Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
In: A
África na Sala de Aula. Visita à História Contemporânea. São Paulo: Selo
Negro, 2008.
A atividade do conhecer passa a ser reconhecida como um privilégio dos que são
considerados mais capazes, sendo-lhes, por isso, conferida a tarefa de formular uma
nova visão do mundo, capaz de compreender, explicar e universalizar o processo
histórico.
Significa dizer que o saber ocidental constrói uma nova consciência planetária
constituída por visões de mundo, auto-imagens e estereótipos que compõem um
“olhar imperial” sobre o universo. Assim, o conjunto de escrituras sobre a
África, em particular entre as últimas décadas do século XIX e meados do XX,
contém equívocos, pré-noções e preconceitos decorrentes, em grande parte,
das lacunas do conhecimento, quando não do próprio desconhecimento sobre o
continente africano.
Os estudos sobre esse mundo não ocidental foram, antes de tudo, instrumentos de
política nacional, contribuindo, de modo mais ou menos direto, para uma rede de
interesses político-econômicos que ligavam as grandes empresas comerciais, as
missões, as áreas de relações exteriores e o mundo acadêmico.
(ler p. 19).
Quanto à primeira razão cabe explicar que a história se restringia aos espaços
geográficos que tinha como elemento de união o mar Mediterrâneo, promotor da
civilização. Estavam ligado a esse “coração do mundo antigo” o sul da Europa, o
sudoeste da Ásia, África Setentrional (Marrocos, Argel, Túnis, Trípoli) e o Egito.
Ler p. 20 e 21.
Griots. São aqueles que contam histórias. Eles não são, mas podem vir a se tornar
“tradicionalistas conhecedores”; no entanto, estão excluídos da iniciação da tradição
maior e mais divina, referente ao mito da criação do universo e do homem.
[Estes eram povos negros e mestiços responsáveis pelo comércio de longa distância,
seja por “revezamento” (quando cada grupo controlava apenas o seu espaço, ficando
com a sua parte do lucro), seja pelo “comércio em rede” (no caso de um grupo de
comerciantes especializados em acompanhar o trânsito de mercadorias do primeiro ao
último ponto da cadeia comercial).]
Esses embates ocorriam por razões variadas, como o rapto de mulheres pertencentes
a clãs ou a linhagens, os conflitos entre “Estados” em formação ou os já constituídos
ou ainda pelas guerras de expansão, assim chamada porque os mercadores
incorporavam povos tributários, segundo um sistema de pagamento de tributos e
prazos fixados pela tradição. Uma vez capturados, vendidos ou mesmo no caso de
morrerem em combate, os filhos desses escravos não eram vendidos nem
maltratados. Criados na maioria das vezes na corte, acabavam por reconhecer o
soberano como seu próprio pai; além disso, desempenhavam funções quase sempre
importantes nas esferas administrativa e militar.
1
É indispensável explicar que os vocábulos império, reino e Estado são instituições políticas que têm
particularidades históricas, não sendo equivalentes aos conceitos próprios da filosofia política e da
ciência política ocidentais.
O segundo mecanismo que levava à escravidão era fome que, desestruturando
uma sociedade, impelia os destituídos a vender a si mesmos ou aos seus filhos
como escravos, como um meio de sobrevivência.
Por sua vez, o terceiro mecanismo era “resultado de punição judicial por algum
crime ou como uma espécie de garantia para o pagamento de débito. No último
caso trata-se da difundida instituição da penhora humana. Nessas situações os
escravos eram relativamente bem-tratados: tinham acesso aos meios de
produção (basicamente a terra), podiam casar-se com pessoas livres e eram
considerados membros da família do senhor”.
Ouro. Podemos afirmar que, adensado a partir do século XII, o comércio de escravos
era inferior ao do ouro, material necessário para a cunhagem de moedas feita ao redor
do Mediterrâneo.
Sal. Acresce que o sal, ao lado do ouro, da prata e do cobre, serviu de moeda
comercial para os sudaneses, sendo que, em Teghazza e Takedda (Tigida), eram
utilizados como moeda para aquisição de madeira, carne, sorgo e trigo.