mesmo crime. Não há que se distinguir autor, partícipe, instigador
ou cúmplice, sendo todos coautores do crime.
Há uma dificuldade quando levantada o seguinte princípio da teoria citada,
quando aquele que aperta o gatilho está junto aquele que empresta a arma, e
também a quem instiga a “matar”, em todos os casos poderiam ser tratados como
homicidas. Sendo que a dificuldade é que quem empresta a arma tem sua pena
fixada a partir do mesmo marco homicida.
TEORIA DUALISTA
9
GRECO, 2014, p. 51
10
LEITE, 2016, p. 34
11
GRECO, 2019, p. 460.
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas
a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984) § 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de
crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será
aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais
grave. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
TEORIA PLURALÍSTICA
12
NUCCI, 2017, p. 348
13
BITENCOURT, 2002, p. 377
A TEORIA DO DOMÍNIO DO FATO E O CÓDIGO PENAL BRASILEIRO
19
BITENCOURT, 2012, p 549.
20
FERNANDES, 2019
DO VÍNCULO PSICOLÓGICO ENTRE OS AGENTES – IN DUBIO
PRO REO - ART. 386, VII, DO CPP - ABSOLVIÇÃO DECRETADA -
RECURSO PROVIDO. A livre convicção do julgador, sobretudo na
esfera penal, deve sempre se apoiar em dados objetivos
indiscutíveis. O ônus da prova acerca da existência quanto à certeza
da autoria do fato criminoso cabe à acusação. Não o fazendo, como
no caso presente, torna-se imperiosa a absolvição do apelante, em
respeito ao postulado constitucional da presunção de inocência. O
artigo 29 do Código Penal exige a cooperação no plano da relevância
causal, sem que se possa afastar a exigência do vínculo psicológico,
ainda que se trate de participação, a conduta do partícipe deverá
estar sempre, necessariamente, atrelada ao propósito que anima os
demais coautores, seja com fulcro na teoria restritiva, adotada
pelo Código Penal, ou na teoria do domínio do fato,
amplamente aceita na jurisprudência pátria. A insuficiência
probatória em relação à participação do apelante no crime enseja a
absolvição com fulcro no art. 386, VII, do CPP. (Ap 183433/2015,
DES. JUVENAL PEREIRA DA SILVA, TERCEIRA CÂMARA
CRIMINAL, Julgado em 16/03/2016, publicado no DJE 22/03/2016)
(TJ-MT - APL: 00147332620128110015 183433/2015, Relator: DES.
JUVENAL PEREIRA DA SILVA, Data de Julgamento: 16/03/2016,
TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 22/03/2016)
Figueiredo Dias explica a razão pela qual homem de trás, nessas circunstancias,
deve ser visto como autor:
(...) Existem “organizações” ou “centros organizados de poder” que,
estruturados hierarquicamente e dotados de uma forte disciplina
interna, assumem um modo de funcionamento quase “automático” e,
nessa medida, adquirem a natureza de meros “instrumentos” que
reagem de forma mecânica às ordens ou instruções de seus chefes.
Dada a grande disponibilidade de meios de tais organizações, o
concreto executor do crime apresenta-se, por isso, como elemento
fungível, que, mesmo quando atue com culpabilidade dolosa, em
nada afeta o domínio do fato do homem de trás.23 (DIAS, p. 356)
21
SILVA SÁNCHEZ, 2010, p. 29
22
MORAES, 2015, p. 35
23
DIAS, p. 356
internacionalidade de sua atuação. Já há, todavia, sinais claros de uma expansão da
organização para fora das fronteiras brasileiras na busca do domínio de rotas de
tráfico, maximização dos lucros e poder.
No interior da estrutura criminosa há um verdadeiro maquinário de pessoas à
disposição do homem de trás, em regras autorresponsáveis. Além disso, a estrutura
possui tamanha eficiência que, mesmo na hipótese de um dos executores materiais
se negar a concretizar a ordem, é certo que outro lhe substituirá prontamente, como
uma simples engrenagem irreverente trocada. É por essa razão que Roxin diz que
os executores são dotados de fungibilidade, pois facilmente substituíveis. Já o
terceiro critério é o alvo mais frequente de críticas, mesmo entre os partidários da
teoria.
ABSTRACT
This article aims at the analysis of the Theory of the Dominion of the Fact in the
Brazilian judicial system, contemplating issues involving the resolution of problems
about the delinquent authorship. The dominium do Fato theory has expanded the
concept of author to reach those more distant, the intellectual author, in this way
through bibliographic surveys that involve legal articles, legais magazines and
legislation, it is sought through the deductive method to reach a diagnosis on how the
dominium do Fato Theory behaves in the Brazilian legal system, aiming at a real
opinion on the theme.
Nota(s) explicativa(s)
REFERÊNCIAS
BITENCOURT, C. R. Tratado de Direito penal: parte geral. v. 1. 14. ed. São Paulo:
Saraiva, 2009;
BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de direito penal: parte geral. 7. ed. São
Paulo: Saraiva. 2002
BRANDÃO, C. Curso de Direito penal: parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 2008;
CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal, volume 1: parte geral; 7 ed. – São
Paulo: Saraiva, 2004.
FRAGOSO, H. C. Lições de Direito penal: parte geral. 15. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 1995;
GRECO, L., TEIXEIRA, A. Autoria como realização do tipo: uma introdução à
ideia de domínio do fato como o fundamento central da autoria no Direito penal
brasileiro. In: