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Abstract: The present work deals with the presentation of the doctoral thesis project that
aims at an analysis of the way in which the ideals originating from the nativist and traditionalist
discourse of the Gaúcho emerge in the spatiality of expression and representation of the
paranaenses that attend the Gaúcha-CTGs Tradition Centers in the city from Curitiba. The
challenge of this proposal is based on the proof or not that the paranaense inserted in spaces
like the CTGs can mean the world in such a way that it qualifies as gaucho. It is estimated to
understand this process through narratives. The language will be treated according to the
concept of symbolic form proposed by Ernst Cassirer, it is also of this author the notion of
symbolic pregnancies employed. In order to subsidize the question of hermeneutics, we will
adopt the phenomenological method of theorist Paul Ricoeur.
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1 – APRESENTANDO A PESQUISA
Pensar o gaúcho implica na compreensão de uma cultura específica
através do entendimento de sua espacialidade. Segundo Gil (2010, p. 01), “as
espacialidades são parte de um sistema simbólico que estrutura
funcionalmente a experiência humana”. Em outras palavras, é o sentido que as
pessoas atribuem para as coisas, a esse universo simbólico. É a capacidade
de atribuir significados e instituir espacialidades, lembrando que todo o
fenômeno de mundo intuitivo já está enformado de sentido e significado, ou
como diria Cassirer (2011, p.243) já está prenhe de significado, pois nada que
se dá ao conhecimento está fora do espaço.
A cultura gaúcha exibe elementos simbólicos bastante expressivos, tais
como o chimarrão, o cavalo, a questão da bravura, a indumentária, as vestes,
a música, o churrasco entre tantos outros. Mas, não é o fato de apropriar-se
destes elementos que fundamenta um gaúcho, mas sim a maneira como esse
os significa para si.
Muitos autores não pouparam esforços ao longo do tempo para
construir um conceito abrangente e qualificado sobre o gaúcho. Nesse
exercício uma parcela de estudiosos do tema acabaram o considerando como
sinônimo de rio- grandense. Assim, fundou-se questões míticas acerca do
gaúcho, as quais foram estendidas, de modo geral, para todos os indivíduos
nascidos no estado em evidência.
Discorda-se da equivalência entre ambos conceitos e deste modo,
concordamos com Panitz (2016, p.261), tendo em conta que a questão cultural
está sujeita a extrapolar o limite geopolítico, borrando suas fronteiras (no
sentido de misturar os elementos culturais). Outro aspecto relevante para o
contexto, tange a reflexão sobre a perspectiva temporal, ou seja, a
caracterização do gaúcho de acordo com o modelo vivenciado no passado.
A evolução de uma cultura necessariamente não a descaracteriza ou a
extingue. Mas é relevante reparar que dentro desse universo cultural muitas
significações acabam sendo herdadas, bem como reinventadas. É necessário
que se compreenda a conformação simbólica de mundo do gaúcho na
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contemporaneidade, uma vez que a cultura, assim como o tempo, não são
estáticos.
Nesse sentido, a geografia tem muito a contribuir, pois trata com
propriedade do categorial espaço e tempo. Objetiva-se com o referido estudo a
realização de uma análise acerca do modo como os ideais oriundos do
discurso nativista e tradicionalista gaúcho emergem na espacialidade de
expressão e representação, dos paranaenses frequentadores dos Centros de
Tradições Gaúcha- CTGs, na cidade de Curitiba.
O desafio desta proposta está na comprovação/ou não de que o
paranaense inserido em espaços como os CTGs pode significar o mundo de tal
maneira que o qualifique como gaúcho. Estima-se compreender este fenômeno
através de narrativas. A linguagem será tratada de acordo com o conceito de
forma simbólica proposto por Ernst Cassirer, também é deste autor a noção de
pregnância simbólica empregada. Para subsidiar a questão da hermenêutica
será adotado o método fenomenológico do teórico Paul Ricoeur.
A amostra intenciona ao todo dez narrativas, sendo organizada da
seguinte maneira: serão escolhidos cinco CTGs, aqueles que apresentam
maior número de sócios. Espera-se entrevistar duas pessoas em cada sede e o
critério para a escolha dos entrevistados é que sejam, sócios e frequentadores
assíduos dos espaços e tenham nascido no estado do Paraná. Os
entrevistados podem ser sugeridos pelos administradores dos CTGs, podendo
esse último compor a amostra.
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Grande de Sul, a qual é considerada por muitas pessoas como berço e/ou
nascedouro da cultura gaúcha. Mas o que é ser gaúcho?
O tradicionalismo gaúcho é conhecido mundialmente por sua peculiar
indumentária e também pela constituição de espaços chamados de Centros de
Tradições Gaúchas – CTGs. Esses possuem sedes fixadas em salões ou
galpões onde a sociedade tradicionalista se encontra para cultivar os trajes, a
comida, as declamações poéticas, os jogos, as danças e as músicas gaúchas.
A materialidade é uma marca muito forte desta cultura, o que certamente
auxiliará na compreensão de muitos pontos. No entanto, só a transcrição dos
símbolos físicos não possibilita um estudo mais abrangente acerca do modo de
ser do gaúcho.
Conhecer esse universo dos fatos rendeu importantes trabalhos de
cunho geográficos, principalmente por meio do estudo do território, insurgindo
assim, uma primeira hermenêutica. Cabe destacar a provocação de Gil (2010,
p.04) ao levantar a necessidade de uma segunda hermenêutica nos trabalhos
de geografia. Se o propósito será atendido, não se sabe, mas este esforço
revela uma tentativa. Para tanto, compete a seguinte indagação, o gaúcho vem
a ser qualificado por um sentimento, uma identidade, uma origem geográfica ou
uma significação de mundo específica?
Alguns estudiosos tem questionado o tradicionalismo gaúcho e ajuizado
acerca da legibilidade dos seus hábitos. Todavia, o elemento em questão
passou por distintas fases. O gaúcho tradicionalista surgiu após o ano de 1950,
antes desse período existiu o novo gaúcho (1865-1950), o gaúcho charqueador
(1820-1865) e o gaúcho gaudério (1730-1820) (ZATTERA; 1995, p.05).
A título de contextualização buscou-se pela definição de gaúcho no
dicionário Luft (2000, p.349) e no dicionário de regionalismos do Rio Grande do
Sul (1997, p.107), o primeiro o define como o sujeito nascido no estado do Rio
Grande do Sul. Já o segundo o caracteriza como changador, gaudério, ladrão,
contrabandista, vagabundo, coureador, desregrado, andejo. Essas
propriedades foram intencionalmente mostradas para exibir o problema, sendo
que não se concorda com o enquadramento apresentado e espera-se no final
do trabalho obter outra leitura sobre o gaúcho.
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Para tanto concorda-se com Chagas (2012, p 17) ao enaltecer que as
terminologias gaúcho e rio-grandense não são sinônimos. A qualificação de rio-
grandense está diretamente relacionada a uma questão de origem geográfica,
a saber, é todo aquele nascido no referido estado. A definição do modo de ser
gaúcho é mais complexa, diz respeito a uma identidade, que por sua vez firma-
se individualmente e também por parte das significações adjudicadas em
grupo.
Ao se tomar consciência que os conceitos não são unívocos, cria-se
novas possibilidades, como por exemplo, de avaliar um paranaense como
gaúcho, desde que esta pessoa se considere como tal.
Os primeiros viajantes que chegaram ao RS, já haviam estabelecido
esta distinção entre os rio-grandenses e os gaúchos. O gaúcho enfatizado por
Saint- Hilaire (2002, p.88) correspondia ao tipo característico que no passado
vagava pelos pampas do Brasil, Argentina e Uruguai, inclusive chegou a
distinguir esse tipo em relação aos indivíduos dos outros estados brasileiros.
Sobre a gênese desse grupo social, Chagas (2012, p.18) expõe com
base nos seus levantamentos de pesquisa, a marcante presença de índios,
portugueses e espanhóis, sendo esses últimos responsáveis pelas
determinações culturais e hábitos dos gaúchos. Os negros, alemães e italianos
foram isentos na formulação da cultura referida, visto que absorveram os
costumes firmados pelo grupo mencionado anteriormente.
O gaúcho símbolo, aquele que é enaltecido pelo movimento
tradicionalista contemporâneo retoma muitos dos atributos descritos pelos
viajantes, emergindo assim o mito de gaúcho como centauro dos pampas, sem
leis e dotado de liberdade, (CHAGAS, 2012; DREYS, 1990 & HILAIRE, 2002).
No entendimento de Lessa (1985, p.64) os tradicionalistas seriam “gente
mantendo ativamente no presente aspectos do passado, com vistas ao futuro”.
O autor também contestou o perfil do gaúcho preservado pelas entidades
culturais na atualidade. E desta maneira alertou para a provável invenção de
um gaúcho que estaria extinto e a representação atual distorcida. Para esse
pesquisador o gaúcho original seria aquele que atua nas lidas campeiras
demonstrando aspecto rude.
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O modo de ser desta figura pitoresca, segundo Lessa (1985, p.45-48)
despertou nas elites urbanas o sentimento de aversão e desprezo,
responsáveis pela falta de estima por elementos que comiam churrasco à unha
e recitam de “botas sujas de lama ou de barba e cabelo hirsusto, qualquer dos
mistifórios denominados modinhas gaúchas”.
Geralmente os CTGs ficam alocados dentro do perímetro urbano, são
espaços que possuem o intento de recordar os aspectos existentes na
campanha gaúcha. Assim, é marcado pela presença do fogo de chão, pelas
edificações simples e pela ampla área no entorno desta sede. Acredita-se que
esses símbolos levariam os sócios, provavelmente moradores de áreas
urbanas a uma aproximação representativa do ambiente e do estilo de vida
rural, uma aproximação mesmo que superficial com o símbolo de gaúcho
estimado pelas entidades tradicionalistas.
A Figura abaixo foi criada com base nas informações de Haesbaert
(1998, p.60), o qual as extraiu da CBTG (Confederação Brasileira do
Tradicionalismo Gaúcho) e do MTGs (Movimento Tradicionalista Gaúcho) no
Brasil (1993 e 1994) (Figura 1).
Bibliografia
CASSIRER, Ernst. Filosofia das formas simbólicas I – a linguagem. Traduzido por
Marion Fleischer. 1. ed. São Paulo (SP): Martins Fontes, 2001.
____. Filosofia das formas simbólicas II – o pensamento mítico. 2. ed. São Paulo
(SP): Martins Fontes, 2004.
SAINT-HILAIRE. A. de. Viagem ao Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Martins Livreiro,
2002.
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ZATTERA, V. S. Gaúcho: vestuário tradicional e costumes. Porto Alegre: Pallotti,
1995.
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