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PÓRTICO

Com a publicação do presente número 53 O mais recente louvor recebido foi atribuído pela
prosseguimos o 18º ano de existência, com uma Confraria da Fogaça da Feira que nos concedeu, em
regularidade que a todos encanta e dá alegria para cerimónia realizada durante o capítulo que se efetuou
prosseguir a jornada iniciada em Junho de 2002. no Castelo da Feira, no dia 12/01/2019, por diploma
Queremos manifestar a todos os dedicados que nos outorga o grau de Leonis.
colaboradores o testemunho do nosso agradecimento Queremos partilhar esta distinção honorífica com todos
e a certeza de que o espírito que une VILLA DA FEIRA e os colaboradores e assinantes que nos acompanharam
a TERRA de SANTA MARIA tem recebido o aplauso forte no caminho percorrido, como de inteira justiça que é e
de que nos orgulhamos. que nos dá honra evocar.

Liga dos Amigos da Feira

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MENSAGEM

Roberto Carlos Reis*

Embora não sendo sequer associado da Comissão desmoronamento das muralhas, o abandono às silvas
de Vigilância do Castelo de Santa Maria da Feira, e às heras e à ocupação por privados dos terrenos
reconheço que o brilhante esforço em prol do Castelo, circundantes. Esta iniciativa permitiu a criação da
iniciado em 1909, ainda não parou. Esta Associação efémera Sociedade dos Amigos do Castelo em 1905,
Cultural, criada 29 de outubro de 1909 pelas figuras que apesar da sua curta existência, levou à execução
da Terra de Santa Maria, que à época e apesar de alguns trabalhos de beneficiação do Castelo.
de diferentes ideias e ideais deitam mãos à obra, No entanto, a pedra de toque aconteceu em
constitui-se no primeiro organismo na gestão de 1909, quando Fortunato da Fonseca Menéres, antigo
um Monumento Nacional. Tem desenvolvido um Emigrante no Brasil (era comerciante no Rio de Janeiro),
magnífico trabalho, para que este importante custeou a expensas suas importantes reparações que
monumento Nacional continue limpo, conservado e eram urgentíssimas, no eirado e nos cunhais da torre de
altivo na sua dignidade, constituindo-se claramente no menagem, na importância de 200$000 réis. Foi deste
mais belo Castelo de Portugal. ato, tão espontâneo como benemérito, que surgiu a
No entanto, as origens desta entidade remontam a ideia de formar-se uma patriótica comissão local, que
1905, quando um admirador do Castelo, Afonso Alfredo se instalou no mesmo ano, denominando-se «Comissão
Teixeira Couto, proprietário da «Hospedaria Topa», tomou de Vigilância pela Guarda e Conservação do Castelo
a iniciativa de abrir uma subscrição pública para custear da Feira», e à qual se deve o serviço permanente de
as mais urgentes reparações no monumento, uma vez guarda ao monumento e a realização das vedações com
que, após dois séculos de abandono e de degradação, o levantamento de muralhas desmoronadas, tendo feito
o Castelo da Feira estava próximo da ruína, devido ao também as mais urgentes reparações.

*Técnico Superior de História - Câmara Municipal de Santa Maria da Feira. Historiador. DEA em Turismo Lazer e Cultura – Património, Faculdade Letras da Universidade de Coimbra.
Doutorando em Turismo Lazer e Cultura – Património, Faculdade Letras da Universidade de Coimbra. Investigador - CEGOT - Universidades de Coimbra, Porto e Minho. Investigador
Biblioteca Nacional de Espana. Professor Convidado Universidad Rey Juan Carlos – Madrid. Professor Universitário – Instituto Universitário da Maia. 7
Todas as iniciativas voluntariosas e desinteressadas ao terem consciência viva das suas responsabilidades,
levaram a que as importantes figuras da região, como e do dever/direito de participação, tomaram sobre
Fortunato da Fonseca Meneres, Dr. António de Augusto si a iniciativa de se substituir aos poderes públicos e
Aguiar Cardoso, António Coimbra, Conselheiro Manuel começaram a fazer obras de limpeza, de melhoria e de
bandeira, Dr. Vitorino de Sá, dr. Eduardo Vaz de Oliveira, reparações inadiáveis.
José António de Andrade, Benjamim Augusto Corrêa Ao longo destes 110 anos e a par das obras de
de Pinho, Dr. António Toscano, D. Fernando Tavares e proteção física do Monumento, a Comissão também
Távora, Dr. Gaspar Alves Moreira, Dr. João de Magalhães, promoveu estudos históricos publicados em revistas,
Dr. Henriques Vaz ferreira, Visconde de reboleiro, João guias, roteiros, livros, e outras publicações, a cerimónia
António de Andrade e Francisco Lima, criassem a religiosa de renovação da Consagração da «Terra
Comissão de Vigilância pela Guarda e Conservação do de Santa Maria» a Nossa Senhora, bem como as
Castelo. Apesar de inúmeras divergências de opinões, intervenções arqueológicas. Destacamos ainda as
grandes obras de intervenção no Castelo realizadas
durante o anos 2000, para o adaptar a novas funções,
agora de carácter marcadamente cultural.
Considero e é justo afirmar que o castelo da Feira
tem um papel clarividente sociocultural e turístico
nos tempos atuais, e que me parece que o âmbito
da intervenção desta importante associação cultural
deveria alargar-se a toda a região que outrora abrangia
os concelhos da Terra de Santa Maria, indo de encontro
às raízes culturais e históricas, harmonizado o espírito
de associação com esse território, funcionando como
polo de dinamização cultural e turístico da região em
que está inserido.

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A QUINTA DO CASTELO1

Roberto Carlos Reis*

1 - Fotografia de 1860. PT-CPF-CNF-CALVB-0033-000071

*Técnico Superior de História - Câmara Municipal de Santa Maria da Feira. Historiador. DEA em Turismo Lazer e Cultura – Património, Faculdade Letras da Universidade de Coimbra.
Doutorando em Turismo Lazer e Cultura – Património, Faculdade Letras da Universidade de Coimbra. Investigador - CEGOT - Universidades de Coimbra, Porto e Minho. Investigador
Biblioteca Nacional de Espana. Professor Convidado Universidad Rey Juan Carlos – Madrid. Professor Universitário – Instituto Universitário da Maia. 21
A primeira referência documental conhecida sobre qual está huma porta por onde os Condes antecessores
a Quinta do Castelo, aparece na descrição da cerca do costumavam servir-se, por si e sua família somente que
Convento dos Loios, na obra Os Loios em Terra de Santa os acompanhava para a missa e exercícios espirituaes da
Maria, de Pedro Vilas Boas Tavares, que sublinha a Igreja, ao que os ditos religiosos não pozeram duvida dar
existência na parte sul da cerca do Convento dos Loios a posse do dito caminho e porta”3. Os religiosos teriam
havia uma porta “que dava acesso à fonte dentro da uma chave com declaração expressa de que não lhes
«quinta do castelo» (Porta da Cerca), da qual vinha a
2
poderia servir senão para irem concertar a sua fonte,
água para o claustro. Outros registos sublinham que no quando o entendessem necessário para a condução e
“caminho que vai para a Quinta do Castelo, no muro da limpeza da água que daí lhes vinha para o convento4.

3 - Tavares, Pedro Vilas Boas. 2009. Os Loios em Terras de Santa Maria, p. 80.
4 - Idem
2 - TAVARES, Pedro Vilas Boas. 2009. Os Loios em Terras de Santa Maria, p. 125. 5 - Porta da Cerca, 1938. Foto Alvão

22
Sobre a fundação da Quinta do Castelo não temos ou matos do “Bita”, com o qual confrontava a nascente e
conhecimento de qualquer informação que permita cujo proprietário era António José Saraiva Castel Branco6.
identificar os seus criadores. No entanto, são conhecidos Já no século XIX, na matriz provisória da freguesia da Feira,
registos de propriedade que informam sobre os proprie- do ano de 1854, a Quinta do Castelo estava inscrita em
tários da quinta no século XVIII e XIX e que dão indicações nome de José Joaquim da Silva Pereira7, com a seguinte
sobre algumas das suas características e utilizações. Em descrição: “Umas casas com uma quinta chamada do
1755, a Quinta do Castelo foi incorporada no denominado Castelo que se compõem de lavradio, matos e devesas”,
casal de “Trás do Castelo”, também conhecido por quinta com a anotação que assim se mantinha em 1856.

7 - José Joaquim da Silva Pereira, filho de Francisco Xavier da Silva Pereira e de


D. Antónia Josefa de Abreu, da Vila de Valença e irmão de Francisco Xavier da
Silva Pereira, 1° conde das Antas. Capitão, que por decreto de 22 de julho de
6 - Tombo dos Bens pertencentes ao Estado e Casa da Vila da Feira [vol. 4]. 1824 foi transferido para o Batalhão de Caçadores, então aquartelado na Vila
Reconhecimento dos Casais das Ribas e do Casal de Trás o Castelo de que é da Feira. Foi administrador Geral substituto de Aveiro, deputado de 1834 a
possuidor António José Saraiva Castel Branco da Vila de Aveiro. [30 de janeiro 1842 e de 1851 a 1856 e chegou a Marechal de Campo graduado.
de 1755]; folhas 202v e 203. 8 - Foto Aérea. Foto Alvão

23
Na história do sítio do castelo, está muito presente dos Loios associada à Quinta do Castelo, que no inicio
a origem do nome do burgo que nasceu à sombra do século XX transformou-se numa quinta de recreio
do castelo, a função de defesa e de administração com uma notável coleção de plantas. É um sítio onde
do Castelo da Feira sobre as Terras de Santa Maria, o fascínio pelo imaginário dos tempos medievais
o carácter medieval conferido pela mata do Convento ganha corpo.

9 - O Castelo da Feira. Archivo Photografico 1884

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A Quinta do Castelo no tempo de Alexandre unidade fabril ambiciosa com um capital de 200 contos
Brandão de réis. A nova sociedade empresarial foi designada de
Brandão, Gomes & C.ª. Para o efeito, os empresários
Ainda sobre os proprietários da Quinta do Castelo10 adquiriram “o terreno da antiga fábrica de conservas em
(sabe-se que a família Brandão foi o último proprietário sal, que um incêndio tinha destruído”13 e aí construíram
privado) foi de Alexandre Brandão (morreu em 1923) e a nova unidade fabril.
da sua viúva D. Angelina de Matos Brandão.
Alexandre Brandão, empresário portuense, diretor
da fábrica de conservas em Espinho, Brandão Gomes
& Ca, chegou a ser, por herança e compra11, o único
proprietário dos terrenos confinantes com as muralhas
do castelo, “em toda a sua volta, à exceção de uma
pequena parte perto da capela até à casamata”12.

A fundação da Fábrica de Conservas Brandão,


Gomes & C.ª

Os irmãos Brandão (Henrique que foi Presidente da


Câmara de Espinho de 1906 a 1908, e Alexandre) e os
irmãos Oliveira Gomes (Augusto que liderou o grupo que
levou à criação do concelho de Espinho e foi o seu 1.º
Administrador, e José que cedo sairia da Sociedade),
regressados do Brasil, onde obtiveram uma fortuna
considerável, fundaram na zona sul de Espinho, uma

10 - Há nela uma gruta artificial ornada com estalactites e digna de ser vista. 14
Fica à beira de um lago, onde convergem bastantes águas, provindo principal-
mente de um manancial que, em tempos antigos, alimentou a fonte enterrada
à porta da torre de menagem.
Toda esta quinta seria esplêndida instalação de uma pousada de turismo ou
estância luxuosa de repouso. Podiam construir-se tanques para natação e
balneário. O palacete tem amplos corredores e espaço em redor para ser
aumentado. Perto há vasto pinhal fácil de aparcar. E, em face, o Castelo da Feira 12 - Ferreira, Henrique Vaz. s.d. A vila, o Concelho e o Castelo. Estudo so-
dá-lhe a aparência de vivenda solarenga rodeada de pacífica e linda paisagem. bre o concelho da Feira compilado em 3 volumes dactilografados, existentes
11 - Há registos que Alexandre Brandão herdou da parte da sua tia, Maria Joaqui- na Biblioteca Municipal de Santa Maria da Feira, dos quais foram publicados
na da Conceição (a “senhora Mariquinhas do Castelo”), uma casa que ficava na parcialmente alguns capítulos em livros, artigos de revista e jornais concelhios
escarpa norte do castelo, num dos patamares que conduzia à Capela da Nossa e distritais.
Senhora da Encarnação que a possuía desde 1858. Seu irmão, Henrique Brandão, 13 - SALVADOR, Jorge Fernando – Exposição Comemorativa do I Centenário
herdou a casa e quintal do avô de ambos, Francisco José Pinto, localizada a da Fundação da Fábrica Brandão, Gomes & C.ª. Espinho: Edição da Câmara
SE do castelo. Após a sua morte, os seus herdeiros venderam a propriedade ao Municipal de Espinho, 1994, p. 4.
tio Alexandre. Mais tarde, Alexandre Brandão comprou a José David da Silva a 14 - Câmara Municipal de Espinho – Fundadores da Fábrica Brandão, Gomes
Quinta da Cerca. & C.ª, [s.d.]

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Imbuídos de um espírito inovador apetrecharam a Em 1895, perante o enorme prestígio alcançado em
fábrica com as tecnologias mais modernas, importadas Portugal e no estrangeiro, o rei D. Carlos, por alvará régio,
de indústrias francesas, holandesas e alemãs. A imagem nomeou-a fornecedora da casa real, passando a exibir
de marca era a sardinha, mas a fábrica colocava no o título de “Real Fábrica de Conservas Alimentícias” e,
mercado um leque variado de produtos: outros peixes, também, “a poder colocar as armas reais no frontispício
carnes, legumes, frutas, compotas, queijos, azeite, da fábrica,”15.
pickles e refeições preparadas. A partir da divisa
“melhorando sempre”, os empresários delinearam uma Em 1897, na Exposição Industrial, realizada no
estratégia eficaz de publicidade e marketing, a qual lhes Palácio de Cristal do Porto, o Júri da Classe IV atribuiu à
permitiu o domínio de todos os segmentos de mercado Brandão Gomes, a única medalha de ouro para o ramo
do ramo conserveiro. conserveiro.

15 - GAIO, Carlos Morais – A Fábrica de Conservas. In “A Génese de Espinho – Histórias e Postais”. Porto: Campo das Letras, 1999, p. 161.

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Um mês depois, o governo português agraciava excelência do seu fabrico, eram conhecidos “além da
os proprietários com o oficialato da Ordem de Mérito Europa, nos mercados da América do Norte e do Sul,
Industrial. De acordo com o jornal o Comércio do Porto, da África Ocidental e Oriental e [na Índia portuguesa]16.”
os produtos com a marca Brandão Gomes, mercê da

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16 - O Comércio do Porto. Porto, 14 de dezembro de 1897.


17 - Real Fábrica de Conservas de Brandão, Gomes & C.ª.Observações

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No entanto após a morte em 1923, de dois toca ao encerramento da filial de Matosinhos. A crise
fundadores da empresa, Augusto Gomes e Alexandre da pesca artesanal ou de arrasto estava instalada e
Brandão, e com a saída voluntária de Henrique em Matosinhos erguia-se um novo centro pesqueiro
Brandão, a administração da empresa ficou nas mãos com recurso a traineiras motorizadas e com o “cerco
dos herdeiros Augusto Gomes Júnior, Fernando Miranda americano” ou “arte de cercar para bordo” em franco
Gomes e Adriano Brandão. A conjuntura económica crescimento e com resultados de sucesso.
mundial do pós-guerra era desfavorável, com a inflação Parcialmente encerrada em 1934, foi adquirida em
em Portugal a atingir índices extremamente elevados hasta pública em 1939, pela empresa Fernando Gomes
no conjunto dos países europeus. A depreciação da & C.ª. A Segunda Grande Guerra foi benéfica para o
moeda deu maior liberdade à especulação e à fácil crescimento da procura e a conserveira de Espinho
acumulação de fortunas. Por outro lado, e em virtude ainda beneficiou com esse fator.
das várias restrições impostas à indústria, o setor Contudo, o conselho de administração da
conserveiro nacional ficou sem sustentação para fábrica de conservas não acompanhou o processo
manter uma produção diversificada, agravada pelos de modernização tecnológica executado por outras
custos elevados de produção, com a agravante de congéneres nacionais e internacionais. Mais uma vez,
um aumento da concorrência no que diz respeito ao a retração do pós-guerra agravou o setor industrial,
comércio internacional e com o mercado português a criando enormes dificuldades financeiras, situação que
dar respostas não satisfatórias no sentido de contrariar acabou por determinar a venda da empresa, nos anos
a conjuntura económica de crise . 18
50 do século XX, à firma Lopes da Cruz & C.ª. Em lenta
A sentença proferida pelo Tribunal do Comércio do e penosa agonia, aquilo que restou da antiga fábrica
Porto, em novembro de 1927, que declarou a falência Brandão, Gomes e C.ª, encerrava em definitivo as suas
da empresa espinhense, e apesar de posteriormente portas em 1985, prevalecendo o nome primitivo da
anulada por má decisão do juízo do Porto, foi o primeiro fábrica e dos seus fundadores na memória das gentes
prenúncio daquilo a que viria a acontecer uns anos mais de Espinho19.
tarde.
Com a Grande Depressão de 1929, a “Brandão,
Gomes”, que vivia uma situação financeira difícil, não
teve outra solução, que não fosse vender as filiais,
mantendo a fábrica de Espinho em laboração. Esta
decisão não pareceu acertada, particularmente no que

18 - BOUÇON, Armando. O Caminho-de-ferro e o Desenvolvimento industrial.


O exemplo da Real Fábrica de Conservas Alimentícias, Brandão, Gomes & C.ª.
1894-1950 19 - Idem

28
Quinta do Castelo e Brandão Gomes No início do século XX, Alexandre Brandão reformulou
a Quinta do Castelo e realizou um conjunto de obras e
ações nos terrenos que possuía em redor do castelo,
que provocaram vários protestos em defesa do Castelo
da Feira.
No terreno que herdou da sua tia, Maria Joaquina
da Conceição (a “Senhora Mariquinhas do Castelo”),
que ficava na escarpa norte do castelo, num dos
patamares que conduzia à Capela da Nossa Senhora
da Encarnação, localizada junto à muralha poente do
castelo, desmanchou a escadaria para a construção
de um chalet e vedou todo o terreno com um alto
paredão. Estas obras provocaram protestos, o que levou
Alexandre Brandão a transferir o chalet para Espinho. A
um outro acontecimento ocorrido em 1920, Alexandre
20 demoliu a casa onde nascera, para a reconstruir. No
entanto, também se opuseram várias vozes21. Alexandre
Nos anos em que a quinta esteve na posse de
Brandão manifestou interesse em reconstruir a casa dos
Alexandre Brandão, a mesma conheceu uma profunda
seus pais, “onde ele nascera, ali ao ponte da tenalha,
reestruturação que se mantêm em grande parte até
a uns doze metros, pouco mais, da esquina dos muros
hoje, constituindo-se num dos mais belos recantos da
amerloados”22, com um projeto que pretendia “alterar o
Quinta do Castelo; o conjunto formado pela ponte, lago
edifício, fazê-lo maior, tapando mais a vista do Castelo,
e monumental gruta, elementos construídos ao gosto
escondendo-o melhor”23.
do romântico, ainda muito presente nos nossos jardins
no início do século XX. Pela sua dimensão constituem-
se como um dos mais importantes no nosso país, 21 - Foram vários os protestos nos jornais (Diário de Notícias de Lisboa, em
10 de abril de 1920; Primeiro de Janeiro do Porto, em 11 de abril de 1920). A
tendo sido encomendado pelo último proprietário 24 de abril de 1920, o Diário de Noticias “anuncia que entre o inspirado poeta
Augusto Gil, diretor geral das belas artes e o diretor geral das obras públicas,
privado destas terras, Alexandre Brandão, à Companhia Cordeiro de Sousa, ficaram combinadas as medidas necessárias para defesa
do Castelo da Feira. A 17 reunia o conselho de Arte e o Dr. José Figueiredo
Agrícola-Hortícola do Porto que viria a realizar o projeto ocupava-se da necessidade imperiosa e urgente de se obstar à projetada
construção de uma casa particular de grandes proporções junto ao Castelo da
para a Quinta do Castelo, no terreno que herdara da sua Feira, devendo também promover-se a publicação de uma lei estabelecendo
uma zona de respeito de vinte metros, pelo menos, em torno dos monumentos
tia “a senhora Mariquinhas do Castelo”. nacionais.” (Vaz Ferreira in A vila, o Concelho e o Castelo da Feira).
22 - Ferreira, Henrique Vaz. s.d. A vila, o Concelho e o Castelo. Estudo sobre
o concelho da Feira compilado em 3 volumes dactilografados, existentes na
Biblioteca Municipal de Santa Maria da Feira, dos quais foram publicados
parcialmente alguns capítulos em livros, artigos de revista e jornais concelhios
e distritais.
20 - Alexandre Brandão Gomes, proprietário da Quinta do Castelo 23 - Idem

29
A reação de desagrado foi imediata e reavivou que se lhe entregará tudo o que se possa transportar
a vontade em estabelecer uma zona de proteção em e aproveitar. É certo, porém, que, dadas as precárias
redor do castelo. Alexandre Brandão não prossegue circunstâncias do tesouro público, não podemos
com a obra, optando por outro local para a construção pensar em que o governo, apenas para defender um
da casa e declarou que consultaria a comissão dos monumento nacional, se proponha despender cerca de
monumentos nacionais sobre a faixa a expropriar. 50 contos! É preciso pois conseguir que o expropriado
O caso é que surgiu a urgência de se arranjar em queira contentar-se com muito menos, ou de contrário
torno do Castelo uma zona de defesa. O paladino desta nada se fará. Eis a triste realidade.”
ideia foi — é claro — o Dr. Aguiar Cardoso e o seu E assim a zona de defesa veio a realizar-se 27 anos
intermediário em Lisboa foi Manuel Carlos, que já tinha mais tarde, a 5 de julho de 1939, com a cedência à

tratado de conseguir a reparação do cubelo sul—poente Câmara pela ex.ma Sra. D. Angelina de Matos Brandão.

fendido e ameaçando ruina. O dr. José de Figueiredo,


A Ação da Companhia Agrícola-Hortícola do
como representante do Conselho de Arte e Arqueologia,
Porto
queria propor a zona de proteção, quando já o Manuel
Carlos a maquinava dentro das repartições de obras
As casas da Companhia Hortícola Agrícola Portuense
públicas.
(de fundação anterior a 1844), de José Martins Branco,
Veio finalmente, a 2 de julho de 1921, uma
de Jacinto de Matos (1870), de Moreira da Silva
comissão para estabelecer a zona a expropriar e fez-
(1895) e de Mário Mota, serão as responsáveis pela
se a planta dos terrenos logo a 29 do mesmo mês na
maior parte dos jardins e parques construídos no Porto
divisão de Aveiro; mas a avaliação, cometida a uma
e Norte do País entre 1875 e 1925. Parece ter sido a
repartição do Porto, só se conseguiu em 19 de maio do
casa de José Martins Branco a que, ainda nos finais do
ano seguinte. E que avaliação! O total era 57.221$00. Séc. XIX, iniciou entre nós a aplicação do betão armado
“Em face desse desgraçado trabalho — escrevia às construções de jardins: — grutas, lagos, pontes,
Manuel Carlos — e depois de uma larga conversa com caramanchões, bancos, mesas mirantes e outras
o secretário geral do meu ministério, o engenheiro construções decorativas feitas em cimento armado,
Cordeiro de Sousa, que, como sabe, me tem sempre imitando frequentemente troncos e ramos de sobreiro.
acompanhado e ajudado na nossa pretensão A esta casa deve-se, entre outras dispersas pelo País,
concordámos que o que nos cumpria fazer agora, as construções existentes na Quinta do Castelo, neste
seria mandar um emissário avistar-se com o Alexandre caso particular a Gruta.
Brandão, expor-lhe a questão, sem lhe falar na avaliação Como poderemos constatar, para a realização
oficial feita, e perguntar- lhe, a título de querer tratar esta do projeto da Quinta do Castelo, Alexandre Brandão
questão amigavelmente, quanto quer ele pelo terreno a contratou a Companhia Agrícola-Hortícola do Porto,
expropriar, e quanto de indemnização pelos objetos e sucessora do Horto de Marques Loureiro. Do projeto
materiais que se encontram na referida área, sendo certo conhece-se apenas uma planta que foi publicada no

30
24

catálogo da Companhia no ano de 1914 e presume-se atuais. Em 1914, ocupava toda a encosta norte que
que tenha sido realizado por Jeronymo Monteiro da Costa, parte do castelo até ao Convento dos Loios, tinha como
no âmbito da sua atividade na referida Companhia. O limite sul a rua do Castelo, que se manteve, para poente
projeto da Companhia Hortícola Portuense abrange uma estendia-se até à Alameda Roberto Vaz de Oliveira e para
área muito mais vasta da correspondente aos seus limites nascente até à atual rua de Vinhais - Fornos.

24 - Gruta Artificial da Quinta do Castelo

31
25

Atualmente, a propriedade mantém-se murada,


com a entrada principal no lado poente do castelo,
através da qual se acede por uma alameda ladeada por
frondosos plátanos que conduz à antiga zona residencial,
25 - Planta da Quinta do Castelo, da autoria da Companhia Hortícolo-Agrícola
atualmente ocupada por serviços da Segurança Social. Portuense. Fonte: Catalogo Geral e Descriptivo das Plantas, Colmeias e Outros
Artigos à venda na Companhia Horticolo-Agricola Portuense, n.º 50, 1914.
A nascente da casa principal, já fora dos limites atuais 26 - Requalificação da Quinta do Castelo da Feira - Santa Maria da Feira projeto
de arquitetura paisagista. Projeto de execução | dezembro de 2016 | Memória
da quinta, fica o Hotel do Inatel26. descritiva | 016P0015 ARP PE MD A

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A planta do projeto da Companhia Hortícola evidencia nascente, o efeito obtido pelas plantações denota um
um traçado com caráter naturalista, à semelhança cuidado particular, distinguindo-se um conjunto de
dos parques e jardins da época. A sua composição é árvores exóticas de grande porte. A nascente da casa
marcada pela organização de caminhos ladeados por principal, junto ao Hotel do Inatel, existe um outro lago
árvores, que denotam cuidado na criação de admiráveis de forma naturalizada, que não está representado no
panorâmicas sobre o castelo. projeto da Companhia Hortícola. Aqui encontram-se
A gruta e o lago são os elementos de maior distinção alguns elementos decorativos, essencialmente bancos
deste lugar. Foi aproveitada para criar uma gruta de dois em betão armado imitando troncos de árvores.
andares, com um “acabamento exterior que permite a O património vegetal da Quinta do Castelo, resultado
camuflagem do betão com plantas, como se de uma do plano da Companhia Hortícola Agrícola Portuense,
obra espontânea da Natureza se tratasse” . No nível 27
remonta ao inicio do século XX, como podemos observar
inferior da gruta foi criado um lago impermeabilizado na figura, publicada em 1917, que apresenta uma vista
com uma forma naturalizada, que é atravessado por geral da Vila da Feira. Aqui, verificamos que a encosta
uma ponte com uma guarda em troncos de madeira. entre o Convento dos Loios e o Castelo da Feira,
Na margem poente do lago encontra-se construída correspondente à área da Quinta do Castelo, encontra-
uma armação de betão e outros elementos decorativos, se preenchida com árvores muito jovens,o que nos leva
como floreiras, imitando troncos de árvores. Na margem a crer que tenham sido plantadas por essa altura28.

29

27 - MARQUES, Teresa Portela; MAGALHÃES, Cristiane Maria - Técnica, Arte


e Cultura nos jardins de meados de Oitocentos até ao limiar do século XX, em
Portugal e no Brasil.
28 - Requalificação da Quinta do Castelo da Feira - Santa Maria da Feira projeto
de arquitetura paisagista. Projeto de execução | dezembro de 2016 | Memória 29 - TÁVORA, Fernando. 1917. O Castelo da Feira, sua descrição, sua história
descritiva | 016P0015 ARP PE MD A e notícia sobre os Condes da Feira

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Em 1939, a Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Alexandre Brandão. A proprietária cedeu gratuitamente
Nacionais do Norte procede à expropriação de uma a faixa correspondente, fazendo-lhe o município a
faixa dos terrenos em redor do castelo, pertencentes transferência de uma estufa e de uns tanques que aí
a D. Angelina de Matos Brandão, mulher e herdeira de tinha construído para o interior da quinta.

30

30 - Estufa pertencente a Angelina Matos Brandão, antes das obras.


Foto Marques Júnior

34
31 - Idem

35
32 - Idem

33 - Idem

36
34 - Idem

35 - Casario que ainda se manteve.


Foto Marques Júnior

37
Como os proprietários da Quinta do Castelo não [...] Venda que faz Artur Freitas de Matos e Esposa
tiveram filhos, por sua morte, a quinta passou para a e outros à Federação de Caixas de Previdência - Obras
posse dos seus sobrinhos, únicos herdeiros: Artur Freitas Sociais37.
Matos (Porto), Dr. Vasco Fernando Freitas de Matos Aos vinte e seis de Abril de mil novecentos e
(Matosinhos), Dr. Adriano Noronha Matos, (Porto) e sessenta e um [...] - Artur Freitas de Matos e esposa
D. Maria Teresa Quaresma de Noronha Matos(Porto). e [...] outros vendem à Federação de Caixas de
Estes, não tendo interesse em conservá-la, Previdência - Obras Sociais, representada pelos seus
puseram-na à venda. A Câmara Municipal de então Presidente e Secretário - Drs. Fernando Serzedelo
(1960) desejava adquiri-la, mas os meios financeiros Quintas do Nascimento e José Camilo da Trindade, [...]
eram escassos. Posto ao corrente do assunto, o ilustre o imóvel misto, [...] denominado Quinta do Castelo,
feirense Dr. Henrique Veiga de Macedo, então Ministro situado no lugar do Castelo desta Vila, com a superfície
das Corporações, pelo grande interesse que dedicava total de cento e cinquenta e três mil oitocentos e
à sua terra, que sempre tanto amou, comprou o edifício sessenta metros, que se compõe de um terreno a
e toda a quinta em 1961 pelo Estado (Federação das mato e parque, com a superfície de cento e vinte e
Caixas de Previdência - Obras Sociais) para instalação um mil e sessenta metros - um terreno lavradio, com
de uma colónia de férias. Tiveram um papel importante a superfície de trinta e dois mil e oitocentos metros,
o Dr. Domingos Caetano de Sousa, o Presidente da - um prédio residencial, de três pavimentos, com a
câmara Dr. Domingos Coelho para além do Ministro das área coberta de quatrocentos e trinta e oito metros,
Corporações, Dr. Henrique Veiga de Macedo. sendo a superfície total de mil trezentos e catorze
Nesta altura, a quinta, com a superfície total de 133 metros, - uma garagem, com a área coberta de cento
860 m2 era composta de “um terreno a mato e parque, e noventa e três metros, - uma casa de caseiro, de
com a superfície de cento e vinte e um mil e sessenta dois pavimentos , com a área coberta de trezentos e
metros - um terreno lavradio, com a superfície de trinta oitenta metros, sendo a superfície total de setecentos
e dois mil e oitocentos metros, - um prédio residencial, e sessenta metros, - uma estufa, com a superfície de
de três pavimentos, com a área coberta de quatrocentos cinquenta e cinco metros, - e uma gruta, lago, bem
e trinta e oito metros, sendo a superfície total de mil como outras pertenças, como sejam águas e tanques,
trezentos e catorze metros, - uma garagem, com a área formando tudo um único prédio, com todas as suas
coberta de cento e noventa e três metros, - uma casa servidões, tanto activas como passivas, pelo valor de
de caseiro, de dois pavimentos, com a área coberta MIL E NOVECENTOS CONTOS, [...].
de trezentos e oitenta metros, sendo a superfície total
de setecentos e sessenta metros, uma estufa, com a A aquisição desta propriedade é para instalação de
superfície de cinquenta e cinco metros, - e uma gruta, uma colónia de férias. [...]
lago, bem como outras pertenças, como sejam águas e
tanques, formando tudo um único prédio, com todas as
36 - Escritura registada no Primeiro Cartório da Secretaria Notarial da Feira, 19
suas servidões, tanto ativas como passivas, pelo valor de maio de 1961.
37 - Retirado da Escritura, registada no Primeiro Cartório da Secretaria Notarial
de MIL E NOVECENTOS CONTOS, [...].36” da Feira - 19 de maio de 1961

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38 - Fac-simile da primeira página da Escritura registada no Primeiro Cartório da Secretaria Notarial da Feira, 19 de maio de 1961

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39 - O Presidente da República Almirante Américo Thomaz visitou esta Colónia


de Férias e Centro de Atividades Culturais do Instituto de Obras Sociais. 13 de
setembro 1970

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40 - Centro Infantil da Feira

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O interior do edifício foi restaurado para poder realizavam-se aí várias atividades de Formação de
servir ao fim em vista e assim funcionou entre 1966 a Professores.
1974, durante os meses de verão. Nos outros meses

41

41 - Visita a 3 de Abril de 1971 do Presidente do Instituo de obras Sociais, Dr. Veiga de Macedo, Presidente da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, Dr. Domingos
Coelho, do Subsecretário e Estado do trabalho e Previdência, Dr. Silva Pinto

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42 - Idem

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Por despacho da Secretaria de Estado do Trabalho e instaladora pessoas sindicalizadas, pelo que algumas
Previdência, de 7 de abril de 1971, foi determinado que foram forçadas a desistir, ficando o grupo reduzido aos
a Federação das Caixas de Previdência - Obras Sociais cinco primeiros acima nomeados e ao padre Soares dos
- fosse transformada no Instituto de Obras Sociais. Reis, professor de Moral sindicalizado. Nenhuma das
Assim, a Colónia de Férias de Vila da Feira ficou quatros senhoras pôde fazer parte da Comissão, o que
dependente do Instituto de Obras Sociais. todos lamentaram.
A “Revolução dos Cravos”, em 25 de Abril de 1974, Apresenta-se de seguida, dois estratos dos
veio transformar os acontecimentos e ajudar a que a documentos, através dos quais foi integrado parte do
Colónia de Férias para crianças, que apenas funcionava património imobiliário do Instituto de Obras Sociais e,
nos três meses de verão, pudesse ter a sua atividade consequentemente, dois prédios onde, atualmente,
durante todo o ano, tendo sido criada uma Comissão funciona o Centro Infantil de Santa Maria da Feira e o
Instaladora de um Jardim de Infância. Nos anos seguintes Serviço Sub-Regional da Segurança Social de Aveiro.
foram construídos outros edifícios que ocuparam uma
parte da antiga área de cultivo e exploração frutícola da
quinta - o edifício do Inatel, construído no antigo pomar
de macieiras e a Sede dos Escuteiros, construída no
limite norte, junto ao Cemitério.
Numa reunião de moradores, convocada para o
efeito na Casa do Povo, em setembro desse ano, foram
eleitos para formarem a Comissão Instaladora de um
Jardim de Infância as pessoas que se seguem: Joaquim
António de Oliveira Coelho, José Luís Campos Pais,
Alcides da Cruz Campos, Manuel Ferreira dos Reis,
Manuel Sá, Luís Campos, Manuel Ferreira Maia, Padre
Joaquim Vieira da Cruz - Passionista, Padre Manuel
Soares dos Reis -o pároco de então.
E as senhoras, Ana Ferreira dos Santos, Maria Júlia
Lima Santos Sampaio, Madalena Araújo das Neves
Abelha de Almeida e Maria Albertina de Oliveira.
Na sua primeira reunião elegeram, por voto secreto,
um presidente do grupo, que, por maioria de votos,
recaiu em Manuel Ferreira Maia. 43
Com as orientações dadas superiormente, a
Comissão começou a trabalhar para levar por diante
o seu projeto. Entretanto, por imposição superior, foi
determinado que só poderiam fazer parte da Comissão 43 - Retirado do Diário da República – I Série – N.º 271-22-11-1980

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O Centro Regional de Segurança Social de Aveiro, Com a colaboração preciosa do sr. Pinheiro, zelador
com sede na Avenida Dr. Lourenço Peixinho, n.º 164, da Colónia de Férias, e de D. Dulce Branco, Assistente
Aveiro, vem requerer que a seu favor se registe a aquisição Social, após alguns meses de intensa preparação, no
dos prédios abaixo mencionados, por integração do dia 19 de maio de 1975 o Centro Infantil da Feira iniciou
património do Instituto de Obras Sociais, no património as suas atividades no Palacete da Quinta do Castelo.
do Centro Regional de Segurança Social de Aveiro, nos Na altura apresentava uma comunidade educativa de
termos do decreto-lei 515/7.9de 28.12.79, e portaria cerca de 50 crianças e apenas quatro monitoras, para o
1003/800 de 22.11.1980 trabalho direto com as mesmas, coordenadas por uma
Primeiro: Prédio urbano com posto por uma casa de Educadora de Infância.
dois pavimentos, denominado Abrigo dos Pequeninos, Inicialmente, a Comissão Instaladora admitiu apenas
com quatro divisões no rés-do-chão e oito divisões no crianças carenciadas deste município, mantendo-se
primeiro andar e terreno e logradouro, situado no Largo este critério durante algum tempo. Posteriormente, e de
da Misericórdia, desta Vila da Feira, a confrontar uma forma gradual, foram admitidas, novas crianças e
de nascente com a igreja da Misericórdia, de poente funcionárias.
com José Francisco Pinto, do Norte com a Casa dos Passaram a ser aceites crianças de todas as classes
Magistrados e do Sul com o Jardim, e está inscrito na sociais, dando-se preferência, no entanto, aos filhos de
matriz predial urbana sob o n.º 1068. mães trabalhadoras e de famílias de menores recursos
[...] económicos.
Segundo: Prédio rústico com área de 153.280 m2, Atualmente, a Quinta do Castelo é propriedade
sito no Castelo, freguesia da Feira, a confinar do Norte do Instituto da Segurança Social que, em 2013,
com Dr. José de Castro Corte-Real e outros, nascente estabeleceu um contrato de comodato com a Câmara
Dr. Vasco Corte-Real, sul castelo da feira e caminho e Municipal de Santa Maria da Feira, ficando nas mãos do
poente com Parque Municipal e caminho e está inscrito Município a gestão integral daquele espaço, impedindo
na matriz predial rústica sob o n.º 1241. pretensões de eventuais especuladores44 em se apro-
Prédio urbano composto por uma casa com priarem deste espaço emblemático, permitindo o
jardim, parque, lago, gruta e casa para garagem de desenvolvimento de diversas atividades como a Viagem
construção moderna, confinando de todos os lados com Medieval em Terra de Santa Maria, o Parque Temático
o proprietário e inscrito na matriz predial urbana sob o de Natal – Perlim, bem como o desfrute por parte dos
nº.173. feirenses deste Património Natural extraordinário.
Prédio urbano composto de uma casa de primeiro
andar, próprio para habitação do caseiro de quinta, com
currais, alpendre com 11 divisões a confinar de todos
os lados com o proprietário e inscrito na matriz predial
urbana sob o nº. 756.
44 - O Jornal de noticias de 2 de agosto publicava que um consórcio de inves-
[...] tidores “de capital 100% regional” queria avançar para a edificação de uma
cidade medieval à volta do Castelo de Santa Maria da Feira, coração da Viagem
Aveiro. 25 de agosto de 1981. Medieval. Provisoriamente designado Medievus, o projeto integrava a empresa
Comissão Instaladora DMO - Destination Management Organization, que queria ainda reconverter o
Mercado Municipal, e envolve 1,5 milhões de euros de investimento em in-
António Oliveira Antunes. fraestruturas.

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Quinta do Castelo reabre ao público

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Após uma cuidada requalificação, a Quinta do com uma cerimónia conduzida pelo presidente da
Castelo, reabriu as portas ao público, no dia 6 de julho, Câmara de Santa Maria da Feira, Emídio Sousa.

45 - Porta da Cerca

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A intervenção na Quinta pressupôs uma reabilitação apresentavam fissuras, e uma melhoria dos jardins e
dos caminhos, tornando-os mais práticos e de fácil iluminação.
circulação, a recuperação da gruta e do lago, que

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A casa que estava em ruínas foi requalificada para como os anfiteatros verdes que foram construídos pelo
servir de armazém e na parte de cima foi criado um espaço para ser palco de pequenos espetáculos e
espaço multiusos que servirá de apoio a eventos, assim performances.

46 - Gruta Artificial após as obras de intervenção. Foto: Gabinete de Comunicação da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira.

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A requalificação – que envolveu reabilitação daquele sítio. Muitas paixões foram despoletadas em
do património vegetal, integração paisagística e passeios pela Quinta e permanece nos álbuns da cidade
recuperação dos sistemas hidráulicos – privilegiou como um património natural insubstituível. Hoje, é casa
a história da Quinta, dando relevo aos pormenores de um conjunto de atividades culturais e pedagógicas e
históricos e às memórias que centenas de feirenses têm de grandes eventos como Perlim e Viagem Medieval.

47 - Anfiteatros Naturais. Foto: Gabinete de Comunicação da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira

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A visita guiada pelo presidente da Câmara terminou Maria da Feira que encantou a plateia repleta, com luzes
com um concerto da Banda Sinfónica de Jovens de Santa e melodia, (re)descobrindo a Quinta do Castelo.

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48 - Visita Guiada à Quinta do Castelo, pelo Presidente da Câmara, Emídio Sousa


Foto: Gabinete de Comunicação da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira

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Intervenção do Presidente da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira

“Encontramo-nos neste espaço emblemático de A reabilitação dos caminhos permitirá caminhadas


Santa Maria da Feira que hoje reabre ao público. mais confortáveis, uma vez que optamos por um material
Esperamos que, na pequena visita que efetuaremos de acolhedor, a pavimentação betuminosa. Recuperamos a
seguida, apreciem e confirmem o excelente trabalho de gruta, um ex-libris que estava a ameaçar ruir a qualquer
recuperação aqui realizado. momento, para além de devolvermos ao usufruto dos
feirenses este lago lindíssimo, que apresentava enormes
fissuras, por onde a água se esvaía.
49 - Intervenção do Presidente da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, Reabilitaram-se os espaços verdes, que contemplam
Emídio de Sousa. Foto: Gabinete de Comunicação da Câmara Municipal de
Santa Maria da Feira muitas espécies arbóreas raras e são uma das grandes

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riquezas desta Quinta. A construção de novas áreas, ao envolvimento da equipa de arquitetos, coordenados
como anfiteatros, permitirá a organização de noites pela professora Teresa Andersen da Universidade do
de fados, de folclore, de concertos musicais ou outras Porto, a quem não posso deixar de dar os parabéns,
performances, nesta Quinta que reúne todas condições porque perceberam de forma clara o que pretendíamos
para momentos únicos e inesquecíveis a nível cultural. As para a nossa Quinta. Foram buscar a extraordinária
obras permitiram ainda a recuperação de uma casa que riqueza histórica desta Quinta desde os alvores da sua
estava em ruínas e a criação de um espaço multiusos criação, ou seja, desde o início do século passado, sob
de apoio aos múltiplos eventos que pretendemos levar a égide do seu proprietário Alexandre Brandão e da sua
a efeito. esposa Angelina de Matos Brandão, recuperando assim
Toda a Quinta está iluminada, o que lhe traz um memórias e identidade.
novo colorido, e potencia ainda mais a sua beleza. O A maior parte dos feirenses tem memórias
excelente trabalho de requalificação deve-se sobretudo maravilhosas desta Quinta. Recordo que, nos últimos
anos, quando a Quinta estava a entrar em decadência,
nos contactavam para que pudéssemos inverter esta
50 - Assistência atenta à Intervenção do Presidente da Câmara Municipal.
Foto: Gabinete de Comunicação da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira situação de abandono. Perante o desafio, deitamos

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mãos à obra, tendo em vista a renovação da Quinta, processo apoiou-nos de forma inexcedível para que a
sob a Presidência de Alfredo Henriques, e foi no seu Quinta fosse gerida atualmente pelo Município.
mandato autárquico que protocolamos a gestão da Santa Maria da Feira merece este espaço.
Quinta do Castelo com a Segurança Social. É belíssimo e eu espero que saibamos aproveitá-
Nada disto seria possível se não tivéssemos um lo. Peço a todos que sejam vigilantes desta Quinta,
extraordinário interlocutor, o Engenheiro Celestino que também é vossa. Se se aperceberem de alguma
Almeida, à data o Presidente do Centro Distrital situação menos correta, denunciem. Se virem algum
da Segurança Social de Aveiro, a quem também movimento suspeito, atuem. Não tenham medo, alertem
envio um enorme abraço, que merece todo o nosso de imediato as autoridades, porque temos de defender
reconhecimento. Foi fundamental, porque no início do este património. A Câmara não é omnipresente, mas se
como Cidadãos olharmos para a Quinta como um espaço
51 - Idem que é nosso, vamos conseguir mantê-la preservada.

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Esperamos que se mantenha a tradição dos passeios


e convívios neste local, que as velhas memórias deem
lugar a novas, que mais pessoas se apaixonem aqui,
que utilizem o espaço para as suas fotografias de
batismo, comunhão ou casamento, como aconteceu
durante décadas. Desfrutem da Quinta do Castelo!

52 - Atual Vice-Presidente da Câmara Municipal, Cristina Tenreiro e Antigo


Presidente da Câmara Municipal, Alfredo Henriques. Foto: Gabinete de
Comunicação da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira
53 - Espaços da Quinta do Castelo Requalificados. Foto: Gabinete de
Comunicação da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira 53

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Convido-vos para darmos uma voltinha pelo espaço é a melhor forma de fazer a reabertura da Quinta do
e depois assistir à nossa Orquestra de Jovens que Castelo, que a partir de agora é mesmo de todos nós.
nos vai presentear com um Concerto que penso que Muito obrigado”.

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A partir de agora, poderá visitar gratuitamente a Quinta do Castelo das 9h00 às 18h00, entre novembro e março,
e das 8h00 às 20h00, de abril a outubro.

54 - Concerto Banda Sinfónica de Jovens de Santa Maria da Feira.


Foto: Gabinete de Comunicação da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira

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