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REALIZAÇÃO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E A JURISPRUDÊNCIA EM

PERSPECTIVA HISTÓRICA

IMPLEMENTATION OF FUNDAMENTAL RIGHTS AND JURISPRUDENCE IN


HISTORICAL PERSPECTIVE

Maria Cristina Cereser Pezzella *


Cristhian Magnus De Marco **

RESUMO

O artigo que se edifica é construído por duas mentes que se propõem discutir questões
fundamentais, como: a força viva da jurisprudência que costura princípios abstratos com
conflitos existentes na sociedade e que são levados aos magistrados. Compreender o papel da
jurisprudência nos dias de hoje comporta um repensar de sua importância histórica. A
valorização da jurisprudência tem recebido, por parte dos pensadores, graus e dimensões
diferentes no que se refere à cultura e à maneira de ver o direito e o seu processo de
construção. Este artigo buscou demonstrar a importância do estudo do caso concreto e tem por
objetivo instigar o leitor que por via dos casos da vida se formam abstrações e esta abstração
faz nascerem modelos, assim ao se focar nos novos casos que surgem na sociedade a cada dia
se constroem novos modelos e novas abstrações são construídas.
Palavras-chave: Jurisprudência; Direitos Fundamentais; Precedentes.

* Advogada. Doutora em Direito pela Universidade Federal do Paraná – UFPR (2002). Mestre em Direito pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS (1998). Graduada em Direito pela Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS (1988). Professora e pesquisadora do Pós-Graduação em Direito da
Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC. Coordenadora/Líder do Grupo de Pesquisas (CNPq)
intitulado “Direitos Fundamentais Civis: A Ampliação dos Direitos Subjetivos” - UNOESC. Avaliadora do
INEP/MEC e Supervisora do SESu/MEC. E-mail: crispezzella@uol.com.br
** Professor e pesquisador da Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC. Mestre em Instituições
Jurídico-Políticas pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Doutor em Direito na Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS. E-mail: cristhian.demarco@unoesc.edu.br
ABSTRACT

The article is built of two minds that propose to discuss key issues, such as life force of law
that seam abstract principles in society and conflicts that are brought before the magistrates.
Understanding the role of law today involves a rethinking of its historical importance. The
appreciation of the case has received, by the thinkers, different degrees and dimensions in
relation to culture and way of seeing the law and its construction process. This article sought
to demonstrate the importance of studying the case and aims to entice the reader through the
life cases that form abstractions wich create models , so by focusing on new cases that arise in
society at every day this construct new models and new abstractions are built.
Keywords: Jurisprudence; Fundamental Rights; Precedent.

INTRODUÇÃO

A importância da jurisprudência na construção do Direito vivo é essencial às


sociedades contemporâneas. Compreender como a jurisprudência foi no período intitulado
Direito Romano requer uma disposição em mergulhar numa cultura que deixou mais do que
aquedutos, mas verdadeiras fontes que merecem ser estudadas com vistas a reconhecer a
estrutura daquele período e quais os pilares que ainda hoje podem ser visualizados nos
institutos e estruturas atualmente existentes, assim como as alterações substanciais
construídas ao longo do tempo.
O artigo que se edifica é construído por duas mentes que se propõem discutir
questões fundamentais, como: a força viva da jurisprudência que costura princípios abstratos
com conflitos existentes na sociedade que são levados aos magistrados. Estes conflitos ao
serem decididos na esfera judicial revelam o retrato da sociedade que captam quais são os
calcanhares de Aquiles.
Elaborado em duas partes, a primeira enfrenta as questões atinentes a jurisprudência
como fonte no Direito Romano e, a segunda, a jurisprudência como fonte no Direito
brasileiro.
O objetivo deste texto não pode ser cumprido sem um esclarecimento preliminar. De
um modo geral, a jurisprudência pode ser denominada como a ciência do justo e do injusto
(iusti atque inusti scientiae, Ulpiano, 1, 10, §2º, D. I, 1), nesse sentido, é fonte do direito num
sentido mais amplo possível1 (RAO, 1981). Na segunda parte deste trabalho, contudo, voltar-
se-á à jurisprudência como fonte de norma jurídica, vinculante (rerum perpetuo similiter
iudicatorum auctoritas), com força de lei. As mudanças realizadas na Constituição brasileira
de 1988 foram decisivas para que a jurisprudência deixasse de ser uma fonte mediata,
informativa ou indireta da norma jurídica, devendo hoje ser considerada uma fonte direta.

1. JURISPRUDÊNCIA COMO FONTE DESDE O DIREITO ROMANO

Compreender o papel da jurisprudência2 (SCHULZ, 1990, p. 128-129) nos dias de


hoje comporta um repensar de sua importância histórica. A valorização da jurisprudência tem
recebido, por parte dos pensadores, graus e dimensões diferentes no que se refere à cultura e à
maneira de ver o direito e o seu processo de construção. Savigny3 (1979, p. 30) alerta que a
jurisprudência se compreende frente a um conhecimento histórico prévio. Refere o autor que
isto não deve ser entendido no sentido da investigação da história na produção da
jurisprudência e sim, da sua inserção no contexto.
Na tradição continental europeia, até o período que antecedeu a codificação francesa,
detinha como característica a solução de casos concretos como estrutura. Esta estrutura vai
sofrer uma ruptura com o processo de codificação dos direitos civis, assim advoga Paolo
Grossi (1995).
Diverso do ocorrido com a Inglaterra4 (CENTRAL OFFICE OF INFORMATION,
1989, p. 36), que mantém a tradição de sua estrutura de construção do direito com base na
solução dos casos concretos, e por esta tradição, manteve uma proximidade maior com o
direito romano do que os países europeus continentais5 (DAVID, 1986).
O direito romano valorizava a solução dos casos concretos; realizar o direito era
solucionar um conflito real e existente, num dado momento, em uma dada comunidade,
envolvendo determinadas pessoas. Cada caso concreto era um mundo sob o qual deveria o
jurista meditar e buscar a solução mais justa, compreendendo como justo, um justo real, para
o caso concreto, e não um justo ideal, improvável, inexistente e inatingível. García descreve
que surgiu:
[…] un grupo de conocedores, los iuris prudentes os juristas, dedicados a tal
scientia, que, entre otras actividades desempeñabam la de consejeros que aclaraban,
cuando eran requeridos por un particular, un magistrado o un juez, las oscuridades
existentes sobre un determinado punto, y resolvían los problemas de armonización
de unas fuentes con otras o los de aplicación de una norma a un caso concreto. Es
decir, interpretaban. (GARCÍA, 1996, p. 83).

Com o advento da codificação dos direitos privados o estudo do direito se funda em


outros paradigmas, perdeu-se, com esta nova forma de pensar, o antigo modo de se meditar o
direito alicerçado nos conflitos concretos. Recuperar o método do estudo do direito fundado
no caso concreto e tecer em conjunto com os conhecimentos abstratos que foram estruturados
e sistematizados pela era da codificação, da constitucionalização dos direitos e das legislações
específicas na esfera interna e internacional, é o desafio que este estudo pretende abraçar 6
(TEPEDINO, 2000, p. 8).
Relevante é fazer a referência histórica e incorporá-la, à medida e na proporção que ela
possa ser útil à sociedade. Evidente que devem ser respeitadas as devidas especificidades que
cada momento histórico exige. Por esta razão, é oportuno referir que já no final da República
romana, diversas foram as magistraturas que contribuíram para a formação e o desenvolvimento
do Direito romano. Naquela época os jurisconsultos (estudiosos do direito), cuja autoridade7
(CRITELLI apud HEIDEGGER, 1981, p. 72) era reconhecida a partir da sua capacidade de
elaboração do direito, eram os responsáveis pela produção de novas fórmulas, não sendo objeto
de atividade dos magistrados8 (JÖRS; KUNKEL, 1965, p. 30). Esses jurisconsultos raras vezes
atuavam diretamente na solução dos casos concretos. As fórmulas por eles criadas eram
utilizadas por um novo agente, o advogado, cuja capacidade profissional, mais desenvolvida,
era baseada na retórica e não, no conhecimento jurídico (SCHULZ, 1953, p. 54). Naquela
oportunidade, advogados, magistrados e jurisconsultos tinham em comum sua origem
aristocrática, contudo sua atuação e seus interesses seguiam lógicas diferentes.
Os advogados formam um novo tipo de profissional do direito, cuja atuação ocorria
apenas diante do magistrado. A capacidade de oratória e da argumentação fazia parte da
formação desenvolvida pelo advogado, incluía-se também o aprendizado de um mínimo
conhecimento de direito, necessário apenas para a compreensão das fórmulas elaboradas pelos
jurisconsultos (SCHULZ, 1953, p. 108). Diferente dos dias de hoje em que os advogados são
peças importantes no cenário político e efetivos guardiões dos direitos fundamentais
individuais, sociais e coletivos. A existência do advogado na produção da jurisprudência
romana não pode ser entendida como o total abandono da formalidade do direito. A
formalidade foi, progressivamente, sendo atenuada, ganhando importância crescente a retórica
dos advogados na solução dos casos na medida em que convenciam, por meio da
argumentação, os magistrados a aceitarem os formulários por eles defendidos.
Os magistrados ocupavam inicialmente cargos públicos não remunerados para
ascenderem em uma carreira política, aumentando seu prestígio na sociedade e seu poder de
influência nos assuntos militares, políticos e econômicos de Roma, na medida em que
pudessem ocupar um lugar nas mais altas magistraturas.
A atividade dos jurisconsultos exteriorizou-se com: o respondere, cavere e agere. O
respondere consistia na opinião emitida a consultas sobre a interpretação de um instituto, ou
sobre os direitos e as obrigações que eram estabelecidos pela lei ou pelo costume. Cavere
significava a preparação de esquemas ou esboço de negócios concretos. Agere correspondia à
assistência na escolha e adaptação de formulários processuais aos interesses dos particulares
em cada caso concreto (GARCÍA, 1996, p. 91).
O compromisso dos jurisconsultos era com o direito e não com causas ou clientes.
Eram profissionais remunerados, e as fórmulas por eles elaboradas pretendiam representar o
direito e não qualquer interesse em disputa. Eles levavam em consideração na elaboração das
novas fórmulas apenas a autoridade9 para criar e modificar o direito a partir de sua
fundamentação lógica (SCHULZ, 1953, p. 60).
A tradição romana foi estruturada sob a realização da justiça para os casos concretos.
As fórmulas elaboradas pelos jurisconsultos tinham pouca ou nenhuma preocupação em
definir conceitos fundamentais do direito. A elaboração das fórmulas dos jurisconsultos e seu
registro ocorreu apenas por meio dos edicta dos magistrados, tornando a jurisprudência desse
período uma criação coletiva e não individual (SCHULZ, 1953, p. 60). Os jurisconsultos mais
destacados deixaram seu nome na história da jurisprudência romana, e não em função da sua
produção de direito, mas da autoridade a eles atribuída.
O direito romano no período identificado como helenístico,10 quando a cultura
romana recepcionou da cultura grega a retórica, a dialética e o silogismo para a solução dos
conflitos levados aos magistrados, fez surgir novos agentes na produção da jurisprudência.
Consolidou-se a tendência do período anterior, intitulado como: clássico11 (KASER, 1999, p.
20). Nesse momento histórico, a produção dessas novas fórmulas não era objeto da atividade
do magistrado, mas de jurisconsultos estudiosos do direito, cuja autoridade era reconhecida a
partir da sua capacidade de elaboração do direito.
Conforme Papiniano, o direito honorário ou pretoriano foi introduzido pelos pretores
com o propósito de corrigir ou suprimir o ius civile12 (BRETONE, 1990, p. 83). De acordo
com este novo sistema, competia ao magistrado guiar as partes, controlar seus atos, expor as
controvérsias que haviam de se submeter ao juízo dos tribunais ou dos árbitros, assumindo,
assim, diante das normas que desde antes regulavam, rigidamente, toda sua atividade e as das
partes, poderes de singular amplitude. A função normativa passou a ser confiada aos pretores:
urbano e peregrino, ambos atuavam, num certo sentido, tal qual um legislador13 (PEZZELLA,
1998, p. 82).
O direito honorário ou pretoriano possuía, inclusive, condições de produzir um
conjunto de normas genéricas elaboradas pelo titular da iurisdictio. Todo o magistrado romano
detinha a faculdade de promulgar edicta. Primeiramente, as detinham os cônsules, aplicando-a
no exercício do poder militar e civil, convocando comícios, reunindo o Senado e também
ordenando o recrutamento, além de outras atribuições. O pretor urbano, no exercício do ius
edicendi, teve em seu edito um valor paradigmático, não se esgotando em manifestações
ocasionais, pois obteve inclusive o êxito original e duradouro. Os edicta pretorianos regulavam
a atividade jurisdicional e foram uma importante fonte do direito, por isso mereceriam maior
estudo. O caráter das normas continham promessas de concessão de ações e exceções
processuais, fundadas no ius civile ou em situações de fato. Por esta razão, muitas das
transformações significativas foram introduzidas pelos pretores. De acordo com regras fixas, o
novo pretor eleito publicava um álbum com princípios aos quais se ajustava durante todo o
exercício do cargo, que era cumprido por um ano, o edictum perpetuum. Esses álbuns passavam
a serem perpétuos, no sentido usual conferido à palavra hoje, uma vez que as máximas que
eram úteis transmitiam-se de pretor a pretor, formando um corpus tradicionalmente intangível,
mas ele difere da codificação que passou a ser conhecida só após a Revolução Francesa.14
Completou-se totalmente esse desenvolvimento na época republicana, perdendo o
pretor a atividade inovadora somente no início da época imperial, exceto quando requerida de
tempos em tempos pelos senatus consulta e pelos editos imperiais. O pretor urbano, aplicando
o ius às relações controvertidas submetidas a sua iurisdicto, dispôs de um amplo poder
discricional, que lhe permitiu adotar critérios de solução alicerçados em princípios diversos,
mas principalmente, na aequitas15 (MENEZES CORDEIRO, 1984, p. 114). Esta atividade
criadora não se opunha ao ius civile, mas o desenvolvia, suprindo suas lacunas e corrigindo
abusos e injustiças que, por sua aplicação, pudessem afetar o cidadão. A partir dessa prática,
desde o século II A.C., já que as assembleias populares não produziam as reformas
necessárias mediante a promulgação de leges publicae, criou-se lentamente uma nova fração
do ordenamento o ius praetorium ou ius honorarium.
O tribuno da plebe16 (MOMMSEN, 1942, p. 233-236) foi um dos responsáveis pela
cristalização da jurisprudência romana dada as suas características singulares diante dos
outros magistrados, como o fato de este não poder se ausentar da região à qual tinha sido
escolhido e diante das limitações a ele impostas, como de não deter poderes para declarar a
guerra ou celebrar a paz. Os critérios para escolha do tribuno da plebe podem ainda ser
identificados no direito contemporâneo, seu papel na história da cultura jurídica serviu
inclusive de referencial para conferir a moldura sob a qual se construiu o magistrado
contemporâneo, assim como os requisitos para escolha do chamado quinto constitucional em
que um dos requisitos é o mesmo já definido pelos romanos, isto é, ter servido Roma por mais
de dez anos.
Com a passagem do apogeu da criação jurisprudencial, o Império romano vai
experimentar uma necessidade de reunir o conhecimento já elaborado no período identificado
como clássico, e o papel dos senadores romanos sofre uma considerável perda de poder e,
com isso, também a magistratura, que vai perdendo prestígio, poder e legitimidade.
Como num movimento pendular, o que se inicia é o crescimento de um tipo de
função que inicialmente não existia: a figura do advogado remunerado pelo Estado romano17
que vai atender apenas aos interesses de quem comanda, uma vez que sua função só existe
para atender ao interesse de quem administra o Império romano, que também deixa de
conhecer o seu ápice do ponto de vista econômico.
A figura do profissional remunerado e dependente da estrutura do Estado romano faz
nascer uma forma diferente de compreender o direito romano fundado na jurisprudência do
caso concreto, que pouco a pouco, estrutura-se sob o poder de editar normas imperiais, e,
assim, retira a mobilidade potencial da estrutura anterior. A figura deste novo profissional é
diferente do homem livre para pensar e sua função deixa de ser temporária e eletiva; esta nova
figura inclusive está economicamente subordinada a atender aos interesses que advoga, do
Império romano decadente e com poucas condições materiais para atender a toda a grande
área territorial conquistada, além da pressão que a estrutura que governa passa a sofrer frente
à renúncia, à perseguição religiosa e a manifestação e adesão ao cristianismo, que passa a
pregar a igualdade fazendo com isso ruir, definitivamente, os alicerces romanos fundados na
diferença. Os profissionais deixam as antigas estruturas profissionais para fazer parte da
estrutura da Igreja ou do Estado romano.
A função desse novo profissional é relembrar a glória vivida por seus antepassados e
citar a obra que lhe antecede; é em virtude deste seu trabalho que muito da jurisprudência
clássica chegou até nossos dias, mas também muito se perdeu porque, sob o argumento da
autoridade,18 o que não servia para o momento foi deixado à margem. Foi sob esse caldeirão
cultural que se desenvolveu o direito romano, ele mais do que um grande caldo cultural, foi
uma verdadeira colcha de retalhos capaz de viver uma tênue harmonia conhecida em
pequenos espaços de tempo e em parcelas de seu grande império, consistiu num vulcão
alterando momentos de erupção com temperança. O direito romano foi múltiplo, porque a
todo o momento em que se busca este direito se deve inquirir de que direito se trata, em solo,
romano ou não, envolvendo romanos, homens livres ou não, e qual o objeto deste litígio.
Compreender o direito romano é um exercício feito num labirinto onde todo
momento se encontram incógnitas a serem decifradas para que novas passagens possam se
abrir e novas incógnitas se apresentem e possam ser novamente decifradas, num mosaico de
descobertas que imitam o desenho de um calidoscópio, que se faz novo a cada momento em
que se muda uma pequenina peça de seu enorme universo, ou, apenas, ao serem reagrupadas
as peças existentes. Provavelmente o direito romano continua sendo objeto de estudo pela sua
característica invulgar de que mesmo tão distante no tempo possa ainda manter um elo tão
profundo com o momento atual que vive a chamada sociedade da informação.
Grosso (1955) sustenta que as transformações não são cumulativas, mas deixam suas
marcas e para se compreender melhor a sociedade contemporânea se exige do investigador
um estudo histórico. Sintetiza o autor seu pensamento assim:

La storia presenta una continuità in cui è pur sempre arbitrario fissare delle date
iniziali e finali. D'altra parte essa presenta pure una varietà, tutto un fluttuaredi
elementi sociali, che importa trasformazioni. Il giurista, che coglie nella struttura
sociale l'unità e organicità di un ordinamento giuridico, che valuta nel complesso di
enti sociali la molteplicità di ordinamenti giuridici e ne definisce i rapporti, che
individua i caratteri di una organizzazione politica e ne segue le vicende, segnerà
unità e pluralità, multiplicità, fusioni, estinzioni, estinzioni, sucessioni. (GROSSO,
1955, p. 3).19

Todavia, antes mesmo de se tratar o período contemporâneo faz-se necessário


compreender a ruptura causada pela codificação dos direitos civis, um momento histórico em
que se rompe com a pluralidade das fontes do direito medieval e se constrói a estrutura do
direito sob o alicerce da lei.
Após a Revolução Francesa os juízes foram associados ao Antigo Regime, por esse
motivo, a tarefa da atividade jurisdicional deveria ser restrita à aplicação do Código. Essa
recomendação influenciou especialmente os ordenamentos jurídicos da família romano-
germânica, sugerindo que a atividade do juiz não fosse além da subsunção da lei aos fatos
envolvidos no caso concreto.
Posteriormente, algumas doutrinas como a do direito livre e a jurisprudência dos
conceitos (LARENZ, 1991, p. 261 et seq.) apresentaram críticas às orientações oitocentistas.
O intuito dessas novas teorias foi superar a frieza dos exegetas e pandectistas, conciliando os
ideais do positivismo jurídico com as necessidades casuísticas de aplicação do direito.
No Século XX, Hans Kelsen verifica e admite a jurisprudência como verdadeira
fonte de normas jurídica, especialmente quando as decisões judiciais têm o caráter de
precedente, isto é, a decisão de um tribunal num caso concreto torna-se obrigatória para as
futuras decisões em casos similares20 (KELSEN, 1998, p. 216).

2. JURISPRUDÊNCIA COMO FONTE NO DIREITO BRASILEIRO

A categoria jurisprudência é utilizada de forma ambígua, podendo significar (a) a


ciência do direito, dogmática jurídica ou doutrina do direito; ainda, jurisprudência pode
denotar (b) a interpretação do direito praticada no âmbito do Poder Judiciário, normalmente
por tribunais superiores, as quais se tornam paradigmas para os casos semelhantes, de
observação obrigatória ou não, dependendo do contexto. Predomina na Itália a compreensão
de giurisprudenza como ciência jurídica ou teoria do direito. No mesmo sentido, os anglo-
saxões de jurisprudence.
No Brasil, jurisprudência já foi empregada com o significado de ciência ou teoria do
direito, como sugere a etimologia da palavra (MACHADO NETO, 1975). Consagrou-se o
entendimento de jurisprudência como “a reunião de decisões judiciais interpretadoras do
Direito vigente” (NADER, 2004, p. 165), ou como o “conjunto de reiteradas decisões dos
tribunais sobre determinada matéria.” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2007).
Colher a jurisprudência é uma obra que se assemelha a uma busca que se faz em um
mundo de fatos em que se escolhem alguns para discutir, dialogar, criticar e auxiliar na
construção de caminhos que levem em conta o que de fato é importante, o mundo dos fatos,
considerando-se os valores até o presente momento. A cultura de uma época se constrói numa
constante interpretação e reinterpretação de suas normas que, ao serem elaboradas, guardam
um pé no passado e ouro no futuro, respeita tradições que merecem serem mantidas, como
aquelas que serão substituídas, lapidadas e aprimoradas em um mundo que se faz como um
diálogo constante.
O papel desempenhado pela sociedade na construção do direito se faz de diversas
maneiras diferentes e envolvendo os agentes nesse processo de sedimentação e
aperfeiçoamento; não é trabalho exclusivo de um grupo de iniciados pelos meios acadêmicos
nos estudos jurídicos, e também não se cinde a estes interlocutores, mas os transcende. A obra
se faz num processo constante em que os agentes são vários e dos mais diversos matizes. As
ações culturais que atingem um grupo abrangente de pessoas, muitas vezes, tocam a todos
pela emoção ou fazem despertar para um sentimento, que estava anestesiado e a partir deste
despertar desencadeiam uma série de atitudes positivas.
Destaca-se que a construção do futuro e da jurisprudência sensível aos fatos da vida
se faz por força de uma pluralidade de esforços, como por exemplo: o advogado, os
representantes do ministério público, e os representantes do judiciário, mas principalmente,
por obra da coragem da parte que quer ver reparado o direito lesado ou ameaçado de lesão.
A construção da jurisprudência se faz via parte, advogados, ministério público e
magistratura atenta aos aspectos das lacunas estáticas e dinâmicas das normas21 (HECK,
1995, p. 186). O advogado22 é um dos grandes interlocutores sociais que atuam direto com a
malha social e que buscam junto ao Judiciário construir o direito por meio da jurisprudência,
preencher a inércia do Legislativo23 e as omissões do Executivo24 no que toca a produção
concreta do direito.
O juiz só pode construir o direito sob os ombros ao menos de um advogado, que
suficientemente sensível perceba, juntamente com o seu cliente, identificar o conflito e
mesmo que este ainda não tenha pronta resposta legal busque corajosamente o
reconhecimento do direito. Não se pode descuidar do papel preventivo, cada vez mais
importante que as áreas do conhecimento, também têm desempenhado na figura dos
advogados militantes quer na esfera privada, quer na esfera pública, onde atuam como
verdadeiros filtros com vistas a evitar que os litígios cheguem ao Judiciário.
Advogar caracteriza-se, também, pela função de catalisar e forçar a criação de
jurisprudência para ampliar as margens do direito legislado e reconhecido. Ultrapassada a
época em que o advogar limitava-se às características de um mero ser retórico, sem conteúdo
e que sem idéias próprias repetia as fórmulas construídas por jurisconsultos, como ocorreu em
certo período, no direito romano. O advogado é por natureza um provocador, controlador e
atento detetive que tudo ouve e vigia, mas que, pacientemente, realiza o que, por vezes, a
sociedade ainda não está preparada para enfrentar: a construção de um direito efetivo. O
mérito do advogado não esta nos processos em que sua tese é vencedora, necessariamente,
mas também naqueles em que questiona e demonstra a fragilidade na estrutura social, política
e jurídica para responder aos conflitos individuais, sociais e coletivos. Atua aqui como um
agente sinalizador da fragilidade da estrutura social para responder aos conflitos em que é
chamado a atender. A resposta da demanda, mesmo que, importantíssima, no momento
presente, para a construção do direito e sua efetiva realização, quando não reconhecida, passa
a ser secundária, pois demonstra a capacidade de identificar o problema, ainda pendente de
solução justa.
Advogar consiste num exercício constante e se caracteriza por uma atitude
permanente de estudar para, de maneira corajosa e audaz, buscar a construção do direito, não
se limita em repetir modelos anacrônicos, e dissociados da nossa atual realidade e do nosso
sistema jurídico vigente.
A cultura jurídica de um país se mede pela forma que ela resolve os seus conflitos: as
fugas, os artifícios, muitas vezes utilizados demonstram apenas a falta de uma cultura,
fundada na tradição, de se enfrentar o mérito das questões levadas a juízo. A construção da
cidadania, da cultura de um país se mede pela construção do direito nos Tribunais, assim
como fora deles. Significa dizer que, o desenvolvimento de uma cultura, ainda incipiente,
como a nossa de país do Cone Sul e continental é aferível pela espécie de demandas levadas a
juízo, assim como aquelas que são bem resolvidas, amigavelmente.
Atentar para a solução dos conflitos que não são levados a juízo não significa
diminuir a importância do papel do judiciário na nossa sociedade; ao contrário, significa um
grau de cultura jurídica mais firme que pode ser formada por pessoas maiores, senhoras de si,
e que cumprem aquilo a que se comprometem, buscando com auxílio de profissionais
qualificados, intermediários distantes do subjetivismo típico das pessoas envolvidas no
conflito.
Isso não significa deixar de atentar para um detalhe que não é insignificante, em que o
controle da justiça deve estar sempre centrado e protegido pelo poder público. Trata-se de um
bem e um serviço que devem estar sempre sob o olhar atento do interesse prevalentemente
público, não sendo possível a sua transferência real ou dissimulada para esfera particular.
É importante aqui diferenciar alguns elementos da estrutura da jurisprudência nos
principais sistemas do direito contemporâneo (DAVID, 1986). Desde o século XIII a tradição
anglo-saxônica tem por costume fazer referência aos casos semelhantes já decididos pelos
Magistrados (Case Law). Gradativamente o repertório de casos (reports) foi sendo
aperfeiçoado até que, no século XIX, restou consagrada a doutrina conhecida como stare
decisis (FERRAZ JÚNIOR, 1988, p. 220).
Formulada a partir da máxima latina “stare decisis et non quieta movere” (ficar com
as coisas decididas e não perturbar o que é pacífico), a doutrina do precedente está estruturada
em alguns fundamentos, tais como: (a) os tribunais inferiores estão vinculados aos
precedentes, quando estes ocorrem, e foram já foram objeto de decisões dos tribunais
superiores; (b) toda decisão de tribunal pode ser um argumento forte a ser levado em
consideração; (c) a ratio decidendi do precedente é o aspecto que vincula as próximas
decisões (FERRAZ JÚNIOR, 1988, p. 220). A partir dessas premissas, há variações na
aplicação da teoria do Stare Decisis, nos diferentes países de sua influência, por exemplo a
Austrália, o Canadá e Hong Kong, mas, por questão de delimitação de tema, não serão
enfrentadas aqui.
Um fator histórico relevante no desenvolvimento dessa doutrina é o importante papel
desempenhado pelo juiz na tradição da Common Law, o qual não tem uma carreira funcional,
mas, até hoje, é escolhido dentre os advogados que se destacam no exercício profissional,
recebendo prestígio e legitimidade social (DE MARCO, 2009, p. 243-274).
Ainda há, na praxis forense brasileira, o costume em denominar-se de jurisprudência
pacífica (ou dominante) o conjunto de decisões que acabam por prevalecer em face da
jurisprudência (corrente, posição) minoritária adotada pelos julgadores.25
Essa não vinculatividade dos juízes brasileiros aos precedentes foi modificada com a
Emenda Constitucional nº. 45/2004. O artigo 102, parágrafo 2º, da Constituição Federal de
1988 recebeu a seguinte redação:

Art. 102. § 2º. As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal
Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de
constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante,
relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública
direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal. 26

Nesses casos específicos de controle concentrado de constitucionalidade,


processados perante o Supremo Tribunal Federal (Ações Direitas de Inconstitucionalidade ou
Ações Declaratórias de Constitucionalidade), a decisão vincula todos os demais órgãos do
Poder Judiciário e também a administração pública.
Pode-se cogitar que, em referidas ações, o julgador teria tão somente um poder
legislativo negativo, limitando-se a identificar a compatibilidade de normas
infraconstitucionais em face da Constituição Federal. Não é assim que ocorre. O Supremo
Tribunal Federal admite o postulado da interpretação conforme a Constituição, cuja aplicação
destina-se a preservar uma norma infraconstitucional que expresse múltiplos significados,
atribuindo um sentido que a torne compatível com o texto da Constituição.27 E, ainda, de
caráter claramente normativo, são as decisões denominadas aditivas, conceituadas como
“aquelas que a Corte Constitucional declara a inconstitucionalidade de uma disposição, na
parte em que não expressa determinada norma, que deveria conter para ser compatível com a
Constituição.”28 (MENDES; COELHO; BRANCO, 2007, p. 118). Assim procedendo, a
jurisdição torna válida uma verdadeira norma, destinada a garantir a eficácia do texto
constitucional.
A súmula vinculante ampliou a responsabilidade e o papel do juiz ordinário no
exame do contraditório, pois nessa situação para identificar o efeito vinculante da súmula ele
deve examinar melhor o fato e aferir a circunstancias do caso concreto e verificar se naquele
caso sob exame é pertinente o uso da súmula vinculante fundamentando com base nos
princípios constitucionais ou afastando a sua aplicabilidade também de maneira
fundamentada. Por todas essas razões, a súmula vinculante valoriza a atividade jurisdicional
na esfera dos magistrados de primeiro grau.
O artigo 102, parágrafo 2º, da Constituição Federal está permitindo que o Poder
Judiciário vincule todos os demais órgãos jurisdicionais e a administração pública, por meio
de uma única decisão. Esse modelo distancia-se da concepção histórica de jurisprudência, na
qual seria importante um processo de pacificação de um entendimento sobre determinado
assunto.
Não há como negar que o sistema jurídico brasileiro recebe influência também do
modelo anglo-saxão. A utilização de súmulas é uma tentativa inconteste. Tradicionalmente as
súmulas, enunciados, orientações jurisprudenciais, prejulgados e outras denominações, são
fórmulas concisas para expressar um entendimento que se consolidou ao longo do tempo nos
tribunais brasileiros. A força dessa jurisprudência é persuasiva. Com a mudança
constitucional (EC n. 45/2004), que estabeleceu no Brasil o instituto da súmula vinculante, a
observância obrigatória de precedentes ganhou outra dimensão.
Outros institutos já prefiguravam essa tendência na legislação brasileira, tais como:
as sentenças normativas da Justiça do Trabalho (art. 114, §2º, CF), o incidente de
uniformização de jurisprudência (art. 476, CPC), a súmula impeditiva de recursos (art. 557,
CPC), são exemplos.
Por fim, deve-se referir ao artigo 103-A da Constituição Federal, incluído na ordem
jurídica brasileira pela Emenda Constitucional nº. 45/2004:

Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação,


mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre
matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa
oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à
administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal,
bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei.

Para as questões submetidas ao controle concentrado de constitucionalidade, o STF


funciona como o guardião da Constituição, protegendo a ordem do Estado Democrático de
Direito (BONAVIDES, 2001) e a realização dos direitos fundamentais, não sendo necessário,
nesse caso, que ocorram reiteradas decisões; por um motivo, vale referir a legitimidade do
controle direto de constitucionalidade previsto pelo constituinte (art. 102, CF).
O precedente, estabelecido na forma de súmula vinculante (art. 103-A) deve
originar-se de reiteradas decisões sobre matéria constitucional. A matéria deve ser
controvertida a ponto de gerar insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos
sobre questões idênticas. É uma questão tipicamente jurisprudencial.
Em razão disso, atualmente, no ordenamento jurídico brasileiro, pode-se dizer que a
jurisprudência é uma fonte direta de normas jurídicas e, por consequência, uma fonte do
direito. Em que pese a tradição da civil law ser avessa à obrigatoriedade dos precedentes, já
que a lei seria suficiente para proporcionar estabilidade e segurança jurídica, não demorou
muito para que a complexidade de um ordenamento repleto de normas principiológicas e
cláusulas gerais demonstrasse a necessidade de algum tipo de uniformização jurisprudencial
(SARLET; MARINONI; MITIDIERO, 2012, p. 984). Para Marinoni, bandeiras equivocadas
defenderam no Brasil que “o juiz deve ter liberdade para julgar”. Estas foram oriundas de uma
cegueira que tomou conta da doutrina jurídica. E, por muito tempo, o desenvolvimento de
institutos destinados a dar coerência e estabilidade ao ordenamento foi bloqueado (SARLET;
MARINONI; MITIDIERO, 2012).
O controle difuso de constitucionalidade no direito brasileiro agrava ainda mais as
possibilidades de serem proferidas decisões tão díspares quanto injustas. “Se é nocivo ter
decisões diferentes versando a interpretação de uma mesma lei federal é absurdo ter variadas
decisões acerca da sua constitucionalidade.” (SARLET; MARINONI; MITIDIERO, 2012, p.
984). Assim, não é vergonhoso – como pensam alguns – que num sistema jurídico almeje-se
preservar previsibilidade, segurança jurídica e a igualdade nos tribunais.
A parte dispositiva das decisões constitucionais não é suficiente para “atribuir um
significado ao precedente; este depende, para adquirir conteúdo, da sua fundamentação, ou,
mais precisamente, da ratio decidendi ou dos fundamentos determinantes da decisão.”
(SARLET; MARINONI; MITIDIERO, 2012, p. 984). Com efeito, a mera referência às
súmulas vinculantes não garante aplicação segura e coerente de matérias semelhantes, como
precedentes, na forma já conhecida no sistema common law. É necessária também uma
análise das razões determinantes das súmulas. Sendo assim, a vinculatividade de órgãos
judicantes e de órgãos administrativos não fica adstrita unicamente à parte dispositiva das
decisões de controle de constitucionalidade ou às súmulas, mas, também, aos fundamentos
determinantes das decisões.
O poder eficacial dos fundamentos decisórios sobre questões que tratam de direitos
fundamentais, nesse sentido, é uma ferramenta que pode ser utilizada para atribuir máxima
efetividade a esses direitos. É verdade que, por outro lado, pode tornar-se em ferramenta
opressiva, destinada à sonegação de direitos, já que ninguém está livre de composições
conservadoras e reacionárias das cortes.
A força da Constituição Federal está condicionada, assim, ao papel desempenhado
por todos que buscam nos atos do cotidiano construir o direito, assim como depende da
eficácia das regras e dos princípios constitucionais. As disposições que tratam de direitos
fundamentais exigem uma atuação firme de todos, incluindo-se o Poder Judiciário, destinada
a realizar de maneira otimizada os valores consagrados pela ordem jurídica.
A teoria das fontes do direito, na modernidade, compreende a consciência de que o
direito não é algo dado, mas um fenômeno construído pela cultura humana (FERRAZ
JÚNIOR, 1988, p. 200). A jurisprudência romana reverbera nos dias de hoje e deixou um
importante legado ancorado na construção do direito fundado em casos concretos. O papel da
jurisprudência atual é em essência conferir cada vez mais dignidade aos que buscam
solucionar conflitos em juízo.

CONCLUSÃO

A questão central proposta neste artigo escrita por duas mentes, impede, de início,
explicitar o sentido e o alcance da metodologia que sustenta a formulação apresentada.
Demonstrou-se que o estudo do caso concreto realiza uma força motivadora de investigação
jurídica e um papel de envolver tanto aos preocupados com as questões teóricas como aqueles
interessados, do ponto de vista concreto, na solução dos casos da vida que ocorrem, ou podem
vir a ocorrer no dia a dia, e por vezes, ficam sem um estudo mais apurada.
Compreender o estudo do direito ancorado na teoria em conjunto com o de casos
reais traz um referencial instigante por parte daqueles que se iniciam na investigação de um
determinado tema, assim como renasce, nos mais experientes, um interesse peculiar em razão
do enfrentamento, ainda pouco utilizado nas escolas brasileiras permitindo toda uma visão
sincronizada do direito.
Este artigo buscou demonstrar a importância do estudo do caso concreto e tem por
objetivo instigar o leitor que por via dos casos da vida se formam abstrações que faz nascer
modelos, mas que ao se focar em novos casos que surgem na sociedade a cada dia se
constroem novos modelos e novas abstrações são construídas.
Não houve o objetivo de esgotar as questões que envolvem o papel da jurisprudência
nos dias de hoje, nem no passado do largo espaço de tempo conhecido como direito romano,
mas sim criar pontes do passado e verificar a diferença de cada época e a relevância do
trabalho de cada um na construção do direito, pois os casos da vida só chegam ao judiciário
em virtude do desconforto de uma parte que busca um procurador e elabora uma formulação
diante das fórmulas, leis e regras jurídicas já existentes ou com base em princípios e confere
vida a um caso permitindo a partir deste momento a manifestação do Estado por parte do
Judiciário.

Notas explicativas
1
“Não é a norma, pois, a fonte exclusiva dos direitos, senão a norma com os fatos sociais substancialmente
conjugada, segundo as necessidades, as contingências e as aspirações humanas, individuais e coletivas, cujas
soluções formam a ordem jurídica.” (RÁO, 1981, p. 19).
2
Savigny visualizou a jurisprudência romana assim: "Este método (romano) no es, en absoluto, propiedad
exclusiva de un escritor más o menos grande, sino que es un bien común a todos; y aunque entre los escritores
la fortuna en su aplicación esté muy desigualmente repartida, el método es siempre el mismo. Incluso si
tuviéramo íntegramente sus escritos ante nosotros, nos encontraríamos con un número mucho menor de
individualidades descollantes que en cualquier otra literatura. En cierto sentido, todos trabajaran en una sola y
única gran obra, y, por ello, la idea que está en la base de la compilación de las Pandectas no es del todo digna
de reproche. Toda su literatura jurídica era un todo orgánico, de manera que se podría decir, con un término
técnico de la doctrina moderna, que los juristas concretos eran personalidades fungibles". Conforme refere
Schulz (1990. p.128-129).
3
Ressalte-se o pensamento filosófico de Gadamer (1986, p. 346 et seq.) que refere ser a primeira de todas as
condições hermenêuticas a pré-compreensão (Pré-compreensão vista como o entender-se na coisa, e só
secundariamente destacar e compreender a opinião do outro como tal). José Francisco Zúniga García (1995)
sustentou: “a juicio de Gadamer, una auténtica relación con el otro es la que lo que importa es dejar valer las
pretensiones del otro contra las propias pretensiones, y esto significa, para Gadamer, estar abierto, no sólo estar
dispuesto a hablar sino también a oír: “La apertura hacia el otro - comenta - implica, pues el reconocimiento de
que debo estar dispuesto a dejar valer en mí algo contra mí, aunque no haya ningún otro que lo vaya a hacer
valer contra mí”. A estos tipos de experiencia del tú le corresponden tres tipos de relación con la tradición. En
primer lugar, la que surge de la mera aplicación del método científico. Aqui lo importante es alcanzar una visión
“objetiva” de lo que dice la tradición: igual que el conocimiento de gentes no implica un auténtico
reconocimiento del porque lo convierte en un medio, la conversión de la tradición en un “objeto” científico
supone la negación de su existencia como tú, como “alguien” que pretende decir algo. En segundo lugar, como
correlato de la experiencia reflexiva del tú, Gadamer propone la conciencia histórica. Esta sí reconoce a la
tradición como alteridad, como algo “otro” de sí misma. Pero, en la medida en que la conciencia pretende salvar
la distancia que la separa de la tradición y aprender desde sí misma el espesor del pasado, tampouco en ella se da
un auténtico reconocimiento del tú, tal y como vimos en la experiencia reflexiva. En realidade, la renuncia de
Gadamer a ambas está basada en que ni en una ni en otra se da una auténtica dialética.”
4
Atualmente, o Central Office Information considera como as principais fontes do Direito do Reino Unido da Grã-
Bretanha a legislação, o direito consuetudinário e as disposições legais da comunidade Européia. Para o Direito do
Reino Unido da Grã-Bretanha a statute law consiste no conjunto de leis escritas originadas do parlamento. A statute
law só tem significado em relação à common law. Todavia, se a statute law inexiste, ainda assim se teria um
sistema no direito Britânico, pois a common law é sua estrutura. O contrário não se verificaria, pois haveria apenas
leis desconexas. Por outro lado, a statute law, prevalece sobre a common law quando ambas competem. Central
office of information (1989, p. 36). Lembra Cross (1976) que a origem da statute law não seguiu nenhuma
influência de qualquer sistema de direito codificado, mas representou a incorporação dos textos transformados em
statutes o direito casuístico vigente, relatando-os inclusive como fontes. A statute law tem se demonstrado um
instrumento para acelerar esta renovação por meio da sistematização, mesmo que parcial, da common law em
sucessivas leis elaboradas pelo Parlamento. A repercussão da statute law é limitada pela tradição da interpretação
que resulta em um poder compartilhado pelo Parlamento e pelas Cortes Inglesas na continuidade do direito Inglês.
Refere Allen que a aplicação de um estatuto ou de uma lei não é automática, nem nunca poderia ser como todas as
normas legais há de produzir e produzem seus efeitos por meio da interpretação dos tribunais, pois a interpretação
da lei é em si mesma uma ciência. Ver Allen (1969).
5
"Mais do que para o Direito francês, o conhecimento histórico é indispensável quando se considera o Direito
Inglês. Este não conheceu renovação pelo direito Romano, nem a renovação pela codificação, que são
características do direito Francês e outros direitos da família romano-germânica".
6
Gustavo Tepedino adverte que: “a máxima contida no art. 3o. da LICC, segundo a qual ninguém se escusa de
cumprir a lei, alegando que não a conhece”, tenha se transformado em uma espécie de mito, numa sociedade em
que, como acentuou Pietro Perlingieri, “a desigualdade mais odiosa e mais penosa não se estabelece entre quem tem
e quem não tem, mas sobretudo entre quem sabe e quem não sabe”. Se a legislação não resolve todas as situações e
os conflitos reais e potenciais encontráveis na sociedade, o estudo do caso concreto e a escolha mais adequada passa
a ser um método que renasce em interesse e perspectivas para compor e recompor as lacunas que se abrem a todo o
instante.
7
Autoridade no sentido original (augere, latim) "fazer crescer".
8
Jörs e Kunkel (1965, p. 30) referem que os pretores e ediles eram, em regra, jovens que haviam sido elevados a
seus cargos por virtude de sua posição política ou pessoal, e não pela sua capacidade, de maneira que sem o
constante auxílio dos verdadeiros peritos não poderiam construir o direito honorário.
9
Autoridade compreendida no sentido referido pelo conteúdo descrito nota 10.
10
O período nominado helenístico tem relação com o momento histórico em que a cultura grega foi mais
amplamente incorporada a cultura romana e sofreu alterações frente aos interesses de ordem prática dos
romanos. A cultura grega difundida em Roma disseminada entre os povos não-gregos, principalmente orientais
foi a helenística, que se contagiou com o espírito romano e perdeu em profundidade, criatividade e classicismo.
11
O estudo do direito romano pode ser visualizado sob diferentes enfoques temporais, utilizou-se aqui a
classificação de Max Kaser, que circunscreve o período clássico assim: "Com o nome de clássicos designamos
os juristas com essa máxima perfeição e validade permanente, graças às quais as suas obras podem servir de
modelo às épocas futuras e até aos nossos dias. Esta jurisprudência não elaborou teorias de escola, antes
prosseguiu numa orientação 'prática' que, partindo das criações dos juristas, teve em vista a solução clara de
casos jurídicos concretos apresentados pela vida: a construção de conceitos jurídicos serviu-lhe apenas de apoio
para a solução desses casos." (KASER, 1999. p. 20). Luiz Edson Fachin (2000, p. 4) faz uma advertência que
merece ser reproduzida: "Precisão e rigor não se confundem, necessariamente, no trato dos signos e conceitos
jurídicos, com formalismo excessivo e despropositado. É certo que o saber jurídico que se encastela em
definições e abstrações pode ser impreciso e negligente com o seu tempo. Daí porque o tradicional se opõe ao
contemporâneo, mas este não pode nem deve negligenciar o clássico."
12
Conforme Bretone (1990, p. 83), ius civile remonta à época mais arcaica e refere-se às relações entre os
membros da civitas, indicando, no seu conjunto, a organização jurídica da cidade.
13
Ver nesse sentido Pezzella (1998, p. 82).
14
Cabe fazer a diferença no que toca ao nome e ao conceito do significado de compilação e codificação. A
primeira significa um acúmulo de conhecimentos reunidos de maneira a não atentar para uma estrutura lógica
facilmente identificada como as experimentadas, pela segunda, que responde a uma estrutura identificável na
qual, por muitas vezes, se verificam uma estrutura geral e outra mais específica. As compilações legislativas
elaboradas ao longo da cultura jurídica mesmo que nominalmente tenham recebido o título de código eles não
continham a essência de um código, pois faltavam a estrutura e a compreensão para a sistematização, e o
acúmulo político social e cultural apenas conhecidos ao final de mil e oitocentos; existem também as questões de
ordem material que dificultavam a deflagração desta técnica como o uso corrente do papel e a indústria da edição
destes materiais. Para maiores esclarecimentos, ver o estudo realizado pelo Prof. Dr. Paolo GROSSI no ciclo de
palestras sobre Fondamenti del pensiero giuscivilistico moderno por ele apresentado no ano de 1995 na
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, oportunidade em que o palestrante foi agraciado com o título de
doutor Honoris Causa. Citado resumidamente aqui, trata da ruptura causada pela codificação, na percepção do
autor. O passado deve se tentar pensar conforme a mentalidade que a cultura da humanidade pode desenvolver
até aquele período. Não se pode pretender que os romanos tenham tido um pensamento sistemático, pois os
romanos não possuíam um ordenamento assim e sequer possuíam esta preocupação. Obra referencial sobre
sistema é a de Canaris, C. W. Pensamento sistemático e conceito de sistema na ciência do direito. Tradução
do original alemão: Systemdenken und Systembegriff in der Jurisprudenz. No que toca à denominada Lei das
XII Tábuas, Betti (1947, p. 44) elucida esta questão assim: "In primo, le XII Tavole non debbono concepirsi
come una codificacione in senso moderno, cioè como una raccolta tendenzialmente universale, di norme di uma
data materia: i principi fontdamentali de ius civile non sono, in genere, nelle XII tavole, che contengono
disposizioni complementari e derogatorie. In secondo lougo, le XII tavole sono la legislazione di una società,
ancora poco evoluta, di piccoli agricoltori". Tradução livre: (Em primeiro lugar, as XII Tábuas não devem ser
concebidas como uma codificação em sentido moderno, isto é, como uma coletânea tendenciosamente universal,
de normas de uma dada matéria: os princípios fundamentais do ius civile não estão, em geral, nas XII Tábuas,
que contêm disposições complementares e derrogatórias. Em segundo lugar, as XII Tábuas são a legislação de
uma sociedade, ainda pouco evoluída, de pequenos agricultores.) No mesmo sentido, Arangio-Ruiz (1994, p. 78)
refere: "con seguridad las XII tablas están muy lejos de ser lo que nosotros denominamos una codificación".
15
Para melhor compreender aequitas, merece ser reproduzida a seguinte passagem descrita por António Manuel
da Rocha Menezes Cordeiro: "A menção bonum et aequum, tal como a aequitas, não concitou o aprofundamento
folológico dedicado à fides. KIPP considera-a como um fortalecimento de aequum que AUSFELD, por seu
turno, deriva do indo-europeu ékah-uno. Há, ainda, quem tente uma aproximação ao grego 'ó - conveniente,
verdadeiro, exacto, justo – com ligação nítida ao conceito aristotélico célebre da'' . Não parece
arriscado – recordar-se as composições, já conhecidas, da bona fides e do dolus malus, a que se poderiam
acrescentar outras, como a do bonus pater familias – opinar pela natureza artificial do termo, numa asserção
reforçada pelo emprego jurídico preciso a que inicialmente foi destinada. Depara-se, com primazia, um sentido
técnico-jurídico. Neste emprego bonum et aequum, aditado a certas fórmulas processuais clássicas, equivalia a
diferir ao juiz competência para calcular o montante da soma da condenação. Daqui emerge a contraposição dos
iudicia in bonum et aequum concepta aos bonae fidei iudicia: nestes, como se viu, eram cominados vários
poderes ao juiz que, embora muito concretos, implicavam a concessão de meios para uma decisão
qualitativamente mais perfeita; naqueles, a ampliação era meramente quantitativa: determinar o quantum a
arbitrar ao autor ganhante". Assim referiu Menezes Cordeiro (1984, p. 114).
16
O tribuno da plebe surge com o resultado das lutas entre patrícios e plebeus. Inicialmente foram escolhidos
dois tribunos da plebe, o máximo chegou a dez. Os patrícios e os escravos sempre foram excluídos. Os tribunos
eram eleitos diante da coletividade dos plebeus, inicialmente por cúrias e posteriormente por tribos, seguindo o
modelo dos cônsules. A atuação do tribuno da plebe restringia-se territorialmente à cidade, sempre pôde
convocar os plebeus para eleições e construir o tribunal para fazer acordos, mas nunca lhe foi concedido o
imperium militar. Ver, para maiores esclarecimentos, Mommsen (1942, p. 233-236).
17
Estado romano é escrito em itálico porque não se pode dizer que naquela época existisse um Estado propriamente,
pois este só vai existir a partir do momento em que todas as pessoas são consideradas livres para entre si e em face do
Estado possam requerer a proteção jurídica de seus direitos.
18
Autoridade compreendida como aquele que detém uma porção do poder e a utiliza para mantê-lo, porque
entende que este é o seu papel a desempenhar e a essência de sua função, na esfera desta restrita perspectiva.
19
Tradução livre: “A história apresenta uma continuidade na qual é sempre arbitrário fixar as datas iniciais e
finais. De outra parte ela apresenta também toda uma variedade, todo um flutuar de elementos sociais, que
importam transformações. O jurista, que colhe na estrutura social a unidade e a organicidade de um ordenamento
jurídico, que valoriza no complexo de entes sociais a multiplicidade de ordenamentos jurídicos e deles define as
relações, que individualiza as características de uma organização política e delas segue as vicissitudes, assinalará
unidade e pluralidade, mutações, fusões, extinções, sucessões”.
20
“A função criadora de Direito dos tribunais é especialmente manifesta quando a decisão judicial tem o caráter
de um precedente, ou seja, quando a decisão judicial cria uma norma geral. Onde os tribunais estão autorizados
não apenas a aplicar o Direito substantivo preexistente nas suas decisões, mas também a criar Direito novo para
casos concretos, existe uma compreensível tendência de se dar a essas decisões judiciais o caráter de
precedentes. Dentro de tal sistema jurídico, os tribunais são órgãos legislativos exatamente no mesmo sentido em
que o órgão é chamado legislativo no sentido mais restrito e comum do termo. Os tribunais são criadores de
normas jurídicas gerais.” (Ibid.)
21
A respeito do aspecto dinâmico da lacuna normativa interessante é a passagem da BverfGE 82,6(12): "A
evolução real ou jurídica pode, contudo, deixar uma regulação até então clara e perfeita, incompleta, carente e,
simultaneamente, susceptível de complementação. A admissão jurídico-constitucional à investigação e a
colmatagem de lacunas acha a sua justificação, entre outras coisas, no fato de que as leis estão submetidas a um
processo de envelhecimento. Elas encontram-se em um ambiente de relações sociais e de concepções
sociopolíticas, com cujas transformações o conteúdo normativo também pode mudar-se (comparar com BverfGE
34, 269[288]). À proporção que se formam lacunas legais em virtude de tais transformações, a lei perde a sua
capacidade de manter pronta para todos os casos, a que a sua regulação aspira, uma solução justa. Os tribunais, em
decorrência, estão autorizados e obrigados a examinar o que, sob as circunstâncias modificadas, é 'Direito' no
sentido do art. 20, alínea 3, da Lei Fundamental" (BverfGe-Bundesverfassungsgerichtsentscheidung [Decisão do
Tribunal Constitucional Federal]). Heck (1995, p. 186). No que toca à essência dinâmica do Direito já me
posicionei, assim: "O Direito e a lei podem conter uma igualdade de conteúdo, mas podem também não conter, até
porque não há necessidade ou interesse de todo o direito ser abarcado em leis. O Direito corresponde um estado
jurídico-cultural de um povo, numa certa época em um dado momento histórico. Por sua vez a lei expressa em parte
este estado jurídico-cultural de um povo, numa certa época em um dado momento histórico, e apenas em parte. Não
raras vezes, a lei é apenas uma parcela do Direito que pode e deve ser descoberta pela doutrina e pela
jurisprudência." Ver neste sentido Pezzella (1997, p. 199-224). O Legislativo, em regra, e por característica atua
sempre de maneira retro-datada disciplinando os conflitos já existentes na sociedade, mas descompassado no
tempo. O conflito existe e a resposta legislativa chega depois. É difícil que ele responda de maneira concomitante
com uma antecipação. O processo de legitimação das atitudes e iniciativas legislativas necessita de uma prévia
discussão e amadurecimento social. O fato de encarar que o Judiciário elabora e sistematiza o direito muito tempo
depois dos conflitos estarem sendo sentidos pela sociedade não tem por objetivo restringir a sua importância, mas
referir que a sua atuação funda-se sob a construção abstrata da norma e não na construção de normas e medidas
prontas para servirem a casos concretos determinados.
22
Compreende-se o advogado de maneira lata e não stricto sensu, todos aqueles que advogam causas na esfera
pública ou privada, como, por exemplo, os procuradores do Estado, procuradores autárquicos, defensores
públicos, advogados liberais, advogados empregados de empresas, advogados associados, advogados
empregados, enfim todos aqueles que trabalham na defesa dos interesses das partes.
23
O Legislativo, em regra, e por característica atua sempre de maneira retro-datada disciplinando os conflitos já
existentes na sociedade, mas descompassado no tempo. O conflito existe e a resposta legislativa chega depois. É
difícil que ele responda de maneira concomitante com uma antecipação. O processo de legitimação das atitudes e
iniciativas legislativas necessita de uma prévia discussão e amadurecimento social. O fato de encarar que o
Judiciário elabora e sistematiza o direito muito tempo depois dos conflitos estarem sendo sentidos pela sociedade
não tem por objetivo restringir a sua importância, mas referir que a sua atuação funda-se sob a construção abstrata
da norma e não na construção de normas e medidas prontas para servirem a casos concretos determinados.
24
As omissões do Executivo se devem a uma série de situações diversas desde a inépcia para administrar,
podendo ser também uma momentânea inviabilidade material ou um descuidar de prioridades e conhecimento
das responsabilidades administrativas.
25
Cf. Recurso Especial n. 1177878/SP, Relator Ministro Castro Meira, Segunda Turma, julgado em 06/04/2010,
publicada no Diário da Justiça em 14/04/2010. Recurso Especial n. 710.716/RS, Relatora Ministra Eliana
Calmon, Segunda Turma, julgado em 08/11/2005, publicada no Diário da Justiça em 21/11/2005. Embargos de
Divergência em Recurso Especial n. 286.404/PR, Relator Ministro Luiz Fux, Primeira Seção, julgado em
12/11/2003, publicado no Diário da Justiça em 09/12/2003.
26
A redação substituída era a seguinte: § 2.º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal
Federal, nas ações declaratórias de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal, produzirão eficácia
contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e ao Poder Executivo.
(Incluído em § 1º pela Emenda Constitucional nº 3, de 17/03/93)
27
Cf. Representação n. 1.417/DF, Ministro Moreira Alves, julgado em 09/12/1987, publicada no Diário da
Justiça em 15/04/1988.
28
Cf. Mandado de Injunção n. 708, Relator Min. Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, julgado em 25/10/2007,
publicado no Diário da Justiça em 31/10/2008.

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