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DINÂMICA SÓCIO-ESPACIAL DAS CIDADES DO CAMPO: REFLEXÕES

ACERCA DO PROCESSO DE URBANIZAÇÃO DA CIDADE DE


PETROLÂNDIA - PE

Francisco Guedes de Lima


Graduando do Curso de Geografia
UPE – Campus Garanhuns
Bolsista do PFA-UPE
francisconeto88pe@hotmail.com

Clélio Cristiano dos Santos


Professor Assistente do Curso de Geografia
UPE – Campus Garanhuns
clegeo2@yahoo.com.br

INTRODUÇÃO

O Brasil chega ao século XXI com uma generalização do fenômeno da


urbanização da sociedade e do território. No âmbito da globalização econômica, sob a
égide da revolução tecnológica, ocorre no país uma aceleração da urbanização e do
crescimento numérico e territorial das cidades. A urbanização se interioriza e
desencadeia inumeráveis transformações nas áreas mais distantes do país.
Em meio século, o Brasil passa da condição de um país essencialmente agrário
para uma das principais economias mundiais. Em nenhum outro período da história
brasileira, o país conheceu uma urbanização tão complexa. De um país como um todo
agrário, o Brasil emerge, no século XX, urbano, industrial e de relações de trabalho
dominantemente capitalistas (SANTOS, 1993).
Com a expansão do meio técnico-científico-informacional construíram-se os
sistemas técnicos necessários à realização da produção e das trocas globalizadas. Isto se
refletiu muito fortemente na organização do território brasileiro e na sua dinâmica
demográfica, caracterizados por um acelerado processo de urbanização e crescimento
populacional. O resultado é uma nova divisão territorial e social do trabalho (ELIAS,
2005a).
A globalização da economia provocou profundas transformações em diferentes
setores econômicos, dentre eles, a agropecuária, que vêm passando por intensa
reestruturação produtiva nas últimas décadas. Com a introdução de um novo modelo

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técnico, econômico e social de produção agropecuária, denominado por Elias (2003) de
agricultura científica, processou-se uma reestruturação dos antigos sistemas de ação e de
objetos inerentes à agropecuária.
Dentre os reflexos da agricultura científica, temos uma completa remodelação do
território e a organização de um novo sistema urbano. Vê-se, assim, emergir nessas
áreas de agricultura científica, fortemente integradas à economia urbana, uma nova
gama de relações campo-cidade, construindo-se uma unidade dialética, na qual as
cidades próximas se tornam responsáveis pelas principais demandas da agricultura
científica, caracterizando aquilo que Milton Santos (1993) denominou de cidade do
campo.
Neste contexto, emerge o interesse em apreender a dinâmica sócio-espacial da
cidade de Petrolândia, a luz do seu processo de urbanização, enquanto cidade do campo.
Desta forma, a partir do entendimento de que o espaço, como realidade, é uno e total, e
que cabe à Geografia estudar esse conjunto de sistemas de objetos e de ações que
formam o espaço, realizou-se, ainda que em estágio inicial, estudos bibliográfico,
documental e estatístico do objeto em análise, considerando-se aspectos quantitativos e
qualitativos relacionados à distribuição dos fixos e dos fluxos, vinculados às atividades
econômicas e à dinâmica sócio-espacial do município.

DISCUTINDO A NOÇÃO DE CIDADE DO CAMPO

O termo Cidade do Campo foi proposto pelo professor Milton Santos (1993)
para denominar as cidades do Brasil agrícola. Ao discutir as novas relações entre a
cidade e o campo, impostas pela agricultura científica e pelo agronegócio, identifica-se
uma crescente integração dessas atividades ao circuito superior da economia urbana.
Assim, a cidade passa a fornecer a grande maioria dos produtos, serviços e mão de obra,
necessários à produção agropecuária e agroindustrial. A cidade local deixa de ser a
cidade no campo e se transforma na Cidade do Campo.
As produções agrícolas e agroindustriais modernas têm o poder de adaptar as
cidades próximas as suas demandas. A cada processo de modernização das forças
produtivas agrícolas e agroindustriais, as cidades das áreas adjacentes se tornam

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responsáveis pelas demandas crescentes de uma série de novos produtos e serviços, dos
híbridos à mão de obra especializada, o que faz crescer a urbanização, o tamanho e o
número das cidades.
O resultado dessa reestruturação produtiva da agropecuária brasileira é uma
grande metamorfose e crescimento da economia urbana das cidades próximas das
produções agropecuárias modernas. As cidades do campo têm a sua unidade, devido
principalmente, à interseção com o campo, com as atividades agrícolas e
agroindustriais, sendo campo e cidade participantes de uma mesma corrente de relações
uníssonas, desenvolvendo inúmeros circuitos espaciais da produção e círculos de
cooperação entre esses dois espaços. O resultado disto, é uma total remodelação do
território e a organização de um novo sistema urbano, hoje muito mais complexo do que
há trinta anos, com uma veloz e incessante substituição do meio natural e do meio
técnico pelo meio técnico-científico-informacional (ELIAS, 2005b).
Nas cidades do campo, as atividades agrícolas e agroindustriais modernas têm o
poder de comando da vida econômica e social das cidades e do sistema urbano, o que
faz com que cada cidade se organize com a feição do seu campo, aumentando, dessa
forma, a distinção entre as cidades, considerando que cada cultura agrícola, cada
indústria têm necessidades específicas em momentos determinados.
Nesta conjuntura, o perfil urbano do Brasil agrícola com áreas urbanas tem
passado por grandes metamorfoses, tornando-se muito mais complexo, onde o
tradicional esquema de análise de funcionamento da rede urbana simplesmente não é
mais válido para o presente. Com a fluidez possível graças à construção dos modernos
sistemas de engenharia dos transportes e das comunicações, intensificaram-se as trocas
de toda natureza, com grandes impactos na vida social e no território, reformulando o
antigo sistema urbano.
Em razão disto, emerge uma nova divisão social e territorial do trabalho, com
grandes impactos na estrutura demográfica e do emprego, que culminam com um
processo acelerado de urbanização. Além disto, é preciso, segundo Elias (2005b), o
conhecimento das atividades produtivas e de suas leis, assim como das cidades do
campo e das leis que as regem, para melhor compreender a urbanização e o crescimento

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urbano das últimas décadas, pois cada cidade é singular e seu alcance é cada vez mais
longínquo, podendo, muitas vezes, as cidades próximas não ter nenhuma relação entre
si.

A ATUAL CONFIGURAÇÃO TERRITORIAL DA CIDADE DE


PETROLÂNDIA

Localizado às margens do Rio São Francisco, no Sertão de Pernambuco, o


município de Petrolândia integra a Mesorregião do São Francisco Pernambucano, a
Microrregião de Itaparica e a Região de Desenvolvimento do Sertão de Itaparica1.
Compreendendo uma superfície territorial de 1.056.648 Km2, o município de
Petrolândia se limita ao norte com Floresta, ao sul com Jatobá, a leste com Tacaratu e a
oeste com o estado da Bahia.
Fundado em 09 de dezembro de 1938, pelo decreto-lei estadual nº 235, o na
época intitulado município de Itaparica, só viria a se denominar Petrolândia, “Terra de
Pedro”, em 31 de dezembro de 1943, pelo decreto-lei estadual nº 952, em homenagem
ao Imperador Pedro II2 (CONDEPE/FIDEM, 2014a).
O município de Petrolândia apresenta uma divisão territorial administrativa,
definida pela lei estadual nº 11.256, de 28 de setembro de 1955, segundo a qual, o
município é constituído pelo seu distrito sede, a cidade de Petrolândia, e por nove
povoados compostos pelas Agrovilas3 e seus blocos.
A cidade de Petrolândia se localiza na porção sudeste do município, a uma
altitude de 282m, distando 430 km da capital. A sua superfície territorial aproximada é
de 3,77 Km2, tendo como principais limites urbanos o Lago de Itaparica e a BR - 316.
Apresenta uma organização espacial de traçado urbano ortogonal, divida em quadras,
sendo 17 quadras residenciais, uma quadra de serviços e outra central. Posteriormente,

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As Regiões de Desenvolvimento – RD foram criadas pala Lei nº 12.427 do ano 2003 e divide o Estado
de Pernambuco em 12 regiões.
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Em 1877, a região recebeu a visita do Imperador D. Pedro II, que ordenou a construção de um cais e de
uma ferrovia para ligar economicamente o alto e o baixo São Francisco (PREFEITURA MUNICIPAL
DE PETROLÂNDIA –PE, 2014).
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Constituem os povoados as seguintes agrovilas: Agrovila 1 (bloco 1, bloco 3 e bloco 4), Agrovila 2
(bloco 1 e bloco 3), Agrovila 3 (bloco 3 e bloco 4), Agrovila 4 (bloco 3 e bloco 4), Agrovila 5 (bloco 4),
Agrovila 7 (bloco 3), Agrovila 8 (bloco 3), Agrovila 9 (bloco 3) e Agrovila 10 (bloco 3).

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em razão do crescimento da cidade, surgiu o Bairro Nova Esperança, as margens da BR
316.
Tendo sida reconstruída de forma planejada em 1988 pela Companhia
Hidrelétrica do Vale do São Francisco – CHESF, a cidade de Petrolândia foi dotada de
uma série de equipamentos urbanos, como escolas e postos de saúde, com elevado
percentual de ruas pavimentadas, abastecimento d’água e tratamento de esgoto.
O município de Petrolândia possui 8.572 domicílios permanentes, nos quais
reside uma população de 32.492 habitantes, sendo 8.871 pessoas residentes na área rural
e 23.621 residentes na área urbana, isto é, uma taxa de urbanização de 72,7% (IBGE,
2011). Esta tônica urbana também se faz presente na ocupação da população
economicamente ativa do município, cuja distribuição dos 2.655 postos de trabalho
formal se concentra na cidade. O setor público desponta como o maior empregador,
respondendo por 41,5% dos empregos formais, seguido pelas atividades tipicamente
urbanas, como o comércio e a prestação de serviços, que juntas respondem por 44, 8%,
a atividade agropecuária por 5,6%, as atividades industriais por 4,9% e o extrativismo
mineral por apenas 3,2% dos postos de emprego (IBGE, 2011).
No tocante ao Produto Interno Bruto - PIB, que era de 631,8 milhões em 2011, o
município ocupava a primeira posição entre os municípios que integram a RD do Sertão
de Itaparica e a 19º posição no Estado. Em sua composição, a indústria tem uma
participação de destaque, respondendo por 66,03%, sobretudo em razão da presença de
uma casa de força da Usina Hidrelétrica da CHESF, seguida pelo setor de serviços
como 31,43% e pela agricultura com 2,54%. O PIB per capita do município é o sexto
maior do Estado, isto é, a riqueza gerada em relação ao total de sua população é de 19,2
mil (CONDEPE/FIDEM, 2014b).
Com relação ao setor agropecuário, convém registrar que a agricultura científica
se faz presente no campo de Petrolândia, nas áreas de perímetro irrigado, cuja produção
associada aos modernos sistemas de irrigação, tem no coco-da-baía, na banana, na
melancia e na cebola as suas principais culturas. A influência desse campo moderno
também se faz presente na cidade, onde é significativa a quantidade de estabelecimentos
comerciais voltados para as demandas de produtos do campo.

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Todavia, PIB per capita não é igual à renda per capita, sendo assim, é
significativa a concentração de renda no município, que em 2010 possuía 35,2% de sua
população vivendo com renda domiciliar per capita inferior a R$ 140,00, isto é, 11.194
pessoas em condição de pobreza (PORTALODM, 2014). Associado a isto, segundo
dados do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Petrolândia
apresenta 5.007 pessoas cadastradas no programa Bolsa Família (BRASIL, 2014a).
Diante do exposto, observa-se que Petrolândia apresenta uma dinâmica sócio-
espacial caracterizada por uma economia urbana e um campo de características
contraditórias, onde práticas agrícolas tradicionais coexistem junto a modernas técnicas
agrícolas.

DO POVOAMENTO AO PROCESSO DE URBANIZAÇÃO DA CIDADE DE


PETROLÂNDIA - PE

O processo histórico de ocupação do espaço que viria a constituir o território do


município de Petrolândia pode ser organizado em diferentes fases, definidas a partir do
processo de povoamento e de seus respectivos reflexos nas formas de organização
espacial. Assim, é possível apontar três grandes fases: a primeira estaria associada ao
primitivo povoamento do espaço por tribos indígenas do grupo linguístico Kariri,
passando pelo início do processo de colonização ao longo do séc. XVIII, e se
estendendo até a chegada da Ferrovia em 1883; a segunda iniciaria com a chegada da
Ferrovia Paulo Afonso a Petrolândia, abarcando diferentes momentos de
desenvolvimento e declínio político, econômico e social do município no período de
1887 a 1928, findando-se com o início da construção da Usina Hidrelétrica de Itaparica
em 1976; a última fase iniciaria com a reconstrução da cidade de Petrolândia em 1988 e
adentraria pelos dias atuais (IBGE, 1958).
O povoamento se inicia com o reconhecimento da presença primitiva de tribos
indígenas do grupo linguístico Kariri na região, em especial os índios Pankararus, cujo
registro histórico mais antigo da presença dos mesmos, data do século XVII, remetendo
à existência de uma maloca ou ajuntamento de índios bravios, denominada de “Cana-
Brava”, no espaço que viria a constituir o território do município de Tacaratu.

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Posteriormente, já no século XVIII, registra-se a chegada dos primeiros colonos
e de missionários à região do Vale do São Francisco. Associado a isto, temos a
implantação das primeiras fazendas de gado e o desenvolvimento de missões religiosas,
vinculadas aos padres da congregação de São Felipe Nery. Decorre disso o início do
povoamento da antiga freguesia de Tacaratu, em 1761, pelo Padre Antônio Teixeira de
Lima.
Mais tarde, em pleno ciclo do gado no Sertão nordestino, é criado, em 1849, o
município de Tacaratu, com um povoamento constituído, sobretudo, por fazendas de
gado. Inicia-se, assim, o processo de ocupação do espaço que viria a formar o território
do município de Petrolândia, com a fundação das fazendas Brejinho da Serra e Brejinho
de Fora, ambas dedicadas à pecuária extensiva.
Os primeiros núcleos de povoamento serviam de ponto de parada apenas para
vaqueiros, que os utilizavam como bebedouro para os rebanhos que cruzavam o estado.
Em razão disto e da ocorrência de vários jatobazeiros, o local se tornou conhecido como
Jatobá ou Bebedouro do Jatobá.
Esta situação se manteve até 1883, quando a chegada da Estrada de Ferro Paulo
Afonso, dinamizou o lugar, tornando-o uma próspera povoação às margens do Rio São
Francisco. Com a chegada da ferrovia, ligando o Vale do São Francisco de Penedo a
Piranhas e de Jatobá a Piranhas, o comércio do povoado se desenvolveu, tornando-se
um dos mais florescentes do Sertão. Com a perspectiva de progresso e civilização, o
povoado rapidamente se expandiu, com a construção de várias casas, inclusive as
destinadas aos administradores e funcionários que trabalhavam na ferrovia.
Os desdobramentos desse processo desencadearam transformações sociais,
econômicas e políticas que resultaram em 1887 na transferência da sede do município,
que era o distrito homônimo de Tacaratu, para o então povoado de Jatobá, que mais
tarde, já no século XX, foi elevado à categoria de cidade em 01 de julho de 1909 (IBGE,
1958).
Contudo, em razão de conflitos políticos e com o desenvolvimento de
alternativas de transporte à Ferrovia Paulo Afonso na região, os serviços prestados pelo
comércio de Jatobá decrescem e a cidade entra em declínio. Atrelado a isto, ocorreram

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em 1919 várias enchentes, que resultaram na destruição de várias casas e na
reconstrução de uma parte da cidade numa área mais elevada.
Neste contexto, surgem propostas que visavam alavancar a cidade, que nesta
época se encontrava em grande decadência. Em 1923, a firma Brandão Cavalcanti Ltda.,
do Recife, apresentou uma proposta pioneira para a época, que consistia, em linhas
gerais, no aproveitamento da Cachoeira de Itaparica para o desenvolvimento da
irrigação no Vale do São Francisco, a fundação de agrovilas para o cultivo do algodão e
a geração de energia elétrica. Desacreditado pelo poder público, o projeto foi conduzido
inicialmente pela firma que o desenvolveu e depois foi repassado para a Cia. Agrícola e
Pastoril do São Francisco, que também não conseguiu desenvolver totalmente o projeto
por falta de recursos financeiros.
Em crise, a cidade de Jatobá, em 11 de setembro de 1928, é rebaixada à
condição de distrito, cuja sede volta a ser o distrito de Tacaratu. Contudo, neste mesmo
período, é fundado pelo Ministério da Agricultura, o Núcleo Colonial Agroindustrial
São Francisco, que herdou o acervo da Cia. Agrícola e Pastoril do São Francisco e
passou a desenvolver atividades que se refletiram em grande incremento ao comércio
local e em estímulo à retomada da construção de novas residências em Jatobá. Assim,
passada uma década, em 1938, a Vila de Itaparica, antiga Jatobá, volta a adquirir foros
de cidade e a ser sede do município (IBGE, 1958).
Em 1944, o já denominado município de Petrolândia vê concluída a instalação
de uma pequena unidade geradora de eletricidade na cachoeira de Itaparica. Desta
forma, o município passou a apresentar grandes possibilidades de desenvolvimento
econômico, com especial destaque para os setores da agricultura, da pecuária e da
silvicultura, que juntos respondiam por 34% da população economicamente ativa. Além
destes setores, havia 19 estabelecimentos industriais e 20 estabelecimentos de comércio
varejista (IBGE 2014).
Assim, com uma economia predominantemente rural, os dados censitários de
1950, mostram que dos 8.506 habitantes que compunham a população de Petrolândia,
apenas 21,9% viviam na cidade, ao passo que 78,1% da população residiam no campo.
Acompanhando esta tendência, nos anos 1960, foram criados o Instituto Nacional de

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Irrigação e Colonização – INIC e o Núcleo de colonização Rural de Barreiras.
Posteriormente, também foi instalado pelo DNOCS o campo experimental de Icó, a
partir do qual se pretendia implantar um projeto de irrigação (BARROS, 1985).
Todavia, as principais transformações sócio-espaciais do município ainda
estavam por vir, quando em 1976 é instalado o canteiro de obras da Usina Hidrelétrica
de Itaparica. A implantação da Usina, pela CHESF, envolvia a construção do
Reservatório de Itaparica que implicaria na inundação de uma grande área de 150 km de
extensão, cobrindo uma superfície territorial superior a 83 mil hectares entre os estados
da Bahia e de Pernambuco. Em razão disto, foi desenvolvida uma política
compensatória, que entre outros aspectos, envolvia o reassentamento de populações
urbanas e rurais, a reconstrução de cidades e também a implantação de perímetros
irrigados na região.
Ao longo dos 12 anos que se estenderam os trabalhos de construção da Usina, os
reflexos desse processo tiveram implicações diretas, sobretudo, nas cidades da região de
Itaparica. Petrolândia, especificamente, viu sua população urbana crescer 7,3% entre
1960 e 1980, com implicações no aumento do fluxo migratório, na qualidade dos
serviços prestados, na dinâmica da economia local e no aumento das desigualdades nas
periferias pobres da cidade.
Tendo as obras da Usina sido concluídas em 1988, a cidade de Petrolândia foi
inundada pelas águas do reservatório e uma nova cidade reconstruída. A Nova
Petrolândia integrou um já citado conjunto de ações desenvolvidas pela CHESF como
medidas compensatórias à população e à base da economia local, que além de relocar a
população e os serviços básicos demandados, também implantaram, nas proximidades
da nova cidade, alguns projetos de irrigação.
Na década de 1980, a população de Petrolândia ainda se apresentava
predominantemente rural, superando a urbana em 58,6% e com uma população
economicamente ativa de 58,56% vinculada às atividades do campo. Esta situação só
vai se alterar na década de 1990, quando a população urbana finalmente supera a rural
em 60% no ano de 1996, sendo acompanhada pela população economicamente ativa nos
anos 2000, superando as atividades do campo em 72,19% (IBGE, 1980). É a partir deste

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contexto, portanto, que Petrolândia se insere no conjunto das discussões que
caracterizam as relações campo-cidade no Brasil do século XXI.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No atual período histórico, as relações campo-cidade constituem uma unidade


dialética, uma realidade sócio-espacial marcada pelo processo de modernização do
campo, associado à reestruturação produtiva da agropecuária científica e à
generalização do fenômeno urbano. Assim, para que possamos compreender essas
novas relações, é preciso considerar que os espaços agrícolas e as cidades do campo se
tornam cada vez mais diferenciados, explicando a existência de vários circuitos da
economia agrária, possibilitando distinguir espaços agrícolas modernos e tradicionais.
Neste sentido, a análise da dinâmica sócio-espacial da cidade de Petrolândia, a
luz do seu processo de urbanização, possibilitou apreender que ao longo da história
desse município, a inserção de modernos objetos técnicos, desencadeou sucessivas
transformações em sua organização espacial, que contribuíram para tornar cada vez
mais complexas as relações que se estabelecem entre a cidade e o campo. Petrolândia
apresenta, hoje, a maior parte da sua população residindo na cidade, uma economia
urbana, com destaque para a presença da Usina Hidrelétrica, e um campo caracterizado
pela contradição entre a agricultura tradicional e a moderna agricultura científica,
presente em seus perímetros irrigados.
Evidencia-se, assim, que o perfil urbano do Brasil agrícola com áreas urbanas
apresenta grandes transformações que tornam o tema cada vez mais complexo,
suscitando diferentes questionamentos, tais quais: De que forma se dá o processo de
urbanização associado à agricultura científica? Que relações são estabelecidas entre a
reestruturação produtiva dos espaços agrícolas e as economias urbanas? Quais as
principais desigualdades sócio-espaciais evidenciadas nesses espaços urbanos? As
respostas a estas e a outras questões oferecem novas perspectivas de análise para as
relações campo-cidade.

REFERÊNCIAS

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