Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
no concelho
de REGUENGOS
dE MONSARAZ
Inventário Artístico da Arquidiocese de Évor a
Toda a Arte é um mistério. Intuído umas vezes, declarado outras, ele está sempre à espreita – como bem-aventurado
artifício da inteligência e do engenho humanos -, para nos desassossegar o espírito antes que este se acomode e se
esqueça de voar.
O mistério da Arte é o ministério do artista. Agent provocateur, todas as suas obras são enigmas na essência: para si
próprio, incapaz de ignorar a pulsão criadora que transporta tudo o que toca para outra dimensão do visível (e do indi-
zível); para nós, quantas vezes navegadores sem bússola, temerários à descoberta do eu, do outro ou do transcendente,
recitando Aristóteles nos cantos recônditos do subconsciente, como um mantra: “Todos os homens têm, por natureza,
desejo de conhecer”.
Foi talvez esperançado na verdade deste axioma que Vasari deixou, num mural do Palazzo Vecchio, em Florença,
uma mensagem enigmática: Cerca Trova [procura e encontra]. Não estará feita a contabilidade exata das muitas gerações
de historiadores e investigadores que, desde o séc. XVI, procuraram desvendá-la na dupla perspetiva da identidade do
que ocultava - o fresco “perdido” de Leonardo Da Vinci A Batalha de Anghiari -, e da sua localização. Soube-se recente-
mente que Vasari “escondeu” a obra (por detrás da sua própria pintura), como se diz que fez noutros casos, preocupado
com a preservação de joias da arte renascentista que, em algum momento, considerou sob ameaça.
O poder diacrónico deste Cerca Trova do notável toscano não se dissipou com a solução do mistério e continua
obstinado no desafio de nos fazer pensar. Num exercício de imaginação verosímil, ocorre-nos que poderia ter sido
esse o nome de uma caravela que, nos tempos do fulgor marítimo português, rumasse a outras latitudes – na senda das
que antes partiram para desvendar ao Mundo a sua verdadeira dimensão (“e, se mais Mundo houvera, lá chegara…”) -,
trazendo no regresso tesouros que hoje integram o nosso património histórico-artístico, cultural e religioso, que urge
conhecer e preservar.
Tomem-se dois exemplares paradigmáticos datados do século XVIII, que chegaram à “Casa Lusitana (…), na Ásia
mais que todas soberana”: uma rara caixa de hóstias em cobre esmaltado, de origem chinesa, e um terço Indo-português
com contas de marfim lavrado. Estas preciosidades de arte e devoção são longínquos testemunhos da interpenetração
entre as culturas Cristã e Oriental resultante da ocupação político-militar, da missionação e das dinâmicas comerciais
implementadas ao longo de séculos e cujos ecos ainda perduram.
Na sequência do II Concílio do Vaticano, a Sagrada Congregação dos Ritos, atual Congregação para o Culto
Divino, em 1967, publicou um documento aprovado pelo papa Paulo VI, no qual se pode ler esta criteriosa e oportuna
admoestação: acautele-se a perda dos tesouros de arte sacra (EM,24). São palavras prudentes de plena atualidade. Ninguém
duvida que a arte sacra constitua um património imenso e precioso, distribuído pelas inúmeras igrejas edificadas ao
longo dos séculos. Como também não oferece qualquer dúvida que se tratam de tesouros perecíveis e, atualmente, muito
cobiçados. Porque perecíveis, requerem múltiplos cuidados. Porque cobiçados por gente sem escrúpulos, precisam de
proteção redobrada.
Porém, a Igreja, não olha para as peças de arte sacra, sejam elas imagens, alfaias litúrgicas ou outras, apenas como
tesouros preciosos ou como obras de arte, porque não foram encomendadas por meras razões de estética. Elas inspiram-
-se na fé, documentam a fé de um povo e preparam os crentes para acolher o mistério. Enquadram-se na esfera das artes
e também na esfera dos santos sinais. As obras de arte sacra ajudam o crente a abrir-se ao transcendente. De tal forma
que a veneração prestada às imagens é, em verdade, dirigida à pessoa por elas representadas. Ora, tendo em conta o
valor pastoral que a Igreja atribui à arte sacra, compreende-se melhor o significado da admoestação acima referida,
porque não se trata apenas de tesouros artísticos mas também de tesouros espirituais.
Ciente, por um lado, do valor e do significado da arte sacra e, por outro lado, da urgência da sua proteção, a
Arquidiocese de Évora, em colaboração com a Fundação Eugénio de Almeida, iniciou o processo de inventariação de
todas as peças de arte existentes nas 158 paróquias. É certo que se trata apenas de um primeiro passo, que representa
um imenso investimento de recursos humanos e meios económicos, mas um passo indispensável para que outros se lhe
possam seguir, como esperamos. Desta vez, foi concluída a inventariação no concelho de Reguengos de Monsaraz e o
presente volume, além do enquadramento histórico, apresenta-nos um conjunto de peças que foram estudadas e, desta
forma, dadas a conhecer aos estudiosos e ao público em geral. Espero que o resultado final seja do agrado de todos.
No espaço geográfico do atual concelho de Reguen- e de Santa Maria da Lagoa de Monsaraz (também sede
gos de Monsaraz encontramos, desde tempos remotos, paroquial). A estas paróquias, e ainda neste concelho,
claros testemunhos de misticismo e religiosidade, ex- se junta a paróquia do Sagrado Coração de Jesus, em
pressos tanto em património móvel e edificado como nas Campinho2 ; todas pertencem à vigararia de Reguengos
designadas paisagens sacralizadas que se expressam por de Monsaraz, que conta ainda com as paróquias dos
excelência no megalitismo existente. Dentro do patrimó- concelhos limítrofes de Portel e Mourão.
nio construído de vocabulário cristão, temos as igrejas A matriz de Reguengos de Monsaraz celebra este
matrizes, a que se juntam diversas capelas, ermidas e ano, 2012, cem anos de existência; de facto, apesar de
pequenos oratórios, testemunhando diferentes épocas a sua construção se ter iniciado em 1887, apenas em
tanto no estilo arquitetónico como nos elementos deco- 1912 foi inaugurada. Projeto da autoria do arquiteto
rativos, alojando ainda significativo património móvel. António José Dias da Silva, de acordo com a estética
O que hoje podemos desfrutar, em termos de património neogótica coeva, sucedeu à igreja de Santo António dos
edificado, guarda em si uma intensa marca de ruralidade, Reguengos, construção do século XVIII (1785) e come-
simbiose de diversas influências artísticas e culturais, çada a demolir c.1915. Esta igreja fora construída a partir
denunciadas, por exemplo, nos materiais que foram pre- da anterior ermida, já existente em 1680. Santo Antó-
feridos e nas técnicas de construção utilizadas. Acerca nio dos Reguengos existia como freguesia autónoma,
deste património, e no sentido de entender o seu percur- desmembrada da Caridade, desde 17523. Em junho de
so, procuraremos reconstruir a sua história e a memória 17584 o pároco José Valadares da Costa informava que
dos lugares privilegiando os testemunhos colhidos a esta freguesia, comarca de Vila Viçosa e termo de Mon-
partir do Livro da Visitação do Bispado de Évora de 1534 e saraz, pertencia à Casa de Bragança, contando com 291
das Memórias Paroquiais de 17581, com o objetivo último vizinhos e 856 residentes. Segundo o pároco, existiam
de enquadrar o património móvel referido no livro Arte nesta freguesia duas aldeias, Reguengo de Baixo (250
Sacra no Concelho de Reguengos de Monsaraz. Efetivamen- vizinhos), sede da paróquia, e Reguengo de Cima (41
te, percorrendo estes testemunhos, são citadas muitas vizinhos). O orago era Santo António dos Reguengos,
imagens e objetos de culto que foram escolhidos para igreja de uma só nave, e contava com quatro altares (de
ilustrar o presente trabalho, verificando-se também que Santo António, do Santíssimo Sacramento, de Nossa
muitos deles não se encontram no seu lugar de origem. Senhora do Carmo, e das Santas Almas). Estes altares
Sob o ponto de vista da organização e administração mantiveram-se na nova igreja de inícios do século XX, a
eclesiásticas da arquidiocese de Évora, o concelho de Re- que se acrescentaram os de Nª Sr.ª da Piedade, do Calvá-
guengos de Monsaraz conta com as matrizes da sede de rio e do Senhor Jesus dos Passos. Em 1758 eram três as
concelho (paróquia de Santo António), de S. Pedro do irmandades, a do Santíssimo Sacramento, a das Almas e
Corval (paróquia), de S. Marcos de Campo (paróquia) a do Rosário. Não existiam ermidas filiais da paróquia.
http://www.portugal1758.uevora.pt/
1. A. 28 x L. 15,5 cm
RG.PE.2.001 cer Foi, todavia, com Rafael Bordalo Pinheiro e a funda-
ção da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha em 1884
2. A. 27,5 x L. 18 x Pr. 13 cm (Colaço 2007) que a olaria caldense ganhou fama, pela
RG.PE.2.002 cer imaginação e inovação das formas, mesmo na recuperação
de utensílios antigos, na variedade e aproveitamento de
Igreja de Nossa Senhora do Rosário motivos decorativos, extraídos com profusão da fauna e
São Pedro do Corval
da flora, e na reprodução eficiente de modelos escultó-
Marcas: António Alves Cunha / Caldas da Rainha ricos. Com a morte do artista em 1905, a Fábrica falida
foi vendida em hasta pública. Apesar disso, vários foram
os seus discípulos e outros ceramistas que continuaram a
produção caldense, com obras de valor, por vezes imere-
cidamente esquecidas, tais como, Francisco Elias (1870-
c.1935), Avelino Soares Belo (1872-1927) e António Alves
Cunha (1856-1941). Este com oficina entre 1890-1925,
de quem apresentamos duas jarras, que exemplificam o
movimento revivalista, e naturalista, chamado “Palissy das
Caldas”, já antes iniciado por Manuel Cipriano Gomes, o
Mafra (1830-1905), em referência ao famoso ceramista de
quinhentos Bernard Palissy e que Bordalo Pinheiro levou
a nível superior. Tratou-se, como o descreve Rafael Salinas
Calado, da “criação de típicas peças relevadas representan-
do em trompe l’oeil frutos, animais, figuras e objetos – apro-
veitados como recipientes para os mais variados fins ou
como peças simplesmente decorativas – graças à bondade
dos barros e à expressiva policromia dos vidrados tradicio-
nais” (Calado 1991).
As duas jarras que apresentamos têm sido utilizadas
na decoração de altares e, tal como a cerâmica antiga em
geral, são raras no acervo da arquidiocese. Alguns exem-
plares, não marcados, em Évora (EV.AN.4.002/1 cer) e
Estremoz (ES.SM.1.002 cer), são típicos da produção das
Caldas.
A antiguidade da olaria das Caldas da Rainha é ates- 1. Jarra em forma de tronco de sobreiro, bifurcado na
tada pela tradição que a faz remontar ao final do século parte superior com duas bocas correspondentes. Decora-
XV com a produção de loiça corrente para acudir às ne- ção relevada com elementos vegetalistas, pássaro e ninho
cessidades do Hospital Termal. A esses primeiros tempos, com três crias, ameaçadas por uma cobra que se enrosca
atribuem-se peças utilitárias e decorativas, com vidrados pelo bojo. Base circular demarcada e vidrado policromo.
esmeralda ou cor de mel, de que é exemplo, provavelmente 2. Jarra em balaústre de bojo largo, gargalo estreito e
do século XVI, um Perfumador de barro vermelho vidrado boca em leque. Sobre fundo empedrado, decoração aplica-
a verde, do Museu de Évora, proveniente de um dos con- da de dois putti, a servir de pegas, e a ladear um ramo de
ventos femininos da cidade. rosas e gerberas. Vidrado policromo. AGMB
Igreja de Nossa Senhora da Lagoa O retábulo em talha dourada é de planta plana, com um
Monsaraz alto embasamento, dois corpos, três tramos e ático. O banco
ocupa um terço do retábulo, em dois níveis. O inferior com
decoração emoldurada corrida, em correspondência aos
tramos. O superior com dois pares de pedestais e mísulas,
tendo os espaços intermédios laterais ocupados, atualmen-
te, por duas imagens – Santo Agostinho e Santa Mónica
- provenientes do antigo convento da Orada. O espaço in-
termédio central, mais baixo, é preenchido com uma tela de
Apostolado. No corpo central, delimitam os tramos quatro
colunas de fuste liso com caneluras e brutescos no terço in-
ferior. Em cada tramo lateral, duas telas com representações
de santos. Ainda no tramo central, ocupando o primeiro
corpo e parte do banco, abre-se em arco de volta perfeita a
Casa da Tribuna, com um trono hoje muito remodelado e
ocupado pela imagem de Nossa Senhora da Lagoa. O se-
gundo corpo, muito baixo, tem os tramos preenchidos por
três telas, a do meio correspondente em tamanho e tema à
do banco. Ático rebaixado, com um medalhão ao centro em
que está representado o Espírito Santo, encimado por cruz
latina. Nas extremidades laterais, dois pináculos.
O programa iconográfico dá importância às duas telas
do tramo central que representam, em bustos, os Apósto-
los, todos eles acompanhados do respetivo nome, com ex-
ceção de São Pedro e São Paulo, reconhecidos pelos atri-
Em 1560, por encomenda do 5.º Duque de Bragança, butos, as chaves e a espada: na superior, os santos Simão,
D. Teodósio, começava a construção da atual igreja de Tomé, João, Tiago Maior, Tiago Menor e Judas Tadeu; na
Nossa Senhora da Lagoa, de Monsaraz, segundo risco do inferior: Paulo, Bartolomeu, Filipe, André, Matias, Mateus
mestre-de-obras do Cardeal Infante D. Henrique, arquite- e Pedro. Todas as outras telas mostram individualmente
to Manuel Pires, e execução do pedreiro eborense Mateus uma série de santos de especial devoção na comunidade.
Neto, para esse efeito contratado (Serrão 2006). Era as- Assim, no corpo superior e nos tramos laterais: São Bento
sim substituída a primitiva igreja gótica, julgada incapaz, e São Brás. No primeiro corpo, na lateral do evangelho:
talvez pelo seu diminuto tamanho e estado de ruína, pela São Lourenço e São João Batista. Na da epístola, Santo
Casa de Bragança, a quem pertencia como comenda. Agostinho (?) e São Jerónimo.
Do retábulo-mor desconhece-se a data exata de cons- Segundo Vitor Serrão, Francisco Nunes Varela (1621-
trução, mas sabe-se, por um documento de 1659, que o 1699), o mais importante pintor eborense da segunda
Cabido de Évora autorizou que se contratasse para o dou- metade do século XVI, terá pintado estas telas cerca de
ramento, pela quantia de 375 mil reis, o mestre eborense 1654, revelando grande mestria no desenho e na cor que
Manuel Fernandes (Espanca 1978), avô do pintor Fran- as aproxima das que pintou em 1660 para a Matriz do
cisco Nunes Varela, a quem são atribuídas as telas que Alandroal e em que denota a influência do que então se
integram o corpo retabular (Serrão 1998). fazia em Madrid e Sevilha (Serrão 1998). AGMB
Inscrições
HIC EST FILIVS.MEVS.DILECTVS MAT. XVII
ECCE AGNUS DEI QUI TOLLIT Pintura a óleo sobre tela, de grandes dimensões, que
se pode admirar na capela batismal da igreja matriz de
Monsaraz, e que representa o Baptismo de Cristo, figura-
ção iconográfica costumeira na decoração daquele tipo de
espaço. Segundo Túlio Espanca é “trabalho anónimo, de
alvores do século XVIII” (Espanca 1978, p. 367), se bem
que, pelas suas características, poderá ter sido uma enco-
menda de finais do século XVII.
No eixo da composição encontra-se a figura de Cristo,
de pé no meio do rio Jordão inclinado, humildemente,
perante São João, que se encontra na margem, do lado di-
reito, e que deita água sobre a cabeça de Cristo com uma
concha. Na margem oposta, dois anjos, com vestes esvo-
açantes e ricamente lavradas, seguram as vestes de Cristo.
No registo superior surge a figura de Deus Pai, ro-
deado de querubins, acompanhado pelo Espírito Santo,
representado pela pomba. Da figura divina emana uma
filactera com uma inscrição bíblica, o que segundo Emile
Mâle, “daba a este mistério su más alta significación es
que en este mismo momento se escuchaba la palavra del
Padre: «Éste es mi hijo amado».” (Mâle 2001, p. 244)
O fundo da pintura é formado por uma paisagem ao
longo da qual o rio vai serpenteando, observando-se de
ambos os lados arvoredo que enquadra a cena principal.
Na parte inferior, pequenas ervas ladeiam as margens do
rio assim como várias representações de conchas, bastante
realistas por sinal, com óbvio significado cristológico.
Em termos técnicos, destaca-se o desenho cuidado de
contornos bem definidos das figuras principais, apesar de
algumas dificuldades de execução. O ignoto pintor ebo-
rense (?) terá ido buscar inspiração para esta composição a
gravuras um pouco anteriores, de Philipe Galle e Agosti-
no Carracci (Sobral 2004, pp. 145-146).
A moldura em madeira, coeva da pintura, está pintada
de vermelho, com decoração vegetalista e geométrica. JM
1
Inventário dos Bens Móveis da Igreja Paroquial de São João Baptista, 1905, mç. 1905
Museu de Arte Sacra Grupo dos Amigos de Monsaraz, criado em 1964, associa-
Monsaraz ção “que se identificava com as profundas transformações
[no património edificado] que nos anos sessenta se verifica-
ram em Monsaraz, e que tinha também como um dos seus
principais e privilegiados membros o maior proprietário da
vila, António Bustorff Silva, influente advogado de Lisboa”
(Amendoeira 2009, p. 66).
Segundo Túlio Espanca, a casa habitada pelo Dr. An-
tónio Bustorff Silva em Monsaraz era “ricamente mobilada
com trasteio clássico das antigas artes industriais decorati-
vas” (Espanca 1978, p. 401), coleção eclética de onde pro-
veio esta delicada peça.
O hostiário tem a peculiaridade de aparentar constituir
uma encomenda da Companhia de Jesus pois na tampa os-
tenta, dentro de um círculo, o emblema dos jesuítas – IHS
– todavia sem a habitual representação dos três cravos. Este
facto permite delimitar no tempo o seu fabrico uma vez que
a Companhia de Jesus foi extinta em Portugal em 1759 e
em todo o Mundo em 1773.
A espelhar bem o cruzamento das influências do Cris-
tianismo com as tradições decorativas chinesas observa-se
na peça um ramo de videira com um cacho de uvas e al-
gumas espigas (dois símbolos por excelência da liturgia) a
ladear o trigrama sacro referido anteriormente, enquanto
numa das tabelas inferiores tem o que aparenta ser um ramo
de cerejeira em flor, com botões vermelhos, rosa e amarelos,
típicos da simbologia oriental e referentes à efemeridade e
renovação da vida.
De assinalar que subsistem hostiários com a mesma for-
Rara caixa de hóstias, em metal esmaltado (cloisonné), ma e alguns elementos decorativos, provenientes do Japão,
que aparenta ser de produção chinesa, mais concretamente se bem que executados no estilo e técnica namban, também
do reinado do Imperador Qianlong 1736-1796. estes de encomenda jesuítica (Impey 2001, p.112 – ill. 6),
Está acompanhada por um documento resultante de pe- mas de um período mais recuado (1543-1639).
dido de avaliação ou compra na casa leiloeira Leiria & Nas- Este singular exemplar de arte lusíada evidencia um vis-
cimento, onde é brevemente descrita: “Hostiário de cobre lumbre da miscigenação cultural, artística e religiosa entre a
esmaltado, decorado de motivos espiralados e três motivos Europa e a Ásia, mais valorizado pela sua raridade pois no
florais policromados sobre fundo azul. (…) Interessante tra- contexto do património sacro nacional não se conhecem
balho oriental do século XVIII.” Na mesma folha, em nota exemplares comparáveis em qualquer coleção dos museus
manuscrita, datada de 1965, é acrescentado que a caixa foi nacionais ou acervos eclesiásticos. JM
“Oferecida pelo Ex.mo Senhor Dr. António Bustorff Silva à *Um especial agradecimento ao Dr. Miguel Cabral Moncada (Cabral Moncada Leilões)
Igreja de Monsaraz”. Foi o doador um dos fundadores do pelas informações prestadas.
2 - Roma, Itália – Século XVIII desde a Idade Média e que ainda hoje se manifesta. No re-
Metal moldado e dourado verso, Crucificação de Cristo com a Virgem Maria e Maria
A. 5 cm x L. 4 cm Madalena a seus pés, enquanto a inscrição anexa é uma ma-
RG.MA.2.002 med nifestação de confiança: A Paixão de Cristo conforta-me!
2. Medalha de configuração oval que exibe, tanto no
3 - Itália (?) – Século XVIII anverso como no reverso, as insígnias da Paixão. A cruz,
Metal moldado e dourado
símbolo máximo do martírio de Jesus, ladeada pela lança
A. 3,5 cm x L. 2,5cm
RG.MA.2.003 med
e pela esponja de vinagre; o martelo correspondendo ao
momento em que Cristo é crucificado e, associados ao
Museu de Arte Sacra descimento da Cruz, a escada e a tenaz. Ligados à flage-
Monsaraz lação: os azorragues, a corda, a coluna à qual Jesus estava
manietado e a coroa de espinhos. Ainda de referir, o pano
Inscrições: da Verónica aludindo ao lendário episódio de enxugar o
S[ancta]. BARB[ara]. (anverso) rosto de Jesus, e a presença do galo, não só como sinal
PASSIO CHRISTI CONFORTA ME (Exergo:) ROMA (reverso)
da negação de Pedro mas também como sinal de Ressur-
SAN[ctus]. DEVS. SAN[ctus]. FORT[is]. SAN[ctus]. IMMORT[alis]. reição (Réau 2000,p.112); os dados, a túnica e a bolsa
MIS[erere]. NOB[is]. (Exergo:) ROMA (anverso) de moedas, figuram o martírio psicológico e a traição de
PAS[sio]. C[h]RI[sti]. SAL[va]. NOS (reverso) Judas (Vicente 2008, p.198).
A inscrição no anverso com o Trisagion (Três vezes
S.IO[hannes]. FR[anciscus]. REG[is]. S[ocietas].I[esu] (anverso) Santo) é uma oração antiquíssima, de grande utilização na
S.IGN[atius].D[e]. L[oyola] / S. FR[anciscus]. X[averius] (reverso) Igreja Ortodoxa oriental. Na Católica, tem especial relevo
na celebração da Paixão, ao ser cantada na 6.ª Feira Santa
durante a Adoração da Cruz.
3. Medalha de forma oval que reflete a importância do
movimento jesuíta no seio da Igreja Católica. O campo
do anverso é centrado pela figura de São João Francisco
Régis, jesuíta francês (1597-1640), incansável missionário
As medalhas são objeto de devoção popular e sobre- e pregador, de grande ação caritativa e assistencial aos
tudo pessoal de quem as usa, alimentam a espiritualidade doentes durante duas epidemias de peste. Foi canonizado
e demonstram a fé no poder divino e na intercessão dos por Clemente XII em 1737. Esta medalha deve ter sido
santos, junto de Deus. Assim o demonstram as três peças cunhada logo após a sua canonização, para difusão e in-
em análise e outras mais que se guardam no Museu de cremento da devoção ao novo santo. No reverso, Santo
Arte Sacra de Monsaraz. Inácio de Loyola o fundador dos jesuítas, e São Francisco
1. Medalha de formato octogonal com o anverso cen- Xavier, seu companheiro e grande missionário do Oriente,
trado por efígie de Santa Bárbara aureolada, figurada com que João Francisco sempre sonhou imitar na evangeliza-
uma palma na mão direita representativa do martírio, ao ção dos pagãos.
lado de uma torre aludindo ao local onde esteve enclausu- Embora não seja conhecida, entre nós, a popularização
rada e a seus pés o pai, com a cabeça da mártir nas mãos da devoção a este santo jesuíta, as numerosas Casas da
(Réau 2000, p.173). Padroeira dos Artilheiros e protetora Companhia de Jesus em Portugal e na arquidiocese não
contra trovoadas e tempestades, o culto a Santa Bárbara deixariam de prestar a devida veneração a tão ilustre dos
é um dos mais populares no mundo católico, conhecido seus membros. ISP
Igreja de Nossa Senhora da Lagoa comunidades, estão consignadas matérias de direito penal
Monsaraz e de direito fiscal (Santos; Vargas 2000 pp. 75-87).
A reforma manuelina dos forais, que teve início na
centúria de Quinhentos, inserida no projecto nacional de
centralização do poder encetada no reinado de D. João II,
constituiu uma reorganização do sistema fiscal e a uni-
formização de uma ordem jurídica. Deveu-se a evolução
e alterações da vida social nas populações; a linguagem
obsoleta e incompreensível utilizada nos documentos; ao
frequente desrespeito e persistente abuso dos outorgantes
em relação às disposições incluídas nos forais e a carência
da elaboração actualizada dos encargos e isenções dos
concelhos e dos vassalos. Estes condicionalismos que inci-
tavam, já no século XIV, a uma crescente contestação dos
representantes do povo culminariam com a reforma de D.
Manuel I. (Silva 1989, pp. 223-237).
A presente carta de foral da vila de Monsaraz está no
museu de Arte Sacra, à guarda da Paróquia de Nossa Se-
nhora da Lagoa. O códice, original, manuscrito, ilumina-
do, foi concedido pelo Rei D. Manuel, em Lisboa, a 1 de
Junho de 1512. É constituído por 16 fólios de pergami-
nhos; está escrito em letra «gótica libraria», característica
da Leitura Nova, e gótica cursiva de tendência processada.
O texto do foral exibe foliação romana, ao centro da mar-
gem de cabeceira, precedida de caldeirão azul. As letras
iniciais e as rubricas, precedidas estas também de caldei-
rão, são decoradas a vermelho e azul.
O aparecimento das cartas de foral – diplomas de pri- O frontispício apresenta uma iluminura com as armas
vilégios concedidos por reis ou senhores (laico ou eclesi- reais de D. Manuel, ladeadas por duas esferas armilares
ásticos) – remonta aos inícios do Condado Portucalense com data de 1512 no zodíaco, numa cercadura que de-
(Reis 1996, pp. 56-57). Entre as múltiplas causas da sua marca, ao centro, uma cartela com a legenda «DOM MA-
origem, segundo Alexandre Herculano, está a necessidade NUEL»; na base, tem inicio o texto do foral com larga
de desenvolver e organizar as povoações que, destruídas moldura, composta por rosas abertas e em botão, sobre
e abandonadas pela conquista, precisavam de gentes para fundo azul e castanho.
lhes dar dinamismo e progresso; a necessidade política de Apresenta encadernação manuelina, original, com pla-
apoio do povo ao rei contra as pretensões da nobreza e do nos de madeira revestida de carneira, decorada em dupla
clero; a urgência de dar às povoações conquistadas uma esquadria e duplo losango central gravados a seco e pro-
organização e de regulamentar o lançamento dos tributos tegida por brochos de latão: quatro aos cantos represen-
e fixação de disposições criminais (Moniz, 1994 pp. 43- tando esferas armilares, e outro, umbilico, com escudo de
44). Nesses documentos, que regiam a vida concelhia das Portugal encimado por coroa real aberta. DN
All Art is a mystery. Sometimes merely sensed, other times declared, it is always lurking in the background – like
a blessed artifice of intelligence and human ingenuity –, to disquiet the spirit before it becomes tame and forgets how
to fly.
The mystery of Art is the ministry of the artist. Agent provocateur, all the artist’s works are enigmas in essence: for
the artist, incapable of ignoring the creative drive that transports everything he touches into another dimension of the
visible (and of the unsayable); for us, so often navigators without compass, stubbornly searching for the ego, for the
other or for the transcendental, reciting Aristotle in hidden corners of the subconscious, like a mantra: “All men have,
by nature, the desire to know”.
It was perhaps hoping for this axiom to be true that Vasari left, on a mural in the Palazzo Vecchio, in Florence,
an enigmatic message: Cerca Trova [seek and you shall find]. No calculation has been made of exactly how many
generations of historians and researchers, since the 16th century, have sought to solve this enigma from the double
perspective of the identity of what it hides – Leonardo da Vinci’s “lost” fresco The Battle of Anghiari –, and of its
location. It was recently discovered that Vasari “hid” the work (behind his own painting), as it is said he did in other
cases, concerned with preserving jewels of Renaissance art that he believed to be under an ever-present threat.
The diachronic power of this Cerca Trova of the notable Tuscan was not dispelled with the solution of the mystery
and still obstinately challenges us to think. In a plausible exercise of imagination, it has occurred to us that this could
have been the name of a caravel that, at the times of the Portuguese brilliance on the seas, sailed to other latitudes – on
the path of those who had set sail before to reveal to the World its true dimension (“and, if there were more worlds,
there they would go…”) –, bringing on their return treasures that are now part of our historical, artistic, cultural and
religious heritage, which we must understand and preserve.
Let us take paradigmatic examples from the 18th century, which reached the “little House of Portugal (…), in
Asia more than sovereign”: a rare host box in enamelled copper, of Chinese origin, and an Indo-Portuguese rosary
with carved ivory beads. These treasures of art and devotion are distant testimonies of the interpenetration between
In 1967, following the Second Vatican Council, the Sacred Congregation of Rites, now the Congregation for
Divine Worship, published a document approved by Pope Paul VI in which included this careful and opportune
instruction: care will be taken not to destroy treasures of sacred art (EM, 24). These are prudent words that are still pertinent.
Nobody doubts that sacred art is an immense and valuable heritage, distributed among numerous churches built over
the centuries. But also nobody has any doubt that its treasures are perishable and currently highly coveted. As they are
perishable, they need considerable care. As they are coveted by with unscrupulous, they need redoubled protection.
However, the Church does not consider pieces of sacred art, whether figures, liturgical objects or other objects,
only as precious treasures or works of art, because they were not made for merely aesthetic reasons. They are inspired
by faith, they document the faith of a nation and they prepare believers to embrace the mystery. They are part of
the sphere of arts and also of the sphere of holy signs. Works of sacred art help believers to open themselves to the
transcendental. Which means that veneration of statues is, in truth, addressed to the person they represent. Bearing in
mind the pastoral value that the Church attributes to sacred art, it is easier to understand the meaning of the instruction
referred to above, because they are not only artistic treasures but also spiritual treasures.
Aware, on the one hand, of the value and meaning of sacred art and, on the other hand, of the urgent need for its
protection, the Archdiocese of Évora, in collaboration with the Eugénio de Almeida Foundation, began the process of
inventorying all the pieces of art existing in its 158 parishes. It is true that this is only a first step, although it represents
a huge investment of both human and financial resources, but it is an essential pitch for others to follow, as we hope
they will. This time, the inventory concluded is that of the municipality of Reguengos de Monsaraz and, besides a
historical background, this volume presents a number of pieces that have been studied and thus presented to scholars
and to the general public. I hope that the result will be appreciated by all.
Marks: FMA-P-12 – silver hallmark, by an unidentified judge, to mark the pieces of the The censer was originally a “fire pot” (clay or metal pot) with em-
municipal assayer José Coelho de Sampaio, during the period 1784-1810 (mark already bers, to light the candles used to open the procession of the Roman
used from 1768 to 1784); FMA-P-221 – Mark of a Porto goldsmith, attributed to José emperor. Around the 4th century, the Popes adopted this custom of
Coelho de Sampaio (Sousa 2004, p. 471) (Almeida 1995, p. 228).
using incense and the thurible appeared not only in Papal processions
and processions of the Holy Gospels, but also around the altar (Coelho
Chalice with a lobed foot, with regularly spaced stylised acanthus
1927, p. 250). While initially used to avert the bad odours encountered
leaves, the upper part drawn up into a truncated cone, divided into four
in churches due to the agglomeration of the faithful, over the years in-
trapezium-shaped reserves, framed by elongated scrolls with scalloping
cense was transformed into a symbol of adoration and worship of God.
and floral motifs. Denticulated ring linking the foot and the baluster
Incense should envelop the holy atmosphere of prayer which, like a
stem with an inverted pear-shaped knop. The knop is decorated with
perfumed cloud, rises up to the Lord, “Let my prayer be set forth before
delicate garlands. The bell-shaped bowl is gilded, with a scalloped and
thee as incense; and the lifting up of my hands as the evening sacrifice”
pierced calyx, comprising four circular cartouches of symbols of the
(Psalm 141). The swinging of the thurible to form a cross evokes the
Passion of Christ - three nails, column and rope, a spear crossed with a
death of Christ, while forming a circle reveals the intention to envelop
cane and the sponge and cross. The cartouches are separated by swags
the Sacred Gifts and consecrate them to the Divine.
of naturalistic motifs.
It is essentially a metal bowl-shaped receptacle, in which grains
On the foot are two marks from Porto, with the maker’s mark at-
of incense are burned on a small censer. It is closed with a lid that is
tributed to José Coelho de Sampaio1 (Sousa 2004, p. 429; p. 471). This
normally worked and pierced, so that air can circulate and to ensure
chalice, dating probably from the 1780s or 1790s, is from a city with
combustion, while allowing the perfumed smoke to escape (Soalheiro
extensive business in the field of silverwork, among its notable crafts-
2000, p. 204).
men were João and José Coelho Sampaio (father and son), both makers
This silver thurible, without a base, consists of a rounded, hemi-
and municipal silver assayer.
spherical fire pot, decorated with a row of incised acanthus leaves, in-
An object of restrained and pure style, with decoration typical of
terspersed with trefoils. On the upper part are three rings, securing the
the period, it appears to have been a donation, alongside other pieces
chains, soldered onto S-scrolls. The cover in the form of a hemispheri-
of sacred silverwork, from the founders and patrons of this Church of
cal dome has a rim decorated with a band of raised rings, separated by
São Pedro, built between 1799 and 1810 (Espanca 1978, p. 407).
minute punched vertical segments. The upper part is decorated with
Although examples of this type of chalice are frequent in the Arch-
small squares with four-petalled flowers with pierced corolla. It is sur-
diocese of Évora, for example in Évora Cathedral (EV.SE.1.231 our)
mounted by a lantern adorned by ovals, with acanthus-leaf motifs and
and in Borba (BO.BA.1,045/1 our), so far only one other chalice with
a suspension ring on the top. The guard is circular, raised on two steps
the same maker’s mark is known, now in the Museu de Arte Sacra in
and plain, with a central orifice. The links that form the chains are
Elvas (EL.SA.1.027 our). This is very similar, particularly its calyx. JM
plain, from a later date.
1
Information kindly furnished by Gonçalo de Vasconcelos e Sousa. In terms of both technique and appearance, the Inventory of the
Archdiocese of Évora has recorded various vessels similar to this thuri-
ble. These include two censers, one in the church of Nossa Senhora
das Neves in Borba (BO.SN.1.006 our) and another in the Seminário
Maior in Évora (EV.SE.4.011 our). ISP
ALTAR CROSS
ST MONICA
(Page 56)
(Page 54) Holy Land – 17th/18th century
Portugal – 18th century Olive wood with mother-of-pearl inlay and incised decoration highlighted in black, ivory
Sculpture in gilded polychrome wood, with estofado decoration, punched H. 36.5 x W. 16 x D. 6 cm
H. 170 x W. 78 x D. 50 cm (approximate measurements) RG.AL.2.001 odv
RG.MA.1.006 esc Museu de Arte Sacra, Monsaraz
Church of Nossa Senhora da Lagoa, Monsaraz
Objects from the Holy Land generally have with specific charac-
A secondary figure in the iconography of St Augustine, at least teristics that reflect, on the one hand, the use of materials typical of
until the mid-15th century, the autonomy of the figure of St Monica these regions, such as olive wood and mother-of-pearl, and, on the
resulted from the discovery in 1430 of her tomb in Ostia, where she other hand, the tension between Muslims and Christians for “posses-
had died in 387. According to Ian Holgate (2007, p. 164), the mor- sion” of the Holy Sites. For this reason, they tend to reflect the privi-
tal remains of the patriarch’s mother were ceremonially translated to leged position of the Franciscans, founders of the mission of Custody of
Rome, and her feast day was included in the Augustinian calendar in the Holy Land and for centuries the only order tolerated “to the exclusion
the late 15th century. Undoubtedly the abundant tears, prayers, and of all other Westerners”, as well as its direct intervention in the produc-
total dedication demonstrated in the conversion of her son that char- tion of these objects that “satisfied the devotion of pilgrims and at the
acterised the life of St Monica were what led her to be venerated as same time gave work to Christian craftsmen” (C.E.P. 1994, p. 81 and
the patron saint of Christian mothers, together with St Anne. In Book 86). These assumptions are represented in this altar cross, currently
IX of the Confessions, a passage appears to summarise her attitude to displayed in the Museu de Arte Sacra in Monsaraz, particularly in the
life. Some days before dying she declared that: “One thing there was decoration of the foot dominated by the Franciscan emblem, framed by
for which I desired to linger for a while in this life: that I might see a halo with alternating plain and wavy rays, interspersed with quatre-
thee a Catholic Christian before I died. My God hath done this for me foils, and the emblem of the Holy Land, in a circular reserve with the
more abundantly, that I should now see thee withal, despising earthly five crosses.
happiness, become His servant. what do I here?1”. Artistic and devotional sumptuosity, although not found in sub-
This figure of St Monica comes from the church of the Convent stantial quantities, is reflected in the Archdiocese of Évora by a series
of Orada, together with a figure of St Augustine (previous record). of altar cards and crosses1, both in their mother-of-pearl decoration,
(Page 58)
China – 18th century
Enamelled copper (cloisonné) RELIQUARY-CASKET
H. 6.5 cm x Diam. 9.5 cm
RG.MA.2.005 equ (Page 60)
Museu de Arte Sacra, Monsaraz India (Gujarat) – second half of the 16th century
Wood (teak?) veneered with mother-of-pearl, gilt metal, coloured glass
H. 12.8 x W. 16.5 cm (base) x D. 13.1 cm
Rare host box, in enamelled metal (cloisonné) that appears to be of
RG.MA.2.009 equ
Chinese production, specifically from the reign of Emperor Qianlong Museu de Arte Sacra, Monsaraz
- 1736-1796.
It is accompanied by a document replying to a request for a valu- Notable among the many objects from different eras and origins to
ation or purchase sent to the auction house Leiria & Nascimento, in be found in the collection of the Museu de Arte Sacra in Monsaraz are
which it is briefly described: “Wafer case of enamelled copper, deco- two reliquary caskets of oriental origin – one covered with tortoiseshell
rated with spiral motifs and three polychrome floral motifs on a blue plaques and the other with mother-of-pearl. Despite their relatively poor
ground. (…) Interesting oriental work from the 18th century.” On the condition, they are objects that can be considered rare in the context of
same page, a handwritten note dated 1965 adds that the box was “Do- the artistic heritage inventoried so far in the Archdiocese of Évora.
nated by Dr. António Bustorff Silva to the Church of Monsaraz”. The The casket in question, of rectangular form, comprises a structure
donator was one of the founders of the Group of Friends of Monsaraz, in wood (teak?) covered by small scale-shaped plaques of mother-of-
set up in 1964, an association “that identified with the profound trans- pearl, attached with small, rounded-head nails. On the top, base and
formations [in the built heritage] that took place in the nineteen-sixties corners is a strip of yellow metal with coloured-stone cabochons, most
in Monsaraz, and also had as one of its main and most important mem- of which are missing. The lock, which would probably have been in
bers the main landlord in the town, António Bustorff Silva, an influen- the same metal, is also missing. The lid is flat, with a suppedaneum
tial lawyer from Lisbon” (Amendoeira 2009, p. 66). on the lower level. The inside is painted red and still contains small
According to Túlio Espanca, the house inhabited by Dr. António cushion, from a much later date. Mention can also be made of another
Bustorff Silva in Monsaraz was “richly furnished with classical furni- casket in a similar shape, but made using a different technique, with
ture of the old decorative manufacturing arts” (Espanca 1978, p. 401), lacquer and mother-of-pearl inlay, from the Fernando Távora collec-
an eclectic collection that included this delicate box. tion (Felgueiras 1996, p. 143). Unlike other caskets, it has no applica-
The particularity of this wafer case is that it appears to be a com- tion in silver (e.g. side strips, lock) as was usual, although the yellow
mission by the Society of Jesus, since on its lid, within a circle, is the metalwork and gemstones at the ends could have been a later “repair”
emblem of the Jesuits – IHS – although without the usual depiction of following the loss of the original fittings in a more precious metal.
three nails. This fact enables us to narrow its period of manufacture
RG.MA.2.018 our
Museu de Arte Sacra, Monsaraz
MEDALS
Marks: FMA-E-6 – silver hallmark of the assayer from Évora Francisco Xavier
Calado, registered in 1769 and used at least until 1776; FMA-E-36 – mark of the (Page 64)
goldsmith from Évora Pedro Ferreira Lobo, from the second half of the 18th century 1- Rome, Italy – 18th century
(Almeida 1995, p. 45 and p. 50). Moulded gilt metal
H. 5.3 cm x W. 3.7 cm
Box for the Eucharistic reserve, in silver, included since its founda- RG.MA.2.001 med
tion in 1948 in the collection of the Museu de Arte Sacra in Monsaraz,
together with another very similar box (RG.MA.2.020 our), both of 2 - Rome, Italy – 18th century
unknown origin, probably from the parish or even from the nearby Moulded gilt metal
convent of Orada. Before its deposit in the museum, this box used was H. 5 cm x W. 4 cm
to store the holy particles. RG.MA.2.002 med
The box in question is set on four naturalistic feet on a hemispheri-
3- Italy (?) – 18th century
cal support and is oval in shape. The front and back are decorated with
Moulded gilt metal
cartouches of volutes that surround floral motifs and garlands, the side H. 3.5 cm x W. 2.5 cm
cartouches being similar, with plain reserves. RG.MA.2.003 med
The lid, which has hinges on one side, is decorated with row of Museu de Arte Sacra, Monsaraz
acanthus leaves on the lower level and on the four sides it has cartouch-
es also with volutes but smaller in size, plain centred, and surrounded
by naturalistic details.