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Convulsões sociais e conflitos na Antiguidade

Prof.ª Marta Carvalho Silveira

Descrição
A noção de conflito e transformação social na Antiguidade pensando em especial em uma
categoria de transição temporal entre o fim de um período histórico e o início de outro como uma
invenção discursiva.

Propósito
Oferecer ao aluno de História Antiga instrumentos para entender que toda a lógica de transição de
“marcos” históricos é uma construção e que o fenômeno deve ser analisado, como é feito com o
período chamado de Fim do Mundo Antigo.

Objetivos
Módulo 1

Convulsões sociais: a formação da sociedade greco-romana


Identificar os conflitos e as convulsões sociais que estruturam as sociedades greco-romanas.
Módulo 2

Política e identidade nas convulsões e conflitos que levam ao


fim da Antiguidade
Reconhecer as transformações da sociedade romana no fim da Antiguidade.

Módulo 3

O que define o fim de um período histórico?


Examinar os aspectos que desconstroem as características do Império Romano do Ocidente.

Introdução
Não existe em História uma unidade de tempo cronológico linear. Essa é uma concepção
ultrapassada que didaticamente é utilizada, mas, via de regra, é marcada por uma escolha
política que pode ser pessoal do pesquisador ou até de uma sociedade.

Tempo é uma unidade a ser analisada pela interpretação humana, por isso, marcado por
quem produziu sobre o tempo, pelas referências espaciais e pelas disputas sobre a
interpretação. Sendo assim, a noção de crise e conflito dependem de quem observa e o que
deseja discutir ou recortar.

Assim, ao explicar conflitos no Mundo Antigo, temos centenas de possibilidades: Batalha de


Kadesh, Guerra do Peloponeso, Guerras Púnicas, Expansão de Alexandre, o Grande, e a lista
não para. A escolha, no entanto, é se concentrar em um conjunto tão emblemático na
historiografia que é considerado o marco de mudança do período histórico. Por exemplo, o
fim da Idade Antiga e o início da Idade Média, com o foco sobre a sociedade greco-romana
que vive esse processo. Como foi? O que diz a historiografia? Como estudar esse momento?
É isso que vamos explicar no tema e, a partir daí, você terá subsídios para investigar os
conflitos de seu interesse.
1 - Convulsões sociais: a formação da sociedade
greco-romana
Ao final deste módulo, você será capaz de identificar os conflitos e as convulsões
sociais que estruturam as sociedades greco-romanas.

Convulsões sociais na Antiguidade


O primeiro aspecto é definir com clareza do que se trata quando falamos de convulsões sociais. De
alguma maneira, é entendido que nas sociedades tradicionais, antigas, houve um processo de
transição entre sociedades de caçadores e coletores para organizações seminômades e
sedentárias. Essas organizações, mais estáveis, fundam e organizam cidades que passam a ser o
centro de suas relações de poder.
Do poder autônomo de uma cidade liderada por um clã, uma família, ou um conjunto de famílias,
para sociedades mais complexas em que os poderes são disputados e uma rede de lideranças
elabora uma forma complexa de governo, temos sempre associada a esses fatos uma grande
produção de conflitos. Logo, em sociedades tradicionais, tentar associar a um quadro de
instabilidade política o que chamamos de convulsão social é uma visão anacrônica e que precisa
ser evitada. Trataremos por convulsões sociais os movimentos de disputa entre grupos por um
posicionamento diferente dentro dessa estrutura.

Mas, professor, pode dar um exemplo? Sim!

Joseph interpreta o sonho do faraó

Quando a história bíblica de José é contada, é apresentado que ele “cai nas graças” do faraó por
interpretar um sonho que permite ao líder político se preparar melhor para os anos de estiagem. Em
um modelo também conhecido como “modo de produção asiático”, é função do governo garantir
recursos para momentos de crise, evitando que as convulsões sociais se tornem conflitos
conflagrados e que gerem a possibilidade de perda de sua situação de comando.

Outro exemplo que podemos mencionar trata-se de quando os líderes militares passam a exigir a
Péricles que os soldados sejam reconhecidos como cidadãos na Guerra do Peloponeso em virtude
de um conflito com outras poleis, é gerada uma convulsão social que precisa ser mediada e foi
negociada pelo líder político ateniense à frente das decisões políticas durante o conflito.
Famoso discurso histórico de Péricles no final do primeiro ano da Guerra do Peloponeso.

oleis
Plural de pólis, como eram chamadas as cidades na Grécia Antiga.

Então, movimentações de disputas de maior ou menor grau, geradas por pressões militares, por
fome, por fenômenos naturais, são um desafio dos governantes, palacianos, citadinos, faraônicos
ou políades.

As consequências dessas convulsões, que acontecem em meio a conflitos, podem ser diversas,
como supressão e substituição do poder político, negociações, massacres e todas elas geram
necessariamente novas consequências e processos. Cabe ao analista da História estar atento e
perceber esse movimento.

Grécia Antiga
É tarefa difícil responder quem foram os gregos antigos. No século V a.C., em Histórias (VIII, 144.2),
Heródoto de Halicarnasso sugeriu alguns critérios: os gregos seriam aqueles que partilham o
mesmo sangue, falam a mesma língua, cultuam os mesmos deuses, frequentam os mesmos
templos, oferecem os mesmos sacrifícios e têm costumes em comum.

Essa síntese, contudo, oculta enormes variações regionais: as práticas de culto eram diversas,
existiam inúmeros grupos étnicos que, dentre outras coisas, falavam o grego com expressivas
variações dialetais, sem falar nos hábitos variados. Apesar disso, como mostra Heródoto, existiam
diversos critérios que, a despeito da diversidade, eram capazes de promover alguma unidade.

A língua grega era, sem dúvida, fator decisivo de promoção da unidade, mas
a relação com o espaço, com as formas de urbanização, as escolhas
estéticas e padrões arquitetônicos também funcionavam como elementos
que garantiam coesão social.

Invasões externas, baixa demográfica, diminuição das redes de produção e comércio foram
fenômenos que ajudaram a caracterizar as “trevas” com que se denominou o período.

No entanto, arqueólogos e historiadores perceberam que não houve um “limbo histórico”, apesar
das sucessivas crises.

É bem provável que os famosos poemas de Homero, a Ilíada e a Odisseia, tenham sido compostos
oralmente no final desse período.

A formação das poleis marcou não apenas o período seguinte, conhecido como Período Arcaico
(séc. VIII ao VI a.C.), mas toda a história da Grécia Antiga. Um movimento de expansão das
comunidades de língua grega pelo Mar Mediterrâneo permitiu que novas cidades fossem fundadas.
Politicamente, a noção de “cidadania” começa a se estabelecer. O alfabeto grego é inventado, além
das leis e dos jogos pan-helênicos, dos quais os mais célebres foram os Jogos Olímpicos, que
ocorriam a cada quatro anos na pólis de Olímpia. As mudanças no espaço também foram
plenamente sentidas, já que alterações sociais estimulam novas exigências práticas e soluções
estéticas (e vice-versa).

Atenção!

É importante notar que a “acomodação” de grupos diversos e suas representações aparecem nos
templos, quando os grupos locais e as poleis passavam a se representar na figura dos deuses. O
templo não era o espaço somente de oração, mas de paz para mediar os conflitos.

O período que mais recebe atenção dos especialistas, no entanto, é o chamado Período Clássico
(séc. V ao IV a.C.). Foi a época em que a pólis de Atenas se fez a mais famosa do mundo grego.
Trata-se da época imediatamente posterior às chamadas Guerras Médicas, que opuseram as
cidades gregas ao poderoso Império Persa, primeiramente liderados pelo Rei Dario e, em seguida,
por seu filho Xerxes. Os navios de guerra atenienses foram decisivos para garantir a resistência
grega, garantindo a essa cidade particular liderança sobre as demais.

Roma Antiga
O século VIII a.C. foi um importante momento para a fundação de cidades. Como vimos, os gregos
expandiram-se pelo Mar Mediterrâneo e formaram inúmeras poleis e entrepostos comerciais.
Acredita-se que Roma tenha sido fundada em meados desse século, mais precisamente em 753
a.C., mas não pelos gregos. Ainda que diversos grupos étnicos habitassem a região nesse período,
acredita-se que tenham sido os etruscos que, em acordo político com grupos sabinos e latinos,
teriam viabilizado esse acontecimento.

Saiba mais

Infelizmente, os documentos da época são muito escassos, mas os arqueólogos parecem


confirmar que os primeiros assentamentos ocorreram mais ou menos nessa época, ratificando,
pelo menos cronologicamente, as narrativas presentes na documentação textual posterior.

De todo modo, os historiadores costumam dividir a História de Roma em três períodos:

Monarquia

Período que vai da fundação da cidade ao ano de 509 a.C.

República

Período que começa em 509 a.C., e vai até 27 a.C.

Império
P í d i d 27 C 476 C f id t Rô l A t
Período que vai de 27 a.C. a 476 a.C., ano em que foi deposto Rômulo Augusto, o
último imperador romano do Ocidente.

Rômulo também foi o nome do primeiro rei romano. As histórias a seu respeito são bem
conhecidas. Ele e seu irmão gêmeo Remo foram colocados em um cesto e lançados pelo tio
Amúlio nas águas do Rio Tibre. Uma loba os teria resgatado e oferecido graciosamente a teta para
que bebessem. Um pastor, vendo o que acontecia, recolheu os meninos. Quando cresceram,
depuseram Amúlio e pediram autorização para fundar uma cidade. Nova disputa começou, dessa
vez entre os gêmeos. Rômulo se consagrou vencedor, fundou a cidade e tornou-se seu primeiro rex
.

ex
Rei, em latim.

Loba Capitolina. Autor desconhecido. Data: séc. XI-XII. Localização: Museus Capitolinos .

Saiba mais
Trata-se, naturalmente, de uma narrativa mítica, mas que produziu a imagem-símbolo mais popular
de Roma: a chamada Loba Capitolina, esculpida em bronze e inicialmente atribuída ao pintor
etrusco Vulca de Veios. No entanto, por meio da datação por radiocarbono, descobriu-se que o
artefato foi elaborado durante a Idade Média (séc. XI-XII). As crianças, como se percebe pela
diferença estilística, foram uma interpolação tardia, ocorrida provavelmente em 1471, quando a
estatueta foi doada à cidade de Roma e transferida para o Capitolino.

Os desenvolvimentos da cidade durante a monarquia foram notáveis. Os primeiros assentamentos,


bem simples, cederam lugar a uma estrutura urbana complexa. O latim se consolidou como a
língua corrente. Foi também nessa época que se legitimou o poder do Senado e a divisão da
sociedade, seguindo critérios censitários, entre:

Patrícios

Os patrícios ocuparam os principais espaços de poder no início da República.


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Plebe

A plebe, composta por homens livres, pequenos agricultores, comerciantes e artesãos.

Essa sociedade, fortemente ligada às atividades agrícolas, foi governada não só por reis latinos,
mas também por reis etruscos, cujas influências foram notáveis na estética e arquitetura latinas,
mas também na política, nos costumes e religião. No entanto, conta-se que a monarquia foi
derrubada pelos excessos de Tarquínio, o último rei etrusco. Ele teria violentado uma jovem
chamada Lucrécia que, por vergonha, cometeu suicídio. A reação dos romanos foi bastante
enfática: liderados por Júnio Bruto, expulsaram Tarquínio, aboliram a realeza e juraram jamais
permitir que a cidade fosse governada por outro rei. A mudança de regime garantiu a instauração
da República em 509 a.C.

A plebe passou a reivindicar mais direitos e deu início a uma luta social que persistiu por muitos
séculos. Em 450 a.C., as Leis das XII Tábuas foram escritas e não apenas se tornaram a base do
que veio a ser conhecido como Direito Romano, mas também instituíram direitos até então
inexistentes. Novas conquistas foram se acumulando, desde a autorização para casamentos entre
patrícios e plebeus à determinação de que um dos dois cônsules (magistratura mais importante da
República) fosse sempre plebeu. As lutas sociais e desigualdades entre as classes persistiram em
boa medida, mas, do ponto de vista institucional, as lutas da plebe garantiram muitos avanços.

A gravura das Doze Tábuas.

O crescimento da cidade aumentava o afluxo de bens e riquezas, mas também de ameaças


externas. Além da famosa invasão dos gauleses que, liderados por Breno, sitiaram Roma e exigiram
um enorme preço em ouro para sua libertação, os exércitos de Cartago, sobretudo os liderados por
Aníbal, fizeram Roma temer a própria desaparição. As famosas Guerras Púnicas, ocorridas ao
longo do século III a.C., representaram importante incentivo para a expansão da cidade.
Aníbal vitorioso contemplando pela primeira vez a Itália (1770), de Francisco de Goya.

No início, a ocupação de territórios na Península Itálica tinha uma proposta defensiva, visando
manter eventuais hostilidades distantes da urbe. Com o tempo, no entanto, as vitórias nas guerras
se mostraram extremamente lucrativas, tanto pela aquisição de novos territórios, com riquezas
naturais e terras agricultáveis, como pela escravização dos derrotados e insurgentes.

Nesse contexto, as desigualdades sociais aumentaram devido à concentração dessas riquezas e,


quando Roma se tornou mais rica, tornou-se também muito instável politicamente.

Uma sucessão de crises do sistema político republicano caracterizou os


século II e I a.C.

Os costumes políticos foram gradualmente sendo rompidos e a lógica do poder pessoal,


extremamente militarizado, tornou-se mais comum do que se esperava à época da fundação da
República. Os conflitos que culminaram com a ascensão e queda de Júlio César podem ser
tomados como a síntese dos problemas enfrentados por Roma nesse período.

A situação muda significativamente quando Otávio, sobrinho-neto de César, assume o poder após
vencer a guerra particular contra Marco Antônio. Com respaldo do Senado, Otávio Augusto recebe
uma série de honrarias, que incluíram até mesmo mudanças no calendário: os meses de agosto e
julho passaram a ser assim nomeados em homenagem a ele, Augusto, e seu tio, Caio Júlio César.
Com uma série de obras públicas, Otávio garantiu trabalho para os cidadãos mais empobrecidos.

Mudanças urbanas foram percebidas em todo o Império. Acordos políticos acomodaram as


reivindicações de lideranças tradicionais. Os poderes locais também foram negociados. Seu
prestígio tornou-se muito elevado e não havia adversários políticos capazes de abalá-lo.

Estátua de Otávio Augusto.


Após diversos anos marcados por guerras civis, Augusto inaugurou um período de 250 anos sem
conflitos internos relevantes, época que ficou conhecida como pax romana (31 a.C.-235 d.C.). O
Senado também lhe outorgou o imperium, conceito romano ligado à autoridade e que assegurava,
do ponto de vista político, o direito de convocar as tropas, tomar auspícios, deter e punir cidadãos,
além de administrar a justiça de assuntos privados. É a posse do imperium que assegurava o título
de Imperador que, por correspondência, passou a designar esse último período da História
Romana.

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Convulsões sociais no Mundo Antigo
Neste vídeo, discutiremos o conceito de convulsão social e conflito.

Falta pouco para atingir seus objetivos.


Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Um das mudanças mais importantes sobre a organização dos gregos e a maneira de
representar a sua sociedade está nos templos. Os templos representaram uma importante
mudança na relação que os gregos mantinham com o espaço. Deuses podem ser uma forma
importante de conflito em uma sociedade. Sobre essa relação, é correto afirmar que:

A Os gregos incorporaram divindades cujo culto exigia obras monumentais.

As construções estimularam um sentido de espaço público ligado à formação


B
B
das poleis, dando identidade a grupos e à diferenciação com outros.

Os templos gregos foram construídos como espaço de sepultamento de reis e


C
membros da elite.

Os templos gregos funcionavam exclusivamente como espaço para banquetes


D
rituais.

Usados como depósito de excedentes agrícolas, os templos desempenhavam


E
funções exclusivamente econômicas e administrativas.

Parabéns! A alternativa B está correta.


Os templos passam a ser espaços limite de resolução de conflitos, eram os tesouros
guardados ali, o espaço de refúgio. A discussão pública da ágora – a praça – passava pelo
papel simbólico do deus da cidade ou de um de seus grupos, por isso a religião é vital para
entender conflitos e convulsões sociais.

Questão 2
Roma foi um dos impérios mais vastos e longevos da História. Apesar de o termo “império”,
sua história tem formas políticas diversas e mediações de conflitos de modos variados. Em
relação às convulsões sociais do mundo romano, podemos afirmar que:

Desde o século XX a.C., na região do Lácio, é possível observar a


A monumentalidade dos exércitos romanos e a sua capacidade de transformar o
mundo.

O levante da plebe contra a ausência de um sistema legal que permitisse a


B
condição de defesa e a solução com a criação da construção das XII tábuas.
Um dos primeiros edifícios públicos de Roma foi o Coliseu, o que mostra o
C
apreço dos latinos pelos jogos de gladiadores.

Não há qualquer vestígio que permita conhecer as primeiras ocupações de


D
Roma, e qualquer sinal de que tenha havido conflitos.

Roma tinha mais interesse em assegurar seu poder nas áreas conquistadas,
E assim, mantinha a cidadania controlada somente com os primeiros membros
das famílias romanas.

Parabéns! A alternativa B está correta.


Convulsões sociais em Roma foram um grande desafio desde sua formação, na Monarquia,
tanto que levam ao fim do governo de Tarquínio e a chegada da República, e mesmo na
República os desafios foram grandes. As disputas nos pleitos com a plebe eram algo
fundamental.
2 - Política e identidade nas convulsões e conflitos
que levam ao fim da Antiguidade
Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer as transformações da
sociedade romana no fim da Antiguidade.

Debate historiográfico sobre o fim do mundo antigo


De quem é a culpa?
O século que se refere ao marco cronológico do “fim” da Antiguidade e ao “início” da Idade Média é
marcado por grandes controvérsias historiográficas. Como acontecimento fundante dessa
transição temporal está a “queda” do Império Romano Ocidental. O historiador José da Assunção
Barros explica a importância que a historiografia, especialmente aquela produzida no século XIX,
atribuiu a esse período transitório em virtude de dois elementos que foram legados ao Ocidente
pelo mundo romano: os valores greco-romanos e o cristianismo.

Neste módulo, você aprenderá sobre os fatores históricos que caracterizaram a história romana a
partir do século III e causaram transformações políticas, econômicas, sociais e culturais no mundo
romano e sobre como a historiografia tem se debruçado sobre esse período transitório.

O século III representa um marco temporal bastante significativo na história do Império Romano.
Nele, podemos identificar fatores políticos, econômicos, sociais e culturais que desencadearam
amplas transformações nos aspectos internos e externos do mundo romano.
Dado o amplo impacto que essas transformações propiciaram ao seu contexto, alguns
historiadores situam nesse século a “crise” do Império Romano. Contudo, há claras divergências
entre os historiadores sobre os fatores que desencadearam tal crise. Alguns, como Gibbon,
consideram que a difusão do cristianismo pelo Império corroeu as bases da cultura romana,
especialmente a religiosa, comprometendo, assim, o senso de identidade do cidadão romano, que
cada vez menos distinguia-se dos germânicos que adentravam no Império. Nas palavras do autor:

Um exame franco mas judicioso do avanço e estabelecimento do


cristianismo pode ser considerado parte deveras essencial da história
do Império Romano. Enquanto esse grande organismo era invadido pela
violência sem freios ou minado pela lenta decadência, uma religião pura
e humilde se foi brandamente insinuando na mente dos homens,
crescendo no silêncio e na obscuridade; da oposição, tirou ela novo
vigor para finalmente erguer a bandeira triunfante da Cruz sobre as
ruínas do Capitólio.

(GIBBON, 2005, p. 325)

Divergindo de Gibbon, Ferril (1989), identificou a crescente entrada de soldados e generais


germânicos no exército romano como um fator decisivo na descaracterização dessa instituição
que, até então, era considerada um elemento constitutivo da identidade romana, como o fator
desencadeador da crise imperial. De acordo com Ferril:

A verdade é que o Império Romano do Ocidente caiu. Nem todo aspecto


da vida dos súditos romanos foi modificado por isso, mas a queda de
Roma como entidade política foi um dos acontecimentos capitais da
história do homem ocidental. Simplesmente não adianta chamar essa
queda de mito, ou ignorar seu significado histórico pelo simples fato de
apontar os aspectos da vida romana que sobreviveram à queda de uma
ou outra forma. Ao romper o século V, um maciço exército, talvez com
efetivo superior a 200 mil homens, estava a serviço do imperador do
Ocidente e de seus generais. Em 476, ele acabou. A destruição do
poderio militar romano no século V d.C. foi a causa óbvia do colapso do
governo romano no Ocidente.

(FERRIL, 1989, p. 24)

Contrapondo-se aos demais autores, Rostovtzeff (1926) atribuiu a queda de Roma a uma luta de
classes que reuniu camponeses e soldados em um conflito comum contra a elite proprietária de
terras no mundo romano que, a partir do século III, em função do fim das guerras de conquista que
alimentavam o Império com a sua mão de obra fundamental, a escravizada, aumentou a pressão
fiscal sobre o campesinato que, envolto em dívidas, perdeu as suas terras. A essa perspectiva, Ferril
contrapôs-se radicalmente.

Propondo um caminho diverso, A. H. M. Jones identificou a necessidade de se levar em


consideração que, quando se trata da “queda” ou do “declínio” romano, os estudiosos estão se
referindo à estrutura romana ocidental, e não a oriental, que sobrevive até o século XV sob o nome
de Império Bizantino.

Logo, o que está em jogo é desvendar os fatores que promoveram a desagregação do Império
Romano Ocidental. Após estudar os fatores históricos do período sob as óticas políticas,
econômicas, sociais e culturais, de acordo com Ferril, a queda de Roma no Ocidente foi este “estar
mais exposto às arremetidas bárbaras” (FERRIL, 1989, p. 23).

O fato é que, por fatores religiosos ou político-militares, o mundo romano do século III teve a sua
estrutura abalada por uma série de eventos internos e externos que comprometeram a integridade
do Império. Logo, longe de entender que a “queda” do Império Romano possa ser explicada a partir
de uma causa específica, consideramos que se trata de um fenômeno político complexo e
pluricausal. Passemos a considerar os fatores políticos, socioeconômicos e culturais que foram
desencadeados a partir do século III no mundo romano e que comprometeram a sua integridade.

Poderes e a política no Império Romano tardio


Jogos de poder no Império Romano
Antes de iniciarmos um estudo mais aprofundado acerca dos aspectos políticos que
caracterizaram os séculos finais do Império Romano, convém esclarecermos alguns elementos que
marcaram a sua formação. Sobre esse aspecto, Norberto Guarinello (2008) questionou a ideia
amplamente difundida entre os estudiosos de um Império Romano coeso e unificado, considerando
que esse império foi formado, sobretudo, a partir da junção de cidades, inicialmente italianas (tendo
a cidade de Roma como a capital) e posteriormente mediterrânicas.

Nessas cidades, desenvolveu-se “uma elite escravista, rica em terras e pessoas escravizadas, que
produzia produtos agrícolas e artesanais vendidos em todo o Mediterrâneo” (GUARINELLO, 2008, p.
11). Logo, o centro expansionista romano era “virtual”, no sentido de que a cidade de Roma era a
capital do império, mas politicamente a liderança encontrava-se não mais nela, e sim no “conjunto
de cidades da Itália, das colônias romanas e de todos os locais onde houvesse cidadãos romanos”
(GUARINELLO, 2008, p. 11).
A pergunta que se levanta para os estudiosos que estudam o Império Romano é:

De que modo uma estrutura tão heterogênea como a que se estabeleceu no


período imperial romano se manteve coesa?

Guarinello, divergindo de Ferril, atribui a manutenção da coesão romana não exclusivamente à ação
do exército romano, mas a um conjunto de tendências gerais identificadas no sistema imperial:

O estabelecimento do culto imperial como símbolo da cidadania romana e da submissão ao


imperador;
A extensão progressiva da cidadania romana e do direito romano, que garantiam um senso de
identidade aos cidadãos e a preservação dos seus direitos;
A tolerância em relação à diversidade étnica e aos costumes dos povos dominados pelas
autoridades romanas;
A releitura e a inserção das crenças locais em um panteão pluriétnico, incorporando novas
divindades ao panteão romano, promovendo um sincretismo religioso;
A criação de duas áreas linguístico-culturais específicas, dotadas de prestígio social e de
eficácia político-administrativa: aquela em que predomina o latim (Ocidente) e a outra em que o
grego é predominante (Oriente) (GUARINELLO, 2008, p. 13).

Guarinello considera, então, que a grande força política constitutiva do Império era o equilíbrio
mantido entre as forças políticas citadinas que o formavam e que representavam os seus principais
centros de distribuição de riquezas. Nas palavras do autor:

O Império Romano era um Império de cidades e, ao mesmo tempo, o


Império de uma cidade.

(GUARINELLO, 2008, p. 11)


Em meio a tanta diversidade, o Império Romano conseguiu expandir-se e manter a sua integridade
política durante alguns séculos, mas não sem que as tensões eclodissem, especialmente a partir
do século III, quando o Império já não se alimentava da conquista de novas terras para garantir o
equilíbrio econômico entre as forças produtivas e entre as forças políticas que o lideravam. As
revoltas provinciais se tornaram uma constante, sendo conduzidas por generais romanos apoiados
por grupos aristocráticos locais.

Saiba mais
Os “inimigos do lado de lá da fronteira” a que Ferril se refere também poderiam ser conhecidos
como povos bárbaros ou povos germânicos. Os romanos, a exemplo dos gregos, consideravam
como “bárbaros” os povos que viviam fora do “limes” (fronteira) romano e que não partilhavam da
sua cultura.

Reestruturação da fronteira política romana


Em busca dos “bárbaros”
Os primeiros contatos dos romanos com os povos germânicos se deu a partir, justamente, do
processo de constituição da ordem imperial, quando o movimento de expansão política e territorial
romana se expandiu para além da Península Itálica. Por essa altura, no século I a.C., as tribos
germânicas eram nômades ou seminômades e viviam dos recursos que conseguiam adquirir a
partir das suas atividades de coleta em terras férteis que permitissem a aquisição de recursos
alimentares.

Ao levar adiante o seu projeto de expansão territorial, os romanos foram relacionando-se com
esses povos de diversas formas, que envolveram tanto a submissão militar quanto o
estabelecimento de pactos de federação.

Saiba mais
A forma como as autoridades romanas lidaram com esses “bárbaros” não foi homogênea, os
acordos estabelecidos e os mecanismos de controle foram diferenciados. Isso porque tais povos
não formavam uma entidade única, sendo caracterizados por uma ampla variedade de tipos étnicos
que se espalharam pelo território ocidental do Império a princípio situando-se nas atraentes
fronteiras onde podiam ter acesso aos produtos e aos bens ali produzidos, e posteriormente,
aproveitando-se da instabilidade política e militar, para iniciarem processos migratórios e invasivos
nos territórios imperiais.

A instabilidade política e econômica que caracterizou o século III romano sem dúvida ampliou os
movimentos de migração e de invasão das tribos germânicas e pressionou as autoridades
provinciais e imperais a criarem estratégias para lidar com essa ampla gama de povos ansiosos por
desfrutar das riquezas e dos benefícios que o mundo romano tinha para lhes oferecer.

A batalha de Clóvis I (r. 481–511) contra os visigodos.

Antes de avançarmos para o entendimento do processo de interação e de dominação que marcou a


relação entre romanos e germânicos, é importante compreendermos que o uso do termo
“germânico” para designar esse conjunto de povos “bárbaros” foi forjado no âmbito linguístico e
historiográfico do século XIX.

Em busca da elaboração de uma história nacional que espelhasse as origens das nações europeias,
fortalecendo as lideranças políticas do período, especialmente em um contexto em que a
delimitação dessa identidade estava relacionada à necessidade de demarcar o seu espaço na
corrida imperialista que motivava os Estados europeus em busca de recursos para ampliar os seus
parques industriais, foram promovidos estudos étnicos, linguísticos e históricos que identificassem
os povos que, juntamente com os romanos, povoaram o continente europeu na Antiguidade e na
Idade Média.

Saiba mais
Os estudos filológicos implementados, sobretudo na Alemanha, e que serviram como modelo para
os demais países europeus, contribuíram para a difusão da noção de que as línguas nacionais
descendiam das línguas antigas faladas nas distintas regiões do continente. Os filólogos
identificaram quatro subfamílias linguísticas no continente europeu: germânica, eslava, românica e
helênica.

Os povos conhecidos como “bárbaros” com os quais os romanos tiveram contato em seu território
ocidental foram nomeados pelos filólogos do século XIX como germânicos, respeitando-se a
subfamília linguística. Como concluiu Patrick Geary:

Desse modo, os filólogos estabeleceram um meio pelo qual os


nacionalistas puderam projetar sua nação em passados remotos.

(GEARY, 2005)

Logo, suevos, godos, bretões, jutos, saxões, vândalos, burgúndios e tantos outros povos foram
categorizados como “povos germânicos” e passaram a ser reconhecidos pela historiografia sob
essa nomenclatura. Veja o mapa a seguir que apresenta a localização de algumas das tribos
germânicas no território romano ocidental.
Mapa

A cada vez maior entrada dos germânicos no Império forçou-o a absorvê-los


de alguma forma em sua estrutura ou submetê-los militarmente.

Para maior entendimento, observe a seguir:

Século III

O século III foi marcado pela instabilidade política crescente que indispunha generais e
imperadores a ponto de, em um período de duas décadas, Roma ter sofrido inúmeros golpes
de estado que conduziam generais ao trono imperial, os chamados “imperadores de caserna”.
close

Século IV

O século IV pode ser entendido como um momento em que as forças imperiais romanas
buscaram reaver o controle sobre a máquina governamental. Diocleciano (284-305),
Constantino e Teodósio foram aqueles que, em um projeto político quase continuativo,
buscaram fortalecer as bases políticas centrais do Império.

Os imperadores que mudam o jogo


Todos somos romanos
Diocleciano chegou ao trono imperial a partir da sua ascensão no exército, onde era general e
manteve-se nele durante quase vinte anos, empreendendo reformas administrativas, militares e
religiosas que resultaram na reorganização do Império.

A principal medida tomada foi a divisão do Império em quatro zonas de comando. A tetrarquia
estabelecida, onde dois césares e dois augustos governavam concomitantemente as áreas
imperiais a ocidente e a oriente.
Busto de Diocleciano.

Além disso, Diocleciano aumentou o número de províncias imperiais, subdividindo as anteriores


(diluindo, assim, as forças opositoras) e mantendo-as pacíficas também por meio do uso da força
militar. O imperador ampliou ainda mais a entrada de germânicos no exército romano, já iniciada
pelo imperador Caracala, no século anterior.

A entrada de soldados germânicos no exército significou um grande avanço nas relações entre os
romanos e algumas das tribos germânicas que se tornaram aliadas imperiais no combate a outros
povos germânicos que ameaçavam a integridade do território romano. Dessa forma, fica claro que
não havia entre os povos germânicos uniões políticas prolongadas ou mesmo união militar. Há,
sim, registros de formações de federações germânicas que tinham um caráter eventual e que
estavam condicionadas ao esforço conjunto de conquista de um território específico. Foi o caso,
por exemplo, dos godos que se organizaram entre ostrogodos e visigodos no entorno da Mésia, e
entre aliados e a exigência do reconhecimento de suas “autonomias” no século IV.

A larga difusão da cidadania romana e a abertura da entrada de germânicos no exército romano


sem dúvida alterou a própria noção de identidade de romanos e germânicos. Geary chama atenção
para o fato de que essa distinção identitária era pouco empregada no mundo romano do século IV:
Os estudos etnográficos modernos da identidade revelam que, na
maioria das vezes, são os grupos fronteiriços que formam as
identidades “étnicas” mais importantes, geralmente em oposição ao
“outro” com quem interagem, o que não ocorre com os habitantes do
centro. Assim, como a maioria dos cidadãos romanos vivia cercada por
outros cidadãos, já que muito raramente se deparavam com os
“germânicos livres” do outro lado do Danúbio ou se arriscava nas areias
do Saara para interagir com os berberes, sua “romanidade” era menos
importante do que outros fatores na determinação de sua identidade
essencial.

(GEARY, 2005, p. 82)

O contato político-militar crescente entre romanos e germânicos e a absorção de alguns desses


povos na estrutura romana por meio da expansão da cidadania e na composição do exército
ampliou a influência que a cultura romana exerceu sobre a germânica.

Saiba mais

O termo “romanização” surge na historiografia de fins do século XIX e início do XX para explicar o
contato entre os romanos e os outros povos, ou melhor, a forma como a adoção dos padrões
estéticos, das práticas de consumo e de produção dos romanos foi encontrada nas províncias e
nas regiões de fronteira do Império.

Um grande debate em torno do conceito de romanização vem animando a historiografia atual pelo
menos desde as décadas de 1970 e 1980, que tem rejeitado a noção de que a difusão da cultura
romana entre os povos germânicos representou a implantação da civilização sobre a barbárie.

Tal perspectiva difundida principalmente em fins do século XIX e início do XX, com o nascimento da
Antropologia Cultural, condenava a distinção das sociedades entre “civilizadas” e “bárbaras” e a
perspectiva evolucionista em relação aos modelos sociais, considerando, ao contrário, que cada
sociedade só pode ser efetivamente compreendida devidamente a partir das suas características
próprias, sem a utilização de modelos dicotômicos entre culturas superiores e inferiores que
expressam, em grande parte, uma perspectiva eurocêntrica.
Os movimentos nativistas da década de 1970 e 1980, em busca de um entendimento mais efetivo
sobre as bases históricas das nações em um contexto em que a descolonização e as novas
configurações políticas surgidas com o mundo da Guerra Fria e, mesmo, da sua dissolução, levou
os historiadores a debruçarem-se novamente sobre as matrizes historiográficas produzidas até
então para o estudo do Império Romano.

O uso do conceito de romanização, viabiliza o estudo do dinamismo das trocas dos mais diversos
níveis ocorridos na bacia do Mediterrâneo romano.Dessa forma, seria possível entender as diversas
dinâmicas que caracterizaram a interação entre romanos e germânicos nas diversas províncias do
Império

omanização
É criticado a utilização por ser genéricos e vinculado ao ideal de conquista romana.

As medidas tomadas por Diocleciano ampliaram a romanização no Império e foram continuadas no


governo de Constantino (337-340).

Constantino abandonou a tetrarquia e retomou o controle central do Império, que tinha as suas
fronteiras frequentemente ameaçadas pelo deslocamento dos povos germânicos, o que fez com
que o imperador investisse em um exército móvel que se deslocasse a partir de um centro para
garantir as defesas do território imperial.
A transição do centro de poder para o Oriente
Rumo ao Oriente
Além dos investimentos militares, Constantino, cada vez mais consciente de que a sobrevivência
econômica do Império dependia das províncias orientais, transferiu, em 330, a sua corte imperial
para a cidade de Bizâncio, uma antiga colônia grega que desempenhava um papel comercial
primordial na dinâmica econômica do Mediterrâneo, e posteriormente ficou conhecida como
Constantinopla, atual Istambul, capital da Turquia.

Atual Istambul, capital da Turquia, antiga Constantinopla.


Situada no Estreito de Bósforo, Bizâncio era o ponto crucial nas rotas comerciais que ligavam o
Mediterrâneo ao Extremo Oriente, conhecidas como rotas da seda. Afora a sua liderança
econômica, Bizâncio possuía uma agricultura pujante durante esse período que lhe garantia um
papel importante na economia imperial.

E, segundo Wim Blockmans e Peter Hoppenbrouwers (2012, p. 24), além dos fatores apontados
anteriormente, o imperador Constantino também pretendia distanciar-se da classe senatorial
romana que pretendia se manter fiel ao paganismo, resistindo aos esforços do imperador que
empenhava-se em defender a expansão do cristianismo pelo mundo romano.

Estátua do imperador romano Constantino.

Entre os reinados de Constantino e de Teodósio as disputas políticas internas e as rebeliões


provinciais se intensificaram, bem como os esforços dos inúmeros imperadores em detê-las.

Saiba mais

Além disso, o deslocamento dos povos germânicos para o território ocidental do Império ampliou-
se ainda mais com a chegada dos hunos, povos de origem asiática, ao Ocidente.

Conduzidos por Átila, iniciou as suas expedições em 434, sobre as fronteiras orientais do Império e
as províncias dos Balcãs, e em 451, saqueou o norte da Gália, além de posteriormente promover
saques nas cidades da Planície do Pó, na Península Itálica.
Átila foi o governante dos hunos em 434-453.

O avanço das forças hunas aumentou significativamente a entrada dos germânicos no Império.
Sobre esse movimento, Jacques Heers chamou a atenção para o fato de que os grandes feitos de
armas ou combates decisivos que os cronistas se empenham em ressaltar, como a travessia do
Reno pelos vândalos e seus aliados, em 406, não foram a regra da forma como se desenvolveram
as relações entre romanos e germânicos. Nas palavras do autor:

Com maior frequência, os bárbaros introduzem-se no Império sem


choques, à custa de acordos variados que lhes abriam pacificamente o
limes: infiltrações lentas e insensíveis, migrações mais do que invasões.
[...]. A ambição dos bárbaros era obter dos romanos a hospitalidade, que
lhes assegurava terras em troca de serviços militares e do respeito às
leis do Império.

(HEERS, 1988, p. 13)

Por meio de uma manobra política e militar, Teodósio (347-395) assumiu o trono imperial e
estabeleceu uma série de medidas administrativas que visavam garantir a sobrevivência
econômica do Império, além de conter o avanço dos germânicos nas fronteiras ocidentais. Dentre
elas, podemos situar o tratado de federação (foedus) estabelecido com os visigodos por meio do
qual o Império lhes cedia territórios e os inseria na defesa do Império, tendo o direito de manter os
seus próprios governantes e as suas armas. Como afirma Jacques Heers:
As tribos, populações ou povos inteiros, obtinham assim um foedus,
tratado que precisava as condições de estabelecimento dos federados
em terras abandonadas ou nos domínios de grandes proprietários
romanos.

(HEERS, 1988, p. 13)

Contudo, a medida político-administrativa mais impactante tomada pelo imperador foi a divisão do
Império Romano em duas partes:

A divisão do Império, por mais que inicialmente não tenha sido estabelecida para efetivamente
isolar as duas partes regiões, mas sim facilitar a sua administração, em longo prazo representou a
sobrevivência do Império no Oriente e a desagregação do domínio territorial romano no Ocidente.

Saiba mais
Blockmans e Hoppenbrouwers consideram que “Os imperadores do século IV fizeram tudo o que foi
possível para dar a Bizâncio — ou Constantinopla (“cidade de Constantino”) como logo passou a ser
chamada — alguma aura de Roma” (BLOCKMANS; HOPPENBROUWERS, 2012, p. 25) investindo em
obras públicas monumentais e “amenidades públicas” características da cultura urbana romana,
tais como: foros, termas, teatros e pistas de corrida.

No século IV, então, Bizâncio se tornou o centro político do mundo romano e ampliou
consideravelmente o seu escopo populacional, o que em muito esvaziou o prestígio da cidade de
Roma, que se viu mais exposta às lutas internas pelo poder e aos saques constantes realizados
pelas tribos germânicas.

Após diversos embates, Roma foi efetivamente dominada e saqueada por um povo germânico, os
hérulos, que depuseram o último imperador romano do Ocidente, Rômulo Augusto. O ano de 476 é
tradicionalmente considerado como o marco temporal do “fim” do Império Romano Ocidental, mas
o Império Romano Oriental, ou Império Bizantino, manteve-se íntegro até o ano de 1453, quando a
cidade de Constantinopla foi ocupada pelos turcos otomanos.

Queda de Constantinopla.

Entendidos os fatores políticos internos e externos que comprometeram a integridade do Império


Romano, passemos a considerar as condições socioeconômicas que se desenvolveram no Império
a partir do século III.

video_library
Migração, invasão ou assimilação? Bárbaros e
romanos
Neste vídeo, veremos os conceitos de migração, invasão ou assimilação. Também falaremos sobre
bárbaros e romanos.

Falta pouco para atingir seus objetivos.


Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1

Inúmeras rebeliões que ocorreram nas províncias romanas a partir, sobretudo, do século III
fizeram parte de um debate sobre o que leva ao “fim” do Império Romano do Ocidente.
Identifique a alternativa que explica os fatores que levaram ao fim do Império Romano:

A disputa por terras e pelo poder político entre a aristocracia provincial e a


A
aristocracia senatorial romana.

As rebeliões dos escravos em relação aos seus senhores que desagregaram as


B
cidades e o sistema econômico.

C As invasões germânicas que destruíam as terras e desmontaram o governo.

As lutas entre os membros da elite religiosa que com o cristianismo levaram à


D
fragilidade o ímpeto romano.

As rebeliões foram complexas e marcadas por fatores diversos, econômicos,


E sociais, políticos, não podendo ser atribuída de maneira indiscutível uma queda
definitiva por um fator.

Parabéns! A alternativa E está correta.


As opções fazem posicionamento de um dos grupos da historiografia sobre o fim do Império,
mas só a letra E definitivamente explica que não existe uma culpa, mas uma discussão em
curso em que o mundo está em transformação e esta culmina no fim do que politicamente era
reconhecido como Império Romano do Ocidente.
Questão 2

O debate sobre o papel dos bárbaros no fim do Império é construído por paixões, mas que ao
ser analisado de forma mais cuidadosa, é possível notar que está imerso em dinâmicas em
dois sentidos. Um dos fatores que explica o papel dos bárbaros no Império Romano a partir do
século III:

A política imperial de favorecimento do campesinato com a distribuição de


A
terra pelo Estado para grupos estrangeiros.

A imposição do serviço militar à população romana, que foi respondida como


B
solução de utilizar os povos bárbaros em seu lugar.

Os saques e as pilhagens realizadas nas cidades devido às revoltas constantes


C
e às invasões germânicas.

A perda de controle dos romanos sobre as rotas comerciais terrestres pela


D
violência das estradas.

As invasões militares são um dos movimentos possíveis, entre migrações, e a


E dinâmica da romanização, que contribui para um lento processo de assimilação
e autonomia desses grupos no Império.

Parabéns! A alternativa E está correta.


A ideia do bárbaro como sendo eternamente o outro, que vem para destruir o mundo romano, é
um equívoco, foram vários movimentos e trocas culturais constantes.
3 - O que define o fim de um período histórico?
Ao final deste módulo, você será capaz de examinar os aspectos que desconstroem as
características do Império Romano do Ocidente.

Aspectos socioeconômicos
Desmontando a economia
O Império Romano foi constituído com base na expansão territorial empreendida pela aristocracia
romana em busca de novas terras agrícolas, a partir da Itália, durante o período republicano.

O crescimento territorial experimentado com o avanço do poder imperial contribuiu tanto para
saciar o desejo dos aristocratas romanos por novas terras produtivas, mas também contribuiu para
que esse grupo aristocrático se diversificasse e entre eles fossem instauradas tensões políticas
que resultaram nas inúmeras revoltas provinciais.

Saiba mais

A nobreza senatorial romana, aquela que representava originalmente o grupo aristocrático,


dominava os principais cargos públicos referentes à administração central do Império.
Sobre a origem das principais famílias aristocráticas imperiais, escreveu Geary:

As famílias importantes do Império possuíam terras em muitas


províncias: latifúndios na África, na Gália e até mesmo na própria Itália,
caso fizessem parte do Senado romano. Essas famílias, pertencentes à
mais alta classe do Império, sustentavam a plenitude da tradição
romana, o que poderia significar a rejeição ou supressão de suas raízes
provincianas.

(GEARY, 2005, p. 89)

Nota-se, então, que o domínio territorial e político dessas famílias se estendia por todo o Império e
os cargos administrativos imperiais nas províncias. Conforme as forças romanas avançaram,
alguns desses cargos passaram a ser exercidos também pelas elites locais dos povos
conquistados que se integraram à estrutura político-burocrática romana e passaram a integrar-se à
aristocracia romana nas províncias, formando uma força política à parte que, conforme o século III
avançava, tornava-se cada vez mais rebelde ao poder central imperial romano.

A elite da sociedade romana.

A fusão contínua entre a aristocracia provincial, reunindo componentes


germânicos e romanos, e a sua contraposição em relação à autoridade
imperial, foi um dos fatores que mais ameaçou a integridade do Império com
revoltas que pipocavam nas diversas províncias.
De acordo com historiadores como P. Anderson e P. Geary, o domínio das terras agrícolas era o
principal fator econômico a contrapor as forças aristocráticas e opô-las também ao campesinato
livre e aos sujeitos escravizados.

As bases econômicas do Império assentavam-se, sobretudo, na produção agrícola realizada nos


latifúndios e no trânsito comercial mediterrânico, sendo a mão de obra escravizada, aplicada nas
mais diversas atividades, a base da produtividade. Conforme informa Perry Anderson, o suprimento
de pessoas escravizadas dependia diretamente das conquistas estrangeiras:

Já que os prisioneiros de guerra provavelmente sempre haviam


proporcionado a principal fonte de trabalho servil na Antiguidade. A
República saqueara todo o Mediterrâneo para obter sua mão de obra,
para instalar um sistema imperial.

(ANDERSON, 1987, p. 73)

Com o fim da expansão territorial romana e das guerras de conquista, principal motor de geração
da mão de obra escravizada, o Império enfrentou uma escassez de mão de obra que alguns
historiadores, como Anderson, consideram como um fator primordial na deflagração da crise do
século III.

Dessa maneira não houve um aumento de produção nem na agricultura


nem na indústria dentro dos limites imperiais, para contrabalançar o
silencioso declínio de sua mão de obra servil, uma vez cessada a
expansão externa.

(ANDERSON, 1987, p. 79)

A escassez da mão de obra escravizada ampliou a utilização da mão de obra camponesa livre. A
presença de pequenos e médios proprietários de terras foi ampliada na República romana, mas
durante o período imperial a força produtiva agrícola concentrava-se nos latifúndios controlados
pelas forças aristocráticas.
A tensão crescente nas cidades em função das revoltas internas e dos saques promovidos pelos
povos germânicos forçou a saída de uma grande fatia populacional das cidades para o campo.
Esse êxodo urbano liberou um considerável volume de mão de obra camponesa livre para atuar nas
vilas romanas pertencentes à aristocracia que, nesse momento, carecia da mão de obra
escravizada. Os latifundiários, então, acomodaram os seus escravizados em lotes menores e
deixaram que eles se autossustentassem recolhendo o excesso de produção.

Saiba mais

As aldeias de pequenos e médios proprietários “caíram sob o patrocínio de grandes propriedades


agrícolas em busca de proteção contra as arrecadações fiscais e o recrutamento pelo Estado e
viveram a ocupar posições muito semelhantes às dos ex-escravizados.” (ANDERSON, 1987, p. 90).

O resultado dessas transformações econômicas na área agrícola foi a criação e difusão das
relações de colonato. E quem era o colono? De acordo com Perry Anderson (1987, p. 90), era o
rendeiro camponês dependente, amarrado à propriedade de seu senhor, pagando-lhe aluguéis em
bens ou em dinheiro por lote ou trabalhando em seu cultivo em base de menção.

Os latifundiários, em geral, permitiam que os colonos retivessem metade do que produziam em seu
lote. Dessa forma, desobrigavam-se de prover o sustento dos colonos, garantindo somente o seu
acesso à terra e a defesa diante dos perigos militares (invasões, rebeliões, saques e pilhagens).

Os colonos também se encontravam isentos do serviço militar e o pagamento dos impostos por
eles efetuado era recolhido em suas aldeias, o que os colocava diretamente sob a autoridade
jurídica dos aristocratas, que aumentou significativamente entre os séculos IV e V. Logo, o
estabelecimento do colonato favoreceu o enriquecimento dos latifundiários e a formação de um
novo tipo de mão de obra que caracterizará a economia de fins do Império Romano e do início da
Idade Média.

Atenção!
É importante lembrar, contudo, que a escravidão não desapareceu do Império Romano, já que as
pessoas escravizadas atuavam nas mais diversas atividades agrícolas, artesanais, domésticas etc.,
sendo cada vez mais indispensáveis aos seus detentores em função da sua escassez.

A máquina burocrática romana


E como pagar as contas?
Para preservar a pesada máquina burocrática romana necessária à manutenção da autoridade
imperial por todo o território, era imperiosa a ampliação da captação de recursos por meio da
arrecadação de impostos.

A máquina fiscal romana dificultou consideravelmente a vida urbana e as relações comerciais no


Império, que haviam sido bastante beneficiadas pela pax romana do século I, quando o
Mediterrâneo se tornou um “lago latino”, sendo palco de transporte de produtos e de culturas. O
Império também investiu na construção de uma rede comercial que conectava as cidades por meio
de estradas por onde escoava-se, sobretudo, a produção agrícola, já que a produção artesanal não
era o foco dos esforços econômicos do Império.

Em geral, Roma se tornou consumidora dos luxuosos produtos vindos do Oriente, especialmente
aqueles que chegavam via rota da seda, que se originava no Extremo Oriente, e o mercado persa, e
que agradavam, sobretudo à aristocracia romana do centro e da periferia. Ao analisar os efeitos que
as mutações do século III trouxeram para a economia romana, M. Rostovtzeff concluiu:

A situação do comércio e da indústria era igualmente desastrosa. A


atividade industrial, que prosperara muito em várias regiões do Império,
trabalhando para um mercado local mais ou menos amplo, diminuiu sua
produção, enfraqueceu e acabou morrendo, e com ela desapareceu
também o intercâmbio dentro do império.

(ROSTOVTZEFF, 1983, p. 288)

Quanto à vida urbana, ela ficou bastante comprometida tanto devido à pressão fiscal exercida pelos
imperadores, quanto pelos saques e as pilhagens decorrentes das revoltas provinciais e dos
ataques germânicos.

Apesar de as grandes cidades terem tido as condições necessárias para manter o seu dinamismo
econômico por mais tempo, como foi o caso das cidades marítimas como Alexandria, Antioquia,
Éfeso e Cartago, o Império praticamente não investiu na fundação de novas cidades a partir do
século III. “Ao mesmo tempo, na maioria das cidades provinciais de tamanho moderado, o pulso da
vida começou a bater mais devagar”, concluiu Rostovtzeff.

Saques em Roma.

Contudo, apesar de ser perceptível um movimento de ruralização em algumas regiões ocidentais do


Império, isso não significou necessariamente o abandono da vida urbana em todas as províncias
imperiais.

Em cada uma das províncias o processo de transformação das estruturas socioeconômicas se deu
de forma diferenciada, daí os historiadores atuais estarem mais interessados em estudar as
especificidades do processo histórico que se desenvolveu em cada região do que criar explicações
generalizantes para o entendimento desse quadro complexo que foi a desagregação do mundo
romano e a gestão do mundo medieval.

Vejamos a perspectiva dos autores a seguir:


Perry Anderson

Alguns autores que professam uma abordagem marxista, como P. Anderson, defendem que foi
justamente a luta de classes que reuniu escravos, colonos e soldados insatisfeitos com o
domínio da aristocracia imperial sobre os meios de produção.

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Peter Geary

Em contraposição a essa perspectiva, P. Geary defende que, apesar de todas as condições


políticas e econômicas adversas, a maioria dos camponeses continuava ligada aos seus
superiores por meio de dois vínculos: o patronato e o clientelismo.

Ambos os vínculos eram antigos na sociedade romana e se estenderam por todas as províncias,
conectando os proprietários de terras e os seus camponeses subordinados. “Nos tempos
turbulentos do final da Idade Antiga, a importância desses vínculos aumentou para ambas as
partes.” (GEARY, 2005, p. 89). Tais vínculos se estreitaram nos tempos de crise quando “Os
proprietários protegiam os camponeses dos cobradores de impostos e dos encarregados do
recrutamento militar e, em troca, fortaleciam suas próprias milícias com os habitantes de suas
terras” (GEARY, 2005, p. 89).

Por isso, os integrantes das revoltas ocorridas no século V não eram apenas indivíduos
escravizados e colonos, mas também senhores. “No entanto, não há indícios de que tais relações
se baseavam em uma identificação étnica ou nacional: eram relações de lealdade entre indivíduos e
famílias” (GEARY, 2005, p. 89).

Aspectos culturais
A cultura em disputa: legado ou assimilação
A partir da perspectiva de alguns autores que têm se debruçado sobre o estudo da transição da
Antiguidade para o Medievo, o cristianismo foi um dos fatores-chave para o entendimento desse
processo histórico. Vejamos essas perspectivas a seguir:
Arther Ferril

Autores mais clássicos como Ferril entenderam o avanço do cristianismo como a salvação do
Império, na medida em que lhe garantiu a continuidade política e moral necessária e
impedindo a sua implosão já no século III.

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Edward Gibbon

Considera o cristianismo como o grande fator desarticulador do Império, pois promoveu o


enfraquecimento moral da população romana, em especial a dos soldados que se viram
despidos do seu vigor militar diante do combate dos inimigos bárbaros, sendo muitos
soldados de origem germânica.

Apesar das posições antagônicas, os dois autores mencionados e seus seguidores reconheceram a
crescente influência que o cristianismo exerceu sobre o mundo romano, especialmente a partir do
século IV, quando gradativamente deixou de ser um culto ilícito e perseguido pelas autoridades
imperiais e tornou-se a religião oficial do Império.

Para entender a complexidade desse fenômeno que representou a expansão


do cristianismo no Império, precisamos traçar um breve panorama acerca
dessa religião.

Mesmo após a morte do seu fundador, o cristianismo, inicialmente considerado como uma seita
judaica, espalhou-se entre a população da Palestina e das áreas em torno dela e gradativamente
ganhou uma identidade religiosa própria, distanciando-se dogmaticamente do judaísmo em
algumas esferas.
Mosaico da lavagem dos pés na Basílica de São Pedro.

A mensagem que se propagava era voltada para:

Igualdade entre os membros da fé no âmbito da Igreja primitiva, não prevendo distinções


socioeconômicas entre eles
Esperança de uma vida eterna que não previa os sofrimentos terrenos;
Crença em um Deus único e amoroso que fez um sacrifício pessoal morrendo na cruz pelos
homens eram por demais atraentes àqueles que buscavam conforto religioso contra as
condições adversas da vida.

Apesar de desde o início ter caído em desgraça diante das autoridades romanas por rechaçar o
culto ao imperador, considerado um dos marcos cívicos fundamentais para qualquer cidadão, o
cristianismo sobreviveu e expandiu-se lentamente entre a população romana entre os séculos II e
III.

No século III, é perceptível a instalação de um clima de perseguição aos cristãos partindo das
autoridades imperiais e estima-se que isso tenha ocorrido em função da crescente influência do
cristianismo no exército e em outras instâncias burocráticas. As perseguições movidas pelos
imperadores Maximino, Décio e Valeriano obtiveram um efeito contrário, ao invés do cristianismo
arrefecer, tornou-se cada vez mais organizado.
O apedrejamento de Santo Estevão preso na Igreja dos Santos Cirilo e Metódiopor, Praga.

Saiba mais
Os adeptos do cristianismo, passando por cima das divergências quanto a questões dogmáticas,
estabeleceram comunidades eclesiásticas que se espalharam pelos territórios orientais e
ocidentais do Império.

O afresco de Jesus como professor na igreja. Viena, Áustria.

Em um momento em que o Império enfrentava um período tão turbulento, a Igreja, mesmo nos
primórdios da sua organização, mostrava-se como uma instituição sólida e uma reserva moral para
uma população que via a estrutura imperial comprometida por uma crise que afetava a sua vida
cotidiana.

A expansão do cristianismo entre a população romana foi habilmente detectada por Constantino, o
Grande, que soube utilizá-la para fortalecer o poder imperial. Afora as questões relativas à
sinceridade da conversão de Constantino, o importante é o entendimento do que esse ato religioso
representou para o contexto do século IV e para o futuro do Império.

Constantino ascendeu ao trono impondo a sua autoridade militar sobre os outros generais com os
quais rivalizava o poder. A porção ocidental do Império se encontrava repartida entre os generais
Licínio e Constantino, que era responsável pela administração da Gália, Inglaterra e Espanha.

Maxêncio avançou sobre a Itália, território que também cabia a Constantino. Às vésperas da
batalha contra Maxêncio, Constantino disse ter tido um sonho em que o símbolo do crisma (ou uma
cruz, não há unanimidade nas fontes históricas do período) lhe foi revelado. Entendendo esse fato
como o sinal divino da sua vitória, Constantino mandou pintar o símbolo no escudo dos soldados e
terminou por vencer a batalha em 28 de outubro de 312. Esse episódio ficou conhecido como a
“Vitória de Ponte Mílvio”.
Imperador Constantino IX, um mosaico bizantino no interior de Hagia Sophia, Istambul, Turquia.

inal
In hoc signo vinces (com este sinal, vencerás).

Saiba mais
De acordo com Paul Veyne, esse sonho foi um prenúncio para a sua conversão. Longe de querer
impor a sua nova fé aos cidadãos do Império, Constantino soube utilizá-la estrategicamente para
fortalecer o poder imperial, embora Veyne insista em considerar que aos olhos do imperador o
cristianismo não era “uma ideologia a ser inculcada aos povos por cálculo político” (VEYNE, 2011,
p. 18).

Em 313, com a assinatura do Edito de Milão, Constantino tornou o cristianismo uma religião lícita
para o Estado e dessa forma os cristãos puderam professar livremente a sua fé.

Como Veyne chama a atenção, a conversão de Constantino não trouxe o fim das perseguições, já
que estas haviam finalizado antes da sua ascensão ao trono, mas garantiu que o cristianismo fosse
entendido como uma religião favorecida pelo Estado romano (VEYNE, 2011, p. 16). Isso porque o
imperador se colocou como o protetor dos cristãos e mandou construir diversas igrejas por todo o
Império para ajudar a difusão da nova fé.

Sem dúvida, todo esse empenho do imperador implicou no aumento do


número de fiéis, principalmente aqueles que faziam parte da corte imperial.

Acreditando-se na sinceridade da conversão de Constantino, como defende Paul Veyne, ou não, o


fato é que o imperador soube utilizar de forma bastante eficiente o caráter patriarcal presente na
religião cristã para fortalecer ideologicamente a centralidade do poder imperial em um contexto em
que se lutava para superar a crise desencadeada no século anterior e com os resquícios da qual os
romanos tinham que conviver.
Graças a Constantino, a lenta porém completa cristianização do Império
pôde começar; a Igreja, de “seita” proibida que tinha sido, tornou-se mais
do que uma seita lícita; estava instalada no Estado e acabará um dia por
suplantar o paganismo como religião integrada aos costumes.

(VEYNE, 2011, p. 29)

O império cristão
Cristianismo em Roma
Com a benção de Constantino, a estrutura da Igreja se expandiu principalmente nos centros
administrativos do Império. No Concílio de Niceia, reunido em 325, a Igreja deu um passo bastante
importante na sua organização interna. Os patriarcas das cidades de Alexandria, Antioquia, Roma,
Constantinopla e Jerusalém se tornaram os principais líderes eclesiásticos, enquanto os
metropolitanos supervisionavam os bispos, que por sua vez supervisionavam os padres
responsáveis pelas paróquias. Dessa forma, configurou-se a hierarquia eclesiástica nesse primeiro
momento.

O afresco da cena como o imperador Constantino fala no conselho em Niceia (325), Sevilha, Espanha.
Era das famílias nobiliárquicas romanas que saíam os indivíduos que ocupavam os principais
cargos eclesiásticos, em grande parte em função de serem os poucos que tinham a formação
intelectual suficiente para desenvolver adequadamente os ofícios da Igreja.

Os membros desse clero hierarquicamente constituído passaram a exercer uma influência moral e
religiosa sobre a população, e a controlar as propriedades territoriais eclesiásticas.

Seguindo a política inaugurada por Constantino, após um período em que alguns imperadores
tentaram resgatar os antigos cultos romanos em detrimento do cristianismo, Teodósio (379 - 395)
tornou a religião cristã oficial no Império Romano. Em 380, Teodósio promulgou o Edito de
Tessalônica que tornou o cristianismo a religião oficial do Império. Esse edito pode ser entendido
como o coroamento do processo iniciado por Constantino e o estabelecimento da colaboração
decisiva entre Igreja e Estado.

Teodósio, então, iniciou uma política imperial que conciliava a afirmação da fé cristã, por meio da
lei de Deus, com as leis do Império. Dessa forma, pretendia manter a paz e a universalidade nos
campos político e religioso, promovendo a junção efetiva entre Igreja e Estado e combatendo as
heresias, o paganismo e a apostasia que ameaçassem a unidade eclesiástica e a integridade da fé
cristã. De acordo com Blockmans e Hoppenbrouwers:

A Igreja poderia desenvolver-se no âmbito das estruturas já existentes


do Império e tinha de aceitá-las como uma realidade independente. De
suas origens de uma dissidência do judaísmo, reconhecido pelos
romanos como uma religião, a Igreja cristã evoluiu como uma ordem
estabelecida, nos últimos elementos que uniam o final do Império. Os
imperadores cristãos, seguindo a antiga tradição, continuaram a agir
como chefes da Igreja e do Estado.
(BLOCKMANS; HOPPENBROUWERS, 2012, p. 19)

Imperador Teodósio e Santo Ambrósio da Catedral de Milão. Museu Belvedere,Viena, Áustria.

A Igreja, portanto, nasceu à sombra da estrutura imperial, mas diante da desestruturação que o
Império experimentou, tornou-se a instituição romana que sobreviveu à Antiguidade e ganhou
feições ainda mais definidas na Idade Média. Entendendo-se como representante da vontade
divina, a Igreja foi em muito ampliando a sua atuação na sociedade conforme o vácuo político do
poder imperial romano aumentava.

Em um mundo romano em desagregação e graças ao seu nível educacional,


os clérigos tomaram para si a responsabilidade de preservar a cultura
clássica greco-romana copiando e estudando os textos de autores cristãos
ou não cristãos.

Além de organizar-se internamente, a Igreja criou mecanismos para promover a difusão da fé cristã
entre a população das províncias romanas e entre os povos germânicos, especialmente aqueles
que adentravam no território imperial.

O projeto evangelizador foi desenvolvido, sobretudo, pelos monges que, por meio da constituição
de monastérios, aproximavam-se mais diretamente da população e ofereciam a ela o
conhecimento da fé cristã e a prática da caridade.
Curiosidade
As práticas monásticas adotadas pela Igreja tiveram origem na tradição oriental em que os monges
eram homens solitários e eremitas, contudo, os monges ocidentais eram cenobitas, viviam em
grupos e habitavam monastérios distantes das cidades e geralmente construídos em regiões
ermas como vales e florestas. Atuando diretamente sobre a evangelização do campesinato, os
monges agiam também como missionários itinerantes.

A expansão da cristianização foi um fator decisivo na configuração política dos territórios


ocidentais do Império Romano. Os chefes dos povos germânicos que se tornaram federados do
Império aceitavam a atuação das autoridades eclesiásticas nos territórios por eles ocupados e
contavam com o apoio delas para lançar as bases do poder régio.

Com o apoio da Igreja, guardiã da cultura intelectual romana, foram firmadas noções como
monarquia e hereditariedade do poder entre os povos germânicos, embora em alguns deles elas
tenham alcançado uma fundamentação sólida, como foi o caso dos francos, e em outros elas não
tenham sido efetivamente implantadas.

Inspirando-se nos exemplos bíblicos dos reis cristãos e na tradição imperial romana, as autoridades
eclesiásticas cercavam os reis germânicos e legitimavam o seu poder e o da sua família por meio
da missão de governo atribuída aos reis pela vontade divina. Contudo, apesar de todo esse
arcabouço ideológico, a implementação efetiva do poder régio se deu de formas específicas entre
os diversos povos germânicos Alguns deles foram absorvidos por outros e nem chegaram a
os diversos povos germânicos. Alguns deles foram absorvidos por outros e nem chegaram a
constituir reinos autônomos de fato e outros, apesar de contarem com uma realeza relativamente
estruturada, não ficaram ilesos diante das crises sucessórias que se abriam a cada momento em
que o trono se encontrava vago, já que o princípio da hereditariedade como fundamentação para a
transmissão do poder ao sucessor não fora plenamente adotado.

Exemplo
Esse foi o caso dos visigodos, que tiveram o seu reino consumido pelas lutas sucessórias e, por
isso, não tiveram condições de resistir ao avanço dos muçulmanos sobre a Península Ibérica já no
século VIII.

Por meio da sua conversão e a do seu povo, alguns reis germânicos garantiram não só a
consolidação do seu poder, mas também o apoio administrativo e jurídico necessário para a
organização do seu reino. Foram os clérigos membros das cortes régias que fundamentando-se
nos rudimentos do Direito romano auxiliaram os reis em seu esforço legislador e ordenador de
registrar na forma de leis os seus costumes e organizar os primeiros conjuntos de leis germânicas.

A lei sálica, publicada em latim pelo rei franco Clóvis, a lei Gombette, promulgada pelo rei burgúndio
Gundebaldo, são exemplos dos conjuntos legislativos produzidos nesse período.

Lei sálica.

Analisando o contexto de expansão do cristianismo no Império Romano de fins da Antiguidade e no


mundo medieval em construção, é inegável o entendimento da importância que a Igreja, a sua
hierarquia e princípios religiosos tiveram na configuração da sociedade medieval em todas as suas
esferas.

Transição da Antiguidade para a Idade Média:


debate historiográfico
A batalha dos historiadores
De forma complementar às discussões que envolvem a “queda”, o “fim” ou a “desagregação” do
Império Romano, situa-se um embate em torno de como denominar esse período de transição que
se remete à dissolução política do Império Romano Ocidental e a construção das estruturas do
mundo medieval.

Relembrando
Lembrando, como Marcelo da Silva, que os historiadores costumam atribuir significado excessivo
aos marcos cronológicos largamente difundidos tanto no âmbito acadêmico quanto na educação
escolar por meio, sobretudo, dos livros didáticos (SILVA, 2008, p. 53), cabe considerarmos, para
concluir o nosso conteúdo, em linhas gerais, as proposições feitas por alguns historiadores quanto
à forma como podemos nomear esse período de tempo transitório entre a Antiguidade e a Idade
Média.

Afora a perspectiva marxista, o termo “Alta Idade Média” foi utilizado para representar uma espécie
de “período de trevas” que se situava entre o esplendor da Antiguidade e o período de renovação
que representou a Baixa Idade Média. Um caminho semelhante foi traçado por historiadores
franceses da primeira metade do século XX, como Ferdinand Lot, que “habituou-se a mostrar a Alta
Idade Média como o fruto da decadência do mundo romano, da corrupção e mesmo do
desaparecimento do legado antigo” (SILVA, 2008, p. 55).

Marcelo Silva aponta que, mesmo com as inovações trazidas pela historiografia francesa dos
Annales, os primeiros historiadores dessa escola tenderam a considerar a Alta Idade Média como o
prenúncio das mudanças que viriam no período baixo medieval. Seja pela difusão do modelo de
realeza cristã, como defendeu Marc Bloch, quer como um período em que o paganismo resistiu,
como postulou Jean-Claude Schmitt.
A perspectiva por meio da qual esses autores conceberam a Alta Idade
Média é marcadamente teleológica.

Representação da ordem social tripartida da Idade Média.

Contribuindo para discutir as possibilidades para o entendimento desse período transitório, Patrick
Geary chamou a atenção para a importância que ele tem para a historiografia, na medida em que
contém elementos simbólicos que foram largamente utilizados pela historiografia nacionalista do
século XIX na elaboração das histórias das nações europeias.

Em uma tentativa de reagir à perspectiva teleológica que foi aplicada ao termo “Alta Idade Média” e
à difusão das noções de ruptura e de decadência do mundo romano, historiadores como Peter
Brown talharam o termo “Antiguidade Tardia” para nomear esse período transitório. Assim como P.
Brown, o foco de Paul Veyne encontra-se “nas inovações, nas mutações e na criatividade do mundo
romano”, bem como nas “novas estruturas mentais, sociais e religiosas” que nelas se desenhavam
(SILVA, 2008, p. 57).

Iluminura do perído da Alta Idade Média representando o Papa Gregório I.

Longe de ser uma unanimidade, a noção de “Antiguidade Tardia” é também alvo de críticas de
historiadores como Mark Edwards e Arnaldo Marcone por negar a noção de ruptura e se concentrar
em noções associadas à continuidade — integração, assimilação, transição pacífica, entre outros, o
que promoveria um apagamento do impacto socioeconômico e político propiciado pelo quadro
contextual do século III em diante.

Seguindo uma linha alternativa aos usos já apontados do termo “Alta Idade Média” e tecendo
críticas ao conceito de “Antiguidade Tardia”, Hilário Franco Júnior, dentre outros historiadores,
utiliza o termo “Alta Idade Média” ou “Primeira Idade Média” para nomear o momento em que as
bases culturais do mundo medieval foram forjadas com base nas referências da cultura romana, a
saber:

Romanismo
Do qual foram herdadas as bases políticas que fundamentaram as realezas germânicas.

Germanismo
Que legou à sociedade medieval a firmeza dos vínculos pessoais pautados na fidelidade.

Igreja e seus monges


Responsáveis por preservar e adaptar o substrato cultural oriundo do romanismo (SILVA, 2013, p.
90).

É importante considerarmos, entretanto, que ao utilizarmos nomenclaturas históricas como


“Antiguidade”, “Alta Idade Média” e “Baixa Idade Média”, estamos nos referindo, sobretudo, à
história da Europa, de parte da Ásia, do Oriente Médio e da África e nas características históricas
que esses espaços geográficos partilharam em comum.

Ou seja, independentemente do uso meramente cronológico que façamos desses termos, eles
trazem em si uma gama de significados históricos e historiográficos diferenciados. Entretanto, eles
têm em comum o fato de que reconhecem os séculos finais do Império Romano e os iniciais da
Idade Média como períodos transitórios, marcados por profundas transformações políticas,
econômicas, sociais e culturais, que ainda hoje precisam ser desvendadas por seus estudiosos.

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Economia e crise: relações no fim da Antiguidade
Neste vídeo, serão abordadas as relações no fim da Antiguidade.

Falta pouco para atingir seus objetivos.


Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1

A expansão da cristianização foi um fator decisivo na configuração política dos territórios


ocidentais do Império Romano. Identifique a alternativa que corrobora essa afirmação:

Muitos reis germânicos converteram-se ao cristianismo buscando encontrar


A nas autoridades eclesiásticas o apoio necessário para organizar e manter o seu
reino.

Com a difusão do cristianismo no Ocidente, a autoridade imperial romana


B tornou-se ainda mais fortalecida, o que impediu a desagregação do Império
Romano.

A expansão da cristianização representou, para o Ocidente, a difusão das


C
comunidades islâmicas.

Com a ampliação da cristianização, a autoridade do Papa ficou submetida à do


D
imperador romano no Ocidente.

A inserção e a atuação dos membros do clero nas cortes dos reis germânicos
E era pouco significativa, pois a autoridade religiosa e política desses reinos eram
exercidas pelos sacerdotes dos cultos locais.

Parabéns! A alternativa A está correta.


Chegando pelo mediterrâneo a classes diversas, a “cola” promovida pelo cristianismo em um
império com dificuldades de manutenção buscava fortalecer a unidade de maneira alternativa
ao centro do poder imperial. No entanto, acaba por se tornar fator de assimilação e busca,
como no caso dos federados germânicos e da conversão de monarcas na busca de
manutenção de suas autonomias.

Questão 2

Para nomear o período de transição da Antiguidade para a Idade Média, alguns historiadores,
como Peter Brown, utilizam o termo “Antiguidade Tardia” para classificar esse contexto
histórico. Assinale a alternativa que apresenta a proposição correta acerca do uso desse
termo:

O termo “Antiguidade Tardia” é utilizado para nomear o período que se estende


A
do século X a XIV.

Os historiadores que partilham da noção de Antiguidade Tardia enfatizam, em


B suas análises, os aspectos econômicos, marcando o colonato e o feudalismo
como sua marca de análise.

A Antiguidade Tardia corresponde ao período histórico dos séculos I a III,


C
quando houve a larga difusão da cultura judaico-cristã no Ocidente.
A ênfase das análises promovidas pelos historiadores que se utilizam da noção
de Antiguidade Tardia está nas estruturas mentais, sociais e religiosas que
D
nelas se desenhavam, vinculados à tradição romana, mas adaptados às novas
realidades.

Os historiadores partidários da noção de Antiguidade Tardia foram criticados


E pelos demais estudiosos por concentrarem a sua análise nas rupturas
ocorridas no processo histórico.

Parabéns! A alternativa D está correta.


A disputa entre Antiguidade Tardia e Primeira Idade Média depende dos objetivos de análise.
Se olharmos aprofundadamente os debates ele é sempre sobre a ênfase que se deseja
construir. Todas as afirmativas pensadas em termos de objetivos históricos apresentam
fragilidade, fora a que direciona para a escolha do historiador sobre o que focar em
Antiguidade Tardia.

Considerações finais
Os debates acerca do fim do Império Romano e o início da Idade Média envolvem paixões. Muito
mais que um posicionamento político, historiográfico, a questão passa por um estudo sobre como
a busca de perceber como algo tão belo desapareceu, ou como uma nova força veio e conquistou a
grande Roma, ou ainda, que catástrofe se abateu sobre o mundo, marcando formas de disputa
entre os investigadores.

A verdade em História precisa ser uma demanda superada, assim como a arqueologia reconstrutiva
do que aconteceu exatamente. Sendo assim, passamos a investigar as modificações econômicas e
culturais que nos fornecem pistas sobre o momento.

Por fim, centramo-nos na historiografia e em como historiadores, ao ver uma mesma questão
histórica, são capazes de embater e de ter visões distintas sobre os eventos.
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Podcast
Neste podcast, apresentaremos um resumo de todo o conteúdo.

Referências
ANDERSON, P. Passagem da Antiguidade ao Feudalismo. São Paulo: Brasiliense, 1987.

BLOCKMANS, W.; HOPPENBROUWERS, P. Introdução à Europa Medieval (300 -1500). Rio de


Janeiro: Forense, 2012.

FERRIL, A. A queda do Império Romano. A explicação militar. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.

GEARY, P. O mito das nações ou a invenção do nacionalismo. São Paulo: Conrad Editora do Brasil,
2005.

GIBBON, E. Declínio e queda do Império Romano. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

GUARINELLO, N. L. Império e imperialismo, realidades antigas e conceitos contemporâneos. In:


CAMPOS, A. P. et al. (Org.). Os impérios e suas matrizes políticas e culturais. Vitória: Flor & Cultura,
2008. p. 9 -18.

HEERS, J. História Medieval. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1988.

ROSTOVTZEFF, M. História de Roma. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.

SILVA, M. C. da. Entre “Antiguidade Tardia” e “Alta Idade Média”. Diálogos, DHI/PPH/UEM, v. 12, n.
2/n. 3, p. 53-64, 2008.

VEYNE P Quando nosso mundo se tornou cristão (312-194) Rio de Janeiro: Civilização Brasileira
VEYNE, P. Quando nosso mundo se tornou cristão (312 194). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2011.

Explore +
Para saber mais sobre os assuntos tratados neste conteúdo:

Assista ao filme A Última Legião (2007), e perceba como esse ideal ainda existe no imaginário até
os dias de hoje.

Leia:

MENDES, N. M. Romanização: a historicidade de um conceito. In: CAMPOS, A. P. et al. (Org.). Os


impérios e suas matrizes políticas e culturais. Vitória: Flor & Cultura, 2008. p. 37-52.

SILVA, P. D. da. O debate historiográfico sobre a passagem da Antiguidade à Idade Média:


considerações sobre as noções de Antiguidade Tardia e de Primeira Idade Média. Revista Signum,
2013, v. 14, n. 1. p. 73-91.

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