Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
"Se as lições da História fossem claras, Solano López não seria considerado herói no
Paraguai e bandido no Brasil." Frase escolhida por Pinsky para iniciar seu texto, que comporta
dois posicionamentos em relação ao conhecimento histórico: a) A História é capaz de fornecer
lições ao presente; b) A história é incapaz de fornecer lições, posicionamento de Pinsky,
argumentando uma falta de "clareza". Para além de uma crítica individual do autor, seu
posicionamento representa uma modificação na concepção do conhecimento histórico e seus
objetivos na contemporaneidade.
Uma proposta alternativa de análise das sociedades históricas, que se distancia das
abordagens dos metódicos e dos Annales, é a perspectiva marxista. O marxismo também
rejeita as filosofias da história, optando pelo materialismo histórico, que postula que o
material da história é observável, objetivável e quantificável, concentrando-se nas "estruturas
econômico-sociais" (Reis, 1996, p. 41). A teoria geral do movimento das sociedades
humanas, proposta por Marx, destaca a necessidade de uma mudança na produtividade para a
transformação histórica. A correspondência entre forças produtivas e relações de produção é
identificada como o principal objeto da ciência histórica (Reis, 1996, p. 44). A evolução da
história ao longo do tempo é resultado da luta de classes, uma contradição inerente às
sociedades. Segundo Villar, autor marxista, a realidade histórica é considerada uma "estrutura
em processo", intrinsecamente contraditória, demandando uma abordagem analítica que
reconstrua a dialética (Reis, 1996, p. 46).
Um dos autores que se debruça sobre essa questão é Michel de Certeau. Analisando a
"prática historiográfica", ele situa três dimensões que envolvem sua produção: a) lugar social,
que abrange as relações sociais de um sujeito, sua posição social, profissional e institucional;
b) prática, referindo-se aos procedimentos técnicos arbitrados pela comunidade de
historiadores; c) escrita, relacionada à criação de sentido ao conferir coerência a determinados
eventos (De Mello, 2012, p. 374). A pesquisa do historiador nunca é desconexa de seu
contexto. Contudo, diante dessas questões, é possível afirmar que há uma verdade no
conhecimento histórico?
Pinsky insinua seu posicionamento a partir de uma metáfora: "Um elefante será
sempre um elefante, mas se o ponto de vista levar o observador a conhecer o elefante pela
frente, ele poderá ver uma tromba enorme; se o enxergar por trás, verá apenas um rabinho".
Pode-se deduzir dessa afirmação um posicionamento semelhante ao de Adam Shaff (2009).
Este propõe que todo conhecimento é fruto da relação entre um sujeito que conhece e o objeto
do conhecimento. A posição de classe do sujeito e sua linguagem funcionam como filtro de
análise do objeto, tornando o produto do conhecimento sempre subjetivo-objetivo. Sua tese
leva em consideração que a verdade eterna e imutável é impensável, pois não se pode captar o
objeto em sua totalidade. Entretanto, é possível enunciar verdades parciais sobre o objeto, e a
partir dessas verdades parciais presentes nas perspectivas, alcança-se uma verdade. Essa
verdade é entendida como um processo contínuo.
Vejamos essa questão a partir da frase de Pinsky: "História não é a narrativa, ou uma
narrativa, nem qualquer narrativa sobre coisas que aconteceram." Essa frase do autor é
utilizada como posicionamento contra a História dos metódicos, o que dialoga com as ideias
defendidas pelos Annales. Esse posicionamento hierarquiza determinados fatos como mais
importante do que outros, tomados como basilares para compreensão do processo histórico. A
história tem certa profundidade.
Crítico dessa ideia, Hayden White defende que o discurso histórico não cria novas
informações sobre o passado, apenas produz interpretações por meio de uma narrativa lógica.
Nesse sentido, o discurso histórico é uma forma de interpretação do passado, essencialmente
narrativa (White, 1994, p. 2). O historiador atribui significado por meio da representação de
eventos organizados cronologicamente, transformando-os em narrativas com início, meio e
fim. O texto escrito vai se fundamentar em termos cognitivos, éticos ou estéticos (White,
1994, p. 7).
Nessa linha argumentativa, o fenômeno deixa de ser dado como fixo e uma realidade
objetiva da qual partem as representações. Eles são tomados como produtos de invenção
social e linguística (Muniz, 2007, p. 59). Fundamentalmente, o conhecimento histórico é
perspectivista, pois suas funções e o contexto em que foi produzido estão em constante
modificação, e as grandes interpretações sobre a história são inviáveis (Muniz, 2007, p. 61).
Ou seja, a virada pós-moderna fala que a realidade é moldada por meio dos jogos de
linguagem, ressaltando a natureza interpretativa do discurso histórico (Reis, 2010, p. 112).
Embora seja diversos autores, eles têm alguns aspectos em comum ao considerar que: a) A
história não é apresentação, mas representação; b) Crítica da origem em favor dos fenômenos;
c) Crítica da unidade em favor da pluralidade; d) Crítica à transcendência das normas em
favor de sua imanência; e) Análise dos fenômenos mediante alteridade constitutiva (Cardoso,
2005, p. 85).
Minha concepção de história leva em consideração que para além das mudanças
empíricos, modo de produzir, modificação de fronteiras, troca de presidente, é necessário o
estudo da apreensão dessa realidade pelos agentes históricos. Na minha visão, a história que
mais se aproxima da realidade é aquela que leva em consideração as ambiguidades do real, os
aspectos não racionais e racionais a partir do maior número de fontes. Reconheço a
dificuldade de responder a essa pergunta da concepção Histórica, pois as abordagens levam
diversos problemas.
Referências
BOURDIEU, Pierre. Poder Simbólico. 11. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2019.
MELLO, Ricardo Marques de. O que é teoria da história? Três significados possíveis. Revista
História & Perspectivas, v. 25, n. 46, 2012.