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Anotações e

Capítulo 1 - A produção dos espaç… destaques Detalhes

Capítulo 1

A produção dos espaços


rurais

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Desde tempos remotos, o ser humano, utilizando os meios instrumentais pelos quais
faz sua vida, transforma o espaço no qual está inserido. Suas ações desencadeiam
transformações no espaço rural, cenário de diversas atividades produtivas importantes,
como agricultura, pecuária, silvicultura, extrativismo e turismo.

Um marco histórico importante para a estruturação social se deu durante o Neolítico


– 9500 a.C. a 8500 a.C. –, quando os aglomerados humanos que viviam no continente
asiático observaram que os grãos que caíam no solo germinavam, dando origem a novas
plantas. Sendo assim, o ser humano deixou de ser caçador e coletor, passando a ser
agricultor.

O surgimento da agricultura foi um divisor de águas da evolução humana, pois


possibilitou o sedentarismo e a domesticação de animais, bem como a posterior divisão
social do trabalho. Ela foi fundamental para a estruturação das civilizações do Oriente
Próximo, que se concentraram em regiões com potencial edáfico, encontrando, nos vales
fluviais, terreno fértil ao desenvolvimento de práticas agricultáveis.

No passado, a vida humana dependia fortemente do que era possível extrair do meio
rural, visto que a cidade era, até então, um núcleo vinculado a atividades administrativas
e comerciais. Com a Revolução Industrial, desencadeou-se um processo de
deslocamento de centralidade econômica, social e simbólica do espaço rural. A partir
desse episódio histórico, as inovações tecnológicas transformaram uma parcela da
sociedade agrícola em uma sociedade industrial. Isso implica dizer que a mecanização
do campo redefiniu as relações entre urbano e rural.

Ao longo dos séculos, apesar de as técnicas utilizadas para as atividades


mencionadas anteriormente resultarem no esvaziamento demográfico do campo, elas
não diminuíram sua relevância.

O espaço rural apresenta grande complexidade, com dinâmica e modo de vida


diferentes do espaço urbano. Dessa forma, estudar os espaços rurais implica desvendar a
dinâmica das transformações e das relações sociais entre os diversos agentes,
condicionados por modelos e atividades produtivas.

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As visões entre os espaços rural e


urbano
Não existe precisão na definição do que é um espaço rural ou um espaço urbano.
Afinal, onde exatamente termina a cidade e começa o campo? Estabelecer precisamente
esse limite não é uma tarefa simples.

Comumente, o conceito de rural é utilizado para definir locais em que predominam


determinadas atividades do setor primário da economia, tradicionalmente associadas
ao campo.

O setor primário abrange atividades como agricultura, pecuária, extrativismo


animal e vegetal, silvicultura, caça e pesca, diferindo-se dos setores secundário
(indústria, energia e construção civil) e terciário (comércio e serviços).

Diversos países adotam diferentes legislações e critérios para definir o que é “rural” e
o que é “urbano”. No Brasil, os principais critérios utilizados são:

político-administrativos, que levam em conta a existência ou não de sedes municipais


(cidades) ou distritais (vilas);

espaciais, que consideram a existência de ruas, edificações e infraestruturas,


podendo expandir-se a partir de áreas previamente planejadas ou não;

demográficos, que identificam a presença ou a ausência de áreas de concentração


humana.

A legislação brasileira ainda inclui o conceito de agrovila, que enquadra os pequenos


vilarejos no campo como áreas urbanas isoladas. No entanto, mesmo com tantos
critérios, a aplicação prática de tais definições ainda é expressivamente marcada pela
subjetividade, especialmente quando se busca interpretar in loco.

Na compreensão dos espaços rural e urbano, é importante ressaltar que práticas agrárias podem
ser desenvolvidas no ambiente urbano, e vice-versa. Nesta imagem, evidencia-se um pequeno
vilarejo no interior da Suíça: seria uma pequena cidade incrustada no campo ou um espaço rural
parcialmente urbanizado?

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Espaço rural e espaço urbano:


evolução histórica e relações
assimétricas
Até a eclosão da Primeira Revolução Industrial, que se iniciou na segunda metade do
século XVIII, na Inglaterra, o espaço rural concentrava a maioria das atividades
produtivas. As cidades contavam com uma população bem mais reduzida, que podia ser
alimentada pelos excedentes produzidos no campo.

Com a Revolução Industrial, as relações entre espaço rural e urbano se redefiniram,


visto que a expansão da industrialização passou a exigir um contingente cada vez maior
de trabalhadores nas cidades. Nesse novo ambiente, com a nova divisão social do
trabalho, essas pessoas não eram capazes de produzir seus próprios alimentos. O
campo, então, precisava aumentar sua produção de excedentes com um número cada
vez menor de trabalhadores. Por isso, a Revolução Industrial só se tornou viável a partir
de um processo concomitante de transformação nos meios produtivos rurais. Essa
revolução agrícola envolveu a apropriação de diversas técnicas, aplicadas ao longo do
século XIX, ao mesmo tempo em que se desenvolvia a Segunda Revolução Industrial.

Com a Revolução Industrial, novas técnicas mudaram as práticas


agrícolas

A partir da Segunda Revolução Industrial, as relações de interdependência entre o


campo e a cidade aprofundaram-se. As máquinas agrícolas, fabricadas e aperfeiçoadas
em ambientes urbanos pelas indústrias, propiciavam crescente produtividade ao campo,
tornando-o capaz de liberar cada vez mais mão de obra para as indústrias, ao mesmo
tempo em que potencializavam sua capacidade de produzir alimentos para os habitantes
das cidades.

No entanto, as inter-relações entre os espaços rural e urbano construíram-se de forma


assimétrica. Esse fato evidenciou-se à medida que algumas cidades se consolidaram
como os principais centros de poder e de gestão do mundo moderno, estabelecendo
uma tendência de supremacia do urbano sobre o rural. Isso pode ser verificado
observando-se a expansão da influência dos hábitos, dos valores e dos modismos
criados nas cidades e difundidos nos espaços rurais.

Dessa forma, o espaço rural foi redefinido com a emergência de novos espaços
integrados às inovações tecnológicas do mundo globalizado. Essas transformações
tecnológicas em parte do campo, aliadas à já mencionada dificuldade em determinar os
limites entre os espaços rural e urbano, tornam ainda mais complexas as relações entre
esses dois espaços.

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Cada tempo reflete um tipo diferente de técnica. As inovações criadas após a Primeira Revolução
Industrial contribuíram para o aumento da produtividade do campo. Na primeira imagem, é
ilustrado o trator a vapor, uma das primeiras máquinas inventadas no século XIX. Na segunda,
pode-se ver que, nos dias de hoje, o uso de máquinas agrícolas informatizadas e altamente
sofisticadas se expande mundialmente.

Atividades produtivas típicas do


espaço rural

Agricultura

Há quase 10 mil anos, a humanidade vem aprimorando as técnicas de semear a terra


para produzir alimentos. Com a evolução das práticas agrícolas, o mundo rural foi
fraturado em duas realidades bem diferentes entre si; a agricultura, atividade econômica
dominante no campo, foi subdividida em tradicional e contemporânea. Atualmente,
coexistem fazendas que aplicam expressiva tecnologia, obtendo elevada produtividade,
voltadas prioritariamente ao atendimento das demandas do mercado, e outras
localidades em que se utilizam práticas tradicionais ou rudimentares, resultando em
menor rendimento e com produção mais voltada à subsistência das famílias produtoras
e ao mercado interno de alimentos.

A utilização de técnicas rudimentares de cultivo é marca forte da agricultura


tradicional, em que a força humana e a tração animal são imprescindíveis. Ela é bastante
comum nos países em desenvolvimento da América Latina, da Ásia e da África, voltada à
subsistência.

Diferentemente da agricultura tradicional, a agricultura contemporânea é


intensamente mecanizada. Fruto das tecnologias inicialmente desenvolvidas na
Revolução Industrial, essa nova agricultura produz alimentos em larga escala, o que não
ocorre nas práticas tradicionais.

ASSISTA

Agricultura tamanho família: uma alternativa ao agronegócio

O documentário aborda o papel da agricultura familiar para a segurança


alimentar dos brasileiros, bem como a luta de vários trabalhadores pela
democratização da terra. Direção: Silvio Tendler. Duração: 58 min.

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Ainda que a agricultura tradicional produza em menor intensidade do que a


contemporânea, o Censo Agropecuário de 2006 revela que a agricultura familiar é
responsável por 70% da produção de alimentos consumidos no Brasil e por 36% de toda
a riqueza produzida no campo do país. As razões para esses resultados são as técnicas
modernas de produção aplicadas pelos pequenos produtores, sua tendência de
integração em cooperativas (algumas atingindo o estágio agroindustrial) e a maior
preocupação com aspectos socioambientais relacionados às suas práticas.

Entre as diversas modalidades de produção agrícola, há propriedades rurais que utilizam técnicas
contrastantes. Essas disparidades decorrem da quantidade de capital e mão de obra disponíveis,
bem como da estrutura econômica vigente no lugar.

Sistemas e modos de produção agrícolas

Modelo de produção empregado

Os modelos de produção agrícolas podem ser divididos em três grupos:

Convencional – Associado ao uso de sementes transgênicas (manipuladas


geneticamente), controle de pragas por meio de agrotóxicos, aplicação de adubos e
fertilizantes industriais.

Agroecológico – Associado ao uso de sementes crioulas , adubação orgânica sem


uso de produtos industriais, controle de pragas sem o uso de agrotóxicos. O objetivo é
tornar mínimos os impactos ambientais.

As sementes crioulas são sementes tradicionais, mantidas e selecionadas


por agricultores familiares.

Agroflorestal – Versão da agroecologia que insere as lavouras em meio às florestas,


fazendo uso das árvores para sombreamento e da adubação pelo húmus .

O húmus é uma matéria orgânica depositada no solo resultante da


decomposição de plantas e animais. Pode ser encontrado especialmente no
horizonte superficial do solo.

LEIA

Agroecologia: bases científicas para uma agricultura sustentável

A obra escrita por Miguel Altieri desempenhou papel importante para a


disseminação da agroecologia no Brasil, que se constitui como uma forma
alternativa de agricultura.

Monoculturas da mente: perspectivas da biodiversidade e biotecnologia

Em meio ao contexto de degradação ambiental, o livro de Vandana Shiva elucida


questões importantes sobre políticas globais de conservação e preservação da
biodiversidade, biotecnologia, autonomia dos povos e produção de alimentos.

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Sistemas de plantio e técnicas empregadas

Agricultura moderna – Prática que envolve o produtor em uma cadeia produtiva


complexa, exigindo vultosos investimentos, pelo elevado grau de mecanização e pela
aplicação de tecnologias modernas (transgênicos, nanotecnologia etc.). Na produção
de hortaliças, utiliza métodos como a hidroponia, que dispensa o plantio direto no
solo, optando pelo uso de um coquetel líquido de nutrientes. Em regiões assoladas
por longas estações secas, aplica sistemas sofisticados de irrigação, como o dry
farming (revolvimento do solo, trazendo as camadas mais úmidas do fundo para a
superfície) ou o gotejamento (por meio de mangueiras com pequenos orifícios).

Plantation – Sistema instalado pelas metrópoles em suas colônias no Período


Colonial e ainda presente em muitos países. A plantation caracteriza-se como
monocultura que prioriza a exportação e é praticada em grandes latifúndios, com o
uso de mão de obra desqualificada (antigamente eram os escravos; hoje são
trabalhadores temporários ou boias-frias).

Agricultura itinerante – Atividade que se desloca à medida que as terras se tornam


inférteis ou secas. Utiliza técnicas rudimentares como as queimadas, que reduzem a
fertilidade dos solos, e é, ainda, largamente praticada nos países em
desenvolvimento. Em muitos casos, são aplicados sistemas pouco eficientes de
irrigação e o plantio direto, no qual a nova plantação é feita diretamente sobre o
substrato restante da cultura anterior, sem o revolvimento do solo.

Jardinagem – Sistema típico do Sudeste Asiático, a agricultura de jardinagem


emprega grande quantidade de mão de obra para o cultivo de cereais em vales
inundados ou em terraços construídos nas vertentes de montanhas para fins agrícolas
(com técnicas de terraceamento).

AGORA É COM VOCÊ

Interprete a charge a seguir.

1. Explique como os diferentes modelos de produção agrícolas refletem visões


conflitantes acerca das responsabilidades sociais e ambientais do setor
agrário. Considerando a produção de transgênicos e os modos de produção
agrícolas atuais, discuta a procedência da crítica apresentada na charge.

Uso do solo

Além da monocultura, do terraceamento e da aplicação de sistemas alternativos,


como o agroflorestal, já mencionados anteriormente, outras práticas também se
destacam:

Rotação de culturas – Prática policultora que intercala culturas temporárias (plantas


destruídas na colheita e replantadas a cada temporada), como o milho, com outras
permanentes (plantas utilizadas por muitos anos), como o café.

Curvas de nível – Sistema similar ao de terraços, no qual se estabelecem recortes


perpendiculares à inclinação do terreno para evitar a erosão.

No plantio em terraços, os desníveis são criados artificialmente, diferente das curvas de nível,
que se aproveita de superfícies acidentadas. Na imagem, uma plantação de arroz no Sudeste
Asiático.

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É importante destacar que essas práticas, assim como quaisquer intervenções


humanas, trazem consequências naturais e sociais. A princípio, para que o solo esteja
limpo e agricultável, é necessário o desmatamento da cobertura vegetal nativa, o que
acarreta a perda da biodiversidade.

Nos tempos anteriores à Revolução Industrial, os impactos ambientais e sociais não


eram tão acentuados, porém essa situação foi modificada. A mecanização do campo
trouxe agilidade aos processos produtivos por demandar mais qualificação dos
trabalhadores e menos mão de obra. Em compensação, as pessoas que outrora tinham o
seu ofício, tiveram que se deslocar às cidades em busca de melhores condições de vida,
pois haviam sido preteridas na nova lógica produtiva. Essa mudança gerou dois
processos que repercutiram no inchaço demográfico das cidades, que foram o êxodo
rural e o desemprego estrutural.

Sobre as tecnologias no campo, uma série de impactos ambientais podem ser


destacados:

Poluição atmosférica, com o aumento da utilização de combustíveis fósseis em


máquinas;

Erosão dos solos, causada pelo manejo inadequado;

Perda da biodiversidade, em virtude do desmatamento da mata nativa;

Elevação da acidez dos solos, tornando diversos terrenos inviáveis às práticas


agrícolas;

Poluição das águas subterrâneas, causada pela utilização dos pesticidas agrícolas.

SAIBA MAIS

Revolução Verde: produtividade e controvérsia

Sobretudo a partir de meados do século XX, diante da necessidade de suprir a


crescente demanda alimentar por conta do acelerado aumento populacional, o
Banco Mundial passou a financiar um novo modelo agrícola. Essa nova
agricultura passou a utilizar sementes
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selecionadas, bem como um conjunto de

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