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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

Helenização e Romanização: Convergências e divergências

Antiguidade Ocidental

Gabriel da Rocha Ucella


Matrícula: 202410346311

Rio de Janeiro
2024
Resumo: Esta atividade prezará por abordar a conceituação dos Impérios Ocidentais da
antiguidade sobretudo no período Helenístico, com a liderança de Alexandre da Macedônia, e
no período imperial da Roma antiga, liderado, primeiramente, por Otaviano Augusto.
A ênfase, portanto, estará em observar o papel difusionista que cada um dos líderes citados
tiveram referentes à questão cultural e, também, suas similaridades e distinções
historiográficas.

1. Decadência do mundo grego e a Helenização

Após períodos milenares de contatos iniciais entre diversas civilizações, estabelecendo


contatos, trocas de experiências culturais, circulação de bens, de pessoas e sobretudo de
mercadorias na região do Mediterrâneo, estabeleceu-se uma rede conectividade1.
Concomitante às redes que progressivamente se estabeleceram durante o longo passar do
tempo, observa-se, ao final do período denominado como ‘’Clássico’’, o confronto político e
militar entre as duas pólis de maior destaque: Atenas e Esparta. Ambas constituem ligas de
alianças entre diferentes cidades-estado para se confrontarem e, assim, garantir o poder
político da Grécia. A Guerra do Peloponeso teve seu fim com a vitória da pólis espartana
sobre a ateniense, no entanto, o longo embate militar levou à decadência estrutural2 do mundo
grego, sendo esta falência estrutural um ponto decisivo para os macedônicos, que visavam a
dominação territorial do território grego.
O domínio do Império Macedônico, inicialmente com Filipe II e, posteriormente, com seu
maior protagonista Alexandre marcou um período simbólico tanto para o Ocidente quanto
para o Oriente. A nova etapa da temporalidade pós conflito do Peloponeso contribuiu para um
processo de expansionismo territorial e, sobretudo, cultural, caracterizado como Helenização3.
O Imperador expandiu para áreas do Oriente como o Egito, Oriente Médio e até a Índia,
entretanto, apesar de ser um tirano com os poderes concentrados em suas mãos, Alexandre é
recordado não como um deplorável personagem da história, e sim como um governante que,
apesar do domínio das regiões conquistadas expandindo os valores da cultura grega, não
proibia os povos conquistados de expressarem seus valores culturais autônomos, como por
exemplo a liberdade de culto, logo, o que ocorria conforme conceitua o historiador inglês
Peter Burke4 , era um hibridismo cultural, uma experiencia partilhada de diversas culturas.

2. A Romanização5: Conceito e a questão do ‘’outro ‘’

O recorte temporal é, agora, estabelecido na conjuntura de início do Império Romano, com a


redução da expansão militar-territorial que objetivava maior poder econômico na conquista
por mão de obra escrava e anexação de mais províncias para o aumento da arrecadação de
tributos.
No período imperial da Roma Antiga ocorre um processo que, aparenta ser tal como foi a
Helenização na Grécia Antiga, porém, diferencia-se no método, apesar de também constituir-
se como um mecanismo expansionista da cultura.
Tal mecanismo abordado é denominado como Romanização, um processo difundido em
Roma que tem por objetivo não só expandir territorialmente mas, também, levar civilização às
sociedades dominadas, emerge como um modo de assimilação cultural do ‘’ outro ‘’ - se diz
aquele que não é civilizado, o que é bárbaro.
O conceito de Romanização surgiu na historiografia de fins do século XIX para o XX para
remeter ao contato significativo entre os romanos com os povos subjugados. O conceito é
importante para mostrar como há, pelo historiador, uma representação teórica do real, como:
realidade teórica, formal e já estabelecida cientificamente, realidade historiográfica,
construída pelo historiador através de discursos interpretativos e, por final, a realidade
documento, dados factuais de informação.
Na tese historiográfica de fins do século XIX início do século XX é notada uma comparação
realizada entre o imperialismo romano e as potências imperialistas coloniais da modernidade,
visto que o projeto imperialista romano foi utilizado por discursos ideológicos das nações
europeias colonialistas, que as utilizaram para justificar o direito de conquista, tal como
Edward Said demonstra em sua obra o ex-primeiro ministro do Reino Unido, Arthur James
Balfour, legitimando a colonização do Egito:

É uma boa coisa para essas grandes nações - admito a grandeza delas
- que esse governo absoluto seja exercido por nós? Acho que é uma boa
coisa. Acho que a experiência demonstra que sob esse governo elas têm
um governo muito melhor que qualquer outro que tenham tido em toda a
história, o que é um beneficio não só para elas, como sem dúvida para o
conjunto do Ocidente civilizado. [ .. .] Estamos no Egito não apenas pelo
bem do Egito, apesar de estarmos lá para o bem deles; estamos lá também para o
bem da Europa em geral. (SAID, 1996; p. 43)
No ponto de vista europeu colonialista, veem-se como heróis das nações, escolhidos para
carregar e disseminar a superioridade civilizacional do Ocidente para os ‘’ não civilizados ‘’.
Vinculado a esta conjuntura histórica e política colonial, Theodor Mommsen6 trouxe à tona o
conceito de Romanização, construindo-o como uma idéia positiva, partindo-se da tese de
‘’esquecimento’’ da identidade cultural originária em prol da mudança da cultura por um bem
maior, ou seja, a aculturação ocasionada pela dominação romana era entendida como
necessária para um avanço civilizatório significativo. Convergindo à mesma narrativa, a
imposição ideológica com teor justificativo confere diretamente com o ideal imperialista
Inglês.

3. Convergências e divergências

A despeito de ambos os processos apresentarem seus ideais de expansionismo territorial e


cultural - o que inclusive é uma similitude -, divergiram quanto aos métodos práticos.
Na medida em que a cultura helena é empreendida por principalmente Alexandre, o Grande, a
difusão cultural romana é levada por Otaviano Augusto.
Uma distinção marcante nas épocas históricas de Grécia e Roma está na forma como são
feitos estas expansões: enquanto os líderes imperiais anexavam províncias e dominavam
povos distintos, o Império macedônico possuía métodos mais ‘’humanos’’ – embora seja
impossível associar humanidade à colonização - , pois optava por não interferir na cultura
alheia das regiões, ou seja, os novos helenos recém anexados possuíam sua liberdade de
manter a expressividade cultural em todas as instâncias, ocorria um processo de troca positiva
de ambos os lados, inclusive helenos cultuavam deusas egípcias, tais atos aproximavam
sociedade e culturas distintas. Todavia, o Império Romano possuía táticas de assimilação e
aculturação dos povos dominados, relacionando-se fortemente à questão do ‘’outro’’, como
uma forma de criação de uma realidade colonial7, uma relação entre poder e conhecimento do
outro colonial.
A expansão romana, portanto, explica questões voltadas à sintetização de uma identidade
cultural romana, por isso, a aculturação visando a imposição do ideal Latino é justificada com
discursos civilizatórios.
Acrescentando uma convergência referente aos personagens históricos da antiguidade
trabalhados: tanto Alexandre, o Grande quanto Otaviano Augusto são personagens que,
embora possuindo poderes absolutos – não tanto no caso de Otaviano pois ainda esteve por
anos submetido ao Senado -, são recordados positivamente no imaginário popular, a
construção historiográfica de seus grandes feitos benevolentes referentes a estabilidade
econômica, desenvolvimento cultural – nitidamente -, obras públicas simbólicas como
exemplos Alexandria, no Egito, por Alexandre e, no caso de Otaviano, como descrito em seu
relato autobiográfico, o Templo de Marte.

4.Conclusão

A atividade abordada sobre ambas disseminações territoriais e culturais com ponto de partida
do mundo antigo greco-romano, traçando enfaticamente o caráter cultural de cada conceito
com sua devida importância histórica e, mais importante ainda, seu paralelo historiográfico
entre cada um deles. Observando o que cada um representou em sua temporalidade e, de que
maneira, aproximam-se e se afastam quando se trata de seus aspectos.

Referências:
[1] BRAUDEL, Fernand. Memórias do Mediterrâneo: Pré História e Antiguidade.
Terramar. Lisboa: Multinova, 2001.
[2] BRAUDEL, Fernand. História e Ciências Sociais. 6ºedição. Lisboa: EDITORIAL
PRESENÇA, LDA, 1990.
[3] FUNARI, Pedro. GRILLO, José. OS CONCEITOS DE ‘’HELENIZAÇÃO’’ E
‘’ROMANIZAÇÃO’’ E A CONSTRUÇAO DE UMA ANTIGUIDADE CLÁSSICA. p.
206-207.
[4] BURKE, Peter. Hibridismo Cultural. Editora Unisinos, 2010.

[5] FUNARI, Pedro. GRILLO, José. OS CONCEITOS DE ‘’HELENIZAÇÃO’’ E


‘’ROMANIZAÇÃO’’ E A CONSTRUÇAO DE UMA ANTIGUIDADE CLÁSSICA. p.
209-210.
[6] MENDES, Norma. O ESPAÇO URBANO DA CIDADE DE BALSA: UMA
REFLEXÃO SOBRE O CONCEITO DE ROMANIZAÇÃO. Revista de História e Estudos
Culturais. Rio de Janeiro, Vol. 4 Ano IV nº 1, página 3-4, Janeiro/Fevereiro/Março, 2004
[7] SAID, Edward. Cultura e Imperialismo. Companhia de Bolso. São Paulo: Companhia
das Letras, 2011.
SAID, Edward. Orientalismo: O Oriente como invenção do Ocidente. Companhia de
Bolso. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

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