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ESCOLA

SUPERIOR
DE EDUCAÇÃO
POLITÉCNICO
DO PORTO

L Gestão do Património Cultural


Estudos de Etnografia Portuguesa

Diabos de Vinhais
André da Silva Couto

21/2022
Politécnico do Porto

Escola Superior de Educação

[André da Silva Couto]

[Festa dos Diabos: Mil Diabos à Solta em Vinhais]

Tipologia [Trabalho individual]

Licenciatura em [Estudos de Etnografia Portuguesa]

Docente: Prof.(ª) Doutor(a) [Carla Sofia Ferreira Queirós]

Porto, [Dezembro] de [2021]


ÍNDICE

INTRODUÇÃO

1. Vila de Vinhais.......................................................................................5
2. Caraterização histórica da Festa dos Diabos..................................................7
3. A festa na atualidade......................................................................................11
4. Simbologias da Festa dos Diabos de Vinhais................................................14
5. As valências turísticas da festa......................................................................16

CONCLUSÃO

BIBLIOGRAFIA

ANEXOS
INTRODUÇÃO

No âmbito da unidade curricular de Estudos de Etnografia Portuguesa, lecionada pela docente


Carla Sofia Ferreira Queirós, foi-me proposto um trabalho sobre uma festividade cíclica. Eu
escolhi fazer sobre uma festa do Inverno do Nordeste Transmontano, os Diabos de Vinhais.
Segundo os pontos que devem integrar o trabalho dados pela docente, no trabalho vou falar
do contexto geográfico, nomeadamente da Vila de Vinhais, que é onde ocorre a festa, a
caraterização histórica da festa abordando a origem a festa e como esta ocorria no passado,
a festa na atualidade apontando as diferenças da festa relativamente ao passado e se vão
mantendo a tradição da mesma, falar dos símbolos da festa e, por fim, abordar as valências
turísticas da festa.

Utilizei como bibliografia e webgrafia para este trabalho sobretudo, o livro Rituais de Inverno
com Máscaras de Benjamim Pereira, o livro de António Pinelo Tiza Ritos e Mistérios
Transmontanos, uma tese de mestrado de Ana Brilhante na Faculdade de Letras do Porto
relativa ao Museu Ibérico da Máscara e do Traje, um artigo do Diário de Notícias e o site do
Município de Vinhais.
1. VILA DE VINHAIS

Vinhais é pertencente ao distrito de Bragança, em Trás-os-Montes, no extremo norte de


Portugal. É uma vila que tem uma origem histórica que remonta aos tipos ancestrais. É uma
região que tem diversos vestígios de antiga ocupação humana com inscrições, gravuras
rupestres, dolmas e castros, “destacando-se o Castro da Cirandela, povoado proto-histórico,
fortificado de grandes dimensões”(Município de Vinhais). Acredita-se devido às descobertas
arqueológicas que a presença humana nesta região vem desde a idade do Cobre ou
Calcoolítico.

A origem do topónimo-Vinhais-segundo muitos historiadores é de origem muito antiga e


acredita-se ser pela produção de vinho na região pois Abade de Miragaia escreveu “Desde
tempos muito remotos a produção principal desta freguesia e deste concelho era o vinho,
como está dizendo o seu nome-Vinhais-terra de vinhais e vinhedos...”(Município de Vinhais).
Em tempos, Vinhais foi um local estratégico de defesa e controlo fronteiriço e o respetivo
Castelo de Vinhais desempenhou um papel importante no século XIV na conturbada conjutura
do reinado de D.Fernando e da revolução que se lhe seguiu”(DGPC) em que o alcaide de
Vinhais se juntou e apoiou a invasão de Castela. Outros pontos importantes da história para
Vinhais foram durante a Guerra da Restauração e as Guerras Liberais.

Vinhais é hoje um polo dinamizado pelas atividades ligadas à agricultura, natureza,


gastronomia e pequena e média indústria, com particular destaque para produtos como a
castanha e o porco bísaro, raça que é responsável por uma das maiores feiras gastronómicas
do país, a Feira do Fumeiro de Vinhais, daí porque também Vinhais é considerada a capital do
Fumeiro. Para além disto, Vinhais destaca-se ainda no turismo e no ecoturismo,
disponibilizando diversas atividades, entre o homem e a natureza, sobretudo através do
parque Biológico de Vinhais, um parque que tem uma grande diversidade natural, tem
alojamento e tem à volta vários trilhos pedestres.

Como património arquitetónico e histórico, o concelho de Vinhais tem como principais


atrações, o Castelo de Vinhais, o Convento de São Francisco, a Igreja de São Fernando, o
Convento de Santa Clara, os diversos pelourinhos como o pelourinho de Vinhais, o pelourinho
de Paçó, entre outros.

Vinhais pode ser visitado durante todo o ano e para isso tem diversas festividades, romarias,
feiras, como a Festa do Fumeiro, os Mil Diabos à Solta, que é a festividade que iremos abordar
neste trabalho, a Festa da Cabra e do Canhoto, a Festa de Santo Estevão, entre outros.
2. CARATERIZAÇÃO HISTÓRICA DA FESTA DOS DIABOS

O Carnaval constitui o segundo grande período de protagonismo das máscaras, associadas à


licenciosidade ritual e à irreverência que perpassa todo o ciclo de Inverno. Em contrapartida
ao Carnaval que é marcado por excessos, neste período surge a Quaresma, que é um período
de maior abstinência e respeito e jejum segundo a Igreja Católica, aqui integrando a Quarta-
Feira de Cinzas, a data em que inicia o período da Quaresma e que assinala o Dia dos Diabos,
tradição de Vinhais. “É durante a Quaresma, marcando o final do ciclo de Inverno, que surgem
as derradeiras ocasiões de relação ritualizada com a morte, em que ela e os mortos aparecem
quer personificados quer recordados através de cânticos ou orações” (PEREIRA,2006,p.113),
como é o caso dos Diabos de Vinhais. A separação do Carnaval e o período da Quaresma
inspira um vasto grupo de tradições folclóricas, algumas oriundas de ritos anteriores ao
Cristianismo, que envolvem sempre alguém mascarada ou trajado, constituindo-se ritos
emblemáticos e misteriosos que são uma marca de identidade cultural do Nordeste
Transmontano. É aqui que se integra a Festa dos Diabos de Vinhais.

Os Diabos de Vinhais trata-se de uma tradição secular e única em Portugal, cujas origens
permanecem desconhecidas havendo, no entanto, diferentes interpretações. Há
interpretações de que esta tradição tem origens medievais, origem nas festas lupercais que
são festas tradicionais da Roma Antiga, nas procissões de Quarta-Feira de Cinzas, ou por
influência dos franciscanos do Convento de São Francisco de Vinhais, entre outros. No dia da
Quarta-Feira de Cinzas as figuras da Morte o do Diabo percorrem as ruas da vila sedentas por
almas pecadoras. Os diabos praticavam os chamados assaltos às casas das raparigas, que
podiam ser através do telhado, das varandas de janelas e portas arrombadas, perseguiam e
capturavam os humanos que, desafiando o poder sobrenatural daqueles, se atrevem a sair à
rua, purificando-os com cinturadas e apresentando-os perante a Morte que, empunhando
uma gadanha de forma ameaçadora, impondo temor e lembrando que pode chegar a
qualquer altura ceifando-lhes a vida como lhes é aprazível. Normalmente perseguiam só as
raparigas, e estas para se escaparem, às vezes refugiavam-se na igreja, onde os diabos não
podiam entrar, só a Morte é que podia e as perseguia também, e também tentavam fugir
pelas terras e hortas fora, tentando-se esconder em qualquer sítio. Mesmo se conseguissem
esconder-se numa casa, os diabos tentavam entrar de qualquer forma, até mesmo partindo
vidros e arrombando as portas se fosse preciso. Depois de conseguirem apanhar as raparigas,
levavam-nas para a pedra, que hoje é conhecido como o Largo do Arrabalde, e lá eram
chicoteadas, obrigadas a ajoelharem-se e a recitar orações pagãs como “Padre-Nosso, caldo
grosso, carne groda não tem osso. Salve Rainha, Mata a galinha, Põe-na a
cozer...”(TIZA,2003,p.290). Isto representa outro elemento simbólico da liturgia pagã, que
passa pelo ritual da purificação comunitária que, consiste na crítica social realizada na praça
pública e que, segundo TIZA, é um espécie de “purificação ou expurgação social da
comunidade, a eliminação dos seus pecados pela via de uma espécie de “confissão” pública
ou divulgação, e a profilaxia social, a preparação da comunidade para a entrada do novo ciclo
produtivo que vai começar com a entrada no novo ano”(TIZA,2004,p.19).

Subida à varanda da casa das moças. Fonte: TIZA, António(2004). Ritos e Mistérios Transmontanos.
Lisboa: Esquilo.

Os Diabos entram na temática dos caretos, que no caso do Nordeste Transmontano são
considerados “autênticos seres mágicos e diabólicos, mantidos pela tradição para atormentar
as almas e sacrificar os corpos das suas vítimas preferidas, as moças da terra”, eles são “jovens
que se mascaram e se transformam para o exercício especifico das suas funções de animação,
estabelecimento da ordem e divertimento do povo”(TIZA,2004,p.99). São simbologias
sagradas e ao mesmo tempo pagãs, que através das máscaras constituem a a passagem de
um estado de consciência para outro e se caraterizam como um poderio mágico e
sobrenatural. Os Diabos de Vinhais, como todas as outras festas deste período do Inverno do
Nordeste Transmontano, combinam o cristão com o pagão. Isto é, nestas festas tipicamente
pagãs, também está sempre presente a liturgia cristã e elementos cristãos, pois há, por
exemplo, quase sempre as missas tradicionais. “É esta riqueza de situações e vivências que
podemos ainda hoje encontrar nas festas do ciclo do Inverno no Nordeste Transmontano, em
que o sagrado e o profano andam de mãos dadas, numa convivência mais que perfeita e numa
união tão harmoniosa como a que liga o homem rural à terra e à Mãe-Natureza” (TIZA, 2004,
p.24).

Inicialmente só havia a figura da Morte, que transportava uma gadanha, que é uma
ferramenta normalmente utilizada na agricultura, perseguia as mulheres, tentava entrar nas
casas delas chicoteava-as e levava-as para a pedra e como penitência as mulheres beijavam a
gadanha carregada pela Morte para se livrarem dos seus pecados. Só anos mais tarde é que
surgiram os diabos porque “a morte gozava do privilégio de ser intocável, ninguém lhe
podendo bater. Com o decorrer dos tempos, começaram a verificar-se intrigas e desforras e,
consequentemente, vinganças. Para defender a Morte de eventuais agressões, criou-se uma
outra figura, a do Diabo. Pela primeira vez, em 1880, aparece a Morte acompanhada de um
diabo sentindo-se mais segura e confiante para desempenhar as suas
funções”(TIZA,2004,p.292). Assim, tentavam entrar na casa das moças, utilizando uma escada
de grande dimensões, arrombando portas, partindo vidros e saltando pelos telhados. Depois,
mais tarde a Casa da Misericórdia assumiu o ritual e a tradição e “mandou fazer 4 ou 5 fatos
de diabo que alugava aos interessados, havendo que esperar pela respectiva vez, tal era a
afluência e o desejo de participar nestas práticas rituais. Não havia, contudo, outra
possibilidade de alguém se vestir de diabo que não fosse com os fatos que a Misericórdia
dispunha”(TIZA,2004,p.292).

Como quase todos estes rituais do Nordeste Transmontano são acompanhados sempre por
um ritual de passagem, como por exemplo a passagem da adolescência para a maturidade,
entre outros, no caso dos Diabos de Vinhais simboliza um ritual de passagem do Inverno, para
o Verão e segundo Abade de Baçal, a origem da tradição da Morte e os Diabos à Solta em
Vinhais “estaria relacionado com a liturgia mítica de expulsar o Inverno, representado pela
morte” (BRILHANTE,2010,p.36).
3. A FESTA NA ATUALIDADE

O Dia dos Diabos, “Os Mil Diabos à Solta” ou os Diabos de Vinhais continuam a cumprir com a
tradição mas não tão genuinamente como outrora. Apesar de ser uma tradição do dia da
quarta-feira de Cinzas, há 8 anos “que a Câmara de Vinhais decidiu realizar no sábado seguinte
ao início da Quaresma, um evento de maior dimensão inspirada nesta tradição(…) por “ser
mais fácil juntar as pessoas ao fim de semana do que num dia de trabalho” “(LUSA,2019) ou
seja, em vez de ser no dia 2 de Março, a festividade passou a ser no dia 9 de Março. Hoje em
dia, na quarta-feira de cinzas mesmo só saem alguns diabos e a figura da Morte com a sua
gadanha, impersonada por uma pessoa(Ver em Anexo 1), ao contrário do que vai acontecer
no sábado, em que a morte é uma figura ilustrativa, às ruas para chicotear as mulheres que
hoje em dia é feita de maneira meiga, funcionando como um mero cumprimento pois
antigamente as chicoteadas eram mesmo dadas de maneira agressiva e depois só mesmo no
sábado seguinte é que ocorre a grande festividade com o grande número de diabos a sair à
rua, acompanhados pela Morte, numa procissão com diferentes teatralidades e a presença da
população a assistir.
Procissão dos diabos e a figura da Morte. Fonte: Jornal de Notícias,2018.

Representação durante a procissão da subida às varandas para apanhar as raparigas. Fonte: Jornal de
Notícias,2018.

Hoje em dia, o município de Vinhais disponibiliza fatos do diabo para alugar, sendo que muitos
já compram, e convidam quem quiser a vestir os fatos vermelhos para participar na procissão
dos Mil Diabos à Solta que já chama curiosos de várias zonas do país ou seja, todas as pessoas
que quiserem podem vestir um fato de diabo comprado ou alugado ao município e participar
da celebração tradicional de Vinhais. Este fato que tem um número serve como um bilhete de
identidade e mesmo que tenha sido alugado ou comprado é pertencente à pessoa que o vai
vestir. “Muitos são, hoje em dia, na vila de Vinhais, os que assumem o papel do diabo,
vestindo-lhe a pele. Uns fazem-no para poderem gozar da liberdade de bater e dar
continuidade à tradição; outros simplesmente para se livrarem das
chicotadas”(TIZA,2004,p.286)

Os Mil Diabos à Solta, que encerram as Festas do Inverno do Nordeste Trasmontano vão desde
a Igreja do Seminário e o Largo do Arrabalde, numa procissão, na qual diversas pessoas
vestidas de Diabo vão pela rua, acompanhadas pela figura da Morte, na qual atormentam
principalmente as raparigas. A procissão é acompanhada de diversos momentos teatrais,
como espetáculos de fogo(Ver em Anexo 2), a representação teatral dos 7 pecados capitais e
principalmente os diabos a subir às varandas para capturar as mulheres que tentam se
defender com água e cinzas(Ver em Anexo 4). Depois os diabos levam as raparigas numa
espécie de jaula em andamento(Ver em Anexo 3), que é carregada pelos diabos, que
antigamente supostamente era num carro de bois, em que as raparigas vão pedindo socorro.
”Ritual ainda hoje realizado, com menos pompa e mais recato nos bairros mais antigos da
cidade, mas que no passado foi vivido com tal intensidade que até se costumava dizer que
“Bragança tinha mais um dia de Entrudo”(BRILHANTE,2010,p.35) pois antes as raparigas eram
mesmo perseguidas, eram chicoteadas com força e depois eram levadas à pedra, ou seja ao
Largo do Arrabalde e obrigadas a ajoelharem-se para serem chicoteadas mais uma vez e
recitar orações pagãs. Enquanto isto, a Morte vai acompanhando. A Morte que é uma figura
feita hoje em dia por estudantes de expressão plástica do agrupamento de escolas e vai
vagueando mais silenciosamente pelas ruas, ao contrário de antigamente que não existia
ainda os diabos, mas sim só a morte e a morte não era uma figuras mas sim uma pessoa que
se fantasiava de morte e ia pelas ruas com a sua gadanha. A Morte, que é o principal andor
deste evento no fim da procissão é queimada, significando o fim de um ciclo, o ciclo de
Inverno, e a passagem para o ciclo de Verão. Esta queima do rosto da Morte é uma novidade,
pois, através das minhas pesquisas bibliográficas não encontrei nenhuma referência de isto
ser feito antigamente e também não encontrei quando começou atualmente.

Queima do rosto da Morte. Fonte: Jornal de Notícias,2018.

Para celebrar um pouco a igualdade de género, hoje em dia quase tantas mulheres vestem-se
de diabo como os homens e também crianças, ao contrário de antes tradicionalmente ser só
os homens a se fantasiarem. Para além disto, tem a subida dos diabos às varandas para
apanhar as mulheres, sendo que estas tentam se defender com água e cinzas, podendo isto
ser considerado uma batalha de sexos na igualdade por assim dizer. Mas segundo António
Pinelo Tiza, “este acesso das mulheres e das crianças à função diabólica é uma inovação
recente, um sinal dos tempos que correm: “antigamente só se vestiam de diabo os rapazes;
as mulheres só há meia dúzia de anos para cá se começarem a vestir para não apanharem
porrada” ”(TIZA,2004,p.287).

Esta tradição evoluiu numa adaptação contínua aos tempos que vão passando e às mudanças
sociais da comunidade e a tradição genuína foi-se perdendo pois agora todas as pessoas se
podem vestir de Diabo, batem nas pessoas, apesar de agora devido mais uma vez às mudanças
sociais não se poder mesmo bater e só utilizar as chicoteadas como mero ato simbólico. Ao
contrário de antigamente, onde a maior façanha era conseguir entrar nas casas onde
houvessem raparigas, conseguir bater-lhes e levá-las à Pedra, agora há uma certa folclorização
da tradição, que passa só por sair à rua vestida de diabo e fingir que se bate nas pessoas.

Para além da celebração, da procissão dos Diabos e da Morte, a festa prossegue noite dentro
com animação mais contemporânea e tasquinha com gastronomia regional, que poderá ser
também saboreada nos restaurantes locais durante o fim de semana.

O Carnaval de Vinhais é uma iniciativa que tem vindo a crescer cada vez mais e é muito
proveitosa para o concelho de Vinhais, não só no aspeto cultural, mas também no aspeto
económico porque pessoas de todo o país tem vindo à festa.

Simbologias da Festa dos Diabos de Vinhais

A Quarta-feira de Cinzas em Vinhais e Bragança é o Dia da Morte e dos Diabos. Em Bragança,


duas figuras mascaradas carregadas de profundo simbolismo, a morte e o diabo, assumem o
protagonismo de todo o ritual deste dia: cometem tropelias, armam pancadaria e zaragatas,
entram nas casas na perseguição das moças. Função castigadora do corpo, no primeiro dia de
Quaresma, e profiláctica, de preparação da entrada na Primavera.
O primeiro símbolo da Festa dos Diabos, o Diabo, envergou e enverga um fato “em flanela
vermelha, com capuz com olhos e boca vazada, dois cornichos na testa, nariz e queixo bicudos:
aperta à frente por intermédio de molas, e, sob o queixo, com dois
atilhos”(PEREIRA,2006,p.168) e “munem-se com um cinturão de couro ou de uma corda
grossa com a qual descarregam vergastadas sob os que arriscam sair à rua nesse dia e
sobretudo às jovens solteiras”(TIZA,2004,p.286) e há registros de que também levaria às vezes
“um pau bifurcado na extremidade superior, em jeito de tricórnio”(TIZA,2004,p.298). O Diabo
representa o poder que tem sobre as pessoas, representa a morte, os pecados do ser o
humano, o castigo e a fraqueza das pessoas que o temem.

O segundo símbolo, a Morte, costumava e costuma vestir um tipo de “fato-macaco, em


algodão de sarja preta, com esqueleto humano, pintado a branco na parte
frontal”(PEREIRA,2006,p.168). “Ao ombro transporta a gadanha, esse tenebroso símbolo com
que ele ceifa a vida aos humanos”(TIZA,2004,p.286), que tem uma “lâmina de ferro
pontiaguda ligeiramente encurvada, com haste de encabamento em forma de cunha ajustada
à extremidade posterior do cabo por meio de dois anéis em ferro. O cabo, em madeira, tem
dois punhos transversais, um a meio e outro na extremidade anterior” (PEREIRA,2006,p.168).
A figura da Morte, ao longo dos tempos, passou de ser uma figura ligada à piedade e ao temor
do juízo final que participava na celebração litúrgica do dia de Cinzas, para passar a ser uma
figura mais carnavalesca, cuja função é causar folia e desordem.
Traje da figura da Morte. Fonte: TIZA, António(2004). Ritos e Mistérios Transmontanos. Lisboa:
Esquilo.

“As figuras da Morte e dos Diabos “podem ser olhados como reminiscências da licensiosidade
carnavalesca e da imbricação entre a vertente sexual, renovadora da vida, e a personificação
dos caretos como representantes dos antepassados mortos que carateriza as festas do ciclo
dos Doze Dias. Alguns autores (Oliveira 1984) relacionam-os com a representação simbólica,
de sentido religioso, dos cortejos e figurações litúrgicas medievais, ou ainda como
personificações do declíneo da Natureza do Inverno, prenunciando o renascimento de um
novo ciclo de vida, que será concretizado na Primavera, olhada como momento por excelência
da renovação da natureza e da ritualização do rejuvenescimento nas sociedades humanas
(Leal 1991)””(PEREIRA,2006,p.114) .

Estas figuras simbólicas também podem ser, segundo Sebastião de Pessanha de expressão
religiosa arrancadas aos cortejos e às representações litúrgicas medievais e alusivas às
solenidades próprias do dia em que ainda agora se apresentam em público.

Valências turísticas da festa


Abordando a questão do turismo, a vila de Vinhais tem um grande património natural, o
Parque Biológico de Vinhais que está inserido no Parque Natural de Montesinho, com diversos
trilhos para explorar a diversidade naturalística, e diversas atrações no património
arquitetónico e histórico, alguns já mencionados anteriormente isto é, as pessoas que não
pretendem ir só à festa e não conhecem a vila de Vinhais, podem aproveitar para visitar as
diversas oportunidades que a vila os reserva.

A festa dos Diabos para além da procissão tradicional, com tasquinhas montadas por toda a
festa dá a oportunidade aos visitantes de conhecer a gastronomia regional. Vinhais como é
considerada a Capital do Fumeiro, deve certamente dar a conhecer sobretudo as alheiras e o
fumeiro feito do porco da raça bísara, entre outras comidas como a feijoada transmontana e
o cuscos de Vinhais, que é uma massa artesanal de farinha de trigo.

O município de Vinhais introduziu uma novidade desde 2019 para trazer mais pessoas à festa
que é o Trail dos Diabos, que se dá logo pela manhã do dia 9 de Março, um trail composto de
“trilhos pelo Parque Natural de Montesinho, e diferentes propostas para quem gosta de correr
ou apenas caminhar”(LUSA,2019) .

Outra forma de inovar a Festa dos Diabos e trazer mais pessoas à festa foi o facto do município
de Vinhais ter começado a alugar fatos para as pessoas principalmente que vinham de fora,
como já foi explicado anteriormente no trabalho. Isto trouxe muitas pessoas novas à festa pois
antes quase sempre as mesmas pessoas da região é que se fantasiavam para ir na procissão
da Festa dos Diabos ou seja, principalmente as pessoas que vinham de fora só vinham para
visitar a festa e ver como era, mas agora com a disponibilidade de fatos chamou muitas mais
milhares de pessoas porque tiveram curiosidade de também vestir o fato de Diabo, integrar
na procissão e ter e experiência completa do Carnaval de Vinhais.

Para quem quer ficar alojado na vila de Vinhais para ir à festa, a vila de Vinhais é uma vila
pequena e não tem oportunidades de hotelaria, mas tem algumas oportunidades de
alojamento local. O mais procurado é no Parque Biológico de Vinhais, que oferece alojamento
no parque de campismo do parque com bungalows, com vista para uma piscina biológica ou,
na hospedaria do parque. Para além do Parque Biológico de Vinhais, tem outras opções de
alojamento local, que estão disponíveis no site do Município de Vinhais.

O município de Vinhais tem vindo a tentar ter iniciativas novas para chamar mais pessoas e de
certa forma têm conseguido pois registou-se ao longo dos anos um aumento de milhares de
participantes, incluindo muitas pessoas que vêm do litoral, do sul e até de Espanha. E o
indicador de que os diabos são uma atração é sobretudo, o alojamento local que fica esgotado
nesse fim de semana. O aumento do número de pessoas na Festa dos Diabos é muito bom
para o turismo de Vinhais.

Concluindo, o turismo deste evento gera riqueza para a cidade ou região, através da
arrecadação de impostos, criação de empregos diretos e indiretos e dinamização do sector
hoteleiro, que neste caso é substituído pela conceção de alojamento local, do comércio e da
gastronomia. Além disso, tem a vantagem da atividade poder ser planeada para um período
em que haja maior necessidade de um impulso externo, ajudando à atividade turística de
determinado local, que foi o caso desta festa, pois o município de Vinhais mudou a procissão
dos Mil Diabos para o sábado seguinte à quarta-feira de cinzas para que viessem mais pessoas.
CONCLUSÃO

Em suma, abordei neste trabalho a Festa dos Diabos de Vinhais, a festa que encerra o ciclo de
festas do Inverno do Nordeste Transmontano envolvendo o seu contexto geográfico, contexto
histórico, a festa na atualidade, as simbologias da festa e as valências turísticas e o que a vila
e concelho de Vinhais tenta fazer de iniciativas para trazer cada vez mais pessoas todos os
anos para a Festa dos Diabos.

Cumpri os objetivos de ficar a conhecer como funcionam as festividades cíclicas, grande parte
das festividades do Inverno do Nordeste Transmontano incluindo certamente a Festa dos
Diabos de Vinhais, e, sobretudo, ficar a saber que todas as festas que ocorrem em todas partes
do ano são importantes para demonstrar as raízes de certa região e a identidade cultural não
só da região mas do país.

Com o trabalho finalizado e fazendo uma retrospetiva de tudo, a oportunidade de poder


pesquisar livros onde para além de informação da festa abordada neste trabalho, me deparei
com outras tradições e festas portuguesas muito interessantes, Aprendi que muitas tradições
estão cair em desuso e deve-se preservar ao máximo as mesmas, mantendo do pé as festas,
tradições e costumes, pois constituem uma parte muito importante do património português
e um elemento da etnografia portuguesa.
BIBLIOGRAFIA

BRILHANTE, Ana(2010). Museu Ibérico da Máscara e do Traje- Inventário da Coleção


Museológica. Tese de Mestrado. Porto: Faculdade de Letras do Porto, pp.35-36. Disponível
em: https://repositorio-
aberto.up.pt/bitstream/10216/55678/2/TESEMESANABRILHANTE000126236.pdf

TIZA, António (2004). Inverno Mágico: Ritos e Mistérios Transmontanos. Lisboa: Ésquilo.

PEREIRA, BENJAMIM(2006). RITUAIS DE INVERNO COM MÁSCARAS. BRAGANÇA: MUSEU DO


ABADE DE BAÇAL.

LUSA (2019). Diabos lotam Vinhais no fecho das festas de inverno no Nordeste Transmontano.
Diário de Notícias. Disponível em: https://www.dn.pt/lusa/diabos-lotam-vinhais-no-fecho-
das-festas-de-inverno-no-nordeste-transmontano-10621995.html

WEBGRAFIA

Município de Vinhais. Disponível em: https://www.cm-vinhais.pt/pages/139

Jornal de Notícias(2018). Mil diabos saíram à rua em Vinhais. Disponível em:


https://www.jn.pt/local/galerias/mil-diabos-sairam-a-rua-em-vinhais-9126454.html.

Não existem origens no documento atual.


ANEXOS

Anexo 1

Diabos acompanhados pela Morte na terça-feira. Fonte: Municipio de Vinhais,2020.

Anexo 2

Espetáculos de fogo. Fonte: Jornal de Notícias,2018.


Anexo 3

Raparigas “aprisionadas” durante a procissão. Fonte: Jornal de Notícias,2018.

Anexo 4

Raparigas defendem-se com água e cinzas dos Diabos. Fonte: Jornal de Notícias,2018.
ESCOLA
SUPERIOR
DE EDUCAÇÃO
POLITÉCNICO
DO PORTO

L
Diabos de
Vinhais
André da
Silva Couto

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