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Aluna: Anna Victória Souto Lessa

Estabeleça um quadro comparativo entre as contribuições do Positivismo


e as do Historicismo para o trabalho do historiador.

Em virtude da mudança de perspectiva em relação à história após o


engendramento da chamada “história científica” no século XIX, período em
que, como ressalta o historiador José Carlos Reis, a consciência histórica se
separa do Idealismo e volta-se para o método científico. É nesse sentido que a
metafísica torna-se uma impossibilidade para a produção de conhecimento
histórico, visto que a partir desse período são buscadas apenas relações de
causa e efeito, aprofundando um dito “espírito positivo”. Isto é, a observação
dos fatos e a análise de suas relações oferecem subsídios para a produção do
conhecimento histórico, que é apoiado em bases empíricas positivas.

Outrossim, como salienta Reis, o conhecimento das “diferenças humanas” é


evocado, se referindo às dimensões objetivas do tempo em relação aos
eventos, que serão bastante enfocados por esses historiadores. O objeto do
historiador que pretende-se científico, é agora o evento, em suas dimensões
locais, datadas e singulares. Desse modo, as contribuições do historicismo
para o ofício do historiador dizem respeito a possibilidade de se inserir a
abordagem histórica em todos os campos da cultura. Pois, segundo Reis, o
historicismo é pós-revolucionário e conservador, dado que faz o caminho
inverso das filosofias da história que são inclinadas ao futuro.

Ora, o historicismo se contrapõe a ideia de objetividade na história, bem como


à filosofia hegeliana e a uma história universal atrelada a ideia de progresso,
além de rejeitar uma suposta Razão que governa o mundo. É válido ressaltar
ainda que o historicismo apresenta três projetos de história científica distintos,
possuindo orientações rankianas, diltheynianas e marxistas. O primeiro tem por
objetivo aproximar a história do método científico das ciências naturais. Não
obstante, a orientação diltheyniana faz o caminho inverso ao procurar a
especificidade do conhecimento histórico em contraposição às ciências
naturais e afastando-o da filosofia especulativa. Enquanto a orientação
marxista objetiva que o conhecimento histórico científico seja submetido à
práxis.

Todavia, as três orientações historicistas possuem aspectos semelhantes que


dizem respeito a recusa da filosofia da história, além de buscarem dar a história
condições objetivas, bem como valorizam os eventos, mesmo que analisados
de maneiras distintas por cada uma delas. Outrossim, Dilthey é responsável
por levantar a questão da relatividade da verdade histórica, ao questionar a
existência da mesma bem como a objetividade da história. Ademais, o
contraponto em relação à filosofia hegeliana é bastante acentuado, visto que
rejeita os pressupostos da história universal, das noções de progresso bem
como a relação entre passado, presente e futuro.

Ao invés disso, Dilthey propõe um enfoque maior nas particularidades e


individualidades do mundo social, através de um método hermenêutico que
visa interpretar as singularidades não pelas ciências naturais e nem por
verdades absolutas. Essas individualidades absolutas acabam por se tornar um
problema que vai ser revisto por historiadores marxistas que irão propor a
busca por coletividades.

Ademais, o objetivo da pesquisa histórica em Dilthey vai pautar-se na abolição


do esquecimento, visando reintegrar o passado no presente, em forma de
compreensão. Outrossim, o método crítico das fontes recebe bastante
enfoque, evocado a partir de questionamentos acerca da natureza das fontes,
dos historiadores e das civilizações escolhidas, visto que parte da
compreensão de que são os historiadores que escolhem a partir de sua própria
consciência histórica quais objetos, métodos, problemas, temas e fontes serão
utilizados na produção do conhecimento histórico.

Já o Positivismo teve como centro de debate a França, com o filósofo Augusto


Comte, que possuía um projeto de história bastante distinto, que pretendia
aproximar as ciências humanas de um modelo único e definitivo de ciência, a
física. Desse modo, a história se limitaria a narração de eventos históricos,
imbuída de forte influência do Estado. O historiador seria aquele sujeito neutro,
que evita a construção de hipóteses bem como se distancia o máximo de seu
objeto de estudo. Assim, os positivistas acreditavam que essa postura de
distanciamento perante o objeto permitiria a construção de uma verdade
absoluta, livre de nenhum tipo de distorção subjetiva.

Outrossim, segundo Reis, os chamados “fatos narráveis”, seriam aqueles


eventos políticos, diplomáticos e religiosos, entendidos como o centro do
processo histórico, sendo todo o resto julgado como secundário. Ora, como
ressalta o supracitado Reis, se o historicismo esconde a filosofia hegeliana, a
filosofia da história que fica implícita na historiografia metódica francesa é a
iluminista. Visto que, segundo o mesmo, o Positivismo será imbuído do “...
Iluminismo que sustentará essa historiografia será aquele evolucionista,
progressista, gradualista, anti-revolucionário, mas atualizado pela filosofia
comtiana e seu espírito positivo bem como influenciado pelo evolucionismo
darwiniano.” (REIS, 1996, p. 11).

E no que diz respeito às intencionalidades do projeto de história engendrado


pelos positivistas, Reis explícita que eles obtiveram determinado sucesso,
tendo em vista que a rejeição da filosofia da história e a busca pela objetividade
trouxeram, apenas em parte, os resultados almejados. Pois, de certo modo
preveniu os historiadores dos perigos dos chamados subjetivismos, bem como
o seu método crítico foi utilizado para legitimar pressupostos não explicitados
pelo historiador.

Além disso, outro aspecto que pode ser citado acerca do método positivista do
século XIX é a concepção de existência de leis gerais pelas quais as
sociedades humanas são reguladas, de modo a serem compreendidas a partir
de leis naturais invariáveis que independem da ação humana no tempo. Não
obstante, o historicismo se contrapõe a esse pressuposto visto que advoga em
favor da relatividade do objeto histórico, pois acredita que inexistem leis gerais
que consigam ser válidas para todas as sociedades.

Ademais, o Positivismo defende a objetividade científica bem como a


neutralidade do historiador perante o seu objeto, pois acredita que o objeto é
apropriado pelo historiador de maneira distanciada, podendo assim manter-se
imparcial. Contudo, o historicismo é totalmente oposto à ele, visto que sustenta
que o historiador está mergulhado na história e portanto não tem como ser
retirado o aspecto subjetivo do da produção histórica.

Em vista disso, as diferenças entre ambas as correntes históricas são bastante


explícitas, e o conhecimento de seus principais aspectos são primordiais para o
ofício do historiador, visto que a partir desse conhecimento pode se
compreender como o conhecimento histórico se constituiu ao longo dos
séculos, bem como influenciam ainda hoje a produção historiográfica.

Referências

BARROS, José D’Assunção. Teoria da História, vol.1. Petrópolis, Rj: Editora


Vozes, 2011. 

BARROS, José D’ Assunção. Será a História uma ciência: Um panorama de


posições historiográficas. Inter – Legere Vol 3. 2020

 REIS, José Carlos. A história entre a filosofia e a ciência. São Paulo: Editora
Ática S. A., 1996.

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