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2001)Católico
Porque... 29 de julho de 2012 Carta Circular A Função Pastoral dos Museus
Eclesiásticos (15.08.2001)2012-07-29T16:01:31-03:00Cúria Romana No Comment
Depois de ter tratado das bibliotecas e dos arquivos,(1) e de ter insistido sobre a
necessidade e a urgência do inventário e da catalogação do património histórico-
artístico (móvel e imóvel)(2), a Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja
dirige agora a sua atenção para os museus eclesiásticos, a fim de conservar
materialmente, tutelar sob o ponto de vista jurídico e valorizar pastoralmente o
importante património histórico-artístico que já não se usa de forma habitual.
Com este novo documento, a Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja
pretende oferecer um ulterior contributo para reforçar a acção da Igreja através dos bens
culturais, em ordem a favorecer um renovado humanismo à luz da nova evangelização.
De facto, a Pontifícia Comissão tem como encargo principal trabalhar para que o povo
de Deus, e sobretudo os agentes (leigos e clérigos), valorizem no âmbito pastoral o
enorme património histórico-artístico da Igreja.
Neste sentido, também um museu eclesiástico, com tudo o que contém, está
intimamente unido à vivência eclesial, visto que documenta de modo visível o percurso
da Igreja ao longo dos séculos no que diz respeito ao culto, à catequese, à cultura e à
caridade. O museu eclesiástico é, por conseguinte, um lugar que documenta o
desenvolvimento da vida cultural e religiosa, para além do génio do homem, com o fim
de garantir o presente. Consequentemente, não se pode compreender em sentido
“absoluto”, isto é, separado do conjunto das actividades pastorais, mas sim enquadrado
e em relação com a totalidade da vida eclesial e com referência ao património histórico-
artístico de cada nação e cultura. O museu eclesiástico deve estar necessariamente
inserido nas actividades pastorais, com o intuito de expressar a vida eclesial através de
uma aproximação global ao património histórico-artístico.
Na mens cristã, os museus eclesiásticos entram com pleno direito nas estruturas
ordenadas para a valorização dos bens culturais, “postos ao serviço da missão da
Igreja”,(5) pelo que devem ser organizados de modo a poderem comunicar o sagrado, o
belo, o antigo e o novo. São, por este motivo, uma parte integrante da expressão cultural
e da acção pastoral da Igreja.
Por esta razão, é necessário actuar para que tanto os bens em uso como os que se
encontram em desuso, se inter-relacionem com vista a garantir uma visão retrospectiva,
uma funcionalidade actual e ulteriores perspectivas em benefício do território, de modo
que se possam coordenar os museus, os monumentos, as ornamentações, as
representações sagradas, as devoções populares, os arquivos, as bibliotecas, as
colecções e qualquer outra tradição local. Numa cultura, às vezes desagregada, somos
chamados a tomar iniciativas que tornem possível redescobrir o que, cultural e
espiritualmente, pertence à colectividade, não no sentido apenas turístico, mas
propriamente humano. Neste sentido, é possível redescobrir as finalidades do
património histórico-artístico, para usufruir do mesmo como um bem cultural.
Para além da importância das instituições dos museus no seio da Igreja, a salvaguarda
dos bens culturais deve ser, sobretudo, competência da comunidade cristã. Esta há-de
compreender a importância do seu próprio passado, ser consciente do sentido de
pertença ao território em que vive e deve, enfim, compreender a peculiaridade pastoral
do património artístico. Trata-se, portanto, de criar uma consciência crítica que valorize
o património histórico-artístico produzido pelas diversas civilizações que se
aproximaram no tempo, graças também à presença da Igreja, quer como comitente
iluminada quer como guardiã atenta dos vestígios antigos.
O valor que a Igreja reconhece aos seus próprios bens culturais explica “a vontade, por
parte da comunidade dos crentes, e em particular das instituições eclesiásticas, de reunir
desde a época apostólica os testemunhos da fé e cultivar a sua memória, exprime a
unicidade e a continuidade da Igreja que vive estes tempos últimos da história”.(6)Neste
contexto a Igreja considera importante a transmissão do próprio património de bens
culturais. Eles representam, de facto, um elo essencial da corrente da Tradição; são a
memória sensível da evangelização; tornam-se um instrumento pastoral. Daí, “o
empenho de os restaurar, conservar, catalogar e defender”,(7) a fim de obter uma
“valorização, que favoreça o seu melhor conhecimento e uma utilização adequada, tanto
na catequese como na liturgia”.(8)
Nos países de antiga tradição cristã o património histórico-artístico, que ao longo dos
séculos se foi enriquecendo continuamente com novas formas interpretativas e
constituiu um instrumento privilegiado de catequese e de culto para as gerações, em
tempos mais recentes adquiriu, algumas vezes, por causa da secularização, um
significado quase exclusivamente estético. Por isso, é oportuno que as Igrejas
confirmem, através de oportunas estratégias, a importância contextual dos bens
histórico-artísticos, de modo que uma peça considerada sob o ponto de vista do valor
estético não seja totalmente separada da sua função pastoral, assim como do seu
contexto histórico, social, ambiental e devocional, de que constitui uma peculiar
expressão e testemunho.
Para realizar tais compromissos será oportuno instituir museus eclesiásticos que,
fazendo referência ao património histórico-artístico de um determinado território,
assumam também a função de centros de animação cultural. Será igualmente importante
a racionalização dos diversos departamentos encarregados do sector dos bens culturais
dentro da Igreja. Onde for possível, dever-se-á trabalhar para criar formas de
colaboração entre os respectivos departamentos eclesiásticos e os seus análogos
departamentos civis, para realizar projectos comuns.
Por tudo isto, é lícito considerar os “tesouros” medievais como verdadeiras colecções
compostas de objectos retirados (temporária ou definitivamente) do circuito das
actividades utilitárias e submetidas a um particular controlo institucional. No entanto, as
peças que os compunham eram, algumas vezes, expostas à admiração do público em
oportunos lugares e circunstâncias. Uma diferença destas colecções em relação às
colecções privadas da antiguidade consistia no facto de que os “tesouros” não eram obra
de um único indivíduo, mas sim de instituições, de modo que permanecia a fruição
pública. Entre os mais antigos “tesouros” da Europa, podemos recordar o da Abadia de
Saint-Denis em França e o tesouro da Catedral de Monza na Itália, ambos fundados no
século VI. De entre os tesouros medievais mais famosos, podemos mencionar o Sancta
Sanctorum de Roma, o da Basílica de São Marcos em Veneza e o de Santo Ambrósio
em Milão (Itália); os do Santuário de Sainte Foy de Conques e da Catedral de Verdun-
Metz (França); os da Catedral de Colónia, Aquisgrano e Ratisbona (Alemanha); o
tesouro da Câmara Santa de Oviedo (Espanha); e o da Catedral de Clonmacnoise
(Irlanda). Muitos dos “tesouros” mencionados estão dotados de um inventário ou
catálogo, com diversas versões ao longo dos séculos.
A legislação do Estado Pontifício dos inícios do século XIX, sobre o tema da tutela e
conservação das antiguidades e das obras de arte, confirma as disposições
precedentemente pronunciadas pelos diversos Pontífices já a partir do século XV,
destinadas a limitar a destruição dos monumentos da época romana e a dispersão das
obras clássicas. Além disso, esta legislação contém ideias modernas e inovadoras sobre
os museus. O célebre Quirógrafo de Pio VII, de 1 de Outubro de 1802, afirma que as
instituições estatais competentes devem, a este respeito, “procurar que os Monumentos,
e as belas obras da Antiguidade […] se conservem como os verdadeiros Protótipos e
exemplares da beleza, religiosamente e para a instrução pública, e sejam ainda
aumentados com o descobrimento de outras raridades”.(12) Inclusive podemos
encontrar, como base dos princípios da inalienabilidade e inamovibilidade dos confins
do Estado, dos restos e de grande parte das demais obras de arte, o conceito da sua
utilidade pública em ordem à instrução. Surge como consequência a decisão de utilizar
fundos públicos – apesar das restrições daquela época – para a “aquisição de coisas
interessantes para o aumento dos nossos museus; certos de que os gastos em ordem à
promoção das Belas Artes será largamente compensado pelas imensas vantagens, que
deles tiram os súbditos e o Estado”.(13)
As prescrições da Santa Sé, do século XX, em matéria de museus, são destinadas aos
Bispos da Itália mas, por analogia, podem ser consideradas válidas para a Igreja
universal. Em geral, estas prescrições não se referem exclusivamente às instituições de
museus, mas inserem-se num contexto mais amplo que compreende também os
arquivos, as bibliotecas e a totalidade da arte sacra, segundo uma perspectiva que
considera o bem cultural também no seu aspecto pastoral. É oportuno recordar, a este
respeito, a Carta circular da Secretaria de Estado, de 15 de Abril de 1923, onde se
sugere “fundar […] onde ainda não existe, e organizar bem um Museu diocesano no
Paço episcopal ou na Catedral”.(14) É de referir também a segunda Carta, enviada pelo
Cardeal Pedro Gasparri no dia 1 de Setembro de 1924. Ao notificar aos bispos italianos
a constituição da Pontifícia Comissão Central para a Arte Sacra na Itália, ela recomenda
a constituição em cada diocese de Comissões diocesanas (ou regionais) para a Arte
Sacra, cuja função seria, entre outras, “a formação e a ordenação dos museus
diocesanos.(15) Análogas decisões foram emanadas pela Congregação do Concílio nas
Disposições de 24 de Maio de 1939,(16) onde se indica que a finalidade destas
instituições é a conservação das obras que, de outro modo, seriam destinadas à
dispersão. A já mencionada Pontifícia Comissão Central elaborou naqueles anos, em
colaboração com as instituições estatais, uma série de orientações destinadas às dioceses
italianas, para a criação e a gestão de museus diocesanos.(17)
Que a Igreja tem vindo a considerar o museu como um instituição cultural e pastoral
para todos os efeitos, como os mais consolidados arquivos e bibliotecas, é algo
sobejamente conhecido e que emerge de forma clara da Constituição Apostólica de
1988. Com ela, instituiu-se esta Pontifícia Comissão, onde se dispõe que se coopere
com as Igrejas particulares e com os organismos episcopais para a constituição de
museus, arquivos e bibliotecas, de modo a “proceder a uma adequada reunião e
conservação do património artístico e histórico em todo o território, de forma a colocá-
lo à disposição de todos os que nele estiverem interessados”.(20)
2.1 Natureza
Por isso, o museu eclesiástico deve ser considerado como uma parte integrada e
interactiva com as demais instituições existentes em cada Igreja particular. Na sua
organização, não é uma instituição independente, dado que está ligada e se difunde no
território, de modo a tornar visíveis a unidade e inseparabilidade do conjunto do
património histórico-artístico, a sua continuidade e o seu desenvolvimento no tempo, a
sua actual fruição no âmbito eclesial. Ao estar intimamente ligado à missão da Igreja,
tudo o que ele contém não perde a sua intrínseca finalidade e destino de uso.
Portanto, o museu eclesiástico não é uma estrutura estática, mas dinâmica, que se realiza
através da coordenação entre os bens que nele se encontram e os que ainda permanecem
in loco. Por conseguinte, está garantida a níveis jurídico e prático a eventual nova
utilização temporal dos bens que compõem os museus, seja por motivos estritamente
pastorais e litúrgicos, seja por motivos culturais e sociais. Devem-se promover
iniciativas de promoção e animação cultural para o estudo, a fruição e a utilização dos
bens que se encontram nos museus. De facto, através dos museus, exposições,
convénios, representações sagradas, espectáculos e outros acontecimentos, poder-se-á
reler organicamente e reviver de forma espiritual a história da Igreja de uma
comunidade particular que ainda vive no presente.
2.1.2 A valorização no contexto eclesial
O museu eclesiástico, por conseguinte, deve ser interpretado em estreita conexão com o
território de que faz parte, na medida em que “completa” e “sintetiza” outros lugares
eclesiais.
– apresentam a beleza dos processos criativos humanos que tentam expressar a “glória
de Deus”.
Nesta óptica, o acesso ao museu eclesiástico exige uma particular predisposição interior,
já que neles não só encontraremos coisas belas, mas na beleza somos chamados e
convidados a compreender o sagrado.
2.2 Finalidades
– a conservação das peças, porque reúne todas aquelas obras que, por dificuldade de
custódia, procedência desconhecida, alienação ou destruição das estruturas a que
pertenciam, degradação das estruturas de proveniência, ou perigos diversos, não podem
permanecer no seu lugar de origem;
– a investigação sobre a história da comunidade cristã, já que na ordenação do museu,
na escolha das “peças” e na sua estruturação, tem que reconstruir e descobrir a evolução
temporal e territorial da comunidade cristã;
“A Igreja, mestra de vida, não pode deixar de assumir também o ministério de ajudar o
homem contemporâneo a reencontrar a admiração religiosa diante do fascínio da beleza
e da sabedoria, que deriva de quanto a história nos transmitiu. Essa tarefa exige um
trabalho diário e assíduo de orientação, encorajamento e intercâmbio”.(26) O museu
eclesiástico tem como prerrogativa própria ser instrumento de crescimento na fé. Está,
por isso, em conexão com a acção pastoral desenvolvida pela Igreja ao longo dos
séculos, com a finalidade de retomar os germes da verdade semeados por cada geração,
de se deixar iluminar pelos esplendores da verdade encarnada nas obras sensíveis e de
reconhecer as marcas do transitus Domini na história dos homens.(27)
Tal primado pastoral é confirmado pela tipologia dos bens culturais habitualmente
conservados nas instituições de museus eclesiásticos. Todas estas obras, apesar da sua
diversidade, fazem referência a um único “sistema cultural” e ajudam a reconstruir o
sentido teológico, litúrgico e devocional da comunidade. Portanto, os objectos usados
para o culto divino, a formação dos fiéis e as obras de caridade não se transformam
simpliciter numa “coisa morta”, quando são obsoletas.
2.3 Tipologia
São diversas as tipologias segundo as quais o museu eclesiástico pode ser constituído.
Tais formas de museus viram a luz em épocas diversas, quase sempre graças ao impulso
de personalidades eclesiásticas que possuíam um singular espírito de iniciativa. No
entanto, não existe uma catalogação tipológica que esgote a variedade dos museus
eclesiásticos. Na tentativa de se fazer um elenco sumário, poder-se-ia fazer referência à
entidade eclesiástica que é o seu proprietário ou o que lhe deu origem ou, ainda, fazer
referência ao património do próprio museu.
Querendo, em linhas gerais, individualizar algumas tipologias das peças presentes nos
museus eclesiásticos, podemos antes de mais nada discernir as de uso litúrgico e
paralitúrgico, que se agrupam em algumas categorias principais:
– vasos sagrados;
– adornos;
– relicários e ex voto;
– instrumentos musicais;
Além disso, seria para desejar que o museu eclesiástico incentivasse a conservação da
memória dos usos, tradições e costumes próprios da comunidade eclesial e da sociedade
civil, especialmente naquelas nações em que a conservação das obras e dos documentos
ainda não têm qualquer interesse relevante.
Mas para além das subdivisões tipológicas, o museu eclesiástico caracteriza-se pelo
empenho em evidenciar o “espírito” de cada uma das obras que conserva e expõe. Não
só lhes atribui um valor artístico, histórico, antropológico e cultural, mas também realça
sobretudo as suas dimensões espiritual e religiosa. Estas últimas conotam de modo
específico a identidade das peças de carácter devocional, cultual e caritativo,
convertendo-se assim na óptica para compreender a vontade do doador, a sensibilidade
do mecenas, a capacidade interpretativa do artista e os complexos significados da
própria obra.
2.4 Instituição
O museu deve ser constituído com um decreto episcopal que, se for possível, será
dotado de um estatuto e de um regulamento,(35) que indicarão respectivamente a
natureza e a finalidade do mesmo, além da estrutura e das modalidades práticas.
Nenhum museu eclesiástico novo poderá ser criado por entidades eclesiásticas e
públicas, nem por entidades privadas, ainda que seja total ou parcialmente financiado
por elas, sem o consentimento do bispo diocesano competente.
Na organização de um museu, onde for possível, será oportuno constituir um Comité
apropriado, criado por alguns peritos e gerido por um director nomeado pelo bispo. Este
director deverá ocupar-se, de acordo com as competentes autoridades eclesiásticas, da
organização dos ambientes, da escolha dos materiais, das estratégias da exposição, do
relacionamento com o pessoal, da animação dos visitantes e de tudo o que se refere ao
bom funcionamento de tais instituições. Particular atenção deverá dedicar à angariação
dos recursos, estimulando inclusive as ajudas públicas.
3.1.1 Estrutura
O museu eclesiástico deve contar, em primeiro lugar, com uma sede própria num
edifício preferentemente de propriedade eclesiástica. Em muitos casos, trata-se de um
edifício com um grande valor histórico-arquitectónico, em que ele próprio já
individualiza e representa o museu eclesiástico.
O projecto do museu eclesiástico deve ser elaborado tendo em conta a sede, a tipologia
das peças e o carácter “eclesial” do próprio museu. De facto, a sede do museu
eclesiástico não pode ser entendida como um ambiente indiferenciado; as obras não
podem ser colocadas fora do contexto, na relação tanto com o seu destino de uso
originário, como da sede arquitectónica que as acolhe. Consequentemente, antigos
mosteiros, conventos, seminários, palácios episcopais e ambientes curiais, que em
muitos casos estão a ser utilizados como sedes de museus eclesiásticos, deverão manter
a sua identidade ao mesmo tempo que se abrem ao serviço de um novo destino e uso, de
modo que os visitantes sejam capazes de apreciar conjuntamente o significado da
arquitectura e o valor próprio das obras expostas.
A sede do museu eclesiástico articula-se de forma oportuna, de modo a poder ser
facilmente visitada, sem provocar interferências tanto no público como nos empregados
do museu. Igualmente, será preciso garantir a aplicação das medidas necessárias para o
acesso e a visita dos portadores de deficiência, em conformidade com as indicações
legislativas internacionais ou nacionais.
3.1.2 Entrada
A entrada do museu tem grande importância como primeiro lugar de encontro entre os
visitantes e o museu. Antes de tudo, deve evidenciar a mens que gerou o museu e que
caracteriza a sua existência. Deverá situar-se numa posição facilmente acessível e
reconhecível. A sua estrutura há-de ser tal, que se possa identificar claramente o museu.
As suas linhas podem ser sóbrias, simples e evidentes, de acordo com os actuais
critérios museográficos. Em particular, deverá ser rico de informações estimulantes,
mas evitará a acumulação de materiais informativos. O átrio da entrada deve expressar
um significado próprio, pelo que deverá estar dotado de uma específica conotação
arquitectónica. Através do átrio, o visitante deve poder enquadrar os critérios que
conduzem para a leitura global do museu. Por conseguinte, deve inspirar-se naquele
lugar sagrado, que indirectamente recorda. Durante a elaboração do seu projecto deve-
se cuidar, na medida do possível, do acolhimento das pessoas, da informação sobre a
organização e do delineamento didáctico.
O átrio é o lugar que prepara o visitante para passar do clima da distracção do ambiente
externo, para a concentração pessoal e, no caso do crente, para o recolhimento
espiritual, exigidos por tudo o que se quer admirar. Por isso, impõe-se um “clima”
sugestivo, quase sagrado, muito discreto, para favorecer a sintonia entre os visitantes e a
realidade do museu. O visitante não deveria iniciar o percurso do museu entusiasmado
apenas pela curiosidade, mas sim porque se sente estimulado pelas indicações visuais,
pelos instrumentos audiovisuais e pela competência do guia, que ambientam a visita.
Por isso, é oportuno que no átrio se encontrem à disposição algumas informações
(impressos e audiovisuais) para oferecer adequadamente às visitas, tendo em conta as
diversas tipologias dos visitantes. A este propósito, não é de menosprezar a
oportunidade de organizar visitas guiadas.
3.1.3 Salas
A disposição dos objectos e a sua apresentação ao público deverá ser pensada segundo
um critério global, de modo a que a estrutura arquitectónica esteja coordenada com a
exposição das obras. (41) A estrutura das salas, o seu percurso e tudo quanto nelas se
expõe devem expressar uma proposta única e orgânica, cujos critérios gerais se
adaptarão às situações e às intenções particulares. Enfim, será oportuno dotar as salas
com apropriados espaços para o descanso, para facilitar a contemplação das obras
expostas, especialmente as mais significativas.
3.1.4 Vitrinas
Para além de conservar de modo adequado os objectos que contém, a vitrina deve
valorizá-los e torná-los plenamente visíveis. Por isso, é desejável que seja iluminada de
maneira adequada, de modo a não deteriorar as cores das peças nem alterar a sua visão.
Juntamente com uma breve ficha técnica de identificação, que compreende o título da
obra, o autor, a data, a matéria e a procedência, seria desejável que se colocassem dois
tipos diversos de subsídios ilustrativos, num suporte informático ou de papel. O
primeiro seria para referir a relação de cada uma das obras com as restantes presentes no
museu ou com outras que se encontram fora dele. O segundo seria para aprofundar o
conhecimento de cada obra, indicando o seu destino litúrgico ou paralitúrgico, o
significado do nome, o contexto espaço-temporal de onde é originária, a simbologia e,
eventualmente, nos casos dos objectos mais famosos, apresentar algumas explicações
iconográficas, notas hagiográficas e breves referências bibliográficas. Tudo isto para
favorecer e orientar o estudo e contextualizar globalmente o conhecimento das peças
expostas.
Dado que o museu eclesiástico deve ser pensado como uma instituição cultural, que se
relaciona com outras instituições existentes no território, voltadas para a animação
cultural, é oportuna a existência de pelo menos uma sala para exposições e
acontecimentos culturais temporários. Manifestações deste tipo poderão ser organizadas
para realçar ocasiões singulares (por exemplo, os tempos litúrgicos mais importantes, as
festas titulares e patronais, as circunstâncias civis, as jornadas de estudo e os estudos
escolares).
Nestas salas, o visitante poderá encontrar uma informação mais ampla no que se refere à
história da comunidade ou da instituição, para além de poder entender melhor o
contexto dos materiais expostos e da correlação entre o passado e o presente. Este
estudo didáctico poderá ser ajudado por meios gráficos, audiovisuais, ilustrações e
experiências. Não se devem excluir as actividades didácticas de laboratório e de
investigação, para favorecer o interesse e o estímulo da criatividade dos jovens no sector
dos bens culturais da Igreja.
Tendo à disposição espaços deste tipo, seria também possível promover iniciativas para
a formação de base e permanente dos agentes no sector dos bens, incluídos os
voluntários.
3.1.8 Biblioteca
No conjunto dos serviços do museu, não se pode esquecer a presença de uma biblioteca
especializada. É, por isso, oportuno constituir dentro do museu uma biblioteca
actualizada e devidamente dotada, onde se possa encontrar também, na medida do
possível, um sector de videoteca ou de outros suportes de multimédia.
Seria oportuno também um arquivo histórico específico. Este arquivo tem uma função
bastante diferente do habitual arquivo histórico da Igreja local, do Instituto religioso, ou
de outra Entidade eclesiástica. Nele dever-se-á conservar pelo menos uma cópia de
todos os materiais úteis para documentar a história de cada uma das obras existentes no
museu. Demasiadas vezes, infelizmente, também os documentos oficiais de depósito ou
de empréstimo temporário se perdem, desaparecendo com eles um material útil para a
tutela jurídica e para o conhecimento do contexto do património histórico-artístico.
3.1.10 Saída
A saída, no final da visita, tal como a entrada, não deve ser subestimada. Na medida do
possível, seria útil que a entrada e a saída fossem áreas diferentes, não só para evitar
confusões no fluxo dos visitantes (pelo menos nos museus de grande importância onde a
afluência de pessoas é maior), mas sobretudo para permitir a plena fruição do itinerário
proposto.
Junto da área pública do museu eclesiástico devem prever-se espaços idóneos para os
funcionários do museu. De facto, é importante que os funcionários do museu possam
dispor dos espaços necessários para desenvolver as suas funções, bem como é oportuno
adaptar-se às disposições civis. Deve-se pensar numa adequada e congruente
organização de quantos ali trabalham, em ordem a dar uma maior eficiência ao próprio
museu.
A própria vida do museu exige habitualmente outros lugares de serviço, entre os quais
se encontram as salas de depósito. Estes espaços servem para colocar obras que não
estão expostas.
Este conceito não pode ser mal entendido. O depósito de um museu não é, pela sua
própria natureza, nem um lugar de coisas esquecidas, nem um lugar de desordem. Pelo
contrário, estas salas recolherão obras igualmente importantes e significativas no
contexto eclesial, mas que, por diversos motivos, se encontram depositadas nestas salas
para uma maior e mais prudente tutela e conservação.
Algumas obras são colocadas no depósito porque estão numa situação precária e, por
isso, necessitam de ser restauradas. Assim, torna-se necessário tratá-las com empenho a
fim de as salvaguardar, já que se encontram numa fase delicada da sua “existência”.
Sempre e quando as condições o permitirem, seria oportuno dispor, junto das salas de
depósito do museu, de um pequeno laboratório de restauro. Ordinariamente, deve
ocupar-se da manutenção e da conservação. Porém, terá também a função de realizar
intervenções de primeira necessidade nas peças que estiverem num estado de particular
degradação.
3.2 Segurança
3.2.1 Instalações
Um dos aspectos que se deve afrontar com maior atenção é o das instalações necessárias
para o bom funcionamento do museu. A este respeito, dever-se-á observar – onde
existem – as leis civis vigentes, referentes às instalações eléctricas, anti-incêndio,
alarme, ar condicionado e aquecimento.
No que se refere à segurança das pessoas, convém evitar todo o tipo de barreiras
arquitectónicas, assinalar todos os percursos de saídas de emergência, realizar controlos
periódicos das instalações e das estruturas.
No que diz respeito à conservação das obras, convém realizar uma adequada
climatização do ambiente; protegê-las contra o pó, a exposição solar e organismos
biológicos; organizar uma ordinária manutenção de limpeza e de desinfecção; e fazer
um diagnóstico periódico.
Em relação à tutela das obras, serão necessárias medidas preventivas de segurança, com
particular atenção à firmeza das paredes externas e à protecção das aberturas para o
exterior (portas blindadas, grades nas janelas, clarabóias, etc.). Sem dúvida, será
oportuno um bom sistema de alarme, eventualmente ligado às forças policiais. Será
também indispensável a realização de uma ficha fotográfica de cada uma das peças,
para facilitar as investigações em caso de roubo.
3.2.2 Vigilância
Uma vigilância ordinária e bem organizada visa tanto o horário de abertura ao público
como o tempo em que o museu está fechado. Durante os horários de abertura será
necessário dispor de um adequado serviço de vigilância para evitar possíveis danos às
obras e às estruturas. Pode ser muito útil a presença de um voluntariado profissional.
Durante o tempo em que o museu se encontra fechado seria conveniente, na medida do
possível, para além dos sistemas de segurança já citados, a presença de um guarda de
vigilância.
Para a segurança durante a circulação das obras, necessita-se, sobretudo, da diligência e
da prudência por parte do pessoal encarregado, de modo a evitar qualquer tipo de
acidente. Particular atenção deve ser dedicada ao empréstimo de obras, certificando-se
que está garantida a vigilância em todas as fases operativas, através de medidas
cautelosas para o transporte (com a garantia de seguros específicos) e uma atenta
preocupação relativa à preparação dos espaços reservados à exposição.
3.3 Gestão
– prover, por parte da entidade proprietária, um fundo económico (por exemplo uma
“fundação” constituída como fonte de rendimento) que permita a realização a longo
prazo de uma programação das actividades consideradas essenciais;
– preparar um plano económico para vários anos, para além de outros a médio e a curto
prazo, com que se possa corresponder, com operações específicas, a todas as exigências
impostas pelas estratégias de conservação e de valorização do museu;
– elaborar, com base num plano global, um orçamento e um balanço anuais articulados
com o quadro das receitas (venda de bilhetes, patrocínios ocasionais, entidades
institucionais, outras vendas, etc.) e despesas (compras, pessoal, consumo, actividades,
restaurações, seguros, publicidade, imprensa, eventos, etc.), a fim de assegurar a regular
continuidade das actividades, detectar facilmente as alterações das despesas e fazer
previsões das futuras intervenções;
– dotar o museu de uma regular fisionomia jurídica (tanto no âmbito eclesiástico como
civil) e de um regulamento normativo pormenorizado;
– dar uma clara configuração jurídica a todos os funcionários, tanto aos contratados,
como aos voluntários (eventualmente, fundar cooperativas ou outras instituições); fazer
com diligência os pagamentos das taxas fiscais; actuar prudentemente na contratação do
pessoal especializado para as diversas exigências; organizar os serviços de voluntariado
com pessoas responsáveis; aprofundar a escolha acerca da ocupação do pessoal, com
oportuna flexibilidade;
– promover a imagem do museu através dos canais de comunicação social eclesial, dos
organismos didácticos e culturais e dos mass media locais.
3.4 Pessoal
– seria para desejar que colaborassem com o director um ou mais comités (pelo menos
alguns peritos) encarregados da organização científica, cultural e administrativa do
museu;
– quando for útil, pode-se encontrar pessoal para a secretaria, as relações públicas, a
gestão económica, etc.;
– deve-se encontrar pessoal para a vigilância, seguindo os critérios já expostos;
3.5 Normas
– Antes de mais nada, ter presentes as normas e as orientações da Santa Se, das
Conferências Episcopais Nacionais e Regionais e da Diocese, que abordam este sector;
O público pode ser dividido em diversas categorias: visitante individual, grupo guiado,
grupos de estudantes e estudiosos. A complexa modalidade de aproximação sugere
metodologias distintas para facilitar a atracção do visitante e satisfazer as diversas
exigências culturais. Uma inteligente organização de reservas e de visitas permitirá um
melhor serviço não só aos utentes, mas também aos funcionários. Cada museu deverá
preocupar-se em organizar, para além dos percursos temáticos da exposição, actividades
culturais complementares.
Sobre cada uma destas coordenadas foi tecido um abundante enredo de sinais visíveis,
que se desenvolveram ao longo do tempo. A sua permanência constitui o depósito da
memória que se pode tutelar e valorizar pelos museus eclesiásticos. Através desta
concepção, poder-se-á ir além do aspecto meramente estético e histórico, alcançando o
sentido e o significado mais íntimo e profundo no âmbito da civitas christiana.
Através das iniciativas didácticas mais importantes dos museus pode-se reconstruir
sobre o território a microhistória de cada uma das realidades. Jornadas de estudo,
itinerários guiados, exposições temporárias e outras iniciativas podem favorecer de
modo útil o descobrimento dos valores essenciais do cristianismo num determinado
território. Os acontecimentos vividos pelos pastores e pelos Santos da Igreja local
descobrem-se nas formas de piedade e nas devoções populares, que deixaram um
abundante repertório histórico-artístico. Outras obras confiadas aos museus colocam em
evidência o importante papel das associações e confrarias.
Por outro lado, o tempo de uma visita não permite uma apreciação completa e profunda
da riqueza histórica e documentária do museu. Por isso, seria conveniente organizar
percursos diversificados para oferecer aos visitantes, enquadrados em lições-visitas,
materiais de apoio que se possam ler também fora do museu.
O museu eclesiástico transforma-se deste modo num centro de animação cultural para a
comunidade. Torna-se mais vivaz através da animação de grupos. Projectar um
calendário anual de iniciativas que se devem introduzir no amplo projecto pastoral,
tanto da Igreja particular no seu conjunto, como das instituições eclesiais individuais
que o compõem. Em tal calendário, podem considerar-se:
Porém, a melhor forma para fazer compreender o valor das obras de arte e, portanto, o
sentido do museu eclesiástico, é ensinar os visitantes a olhar à sua volta para reflectir e
unir acontecimentos, objectos, história, pessoas que naquele território foram e
continuam a ser a alma viva e presente. O museu eclesiástico, deste modo, é capaz de
unir o passado com o presente na vivência eclesial de uma determinada comunidade
cristã.
4.3 A fruição no conjunto do território
Pela sua própria natureza, o museu eclesiástico encontra-se em estreita relação com o
território onde desenvolve uma particular missão pastoral, já que reúne o que dele
provém, para o oferecer de novo aos fiéis através de um duplo itinerário da memória
histórica e da fruição estética. O museu eclesiástico, para além de ser um “lugar
eclesial” é, também, um “lugar territorial”, porque a fé se incultura em cada um dos
ambientes. Os materiais usados para a produção das múltiplas obras fazem referência a
contextos naturais preciosos; os edifícios produzem um indubitável impacto ambiental;
os artistas e os que encomendam as obras estão intimamente ligados à tradição, presente
num determinado lugar; os conteúdos das obras inspiram-se e correspondem às
necessidades relacionadas ao habitat em que se desenvolve a vida da comunidade cristã.
Imponentes monumentos, obras de arte, arquivos e bibliotecas estão condicionados pelo
território e, por isso, a ele se referem. Além disso, o museu eclesiástico não é um lugar
separado, mas um prolongamento físico e cultural do ambiente circunstante.
Por conseguinte, o museu eclesiástico não é uma instituição alheia aos restantes lugares
eclesiais que pertencem a um determinado território. Todos têm a mesma finalidade
pastoral e, na sua diversa tipologia, mantêm uma relação orgânica e diferenciada. Esta
continuidade é confirmada pela mens da Igreja em relação aos bens culturais colocados
ao serviço da sua missão. Tais bens entram num único discurso pelo que, de iure, estão
coordenados entre eles e, de facto, devem expressar esta unidade na complexidade e na
diversidade. Por sua vez, o museu reúne e ordena os bens histórico-artísticos, tornando
visível a referência ao conjunto do território e à estrutura eclesial.
Todas estas funções sugerem, onde for possível, a contribuição das novas tecnologias da
multimédia, capazes de apresentar virtual, sistemática e visualmente a íntima relação do
museu com o território de que provêm os bens que contém. Neste sentido, o conceito de
museu eclesiástico é definido como um museu integrado e difuso. Tais acepções
comportam estruturas policêntricas em que o museu diocesano desempenha a sua
função de coordenação. À sua volta, podem circular os tesouros da catedral e os bens
culturais do cabido; as colecções dos santuários, mosteiros, conventos, basílicas,
confrarias; o grupo das igrejas paroquiais e os outros lugares eclesiásticos; todo o
conjunto de monumentos, com as obras que o compõem; e os eventuais lugares
arqueológicos. Deste modo, cria-se uma rede que une dinamicamente o museu
diocesano aos demais centros de museus, e o conjunto dos bens culturais eclesiásticos
ao conjunto do território.
O museu diocesano, em particular, cumpre uma peculiar tarefa, já que põe em evidência
a unidade e a organização dos bens culturais da Igreja particular. Nele deveria haver um
inventário de todo o património histórico-artístico da diocese. Com prospectos de fácil
leitura, dever-se-iam apresentar os bens conservados e os bens presentes na
circunscrição eclesiástica. Com instrumentos científicos, deveria ser possível aceder ao
inventário e à catalogação do património histórico-artístico da região (pelo menos o que
se considera de uso público). Colocar-se-ia, assim, em prática um sistema que oferece as
razões para a obra da inculturação da fé no território; que reúne toda a actividade da
Igreja local destinada à produção dos bens culturais idóneos para a sua missão; que
destaca a importância cultural e espiritual do depósito da memória; que estimula o
sentido de pertença da colectividade através da herança transmitida por cada uma das
gerações; que favorece soluções de tutela e a investigação científica; que se abre para
acolher as criações contemporâneas, para poder deste modo demonstrar a vitalidade e a
dimensão pastoral dos bens culturais da Igreja, presentes em cada uma das realidades
em que se difundiu a mensagem cristã.
O museu eclesiástico pode assumir uma função formativa própria e permanente, que se
desenvolva em três coordenadas: a formação histórica, a educação estética e a
interpretação espiritual. Para que um museu eclesiástico cumpra esta função, serão
necessárias pessoas preparadas. Na formação do pessoal devem-se ter presentes alguns
aspectos fundamentais e irrenunciáveis:
Com uma referência específica aos museus presentes no território, deve-se incentivar a
criação de comissões ou associações de especialistas aos quais se possam confiar tarefas
de gestão e animação, tanto a nível de estratégias gerais, como de museus individuais
(por exemplo, Associações nacionais dos museus eclesiásticos e Associações nacionais
dos responsáveis pelos inventários, etc.).
ormação do clero prepara para a tutela dos bens culturais e favorece a relação entre os
eclesiásticos e os leigos para se poder elaborar um projecto cultural capaz de valorizar a
totalidade do património histórico-artístico numa lógica eclesial e civil. Neste contexto,
apresentam-se também as estratégias inerentes à preparação do pessoal para os museus
eclesiásticos. Ainda que os sacerdotes não possam ser sempre os directores responsáveis
de tais instituições, deverão pelo menos possuir os requisitos para poder promover
museus eclesiásticos e coordená-los no conjunto dos bens culturais eclesiásticos
presentes no território, introduzindo-os no projecto pastoral da Diocese como cada uma
das instituições locais (paróquias, mosteiros, conventos, institutos religiosos, confrarias
e associações).
No projecto de formação deve haver um particular interesse pela formação dos agentes
e dos guias. Não se trata apenas de uma formação profissional de especialistas dos
diversos sectores implicados na organização do museu (ou de comprovar a sua
preparação), mas de os introduzir no que é especificamente eclesial. Estes têm de ser
capazes de contextualizar o património histórico-artístico da Igreja, nos âmbitos
catequético, cultural e caritativo, para que a fruição de tais bens não se reduza ao mero
dado estético, mas se converta num instrumento pastoral através da linguagem universal
da arte cristã.
– Guias internos. Em particular, os agentes dos museus encarregados de acompanhar o
público são chamados a captar as diversas características do visitante, para poder
introduzi-lo na fruição das obras expostas mediante percursos centrados, por exemplo,
em temáticas particulares, em objectos singulares, em grupos homogéneos de obras.
– Animadores internos. Uma das eventuais funções dos agentes internos poderá ser o de
animar os visitantes, criando ocasiões de encontros, de conhecimento ou de discussão.
– Docentes e agentes eclesiais. Para se estabelecer uma relação entre os bens culturais e
o projecto pastoral, deve-se proceder com particular atenção à formação dos catequistas,
dos professores de religião e dos diversos agentes eclesiais para que saibam utilizar com
proveito, nas múltiplas actividades e iniciativas, o património histórico-artístico que têm
à sua disposição.
A adequada formação dos responsáveis e dos agentes, tanto no campo eclesiástico como
no civil, conduz a uma maior colaboração no campo dos bens culturais da Igreja.
Incrementa uma discussão madura entre pessoas e instituições (especialistas em
diversos sectores, instituições encarregadas da tutela dos bens culturais, escolas de todos
os tipos e graus, e centros culturais e turísticos).
A preparação do clero e dos agentes deve realizar-se, sobretudo, nos lugares habituais
de formação, intervindo sobre os programas ordinários. Seria de desejar que se
realizassem cursos especiais de aprofundamento e de especialização, instituídos para os
diversos níveis. Também seriam muito úteis os cursos breves de actualização
organizados periodicamente sobre temáticas particulares. Para dar continuidade ao
sistema formativo, poder-se-iam publicar boletins ou circulares em que se indiquem
experiências, se ofereçam informações administrativas, se relacionem documentos
eclesiásticos e civis do sector e se ofereça uma bibliografia razoável.
Também o público deve ser formado, com iniciativas idóneas, para obter um bom uso
dos bens culturais da Igreja. Esta formação pode desenvolver-se através da própria
organização dos percursos da exposição, de eventuais iniciativas colaterais, do sistema
escolar, dos mass media, dos congressos de estudo, das políticas culturais do território,
etc. O público pode ser dividido em duas categorias: os que pertencem à comunidade
eclesial e os que provêm de outros contextos. Para alcançar um maior número de
pessoas, é oportuno desenvolver iniciativas a níveis diocesano e local. Além disso, será
necessário diversificar as intervenções, tendo em conta o tipo de destinatários:
estudantes, público adulto, turistas, peregrinos, etc.
As iniciativas a nível diocesano. Apresentamos como exemplo algumas possíveis
iniciativas:
– programar visitas guiadas aos museus eclesiásticos, aos santuários, às Igrejas, aos
eventuais lugares arqueológicos cristãos e a outros lugares da Diocese particularmente
significativos, tentando apresentar cada monumento inserido no contexto histórico
territorial e eclesial;
Iniciativas a nível local. São também de grande utilidade as iniciativas formativas para
cada uma das comunidades ou lugares, para realçar a íntima união entre os bens que
estão em uso e os que já foram postos de parte, para expressar a conexão das obras
oferecendo uma perspectiva histórica, para facilitar a relação entre o passado e o
presente. Apresentamos como exemplo algumas iniciativas possíveis:
– fazer visitar periodicamente, sobretudo os fiéis e os restantes membros da comunidade
civil, os seus próprios bens de interesse histórico-artístico, para destacar o testemunho
da fé e da cultura das precedentes gerações, de modo particular as Igrejas;
– no que se refere aos turistas, é necessário considerar o turismo aos lugares eclesiais
como turismo religioso; assim, a fruição dos museus deve unir-se à função eclesial dos
lugares de procedência das obras que neles se conservam;
– para os peregrinos, é necessário valorizar as colecções do museu num contexto
religioso, fazendo realçar o caminho da fé da comunidade cristã, dos mecenas, dos
artistas, para além das formas de piedade popular e das tradições locais.
– Cooperativas. Para fazer frente a tantas despesas estão a surgir, nalguns museus,
formas de trabalho cooperativo mantidas por fundações, pelas receitas do museu ou por
financiamentos eclesiásticos. Este tipo de presença pode constituir uma oportunidade
para a ocupação dos jovens e uma conveniente forma de gestão do património histórico-
artístico das Igrejas particulares.
VI – Conclusão
– este projecto deve ser elaborado em união com o projecto pastoral a níveis diocesano
e local;
– é para desejar, ao mesmo tempo, a colaboração com instituições civis voltadas para a
elaboração de planos que visam o desenvolvimento cultural;
– o museu eclesiástico, neste contexto, não deve ser considerado simplesmente como
um lugar de visita, mas também de actividade cultural-pastoral e de experiências sobre a
vivência histórica;
– além disso, é indispensável uma preparação dos diversos agentes para a animação dos
utentes;
– é oportuno oferecer espaços adequados para acolher no museu diocesano o que não se
pode conservar in loco e desenvolver na referida instituição múltiplas iniciativas de
animação;
– é necessário transferir este interesse para a própria vida, fazendo com que nela se
encontre tudo o que se viu de modo exemplar numa visita ao museu: é a terceira
dinâmica que “conduz-para-fora” do museu, reintroduzindo o indivíduo na própria
cultura e despertando-lhe o desejo de salvaguardar os bens histórico-artísticos pelos
quais é circundado.
Neste sentido, o museu eclesiástico converte-se num lugar de humanidade e num lugar
religioso. Na medida em que o homem contemporâneo beneficia do passado, projecta-se
para o futuro. Na medida em que o crente encontra a sua própria história, desfruta da
arte, vive santamente, anuncia o “Deus omnia in omnibus”.
Para terminar, acolhamos esta exortação de João Paulo II: “Estamos numa época em que
se valorizam as relíquias e as tradições, no intento de recuperar o espírito originário de
cada povo.
Por que não se faz outro tanto no campo religioso, para extrair das obras de arte de cada
época as indicações preciosas sobre o sensus fidei do povo cristão? Aprofundai, vós
também, para realçar a mensagem expressa nas obras pelo cunho criador dos artistas do
passado. Inumeráveis maravilhas virão à luz, sempre que o modelo de referência for a
religião”.(53)
Na esperança de que as reflexões propostas possam ser um ponto de referência útil para
cada uma das Igrejas particulares, favorecendo orientações e regulamentos concretos,
manifesto os meus melhores desejos para o seu ministério pastoral e para a sua obra de
promoção cultural através dos bens culturais da Igreja, enquanto aproveito a ocasião
para lhe expressar os meus cordiais cumprimentos, com que me confirmo,
D. FRANCESCO MARCHISANO
Presidente
Secretário
NOTAS:
Acesso 30/03/2020
https://www.veritatis.com.br/carta-circular-a-funcao-pastoral-dos-museus-eclesiasticos-
15-08-2001/