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EMPRESA RURAL
AULA 2
1.1 Introdução
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alimentos que demandava, esforçando-se para produzir mais de um
determinado item. A autossuficiência era comum nessas propriedades rurais, o
que concedeu aos primeiros assentamentos uma condição quase que de
isolamento.
Esses assentamentos demonstravam a natureza de total subsistência em
que a humanidade vivia, o que determina que a atividade agropecuária
rudimentar da época representava a maior função realizada pelas comunidades.
Conforme as décadas foram avançando, a humanidade passou a criar suas
estradas, ligando assentamentos e, com isso, mudando a dinâmica da produção
rural, uma vez que se atendia a novas necessidades.
Fato é que até algumas centenas de anos atrás as comunidades
produziam mais de determinada cultura a fim de poder trocar por outros itens de
sua necessidade, tal como afirma Araújo (2018, p. 2):
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Figura 1 – Agronegócio
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Esse crescimento populacional passou a sobrecarregar o meio rural que,
após 1940, tinha uma tarefa cada vez mais difícil, em que o produtor tinha que
produzir para sua subsistência ao mesmo tempo em que tinha que oferecer uma
quantidade muito maior para atender à demanda de outros produtores rurais e
moradores do meio urbano que não tinham condições de produzir itens básicos.
Para compreender como o desafio do produtor rural sempre foi grande, o
quadro a seguir apresenta a evolução populacional entre meio urbano e rural de
1940 a 2010:
Quadro 1 – População brasileira rural e urbana entre 1940 e 2010 (em milhões)
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Com essa constante evolução tecnológica e produtiva, o termo agricultura
passou a não mais definir a atividade rural com precisão, ficando estabelecido o
nome agronegócio, pois em muitas situações existe a indústria rural, o comércio,
ou seja, não somente uma propriedade onde algo é cultivado. Portanto o meio
rural não é mais um local onde existem somente propriedades rurais, terra e
cultivo, existem indústrias, infraestrutura, e de acordo com Araújo (2018, p. 4),
Uma vez dentro da economia, o meio rural passa a fazer parte de uma
cadeia produtiva, com as propriedades rurais cada vez mais especializadas, e a
depender de tanta infraestrutura quanto a indústria demanda dos ambientes
urbanos como energia, estradas para o escoamento da produção, locais de
armazenamento, transporte.
A forma moderna de se expressar o significado de agronegócio está na
cadeia responsável por produzir insumos agropecuários do processo de
beneficiamento, do processo produtivo, até sua distribuição que ao mesmo
tempo alimenta fábricas diversas, mas que também oferece direto ao
consumidor, no varejo. Nesse sentido, Araújo (2018, p. 4) afirma que o termo
agronegócio fora adotado mundialmente:
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O setor agropecuário brasileiro passou a ser referido por Agribusiness e
assim permaneceu na década de 1980, sendo a forma natural de referência ao
setor. O nome agribusiness representava uma visão mais administrativa e
industrial ao setor e, na década de 1990, convencionou-se que deveria ser
tratado por agronegócios, o que se espalhou na imprensa e literatura, além do
meio universitário.
Mas vale ressaltar que a questão da nomenclatura, nesse caso, não é
relativa ao marketing e trata da forma com que o setor é visto por seus membros,
e pelos que se relacionam produtiva e comercialmente com ele, e como
apresenta Araújo (2018, p. 6):
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Embora o setor mantenha esforços para que seja visto como único,
englobando suas diversas formas, seu aspecto rural integrado com o aspecto
industrial, internamente existem muitos pequenos produtores que não se
percebem como empresários, empreendedores e acreditam que sua atividade é
puramente produtiva e rural, ignorando todas as atribuições comerciais e
administrativas.
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que o produtor se organiza, elenca a lista de suas necessidades com grande
antecedência e vai em busca do melhor negócio, mesmo estando a meses de
iniciar seu plantio.
Para que o produtor seja capaz de usar a antecipação de compra em seu
benefício, ele deve antes ter realizado seu planejamento estratégico para a safra
com a qual esses produtos vão ser utilizados. Trata-se de determinar as culturas,
as áreas alocadas a cada cultivo e, dessas informações, aliadas a questões
climáticas, condições de solo e até status de maquinário e mão de obra, poderá
estabelecer a quantidade de insumos e serviços a ser adquirida. Sobre os
insumos, Arieira (2017, p. 106) apresenta sua relação com o sucesso da
atividade ao afirmar que
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Os produtos corretivos de solo, de adubo e fertilizantes apresentam
importância histórica ao passar a permitirem que o produtor rural tivesse
enormes incrementos em produtividade, mas vão além e oferecem condições
para o tratamento do solo de forma que a atividade de cultivo possa continuar.
Esses insumos oferecem corretivos para solos que são pobres e, dessa
forma, prejudiciais ao desempenho dos cultivos, e, se usados de forma
estratégica, permitem a adequação do solo as necessidades especiais de cada
produção. De forma geral, esses adubos e corretivos permitem que as plantas
se fortaleçam, fiquem mais resistentes ao clima, a pragas e desta forma possam
atingir sua maior produtividade.
O ramo dos insumos agrícolas demanda grande investimento em
tecnologia na forma de produtos que fortalecem as plantas, ao mesmo tempo em
que as protegem de pragas diversas, sempre com o objetivo da produtividade
em mente. Sobre os objetivos dos defensivos e demais insumos, temos a sua
ação contra as infestações e doenças, que podem ser definidas como:
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problemas de desenvolvimento que se traduz em animais menores que o
necessário, quando para o gado de corte, ou que apresentem uma produção de
leite menor que a esperada.
Assim como no cultivo de grãos, por exemplo, as deficiências também
fazem com que exista a maior probabilidade de adoecimento do animal e até sua
morte. E na lista de complementos alimentares, podemos incluir sais minerais e
sal comum, importante forma de se equilibrar as funções vitais do animal, com a
vantagem de facilitar a ocorrência dos efeitos positivos esperados com o uso dos
demais nutrientes.
Se, no universo da produção de grãos, os insumos podem até ser
genéricos, em termos de tipo, variando apenas no que diz respeito à sua
quantidade e à forma de aplicação, para os animais existe muita diferença
fisiológica, ao ponto de muitos medicamentos terem sua aplicação restrita ao
animal para com o qual foram desenvolvidos. Os principais produtos veterinários
do segmento antes da porteira são as vacinas, os probióticos, antibióticos, sem
deixar de mencionar os medicamentos que permitem o combate aos
endoparasitas.
Os serviços também são muito diversificados e possuem sua parcela de
responsabilidade pelo sucesso do empreendimento rural, pois se encarregam,
em geral, do desenvolvimento tecnológico do setor agropecuário. De acordo com
Arieira (2017, p. 108), são vários os serviços oferecidos antes da porteira:
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TEMA 4 – DENTRO DA PORTEIRA
Crédito: MAVV/Shutterstock.
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Conforme Araújo (2007, p. 45), o termo dentro da porteira tem relação
com o que é fisicamente feito dentro da propriedade rural e, portanto, “isso
envolve desde as etapas iniciais para o processo de produção até o final deste
ciclo, onde terá o produto in natura pronto para comercializá-lo ou realizar uma
primeira transformação”.
Vale ressaltar que as diversas atividades que podem ocorrer dentro de
uma mesma propriedade rural e que estão descritas dentro do agronegócio estão
relacionadas à criação de animais, de grãos, frutas, verduras, hortaliças, ervas,
a transformação desses produtos rurais em outros de maior valor agregado, o
artesanato e até o turismo rural, que tanto cresce no país.
O termo agroindústria representa bem o que significa o segmento dentro
da porteira ao conceber toda a infraestrutura que verticaliza muitas atividades
produtivas dentro de uma mesma propriedade rural. Essa verticalização pode
ser observada na indústria de laticínios: ao mesmo tempo que existe a criação
das vacas leiteiras e todo o processo de ordenha, tratamento térmico, envaze e
transporte, existem também, para a produção de derivados, diversos outros
processos que demandam uma infraestrutura ainda mais complexa. Há diversas
indústrias que operam nos limites de uma propriedade rural, por uma questão
logística, ou pelas necessidades que o manuseio de certos alimentos exige,
como:
• Avicultura;
• Gado de corte;
• Laticínios;
• Polpa de frutas;
• Cana de açúcar etc.
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cereais, as frutas, verduras e legumes, tidos como matéria-prima dos diversos
processos industriais.
Quando se trata da pecuária, outra atividade rural de extrema importância
ao desenvolvimento da sociedade, temos algo que acompanha o homem desde
sua era mais primitiva e se desenvolveu por meio das descobertas das técnicas
de domesticação de animais, seja como parceiros, como apoio na realização de
trabalhos pesados e, por fim, para o abate, ou seja, alimentação.
Essa descoberta da domesticação foi vital para a aceleração do
desenvolvimento humano, pois promoveu o aumento e melhora na alimentação.
Essa maior ingestão de proteínas promoveu um enorme avanço no
desenvolvimento do intelecto humano.
A produção de alimentos é dividida entre a pecuária e a produção de
grãos, hortifruti etc e tem uma essencial diferença: a capacidade de criar um
volume maior de vagas de trabalho. Vale ressaltar que a indústria de abate, que
processa os animais como bovinos, suínos e aves, necessita de uma
infraestrutura fabril muito maior e mais complexa do que, por exemplo, o
processamento de leite, seja para a venda, seja in natura ou como insumo na
produção de diversos outros produtos.
Outra atividade de relevância para o agronegócio é o extrativismo, como
observado no caso da madeira, diversas variedades de frutos e múltiplas
matérias-primas como:
• Açaí;
• Látex de seringueira;
• Castanha-do-pará;
• Babaçu;
• Pinhão etc.
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grande a importância estratégica e científica do extrativismo, principalmente para
a biotecnologia, conforme defende Arieira (2017, p. 110):
Essa atividade, desse modo, deve ser tratada com muita atenção, pois
pode tornar-se um dos vilões do século XXI, alçando o país para uma
posição de destaque também na área de biotecnologia. Mas para isso,
legislações e fiscalização rigorosa devem ser implantadas para
proteção de nossos recursos contra as agressões ambientais e a
biopirataria.
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produção, a viabilidade ocorre apenas se todos os seus três principais elementos
forem levados em conta.
Complementando o segmento dentro da porteira, temos a silvicultura e o
extrativismo, sendo que neste ocorre a exploração de recursos naturais de forma
econômica. A silvicultura, por sua vez, representa o cultivo de florestas, algo
comumente realizado na cultura de florestas para a extração da madeira.
O extrativismo não é uma atividade com grande sustentabilidade, mas que
nos últimos anos vem conquistando novas metodologias incentivadas pela
pressão da sociedade pela sustentabilidade e com isso são criados métodos de
extração que permitem a recuperação do bioma e a continuidade da exploração
do recurso em seu ambiente natural.
Agronegócio
Antes da Dentro da Depois da
Porteira Porteira Porteira
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durabilidade, facilidade de uso, embalagem, ampliação do prazo de validade,
além de disponibilizar os produtos no lugar certo, no momento desejado e nas
condições requeridas pelo consumidor.”
Quando os processos produtivos feitos na propriedade rural terminam,
chega a hora de o produto ou insumo deixar suas dependências e, em uma
operação logística, ser conduzido até centros de distribuição e/ou indústrias e
varejistas, dando início então à comercialização do produto, que, para título de
agronegócio, envolve os intermediários que atuam no produto até seu destino.
Para Buhler (2010, citado por Arieira, 2017, p. 112), a comercialização dos
produtos do agronegócio, no que denominamos depois da porteira, trata do
percurso que esses produtos percorrem até seu destino e apresentam o
intermediário:
agente que irá realizar algum tipo de transformação para que o produto
esteja apto para o mercado. No caso da soja, em que a transformação
mais comum é a do óleo de soja, o intermediário, muitas vezes, é uma
cooperativa que irá comprar a produção e a transformar ou vender para
outro agente de transformação.
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Para a observação de mais uma similaridade entre as empresas e
indústrias com o agronegócio, reforçando a noção da propriedade rural como
uma empresa, temos os contratos, que a cada dia são mais presentes nessa
atividade e que são complexos no meio rural, devido à incerteza da produtividade
da safra, da sazonalidade e dos efeitos das mudanças climáticas.
O agronegócio tem o detalhe de que muito do que se produz leva meses
para ser finalizado, como a produção de milho, por exemplo, e para a indústria
de alimentos, que busca assegurar uma fonte constante de suprimento, surgem
os contratos de venda antecipada.
Os contratos de venda antecipada formalizam um acordo de compra e
venda que pode ocorrer tanto durante a produção quanto no período que
precede o plantio. O teor do contrato serve como harmonizador dessa complexa
relação de compra, pois a produção agrícola é sujeita a inúmeros contratempos.
Seja para a coordenação de atividades como o extrativismo sustentável,
em benefício de comunidades de trabalhadores, seja para a conquista de
melhores contratos, as cooperativas têm sido um elemento equalizador de
poderes. Com o apoio das cooperativas, os produtores passam a ter
praticamente a mesma infraestrutura que grandes propriedades rurais.
Por fim, esse segmento depois da porteira deve apresentar as situações
relativas ao escoamento da produção, saindo das propriedades rurais com dois
principais destinos: as indústrias de alimentos, ou o consumidor final, como no
caso de grãos como o feijão, arroz etc.
Nesse contexto, faz sentido a presença das cooperativas, pois a questão
do transporte representa um custo elevado em qualquer segmento e, com isso,
pequenas propriedades rurais não teriam o mesmo poder financeiro que as
grandes no seu processo de escoamento.
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Figura 4 – Escoamento da produção
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1. Tarifas dos fretes;
2. Confiabilidade;
3. Tempo em trânsito;
4. Perdas, danos, processamento das respectivas reclamações – e
rastreabilidade;
5. Considerações de mercado do embarcador;
6. Considerações relativas aos transportadores. (Ballou, 2007, p. 187,
citado por Oliveira; Cadan, 2020, p. 8)
FINALIZANDO
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REFERÊNCIAS
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