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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA HISTÓRIA

O HISTORICISMO E O POSITIVISMO

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Olá!
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:

1. Identificar o contexto histórico presente durante o surgimento do Historicismo e do Positivismo;

2. compreender o que foi o Historicismo;

3. entender o que foi o Positivismo;

4. relacionar e diferenciar historicismo e positivismo;

5. compreender a relação entre o positivismo e o historicismo e o surgimento da História como disciplina.

As transformações ocorridas na Europa ao longo do século XIX, como a Segunda Revolução Industrial, o Neo

colonialismo, o Imperialismo e diversas outras vão proporcionar uma verdadeira transformação no pensamento

das ciências, inclusive na História.

Vale lembrar que o século XIX é o período de unificação da Alemanha e da Itália, bem como quando um intenso

fluxo de imigrantes sai da Europa vai para América fugindo das guerras e buscando novas oportunidades de

trabalho.

Dentro desse contexto até esse período, a história não existia como disciplina.

Ela era estudada junto ao currículo de outras ciências, tais como a teologia ou até mesmo o ensino de letras e não

possuía uma teoria e um método autônomos que lhe desse uma identidade ou uma singularidade.

A análise histórica elaborada após o Iluministmo e até esse período estava muito relacionada, principalmente, à

filosofia da história, que considerava que tanto a natureza quanto o homem tinham uma essência fixa e imutável.

Para os autores dessa forma de pensamento, entender o homem e sua história seria descobrir natureza humana,

sua essência.

(Para saber mais sobre Filosofia da História, veja a aula 3)

O racionalismo e o cientificismo em voga na época vão atribuir às ciências ditas exatas e naturais um caráter de

maior importância. Não se pode esquecer que esse é um tempo de intensa produção teórica, filosófica, científica,

bem como de transformações econômicas e sociais.

Nesse momento, a partir de toda a influência do Iluminismo e das mudanças que vinham ocorrendo, o homem

passaria a se enxergar como responsável por suas próprias atitudes, com livre arbítrio.

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Um maior afastamento entre ciência e religião tornou-se notável para uma Europa que procurava cada vez mais

avançar economicamente e crescer rumo às descobertas da tecnologia e da cientifização, inclusive nos estudos

humanos.

É dessa forma que nossa disciplina vai aos poucos ter o seu caráter de ciência fundamentado: contestando a

filosofia da história, bem como a história romântica presente nas obras de Michelet.

De acordo com os positivistas, a aplicação do método das ciências exatas possibilitaria o conhecimento das leis

da história a partir da análise de dados.

Pode-se afirmar que a construção da História enquanto disciplina deu-se graças ao Historicismo e ao

Positivismo, duas teorias que, embora ultrapassadas, precisam ser estudadas a fim de que possamos

compreender as suas transformações até chegar às análises presentes nos dias de hoje.

O Positivismo foi uma teoria sociológica fundada por August Comte que passou a buscar nas ações humanas as

explicações para diversos fatores sociais, contrariando, sobretudo, a teologia e a metafísica e demonstrando que

as explicações para diversos acontecimentos não apareciam apenas para as ciências como a matemática, como

até então pregava o racionalismo.

As explicações de Comte estavam voltadas para a compreensão de acontecimentos práticos e presentes na vida

do homem, como as leis, relações sociais e até mesmo a ética. O autor defendia a valorização do homem e a busca

pela paz universal.

Não podemos nos esquecer que Comte vivia em uma sociedade marcada por guerras e por fortes contestações

das classes operárias.

O Positivismo também ficou conhecido como escola metódica, pois propôs métodos para a História, muito

valorizada por Comte e, segundo ele, sua análise permitia compreender melhor os princípios que regeram o

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destino da humanidade. Somente a partir da história seria possível uma melhor organização da sociedade,

através da eliminação de suas mazelas.

Sua teoria positivista para a sociedade era formada a partir da compreensão da existência de três estágios para o

desenvolvimento do homem, chamados por ele de estágios da evolução humana, que eram:

O estágio teológico, existente na juventude do desenvolvimento humano.

Metafísico ou abstrato - presente na idade adulta da civilização.

Positivo - alcançado na idade madura também chamada de idade da ciência.

O objetivo dessa filosofia consistia em buscar o conhecimento de leis que deveriam reger o desenvolvimento e o

destino da sociedade.

“Ordem e progresso” - a frase existente na bandeira do Brasil - é um dos conceitos fundamentais dos positivistas,

pois, segundo eles, esses conceitos seriam imprescindíveis para a organização de uma sociedade.

Os fatos históricos falam por si mesmos

Um dos historiadores que representou bem os pensamentos de Comte foi o francês Fustel de Coulanges.

O que significa que, adotando-se os métodos propostos por Comte, a história assumiria um caráter de ciência

pura, real e generalista, capaz de criar lições que pudessem ser aprendidas, a fim de que as sociedades futuras

não repetissem erros do passado.

Os historiadores positivistas procuravam uma objetividade na metodologia usada para analisar os fatos

históricos. Para eles, a história devia ser escrita através de fontes exclusivamente relacionadas a documentos

escritos e legitimados pelo Estado.

Para os historiadores, a História precisava separar-se da filosofia da História e da história influenciada pelo

romantismo, a fim de que a análise do objeto a ser estudado não sofresse influências de quem estivesse fazendo

a pesquisa. A análise positivista deveria propiciar o conhecimento objetivo do fato que, uma vez determinado,

não poderia ser desconstruído.

A produção do conhecimento histórico deveria limitar-se a reproduzir a informação tal como estava registrada

nas fontes, que para eles eram representadas apenas pelos documentos oficiais emitidos pelo Estado ou, no

máximo, pela igreja, embora as de maior confiabilidade fossem as relacionadas apenas ao Estado, que possuía o

real caráter de fonte primária. Os historiadores positivistas trataram especialmente da história dos fatos

políticos e ideológicos.

Observa-se que o Positivismo defendia a cientifização do pensamento e do estudo sobre as relações do homem

com o objetivo de alcançar resultados gerais e corretos.

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Seus defensores acreditavam ser possível a neutralidade do olhar do historiador, ou seja, acreditavam na

separação entre sujeito/objeto, o que quer dizer; entre o pesquisador e sua pesquisa.

As fontes estudadas eram vistas como um retrato neutro e verdadeiro de uma determinada realidade, por isso,

só seria possível confiar naquelas ligadas ao Estado.

Para o pesquisador positivista, o documento explicava-se por si mesmo, o historiador era necessário apenas para

recuperá-lo e publicá-lo, sem a possibilidade de qualquer interpretação pessoal.

Dessa forma, os procedimentos metodológicos aplicados às ciências naturais tornavam-se possíveis de serem

utilizados para uma análise social.

O historiador, entretanto, deveria manter a total imparcialidade diante de seu objeto de estudo, sendo neutro

para que pudesse chegar a uma verdade histórica objetiva.

A análise da forma positivista desse pensamento deveria ser elaborada de forma linear, evolutiva, através da

ideia de que o fato histórico estaria presente na linha do tempo e deveria ser analisado cronologicamente.

Os documentos deveriam ser catalogados após uma busca incessante de fatos em fontes primárias e oficiais,

dessa forma, o fato seria empírico.

Pregava-se, para uma maior confiabilidade, a utilização de um grande número de documentos. Dessa forma, seria

possível a obtenção da totalidade dos acontecimentos passados e não haveria dúvida no tocante à veracidade.

O juízo de valor (ou qualquer análise do historiador) seria condenado, pois alteraria o sentido e a realidade

própria dos fatos, modificando, assim, a própria história, que se tornaria comprometida e, portanto, falsa.

Outra escola bem importante para a compreensão da história e da sua consolidação como disciplina foi o

Historicismo.

Um de seus representantes mais importantes foi o alemão Leopold Von Ranke, que nasceu durante o século XIX

em meio a todo o turbilhão pelo qual passava a Europa e em meio também ao período da Restauração.

Ele foi o primeiro em sua região a contestar os métodos utilizados pelos historiadores românticos, alegando

serem, sobretudo, imprecisos.

A criação da História como disciplina é atribuída a Ranke e ele também foi o responsável pela padronização do

ofício do historiador através da normatização entre a academia e aquilo que deveria ser considerado história, ou

seja, a academia só poderia ensinar aquilo que fosse produzido por ela.

Vale ressaltar que esse autor nasceu na Prússia e viveu entre 1775 e 1886, período em que a Alemanha passou

por seu processo de unificação. Assim, sua escrita vai ser marcada pela preocupação em definir e fundar uma

história nacional.

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De acordo com o historiador Arno Wehling, o Historicismo transformou-se em uma visão de mundo desde a

década de 30 do século XIX e, logo, em um método científico e, embora fruto do romantismo, continuou intocado

o triunfo do realismo e da ciência.( WEHLING, 1994, p.115)

Pode-se afirmar então que Leopold Von Ranke não foi o único historiador preocupado com o ofício do

historiador, podemos citar outros como Ernest Lavisse, Gabriel Monod, Charles Victor Langlois, Charles

Seignobos, Gaston Paris, dentre outros.

Entretanto, diferentemente dos franceses, que tinham como se identificar através de fronteiras e limites

geográficos, além das características culturais, os alemães não possuíam um território demarcado. (A Alemanha

só fez sua unificação em 1871).

Para se identificar, levavam em consideração, sobretudo, o idioma e os interesses econômicos em comum

existentes na região. Ranke escreveu diversos trabalhos através de uma abordagem factual, que contribuíram

para a formação da identidade alemã e, portanto, também para a própria construção da nação.

Seu pensamento, embora bastante influenciado pelo Positivismo, apresentou algumas importantes divergências

em relação a este, sobretudo, em se tratando de sua metodologia. Não se pode esquecer também que August

Comte, embora tenha dado grande importância à história, não era historiador.

Umas das principais diferenças entre as duas abordagens consistia no fato de que, para Ranke, o historiador

possuía contato e, portanto, relação direta com seu objeto de estudo, não havendo a possibilidade de

afastamento em relação a ele. Não havia a ideia da imparcialidade absoluta existente no Positivismo.

Ranke almejava alcançar a verdade histórica, chegar o mais próximo possível à realidade dos fatos.

Para ele, todos os acontecimentos sociais, políticos ou culturais eram históricos e deveriam ser analisados e

compreendidos dentro de seus processos.

De acordo com esse autor, cada período da história era único e deveria ser compreendido em seu próprio

contexto. (Hoje se sabe que não existe VERDADE histórica, mas a possibilidade de a ciência ser refutada e

modificada)

Em relação aos documentos, estes deveriam ser o principal objeto de pesquisa, classificação, análise e crítica.

Existiam os documentos narrativos e os documentos de arquivo, estes sim dignos de credibilidade.

Apenas a documentação escrita era considerada fonte e representavam o próprio passado.

As fontes primárias eram mais importantes e mais confiáveis do que as secundárias.

Como a história Rankiana estava comprometida com o nacionalismo alemão, não é de se estranhar que a

principal abordagem feita pelo autor era a política ou a militar, através da narração de acontecimentos,

estratégias e personagens destacados.

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Uma das características mais marcantes dessa abordagem, que também ficou conhecida, assim como o

Positivismo, como escola metódica, pois buscavam a formação de um método de pesquisa e análise para a

História, foi a valorização do discurso do acontecimento, ou seja, a narrativa pela enumeração dos fatos

reconstituídos; a chamada história factual.

Para Ranke, ao contrário de Comte, existia uma diferença metodológica e epistemológica entre ciências humanas,

sociais e as ciências naturais, uma vez que o objeto de estudo de ambas era diferente e não se poderia fazer uma

análise idêntica, com os mesmos métodos, de objetos tão diferentes.

Conforme esse autor, o conhecimento e a pesquisa nunca poderiam ser neutros, pois o sujeito/ historiador faz

parte da pesquisa, sendo que tal pesquisa deve estar inserida no curso do processo histórico em evolução.

1 O Historicismo e o Positivismo
Ao longo do século XX, tanto a história positivista como o Historicismo passaram a ser alvos de duras críticas.

O Positivismo fora criticado pelo próprio Ranke com a introdução da interpretação e a adoção do princípio de

que todos os aspectos da sociedade humana estavam sujeitos a mudanças e transformações.

Mais tarde, com o advento dos historiadores dos Annales, que estudaremos na aula 6, se dará a derrocada do

Historicismo, acusado de ser factual, político e limitado no uso de suas fontes de pesquisa.

Clique no link e veja as diferenças e semelhanças entre o Historicismo e o Positivismo: http://estaciodocente.

webaula.com.br/cursos/inteh1/docs/a04_t27.pdf

O que vem na próxima aula


•Assunto 1: O surgimento do marxismo;

•Assunto 2: a relação entre o marxismo e a História.

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• compreendeu o que foi o positivismo e o historicismo;
• entendeu como a História foi fundada como disciplina.

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