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TRABALHO DE ELABORAÇÃO DE CONTEÚDO

FACULDADE MAUÁ

História do Direito
SUMÁRIO

MÓDULO 1: DO MUNDO ANTIGO ........................................................................................... 3

1.1 Da apresentação e objeto da disciplina ............................................................................ 3


1.2 Povos antigos anteriores a escrita .................................................................................... 6
1.3 Do surgimento da escrita ................................................................................................. 10

MÓDULO 2: DIREITO NA GRÉCIA ......................................................................................... 14

2.1 A Ideia de Justiça para Platão e Aristóteles ..................................................................... 20

MÓDULO 3: DIREITO ROMANO ............................................................................................ 23

3.1 O Período Arcaico ............................................................................................................. 24


3.2 Lei das Doze Tábuas ......................................................................................................... 25
3.3 Período clássico ................................................................................................................ 29
3.4 Período pós-clássico ......................................................................................................... 32
3.5 Apêndice .............................................................................................................................36

MÓDULO 4: DO DIREITO MEDIEVAL ....................................................................................41

4.1 Direito dos povos germânicos ........................................................................................... 44


4.2 Direito Feudal .................................................................................................................... 45
4.3 Direito Canônico. ............................................................................................................... 49
4.4 Redescoberta do Direito Romano ..................................................................................... 54

MÓDULO 5: DO MOVIMENTO DE CODIFICAÇÃO E A COMMON LAW............................. 57

5.1 Formação do Direito e dos Estados modernos ................................................................ 57


5.2 Common Law: o Direito Inglês ........................................................................................... 59

MÓDULO 6: HISTÓRIA DO DIREITO NO BRASIL .................................................................65

6.1 Direito Lusitano. ................................................................................................................. 65


6.2 Momento Colonial .............................................................................................................. 66
6.3 Momento Imperial .............................................................................................................. 70
6.4 Período Republicano. ........................................................................................................ 72

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................................ 77

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO ....................................................................................................80

História do Direito 2
MÓDULO 1 – DO MUNDO ANTIGO

1.1 Da apresentação e objeto da disciplina

Figura 1 Fonte: Pixabay.com

A proposta da disciplina que iremos tratar nessa apostila é analisar os


acontecimentos jurídicos sucedidos desde a antiguidade até os dias modernos. Desse
modo, a História do Direito é uma disciplina fundamental para o ensino jurídico,
indispensável para a formação de bacharéis em direito.

A etimologia da palavra direito vem do latim directum, cujo significado é o que


está conforme à regra. Surgindo na Roma antiga, trata-se da soma das palavras DIS
(muito), e RECTUM (justo, reto). E dirigia-se a um grupo de regras prescritas para
regular o comportamento do homem em sociedade e garantir harmonia e convivência
social. O que foi alcançado já no surgimento da humanidade.

O direito, portanto, é intrínseco para a vida social, não podendo o homem existir
em suas ideias formais de organização sem o direito, assim como o direito não é
capaz de existir sem o homem. Assim como aponta Flávia Lages de Castro (2007, p.
2), veja:

“Entende-se, em sentido comum, o Direito como sendo o conjunto de


normas para a aplicação da justiça e a minimização de conflitos de uma
dada sociedade. Estas normas, estas regras, esta sociedade não

História do Direito 3
são possíveis sem o Homem, porque é o Ser Humano quem faz o
Direito e é para ele que o Direito é feito.”

Como se pode notar, as raízes do direito nascem na formação das sociedades


que remontam períodos anteriores até mesmo à escrita. Porém, devido a óbvia falta
de registros escritos, torna-se difícil datar esses povos sem escrita, ou mesmo
conceituar o direito desse momento.

Mas podemos encontrar esse caráter regulador da esfera social a sociedades


como as dos homens da caverna de 3.000 a.C. ou os índios e as tribos anteriores a
descoberta de Cabral. José Fábio Rodrigues Maciel e Renan Aguiar (2007), afirmam
que a partir do surgimento dos povos na história, já existe grande parte das instituições
jurídicas, no entanto, ainda misturadas com a moral e religião.

Cumpre ratificar que derivam-se do direito todas as normas e obrigações


advertidas ao homem, ou seja, conjunto de regras ou de leis. Não obstante, o direito
também alcança inúmeros ramos de estudo e ciência, como a psicologia e a filosofia
etc.

Como se pode notar, o direito em todos esses aspectos tem como objetivo obter
justiça e garantir o bem comum, observando a individualidade de cada caso, dando
uma solução ponderada e merecida, calcado na interpretação adequada de acordo
com os princípios gerais do direito. Como afirma Ronaldo Leite Pedrosa (2006):

“Destaco que o direito não é apenas um conjunto de regras. É muito mais do


que isso. As regras, escritas (leis), são um dos instrumentos de aplicação e
atuação do direito, que se vale de outros componentes em sua configuração.
Temos assim, ao lado das leis, a doutrina, a jurisprudência, os costumes, os
princípios gerais, que, somados, compõem o conceito de Direito. E esses
elementos, em conjunto, aplicados, buscam atingir o ideal supremo, que é a
obtenção da justiça.”

Em virtude dessas considerações, pode-se afirmar Direito como um conjunto


de normas e regras que policiam, determinam e sancionam determinadas condutas.
E que este vem acompanhando o homem desde seu nascimento até a sua morte.

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Desse modo, o direito surge em cada sociedade de acordo com suas próprias
regras, a partir de suas culturas, histórias e tradição.

É indiscutível a impossibilidade de desassociar o direito da história. Portanto,


é inegável a importância da disciplina História do Direito, que trata-se da ciência
responsável por pesquisar e estudar a acepção dos processos de transformação das
estruturas jurídicas ao longo do tempo, visitando sociedades através das modificações
naturais de ordem política, econômica e cultural.

A história do direito investiga, coordena e esclarece a evolução da estrutura


jurídica em diferentes sociedades, abordando seus aspectos, fontes, costumes e
legislação regente, a partir do conhecimento sobre fatos verificados na história.
Demonstrando que o direito não simplesmente surgiu, mas dependeu de inúmeros
fatores históricos e sociais, para desenvolver-se.

Antônio Carlos Wolkmer (2006) afirma:

“Trata-se de pensar a historicidade do direito, no que se refere à sua evolução


histórica, suas idéias e suas instituições, a partir de uma reinterpretação das
fontes do passado sob o viés da interdisciplinaridade (social, econômico e
político) e de uma reordenação metodológica, em que o fenômeno jurídico seja
descrito sob uma perspectiva desmistificadora.”

Em consonância com o autor, é válido afirmar que o objeto de estudo da história


do direito, é o direito de fato. A partir da reconstituição de ordens políticas do passado,
que servem como fontes para os institutos jurídicos modernos. E a importância de tal
disciplina está em relatar e oferecer a compreensão das bases sociais, culturais e
políticas de um determinado direito, “esclarecendo dúvidas, afastando imprecisões,
levantando, passo a passo, a verdadeira estrutura do ordenamento, seus institutos
mais sólidos e perenes, suas bases de fundo e suas características formais, até
alcançar a razão de ser de seu significado e conteúdo” como afirma Luiz Carlos de
Azevedo (2005).

Nosso estudo será trabalhado de acordo com a cronologia clássica,


considerando os períodos históricos: Pré-história, até a invenção da escrita em
4.000 a.C. aproximadamente; Antiguidade, até a queda do império romano ocidental
em 476 a.C.; Idade Média até 1453, com a queda de Constantinopla; Idade

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Moderna, até a Revolução Francesa, ocorrida em 1789; Idade Contemporânea, até
os dias atuais.

Em virtude dessas considerações, a disciplina História do Direito é fundamental


para estudar e esclarecer o processo de evolução jurídica de cada período em
determinadas sociedades, para compreender a fundo suas características, o
significado e conteúdo de institutos jurídicos diversos, a exemplo do casamento, da
propriedade, do direito penal etc. História e direito caminham de mãos dadas,
indissociáveis, quando do surgimento das sociedades o direito nasceu como um
condutor de regras e obrigações a serem seguidas pelos indivíduos, para garantir
harmonia e convivência social.

1.2 Povos antigos anteriores a escrita

Figura 2 Pedras de Carnac. Fonte: pixabay.com

É notável que toda cultura possui um determinado aspecto normativo, que


delimitam regras e valores que institucionalizam modelos de conduta. A necessidade
da presença normativa dá-se pelo pressuposto de regulamentação de padrões que
são essenciais para o controle social. Estes surgem a partir da tradição e de costumes
que se instalam naturalmente na busca da coesão do grupo social.

Portanto, é certo afirmar que toda organização social dispõe, ainda que
primitivamente, de um sistema jurídico. Como afirma WOLKMER, falar de um direito
arcaico ou primitivo vai muito além dos horizontes das civilizações que dominavam a
escrita:

“Falar, portanto, de um direito arcaico ou primitivo implica ter presente


não só uma diferenciação da pré-história e da história do direito, como,
História do Direito 6
sobretudo, nos horizontes de diversas civilizações, precisar o surgimento
dos primeiros textos jurídicos com o aparecimento da escrita (...) Autores
como John Gillisen questionam a própria expressão ‘direito primitivo’,
aludindo que o termo ‘direito arcaico’ tem um alcance mais abrangente
para contemplar múltiplas sociedades que passaram por uma evolução
social, política e jurídica bem avançada, mas que não chegaram a
dominar a técnica da escrita”(WOLKMER, 1996 pag. 20-21)

Assim, podemos denominar direito arcaico, os sistemas legais praticados pelos


povos e sociedades sem escrita. Ainda é possível observar o uso desse direito
primitivo em populações indígenas nos dias de hoje, como dispõe John Gilissen (1988,
p.34), “As civilizações mais arcaicas continuam a ser as dos aborígenes da Austrália
ou da Nova Guiné, dos povos da Papuásia ou de Bornéu, de certos povos índios da
Amazônia no Brasil”.

O direto arcaico não surgiu de um único individuo ou legislador, mas “nasceu


espontânea e inteiramente nos antigos princípios que constituíram a família, derivando
das crenças religiosas universalmente admitidas na idade primitiva desses povos e
exercendo domínio sobre as inteligências e sobre as vontades” WOLKIMER (1996).

De acordo com o autor, os preceitos e as bases para o direito primitivo,


certamente foram a família, e as fundamentações religiosas, a partir de revelações
divinas e sagradas. A religião, em especial, exercia domínio sobre as inteligências e
vontades desses povos, a partir do medo da vingança divina e da repressão social
marcada por penas violentas e brutais, aos transgressores dos ditames sagrados.

Segundo as orientações de John Gilissen, cada comunidade possuía seu


próprio direito, único e que não se confundia com o de outras formas de associação,
fundamentado nos costumes que eram decorados e passados oralmente. Portanto,
o direito primitivo não era legislado, pois essas populações não conheciam a
escritura formal, e a conservação dessas normas reguladoras dava-se a tradição.

Nesse momento, ainda não há uma diferenciação efetiva entre o que é jurídico
e o que não é jurídico. A que se apontar que as fontes jurídicas primitivas
são escassas. Seus precedentes decorriam do julgamento de relações concretas e

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interpessoais, conflitos que ocorriam entre os membros da comunidade, e eram
normalmente decididas por um chefe ou ancião, que repetia a tradição estabelecida
por líderes tribais anteriores. Estes procedimentos orais eram propagados por
gerações, designados por Gilissen como os “provérbios e adágios”, em paralelo ao
conceito moderno de “precedentes judiciários”.

Pode-se afirmar que o direito penal é a esfera mais antiga da história do direito.
O direito primitivo priorizava a criminalidade. A pena sempre foi uma ferramenta efetiva
de contenção do ímpeto humano. Mas essas penas eram sangrentas e brutais, não
havendo o mínimo de proporcionalidade entre pena e transgressão. O direito penal
primitivo era extremamente retributivo, assinalando esse momento da história como o
Período da Vingança.

1.2.1 Período da Vingança

Figura 3DIREITOS AUTORAIS - The Magura Cave, Bulgaria. FONTE:


http://severozapazenabg.com/en/%D0%BF%D0%B5%D1%89%D0%B5%D1%80%D0%B0-
%D0%BC%D0%B0%D0%B3%D1%83%D1%80%D0%B0/

O período da vingança pode ser divido em três momentos do desenvolvimento


do direito primitivo: o Período da vingança divina, da vingança privada e da vingança
pública.

Da vingança divina as regras eram fundamentadas por critérios meramente


religiosos, portanto o temor pautava a conduta. Essas normas eram sagradas, e delas
emanavam aspectos delimitadores de conduta, assim como proteção divina. A
transgressão atraia a ira divina contra o infrator e contra a sociedade que não o
punisse da maneira devida.
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As penas mais comuns desse momento eram a tortura e a violência física, e
em casos de transgressões graves, a pena aplicada seria a morte. É válido ressaltar
que as penas tinham um alto grau de crueldade, e não havia proporcionalidade entre
a transgressão cometida e a sanção imposta. E devido ao costume oral que embasava
essas leis, elas eram imprecisas e incertas.

A vingança privada não se trata da vingança pessoal, como a denominação


pode nos levar a pensar. Mas trata-se dos conflitos e das guerras, da reprimenda
imposta por um grupo sobre outro, normalmente pautados em diferenças religiosas
entre os diversos povos. Esses conflitos podiam resultar no extermínio de toda uma
comunidade, não poupando sequer os infantes. Ordenando, em muitos casos, a morte
até mesmo dos animais considerados impuros e pecaminosos.

A vingança publica marca a atribuição de um terceiro como responsável pela


aplicação das penas e sanções. A partir desse momento, a vingança não era realizada
pelos envolvidos na lide, mas por um representante dos costumes e tradições daquela
sociedade que iria punir o transgressor em nome da comunidade.

No entanto, como ressalta Malinowski, o crime e o castigo não esgotam os


estudos concernentes a comunidade primitiva. Subsistindo outros tipos de normas
tradicionais de outras esferas do direito, decorrentes dos costumes da tribo, como o
matrimonio e os princípios da reciprocidade que são base de toda a estrutura social.
Como podemos resgatar na obra de Antonio Carlos Wolkmer (1996, p. 24):

“Assim, divergindo da posição de muitos antropólogos de sua época que


insistiam na base religiosa e no teor exclusivamente criminal da
jurisprudência primitiva, Malinowski introduz o argumento de que existia
um direito civil consensualmente aceito e respeitado. As regras de direito
civil caracterizadas por uma certa flexibilidade e abrangência, enquanto
ordenação positiva regulamentadora dos diversos momentos da
organização tribal, compreendiam um conjunto de ‘obrigações
impositivas consideradas como justas por uns e reconhecidas como um
dever pelos outros, cujo cumprimento se assegura por um mecanismo
especifico de reciprocidade e publicidade inerentes a estrutura da
sociedade’.

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Portanto, o autor orienta que a lei primitiva não dispõe apenas de aspectos
negativos, resumindo-se no castigo como consequência para toda transgressão, mas
pode também assumir um caráter positivo, ao usar da recompensa para aqueles que
satisfazem as regras de convivência.

1.3 Do surgimento da escrita

No tocante ao estudo do direito dos povos antigos, os documentos escritos mais


completos concernentes a este assunto remontam de 3.000 a.C. no Egito e na
Mesopotâmia. Outros registros de natureza jurídica surgem durante o segundo
milênio, na Fenícia, Israel, Creta e Grécia. Já no primeiro milênio nota-se a
predominância de documentos jurídicos nos povos da Grécia e da Roma, até a
formação do Império Romano, a partir da reunião de quase todos os países.

A que se admitir a importância no desenvolvimento da ciência do direito de cada


um dos cinco sistemas jurídicos presentes no mundo antigo – na Mesopotâmia e Egito,
dos Hebreus, Grécia e de Roma. No entanto, este estudo vai se iniciar nos códigos
oriundos da Mesopotâmia, dos povos sumérios e babilônico. Depois irá focar-se nos
pensadores gregos, que começaram as bases do direito público moderno, e os
romanos, que formularam a ciência de fato, estruturando os alicerces do direito atual.

A partir de certo momento, o mero costume já não era o suficiente para conduzir
o direito e seu desenvolvimento na normatização social, pois as sociedades já
passaram a reunir e formar grandes cidades e sociedades urbanas complexas. Foi
na Mesopotâmia, a região entre os rios Tigre e Eufrates, que surgiu a técnica de
escrita cuneiforme, desenvolvida pelos sumérios, por volta de 3100 a.C., que tratava-
se de símbolos de aspecto anguloso gravados em tábuas de argila, marcados por
cunhas.

Segundo as orientações de Luhmann (apud Wolkemer, 2008), a transição dos


modelos arcaicos do direito para as codificações mais complexas verificadas nas
primeiras civilizações da antiguidade, deve-se ao surgimento das cidades; a invenção
e o domínio da escrita; e o advento do comércio e, numa etapa posterior, da moeda
metálica.

História do Direito 10
Com o nascimento da grafia, normas sociais puderam ser registradas e
consolidadas, possibilitando uma melhor transmissão de conhecimento. Assim
começaram a surgir os primeiros textos jurídicos, que se pode chamar de códigos,
que constituíam de normas de direito um tanto quanto abstratas.

Estes códigos são classificados como Direito cuneiforme, pois se tratam de um


conjunto de direitos e sistemas jurídicos registrados por diversos povos, de diferentes
períodos, do Oriente da Antiguidade, que utilizaram-se da escrita cuneiforme para
grafar seus códigos.

Desses códigos podemos citar:

Código de Ur-nammu (2040 a.C.): Comprovadamente o mais antigo código


escrito. Grafado em tabletes de argila, o texto dispõe de costumes religiosos, assim
como registros de decisões proferidas em casos concretos da sociedade suméria. Sua
maior contribuição para o desenvolvimento do direito foram os princípios que previam
a possibilidade da conversão de penas capitais em penas pecuniárias, como o
emprego de indenizações. Assim, contribuindo com a diminuição considerável da
violência e do grau de crueldade das penas até então impostas. O código de Ur-
nammu também já previa tipos penais como lesão corporal, roubos ou sequestros, e
técnicas de proporcionalidade, ainda que mínimas, entre infração e a pena aplicável.

Figura 2 Ur-nammu entrega o governo de Khashkhamer a sacerdote (Donald A. Mackenzie,


MythsofBabyloniaandAssyria (1915)

Código de Eshnunna (1930 a.C.):trata-se de um texto legal babilônico,


nascido na cidade de Eshnunna, dispunha de aproximadamente sessenta itens,

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trazendo em seu conteúdo princípios de direito penal e civil, contribuindo
especialmente ao prever direito de família e responsabilidade civil, por exemplo, a
determinação de que se um animal portador da raiva, levasse alguém a morte, era da
responsabilidade de seu dono depositar certa quantia nos cofres públicos. Este código
tornou-se base para o código de Hamurabi.

Código de Hamurabi (1694 a.C.): corpo legal de maior


importância na antiguidade antes de Roma. O código de
Hamurabi foi escrito a partir do estilo cuneiforme, grafados 281
artigos em um bloco monolítico de aproximadamente dois metros
e meio de altura, e cerca de três mil e seiscentas linhas escritas.
Esse conjunto de leis, baseado no código de Eshnunna, fora
criado pelo rei Hamurabi da primeira dinastia babilônica, com o
objetivo de restabelecer a unidade do povo babilônico que havia
se perdido no período de Eshnunna.

Um de seus maiores legados fora sua publicidade, pois o


bloco havia sido instalado em local público, onde o povo poderia
ler e aprendê-lo, assim como podia ser copiado, garantindo
uniformidade no cumprimento de suas normas em toda a
sociedade. Outros marcos importantes alcançados pelo código
são o tratamento isonômico entre as três classes sociais que
integravam o povo babilônico. Assim como previam certas

garantias protetivas para os escravos, lhes assegurando


condições para sobrevivência.

É importante conhecermos a estrutura de classes da sociedade babilônica:

 Os Awilu: reconhecida como a primeira classe, e mais numerosa,


representava os cidadãos, proprietários, camponeses, artesãos e
comerciantes.
 Os Mushkenu: ou os semi-livres. Essa classe intermediária era formada
por escravos libertos, homens livres, porém de baixa classe (plebe), e
muitas vezes por estrangeiros.

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 Os Wardu: tratava-se da classe dos escravos. Estes muitas vezes eram
inimigos derrotados em guerra, mas a escravidão podia também ser
determinada pela hereditariedade.

Dentre outras disposições do código podemos citar relações de trabalho,


família, e propriedade. Com itens que previam defesa do consumidor, erro médico,
responsabilidade civil, adultério e até mesmo adoção. Veja os exemplos:

Art.129º – Se a esposa de um Awilum encontrada em contato sexual com


outro, se deverá amarrá-los e lançá-los n’água, salvo se o marido
perdoar à sua mulher e o rei a seu escravo.

Art.185º – Se alguém dá seu nome a uma criança e a cria como filho,


este adotado não poderá mais ser reclamado.

Art. 218º – Se um médico trata um Awilum de uma grave ferida com a


lanceta de bronze e o mata ou lhe abre uma incisão com a lanceta de
bronze e o olho fica perdido, se lhe deverão cortar as mãos.

Art. 233º – Se um arquiteto constrói para um Awilum uma casa e não a


leva ao fim, se as paredes são viciosas, o arquiteto deverá à sua custa
consolidar as paredes.

Ou princípio de extrema importância para este código era a prova testemunhal,


devido à falta de capacidades e técnicas de investigação forense. Portanto o falso
testemunho era evidentemente repreendido pelo código, aplicando e tais casos a pena
de morte.

Art.3º – Se um Awilum em um processo se apresenta como testemunha


de acusação e, não prova o que disse, se o processo importa perda de
vida, ele deverá ser morto.

O código de Hamurabi trazia consigo a mais antiga e popular técnica de


proporcionalidade entre transgressão e pena, a Lei de Talião. Conhecida pelo jargão
“Olho por olho, dente por dente”, a técnica determina uma diretriz de reciprocidade do
crime e da sanção. Podendo mesclar responsabilidade civil e penal no mesmo
dispositivo. Veja o exemplo nos dispositivos abaixo:

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Art.229º – Se um arquiteto constrói para alguém e não o faz solidamente
e a casa que ele construiu cai e fere de morte o proprietário, esse
arquiteto deverá ser morto.

Art.230º – Se fere de morte o filho do proprietário, deverá ser morto o


filho do arquiteto.

Em suma, o código de Hamurabi conquista sua importância histórica como a


primeira legislação redigida que pode ser datada, assim como, demonstra em seu
corpo princípios jurídicos e aspectos de direito admiravelmente modernos. O código
de Hamurabi não apresenta somente princípios taliônicos, mas importantes
disposições de caráter humanitário, de acordo com o esforço galgado pelo legislador.

MÓDULO 2: DIREITO NA GRÉCIA

O mundo grego contribuiu para os modelos políticos hoje aplicados as


civilizações ocidentais, devido a elaboração e aperfeiçoamento da ciência política e
da filosofia. Além disso, também colaborou com o desenvolvimento do direito público
moderno, a partir da criação da ciência do governo, da polis ou cidade.

Figura 5 Templo de Partenão, Atenas. Grécia. Fonte: Pixabay.com

Apesar disso, é desapropriado usar da expressão “direito grego”, quando até o


período de Alexandre, ou Período helenístico, não havia uma entidade jurídica que
proporcionasse o direito como uma unidade singular. O que existia eram direitos

História do Direito 14
espalhados por cada unidade política, que traçavam as características do direito
público e privado, de acordo com suas individualidades.

Da perspectiva histórica jurídica, pode-se delinear, com base nos documentos


e registros deixados pelos gregos, a seguinte linha evolutiva, como orienta Vicente
Bagnoli (2014, p.32):

 Período dos clãs: constituíram-se os clãs a partir de uniões de indivíduos, com


base em um parentesco real ou fictício.
 Início da formação da Polis: a partir da constituição dos clãs, desenvolveram-
se em um período posterior, as cidades na Grécia (ou Polis), com diversas
formas de organizações políticas.
 Regime democrático: apareceu em algumas cidades, destacando-se em
Atenas, que registrou diversos escritos a respeito. É valido também apontar as
leis de Drácon (ano 621 a.C.), que passou a limitar o uso da vingança como
meio de resolver conflitos, determinando o encaminhamento das controvérsias
aos tribunais. Um de seus maiores marcos era a determinação em lei, de que
todas as suas normas fossem públicas, afixadas em pedras de mármore em
locais públicos. As leis de Drácon também podem ser reconhecidas por sua
severidade na esfera penal, com sansões como o exílio, ou pena de morte.
 Período de unificação: Ocorreu com Alexandre, a união entre o Ocidente e o
Oriente no final do século IV a.C. Porém, o grande Império formado tornou-se
insustentável, gerando inúmeras monarquias, que são dirigidas por reis
absolutos a partir do século III.

Ao traçar o curso histórico da Grécia Antiga, no que tange a evolução de


aspectos jurídicos, é valido citar as fontes históricas dos direitos gregos, pois é através
desses registros que torna-se possível ter melhor compreensão dessa rica civilização
que nos deixou tantas heranças.

É de se verificar que apenas as instituições de Atenas, Esparta e Gortina são


conhecidas com maior profundidade. Isso porque, diferente de Roma, não aconteceu
de haver a reunião de documentos legislativos, ou de comentários de juristas. O direito
grego constituía-se da concepção de justiça como um elemento difundido e presente
na coletividade.

História do Direito 15
A luz de José Manuel de Sacadura Rocha (2015) podemos afirmar que os mais
importantes legisladores gregos foram Drácon (século VII a.C.) e Sólon (640
a.C. – 558 a.C.), ambos cidadãos Atenienses. As leis de Drácon são conhecidas por
suas notáveis determinações penais, especialmente suas previsões quanto ao
homicídio. Enquanto Sólon fora responsável por reformar as Leis de Drácon, em busca
de melhorar código quanto ao grau de crueldade de suas sanções, assim como
aprimorar seus aspectos civis.

O código de Drácon fora influenciado pelas condições


políticas instáveis de seu período – conflitos entre a
aristocracia, e uma tentativa de golpe caracterizam este
momento. Desse modo, não é de se admirar a criação de
leis severas e violentas, e punições como açoite em
praça pública, corte de membros,

empalação e penas capitais – as chamadas leis taliônicas,


repetindo os princípios de Hamurabi. Não é à toa que
hodiernamente nos referimos a sentenças
severas e desproporcionais como “draconianas”.
Ainda sob as orientações do autor supracitado, a que se refletir nos importantes
princípios desenvolvidos por Drácon que perduram em nossos códigos modernos:
Dracon introduziu princípios importantes que prevalecem até nossos
dias no Direito Penal: quanto ao homicídio, a diferenciação entre
homicídio voluntário (CP, art. 18, I – Crime Doloso), homicídio
involuntário (CP, art. 18, II – Crime Culposo) e a legítima defesa (CP, art.
25). Na verdade, a grande tarefa de Dracon foi acabar, por meio de
instrumentos legislativos, com a prática da vendetta, vingança, que era
comum nos tempos antigos, principalmente após a condenação e morte
de Cílon. ROCHA, José M.S.(2015)
Quanto aos homicídios e suas qualificações, havia-se um teor de
proporcionalidade na aplicação da justiça, conforme seus tipos. Dentre os tribunais
atenienses, presentes durante a legislação de Dracon (c. 621 a.C.), destacou-se o
Areópago, composto por magistrados de descendência aristocrata, os arcontes. Tal
instancia era responsável pelo julgamento de homicídios voluntários ou intencionais.
História do Direito 16
A resolução de homicídios involuntários era tratada de forma direta, entre as
famílias do homicida e da vítima, um princípio hodiernamente conhecido como Ciclo
Restaurativo. A resolução dava-se a partir de consenso, indenização pecuniária e o
culpado era exilado. No entanto, no caso de reincidência, extinguia-se o acordo e o
autor do crime, de acordo com a lei, poderia sofrer pena capital.

Verifica-se em Atenas a existência de vários tribunais, um para cada tipo de


homicídio:

 Areópago: homicídios intencionais ou voluntários;


 Paládion: homicídios involuntários, para situações com morte de escravos ou
estrangeiros, e quando as famílias não resolviam a lide.
 Delfínion: para os casos de confissão do crime, mas em casos onde o crime
era legalmente justificado, como o flagrante do adultério;
 Freato: para os casos em que havia reincidência – neste caso o arguido era
julgado à distância em um barco para evitar a “poluição”;
 Pritaneu: para situações onde não havia identificação do criminoso, ou morte
a partir de objetos inanimados ou animal.

As reformas de Sólon foram sucintas, mantendo


basicamente o mesmo código desenvolvido por Drácon. Porém
foram marcantes, com eliminação de hipotecas por dívidas, assim
como a libertação de escravos por dividas. Sólon também trouxe
medidas que consideravam as diferenças sociais das classes
atenienses.
Essas reformas promoveram considerável
desenvolvimento econômico a Atenas, atraindo estrangeiros e
artífices na busca de conquistarem cidadania. Outra importante
contribuição para a economia ateniense foi a reforma agrária
(horoi) promovida pelo legislador, “desmarcando muitas terras
que estavam de posse dos nobres, o que obrigava o pagamento de tributos, na quantia
de um sexto do produto obtido, por parte dos agricultores que nelas viviam”, José M.S.
Rocha (2015). A reforma jurídica de Sólon trouxe também uma grande reforma social
e econômica a Atenas.

História do Direito 17
Sólon não modificou as distinções entre homicídio voluntário, involuntário e
legítima defesa. Assim como propôs elucidar a separação entre Direito Privado e
Público, a partir de normas claramente aplicadas para a vida social, como por
exemplo, estabelecendo pela lei que o pai que não ensinasse um ofício ao filho
desobrigava este de abrigá-lo e cuidar quando estivesse velho.

Os textos literários,
assim como a filosofia, são
também de grande importância
para a edificação do
pensamento ocidental, assim
como para a organização
política. Para mais, a noção de
justiça grega ainda preserva-
se no âmago das civilizações

ocidentais modernas.

Em virtude da leitura
desses registros, verifica-se para os pensadores gregos, o direito origina-se do nomos,
regras ou leis transmitidas por costumes. Esse conceito foi usado primeiramente por
Hesíodo, “que tratava em seus escritos da justiça do camponês; contrapondo-se a
Homero, o qual apresentava suas epopeias a justiça aristocrática”, como afirma
Vicente Bagnoli (2014). Desse modo, compreende-se a ideia de nomoscomo uma
limitação do poder, quando os indivíduos devem obedecer tão somente a lei. Convém
ressaltar que, o nomos entende as leis não no sentido romano e moderno, mas no
costume, pois, o Grego ainda não visualizava a constituição de codificações
normativas.

Em suma, vale ressaltar o papel do direito privado na Grécia, embora não tenha
influenciado muito o direito ocidental moderno. Essa modalidade de direito
preconizou-se em Atenas em seu período clássico (séculos V e IV a.C.), pois se
constituía predominantemente de traços individualistas, viabilizando a livre disposição
de bens e do indivíduo em particular. Vicente Bagnoli (2014, p. 34) destaca ainda as
orientações de John Gilissen, afirmando que há regras que

História do Direito 18
favorecem em maior grau a liberdade individual grega, do que em Roma, usando de
três exemplos:

 Com a maioridade, o filho não permanece adstrito ao poder paternal, fato


este jamais verificado em Roma antiga.
 A transferência de propriedade se realizava por meio de um contrato que
gerava efeitos as partes. Para produzir efeitos em relação a terceiros,
havia um sistema de publicidade semelhante ao atual sistema de
transcrição de atos. Em Roma, referida publicidade era inexistente.
 Os contratos em geral eram consensuais e sem formalismos; enquanto,
no direito romano, a ausência de formalidades era exceção.

Diante do exposto, vale ratificar que a contribuição grega foi mais significante
para o direito público do que para o direito privado. Isso devido à valorização e
primazia do direito público que intensificou o pensamento político, cujo reflexo pode
ser verificado no próprio direito privado; este, não possui papel central na civilização
grega e também é marcado por traços da liberdade individual e significância da
manifestação de vontade nos contratos. Características que só podem tratar de uma
sociedade que encorajava a atividade política por parte dos cidadãos.

2.1 A Ideia de Justiça para Platão e Aristóteles

Na perspectiva de Platão e
Aristóteles, o direito e as leis eram
princípios primordiais para a
organização da polis, e objetos cruciais
para atingir o ideal de bem. Cumpre
observar que, para Platão, o uso do
termo ‘ideia’ está vinculado diretamente
com a ética; sendo assim,

a ideia de justiça deve ser


compreendida não como uma
construção utópica do que deveria ser o Estado, mas sim como algo verídico
representando o princípio de onde a polis teria de participar, o que significa a ideia

História do Direito 19
como de fato existente e verdadeira, e o problema estando em introduzir o Estado a
ela. O que resulta desse raciocínio é os governantes buscarem a sabedoria, tornando-
se filósofos, e os filósofos deveriam ser governantes, como esclarece Bagnoli,
resultado que garantiria alcançar a ideia de justiça

Podemos encontrar o conceito atribuído a lei por Platão, a partir do estudo da


obra As Leis, onde a ideia desta deve compactuar com a ideia de justiça. Desse modo,
interpretações distorcidas da verdade, da ideia, geram como fruto a injustiça. O mundo
concreto e, as leis reais e todos os seres e indivíduos tratam-se apenas de objetos
que indicam direções ilusórias aos sábios, que procuram a verdade. Essa concepção
não quer dizer que Platão considere as leis de forma negativa, diferente disso, para o
filosofo o nascimento da lei é fundamental para a edificação de uma sociedade. A lei
deve partilhar da ideia de bem, competindo ao direito educar os indivíduos. É devido
a este caráter educativo presente nas leis, que é dado ao preâmbulo destaque e citada
sua importância.

Como apontado por Vicente Bagnoli (2014, p. 43), veja:

Em suma, para Platão, as leis são justas quando visam atingir o bem
comum, logo, estarão afastadas da verdade de justiça aquelas leis que
tenham o escopo de proteger interesses de um grupo ou uma classe. As
leis, elaboradas por sábios, devem participar ao máximo da ideia de
justiça, sendo que devem ser seguidas por todos, inclusive pelos
governos.

A justiça e o direito de Aristóteles divergem em alguns


momentos do ponto de vista apresentado por Platão, isso
está relacionado ao desenvolvimento diverso da metafísica
por ambos os filósofos. Uma das principais obras de
Aristóteles, Ética a Nicômaco é, sem dúvidas, de grande
valor para a filosofia do direito. Se a lei é estipulada pelo
justo, então deve-se entender de forma clara e plena o
significado de Justiça.

História do Direito 20
Da perspectiva filosófica aristotélica, faz-se
necessário distinguir igualdade numérica e proporcional.

 Igualdade numérica determina uma relação entre os homens


considerados como unidade.
 Proporcional, essa determina que a cada indivíduo convém reter o que
lhe é de direito, em conformidade com suas realizações, habilidades,
virtude etc.

Ainda consonante a filosofia de Aristóteles, a que se diferenciar justiça


distributiva e corretiva. A primeira pertence ao Direito Público, dado que seu propósito
é conceber prêmios iguais a feitos iguais. Já na segunda, busca retificar a
desigualdade ocasionada por determinados excessos e transgressões.

Aristóteles, em sua obra a Retórica, apresenta um raciocínio que visivelmente


preocupa-se com as argumentações jurídicas e práticas forenses. A obra expõe a
indignação do filosofo com as atitudes dos sofistas, que aproveitavam dos debates
jurídicos como torneios, buscando fazer admissíveis inclusive as injustiças e os
enganos. Observando essa flexibilidade proporcionada pela ausência de lei regente,
ressalta-se a relevância de uma constituição para o direito, determinando que as leis
demais se constituam sob suas orientações. Ainda que a lei tenha sua força em
decorrência do habito, de pouco ela servirá se não estiver em concordância com os
princípios instituídos pela constituição.

Nesse sentido, Vicente Bagnoli (2014, p.43-44) orienta:

Nesse sentido, não apenas demonstra a importância do hábito para a


validade da lei, embora não se exclua a presença da força, que é tida
como um adicional; como desenvolve o raciocínio em relação à
equidade, presente no momento da aplicação do direito. A equidade
permite certa flexibilidade da norma, possibilitando a sua formatação
conforme o caso particular. Desse modo, a intenção do agente, os
valores, a presença da paixão no momento da prática de um ilícito etc.
podem ser utilizados para moldar a lei a ser aplicada.

É notável que a perspectiva dos filósofos, Platão e Aristóteles proporcionaram


as bases da Filosofia Moderna, pois forneceram maior clareza e compreensão da

História do Direito 21
função da lei e da constituição do direito, relacionados intrinsecamente a ideia de
justiça.

A especificação de justiça determinada por Aristóteles ainda é utilizada para o


direito contemporâneo, assim como suas advertências quanto a equidade e a
importância da constituição. Diante do exposto, convém reafirmar que o ideal de
justiça e a filosofia grega são de indubitável relevância para a ciência moderna do
direito. São estas as fontes de incontáveis conceitos de grande valor acadêmico e de
pesquisas, assim como de estudos doutrinários.

MÓDULO 3: DIREITO ROMANO

Podemos traduzir a importância do direito romano para os juristas a partir da


seguinte passagem de José Carlos Moreira Alves, citando o autor francês Huvelin:

Ora, nenhum direito do passado reúne, para esse fim, as condições que
o direito romano apresenta. Abarcando mais de 12 séculos de evolução
– documentada com certa abundancia de fontes -, nele desfilam, diante
do estudioso, os problemas de construção, expansão, decadência e
extinção do mais poderoso império que o mundo antigo conheceu. É
assim o direito romano notável campo de observação do fenômeno
jurídico em todos os seus aspectos.

Os primeiros a conceberem a autonomia da ciência jurídica foram os povos


História do Direito 30
romanos, com 13 séculos de experiência que gerou um legado que hoje denominamos
Direito Romano. Desse modo, não há como se desprezar tamanha fonte para
pesquisa e estudos, que influenciou inúmeros institutos jurídicos hodiernos.

As principais bases para a formação do direito romano podem ser orientadas


por três pilares fundamentais: Base familiar, a partir dos direitos voltados a aristocracia
romana (Iuris quiritum), costumes, religiosidade regidos pelo poder autoritário, voltado
para as tradições. Assim como uma forte influência de princípios taliônicos, a partir
das leis de Sólon.

O direito romano engloba mais de mil anos de história, no que tange o conteúdo
geral. A partir de 449 a.C. com a Lei das Doze Tábuas (Lex DuodecimTabularum) até
aproximadamente 530 d.C. e o Corpo de Direito Civil por Justiniano.

As fases do direito romano costumam ser dividas pelos historiadores sob


critério do desenvolvimento das instituições jurídicas romanas, a partir dessas
orientações o direito romano pode ser apresentado em três grandes períodos, como
defende Argemiro Cardoso Moreira Martins (2010):

 Direito Arcaico ou Direito Primitivo (753 a.C. a 130 a.C.)


 Direito Clássico (130 a.C. a 230 d.C.)
 Direito Pós-clássico (230 d.C. a 530 d.C.) que se estende ao período do
Imperador Justiniano (530 d.C. a 565 d.C.)

A que se ressaltar a importância e influência do direito romano sobre a estrutura


do direito europeu, que é imensa. À exemplo das grandes divisões do direito
comparado, o sistema romano-germânico, que é utilizado por vários estados
continentais europeus, é fundamentado no direito romano. Podemos observar o
mesmo nos sistemas jurídicos de todos os países latino-americanos. Rudolf von
Jhering (1907), influente jurista alemão, já afirmava que por três épocas diferentes
Roma influenciou o direito do mundo ocidental:

“Três vezes Roma conferiu leis ao mundo e por três vezes serviu de laço
de união entre os povos: primeiro, em face da unidade do Estado,
quando o povo romano se encontrava no auge do seu poder; depois, na
unidade da igreja nascente da queda do império; e, finalmente, pela
unidade do direito ao ser adotado durante a Idade Média.”

História do Direito 30
3.1 O Período Arcaico

Pode-se dividir o período arcaico em dois momentos:

 Nacionalista (753 a.C. a 242 a.C.): momento onde teve o início do


iuscivile, um direito exclusivo para a relação entre cidadãos romanos, de
maneira alguma para estrangeiros.
 Universalista (242 a.C. 130 a.C.): caracterizou-se pela criação da
magistratura do praetorperegrinus, o juiz encarregado de resolver

problemas entre estrangeiros, e das relações entre estes e os romanos.


Como nos elucida Xavier (2011): “Já na época arcaica, portanto, os
romanos souberam se livrar de um direito exclusivamente personalista,
para criar fórmulas e instrumentos de aplicação do direito aos
estrangeiros, o que contribuiu em muito para a expansão das fronteiras
de Roma e para a dominação de uma grande quantidade de povos
estrangeiros”.

É evidente a ligação entre direito e religião durante o período arcaico, quando


os sacerdotes dos pontífices (principais membros do colegiado de sacerdotes,
CollegiumPontificum) serem os agentes aplicadores do direito. A princípio o direito era
gerado pela decorrência do habito, fundamentado nos mais importantes costumes dos
cidadãos de maior influência, ou seja, a plebe não tinha nenhuma garantia de seus
direitos.

Figura 11 Ruinas Império Romano. Fonte: pixabay.com

História do Direito 30
3.2 Lei das Doze Tábuas

Não há como determinar exatamente o momento que se originou o sistema


jurídico romano. É possível afirmar que o primeiro documento legal, cujo conteúdo do
registro alcançou a hodiernidade com mais detalhes, é a Lei das Doze Tábuas, datada
de meados do quinto século a.C.

Como apontam historiadores romanos, o tribuno da Plebe C. Terentílio Arsa


apontou que, para evitar o uso indiscriminado do direito pelos magistrados patrícios,
seria prudente que o direito fosse escrito. Passaram-se oito anos de demandas,
quando os plebeus teriam convencido os patrícios a despachar uma delegação de três
magistrados a Atenas, para transcrever as Leis Sólon, propiciando a criação de um
código escrito de leis romanas. Além disso, diversas delegações foram enviadas a
outras cidades gregas com a mesma campanha.
Em aproximadamente 451 a.C., dez cidadãos romanos teriam sido incumbidos
de registrar as leis. Esses indivíduos, agora proclamados os decênviros (decemviri)
receberam o poder político supremo enquanto trabalharam, ao mesmo tempo em que
os magistrados patrícios tiveram seu poder restringido. Em 450 a.C. os decênviros
concluíram a inscrição das leis em dez tábuas, porém, os plebeus consideraram
insuficiente. Então, em 449 a.C. um segundo decenvirato fora convocado
acrescentando duas tábuas. Nesse mesmo ano, a Lei das Doze Tábuas fora aprovada
em assembleia.

As tábuas importavam textos relacionados a leis de juízo, furtos, direitos de


crédito, infrações etc. E tais leis eram notáveis por sua crueldade, pois instituíam-se
do direito de tirar a vida de indivíduos. É válido apontar as observações de José Carlos
Moreira Alves (2014), veja:

Embora os autores antigos dêem a entender que a Lei das XII Tábuas
abarcava todo o direito público e privado (Tito Lívio, III, 34, 3, a ela se
refere como fons omnis publicipriuatique iuris - "fonte de todo o direito
público e privado"), isso não procede. Com efeito, exceto as normas
relativas a direito penal, são escassos os dispositivos que tratam do
direito público, não havendo quaisquer regras sobre os institutos
fundamentais do direito constitucional e do direito administrativo. Quanto
ao direito privado, é ele tratado com mais largueza, embora, ainda aí, as

História do Direito 30
lacunas sejam consideráveis. Apenas com referência ao processo, é que
se encontram dispositivos mais numerosos e que obedecem a uma
sistemática. Portanto, a Lei das XII Tábuas não era um código como os
modernos, que se ocupam de determinado ramo do direito (por exemplo;
código civil, código comercial, código penal), mas lei geral que continha
dispositivos sobre direito público e direito privado. Girard, observando
que ela dedica especial cuidado à agricultura, o que, aliás, estava de
acordo com a civilização da época, a caracteriza como código rural.

As passagens ainda preservadas revelam que as XII Tábuas não se trava de


um código legal no sentido moderno, mas tratava de disposições legais com o objetivo
de alterar o direito habitual do período, não ser um sistema jurídico completo.
Predominavam em seu conteúdo referentes ao direito privado e ao processo civil,
muito embora também abarcava disposições sobre todas as áreas do direito. As
disposições normativas eram conhecidas por serem muito severas e por sua
crueldade. Mas já dispunham de princípios avançados, como direitos de crédito. Por
exemplo, a Tábua III possui determinações que abordam ambos estes aspectos:

Se o depositário, de má fé, pratica alguma falta com relação ao depósito,


que seja condenado em dobro. Se alguém coloca o seu dinheiro a juros
superiores a um por cento ao ano, que seja condenado a devolver o
quádruplo. Execução no caso de confissão por dívida: Aquele que
confessa dívida perante o magistrado ou é condenado, terá 30 dias para
pagar. Esgotados os 30 dias e não tendo pago, que seja agarrado e
levado à presença do magistrado. Se não paga e ninguém se apresenta
como fiador, que o devedor seja levado pelo seu credor e amarrado pelo
pescoço e pés com cadeias com peso até o máximo de
15 libras, ou menos, se assim o quiser o credor. O devedor preso viverá
à sua custa, se quiser; se não quiser o credor que o mantém preso dar-
lhe-á por dia uma libra de pão ou mais, a seu critério. Se não há
conciliação, que o devedor fique preso por 60 dias, durante os quais será
conduzido em 3 dias, de feira ao comitium, onde só proclamará em altas
vozes, o valor da dívida. Se são muitos os credores, é permitido, depois
do terceiro dia de feira, dividir o corpo do devedor em tantos pedaços
quantos sejam os credores, não importando cortar mais ou menos; se os
História do Direito 30
credores preferirem, poderão vender o devedor a um estrangeiro, além
do Tibre.

A Lei das XII Tábuas já previam proteções ao direito de propriedade, com


sanções aqueles que contra ela atentassem, furtando-a ou a danificando etc. O direito
de propriedade, concebido pelos romanos, trata-se de uma das instituições jurídicas
mais duradouras e controversas da civilização humana. Que determina em grande
parte a divisão de classes sociais, definindo poder econômico e político a quem dispõe
de poder jurídico sobre a propriedade. Observe as orientações da tábua VI:

Se alguém empenha a sua coisa ou vende em presença de


testemunhas, o que prometeu tem força de lei. Se não cumpre o que
prometeu, que seja condenado em dobro. O escravo a quem foi
concedida a liberdade por testamento, sob a condição de pagar uma
certa quantia, e que é vendido em seguida, tornar-se-á livre se pagar a
mesma quantia ao comprador. A coisa vendida, embora entregue, só
será adquirida pelo comprador depois de pago o preço. As terras serão
adquiridas por usucapião depois de dois anos de posse, as coisas
móveis depois de um ano. (...) Se uma coisa é litigiosa, que o pretor a
entregue provisoriamente àquele que detém a posse; mas se se tratar
da liberdade de um homem que está em escravidão, que o pretor lhe
conceda a liberdade provisória. Que a madeira utilizada para a
construção de uma casa, ou para amparar videira, não seja retirada só
porque o proprietário a reivindica; mas aquele que utilizou a madeira que
não lhe pertencia, seja condenado a pagar o dobro do valor; e se a
madeira é destacada da construção ou do vinhedo, que seja permitido
ao proprietário reivindicá-la.

3.2.1 Primeiras leis

Além das Doze Tábuas, outras fontes jurídicas também conhecidas dos
primórdios do direito romano são:

 A Lei Canuleia: de aproximadamente 445 a.C., a lei permitia o


casamento - iusconnubii - entre patrícios e plebeus;
 As Leis Licínias Sêxtias: de aproximadamente 367 a.C., cujo texto
restringia a posse de terras públicas - agerpublicus - e exigiam que um
História do Direito 30
dos cônsules, magistrados, fosse plebeu;
 A Lei Ogúlnia: sua gênese é de aproximadamente 300 a.C., autorizando
a ocupação de cargos sacerdotais por plebeus;

 A Lex Hortensia: também conhecida como Lei Hortensia, de 287 a.C.,


que determinou que as decisões das assembleias plebeias passavam a
valer para todo o povo.

Há que se mencionar também a Lei Aquília, de 284 a.C., do período


republicano, cujo conteúdo regulava obrigações civis. No entanto, a criação de leis
bem redigidas não foi a maior contribuição romana as orientações jurídicas europeias,
mas o desenvolvimento de uma classe profissional de juristas e de uma ciência do
direito, tornando a justiça habitual e os métodos da filosofia grega, a partir de um
processo gradual ao direito como uma unidade doutrinária – um tema que jamais foi
observado pelos gregos como ciência.

3.3 Período clássico

O período em que a ciência jurídica e o direito romano alcançaram o maior


patamar de seu desenvolvimento foram os primeiros 250 anos da era cristã. Este
momento da história do direito romano é identificado como o Período clássico, que se
distinguiu devido às realizações literárias e práticas dos juristas romanos.

Os encargos desses juristas eram diversos: enunciavam pareceres a partir da


solicitação de particulares; eram conselheiros de magistrados instituídos para
administração da justiça, como pretores; assessoravam pretores no preparo de seus
editos que apresentavam explicações sobre como iriam exercer seu cargo, assim
como um formulário de procedimentos judiciais, logo no início do mandado pretoriano.
Outrossim, eram encarregados de importantes cargos judiciais e administrativos

História do Direito 30
Figura 12 Império Romano. Fonte: pixabay.com

A principal inovação nesse período ocorreu devido ao trabalho exercido pelos pretores.
Esta função não se assemelhava com os juízes modernos, pois os pretores não usavam de
provas, estes buscavam compreender ambas as partes e decidir como julgariam o processo.
Nesse momento, entrava o iudex (que cumpria de certo modo a função de juiz)que com a partir
das informações do pretor, julgaria a causa e aplicava a sentença.

O pretor era instituído de um poder denominado imperium, que havia sido


ampliado pela Lei Aebutia atribuindo-lhe maior autoridade discricionária por volta do
segundo século antes de Cristo. Assim, o pretor poderia resolver omissões e detalhes
que as leis não podiam antecipar, devido a seu caráter universal. Devido a essa
autoridade é que o pretor podia dar certas instruções ao iudex, a partir dos formulários,
sobre como ele teria de avaliar determinadas questões jurídicas, onde ele poderia
introduzir novidades não previstas pelo iuscivile (direito das antigas leis escritas e
grafadas em blocos de bronze).

Um importante elemento do processo romano eram os edictas (editos),


conjunto de declarações, que continham a chamada fórmula que representava o
documento elaborado a partir do acordo entre as partes e pelo magistrado. Neste
documento estavam descritos os litígios e se outorgava ao juiz a autoridade de
absolver ou condenar o réu. Portanto, os editos cerceavam, a partir das fórmulas
processuais, o julgamento do juiz popular de acordo com seu conteúdo. Os
romanistas, estudiosos do direito romano, reconhecem o caráter privado e arbitral
desse processo jurídico.

Os juristas, ou jurisconsultos, realizavam tratados jurídicos e todo tipo de


comentário de direito. Por volta de 130 d.C., Sálvio Juliano produziu um edito
pretoriano universal, que foi aplicado por todos os pretores a partir daquele momento.
Tratava-se de definições detalhadas de todas as situações em que o pretor admitiria
uma ação judicial ou uma defesa. O propósito dos editos era agir como um abrangente
código legal. No entanto, não era instituído, de maneira formal, da força da lei.
Orientava pressupostos para uma petição legal bem sucedida, e foi fundamental para
diversos comentários e trabalhos jurídicos de acadêmicos da área, como Domício
Ulpiano (sec. III d.C.).

História do Direito 30
Neste período destacam-se alguns dos maiores jurisconsultos. Alguns destes
sistematizadores do direito romano, e criadores de conceitos tópicos da ciência
jurídica romana, seriam elevados a posição de fonte imutável do direito romano no
período Justiniano:

Dessa época, destaque para Salvio Juliano e outros cinco notáveis


juristas: Papiniano (considerado pelo Imperador Justiniano e pelos
romanistas o maior que Roma já tivera), Paulo, Gaio, Ulpiano e
Modestino (último dos jurisconsultos clássicos, viveu no século III d.C.).
DEMO, Wilson (2000, p.76)

Os juristas pré-clássicos desenvolveram inúmeros conceitos e instituições


jurídicas, mas podemos mencionar aqui alguns exemplos de sua contribuição:

 Separação clara entre o direito de propriedade (usar uma coisa) e a posse (a


habilidade factual de manipulá-la e utilizá-la);

 Distinção entre contrato e delito como fontes de obrigações civis;

 Os contratos nominados, que hoje fazem parte da grande maioria dos códigos
civis modernos (prestação de serviços, venda, aluguel etc.)

 Podemos também reconhecer em leis hodiernas o sistema de direito privado


criado por Caio (c. 160 d.C.) que se baseava na distinção entre pessoas
(personae), coisas (res) e ações judiciais (actiones)

Por fim, é valido ressaltar a importância do jurista para o desenvolvimento do


direito como ciência, e para sua ampliação. Em sua obra, Wolkmer afirma:

"O direito de então apresenta um caráter essencialmente laico e


individualista, cuja interpretação de suas fontes, cada vez mais de
natureza legislativa do que consuetudinária, compete a um corpo de
profissionais especializados os juris consultores".

Marcou-se o fim do período clássico com a redução dos trabalhos dos pretores
e jurisconsultos, e o cerceamento de sua autoridade e, ao longo do tempo, o
crescimento do poder do imperador.

3.4 Período pós-clássico

História do Direito 31
O período pós-clássico começa aproximadamente no século três d.C. Neste
momento o direito passa a ser elaborado quase que unicamente pelo estado. Este
período é marcado pelo surgimento do processo extraordinário, que é próximo em
semelhança com processos hodiernos, onde o autor apresentava os fatos ao
magistrado que designava um empregado para conduzir o autor durante a denúncia.
Esse mesmo magistrado acompanhava o processo, eliminando a necessidade de um
juiz. Outra importante observação é que, nesse momento, o magistrado já usava de
fatos e provas para decidir a lide, diferente dos pretores do período anterior.

Figura 13Merida. Império Romano. fonte: pixabay.com

Este também é considerado como o último momento da história romana, se


enquadrando período do Baixo Império. Quando ocorre a cristianização do Império. A
deterioração da situação política e econômica do Império Romano em meados do
terceiro século, dificultou o desenvolvimento do direito. O principado, sistema político
desse período, que resguardou alguns pontos e características do conjunto de regras
e princípios, escritos ou não da república romana, transformou-se a monarquia
absoluta do Dominato:

Por volta do ano 284 d.C., Diocleciano encerra a transição iniciada na


fase anterior e afirma seu poder absoluto. O imperador já não é mais o
princeps [principado], mas o dominus, o senhor do império. O seu poder
é absoluto e divinizado, encarna a res pública e legisla só (quod
principiplacuit, legis haber vigorem), datando desta época os primeiros

História do Direito 32
esforços da reunião da legislação em único documento.
DEMO, Wilson (2000, p. 78-79)

A influência do Cristianismo no direito romano se dá neste período. A partir do


Imperador Constantino, o cristianismo passa a ser a religião oficial do Império
Romano. Do ponto de vista dos cristãos o Dominato trata-se do período áureo, dada
a vitória do cristianismo. O direito reagiria a essa influência cristã a partir da
escravidão, do casamento, divórcio, porém muitas ideias já estavam presentes no
direito romano antes do advento do cristianismo. Estas ideias teriam sido
fundamentadas pela filosofia estóica, pagã, e não da filosofia cristã.

A partir disso, pode-se afirmar que a influência cristã no direito romano surgiu
com mais força no direito de família, e não patrimonial.

Outro acontecimento marcante do período pós-clássico foi a invasão bárbara


sobre o Império Romano do Ocidente, em aproximadamente 476 d.C., que foi uma
das principais causas da queda do Império e, obviamente, a decadência do direito em
Roma, devido a influência bárbara que vulgarizou o direito romano.

Nesse momento, o processo de desintegração do Império já culminava em sua


queda, com os imperadores romanos abraçando o catolicismo, a começar com
Constantino, que se converteu em 313 d.C. Restaram apenas as cidades episcopais
e arcebispais, enquanto que grandes regiões latifundiárias, ocupadas por colonos,
tornaram-se autônomas, com uma lealdade de caráter nominal, ao imperador oriental,
em Constantinopla.

Por fim, hordas bárbaras ocupam-se do antigo Império Romano do Ocidente:

A necessidade de sobrevivência e defesa militar e a ausência de governo


e de legiões romanas tornaram possível e necessária a instituição de um
sistema senhorial, no qual encontramos as origens do que mais tarde
veio a ser chamado de feudalismo (...). (TIGAR E, Michael; LEVY,
Madaleine R. Op, cit., p. 37. Apud. WOLKMER, 2006)

É neste período que surgem os juízos de Deus, aplicados por juízes que não
dispunham o mínimo de aptidão e competência para assumir tal cargo. Que
determinavam juízos baseados em evidências e constatações absurdas, como: “o

História do Direito 33
acusado era obrigado a segurar nas mãos nuas uma barra de ferro incandescente. Se
depois alguns dias a mão não estivesse infeccionada, o acusado era absolvido,
porque Deus o tinha protegido”.

Apesar de que no Império Oriental se mantivesse, ainda que comedidamente,


a ciência e a educação jurídica, no ocidente muito dos detalhes e sutilezas do direito
clássico foram perdidos. A produção jurídica literária tornou-se quase nula, a ponto do
direito ser ensinado a partir de noções jurídicas incoerentes, em escolas de artes. Os
registros, documentos e escritos dos juristas clássicos foram reescritos e adaptados
a situação política daquele período.

3.4.1 Período Justiniano

Este período é marcado pela presença do


imperador Justiniano, quem governou o Império
Romano do Oriente, e tinha o propósito de realizar uma
grande reforma legislativa, havendo o ressurgimento do
estudo do direito romano no século V, influenciada
pelas obras clássicas. O monarca nomeou uma
comissão, em 528 d.C., para reunir e produzir um
compilado das constituições imperiais vigentes até
aquele momento, até que em 534 d.C. foi concluída a
verão final deste compilado, intitulado de Codex. A que
se dizer que não há nesse período do Baixo Império
obra verdadeiramente criadora.

Além desse importante agrupamento, Justiniano convocou outra comissão,


com o propósito de realizar uma compilação das obras mais relevantes dos mais
importantes jurisconsultos. Também moldá-las para harmonizar as controvérsias
presentes entre as obras, e reformá-las de maneira que se adaptassem aos princípios
do direito atual. A versão final deste compilado era constituído de cinquenta livros,
sendo que, foram usados trechos de aproximadamente mil e quinhentos livros escritos
por jurisconsultos da época clássica. A obra fora intitulada como Digesto.

Outros importantes manuais jurídicos foram produzidos neste mesmo

História do Direito 34
momento. Encarregados por Justiniano, os jurisconsultos Triboniano, Teófilo e
Doroteu em 533 d.C. lançaram um estudo de introdução ao direito, direcionado a
estudantes, denominado de Institutiones. Justiniano ainda expediu um grande número
de constituições imperiais modificando a legislação vigente, entre c. 535 e 565 d.C.
Formaram um total de 177 volumes que, após a morte de Justiniano, foram
compiladas e denominadas de Novelles(Novelas). O conjunto de obras transcritas
durante o período Justiniano, formado pelo Codex, o Digesto e as Pandectas as
Intitutiones e as Novelles é chamado de Corpus Juris Civilis, o corpo do direito civil.

A expressão Corpus Juris Civilis, no entanto, não foi lançada por Justiniano,
mas pode ser creditada ao romanista Denis Godefroy, que atribuiu este nome à
compilação jurídica romana, como afirma Ralph Lopes Pinheiro (1997, p.45):

A compilação feita por ordem de Justiniano, já no declínio do Império


Romano, e que se corporificou em quatro livros, somente muito mais
tarde, ou seja, já em 1583, é que foi chamada pelo romanista francês
Denis Godefroy de Corpus Juris Civilis, em obra que publicou em latim,
resultando que essa expressão acabou sendo consagrada
universalmente.

O Corpus Juris Civilis de Justiniano passou por uma série de revisões ao longo
de sua subsistência, com o propósito de simplificação e sumarização, assim como
atualizar seu conteúdo. Dessas, as mais importantes foram a Écloga, de 740 d.C.,
pelo Imperador Leão, o isaurino; e as Basílicas, desenvolvidas e promulgadas ao final
do século IX, pelo imperador Leão, o filósofo. O código susteve-se até a tomada de
Constantinopla pelos Turcos, já no século XV, depois de ser recuperado pelo direito
canônico, das universidades medievais.

É importante reafirmar que o direito do Baixo Império, sediado no período pós-


clássico, não apresentou nenhuma contribuição verdadeiramente criadora para o
trabalho dos juristas clássicos. O mérito dado ao direito pós-clássico é o de ter
preservado, através das obras compiladoras, os trabalhos dos jurisconsultos romanos
do período clássico.

3.5 Apêndice

É válido para o objetivo deste estudo, apresentarmos trechos da compilação de

História do Direito 35
Justiniano, para melhor elucidação e, também, viabilizar um modelo de pesquisa
comparativo ao estudante. Segue em nota, os trechos atualizados e dispostos na obra
de José Manuel Sacadura Rocha (2015), dos textos que compõe o Corpus Juris
Civilis: Institutas, Digesto e Novelles.

3.5.1 DIGESTO

Livro Primeiro, 1

Da Justiça e do Justo

• Ulpiano, liv.1 Institutionum

Os que se vão dedicar ao estudo do direito devem começar por saber


donde vem a palavra “ius”. Na verdade, provém de “iustitia”: pois
(retomando uma elegante definição de Celso) o direito é a arte do bom
e do equitativo.

§ 1. Pelo que há quem nos chame sacerdotes. Na verdade, cultivamos


a justiça e, utilizando o conhecimento do bom e do equitativo, separamos
o justo do injusto, distinguimos o lícito do ilícito...

§ 2. Há duas partes neste estudo: o direito público, que diz respeito ao


estado das coisas de Roma; e o privado, relativo à utilidade dos
particulares, pois certas utilidades são públicas e outras privadas. O
direito público consiste (nas normas relativas) às coisas sagradas, aos
sacerdotes e aos magistrados. O direito provado é tripartido: é, de fato,
coligido de preceitos ou naturais, ou das gentes, ou civis.

§ 3. O direito natural é aquele que a natureza ensinou a todos os animais.


Na verdade, este direito não é próprio do gênero humano, mas comum
a todos os animais que nascem na terra e no mar, e também às aves.
Daqui provém a união entre o macho e a fêmea a que nós chamamos
matrimônio, daqui decorre a procriação dos filhos e a sua educação. Na
verdade, vemos que os restantes animais, mesmo as feras, parece
terem uma noção deste direito.

§ 4. Aquilo que distingue o direito natural do das gentes é fácil de


entender, pois que ele é comum a todos os animais e este apenas aos

História do Direito 36
homens.

• Papinianus, liv. II Definitium

Assim, o direito civil é o que deriva das leis, dos plebiscitos, dos senátus-
consultos e da autoridade dos jurisprudentes. O direito pretório é o que
os pretores introduziram para interpretar, integrar ou corrigir o direito civil
em razão da utilidade pública. O qual também se designa por honorário,
em honra dos pretores.

• Ilunianus, liv. LIX Digestorum

Nem as leis nem os senátus-consultos podem ser elaborados de tal


forma que prevejam todos os casos que possam eventualmente
acontecer; mas basta que prevejam os que acontecem o mais das vezes.
(GILISSEN, John. Introdução Histórica ao Direito. Lisboa: Fund.
Calouste Gulbenkian, 2003. Apud: ROCHA, José Manuel Sacadura.
História do Direito no Ocidente. Forense, 05/2015.)

3.5.2 INSTITUTAS

Título XVI

Da Pena dos Litigantes Temerários (de má-fé)

Cumpre agora advertirmos que os fundadores do direito tiveram muito


cuidado em que os homens não pusessem demandas facilmente; o que
é também nosso intento, e isto pode fazer-se muito melhor reprimindo-
se a temeridade tanto dos autores como dos réus, ou por uma pena
pecuniária, ou por um julgamento religioso, ou pelo medo à infâmia.

§ 1. Eis a razão de uma constituição nossa mandar deferir juramento a


todos os réus; porquanto o réu não usa das suas alegações sem primeiro
ter jurado que veio opor-se julgando usar de boa defesa (fé). E contra os
não confessos está em alguns casos estabelecida uma ação do dobro
ou do triplo se a ação for de dano injusto, ou dos estragos feitos aos
lugares venerandos. E a ação é, demais (sempre), do equivalente, em
princípio, do quádruplo no furto flagrante, e do dobro no furto não
flagrante; porque nestas causas e em algumas outras,
quer o réu confesse quer negue, a ação é, demais (sempre),
História do Direito 37
equivalente. Idem reprime-se também a chicana (calúnia) do autor
porque pela nossa constituição ele é igualmente obrigado a jurar no caso
de calúnia. Os advogados das duas partes estão também sujeitos ao
juramento que foi determinado por outra constituição nossa. Tudo isso
foi introduzido em lugar da antiga ação de calúnia que caiu em desuso,
porque multava os autores no dízimo do valor da causa, o que nunca
vimos praticar-se. Em lugar dela, porém, foi introduzido não só o predito
juramento, como que o litigante de má fé fosse obrigado a pagar ao
adversário, tanto o dano, como as custas da demanda.

Título XVIII

Dos Juízos Públicos

Os juízos públicos nem se exercem por ações nem têm semelhança


alguma com os demais juízos, de que temos falado, e a diversidade entre
eles é grande tanto na proposição, como no processo.

§ 4. Idem o da lei Julia dos Adultérios, a qual pune com a degolação não
só os violadores do leito conjugal alheio, como também os que ousam
exercer a pederastia. Pela mesma lei pune-se o crime de estupro,
quando alguém tiver cópula sem violência com uma virgem ou viúva que
vivia honestamente. A pena, que ela impõe aos culpados, é a do confisco
da terça parte dos bens, se são pessoas honestas, e a de açoites e
degredo, se são de extratos baixos.

§ 5. Idem o da Lei Cornelia dos Sicarios, que persegue com o ferro


vingador aos homicidas, assim como aos que andam com lança para
matar gente. Lança (Telum) conforme escreveu o nosso Gaio
(jurisconsulto) na interpretação da Lei das XII Tábuas chama-se
vulgarmente ao que se atira com arco; mas também significa tudo quanto
se atira com a mão. Segue-se, pois, que a pedra, o pau e o ferro
compreendem-se nesse nome derivado da palavra grega para “longe”
porque é atirado. E podemos encontrar esta significação no vocábulo
dos gregos, porque eles chamam “lança” ao que nós chamamos Telum.
Xenofonte o ensina, porque escreve assim: “e a um
só tempo eram atiradas lanças, hastes, setas, fundas e numerosas
História do Direito 38
pedras”. Sicarios vem de Sica, nome que significa faca de ferro. A
mesma lei condena também à morte os envenenadores, que com
artifícios odiosos matarem alguém ou com veneno, ou com palavras
mágicas, ou venderem medicamentos nocivos. (RODRIGUES, António
Coelho. Institutas do Imperador Justiniano. Recife: Typographia
Mercantil,1879. Apud: ROCHA, José Manuel Sacadura. História do
Direito no Ocidente. Forense, 05/2015.)

3.5.3 NOVELLES

Novela 127, Cap. IV

Trata de Questões Relativas ao Casamento (após 534 d.C.)

Recentemente proibimos, por uma nossa constituição, tanto aos maridos


como às mulheres, repudiarem-se e dissolverem o casamento (salvo,
porém, por causa admitida por nossa lei), e cominamos penas a maridos
e mulheres que procedessem de modo contrário. Mas, introduzindo
alterações relativas às penas cominadas a marido e mulher e mudando
para melhor esta matéria, mandamos não haja nenhuma diferença,
quanto à pena, entre marido e mulher, que o ousarem. Mas os maridos
que, por seu lado, assim o fizerem, sejam sujeitos às mesmas penas que
impusemos às mulheres que, sem nenhuma causa reconhecida por lei,
dissolverem os matrimônios, sendo semelhantes às penas tanto para o
marido como para mulher, pois julgamos justo cominar penas
semelhantes a delitos iguais. (PALMA, Rodrigo Freitas. História do
Direito. São Paulo: Saraiva, 2011. Apud: ROCHA, José Manuel
Sacadura. História do Direito no Ocidente. Forense, 05/2015.)

História do Direito 39
Figura 15CORPUS IURIS CIVILIS ROMANI. Gothofredus, 1583

MÓDULO 4: DO DIREITO MEDIEVAL


O período que envolve o direito medieval, que iremos analisar neste módulo, começa com
a crise do Império Romano, que se deu um processo de perda de efetividade administrativa,
econômica e organizacional.

Figura 16 Catedral Altenberger, Alemanha. Fonte: pixabay.com

A queda do Império começa com uma crise econômica incentivada pela diminuição das
guerras e, consequentemente, arrecadação de espólios de guerra, onde podemos incluir os
escravos. Exaurindo a mão de obra, diminuindo a produção. Desencadeando um processo de
ruralização, com a maior parte da população vivendo no campo, a partir do estabelecimento do
História do Direito 40
regime de colonato. Gerando, assim, a descentralização administrativa delegando aos grandes
proprietários a cobrança de impostos.

A ocupação do Império pelos bárbaros (povos europeus provenientes da Europa centra e


oriental, com língua estranha e hábitos rudes) deu-se, na verdade, de forma pacífica. Quando o
Imperador romano lhes concedeu terras desde que estes se obrigassem militarmente ao Império,
a partir do fornecimento de soldados (os federados). Estes contratos de investidura (foedus),tinham
o propósito de diminuir despesas ao império, evitando conflitos e gastos com o exército. Também
proporcionaram o estabelecimento definitivo dos bárbaros em terras romanas.

O Império Romano Ocidental culmina em sua queda a partir do processo das invasões e
ocupações bárbaras, no entanto sua influência jamais deixou o continente europeu. Muitos dos
aspectos administrativos e religiosas, como o iuscivile como o direito das populações, foram
conservadas através dos séculos nas regiões latinizadas. Ao norte do antigo império predominou-
se o direito germânico.

Durante esse período percebe-se a aplicação do princípio da personalidade do direito, como


aponta Argemiro Cardoso Moreira Martins (apud Wolkmer, 2015, p. 110), onde as populações e os
indivíduos passaram a viver “segundo as regras jurídicas de seu povo, raça, tribo ou nação, não
importando o local onde esteja”. Permitindo, assim, a preservação do direito romano no Ocidente
nos primeiros séculos após a queda do Império. Segundo o autor supracitado:

“A jurisprudência romana continuou a evoluir, sobretudo no contato com as


populações germânicas, e isto propiciou um distanciamento das fontes clássicas em
proveito dos costumes locais, muitos dos quais de origem bárbara – surgindo, assim,
o chamado direito romano vulgar. Houve, por volta do ano 500 d.C., uma série de
codificações empreendidas, segundo Gilissen, por reis bárbaros, tais como: o Édito
de Teodorico, promulgado pelo rei dos Ostrogos NA Itália; a Lei romana dos
burgúndios; e a Lei romana dos Visigodos, que teve uma penetração permanente no
Ocidente. Todas estas anteriores ao Corpus Iuris Civilis de Justiniano, que
permaneceu desconhecido no Ocidente até o século XII”. (Apud. WOLKMER, 2015
p.110)

A partir do século X, o feudalismo começa a ser instalado a partir do enfraquecimento do


poder monárquico, fazendo com que a Europa Ocidental se dividisse em um leque de diversos
senhorios detentores de terras e auto-suficientes, comportando pequenos exércitos ociosos. Esses
nobres belicosos, não se submetiam a enfraquecida posição hierarquia real, “o que gerou o
História do Direito 41
desaparecimento da atividade legislativa imperial e principalmente o desmembramento do poder
judicial nas mãos dos senhores feudais”, como orienta o mesmo autor. As relações feudo-
vassálicas, entre os nobres e seus servos, passaram a ser a única fonte de direito. Direito este,
que era embasado no costume.

A que se enfatizar a inexistência de escritos jurídicos nos séculos X e XI d.C. Os documentos


escritos desse período são resumidos a instituições eclesiásticas, pois mesmos os contratos
celebrados nas relações feudo-vassálicas eram tradicionalmente orais.

Aliás, à parte alguns clérigos, ninguém sabia escrever; os juízes leigos eram
incapazes de ler textos jurídicos. A justiça era feita, em grande parte, apelando para
a vontade divina; foi a época dos ordálios e dos duelos judiciários. Todos os vestígios
do direito romano desapareceram por volta do século X, exceto em algumas regiões
de forte tradição latina como a Itália, Espanha e sul da França, onde sobreviveram
sob a forma de costumes locais. (Apud. WOLKMER, 2015 p.111)

Além do direito feudal, pode-se afirmar que o direito canônico estabeleceu-se como único
ordenamento escrito durante toda a Idade Média, dada especialmente a sua uniformidade
alcançada a partir de Gregório VII. Desse modo, conservou-se de certa maneira a jurisprudência
romana através do direito eclesiástico, mas sempre tratado como uma fonte complementar da
justiça canônica, estando sob o julgo do direito divino e dos poderes e decretos eclesiásticos.

Portanto, pode-se assumir o direito medieval como um derivado de processos de


descentralização política, marcado por um período relativista devido a constante disputa e
sobreposição de poder entre diversos grupos, ordens e facções. Porém, o estabelecimento da
ordenação canônica trouxe, sobre as bases da sociedade romano-germânicas da alta Idade Média,
os princípios norteadores dos ordenamentos jurídicos europeus.

A partir disso, podemos dividir a Idade Média em dois grandes períodos:

 Alta Idade Média (séculos V a IX d.C.): onde se desenvolveu o direito canônico a partir das
fontes de direito romano e germânico.
 Baixa Idade Média (séculos IX a XV d.C.): este período foi marcado pelo direito feudal,
assim como o renascimento do direito romano a partir das universidades.

Nossos estudos serão orientados a partir das ordenações jurídicas que contribuíram para a
edificação do direito europeu, e consequentemente o direito ocidental como um todo. A partir do
direito presente nas tradições e condutas dos povos germânicos; o direito consuetudinário feudal

História do Direito 42
e os contratos de vassalagem; o direito clerical, advindo da organização eclesiástica e os princípios
cristãos, denominado direito canônico até a redescoberta do direito romano, a partir das
universidades.

4.1 Direito dos povos germânicos

A Europa medieval foi fruto de um extenso processo de descentralização política, como


vimos anteriormente. Como aponta a pesquisadora Ligia Mori Madeira, em seu artigo HISTÓRIA
DO DIREITO MEDIEVAL, os povos de origem bárbara, como designaram os romanos, ocuparam
os territórios o Império romano, trazendo consigo uma cultura sócio econômica retrograda.

Como ressalta a autora, tratavam-se de povos ligados a terra, que ainda não haviam
desenvolvido a escrita ou organizações territoriais e políticas, cujas as famílias de autoridade
patriarcal eram a base de sua organização social. A oralidade e o costume regiam suas noções de
direito ou formação jurídica. Como dito anteriormente, esse período é marcado pelo direito
consuetudinário, e o princípio da personalidade do direito, onde cada tribo dispunha de uma
tradição própria.

Como aponta Castro (2013, Apud. MADEIRA), foi mantido um princípio de pessoalidade do
direito nos primeiros momentos do período medieval, a partir dos povos dominantes daquele
momento. Diferente do período da vingança, como retratado anteriormente em nossos estudos,
tais povos não impunham seu direito sobre os diferentes povos, “que mantiveram o estatuto de
suas tribos de origem, o que também permitiu”. Este mesmo caráter também permitiu a
preservação e sobrevivência do direito romano.

É clara os benefícios aproveitados pelos germânicos a partir das concepções de direito


público romanas. Tais premissas, como apontam Gilissen (2003, apud. MADEIRA) reforçavam a
autoridade desses povos. A diferença entre os graus de desenvolvimento do direito romano e dos
povos germânicos, para o mesmo autor, é um dos fatores que motivaram a não imposição destes
sobre aquele. É válido apontar as observações de Gilissen, quanto a existência de algumas leis
bárbaras, como referido no artigo da autora Ligia M. Madeira:

Conhece-se uma dezena de legesbarbarorum no quadro geográfico do império


carolíngio: lexsalica, lexrubuaria, lexburgundionum, lexalamanorum, ... A redação de
algumas delas remonta aos séculos V ou VI, outras datam somente do século IX.
Desempenharam um papel capital na conservação das tradições jurídicas dos povos
germânicos...
História do Direito 43
Estas leges não são verdadeiros códigos, longe disso; não são sequer leis, no sentido
atual do termo; são mais registros escritos de certas regras jurídicas, com origem no
costume, próprias deste ou daquele povo. São pois compilações muito incompletas,
espécie de manuais oficiais para uso dos agentes da autoridade e dos membros dos
tribunais... As leges não são pois actos legislativos, leis no sentido moderno – e
romano - da palavra. São, na realidade, costumes reduzidos a escrito com a ajuda de
“dizedores do direito” e por vezes aprovados pela autoridade. As leges encontram-se
escritas em latim, salvo as de Inglaterra (Gilissen, 2003, p. 172, apud. MADEIRA).

A partir disso podemos observar a contribuição e influência de tais povos para o


desenvolvimento do que consideramos como direito medievo e sua contribuição para a formação
do direito europeu no futuro.

4.2 Direito Feudal

O Feudalismo surge a partir de um processo de modificações políticas e sociais que


transforma a organização da Europa, a partir do enfraquecimento do poder dos reis, como
abordado anteriormente.

Apesar de caracterizar-se por um período de escasso


desenvolvimento jurídico, o período da baixa idade média ainda
pode ser analisado com sua própria formação de direito,
conhecido como Direito Feudal. Este trata-se do “conjunto de
normas consuetudinárias que regiam as relações advindas do
sistema feudal de produção”, como afirma a pesquisadora Ligia
M. Madeira, mencionada previamente.

O direito feudal regeu o sistema social político europeu por


quatro séculos, a contar a partir do século VIII no reino
franco e,
História do Direito 44
subsequentemente, vigorando por todo o Ocidente europeu. Como destaca a autora, as principais
características deste direito, eram as valorizações das relações pessoais e da propriedade
fundiária, assim como a inexistência de uma concepção de Estado, que são princípios de caráter
germânico que predominam as atribuições do direito feudal. Como aponta Gilissen:

O feudalismo é caracterizado por um conjunto de instituições das quais as principais


são a vassalagem e o feudo. Nas relações feudo- vassálicas, a vassalagem é o
elemento pessoal: o vassalo é um homem livre comprometido para com o seu senhor
por um contrato solene pelo qual se submete ao seu poder e se obriga a ser-lhe fiel
e a dar-lhe ajuda e conselho, enquanto o senhor lhe deve proteção e manutenção. A
ajuda é geralmente militar, isto é, o serviço a cavalo, porque a principal razão de ser
do contrato vassálico para o senhor é poder duma força armada composta por
cavaleiros (Gilissen, 2003, p. 189, apud. MADEIRA).

Apesar da inexistência de documentos jurídicos originais deste período, a que se mencionar


as únicas leis escritas existentes, como aborda a pesquisadora Maísa Cristina Dante da Silveira.
Essas foram as capitulares, que tratavam-se de leis editadas pelos reis, cujo conteúdo eram
normas de direito penal e processual, como define a autora:

As capitulares eram editadas pelos reis, com o apoio de um consenso (capítulo), na


tentativa de organizar a sociedade e proteger os súditos mais pobres. Eram fator de
unificação jurídica, porque aplicáveis a todo o reino. Desapareceram no fim do século
IX, a partir do que não existiram mais legislações aplicáveis a todo um reino até o
século XII.

A tradição jurídica tornou-se oral, e seu principal fundamento era o costume e tradição de
cada coletividade, como no período do direito arcaico (povos anteriores a escrita). As relações
feudo-vassálicas determinavam toda a organização jurídica, quando já inexistiam toda a sorte de
organização estatal e legislativa.

Este direito consuetudinário tem bases territoriais, as normas eram diferentes de acordo com
cada região, devido ao desaparecimento do princípio da pessoalidade das leis, e houve o total
abandono de qualquer espécie de ensino jurídico, e não há como determinar se houve o
desenvolvimento de qualquer sorte de ciência jurídica. “O único direito supranacional, no início
da Idade Média, era o direito da igreja Romana, sendo que nem ele, que gozava de prestígio, foi
na época estudado” Maísa C.D. Silveira (2005).

Os séculos X e XI foram séculos sem escritos jurídicos: nem leis, nem livros de direito,
História do Direito 45
nem sequer actos reduzidos a escrito. Os contratos tão numerosos que estão na base
dos laços de dependência de homem para homem (vassalagem, servidão) e dos
direitos sobre a terra (feudos, foros, etc.) raramente eram reduzidos a escrito; quando
muito, algumas instituições eclesiásticas (sobretudo capítulos e abadias) mandaram
redigir os actos (sobretudo doações) que lhe interessavam... à parte alguns clérigos,
ninguém sabe ler nem escrever, há poucas escolas; os juízes (por exemplo, os
vassalos reunidos num tribunal feudal) são incapazes de ler textos jurídicos. A justiça
é feita, a maior parte das vezes, apelando para Deus, com a ajuda de ordálios ou de
duelos judiciários. Enfim, a maior parte das relações entre os homens, que nascem
das convenções próprias das instituições feudo-vassálicas, são regidas pelo costume
que fixa as obrigações duns e doutros (Gilissen, 2003, p. 191, apud. MADEIRA).

Podemos separar como os principais institutos jurídicos deste período:

 Feudo: Feudo é a concessão recebida, por um vassalo nobre, de um suserano,


também nobre, mediante o cumprimento de certas obrigações, FERNANDES (2000,
apud. SILVEIRA).
 Contrato de enfeudação: trata-se da transmissão de posse do feudo, para um
vassalo, obrigatoriamente membro da nobreza (com exceção de mulheres, crianças
e sacerdotes), por via de homenagem: onde o vassalo, proprietário de terras, jurava
fidelidade (normalmente quanto a serviço militar, dentre outros) ao suserano, que se
comprometia a certas obrigações como, especialmente, a proteção do vassalo; por
via de investidura: que consistia na entrega ao vassalo de concessão de benefícios
dos quais o suserano era o titular, a exemplo, a cobrança de pedágio em uma
determinada ponte. O suserano ainda se obrigava a garantir proteção militar e
hereditariedade do feudo. (SILVEIRA, 2005)

A que se falar também dos regimes jurídicos de:


 Propriedade: que consistia na posse de terras a partir de três modelos, como
salienta a autora Maísa Silveira: posse coletiva, que incidia sobre bosques e pastos
para coleta e extração de madeira e alimentos; reserva ou manso senhorial, que se
tratava de metade da terra cultivada como propriedade privada do senhor; e manso
servil ou tenência, onde detinha ao senhor a propriedade e o servo, assim como o
direito de uso.
 Relação de trabalho:série de obrigações impostas aos servos, como: a corveia,
trabalho forçado de servos nas terras senhoriais; redevances, impostos pagos ao
História do Direito 46
senhor pelo uso das terras, em produtos ou dinheiro; talha, parte da produção que
era entregue ao senhor; ou as prestações, que consistiam em uma hospitalidade
forçada aos barões em viagem. (SILVEIRA, 2005)

Quanto à administração da justiça, é valido lembrar que a justiça era um regime embasado
em tradições locais, e esta era aplicada a partir de juízes leigos. Ainda assim, criou-se um sistema
de tribunais feudais, que era composto pelos tribunais Senhoriais, Eclesiásticos e Municipais.
Quanto aos métodos processuais, convém expor o trecho:

O processo também era peculiar. Os casos eram expostos publicamente, ao ar livre,


e o povo participava, concordando ou discordando do veredicto proposto. O
procedimento era oral, e as autoridades exerciam somente o controle formal da
disputa e a ratificação da solução encontrada. Havendo dúvida, a solução era dada
pelo duelo. Os meios de prova eram, em sua maioria, irracionais, baseados nos
poderes divinos ou sobrenaturais. Provas documentais e testemunhais eram raras, e
o juiz não as valorava, de modo que, havendo dúvida, recorria-se também aí ao duelo.
Além do duelo utilizava-se o ordálio, ou "prova de Deus", em que a parte era
submetida a uma prova e, dependendo do resultado, considerava-se que falava a
verdade ou mentia (por exemplo, passar por uma fogueira sem queimar os pés era
prova de que a alegação era verdadeira).SILVEIRA, Maísa Cristina Dante. 2005.

Portanto, pode-se assumir que o direito feudal desenvolveu-se primordialmente a partir dos
costumes, tendo desaparecido o direito romano, com exceção da Itália, e o direito canônico regia
apenas as relações eclesiásticas e alguns ramos civis, como aponta Maísa Silveira. Ao monarca
cabia a tarefa de legislar questões particulares. Podemos encontrar o registro desses costumes
em obras como Legesfeudorum(século XII), que originam-se do fim do Direito Feudal.

A que se concluir que o Direito Feudal tratava-se de um sistema que se restringia a


normatização, de maneira usualmente informal, das relações do sistema feudal de produção. Não
havendo desenvolvimento de princípios ou doutrinas que pudessem proporcionar a elaboração de
uma ciência jurídica.

4.3 Direito Canônico

O direito canônico define o direito presente na organização da comunidade religiosa cristã,


mais especificamente o direito presente na igreja católica, cujos preceitos divinos partem do Antigo
e do Novo Testamento. O termo canônico dá-se em razão do termo grego ‘cânon’ (kanoon, no
original), que traduz-se como regra, e denominava as decisões dos concílios(reuniões de prelados
História do Direito 47
católicos) dos primeiros séculos da Igreja, como afirmam os pesquisadores Viana Pereira e
Almeida Magalhães.A unidade e a uniformidade do Direito Canônico foram proclamadas a partir
da reforma realizada pelo pontífice Gregório VII, 1073 a 1085.

Figura 18 DIREITOS AUTORAIS. FONTE: http://www.dino.com.br/releases/universidades-medievais-juristas- glosadores-de-


bolonha-dino89069294131

Tal reforma tratou-se de uma transformação institucional e no modo de vida na mentalidade


religiosa medieval, trazendo a ordem canônica de volta as origens, ecclesiaeprimitivae forma.
Podemos relacionar os mais importantes pontos dessa reforma na seguinte orientação, dada pelo
autor Vicente Bagnoli:

 Confirmação da independência da Igreja, evitando assim a influência política secular


na escolha e nomeação de cargos eclesiásticos e administrativos;
 Encerrar a venda de serviços religiosos;
 Dar fim a prática sexual de clérigos, que anteriormente constituíam famílias ainda que
efetivos nas ordens sacras.

As mudanças no campo do direito também são consideráveis. O papa Gregório VII marca
sua reforma distinguindo de forma clara a separação entre Sacramentos e leis que, até então, eram
restritas a regras comuns, de caráter vago e abstrato.Isso a partir de medidas que buscaram
encerrar a subordinação da igreja a influência política do poder civil. Gregório institui um poder
político eficaz para se opor a seus adversários, libertando a igreja Ocidental como um todo do
poder secular. Formando a partir desse esforço político o direito canônico, que era voltado a uma
jurisdição particular e com propósitos políticos determinados, provinda da Igreja reformada. Daí́ por
diante serão os institutos de direito canônico, particularmente o desenvolvimento racional e formal
do processo canônico, que serão imitados por reis, príncipes e senhores seculares. Por este
caminho é que a Europa reencontrará sua tradição jurídica racionalizante e formalizante, BAGNOLI
História do Direito 48
(2014).

O Direito Canônico afirma o poder legislativo e judicial da Igreja, levando em conta o


objetivo de salvar todas as almas, e constitui o conjunto de normas jurídicas, de
origem divina e humana (mas sempre de inspiração divina), reconhecidas ou
promulgadas por autoridade da Igreja Católica, que determina a sua organização e
atuação e a de seus fiéis, em relação aos fins que lhe são próprios (AZEVEDO:
2007,
p. 107, apud. MAGALHÃES & ALMEIDA).

Portanto, o direito canônico reflete primordialmente as Escrituras Sagradas, portanto um


direito divino (iusdivinum), assim como a influência dos conceitos herdados do direito romano
durante os primeiros séculos da igreja. Ao contrário de outros direitos de origem religiosa, como
o hebraico ou mulçumano, a igreja reconhece e divide este sistema jurídico em direito laico
(iuscivile), cujo o poder restringe as relações humanas; e o direito religioso (iuscanonici), como
guia e modelo de preservação das almas, salvação do espírito.

A Igreja é una, santa, católica, apostólica, romana, única fundada por Cristo que na
região da Cesareia de Filipe disse a Simão, filho de Jonas, “tu és Pedro, e sobre esta
pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la” (Mt 16,
18). Desde então, Pedro é sucedido pelos Papas. Outrossim, a Igreja é universal, não
se confundindo com os Estados. Nesse senti- do as passagens bíblicas segundo as
quais Jesus afirma que seu Reino não é deste mundo, e que se deve dar a César o
que é de César, e a Deus o que é de Deus.(BAGNOLI, S, CGBD: pag. 66. 2014).

Desse modo, eram destacados nesses direitos ideais de paz, fraternidade, harmonia e
solidariedade, prestando a este direito uma grande influência da moral, como afirmam
MAGALHÃES & ALMEIDA em seu artigo. Fazendo com que muitas lides fossem resolvidas a partir
do acordo das partes, determinado pela renúncia recíproca em determinada porção, garantindo
assim uma transação amigável.

Como afirmado anteriormente, enquanto o direito laico escrito desaparecia nos séculos X a
XII, tornando-se predominantemente consuetudinário, houve a persistência do direito canônico a
partir da preservação e compilação de diversos textos, restando durante grande período da Idade
Média, como o único direito escrito.

Dentre os escritos acerca do Direito canônico, pode-se citar a Discadália dos Apóstolos, que

História do Direito 49
consistia dos princípios fundamentais para a disciplina doutrinaria da igreja. A preservação de
documentos ocorreu também a partir do compilado das chamadas coleções canônicas. É
considerado também o Decreto de Graciano, onde foi realizada a interpretação de vários textos
compilados.

O lavor legislativo prossegue com os papas posteriores: aos cinco livros das
Decretais (iudez, iudicium, clericus, connubia, crimen) acrescentam-se o sexto, de
Bonifácio VIII, 1298; as Clementinas, de Clemente V, 1314; as extravagantes, de João
XXII, 1319, as extravagantes comuns, 1325. Estas compilações constituíram, mais
tarde (século XVI), o corpo de Direito Canônico, Corpus Iuris Canonici, adicionando-
se, ainda, as Instituições, de Paulo Lancelotto, obra didática que complementa o
texto. (AZEVEDO: 2007, p. 114 apud.MAGALHÃES & ALMEIDA).

E dentre outras fontes é válido mencionar também, as decisões eclesiásticas, dos quais lhe
fazem parte os decretos e os decretais, constituições pontifícias, e como já advertido, os costumes
e princípios do direito romano, como destaca a obra de Vincente Bagnoli. Podemos relacionar a
legislação canônica e sua fundamentação a partir da seguinte orientação:

 Decretos: também denominados cânones, tratam-se de decisões originárias dos


concílios, especialmente os chamados concílios ecumênicos episcopais.
 Decretais (litteraedecretales): trata-se de documentos escritos papais, com a função
de interpretar ou complementar decisões proferidas por bispos ou personalidade
eclesiástica, até mesmo laica em concílios. Existem poucos registros desses
documentos.
 Constituições: estas são de fato leis da igreja, com o papel de transmitir conselhos
dirigidos pelo papa aos bispos e à comunidade, por meio das chamadas Encíclicas.
 Direito não escrito: trata-se do costume (ius non scriptum), deste modo, não
conquista grande espaço no direito canônico. No entanto, costumes eram
reconhecidos a partir de que respeitassem o direito divino, e estivesse em uso há
aproximadamente 30 anos. Os costumes eram observados como fonte local de
direito.
 Direito romano: como já observado anteriormente, apesar da igreja não poder negar
a herança do legado jurídico romano, este era um supletivo do Direito Canônico. Os
princípios preservados eram os elementos relacionados às obrigações e aos
fundamentos do processo civil canônico.

História do Direito 50
Os tribunais eclesiásticos eram responsáveis pelo julgamento de litígios de toda a esfera do
direito privado, como conflitos e demandas envolvendo casamento ou divórcio. É também notável
uma busca pela perfeição, durante os julgamentos desse período, com o uso não apenas dos fatos
e consequências, mas da influência da personalidade do autor e réu na decisão final. Ao nos
apropriarmos do texto de WIEACKER (1980, apud. SILVEIRA), o poder e a autoridade do direito
canônico desenvolveu-se a partir da inexistência de uma legislação estatal, assim como a
afirmação da autoridade da igreja.

A que se falar também do Tribunal do Santo Oficio ou Tribunal da Inquisição, que surgiu
com o propósito especial para o julgamento e condenação de hereges. Como nos orienta Lígia
Mori Madeira, cabia apenas a parte lesada o direito de realizar acusações. Tais acusações eram
secretas, tal qual os atos e provas que eram mantidos em segredo, validando-se em primazia da
prova testemunhal e, mais importante ainda, da prova de confissão que era na grande maioria das
vezes alcançada mediante tortura. Era dado ao juiz liberdade para interpretar as leis, podendo-se
utilizar de penas variadas (Castro, 2003, p. 138. Apud. MADEIRA).

O Tribunal do Santo Ofício serviu de ferramenta para centralização monárquica da igreja.


Assim como estabeleceu, a partir do processo inquisitorial, o inquérito como modelo judicial e
jurídico, instituindo o inquisidor, um acusador oficial, como uma figura representadora do Estado.
As Cruzadas também serviram de instrumento fundamental para a expansão de poder do Ocidente,
servindo de grande influência sobre a vida dos cristãos ocidentais.

Ao final da baixa Idade Média, no século XII, o direito canônico passa por um processo de
sistematização, para o formato de códigos. Ainda não há que se falar em criação e
desenvolvimento de direitos, mas ainda de uma recuperação e compilação intelectual. Ainda sobre
a orientação de WIEACKER (1980, apud. SILVEIRA), o direito canônico apresentou durante um
longo período regulamentação associadas ao direito de família, situações eclesiásticas,
testamentos e questões imobiliárias, assim como bens imóveis.

Assim, podemos afirmar que muitas foram as contribuições do Direito canônico. A realização
de um direito inteiramente escrito, e um processo que contava com a participação ativa do autor e
réu, previsão da possibilidade de reconvenção, preocupação com a realização da justiça (o “trânsito
em julgado” só ocorria após três sentenças no mesmo sentido), e até mesmo a figura
de procuradores que proporcionavam acesso à justiça aos necessitados, os chamados

advocatipauperum (MAGALHÃES & ALMEIDA).

A força da supremacia da igreja e do direito canônico começa a exaurir a partir do século


História do Direito 51
XVI, através das novas Reformas e do processo de laicização do Estado e o direito, que ocorre
por praticamente toda a Europa (Gilissen, 2003, p.
141. Apud. MADEIRA).

4.4 Redescoberta do Direito Romano

Ainda durante o período da Baixa Idade Média, insurge o renascimento do Direito Romano,
a partir do surgimento das universidades que aprimoraram o desenvolvimento da ciência do direito,
a partir do século XII. Essas universidades utilizam do direito romano para fundamentar o ensino
do Direito, a partir, especialmente, das codificações reunidas no período de Justiniano, o Corpus
Iuris Civile, redescoberto por volta do ano 1100, como afirma CAENEGEM (2000, apud. Rocha
Santos).

Figura 19 fonte: pixabay.com

Como afirma o pesquisador Michel Carlos Rocha Santos (2011), foi a partir disso que se
formaram os dois pilares primordiais para o chamado direito erudito europeu medieval, que são o
Direito Romano (na esfera civil) e o Direito Canônico. O desenvolvimento do direito romano deu-
se consequente dos estudos de três grandes escolas:

 A escola dos glosadores: provindos da Universidade de Bolonha, na Itália, no


século XI,que elaboravam pequenos comentários às margens do textos do Corpus Iuris
Civile, conhecidos como glosas. (CAENEGEM, 2000. Apud. Rocha Santos).As glosas foram
muitas vezes usadas no lugar do próprio corpus, dada a tamanha importância e fidelidade ao
texto original. As obras que reunião essas glosas eram conhecidas como Summae.
 A escola dos comentadores: esta foi responsável pelo seguimento do trabalho dos
glosadores, também desenvolvendo comentários importantes sobre os códigos,
assim como elaborando pareceres sobre situações as quais tinham sido consultados,

História do Direito 52
utilizando-se de casos concretos para realizar a interpretação do texto do Corpus.
(CAENEGEM, 2000. Apud. Rocha Santos). Estes porém eram mal vistos, criticados
como homens de pouca cultura, promovendo uma distorção do direito romano.
 A escola dos humanistas: cuja influência reflete-se de maneira obtusa no
movimento Renascentista. Estes estudiosos ousaram ir mais longe do que os
glosadores, tomando o Corpus Iuris Civile como produto da evolução jurídica
desenvolvida por muitos séculos.

A partir desse momento emerge o entendimento da aplicação do direito com o


propósito de razoabilidade e justiça, e que estes princípios devem se ater as
conformidades da concepção dos homens, afastando-se do ideal divino. Esta
romanização do direito, no entanto, é mais comedida na Itália, assim como nos países
ibéricos, na Alemanha e nas regiões belgo-holandesas (MADEIRA).

A lei passa a ser compreendida como fonte do direito, a partir do surgimento do


raciocino jurídico do reconhecimento de preceitos utilizados para a resolução de litígios e
casos concretos, que devam ser reconhecidos pela doutrina ou fixados pelo legislador.

Algumas das transformações, de grande importância para o direito hodierno, dos


sistemas de natureza jurídica dos séculos XII a XIII, relacionam-se a transição do uso do
sistema baseado em um direito irracional para um racional, utilizando-se de meios
racionais de prova para afirmar uma verdade, como o inquérito, testemunhos e atos
escritos. Não há que se falar em provas como a intervenção de Deus, entre outros
elementos místicos.
Nesse momento, como orienta Gilissen (2003, p. 205) com o desaparecimento da
multiplicidade do regime feudal, são concebidos os embriões dos Estados modernos;
insurgindo o desenvolvimento econômico e consequentemente um direito urbano,
marcado pelo aspecto jurídico isonômico. Assim como priorização da lei frente aos
costumes.

A anarquia e multiplicidade do sistema feudal começam a se esgotar, como


observado anteriormente, a partir do reforço do poder de certos reis a partir do uso da
força e violência. A imposição dessa autoridade, que exerce poder de manter a ordem
e paz pelo desenvolvimento nas esferas da justiça, a partir de um rei ou grande
senhor, geram o ambiente necessário para a formação dos embriões dos Estados
Nacionalistas. Com o domínio da racionalidade na aplicação do direito, e a lei

História do Direito 53
sobrepondo-se ao costume a partir do século XIII.

Para CAENEGEM (2000, apud. Rocha Santos), na Baixa Idade Média a


legislação já era uma fonte amadurecida do direito, acompanhando a ciência jurídica
e a jurisprudência, não obstante as grandes codificações terem seu início no século
XVIII.

MÓDULO 5: DO MOVIMENTO DE CODIFICAÇÃO E A COMMON LAW

5.1 Formação do Direito e dos Estados modernos

O Direito está intrinsecamente relacionado ao caráter e valores culturais de


um povo, civilização e época. Portanto, o período que se segue ao fim da idade média
é fundamental para o desenvolvimento do nosso estudo quanto a história do direito e
sua formação contemporânea. Este período trata-se da idade moderna, onde se
constituíram os estados modernos.

Como tratado anteriormente, o sistema feudal marcou a organização da sociedade,


durante o período da Idade Média, que se tratavam

História do Direito 54
de senhores responsáveis pela administração de grandes propriedades agrárias,
como afirma Bagnoli (2014).O mesmo autor nos orienta que, ao final da Idade Média,
com o advento do mercantilismo, o cenário econômico fora transformado com a
presença de atividades urbanas, que libertava o camponês da terra para fazer parte
da mão de obra para a produção e comércio. Desse modo, dinamizou-se o processo
de formação dos Estados nacionais.

Para que isso fosse possível, era necessária a extinção do feudalismo.


Quando isso ocorreu, significou também, a extinção da sociedade da
forma como estava constituída, ou seja, de sua organização política,
jurídica e tradicional. Com essas mudanças na organização estrutural,
as sociedades se centralizaram em terri- tórios que tinham como seu
representante um monarca. Constituía-se, assim, o denominado Estado
nacional. (Bagnoli, S, CGBD 02/2014, p. 82)

O período da Idade Moderna localiza-se entre os séculos XVI e XVIII, e é


marcada por uma nova perspectiva de cosmo visão, desenvolvida a partir das teorias
Renascentistas após o fim da Idade Média, que trouxeram uma transformação da
postura Europeia acerca de suas concepções do mundo.

Este período é marcado pelo desenvolvimento de teorias que reordenaram


conceitos e valores sociais, a exemplo, a teoria do conhecimento e teorias da
Racionalidade; assim como a revoluções doutrinarias no campo econômico, tais como
o liberalismo e contratualismo.

Enquanto que, em matéria de direito, o judiciário fora unificado tanto no Estado


absolutista, quanto no Estado democrático, dado estabelecimento da figura do
legislador leigo, que centralizou a função de elaboração do direito, destituindo da
figura monárquica o caráter de legislador. (Soares apud. Bagnoli2014)

Até, por fim, restringir as jurisdições eclesiásticas ao Direito Canônico,


aplicando o temperamento civil a jurisdição, “e as jurisdições estamentais passaram a
se configurar como jurisdições permitidas, da mesma maneira que permite a liberdade
contratual” Bagnoli, S, CGBD (2014).

Neste momento, desenvolve-se a constituição do Direito como ciência, aos


moldes do positivismo, trançando os primeiros sinais de racionalidade que

História do Direito 55
Proporcionam a elaboração, a partir de parâmetros objetivos, da estrutura de um
sistema jurídico especifico, como nos orienta Bagnoli (2014).

Em suma, o desenvolvimento do Estado Moderno proporcionou a centralização


do poder, assim, surgindo a figura do Estado laico. Entre outros pontos, possibilitou a
mobilidade social, quando as relações não se limitavam mais a figura do suserano e
do vassalo. E, também, a formação de uma nova classe econômica, a burguesia,
nascida justamente dos camponeses que assumiram a mão de obra de produção,
dentro do mercado de consumo. Assim como centralizou
o poder sob a nova ordem, a partir de aspectos acordados no contrato social firmado
na sociedade civil, requisito fundamental para a determinação da soberania de um
Estado (Bagnoli, 2014).

5.2 Common Law: o Direito Inglês

O sistema jurídico do common law, denominação usada para designar o direito


comum Inglês, surgiu apenas na Baixa Idade Média durante o século XIII. Trata-se de
um direito jurisprudencial, ou seja, predomina-se a regra do precedente e o princípio
da equidade, contrapondo-se aos costumes locais que não eram comuns. Este direito
fora desenvolvido por juízes a mando do rei, e mantido através da autoridade
outorgada aos precedentes judiciários. Trata-se de um sistema fundamentado no
direito costumeiro e na continuidade, motivo pelo qual é fruto de uma grande evolução
sem interrupções. (WAMBIER, 2009, apud.GALIO, Morgana Henicka)

História do Direito 60
Figura 21 Da conquista Normanda da Inglaterra. Cena da batalha de Hastings (1066), na tapeçaria de Bayeux.

O que difere o direito inglês moderno do direito presente em outros pais da


Europa Continental, é sua continuidade histórica, onde não houve ruptura entre o
passado e o presente, por exemplo, diferente da Revolução Francesa de 1789, como
afirma Rocha Santos (2011).Mesmo juristas ingleses do século XX, utilizam-se de leis
e decisões jurídicas provenientes do século XIII e XIV.

Os fatores históricos que contribuíram para a formação da Common Law,


podem ser traçados a partir dos séculos X e XI, um período onde não havia unidade
no território Inglês. Este era subdivido em distritos que utilizavam de maneira distinta
o direito oriundo dos povos germânicos, conhecido como “direito popular anglo-
saxão” (Crocetti; Drummond, 2010apud. GALIO).

Esta tradição de direito fragmentado e local, teve seu fim com a conquista da
normanda da Inglaterra em 1066, o que proporcionou o desenvolvimento de uma
sociedade feudalista e organizada, com grande experiência administrativa. (DAVID,
2006, apud. GALIO). Com a chegada dos normandos são apreciados os primeiros
registros da expressão comuneley, ou common law (PORTO, 2006, p. 762. Apud.
GALIO). Iniciando-se assim a ministração de um sistema jurídico comum.

O common lawnão foi sempre como é hoje, mas a sua principal


característica sempre esteve presente: casos concretos são
considerados fonte do direito. O direito inglês, berço de todos os
sistemas de common law, nasceu e se desenvolveu de um modo que
pode ser qualificado como “natural”: os casos iam surgindo, iam sendo
decididos. Quando surgiam casos iguais ou semelhantes, a decisão
tomada antes era repetida para o novo caso. Mais ou menos como se
dava no direito romano. (WAMBIER, 2009, p. 54 apud. BAGNOLI)

Os Tribunais Reais de Justiça eram responsáveis pela jurisdição comum,


conhecidos vulgarmente por Tribunais de Westminster, dado ao nome do local onde
estavam situados, como nos orienta David (2006, apud. GALIO).A partir da ação
desses juízes e tribunais e a criação destas instituições judiciais centralizadas, pode-
se afirmar como o advento do common law(Crocetti; Drummond, 2010apud. GALIO).

O direito romano não administrou grande influência sobre o sistema jurídico

História do Direito 60
inglês, diferente do direito canônico, como pudemos observar no módulo anterior.
Porquanto o momento da redescoberta do direito romano traduziu-se na afirmação da
lei escrita como fonte constitucional do direito, a common law atribuiu a legislação
função secundária, apesar do ativo desenvolvimento legislativo por parte dos reis
Ingleses.

Para alcançar melhor compreensão quanto ao common law, é válido compará-


lo a outro sistema que é concebido na Idade Moderna, o Civil law. Este, fundamentado
no direito romano, se contrapõe a alguns princípios específicos do sistema inglês,
como nos orienta Bagnoli:

O Common Law é um direito jurisprudencial, que se estrutura na ideia


de que o “juiz faz a lei”. Ser um sistema jurisprudencial não é o mesmo
que dizer que esse sistema é sustentado pela fonte formal
Jurisprudência, que se configura como o rol de normas jurídicas retiradas
de sentenças proferidas anteriormente, como postularam os romanos.
Neste último, a jurisprudência apenas desempenhou papel secundário
na formação e na evolução dos direitos romanistas, enquanto que
naquele ela tem o papel principal.(Bagnoli, S, CGBD 02/2014, p. 82)

Entre outras diferenças, o common law trata-se de direito judiciário que, por
definição, é eminentemente processual. Enquanto que para o civil law romano, o
processo é apenas acessório nos princípios fundamentais de seus direitos.

História do Direito 60
Por fim, é válido ressaltar que o sistema common law ficou muito restrito a
Inglaterra. Enquanto que, na Europa Continental, o direito romano serviu de grande
influência para o desenvolvimento “de todos os seus institutos, procedimentos e
formas de compreensão da organização jurídica e judiciária” (Bagnoli, 2014, pag 82).

A Inglaterra hodierna continua sendo um país sem constituição ou códigos


escritos, utilizando-se do constitucional law, uma tradição fundamentada nos
precedentes e costumes. Ainda aplicando a Magna Carta de 1215, um texto legal que
expande os direitos humanos e delimita o direito monarca.

É válido ressaltar a extensa contribuição do período da Baixa Idade Média, que


denotou a origem dos sistemas jurídicos que influenciam as maiores legislações do
mundo moderno. O sistema anglo saxão do common law, presente na Inglaterra e
Estados Unidos; e o direito romano, que preconiza a legislação escrita como fonte
fundamental para a constituição filosófica, política e jurídica “para o estabelecimento
dos grandes Estados Nacionais e posteriormente das codificações”, Rocha
SANTOS(2011).

5.3 Do processo de Codificação

O processo de formação dos Estados nacionalistas modernos foi marcado por


conflitos de natureza social e filosófica. A instabilidade organizacional política gerada
pelas transformações econômicas, guerras territoriais consequentes da grande
quantidade de países e interesses diferentes, apesar da centralização do poderem
diversos Estados, não permitiram consolidar o processo de formação de Estado.
Carecia de modificações mais complexas para poder superar a estrutura feudal
estabelecida por tantos séculos.

O suprimento de necessidades específicas para a formação de um Estado a


carência de uma força social diferenciada, coercitiva, aplicada através do uso da força
ou de palavras, tornou-se cada vez mais iminente. A partir disso, formaram-se os
Estados absolutistas, que se utilizavam da força e das armas para instituição de poder;
e também os Estados formados a partir da organização social e jurídica através do
estabelecimento de sanções legisladas, para impor o controle social.

Nesse ambiente que continuamente demonstra a necessidade de uma


uniformização jurídica dos Estados, em busca de uma imperiosa construção de

História do Direito 61
identidade, é que surge o movimento de estruturação jurídica em regras positivadas,
o movimento da Codificação (Bagnoli, 2014).

Podemos definir o movimento da codificação nas palavras de Bagnoli:

A codificação constitui-se como um processo de tecnicização da ciência


jurídica e das atividades profissionais dos juristas. Codificação, em
sentido estrito e técnico, entende-se por aquele processo cultural e
histórico pelo qual se tornou possível o ideário oitocentista de
uniformização. Código, por fim, é a compilação sistemática de leis,
normas e regulamentos, ou qualquer conjunto de disposições, de
regulamentos legais aplicáveis em determinados tipos de
atividade.(Bagnoli, S, CGBD 02/2014, pag. 90).

Em suma, o processo de codificação trata-se de uma compilação sistemática


de leis, normas e regulamentos harmonicamente configurados para a construção da
uniformidade jurídica na aplicação do direito a partir da ação profissional dos juristas.
Esse processo de codificação localiza-se historicamente entre os séculos XVII e XVIII.

Como abordado anteriormente, a compilação é característica herdada no direito


romano, marcante no período de Justiniano, e recuperada pelo Direito canônico no
ambiente universitário da Idade Média, utilizando-se da obra dos glosadores que aos
poucos deram uma feição racional as decisões casuísticas e assistemáticas dos
jurisconsultos romanos, cristalizando harmonicamente soluções jurisprudenciais e
doutrinárias. É claro que, a presença da reunião e harmonização de leis, inspiradas
por costumes e preceitos, são registros dispostos em códigos muito mais antigos,
como o Código de Hamurabi, as Leis de Drácon e Sólon, até mesmo a Lei das XII
tábuas.

Portanto, a luz do mesmo autor, é notável a preocupação em desenvolver uma


organização jurídica racional, a partir do agrupamento sistemático de preceitos, tal
qual um organismo vivo. Assim como um processo de constitucionalização, que
remete a elaboração de documentos normativos coerentes e unitários.

Uma das principais características do processo de codificação é aquela


que se refere à emergência de limites disciplinares, teoricamente

História do Direito 62
idôneos à organização jurídica estabelecida, que dão sustentação à
formulação de um novo tipo de sociedade política na qual devem ser
estabelecidos novos parâmetros. Esse processo criador resultará na
constituição de códigos separados entre os diversos ramos e relações
jurídicas assim denominados de direito “civil”, “comercial”, “penal”,
“processual” e “constitucional”. (Bagnoli, S, CGBD 02/2014, pag. 91)

Os mais importantes exemplos de codificações nascidas desse movimento,


tratam-se dos textos cujo objetivo era elaborar as regras jurídicas para o corpo civil de
uma sociedade. E estes eram o código francês Code Civil dês Français, e o código
alemão Bürgerliches Gesetzbuch, ambos tratam-se de códigos de regras civis.

O código alemão ou Código Civil Alemão, é elaborado com a participação de


inúmeros juristas e entrou entrando em vigor no ano de 1900, surgindo em um
contexto de reforma de leis, após a unificação da Alemanha, em 1871.

Já o Code Civil vigorou no ano de 1804, inspirado no Direito Romano e no


Direito revolucionário, foi promulgado por Napoleão com o propósito de reformar o
sistema legal francês, que antes não se tratava de um corpo único de leis e dependia
de costumes locais, e teve grande influência na formação jurídica sistemática de vários
países ocidentais. Este código abordou normas de direito civil, como a propriedade, e
aboliu os vestígios do feudalismo.

O Código Napoleônico orienta-se da seguinte forma (apud. Bagnoli 2014):

I. Título Preliminar: Da publicação, dos efeitos e da aplicação das leis em


geral (artigos 1 a 6);
II. Livro Primeiro: Das pessoas (artigos 7 a 515);
III. Livro Segundo: Dos bens e das diferentes modificações da propriedade
(artigos 516 a 710) e
IV. Livro Terceiro: Dos diferentes modos de adquirir a propriedade (artigo 711
a 2302).

História do Direito 63
Pode-se afirmar, portanto, que o Code Civil
reúne perspectivas liberalistas e do conservadorismo.
Seu conteúdo reflete o próprio governo de Napoleão.

O sistema de países de direito escrito, de


caráter legislativo, codificado, é raramente
reconhecida a existência de lacunas a ordem
legislativa. No entanto, como nos orienta Bagnoli
(2014), “quando reconhecidas, mais do que para
completar a ordem jurídica, a razão desempenha uma
função primordial na interpretação da lei”.

Já, nos casos de países com sistema

jurisprudencial, como é o caso do direito inglês, seu


aspecto casuístico permite a subsistência intencional,
de muitas lacunas, e a razão, o código, torna-se
apenas fonte subsidiária do direito, invocada a preencher tais lacunas.

A contribuição da Idade Moderna para o Direito é fundamentada na divisão dos


sistemas Civil Law, o sistema de direito da família romano-germânica, de configura-
se como sistema fechado; e Common Law, sistema de caráter aberto, onde suas
normas são continuamente renovadas a partir de sua fundamentação na razão.
Sistemas estes que pautaram as medidas para toda e qualquer interpretação ou
formulação teórica jurídica advinda posteriormente.

MÓDULO 6: HISTÓRIA DO DIREITO


NO BRASIL

Neste momento entenderemos


sobre o direito brasileiro e como se
constroem os momentos políticos,
econômicos e legislações que acabam
por caracterizar cada período e nos dar
um entendimento estrutural sobre esse

História do Direito 64
encaminhar da história.

Iniciaremos nosso estudo com um breve histórico português, comentaremos


também as ordenações. Essas observações são importantes se consideramos que o
território nacional a época, como colônia, obedecia a legislação da metrópole. Tendo
esse entendimento em mente será discutido o direito colonial, instituições, políticas e
legislações. Seguindo a cronologia em suas divisões mais tradicionais passaremos
pela independência chegando ao momento do império, as constituições e principais
acontecimentos. O último período a ser abordado é o republicano com suas duas
ditaduras, varguista e militar, e a redemocratização.

6.1 Direito Lusitano

O direito português segue uma tradição que datada da segunda metade do séc.
I a.C. quando se inicia a ocupação do império romano sobre a região da península
ibérica, anteriormente habitada por diversos povos como; celtas, iberos e lusitanos.
Fortes marcas culturais romanas passam a ser parte dos costumes locais entre elas
vale destacar a língua latina e o direito. A partir do séc. V d.C. as migrações bárbaras
se intensificam o que mina a unidade cultural e administrativa romana. A região passa
por intensos entraves políticos envolvendo visigodos, hispanos entre outros povos.
Por volta do séc. VIII ocorrem as incurções mulçulmanas e a dominação da região.
Durante o processo de dominação islãmica o antigo códico visigotico continua a ser
permitido entre os cristãos residentes. Entretanto ao norte da península grupos de
resistencia cristã se organizam dando origem a pequenos reinos como o de Leão,
Castela e Aragão. Portugal tem origem assim do Condado Portucalense, formado na
segunda metade do séc. IX entre os rios Minho e Douro, vindo a ser um reino apenas
no séc. XII após uma notável vitória contra tropas mouras por D. Afonso Henriques
que é proclamado senhor do reino de Portugal, com capital em Coimbra. Portugal
segue expandindo suas fronteiras, a conquista de Lisboa se dá em 1147, com o apoio
de cruzados.

Portugal se consolida de forma precoce como reino absolutista, onde o poder


político e militar se vê centralizado na figura do rei. Nesse momento o direito lusitano
tem ainda influência visigótica, romana, islã, ligado aos costumes, mas principalmente
a presença do direito canônico já trabalhado nesta apostila.

História do Direito 65
Ordenações

Em 1446 são promulgadas as Ordenações Afonsinas que influem sobre o


direito dos costumes portugueses, canônico e nas Leis das Sete partidas. Sendo
separadas em cinco livros com as seguintes disciplinas: Direito Penal, Civil,
Administrativo, Marítimo, Comercial, Eclesiástico, do Rei, da Nobreza, Processual
Civil e Processual Penal. A partir de 1512 têm-se as Ordenações Manuelinas, neste
período a colônia brasileira já foi “descoberta”, porém ainda não é explorada
comercialmente de forma sistemática. Este código reúne o anterior, além de trata de
forma mais complexa do direito marinho e o relacionado a contratos mercantis.
Posterior a esse as Ordenações Filipinas têm grande influência até a primeira metade
do séc. XVII.

Atualmente a lei em Portugal faz parte da mesma família do sistema legal


continental. Até finais do século XIX, o direito francês foi a sua principal influência.
Desde então, o direito alemão tem assumido esse papel.

6.2 Momento Colonial

As primeiras relações entre Portugal e as novas terras encontradas a partir


de1500 é de uma exploração pouco pronunciada do pau-brasil e de posto militar,
entretanto após 1530 o rei se convence de que a região deve ser povoada
permanentemente. O primeiro produto a se estabelecer em maior escala é a cana- de-
açúcar. Esse modelo é amplamente difundido, inicialmente pelo território litorâneo
nordestino e é amplamente conhecido pelos engenhos, vastas plantações de
monocultura e pela utilização do trabalho forçado de povos africanos escravizados.
Essa produção crescente obriga Portugal a uma maior organização das questões
administrativas referidas a colônia. Nesse momento já existe uma política econômica
adotada pela coroa, esta busca: uma balança comercial favorável e estabelece uma
relação comercial de monopólio com as colônias que a essa altura já são várias pelo
mundo.

História do Direito 66
Figura 23Detalhe da A Primeira Missa no Brasil de Victor Meirelles (1861).

Pelo ano de 1534 são fundadas as capitanias hereditárias. São ao todo 15


capitanias tendo, porém, apenas duas alcançado êxito e continuidade, sendo elas em:
São Vicente e Pernambuco, governadas por Martim Afonso de Sousa e Duarte
Coelho. As capitanias eram chefiadas ou por um capitão-geral ou capitão-mor. Suas
bases legislativas se davam pela Carta de Doação e o Foral, a primeira tratando do
caráter vitalício e hereditário da posse das terras pelo donatário e a segunda dos
impostos a serem pagos tanto ao do das terras quanto ao rei. Nas capitanias a
autoridade judicial fica a cargo do donatário que é também o chefe militar. Os senhores
da terra tinham como representante legal um ouvidor, esse modelo já se via descrito
nas Cartas de Doação.

Em 1549 é estabelecida a primeira cidade brasileira: Salvador. Tendo o


Governo-Geral por Tomé de Sousa. Também é aberta uma Câmara Municipal onde
3 ou 4 vereadores eleitos pelos chamados “homens bons”. Neste mesmo ano tem-se
a chegada da Companhia Jesuíta. Nesse momento tem-se o Desembargo do Paço,
esse órgão designando pelas Ordenações Manuelinas não tinha função de julgar, mas
sim de aconselhamento jurídico. Esta instituição só atuava como tribunal caso todas
as alternativas tivessem sido já buscadas sem sucesso.

Após esse primeiro momento funda-se o Tribunal de Relação do Brasil onde o


poder administrativo era exercido por funcionários civis que deveriam ter: se formado
pela Universidade de Coimbra em direito civil ou canônico, exercer pelo menos 2
anos de profissão e ter sido escolhido por meio de exame (Wolkmer, 2002).
História do Direito 67
Com as Ordenações Manuelinas aplicasse à colônia as mesmas estruturas
jurídicas da metrópole. A época o judiciário divide-se em 3 grandes esferas de atuação
em: 1º grau os Juízes Singulares, em 2º grau os Tribunais Colegiados e em 3º grau a
Casa de Suplicação (Wolkmer, 2002).

Segundo Stuart Schwartz um primeiro regimento é promovido pelo rei Felipe II


em 1587. Este regimento, entretanto, não alcança os objetivos esperados e só a partir
de 1609 com a fundação do Tribunal da Relação, sendo este uma reprodução do
modelo português de Tribunal da Relação e Casa de Suplicação, que se tem uma
maior presença do judiciário metropolitano na colônia. Este tribunal se consolidava
como instância máxima de julgamento. Composto por dez desembargadores vindos
de Portugal. Desembargadores esses que detinham negócios na colônia além das
funções públicas.

Nesses primeiros modelos judiciários e administrativos ficam claras as marcas


que seguiram o poder público brasileiro por toda sua história. Já nos primeiros anos
os interesses particulares se sobrepõem aos interesses estatais e os
desembargadores tornam-se corruptos e omissos, passando a defender interesses
próprios em lugar dos públicos.

Em paralelo aos poderes judiciais estatais seguia a igreja católica e os


ornamentos canônicos, através do Tribunal do Santo Ofício. Nos limites do controle
estatal grupos de jesuítas acabavam por atuar como juízes e tribunais das causas
indígenas. Essas missões jesuíticas aplicavam as Leis das Índias, ligada a coroa
espanhola. Em relação ao que fugisse a esse código havia liberdade dos próprios
clérigos em escrever suas normas por concessão do papa Paulo III (Wolkmer, 2002).
O poder dos tribunais inquisitórios perpassa todo período colonial, sendo mais
evidenciado as Visitações de 1591 e de 1618. Outro órgão a ser citado, fora do escopo
religioso, são as Juntas de Justiça. Existindo desde o governo geral de Tomé de
Souza, mas ganha alcance nacional a partir de 1765, através da figura dos ouvidores.

A ocupação do território continental se dá de forma lenta, do litoral para o


interior, através do enfrentamento ou catequização dos povos nativos que resistem à
dominação e escravização. Esse movimento “empurrou” para o norte e oeste muitas
comunidades indígenas que sobreviveram aos primeiros anos de contato com o

História do Direito 68
colonizador estrangeiro. Pelo aumento das rotas relacionadas ao gado, busca de
cativos nativos e principalmente pela mineração as fronteiras do império português se
expandem bastante além do tratado de Tordesilhas.

Esse processo existiu em meio a uma gama confusa de ordenações jurídicas


como, por exemplo, a promulgação avulsa e independente de várias Leis
Extravagantes, nesse contexto fica marcada a Lei da Boa Razão (1768) ligada as
reformas pombalinas.

“No século XVIII, com as reformas pombalinas, a grande mudança em


matéria legislativa foi a ‘Lei da Boa Razão’ (1769) que definia regras
centralizadoras e uniformes para interpretação e aplicação das leis, no
caso de omissão, imprecisão ou lacuna. A ‘Lei da Boa Razão’
minimizava a autoridade do Direito Romano, da glosa e dos arestos,
dando ‘preferência e dignidade às leis pátrias e só recorrendo àquele
direito, subsidiariamente, se estivesse de acordo com o direito natural e
as leis das Nações Cristãs iluminadas e polidas, se em boa razão fossem
fundadas’”.(Wolkmer, 2002, p. 48)

Esse crescimento territorial é acompanhado de um aumento gradual da


população dividida etnicamente entre europeus, principalmente portugueses,
espanhóis e franceses, negros escravizados de diversas regiões como Angola,
Zâmbia e Sudão e dos povos nativos de diferentes nações indígenas entre elas:
Guaranis, Ticunas, Terenas entre outras. A formação de uma elite colonial tanto
econômica quanto política gera uma série de conflitos tanto de interesses quantos
sociais, hora entre os próprios colonos, hora contra o poder central da metrópole.
Entre essas revoltas podemos citar a dos Beckman (1684) no Maranhão, a Guerra
dos Mascates (1710-11) entre Olinda e Recife, a aclamada Inconfidência Mineira
(1789) e a Conjuração Baiana (1798), lutas organizadas que reverberaram pela
colônia. Além da resistência de negros escravizados em busca de liberdade, como na
Revolta dos Malês (1835) e as já antigas iniciativas de quilombos sendo o mais
conhecido o Quilombo de Palmares (1640-1710).

Toda tensão e interesses difusos progrediram para a independência brasileira,


principalmente após a vinda da família portuguesa para o Brasil em 1808 que acabou
por fundar o Banco do Brasil, o Jardim botânico, a Biblioteca Real, além
História do Direito 69
de nomear ministros de Estado, estabelecer Secretarias Públicas e instalar Tribunais
de Justiça. Esse novo aporte estatal fortalece de maneira decisiva a maquia pública
nacional que seria decisivo para a independência em 1822.

6.3 Momento Imperial

O período posterior a independência se caracteriza por muitas instabilidades.


D. Pedro I que não só declara a soberania nacional como também outorga a
constituição de 1824 só permanece como imperador até 1831 quando renúncia,
instala-se então uma regência. A primeira metade do momento imperial brasileiro se
demarca por uma série grande de conflitos internos em que forças políticas e
econômicas buscam emancipação com relação ao poder central ou reivindicações
próprias, tem-se também embates do estado recém-formado contra nações vizinhas
e lutas sociais de grupos segregados. Entre esses muitos conflitos pode-se citar: no
Pará a Cabanagem (1835-1840), na Bahia a Sabinada (1834-1837), a Balaiada no
Maranhão (1838-1841) e a Guerra dos Farrapos, no Rio Grande do Sul (1835-1845).
Das lutas externas, já sobre a direção do imperador D. Pedro II, citamos os conflitos
ligados aos países banhados pelo Rio da Prata, como Uruguai, Argentina, Brasil e
Paraguai.

Figura 24Pedro Américo: O Grito do Ipiranga, 1888. Museu Paulista.

Em termos político-ideológicos é importante indicar que enquanto na Europa,


nesse período, muitas ideias iluministas se envolviam com ideias liberais formando
um imaginário ideológico muito complexo no Brasil esses conceitos chegam de forma
particular. Diferente de países como Inglaterra e França, de onde muitas
História do Direito 70
dessas ideias fluíam, a formação nacional brasileira incluía a grande presença da
escravidão e uma natureza agroexportadora com tendências a monocultura. Nessa
época vivia-se uma fundação ainda muito recente da ideia de estado laico, além de
todos os aspectos culturais decorrentes da formação histórica, logo, no Brasil se
destacam os elementos mais econômicos do pensamento liberal. Pensamento esse
que municiou de argumentos teóricos e acadêmicos a elite local já enriquecida, que
prosperou e floresceu progressivamente no decorrer dos anos.

No contexto jurídico duas escolas se destacam; uma em Recife outra em São


Paulo. Essas escolas lidaram com a constituição de 1824, documentos de cárter
monárquico onde o chefe de estado é figura irresponsável pelas consequências
geradas por seus atos e controla os poderes públicos por meio do Poder Moderador.
O cargo do imperador é vitalício e hereditário aos moldes dos absolutismos europeus.
O regime assim montado é caracterizado por um autoritarismo muito intenso onde se
destacam as decisões pessoais do líder da nação.

O segundo documento em relevância jurídica foi o código penal de 1830, nesse


código a pena se coloca como exclusiva do condenado não podendo ser estendida a
familiares, por exemplo. Os próximos códigos fundamentais são: o Código Comercial e
o Código de Processo Criminal de 1850. O Código de Processo Criminal, inspirado no
direito francês, teve como inovação o Habeas Corpus e o Sistema de Jurados.

25 Aurélio de Figueiredo: Juramento da situação, c. 1891. Promulgada a 1ª Constituição publicano assumem o poder os
marechais nuel Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto.

História do Direito 71
O corpo judicial era composto por Magistrados, em geral, fieis a coroa. O grupo
dos Magistrados pertencia a uma elite do funcionalismo público burocrático brasileiro
tendo uma série de privilégios. Eram letrados e agiam em favor da consolidação do
estado nacional. A partir de 1832 aparece a figura do Juiz de Paz. Juízes regionais sem
formação em direito e sem remuneração que julgavam casas locais.

6.4 Período Republicano

O fim do período imperial brasileiro é marcado pela Guerra do Paraguai,


que por um lado é extremamente custosa ao estado brasileiro e por outro viés foi
responsável pelo fortalecimento e organização do exército brasileiro que seria
responsável pela tomada do poder. Outro fato marcante a ser destacado é o fim
institucional da escravidão, esta que perdurou por cerca de 400 anos dos 500 que o
Brasil vivenciou, sendo assim a instituição mais duradoura da nação e uma marca
inegável e extremamente prejudicial ao país. Na mudança política extinguisse o poder
moderador, consolidando-se em consequência os 3 poderes que ainda figuram no
cenário dois governos militares iniciasse uma série de governos civis reconhecidos por
representarem forças políticas e econômicas do estado de São Paulo e Minas Gerais,
mesmo sendo a capital na cidade do Rio de Janeiro e se podendo desconsiderar os
coronéis nordestinos e sua força. O voto nesse primeiro momento é censitário, ou seja,
era necessária certa quantidade em bens ou renda anual para se ter direito ao voto.
Outras prerrogativas para o exercício democrático eram: ter atingido a maioridade – a
época de 21 anos, ser homem e alfabetizado. Esse modelo democrático reflete o
pensamento do período de que só deveriam ter acesso ao voto e cargos eletivos os
considerados como melhores da sociedade, esse princípio seguia em concordância com
princípios democráticos de várias regiões do mundo como da França. Considerando-se
então o imaginário machista, elitista e racista da sociedade parecia natural negar o voto
as mulheres, analfabetos e pobres. Outros grupos a quem eram negados o direito de
voto: mendigos das praças, soldados, religiosos sujeitos ao voto de obediência. Outro
aspecto do período é o voto descoberto, ou seja, não secreto, mas público.

História do Direito 72
No contexto legal tem-se uma reforma do Código Penal e a proclamação da
constituição de 1891, sob o governo de Marechal Deodoro da Fonseca. Essa nova
constituição tinha como principais inovações:

▪ Eliminação dos órgãos ligados a


monarquia, como o poder moderador;
▪ O fim da vitaliciedade do cargo de senador;

▪ O estabelecimento do presidencialismo, onde o presidente atua como


chefe do executivo;
História do Direito 7
▪ A federalização, tornando as províncias em estados e aumentando sua
autonomia. Dentro desse aspecto os estados passam a ter constituições
próprias, sendo essas subordinadas a constituição federal;
▪ A instituição do estado laico, afastando assim o estado da igreja católica,
quedeixa de ser a igreja oficial do país.

Passado o primeiro momento de coligação política de São Paulo e Minas Gerais


tem-se o fortalecimento de uma figura política personalista no cenário nacional,
político que marca profundamente o começo do séc. XX para o país. Getúlio Vargas
quebra com a dinâmica estabelecida até então. É de seu governo a constituição de
1934 que expande consideravelmente os direitos de trabalhadores, realizando a
chamada consolidação das leis trabalhistas. Entre os avanços alcançados é
importante destacar: a maior relevância dos sindicatos para o cenário nacional, o
tempo máximo de horas de trabalho ao dia e as férias remuneradas. O governo de
Vargas também aparece marcado pela ditadura do Estado Novo de 1937, ditadura
essa extremamente violenta e repressora. Após a deposição de Getúlio e a eleição de
História do Direito 73
Eurico Gaspar Dutra de 1945 é criada a assembleia constituinte que dá origem a carta
magna de 1946, sobre ela é válido destacar:

▪ A igualdade de todos perante a lei;


▪ O fim da censura promovida pela ditadura do Estado Novo, confirmando a
liberdade de manifestação de pensamento.
▪ A inviolabilidade do sigilo de correspondência;
▪ A liberdade religiosa;
▪ A liberdade de associação para fins lícitos;
▪ A inviolabilidade da casa como asilo do indivíduo;
▪ A prisão só em flagrante delito ou por ordem escrita de autoridade
competente e a garantia ampla de defesa do acusado;
▪ Extinção da pena de morte;

A promulgação dessa constituição é marcada pela força democrática onde 9


partidos tem voz em relação aos artigos propostos. É também destacada pelo cuidado
mais elaborado com a separação dos três poderes e sob a capacidade de um
influenciar sobre os outros poderes.

Após esse momento fica marcado o governo de Juscelino Kubitschek de


Oliveira, que realiza a transição da capital para Brasília. No mundo a Guerra Fria
tomava força e influenciava de forma marcante governos locais em várias regiões do
mundo, um reflexo disso é a proliferação das ditaduras no cone sul e América central.
Desse momento pós-segunda guerra podemos citar: República Dominicana, com o
regime de Trujillo (1924-1961); Nicarágua, ditadura de Somoza (1936-1978);
Colômbia, golpe de Gustavo Rojas (1953-1957); Paraguai, ditador Stroessner (1954-
1989); a ditadura brasileira (1964-1985); Haiti, do ditador Papa Doc e seu filho Baby
Doc (1971-1987); Chile, do ditador Augusto Pinochet (1973-1990); Uruguai, ditadura
civil-militar no Uruguai (1973-1985); Argentina, ditadura militar argentina (1976- 1983);
entre outras.

No Brasil o golpe de 1964 é marcado pela volta da


censura, repressão, perseguição política e pela aproximação
com governo estadunidense. Esse regime promulga sua

História do Direito 74
constituição própria em 1967 marcada pela centralização do
poder, a elevação do poder executivo ante os poderes
legislativo e judiciário, o enfraquecimento do federalismo,
supressão de direitos fundamentais. A Lei da Imprensa e a Lei
de Segurança Nacional como mecanismos desse modelo.

Assim como em sua fundação o fim da ditadura brasileira é muito marcado pelo
cenário internacional. A crise do petróleo torna extremamente complexa a
administração do país, a elevada inflação, as dívidas contraídas pelos militares na
década de 60 e 70 cobraram um alto preço sobre a economia nacional. Nesse
contexto a descompressão do regime ocorre como uma forma de transição não
violenta, onde os atos institucionais (Ais) são desfeitos, a volta da pluralidade
partidária, fim da censura e por fim e mais marcante a lei de anistia. A
redemocratização ocorre dando fim oficial ao regime militar em 1985. Em 3 anos
ocorre a promulgação da atual constituição nacional de 1988.

Figura 28 Constituição de 1988

Promulgada em 5 de outubro 1988 a Constituição da República Federativa do


Brasil é a sétima na história nacional e a sexta do período republicano, lançada um
ano antes do centenário da proclamação da república. Uma de suas edições originais
encontra-se em exposição no museu do Supremo Tribunal Federal. Até 2016 foram
adicionadas 101 emendas ao seu texto original, sendo 6 emendas de revisão e 95
emendas constitucionais. Suas principais características são:

História do Direito 75
 Formal: possui dispositivos que não são normas essencialmente
constitucionais;
 Escrita: apresenta-se em um documento sistematizado;
 Promulgada: elaborada democraticamente;
 Rígida: não é facilmente alterada;
 Analítica: descreve em pormenores suas normas;
 Dogmática: constituída por uma assembleia nacional constituinte.

Teve por princípio a retomada e expansão de direitos fundamentais negados


no período ditatorial, permitindo ao judiciário atuação no caso de lesão ou ameaça a
direitos. Se afastando das práticas militares coloca como crime inafiançável não só a
tortura, mas também quais ações armadas contra o estado.

A carta magna de 1988 segue como documento máximo do direito brasileiro.


Pensada como guardiã da democracia e dos direitos humanos tem a frente de si
grandes desafios relacionados a esses tópicos.

História do Direito 76
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História do Direito 79
QUESTIONÁRIO DE LEITURA DIRIGIDA

01) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) Segundo Wolkmer, assinale a alternativa correta
a respeito do Direito Primitivo:
a) ( ) Falar, portanto, de um direito arcaico ou primitivo implica ter presente não só
uma diferenciação da pré-história e da história do direito, como, sobretudo, nos
horizontes de diversas civilizações, precisar o surgimento dos primeiros textos jurídicos
com o aparecimento da escrita (...);
b) ( ) Podemos denominar direito arcaico, os sistemas legais e consuetudinários
praticados pelos povos e sociedades cuja escrita era primitiva, mas essencial;
c) ( ) O direto arcaico surgiu de um único indivíduo também legislador, prescindindo
em seu surgimento antigos princípios que constituíram a família, derivando das crenças
religiosas universalmente admitidas;
d) ( ) Cada comunidade possuía seu próprio direito, único e que se confundia com o
de outras formas de associação, fundamentado nas normas previamente estabelecidas;
e) ( ) O direito primitivo era legislado, pois essas populações conheciam a escritura
formal, e a conservação dessas normas reguladoras dava-se pelo registro em rochas
espalhadas pelas cidades.

REFERÊNCIA: Módulo 1: Do Mundo Antigo. Povos antigos anteriores à escrita. Págs.


6-7.

02) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) O direito penal primitivo era extremamente
retributivo, assinalando esse momento da história como o Período da Vingança. O
período da vingança pode ser divido em três momentos do desenvolvimento do direito
primitivo: o Período da vingança divina, da vingança privada e da vingança pública.
a) ( ) Vindicta Pessoal, Vingança Divina e Vingança Privada;
b) ( ) Vingança Divina, Vingança Pessoal e Vingança Pública;
c) ( ) Vingança Privada, Vingança Divina e Vingança Pública;
d) ( ) Vindicta Privada, Vindicta Pessoal e Vindicta Res;
e) ( ) Vindicta Pessoal, Vindicta Privada e Vindicta Divina.

REFERÊNCIA: Módulo 1, Pág. 08

03) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) O código de Hamurabi trazia consigo a mais
antiga e popular técnica de proporcionalidade entre transgressão e pena, a Lei de
Talião. Conhecida pelo jargão:
a) ( ) Olho por olho, mão por mão;
b) ( ) Olho por olho, dente por dente;
c) ( ) Dente por dente, pé por pé;
d) ( ) Olho e mente por mão e dente;
e) ( ) Dente e olho por mão e mente.

80
REFERÊNCIA: Módulo 1, Pág. 13

04) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) Que pensador grego defende que “As leis são
justas quando visam atingir o bem comum, logo, estarão afastadas da verdade de justiça
aquelas leis que tenham o escopo de proteger interesses de um grupo ou uma classe.
As leis, elaboradas por sábios, devem participar ao máximo da ideia de justiça, sendo
que devem ser seguidas por todos, inclusive pelos governos.”?
a) ( ) Sócrates;
b) ( ) Hermes;
c) ( ) Drácon;
d) ( ) Platão;
e) ( ) Aristóteles.

REFERÊNCIA: Módulo 2: Direito na Grécia. Pág.20

05) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) Verifica-se em Atenas a existência de vários


tribunais, um para cada tipo de homicídio, para os casos em que havia reincidência –
neste caso o arguido era julgado à distância em um barco para evitar a “poluição”. A
que tribunal ateniense se atribui esta descrição?
a) ( ) Areópago;
b) ( ) Paládion;
c) ( ) Delfínion;
d) ( ) Freato;
e) ( ) Pritaneu.

REFERÊNCIA: Módulo 2: Direito na Grécia. Pág. 17

06) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) Assinale assertiva correta:


a) ( ) As leis de Drácon são conhecidas por suas notáveis determinações cíveis e
tributárias, especialmente suas previsões quanto à usucapião e arrecadação de
impostos;
b) ( ) Sólon fora responsável por criar as leis dracnianas em busca de melhorar o
código quanto ao grau de crueldade quanto às sanções, assim como aprimorar seus
aspectos civis;
c) ( ) O código de Drácon fora influenciado pelas condições políticas e religiosas
instáveis de seu período – conflitos entre a aristocracia e a igreja caracterizam este
momento;
d) ( ) A criação de leis severas e violentas, e punições como açoite em praça pública,
corte de membros, empalação e penas capitais – as chamadas leis taliônicas, repetindo
os princípios de Hamurabi. Não é à toa que hodiernamente nos referimos às sentenças
severas e desproporcionais como “solomitas”.
e) ( ) Drácon introduziu princípios importantes que prevalecem até nossos dias no
Direito Penal: quanto ao homicídio, a diferenciação entre homicídio voluntário (CP, art.
81
18, I – Crime Doloso), homicídio involuntário (CP, art. 18, II – Crime Culposo) e a legítima
defesa (CP, art. 25).

REFERÊNCIA: Módulo 2: Direito na Grécia. Pág. 16

07) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) A respeito da Lei das Doze Tábuas, assinale a
alternativa incorreta:
a) ( ) Era notável por sua crueldade, pois instituía até o direito de tirar a vida de
indivíduos;
b) ( ) Abarcava todo o direito público e privado;
c) ( ) Previa proteção ao direito de propriedade com sanções àqueles que contra ela
atentassem;
d) ( ) Dispunha de princípios avançados como direitos de crédito;
e) ( ) Dedicava especial cuidado à agricultura.

REFRÊNCIA: Módulo 3: Direito Romano – Período Clássico. Pág. 26

08) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) Além da Lei das Doze Tábuas, outras fontes
jurídicas também são conhecidas dos primórdios do direito romano, quanto a estas,
assinale a alternativa correta:
a) ( ) A Lei Canuleia: de aproximadamente 445 a.C., a lei não permitia o casamento -
iusconnubii - entre patrícios e plebeus;
b) ( ) As Leis Licínias Sêxtias: de aproximadamente 367 a.C., cujo texto restringia a
posse de terras privadas - agerpublicus - e exigiam que um dos cônsules, magistrados,
fosse plebeu;
c) ( ) A Lei Ogúlnia: sua gênese é de aproximadamente 300 a.C., desautorizando a
ocupação de cargos sacerdotais por plebeus;
d) ( ) Lei Hortensia, de 287 a.C., que determinou que as decisões das assembleias
plebeias passavam a valer para todo o povo.
e) ( ) Lei Aquília, de 284 a.C., do período republicano, cujo conteúdo regulava
obrigações tributárias.

REFERÊNCIA: Módulo 3: Direito Romano – Período Clássico. Págs. 28 e 29

09) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) O período que envolve o direito medieval é
marcado pelo início do declínio do Império Romano. Quanto a esse período, assinale a
alternativa correta:
a) ( ) A queda do Império começa com uma crise econômica incentivada pela
diminuição das guerras e, consequentemente, arrecadação de espólios de guerra, onde
podemos incluir os escravos. Exaurindo a mão de obra, diminuindo a produção;
b) ( ) Desencadeou-se um processo de ruralização, com a maior parte da população
vivendo no campo, a partir do estabelecimento do regime de colonato;
c) ( ) Gerou-se a descentralização administrativa delegando aos grandes proprietários
a cobrança de impostos;
82
d) ( ) O Império Romano Ocidental culmina em sua queda a partir do processo das
invasões e ocupações bárbaras, no entanto sua influência jamais deixou o continente
europeu;
e) ( ) Todas as alternativas estão corretas.

REFERÊNCIA: Módulo 4: Do Direito Medieval. Pág. 41

10) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) Os povos de origem bárbara, como designaram
os romanos, ocuparam os territórios do Império Romano, trazendo consigo uma cultura
socioeconômica retrógrada. São características destes povos, exceto:
a) ( ) Tratava-se de povos ligados a terra;
b) ( ) Haviam desenvolvido de forma exemplar a escrita e as organizações territoriais
e políticas;
c) ( ) As famílias de autoridade patriarcal eram a base de sua organização social;
d) ( ) A oralidade e o costume regiam suas noções de direito ou formação jurídica;
e) ( ) Eram juridicamente regidos pelo direito consuetudinário, onde cada tribo
dispunha de uma tradição própria.

REFERÊNCIA: Módulo 4: Do Direito Medieval – Direito dos povos germânicos. Pág.44.

11) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) Definido como sendo um homem livre,
comprometido para com o seu senhor por um contrato solene pelo qual se submete ao
seu poder e se obriga a ser-lhe fiel e a dar-lhe ajuda e conselho, enquanto o senhor lhe
deve proteção e manutenção. A ajuda era geralmente militar. Esta descrição pertencia
ao:
a) ( ) Feudo;
b) ( ) Pretor;
c) ( ) Vassalo;
d) ( ) Feitor;
e) ( ) Federado.

REFERÊNCIA: Módulo 4: Do Direito Medieval – Direito Feudal. Pág. 46.

12) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) O Feudalismo surge a partir de um processo de


modificações políticas e sociais que transforma a organização da Europa, a partir do
enfraquecimento do poder dos reis. Apesar de caracterizar-se por um período de
escasso desenvolvimento jurídico, o período da baixa idade média ainda pode ser
analisado com sua própria formação de direito, conhecido como Direito Feudal. Neste
período a propriedade ganhou grande notoriedade jurídica a partir de três modelos:
a) ( ) Posse coletiva, reserva ou manso senhorial, manso servil ou tenência;
b) ( ) Posse individual, reserva ou manso senhorial, manso servil ou tenência;
c) ( ) Posse coletiva, reserva legal, manso servil ou senhorial;
d) ( ) Posse individual, manso servil ou senhorial, reserva legal;
e) ( ) Posse coletiva, reserva senhorial ou tenência, manso servil.
83
REFERÊNCIA: Módulo 4: Do Direito Medieval – Direito Feudal. Pág. 48.

13) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) São os principais institutos do período medieval,
exceto:
a) ( ) Feudo;
b) ( ) Contrato de Enfeudação;
c) ( ) Propriedade;
d) ( ) Relação de Trabalho;
e) ( ) Positivismo.

REFERÊNCIA: Módulo 4: Do Direito Medieval – Direito Feudal. Págs. 47-48.

14) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) A Igreja é una, santa, católica, apostólica,
romana, única fundada por Cristo que na região da Cesareia de Filipe disse a Simão,
filho de Jonas, “tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do
inferno nunca poderá vencê-la” (Mt 16: 18). Desde então, Pedro é sucedido pelos
Papas. Outrossim, a Igreja é universal, não se confundindo com os Estados. A respeito
do Direito Canônico assinale a assertiva incorreta:
a) ( ) O Direito Canônico afirma o poder legislativo e judicial da Igreja, levando em
conta o objetivo de salvar todas as almas;
b) ( ) Constitui o conjunto de normas jurídicas, de origem divina e humana (mas
sempre de inspiração divina), reconhecidas ou promulgadas por autoridade da Igreja
Católica, que determina a sua organização e atuação e a de seus fiéis, em relação aos
fins que lhe são próprios;
c) ( ) Reflete primordialmente as Escrituras Sagradas, portanto um direito divino
(iusdivinum), assim como a influência dos conceitos herdados do direito romano durante
os primeiros séculos da igreja;
d) ( ) Ao contrário de outros direitos de origem religiosa, como o hebraico ou
mulçumano, a igreja reconhece e divide este sistema jurídico em direito laico (iuscivile),
cujo poder restringe as relações humanas; e o direito religioso (iuscanonici), como guia
e modelo de preservação das almas, salvação do espírito;
e) ( ) O lavor legislativo prossegue com os papas posteriores: aos cinco livros das
Decretais (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio) acrescentam-se o
sexto, de Bonifácio VIII, 1298; as Clementinas, de Clemente V, 1314; as extravagantes,
de João XXII, 1319, as extravagantes comuns, 1325.

REFERÊNCIA: Módulo 4: Do Direito Medieval – Direito Canônico. Pág. 51.

15) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) O sistema jurídico cuja denominação surgiu
apenas na Baixa Idade Média durante o século XIII, fora desenvolvido por juízes a
mando do rei e mantido através da autoridade outorgada aos precedentes judiciários.
Trata-se de um sistema fundamentado no direito costumeiro e na continuidade, motivo
pelo qual é fruto de uma grande evolução sem interrupções. Trata-se do sistema
84
conhecido como:
a) ( ) “Commow Law”;
b) ( ) “Civil Law”;
c) ( ) “Constitucional Law”;
d) ( ) “Writs”;
e) ( ) “Bill of Rights”.

REFERÊNCIA: Módulo 5, Pág.58.

16) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) A respeito do Direito no Brasil julgue os itens e
assinale a assertiva correta:
a) ( ) As primeiras relações entre Portugal e as novas terras encontradas a partir de
1500 é de uma exploração pouco pronunciada do pau-brasil e de posto militar,
entretanto após 1530 o rei se convence de que a região deve ser povoada
permanentemente. O primeiro produto a se estabelecer em maior escala é o açúcar de
beterraba.
b) ( ) Pelo ano de 1534 são fundadas as capitanias hereditárias. São ao todo 15
capitanias tendo, porém, apenas duas alcançando êxito e continuidade, sendo elas em:
São Vicente e Pernambuco, governadas por: Martim Afonso de Sousa e Duarte Coelho.
c) ( ) Em 1549 é estabelecida a primeira cidade brasileira: Salvador. Tendo o
Governo-Geral por Tomé de Sousa. Também é aberta uma Câmara Municipal onde 3
ou 4 vereadores eleitos pelos chamados “homens bons”.
d) ( ) A primeira metade do momento imperial brasileiro se demarca por uma série
grande de conflitos internos em que forças políticas e econômicas buscam emancipação
com relação ao poder central ou reivindicações próprias, tem-se também embates do
estado recém-formado contra nações vizinhas e lutas sociais de grupos segregados.
e) ( ) O fim do período imperial brasileiro é marcado pela Guerra do Chile, que por um
lado é extremamente custosa ao estado brasileiro e por outro viés foi responsável pelo
fortalecimento e organização do exército brasileiro que seria responsável pela tomada
do poder.

a) ( ) FVVVF
b) ( ) VVVFV;
c) ( ) VVVVF;
d) ( ) FVFVF;
e) ( ) FVVVV.

REFERÊNCIA: Módulo 6, Pág. 70 e 71.

17) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) No Brasil o golpe militar é marcado pela volta da
censura, repressão, perseguição política e pela aproximação com governo
estadunidense. Esse regime promulga sua constituição própria em 1967 marcada pela
centralização do poder, a elevação do poder executivo ante os poderes legislativo e
judiciário, o enfraquecimento do federalismo, supressão de direitos fundamentais. Esse
85
período, cujo último presidente militar foi João Batista Figueiredo, perdurou de:
a) ( ) De 1964 a 1988;
b) ( ) De 1964 a 1985;
c) ( ) De 1963 a 1988;
d) ( ) De 1963 a 1985;
e) ( ) De 1965 a 1985.

REFERÊNCIA: Módulo 6, Pág.74

18) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) Assinale a alternativa que melhor preenche as
lacunas:
Promulgada em ______________ a Constituição da República Federativa do Brasil é a
__________ na história nacional e a sexta do período republicano, lançada um ano
antes do centenário da Proclamação da República. Uma de suas edições originais
encontra-se em exposição no museu do ________________________.
a) ( ) 03 de outubro de 1988 – sétima – Supremo Tribunal Federal;
b) ( ) 05 de outubro de 1988 – oitava – Superior Tribunal de Justiça;
c) ( ) 05 de outubro de 1988 – sétima – Supremo Tribunal Federal;
d) ( ) 12 de outubro de 1988 – oitava – Supremo Tribunal Federal;
e) ( ) 12 de outubro de 1988 – sétima – Superior Tribunal de Justiça.

REFERÊNCIA: Módulo 6, Pág.75

19) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) São características da Constituição da República


Federativa do Brasil, exceto:
a) ( ) Formal;
b) ( ) Rígida;
c) ( ) Sintética;
d) ( ) Promulgada;
e) ( ) Dogmática.

REFERÊNCIA: Módulo 6, Pág.75

20) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) Com a Proclamação da Constituição de 1891,


sob o governo de Marechal Deodoro da Fonseca, essa nova Constituição tinha como
principais inovações, exceto:
a) ( ) Eliminação dos órgãos ligados à monarquia, como o poder moderador;
b) ( ) O fim da vitaliciedade do cargo de senador;
c) ( ) O estabelecimento do presidencialismo, onde o presidente atua como chefe do
legislativo;
d) ( ) A federalização, tornando as províncias em estados e aumentando sua
autonomia. Dentro desse aspecto os estados passam a ter constituições próprias, sendo
essas subordinadas a constituição federal;
e) ( ) A instituição do estado laico, afastando assim o estado da igreja católica, que
86
deixa de ser a igreja oficial do país.

REFERÊNCIA: Módulo 6, Págs.72-73

21) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) O objeto de estudo da história do direito é:


a) ( ) A justiça baseada na moral;
b) ( ) O direito em si;
c) ( ) A moral baseada na família;
d) ( ) A família baseada na moral;
e) ( ) O direito de fato.

REFERÊNCIA: Módulo 1 Página 5

22) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) Toda cultura possui um determinado aspecto
normativo, que delimitam regras e valores que institucionalizam modelos de conduta e
essa necessidade dá-se pelo pressuposto de regulamentação de padrões que são
essenciais para:
a) ( ) História do direito;
b) ( ) Humanidade;
c) ( ) Controle social;
d) ( ) Convívio social;
e) ( ) Convivência.

REFERÊNCIA: Módulo 1 Página 6

23) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) As normas que eram sagradas, e que delas
emanavam aspectos delimitadores de conduta, assim como proteção divina, onde as
regras eram fundamentadas por critérios meramente religiosos, tendo o temor pautado
na conduta e a transgressão atraia a ira divina contra o infrator e contra a sociedade
que não o punisse da maneira devida, era a:
a) ( ) Vingança divina;
b) ( ) Vingança pública;
c) ( ) Vingança privada;
d) ( ) Vingança de Malinowiski;
e) ( ) Vingança sacerdotal.

REFERÊNCIA: Módulo 1 Página 8

24) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) O código que contribuiu para a diminuição
considerável da violência e do grau de crueldade das penas até então impostas e que
também já previa tipos penais como lesão corporal, roubos ou sequestros, e técnicas
de proporcionalidade, ainda que mínimas, entre infração e a pena aplicável, era o:
a) ( ) Código de Hamurabi;
b) ( ) Código de Ur-nammu;
87
c) ( ) Código Penal;
d) ( ) Código civil;
e) ( ) Corpus Iuris Civilis.

REFERÊNCIA: Módulo 1 Página 11

25) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) Da perspectiva histórica jurídica, pode-se


delinear, com base nos documentos e registros deixados pelos gregos, a seguinte linha
evolutiva, como orienta Vicente Bagnoli:

I- Período dos clãs- constituíram-se os clãs a partir de uniões de indivíduos, com base
em um parentesco real ou fictício.
II- Início da formação da Polis- a partir da constituição dos clãs, desenvolveram-se em
um período posterior, as cidades na Grécia (ou Polis), com diversas formas de
organizações políticas.
III- Regime democrático- apareceu em algumas cidades, destacando-se em Atenas,
que registrou diversos escritos a respeito. É valido também apontar as leis de Drácon
(ano 621 a.C.), que passou a limitar o uso da vingança como meio de resolver conflitos,
determinando o encaminhamento das controvérsias aos tribunais. Um de seus maiores
marcos era a determinação em lei, de que todas as suas normas fossem públicas,
afixadas em pedras de mármore em locais públicos. As leis de Drácon também podem
ser reconhecidas por sua severidade na esfera penal, com sansões como o exílio, ou
pena de morte.
IV- Período de unificação- Ocorreu com Alexandre, a união entre o Ocidente e o
Oriente no final do século IV a.C. Porém, o grande Império formado tornou-se
insustentável, gerando inúmeras monarquias, que são dirigidas por reis absolutos a
partir do século III.

De acordo com a análise dos itens acima, marque o item correto:


a) ( ) Itens I e II incorretos;
b) ( ) Itens III e IV incorretos;
c) ( ) Todos corretos;
d) ( ) Todos incorretos;
e) ( ) Nenhuma das alternativas.

REFERÊNCIA: Módulo 2 Página 15

26) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) Analise os itens e marque conforme a numeração
os itens dispostos nos parênteses:

1- Areópago;
2- Paládion;
3- Delfínion;
4- Freato;
88
5- Pritaneu

A. Homicídios involuntários, para situações com morte de escravos ou estrangeiros, e


quando as famílias não resolviam a lide.
B. Homicídios intencionais ou voluntários;
C. Para os casos de confissão do crime, mas em casos onde o crime era legalmente
justificado, como o flagrante do adultério;
D. Para situações onde não havia identificação do criminoso, ou morte a partir de objetos
inanimados ou animal;
E. Para os casos em que havia reincidência – neste caso o arguido era julgado à
distância em um barco para evitar a “poluição”.

A sequência correta é:

a) ( ) 2, 1, 3, 4, 5;
b) ( ) 2, 1, 3, 5, 4;
c) ( ) 1, 2, 3, 5, 4;
d) ( ) 1, 2, 3, 4, 5;
e) ( ) 1, 2, 4, 5, 3.

REFERÊNCIA: Módulo 2 Página 17

27) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) As leis conhecidas por suas notáveis
determinações penais, especialmente com relação ao homicídio, eram as leis de:
a) ( ) Drácon;
b) ( ) Solón;
c) ( ) Paladion;
d) ( ) Delfinon;
e) ( ) Freato.

REFERÊNCIA: Módulo 2 Página 16

28) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) A ideia deve ser compreendida não como uma
construção utópica do que deveria ser o Estado, mas sim como algo verídico
representando o princípio de onde a polis teria de participar, o que significa a ideia como
de fato existente e verdadeira, e o problema estando em introduzir o Estado a ela. E
segundo Bagnoli, como resultado desse raciocínio, os governantes deveriam buscar a
sabedoria, tornando-se filósofos, e os filósofos deveriam ser governantes e teriam como
resultado a garantia de alcançar a ideia de justiça.
Tal inteligência de ideais se deve à:
a) ( ) Sócrates;
b) ( ) Platão;
c) ( ) Aristóteles;
d) ( ) Sólon;
89
e) ( ) Drácon.

REFERÊNCIA: Módulo 2, página 19

29) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) Os primeiros a conceberem a autonomia da


ciência jurídica foram, com 13 séculos de experiência que gerou um legado para
pesquisa e estudos, que influenciou inúmeros institutos jurídicos hodiernos. Teve como
orientação e bases para sua formação três pilares fundamentais: Base familiar, a partir
dos direitos voltados a aristocracia romana (Iuris quiritum), costumes, religiosidade
regidos pelo poder autoritário, voltado para as tradições. Assim como uma forte
influência de princípios taliônicos, a partir das leis de Sólon, foi o direito:
a) ( ) Grego;
b) ( ) Dracônico;
c) ( ) De Sólon;
d) ( ) Romano;
e) ( ) Hebreu.

REFERÊNCIA: Módulo 3 Página 23

30) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) As fases do direito romano costumam ser dividas
pelos historiadores sob critério do desenvolvimento das instituições jurídicas romanas,
a partir dessas orientações o direito romano pode ser apresentado em três grandes
períodos, como defende Argemiro Cardoso Moreira Martins (2010):
a) ( ) Direito Arcaico ou direito primitivo; direito clássico e direito pós-clássico, que se
estende ao período do Imperador Justiniano;
b) ( ) Direito Arcaico ou direito positivo; direito clássico e direito pré-clássico, que se
estende ao período do Imperador Justiniano;
c) ( ) Direito Arcaico ou direito primitivo; direito clássico e direito pós-clássico, que se
estende ao período do Imperador Justiniano;
d) ( ) Direito Arcaico ou direito primitivo; direito neo-clássico e direito pós-clássico,
que se estende ao período do Imperador Justiniano;
e) ( ) Direito Arcaico ou direito primitivo; direito pré-clássico e direito pós-clássico, que
se estende ao período do Imperador Justiniano.

REFERÊNCIA: Módulo 3 Página 24

31) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018): Momento compreendido de 753 a.C. a 242 a.C.
onde teve o início do iuscivile, um direito exclusivo para a relação entre cidadãos
romanos, de maneira alguma para estrangeiros, trata-se do momento do período
arcaico:
a) ( ) Universalista;
b) ( ) Nacionalista;
c) ( ) Civilista;
d) ( ) Socialista;
90
e) ( ) Capitalista.

REFERÊNCIA: Módulo 3 Página 24

32) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) Além das Doze Tábuas, outras fontes jurídicas
também conhecidas dos primórdios do direito romano. Desta forma, analise os itens
abaixo e marque o que se pede.

I- As Leis Licínias Sêxtias de aproximadamente 445 a.C., a lei permitia o casamento -


iusconnubii - entre patrícios e plebeus;
II- A Lei Canuleia - de aproximadamente 367 a.C., cujo texto restringia a posse de
terras públicas - agerpublicus - e exigiam que um dos cônsules, magistrados, fosse
plebeu;
III- A Lex Hortensia- sua gênese é de aproximadamente 300 a.C., autorizando a
ocupação de cargos sacerdotais por plebeus;
IV- A Lei Ogúlnia - também, de 287 a.C., determinou que as decisões das assembleias
plebeias passavam a valer para todo o povo.

Conforme leitura dos itens acima, marque a alternativa correta:


a) ( ) O Item I está correto;
b) ( ) Os itens, I e IV estão corretos;
c) ( ) Nenhum item está correto;
d) ( ) Todos estão corretos;
e) ( ) Somente o IV está correto.

REFERÊNCIA: Módulo 3 Página 28

33) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) O período que envolve o direito medieval começa:
a) ( ) Começa com a crise do Império Romano, que se deu um processo de perda de
efetividade administrativa, econômica e organizacional;
b) ( ) Começa com a crise na Grécia, que se deu um processo de perda de efetividade
administrativa, econômica e organizacional;
c) ( ) Começa com a queda do Império e exaurindo a mão de obra, diminuindo a
produção;
d) ( ) Quando o Rei concede terras que estes se obriguem militarmente ao Império, a
partir do fornecimento de soldados (os federados);
e) ( ) Com início do feudalismo.

REFERÊNCIA: Módulo 4 Página 41

34) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) Período com escasso desenvolvimento jurídico,
onde regeu o sistema social político europeu por quatro séculos, a contar a partir do
século VIII no reino franco e, subsequentemente, vigorando por todo o Ocidente europeu
91
e tinha eram como valorização as relações pessoais e a propriedade fundiária, assim
como a inexistência de uma concepção de Estado.

O período acima descrito, trata-se do período do direito:


a) ( ) Romano;
b) ( ) Arcaico;
c) ( ) Grego;
d) ( ) Feudal;
e) ( ) Europeu.
f) ( )

REFERÊNCIA: Módulo 4 Página 45


35) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) A compilação sistemática de leis, normas e
regulamentos harmonicamente configurados para a construção da uniformidade jurídica
na aplicação do direito a partir da ação profissional dos juristas ocorrida historicamente
entre os séculos XVII e XVIII se dá o nome de:
a) ( ) Legislação;
b) ( ) Leis;
c) ( ) Constituição;
d) ( ) Codificação;
e) ( ) Consolidação.

REFERÊNCIA: Módulo 5 Página 62

36) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) Os mais importantes exemplos de codificações


nascidas desse movimento, tratam-se dos textos cujo objetivo era elaborar as regras
jurídicas para o corpo civil de uma sociedade. Sendo assim, analise os itens abaixo e
marque o que se pede:

I- Código Civil Alemão, foi elaborado com a participação de inúmeros juristas e entrou
entrando em vigor no ano de 1900, surgindo em um contexto de reforma de leis;
II- Code Civil vigorou no ano de 1804, inspirado no Direito Romano e no Direito
revolucionário, foi promulgado por Napoleão com o propósito de reformar o sistema legal
francês, que antes não se tratava de um corpo único de leis e dependia de costumes
locais, e teve grande influência na formação jurídica sistemática de vários países
ocidentais. Este código abordou normas de direito civil, como a propriedade, e aboliu os
vestígios do feudalismo.

Conforme análise dos itens marque o item correto:


a) ( ) O item I está incorreto;
b) ( ) Somente o item I está correto;
c) ( ) Nenhum item está errado;
d) ( ) Os dois itens estão incorretos;
e) ( ) Nenhuma das alternativas.
92
REFERÊNCIA: Módulo 5 Página 63

37) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) A contribuição da Idade Moderna para o Direito
é fundamentada na divisão dos sistemas Civil Law, o sistema de direito da família
romano-germânica, e no sistema fechado no sistema de caráter aberto, onde suas
normas são continuamente renovadas a partir de sua fundamentação na razão.
Sistemas estes que pautaram as medidas para toda e qualquer interpretação ou
formulação teórica jurídica advinda posteriormente. Esse sistema denominamos de:
a) ( ) Sistema germânico:
b) ( ) Sistema germânico low;
c) ( ) Common law;
d) ( ) Sistema aberto;
e) ( ) Sistema Civil Law.

REFERÊNCIA: Módulo 5 Página 64

38) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) As Capitanias que obtiveram êxito foram quantas,
onde e quando foram criadas? Respectivamente.
a) ( ) 15, São Vicente e Pernambuco, em 1538;
b) ( ) 02, São Vicente e Pernambuco, em 1534;
c) ( ) 02, Santo André e Pernambuco, em 1534;
d) ( ) 15, São Vicente e Pernambuco, em 1534;
e) ( ) 02, São Vicente e Santo André, em 1534.

REFERÊNCIA: Módulo 6 Página 67

39) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) A igualdade de todos perante a lei; fim da censura
promovida pela ditadura do Estado Novo, confirmando a liberdade de manifestação de
pensamento, a inviolabilidade do sigilo de correspondência; a liberdade religiosa; a
liberdade de associação para fins lícitos; a inviolabilidade da casa como asilo do
indivíduo; a prisão só em flagrante delito ou por ordem escrita de autoridade competente
e a garantia ampla de defesa do acusado; extinção da pena de morte são direitos que
foram garantidos a partir da Constituição de :
a) ( ) 1824;
b) ( ) 1891;
c) ( ) 1934;
d) ( ) 1946;
e) ( ) 1967.

REFERÊNCIA: Módulo 6 Página 73

40) (Faculdade Mauá – NEAD – 2018) a Constituição que teve por princípio a retomada
93
e expansão de direitos fundamentais, que permitiu o judiciário atuação no caso de lesão
ou ameaça a direitos, afastando das práticas militares colocando como crime
inafiançável não só a tortura, mas também quais ações armadas contra o estado é a de:
a) ( ) 1937;
b) ( ) 1967;
c) ( ) 1946;
d) ( ) 1988;
e) ( ) 1891.

REFERÊNCIA: Módulo 6 Página 75

94
GABARITO
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
A C B D D E B D E B C A E E A A B C C C
21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40
E C A B C B A B D A B C A D D C C B D E

95

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