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Domínios da História – Ciro Flamarion Cardoso e Ronaldo Vainfas

- Apresentação: mostra os grandes campos de investigação da área da história, dando conta dos percursos
historiográficos dos principais conceitos e dos debates e polemicas que se fizeram na história da disciplina e da
pesquisa.

* Introdução * História e Paradigmas Rivais – Ciro Flamarion Cardoso

A questão e uma escolha


- Diferenças Cultura/Civilização França/Alemanha: O termo civilização para os franceses é mais
polissêmico que cultura, foi visto numa perspectiva evolucionista e otimista. A civilização era vista como uma
forma superior de cultura, a culminação de etapas sucessivas progressivas.
Para os alemães cultura designou habitualmente os costumes específicos de sociedades individualmente
tomadas, em especial as lentas (tribais ou ruais) que serviam de base à coesão social, em oposição à civilização
definida como urbana, cosmopolita e rápida em suas transformações.
- Nova história: é a história em migalhas preocupada centralmente com a diversidade dos objetos e a alteridade
cultural, entre as sociedades e dentro de cada uma delas.
O Paradigma iluminista (para a nova história já sumiu)
- Que fez: se opôs ao historicismo – incluindo as vertentes de Benedetto Croce e R.G. Colingwood – e ao
método estritamente hermenêutico ou interpretativo. Fez em nome da razão e do progresso humano, uma
perspectiva que pretendia estender aos estudos sociais o método cientifico. As duas principais vertentes são o
Marxismo e o Annales e buscam escrever uma história que pretende ser cientifica e racional. Seu ponto de
partida na produção do conhecimento é, no mínimo, hipotético, às vezes hipotético-dedutivo.
- Quais modelos: o evolucionismo (diversas modalidades), o marxismo, o weberianismo, algumas vertentes
estruturalistas. Trata-se de uma história analítica, estrutural (e mesmo macroestrutural), explicativa na pratica.
- Marxismo: a) realidade social é mutável; b) esta mudança é submetida a leis; c) as mudanças conduzem a
estados periódicos de equilíbrio relativo, não existindo ausência de mudança, mas sim a duração relativa de suas
formas e relações reciprovas. É uma visão ao mesmo tempo holística (estrutural) e dinâmica (relativa ao
movimento, à transformação) das sociedades humanas (Jerzy Topolski). O modelo epistemológico da qual
postula o sujeito que conhece e aquilo que é conhecido, a mediação da pratica. Faz uma vinculação
epistemológica entre passado e presente. É uma corrente evolucionista.
- Dialética: natureza e história humanas aparecem como subsistemas da realidade do mundo, ambos em
movimento dialético autodeterminado, mas, por outro lado, vinculados um ao outro. Da analise integrada dessas
contradições é que surgem conceitos fundamentais como: modo de produção, formação econômico-social,
classes sociais.
- Evolucionismo: é complexo, multilinear, não exclui estagnações, e retrocessos, ao contrário do que ocorria na
vulgata stalinista.
Em cada momento, as lutas sociais que determinam a configuração que terá a sociedade estudada, incluindo os
aspectos mais conscientes e voluntários dessas lutas, não se travam no vácuo, livres de determinações, mas, pelo
contrário, no interior de uma determinação estrutural herdada da história anterior e que não há como
transformar in totum num período curto por simples ato de vontade.
- Annales: a) caráter cientifico da história, ciência em construção, de história-narrativa para história problema;
b) debate critico com as ciências sociais; c) ambição de ter uma síntese global do social, explicando a
vinculação existente entre técnicas, economia, poder e mentalidades; d) abandono da história centrada em fatos
isolados e abertura aos aspectos coletivos, sociais e repetitivos sócio-históricos, substituindo a fixação em
indivíduos, elites e fatos irreptíveis. e) ampliação das fontes: oral, vestígios arqueológicos, iconografia, etc. f)
pluralidade dos níveis da temporalidade: a curta duração dos acontecimentos, o tempo médio e múltiplo das
conjunturas, a longa duração das estruturas; g) a preocupação com o espaço; h) historia vista como “ciência do
passado” e “ciência do presente”.
- Semelhanças entre annales e marxismo: a) síntese global; b) consciência de que os homens de determinada
época tem da sociedade em que vivem não coincide com a realidade social da época em questão; c) respeito
pela especificidade histórica de cada período e sociedade; d) a aceitação da inexistência de fronteiras estritas
entre as ciências sociais; e) a vinculação da pesquisa histórica com as preocupações do presente; f) alguns dos
annales – aproximam-se da noção de determinação pelo econômico;
- Diferenças: a pouca inclinação teórica dos historiadores dos annales e o fato de não disporem de uma teoria
de mudança social.
- Criticas: 1º grupo tem caráter amplo – filosófico e epistemológico – inserido no grande âmbito do
racionalismo moderno, em favor de outros que são semi-racionalistas (Karl Popper, Noam Chomsky) ou
irracionalistas (Friedrich Nietzsche, Martin Heidegger) e, no campo da filosofia da ciência (P. Feyerabend e
Thomas Kuhn).
Esse arcabouço filosófico é oposição à idéia de evolucionismo e à noção de progresso. Se baseia na idéia de
progresso ligado à desilusão radical com uma história recente que estaria mostrando que a modernização, o
racionalismo, a ciência não foram fatores de libertação e felicidade, e sim, geraram monstros.
Essas criticas desembocam na contestação da possibilidade de explicação racional do social, do humano, que
não passaria de uma ilusão cientificista desprovida de conteúdo efetivo, mas perniciosa porque em torno dela se
constituiria um saber terrorista a serviço do poder.
- Contra o marxismo e annales: têm ausência ou insuficiência em preocupações com o individuo, o subjetivo,
devido a uma obsessão pelo que é estrutural e transindividual, e com o poder: no âmbito do marxismo, por
limitar-se este a uma teoria de tomada do poder, sendo insuficientes suas indicações acerca da noção mesma de
poder; no caso dos annales, como resultado indesejável de suas plemicas contra uma história tradicional de
corte político-militar.
- Desafios: produzir uma teoria holística do social que, escapando à parte fundamentada das criticas feitas às
teorias disponíveis, desse conta das sociedade de hoje - o que qualificaria também para o entendimento das
sociedades passadas.
- Múltiplas histórias: como teorizar, nestas condições, sobre as sociedades vistas holisticamente, se elas estão
em pleno devir para se tornarem “outras”, ainda no capitalismo? Isso gera a dissolução da história em múltiplas
histórias e do abandono dos grande tournants históricos como a revolução francesa.
- Nova teoria: terá muitos elementos do marxismo e, mais em geral, do “paradigma iluminista”; mas será uma
teoria nova, diferente. Deve-se combater certas tendências perigosas da atualidade: a indiferença aos direitos
humanos e a ofensiva neoconservadora e neoliberal.
O paradigma “pós-moderno”
- Para J. F. Lyotard se caracteriza: pela morte dos centros e pela incredulidade em relação às metanarrativas.
O primeiro ponto, se aplicado à historia-disciplina, levaria a afirmar que os pretensos centros (de onde se fala) a
partir dos quais se afirmariam as diversas posturas diante da mesma não são legitimas ou naturais, mas sim
ficções arbitrarias e passageiras, articuladoras de interesses que não são universais: são sempre particulares,
relativos a grupos restritos e socialmente hierarquizados de poder (não há historia, há histórias “de” e “para” os
grupos em questão). O segundo ponto significa que, no mundo em que vivemos, qualquer metadiscurso,
qualquer teoria global, tornou-se impossível de se sustentar devido ao colapso da crença nos valores de todo o
tipo e em sua hierarquização como sendo universais, o que explicaria o assumido niilismo intelectual
contemporâneo, com seu relativismo absoluto e sua convicção de que o conhecimento se reduz a processos de
semiose e interpretação (hermenêutica) impossíveis de serem hierarquizados de algum modo que possa
pretender ao consenso.
- Tendência hermenêutica para Jean-Claude Gardin: 1) a dualidade natureza/cultura; 2) o lugar do sujeito
(como autor social e como observador do social); 3) uma revisão dos critérios de validação; 4) a inevitabilidade
de uma multiplicidade de interpretações para cada objeto estudado.
- Hermenêutica: 1º a noção de que o comportamento humano e seus resultados são essencialmente diferentes
dos fenômenos estudados pelas ciências naturais, o que impediria qualquer aproximação metodológica a estas
ultimas. 2º a partir do anterior afirmar ser desejável, no campo do humano ou social, levar-se em conta o papel
dos indivíduos e dos pequenos grupos, com seus respectivos planos, consciências, representações (imaginário),
crenças, valores, desejos.
- conseqüência: são postas em duvida e rechaçadas as formas de validação do conhecimento antes usuais.
- conclusão: caí num relativismo radical: as interpretações são necessariamente múltiplas a respeito de um dado
tema; e inexistem formas aceitáveis se escolher entre elas. São todas validas se satisfazerem aos critérios do
autor e daqueles que com ele concordarem.
- Forma de história limitada: a reconstrução do labor profissional empreendido pelos historiadores a partir das
“formas de representação”, dos “níveis de discursividade”, das “epistermes” mostraria a inexistência no
conhecimento que produzem, de um caráter cientifico, objetivo, racional. Por conseguinte, seria recomendável
abandonar o analítico, o estrutural, a macroanálise, a explicação – ilusões cientificistas – em favor da
hermenêutica, da micro-história, da valorização das interações intencionalmente dirigidas, da concepção da
história como sendo narrativa e literária.
- Quem elaborou: geração de 68, abandonando a crença na mudança social global, apoiando movimentos
parcializados (negros, gays, feminismo) caindo no neoliberalismo, social-democracia ou neoconservadorismo.
- Conclusão: o conhecimento humano em todas as suas formas tem a ver com linguagens (verbais ou não) e
processos de significação (semiose). A compreensão mais radical indica que o pós-modernismo consiste em
afirmar que os processos de semiose e as linguagens são o que de fato existe. A outra forma não descarta o
racionalismo e o “eu” individual ou coletivo, o sujeito, mas sim à sua reconstrução à base da consideração da
existência das programações, linguagens e semioses, e de sua interpretação.
- Visão nova história: no lugar de uma sociedade global, não existe nessa visão de desarticulação social,
teríamos grupos variados e numerosos, interesses diversos e subculturas.
- Criticas Robert Pipin: conclui que os pós-modernistas e os pós-estruturalistas, apesar de toda a atenção que
prestam a linguagem, texto, desejo, psicanálise, gênero, etc., não souberam resolver os problemas que
atormentaram os pensadores que criticaram a modernidade no século XIX, nem mesmo conseguiram livrar-se
efetivamente das problemáticas próprias do modernismo. O anti-racionalismo típico deles às vezes se
acompanha de certo desleixo teórico e metodológico. Os pós-modernos costumam, com efeito, ser mais
apodícticos e retóricos do que argumentativos. Nem mesmo se preocupam com a refutação detalhada e rigorosa
das posições contrarias.
- Criticas de David Carr: combater o relativismo extremo, para os quais o significado do social é visto como
um texto abordado num relativismo culturalmente contextualizado, já que cada interpretação cria um novo
significado e, assim, sendo, ocorre uma relativização completa de todas as categorias, encaradas como simples
símbolos desprovidos de todo conteúdo material.
- Critica de Roger Keesing: mostrou que a cultura pode ser entre outras coisas, um modo de mascarar e
sustentar poderes e privilégios, de ocultar a exploração e a opressão. Apontando a necessidade de se perguntar
quem cria e define os significados culturais e com que finalidade.
Conclusão
- O que fica da nova história: a ampliação considerável dos objetos e estratégias de pesquisa e a reivindicação
do individual, do subjetivo, do simbólico como dimensões necessárias e legitimas da analise histórica.
- Não cometer os mesmos erros: não se deve passar do cientificismo para uma hermenêutica que se esgote em
si mesma. A história e as CS não estão condenadas e escolherem teorias deterministas da estrutura e teorias
voluntaristas da consciência, sobretudo considerando posturas unilaterais e polares - nem a passar de uma
ciência frequentemente mal conduzida – comprometida com teorias defeituosas da causação e de determinação
com uma analise estrutural unilateral – às evanescencias da “desconstrução” e ao império exclusivo do
relativismo e da microanálise.

* Historia Social (oposição ao rankeano)– Hebe Castro

O Surgimento da história social


- Como é vista: 1º a história social passa a ser encarada como perspectiva de síntese, como reafirmação do
principio de que, em história, todos os níveis de abordagem estão instritos e se interligam. Frente à crescente
tendência à fragmentação das abordagens historiográficas, esta acepção da expressão é mantida por muitos
historiadores como horizonte da disciplina.
2º desde 50, ela é reivindicada por diversos historiadores em sentido mais restrito, como abordagem capaz de
recortar um campo especifico de problemas a serem formulados à disciplina histórica.
Historia social: evolução
- Ponto de partida: é a crise dos estruturalismos – seja da matriz braudeliana, marxista ou funcionalista,
emergente nos anos 70 e umbilicalmente ligada a uma avassaladora consciência de que os comportamentos e
realidades sociais definitivamente não se conformavam a ficar confinados a modelos preestabelecidos. Por outro
lado, os métodos quantitativos, se trouxeram as grandes massas para a história, retiraram a face humana.
- Aproximação com a antropologia: levou a historia social a privilegiar progressivamente abordagens
socioculturais sobre os enfoques econômico-sociais até então predominantes.
- Lévi-Strauss: história dos costumes em oposição aos eventos.
- Thompson: história vista de baixo, noções de experiência e cultura no cerne das analises sobre a ação social.
Se concentra na compreensão da experiência das pessoas comuns, no passado, e de suas reações a esta própria
experiência.
- Intercambio com a antropologia: permitiu transformar rituais, mitos e imagens em fontes históricas. O uso
antropológico de fontes ligadas à repressão, como os processos de inquisição, inquéritos policiais e processos
judiciais, tem-se mostrado extremamente fértil.
- Geertz: sua influencia ajuda: 1º a elaboração de uma noção de cultura percebida como inerente à natureza
humna e que engloba e informa toda ação social. Toda ação humana (não apenas o habito e o costume) é
culturalmente informada para que possa fazer sentido num determinado contexto social. Não apenas as
representações, mas também as ações sociais são ‘textos”.
- Limite de Geertz: apenas “interpretar as interpretações” e o grau de relativismo, como forma de evitar novas
condições hierárquicas das sociedades ou das culturas, encontram-se sujeitos a criticas dos que consideram que
é possível evitar o relativismo absoluto, proceder à comparação entre culturas e buscar a explicação na história
das sociedades, sem assumir em relação a elas concepções hierárquicas.
- Focault: pós-estruturalismo, recuperar uma abordagem dinâmica, antes que estática, da cultura e da história.
Rompimento radical tanto com a presunção da existência de estruturas sociais quanto com a ênfase no vivido e
na experiência, que classicamente definem o campo da história social. resulta daí uma aproximação entre
história e critica literária, Bem como uma percepção do conflito e da dinâmica histórica, referida às relações de
poder, produzidas no nível do simbólico.
- Micro história: propõem-se, de fato, as vivencias históricas individuais, passiveis de serem parcialmente
reconstituídas, como um nível privilegiado de observação para rever e formular novos problemas à explicação
histórica.
- Giovanni Levi: micro-história procuraria ir além da interpretação para tentar formular explicações históricas.
- Síntese: frente à multiplicação de objetos e abordagens, a partir das temáticas clássicas em história social, não
me parece mais factível caracteriza-la como especialidade da disciplina histórica. A história social mantém,
entretanto, seu nexo básico de construção, enquanto forma de abordagem que prioriza a experiência humana e
os processos de diferenciação e individuação dos comportamentos e identidades coletivos – sociais – na
explicação histórica.
- Conclusão: 1) é possível atribuir um sentido especifico à história social enquanto abordagem histórica, no
atual panorama das discussões historiográficas internacionais; 2) boa parte da pesquisa histórica recente, no
Brasil, se forma criativa e sem qualquer tipo de mimetismo, tem estado sintonizado com ela.

* História e Poder – Francisco Falcon

- 2 olhares sobre essa relação: há um olhar que busca detectar e analisar as muitas formas que revelam a
presença do poder na própria história; e outro que indaga dos inúmeros mecanismos e artimanhas através dos
quais o poder se manifesta na produção do conhecimento histórico.
- Estudar visões de poder: o poder visto como objeto da investigação/produção histórica e o poder enquanto
agente instrumentalizador da própria oficina da história, com o que o conhecimento histórico se converte em
seu objeto.
Poder e política na historiografia ocidental – ou ascensão, apogeu e declínio da história política
- História nasce: nasceu, sim, com os gregos uma certa concepção de história: uma narrativa de certo tipo de
ações heróicas ou humanas dignas de serem lembradas.
Era a história dos historiadores, que mais tarde se tornou a história política tradicional.
- Como é a visão: centralizada e institucionalziada de poder. Ligada intimamente ao poder, essa história
pretendeu ser também memória.
- Na idade média: praticada por eclesiásticos e escribas leigos, há continuidades e diferenças, retenção de
certos eventos e a continuidade narrativa, trata-se sempre de múltiplas histórias, sobre assuntos seculares ou
eclesiásticos.
- Na idade moderna: 1) continuou a ter a velha função de mestra da vida, mas os humanistas a utilizam
também no ensino da retórica. 2) a sombra de Maquiavel faz pairar sobre ela uma desconfiança terrível: talvez,
na verdade, a história não seja capaz de ensinar senão política e nada tenha a ver com a moral e a ética; 3) trata-
se de histórias que se referem cada vez mais aos estados territoriais ou dinásticos, conhecidas monarquias
nacionais dos estados absolutistas.
- Inovação: ilustração e romantismo acentuaram ainda mais a importância do político.
- Iluminismo: abrange a história interpretada pelos filósofos e as histórias produzidas pelos historiadores
eruditos – antiquários. Filosofia faz uma história racional e explicativa da totalidade do devir histórico.
Antiquários aperfeiçoaram o instrumental da critica das fontes documentais, além de revelarem novos acervos
à investigação histórica.
- Romantismo: contra as concepções iluministas consideradas abstratas e absurdas – racionalismo extremado,
unversalismo ético-juridico e histórico, naturalismo fisicalista - o romantismo propôs e defendeu perspectivas
quase diametralmente opostas: o papel e a importância do sentimento, a intuição, o individualismo, o
organicismo e a história.
- A história metódica: levou a supremacia da história política - narrativa, factual, linear - ao seu apogeu nos
meios acadêmicos. Tratava-se de distinguir a verdade histórica da ficção literária a partir da separação entre
dois tipos de fatos – os verdadeiros, que podem ser comprovados, e os falsos, de comprovação impossível.
Assim, a história política, é ciência e não arte, consistindo a tarefa do historiador não em evocar ou reviver o
passado, como desejavam os românticos, mas sim em narrar/descrever os acontecimentos desse passado como
eles realmente se passaram.
- Marx, Tocqueville, Engels, Burckhardt, Dilthei – abordam a sociedade, a economia e a cultura, quase
sempre em busca de determinações ou fatores não políticos importantes ou essenciais para a
compreensão/explicação dos processos políticos.
- Criticas à metódica/positivista: 1º Pré-annales se inclui a influencia da sociologia durkheimiana, vocalizada
por François Simiand, a geografia humana de Vidal de La Blache; Henri Berr em prol da síntese histórica, Paul
Mantroux, Henri Pirenne;
2º O novo historicismo, ou historismo, Dilthey, Rickert, Simmel, Max Weber. B. Croce neo-hegelianismo,
Collingwood, .
Os limites dessas criticas aconteceu, pois não foram suficientes para provocar de imediato grandes alterações no
panorama da historiografia, ou seja, não conseguiram abalar a posição dominante da história política, nem a
supremacia institucional da “historiografia metódica” ou positivista.
- Declínio da história política: a partir de 1929/30.
- Annales: Febvre e Bloch tinham dois adversários a enfrentar: uma certa concepção acerca da natureza do
conhecimento histórico e o primado da história política no campo da historiografia. Quanto ao primeiro, os
annales propuseram a ampliação do domínio historiográfico, ou seja, a história como estudo do homem no
tempo, ou a totalidade social em ultima analise, com a conseqüente redefinição de conceitos fundamentais como
documento, fato histórico e tempo. Com relação à história política tradicional, as criticas foram incisivas e
definitivas: recitativo interminável de eventos políticos e batalhas.
Novos caminhos do poder e da política na historiografia contemporânea
- Pós 45 a 70: crise final da HPT e, no período seguinte, a progressiva constituição da “nova história política”.
A escola dos annales ajudou a declinar a HPT no pós-guerra.
- Nova história: consagrada nos anos 70, relegou a hp a um lugar secundário.
- Annales: 1ª geração estigmatizou a hp como sinônimo de história factual, a 2ª, de Braudel, relegou os fatos
políticos ao “tempo curto”. 3º foi obrigada a abandonar alguns paradigmas dos annales: a unidade de método
com as CS e humanas e a unidade do objeto - o homem. Invibializou assim a possibilidade de uma história
global, criando espaços de dispersão múltiplas unidades, acaba-se a grande historia, a história, sobra a múltipla
história, era a nova história.
- Marxismo: a perspectiva do político em geral e da historia política, em particular, foi sempre, desde Marx e
Engels, oposta aos pressupostos e características da hpt.
- Criticas marxistas: denunciou os 3 ídolos principais da hp: uma noção de político/política desvinculada da
totalidade do processo histórico e presa fácil da ideologia; o caráter voluntarista de uma história baseada em
idéias e ações de alguns poucos agentes históricos individuais; um discurso histórico-narrativo, cronológico e
linear construído em função de uma epistemologia empirista.
- Efeitos antagônicos do marxismo: recolocou no primeiro plano da escrita da história o poder, o político e a
política. Mas aprofundou a atitude, entre os historiadores marxistas, de franca rejeição da hpt com seus
chamados fatos, seus conhecidos atores, enfim, sua alienação.
- Nova história: possibilitou a abertura para concepções novas e variadas a respeito de temas pouco
freqüentados pela historiografia: os poderes, os saberes enquanto poderes, as instituições supostamente não
políticas, as praticas discursivas.
A historiografia política passou a enfocar, nos anos 70, a microfísica do poder, no cotidiano de cada individuo
ou grupo social.
- Novas contribuições do marxismo: conceitos gramscianos de hegemonia, bloco histórico, intelectuais
tradicionais e orgânicos, e althusserianos de autonomia relativa, aparelhos ideológicos do estado,
sobredeterminação.
Lançaram luz nova sobre o político, o estado, suas relações com a sociedade civil, além de abrirem a
investigação histórica à questão muito mais ampla do poder, e daí à das formas de dominação.
- Contribuições de Geertz: poder e política passam assim ao domínio das representações sociais e de suas
conexões com as praticas sociais; coloca-se como prioritária a problemática do simbólico – simbolismo, formas
simbólicas, mas sobre tudo o poder simbólico, com em Bourdieu. Não mais apenas a política em seu sentido
tradicional mas, em nível das representações sociais ou coletivas, os imaginários sociais, a memória ou
memórias coletivas, as mentalidades, bem como as diversas praticas discursivas associadas ao poder.
- Orientações da Nova História Política: radicais: são as interpretações que conduzem o historiador a
subsumir a política na esfera do poder, de modo que se perde de vista a quase por completo sua autonomia,
ainda que relativa.
A tendência passa a ser substituir a historia política por algum tipo de historia das formas de dominação não
vindo ao caso se baseada em matriz teórica marxista, weberiana ou outra qualquer. Situa-se no extremo desse
radicalismo a pulverização do poder e sua redução a efeitos de sentido produzidos em função de praticas
discursivas especificas.
Moderadas: resgatar ao que se convencionou designar como sendo a legitimidade da história política. 1) marcar
suas próprias distancias em relação aos erros e equívocos da hpt; 2) apropriar-se de métodos e teorias
desenvolvidos tanto por historiadores quanto por cientistas sociais, sempre que se possa, a partir dessa
apropriação, produzir abordagens inovadoras e hipóteses cientificas no campo da história política. 3) redefinir
alguns dos antigos objetos da história política mas, principalmente, definir novos e mais modernos objetos.
- Fatores para surgimento da Nova História Política: condicionamentos históricos, epistemológicos e
disicplinares. Os fatores históricos mais mencionados compõe: o advento da sociedade pos-industrial, domínio
tecnológico, consubstanciado na informática, sobre um conjunto de seres humanos massificados e manipulados
pela mídia; o retorno do acontecimento como noticia e a percepção aguda do caráter eminentemente político das
decisões governamentais compreendidas na designação poltiicas publicas; a universalização da burocracia
(Weber) e a programação de vastos setores das atividades sociais.
- Novidade: na tentativa de se redefinir o político, sua realidade e especificidades, entram em jogo a noção de
social e o conceito de representação.
- Cultura política: a concepção plural do público (receptor, audiência) e as perspectivas promissoras do
conceito de cultura política (Vandermeer e Rémond) exemplificam talvez o quanto se tenta suprimir e inovar
em história política.
- Vandermeer: o comportamento eleitoral das massas (eleições, eleitores, voto partidário); os processos de
votação no congresso e legislativos estaduais (fidelidade partidária, ideologias, clientelismo ou patronagem);
instituições políticas e burocráticas. – Julliard: os sistemas políticos (estruturas institucionais e funcionários);
os agentes políticos (elites e massas); a dinâmica política (evolução dos regimes, reformas, revoluções).
- Rémond: o politico existe, distingue-se de outros tipos de realidades, constitui algo especifico, é irredutível a
outras realidades, pode ser determinante ou determinado, é dotado de certa autonomia e é capaz de imprimir sua
marca e influir no curso da história, ou ainda, como em Julliard, é o acontecimento político que deve ser revisto,
pois nem é autônomo, nem é simples subproduto.
- Peter Burke: a história política estar entre dois tipos de preocupação: com os centros de governo (poder) e
com as raízes sociais (da política e do poder).
- Foucault: formas concretas que assume a luta pelo poder e o seu exercício em instituições como família,
escola, fabrica.

* Conclusão – Caminhos e descaminhos da história – Ronaldo Vainfas

- Paradigmas rivais: os vários territórios do historiador e os campos de investigações.


Iluminista: partidário de uma cientifica e racional e portanto convencido da existência de uma realidade social
global a ser historicamente explicada, e o Pós moderno: cético em relação a explicações globalizantes e
tendentes a enfatizar em maior ou menor grau, as representações construídas historicamente.
- Iluminismo: clara distinção entre sujeito e seu objeto de investigação, assumindo a narrativa histórica a
função de explicar as sociedades a partir de modelos hipotético-dedutivos de diferentes matrizes, mas sempre
com uma visão holística (estrutural) e dinâmica (relativa ao movimento e à transformação) na analise do objeto.
Seu apogeu acontece entre 1950/68. Destacam-se o marxismo e o annales de Febvre e Bloch a Braudel.
- Nova história/pós-modernismo: certa confusão entre sujeito e objeto, resultado da crença de que o
observador/investigador é parte integrante daquilo que estuda. Processo hermenêutico de interpretação,
partidário de microrecortes, do estudo de pequenos grupos, do abandono, enfim, dos grandes tournants
históricos como a Revolução Francesa. Matrizes semi-racionalistas: Popper, irracionalistas: Nietzsche,
Heidegger e, mais modernamente: Foucault, Deleuze, Derrida, Geertz.
- Livro: correntes, campos e objetos filiados quer ao paradigma iluminista, quer ao chamado pós-moderno.
Dilemas, controvérsias e impasses enunciados, percebendo também que o tempo, hoje, é menos o de ausência
de paradigmas ou de triunfo de um deles sobre o outro do que de embate entre paradigmas rivais.
- Thompson: é revisionista, sobretudo ao conceber a construção das classes populares no plano das
representações culturais emergentes nas lutas de classe.
- História das mentalidades: se refugiou em microcampos (nova história cultural).¨
- Nova História Política: de uma lado, uma renovação da historia política com perspectiva globalizante e
preocupada, de um modo ou de outro, com o estudo do Estado, suas instituições, grupos de pressão ou
organizações de viés macropolitico; de outro, preocupação menos com o político ou a política do que com o
poder, e particularmente com os micro-poderes, partindo-se de uma concepção particularizante e pulverizadora
do exercício da dominação ou das estratégias de sujeição do individuo - e novamente aí percebe-se a forte
influencia de Foucault.
- Conclusão: as abordagens macro e micro-histórica não são necessariamente excludentes, apesar de originarias
de paradigmas distintos e, até certo ponto, opostos.
História-síntese e micro-história não são, portanto, necessariamente excludentes. São abordagens que se podem
combinar, em graus variáveis, num mesmo livro, numa mesma pesquisa.
Macro-história e micro-história – para usar metáforas alusivas – são apenas modos distintos de conceber a
história e de fazer a história. Não existe superioridade ou vantagem a priori de um sobre outro em termos
epistemológicos, mas sim, fundamentalmente, diferentes escalas ou pontos de observação.
- Macro e Micro: sensíveis diferenças entre um enfoque hipotético-dedutivo, generalizante e macroexplicativo,
e uma abordagem indiciaria, muitas vezes, pulverizadora, convencida talvez de que se a história é ciência, trata-
se de uma ciência do particular (Ginsburg)
A história realmetne não pode estar condenada, como afirma Cardoso, “a escolher entre teorias deterministas da
estrutura e teorias voluntaristas da consciência”. Combinar abordagens distintas talvez seja o ideal,
resguardadas as diferenças e até a oposição.
Falar em fim da história é idéia desprovida de qualquer sentido.

História e modelos – Virgínia Fontes

- O que é: É um instrumento de trabalho que, orientado teoricamente, é capaz de estabelecer homologias


(construindo isomorfias) entre dados que à primeira vista, são dispares, fazendo ressaltar o sistema que os
ordena.
O Conceito de Modelo
- Modelo: é uma operação conceitual visando a representar relações ou funções que ligam as unidades de um
sistema. 1º Construir um modelo supõe uma generalização previa (formulação clara de hipótese ou problema,
condição para a sua própria elaboração). 2º na aplicação, ele deve permitir uma explicação abrangente de um
fenômeno ou grupo de fenômenos. Jamais um modelo é idêntico.
- Dimensões do modelo: sua elaboração, sujeita às diferentes teorias do conhecimento, e sua aplicação,
enquanto técnica controlada para o esclarecimento de aspectos específicos de um problema e posterior
construção explicativa.
- Parâmetros: objeto de estudo (objetos e variáveis), estabelecimento das propriedades dos objetos (classes de
constantes, ou grupo de objetos que satisfazem uma dada propriedade), elaboração de uma “generalidade” do
domínio considerado (verificação da aplicabilidade) entre os enunciados possíveis.
1º Significa que o uso de modelos pressupõe, por si só, que a historia não é composta de fatos únicos,
irreptíveis, nem de singularidades irredutíveis umas às outras.
2º Relacionar esses diferentes grupos implica respeitar a forma pela qual tal relação se estabeleceu
historicamente na pratica social.
3º O uso de modelos permite o exercício de experimentações, nas quais as hipóteses podem ser efetivamente
testadas.
O uso dos modelos
- O que garante um modelo: a pertinência de sua elaboração, de sua aplicação e construção explicativa.

O PODER SIMBÓLICO – PIERRE BORDIEU

Destacamos no campo das ciências sociais a importância dada às estruturas simbólicas na leitura do
mundo, e a abrangência em usar sua teoria em fronts de: educação, cultura, arte, literatura, etc.
O campo de produção simbólico suscita a relação de força entre os agentes, que leva à relação de sentido.
Nesta perspectiva a violência simbólica apresenta tema central nos estudos de Bourdieu. Tal violência não é
fruto da instrumentalização pura e simples de uma classe sobre a outra, mas é exercida através dos jogos
engendrados pelos atores sociais, numa abordagem denominada por ele como "construtivismo estruturalista",
enfatizavando que a sociedade é uma produção humana, uma realidade objetiva. O homem é uma produção
social.
Bourdieu analisa o mundo social através de um processo de causalidade circular que articula níveis
diferentes da realidade separados pela micro e macro sociologia. Duas noções bem formuladas pelo autor,
quando se refere às instâncias que sustentam o mundo social: campos sociais e habitus. A relação entre estas
instâncias faz com que as estruturas se tornem corpo, e igualmente, que o corpo se faça estrutura.
Nessa perspectiva, e armado com outros conceitos, como legitimidade, estratégia, classe social, interesse,
capital simbólico, Bourdieu avança em vários domínios da sociedade, campos sociais, e faz seu combate
sociológico. Entre os campos sociais analisados destacamos dois, o campo da produção intelectual (homo
academicus) e da produção jornalística.
Resumo: três conceitos fundamentais: poder simbólico, campo e habitus.

Ele surge como todo o poder que consegue impor significações e impô-Ias como legítimas. Os símbolos
afirmam-se, assim, como os instrumentos por excelência de integração social, tornando possível a reprodução
da ordem estabelecida. O campo surge como uma configuração de relações socialmente distribuídas. Através da
distribuição das diversas formas de capital - no caso da cultura, o capital simbólico - os agentes participantes em
cada campo são munidos com as capacidades adequadas ao desempenho das funções e à prática das lutas que o
atravessam. As relações existentes no interior de cada campo definem-se objectivamente, independentemente da
consciência humana. Na estrutura objectiva do campo (hierarquia de posições, tradições, instituições e história)
os indivíduos adquirem um corpo de disposições, que Ihes permite agir de acordo com as possibilidades
existentes no interior dessa estrutura objectiva: o habitus. Desta forma, o habitus funciona como uma força
conservadora no interior da ordem social.

Construtivismo estruturalista ou estruturalismo construtivista


Bourdieu, permitindo ter seu pensamento rotulado, adota como nomenclatura o construtivismo estruturalista
ou estruturalismo construtivista. Esta postura consiste em admitir que existe no mundo social estruturas
objetivas que podem dirigir, ou melhor, coagir a ação e a representação dos indivíduos, dos chamados agentes.
No entanto, tais estruturas são construídas socialmente assim como os esquemas de ação e pensamento,
chamados por Bourdieu de habitus. Bourdieu tenta fugir da dicotomia subjetivismo/objetivismo dentro das
ciências humanas. Rejeita tanto trabalhar no âmbito do fisicalismo, considerando o social enquanto fatos
objetivos, como no do psicologismo, o que seria a "explicação das explicações". O momento objetivo e
subjetivo das relações sociais estão numa relação dialética. Existem realmente as estruturas objetivas que
coagem as representações e ações dos agentes, mas estes, por sua vez, na sua cotidianidade, podem transformar
ou conservar tais estruturas, ou almejar a tanto. A verdade da interação nunca está totalmente expressa na
maneira como ela se nos aprensenta imediatamente. Uma das mais importantes questões na obra de Bourdieu se
centraliza na análise de como os agentes incorporam a estrutura social, ao mesmo tempo que a produzem,
legitimam e reproduzem. Neste sentido se pode afirmar que ele dialoga com o Estruturalismo, ao mesmo tempo
que pensa em que espécie de autonomia os agentes detêm. Bourdieu, então, se propõe a superar tanto o
objetivismo estruturalista quanto o subjetivismo interacionista (fenomenológico, semiótico).
Uma das coisas mais importantes na pesquisa científica é exatamente a construção do objeto do conhecimento,
através da união de opções teóricas e técnicas empíricas, que podem ser multivariadas, a fim de quebrar o
monoteísmo metodológico e jogar novas luzes sobre diversos ângulos do mesmo prisma. O cientista social deve
estar atento aos por menores dos procedimentos da pesquisa, posto que, a construção do objeto
“é um trabalho de grande fôlego, que se realiza pouco a pouco, por retoques sucessivos, por toda uma série de
correções, de emendas, sugeridos por o[sic] que se chama ofício, quer dizer, esse conjunto de princípios que
orientam as ações ao mesmo tempo minúsculas e decisivas”. ( p. 27)
O primeiro preceito do método está relacionado à noção de campo, alertando o sociólogo que se deve pensá-lo
como um espaço de relações de forças entre posições sociais, que vão sendo desvendadas pelo pesquisador. O
grande risco de se cair na armadilha das pré-noções para o pesquisador é não conhecer sua verdadeira
motivação de interesse acerca do objeto que estuda. È preciso cercar-se de ceticismo, questionar todos os seus
pressupostos e variáveis possíveis, numa atitude ativa e sistemática, alicerçado não só na intuição racional,
como também no raciocínio analógico.
Bourdieu aponta a necessidade de rupturas epistemológicas, considerando a dificuldade dessa quebra de
paradigmas na medida em que estas foram fundamentadas por um corpo de profissionais. A profissão no saber
científico é uma “construção social, produto de todo um trabalho social de construção de grupo e de uma
representação dos grupos”, (p.40) os quais possuem um ritual próprio – listas feitas, documentação,
procedimentos – para estudar determinados objetos. Desta forma, têm-se uma aparência de cientificidade, sem
empreender o verdadeiro trabalho científico, que é a construção do próprio objeto de estudo.
- Habitus: Assim, o conceito de habitus que ele desenvolverá ao longo da sua obra corresponde a uma matriz,
determinada pela posição social do indivíduo que lhe permite pensar, ver e agir nas mais variadas situações.
O habitus traduz, dessa forma, estilos de vida, julgamentos políticos, morais, estéticos. Ele é também um meio
de ação que permite criar ou desenvolver estratégias individuais ou coletivas.

Espaço Social, Campo Social, Habitus e Conceito de Classe Social em Pierre Bourdieu

Como e com quais categorias Bourdieu pensa a sociedade? Bourdieu compreende que os atores sociais estão
inseridos espacialmente em determinados campos sociais, a posse de grandezas de certos capitais (cultural,
social, econômico, político, artístico, esportivo etc.) e o habitus de cada ator social condiciona seu posiciomento
espacial e, na luta social, identifica-se com sua classe social. Bourdieu afirma que para o ator social tentar
ocupar um espaço é necessário que ele conheça as regras do jogo dentro do campo social e que esteja disposto a
lutar (jogar). O que determina a posição espacial no campo social? Quais os princípios de diferenciação que
condicionam a ocupação do espaço social? Nas sociedades desenvolvidas as alavancas mais eficientes de
distinção são as posses de capital econômico e de capital cultural. Logo, os sujeitos ocuparão espaços mais
próximos quanto mais similar for a quantidade e a espécie de capitais que detiverem. Em contrapartida, os
agentes estarão mais distantes no campo social quanto mais díspar for o volume e o tipo de capitais. Assim,
pode-se dizer que a riqueza econômica (capital econômico) e a cultura acumulada (capital cultural) geram
internalizações de disposições (habitus) que diferenciam os espaços a serem ocupados pelos homens.
Dessa forma, portadores de um quantum de capital de diversas naturezas, seja ele capital cultural, capital social,
capital político, capital artístico, capital esportivo, capital econômico etc., estão a contestar ou a aceitar certas
diretrizes que redefinem as bases da sociedade. É o que explica Bourdieu:
Sem dúvida, os agentes constróem a realidade social; sem dúvida, entram em lutas e relações visando a impor
sua visão, mas eles fazem sempre com pontos de vista, interesses e referenciais determinados pela posição que
ocupam no mesmo mundo que pretendem transformar ou conservar (1989, p. 8).
O habitus é uma forma de disposição à determinada prática de grupo ou classe, ou seja, é a interiorização de
estruturas objetivas das suas condições de classe ou de grupo sociais que gera estratégias, respostas ou
proposições objetivas ou subjetivas para a resolução de problemas postos de reprodução social. Resta ainda
tentar compreender qual é o conceito de classe social em Bourdieu. Para o pensador francês, "as classes sociais
não existem (...). O que existe é um espaço social, um espaço de diferenças, no qual as classes existem de algum
modo em estado virtual, pontilhadas, não como um dado, mas como algo que se trata de fazer" (1996, p. 26-
27). À primeira vista pode ser um vaticínio extremamente negativo. Mas, ao contrário, há um sentido positivo
neste conceito. Bourdieu referencia-se em Thompson para definir o que é classe social:

"é preciso construir o espaço social como estrutura de posições diferenciadas, definidas, em cada caso,
pelo lugar que ocupam na distribuição de um tipo específico de capital. (Nessa lógica, as classes sociais
são apenas classes lógicas, determinadas, em teoria e. se se pode dizer assim, no papel, pela delimitação
de um conjunto – relativamente – homogêneo de agentes que ocupam posição idêntica no espaço social;
elas não podem se tornar classes mobilizadas e atuantes, no sentido da tradição marxista, a não ser por
meio de um trabalho propriamente político de construção, de fabricação.

As classes sociais são uma realidade histórica. Para Thompson, a referência do conceito de classe de Bourdieu,
"por classe, entendo um fenômeno histórico, que unifica uma série de acontecimentos díspares e aparentemente
desconectados, tanto na matéria-prima da experiência como na consciência" (Thompson, 1987, p. 9). Assim,
não se encontra na teoria de Bourdieu um sujeito social a-histórico e paralisado, o que existe é a luta constante
entre os atores sociais para a ocupação dos espaços nos campos sociais e, no mesmo sentido marxista, no que se
refere as classes sociais, estas somente se tornam classes mobilizadas e atuantes quando acontece um trabalho
político de construção. Nesse sentido, pode-se concluir com o próprio Thompson, "a classe é definida pelos
homens enquanto vivem sua própria história (...)" (1987, p. 12). Dessa maneira, discutir sobre a distribuição de
capitais, habitus, campo social e ocupação do espaço social é debater sobre a luta dos atores sociais, que pode,
caso exista um trabalho de ação política, tornar-se prática e teoricamente luta de classes, ou seja, Bourdieu ao
apresentar estudos sobre a reprodução de classes e como se transfere as heranças distintivas nas sociedades
contemporâneas demonstra, também, que é possível fazer uma "omelete social", para isso, ressalte-se, deve
existir um trabalho político de construção da ação coletiva com o sentido de luta de classes.

Costumes em comum - estudos sobre a cultura popular tradicional –


Edward Palmer Thompson

- Marxista estuda costumes: a consciência e os usos costumeiros eram particularmente fortes no século XVIII.
Alguns desses costumes eram de criação recente e representavam as reivindicações de novos direitos. Esses
costumes encontravam-se em declínio, juntamente com a magia, a superstição e a feitiçaria. O povo estava
sujeito a pressões para reformar sua cultura segundo normas vindas de cima, a alfabetização suplantava a
transmissão oral e o esclarecimento escorria dos estratos superiores aos inferiores.
- Costume – campo de disputa: o costume era um campo para a mudança e a disputa, uma arena na qual
interesses opostos apresentavam reivindicações conflitantes.
- Cultura: é também um conjunto de diferentes recursos, em que há sempre uma troca entre o escrito e o oral, o
dominante e o subordinado, a aldeia e a metrópole; é uma arena de elementos conflitivos, que somente sob uma
pressão imperiosa – por exemplo - o nacionalismo, a consciência de classe ou a ortodoxia religiosa
predominante - assume a forma de um sistema. E na verdade o próprio termo “cultura”, com sua invocação
confortável de um consenso, pode distrair nossa atenção das contradições sociais e culturais, das fraturas e
oposições existentes dentro do conjunto.
- Cultura plebéia séc. XVIII: sempre resiste, em nome do costume, às racionalizações e inovações da
economia que os governantes, comerciantes ou empregadores querem impor. A inovação é mais evidente na
camada superior da sociedade, mas como ela não é um processo tecnológico/social neutro e sem normas
(modernização, racionalziacao), mas sim a inovação do processo capitalista, é quase sempre experimentada pela
plebe como uma exploração, a expropriação de direitos de uso costumeiros, ou a destruição violenta de padrões
valorizados de trabalho e lazer. Por isso a cultura popular é rebelde, mas o é em defesa dos costumes.
- Identidade social se altera: tem ambigüidade a identidade dos trabalhadores, se altera.
- Estudar comportamento operário: sentimos que é necessário “decodifica-lo” e decodificar suas formas de
expressão simbólica, revelando as regras invisíveis, distintas daquelas que os historiadores dos movimentos
operários subseqüentes se habituaram a esperar.
- Em defesa dos costumes: entendemos a história social do século XVIII como uma serie de confrontos entre
uma economia de mercado inovadora e a economia moral da plebe, baseada no costume.
- Formação da classe: não estamos diante de qualquer cultura tradicional, mas de uma cultura bastante
peculiar. É popular, costumes do povo, uma defesa contra as intrusões da gentry e do clero.
- Objeto do livro: iluminar o processo de formação dos costumes e a complexidade de seu funcionamento.
- Contribuições resenhas: Rejeitando os determinismos reinantes, restaurou os trabalhadores em seu papel de
sujeitos de sua própria história. Analisou o fenômeno de classe como uma formação sobretudo cultural,
resultado concreto das lutas dos trabalhadores. O tema central do livro é a maneira como o povo inglês do
século 18 se situou em um complexo de relações sociais, tradições e rituais que exprimiram uma cultura de
resistência e, ao mesmo tempo, de acomodação.
Empirista marxista, ou marxista empirista, estava empenhado em recuperar a ‘experiência’, achou na
experiência a solução prática para analisar comportamentos, condutas e costumes na sua relação com a cultura
- na realidade com culturas específicas - com conteúdos de classe, histórica e geograficamente datados.
Classe é, para Thompson, um fenômeno histórico composto por uma multidão de experiências em relação umas
com as outras e, num constante fazer-se, e não uma categoria analítica ou estrutural. O ser social determina a
consciência social
- Obra: Boa parte de sua obra foi vinculada a questões e discursos dos próprios trabalhadores. Thompson
mostrou que essa classe não é construída somente em termos econômicos, pois se baseia na construção histórica
de experiência. Quando se faz uma releitura do passado busca-se a multiplicidade de experiência, tenta-se
revalorizar as perdas e os ganhos desses subalternos, que tiveram uma grande importância histórica, pois só
assim compreendem-se os conflitos e os processos de transformação. Thompson descreve a consciência de
classe e as experiências manipuladas dentro dos termos culturais, vendo que grande parte dessa experiência da
classe determinou as relações produtivas dentro das quais os homens nascem e são inseridos a ela de modo
involuntário. - Síntese: o domínio das
fontes, as preocupações metodológicas e políticas claras e relevantes, a originalidade das formulações -tudo
apresentado no seu estilo vigoroso, irônico e inconfundível. Rejeitando os determinismos reinantes, restaurou os
trabalhadores em seu papel de sujeitos de sua própria história.

Cultura e política nos movimentos sociais latino-americanos: Novas leituras


Sonia Alvarez, Evelina Dagnino, Arturo Escobar

* Introdução: o cultural e o político nos movimentos sociais latino-americanos


Sonia Alvarez, Evelina Dagnino, Arturo Escobar

- Luta na américa latina: é precisamente sobre os possíveis projetos alternativos para a democracia que se
trava boa parte da luta política na américa latina de hoje. O que esta fundamentalmente em disputa são os
parâmetros da democracia, são as próprias fronteiras do que deve ser definido como arena política: sues
participantes, instituições, processos, agenda e campo de ação.
- Neoliberalismo: concepção minimalista de estado e da democracia. Os cidadãos devem fazer-se por seus
próprios esforços particulares e a cidadania é cada vez mais equiparada à integração individual no mercado.
- Movimentos propõe outra democracia: redefinir o próprio sentido de noções convencionais de cidadania,
representação política e participação e, em conseqüência, da própria democracia.
Um novo conceito do cultural nas pesquisas sobre movimentos sociais latino-americanos
Da cultura à política cultural
- Objetivo: investigação sobre a relação entre cultura e política. O potencial dessa política cultural para
promover a mudança social.
- Política cultural: laço constitutivo entre cultura e política. A cultura estendida como concepção de mundo,
como conjunto de significados que integram praticas sociais, não pode ser entendida adequadamente sem a
consideração das relações de poder embutidas nessas praticas. O cultural se torna fato político.
- Ms produzem cultura: estudos culturais não deram importância suficiente aos ms como aspecto vital da
produção cultural. Cultura é dimensão de todos os campos da sociedade.
- Laço cultural/política ocorre na pratica: ms são arena crucial para a compreensão de como esse
entrelaçamento, talvez precário, mas vital, do cultural e do político ocorre na pratica.
Da política cultural à cultura política
- Cultura: luta pela reconfiguração na democracia, desafio à política dominante ou novas interpretações. Tudo
é cultura, logo tudo é política. Para Jordan e Weedon cultura não é uma esfera, mas uma dimensão de todas as
instituições – econômicas, sociais e políticas.
- Prática das políticas culturais: são também postas em ação quando os movimentos intervêm em debates
políticos, tentam dar novo significado às interpretações culturais dominantes da política, ou desafiam praticas
políticas estabelecidas.
Política cultural é o processo posto em ação quando conjuntos de atores sociais moldados por e encarnando
diferentes significados e praticas culturais entrem em conflito uns com os outros. Supõe-se que significados e
praticas – em particular aqueles teorizados como marginais, oposicionais, minoritários, residuais, emergentes,
alternativos, dissidentes e assim por diante, todos concebidos em relação a uma determinada ordem cultural
dominante – podem ser a fonte de processos que devem ser aceitos como políticos.
A cultura é política porque os significados são constitutivos dos processos que, implícita ou explicitamente,
buscam redefinir o poder social. Isto é, quando apresentam concepções alternativas de mulher, natureza, raça,
economia, democracia ou cidadania, que desestabilizam os significados culturais dominantes, os movimentos
poe em ação uma política cultura.
- Impacto: o ângulo mais importante para analisar as políticas culturais dos ms talvez seja em relação com seus
efeitos sobre as culturas políticas. Definimos cultura política como a construção social particular em cada
sociedade do que conta como político. A cultura política é o domínio de praticas e instituições, retiradas da
totalidade da realidade social, que historicamente vêm a ser consideradas como propriamente políticas (da
mesma maneira que outros domínios são vistos como propriamente econômicos, culturais e sociais).
- Cultura dominante X MS: as políticas culturais dos ms tentam amiúde desafiar ou desestabilizar as culturais
políticas dominantes.
O que está em questão para os ms, de um modo profundo, é uma transformação da cultura política dominante na
qual se movem e se constituem como atores sociais com pretensões políticas. Se os ms pretendem modificar o
poder social e se a cultura política também abrange campos institucionalizados para a negociação do poder,
então os ms necessariamente enfrentam a questão da cultura política. Em muitos casos, os ms não exigem
inclusão, mas antes buscam reconfigurar a cultura política dominante.
- América latina: as culturas políticas daqui são influenciadas pela europa e américa do norte: universalismo,
racionalismo, individualismo. Esses princípios combinaram-se com outros princípios destinados a garantir a
exclusão social e política e até a controlar a definição do que conta como político em sociedades extremamente
hierarquizadas e injustas.
- Populismo: as elite latino-americanas criaram mecanismos para uma forma subordinada de inclusão política
na qual relações personalizadas com os lideres políticos garantiam o controle e a tutela sobre uma participação
popular heterônoma.
- Estado: o promotor de mudanças, a partir de cima e assim, como o agente primário da transformação social, o
ideal de um estado forte e intervencionista, cujas funções eram vistas como incluindo a “organização” – e, em
algumas concepções, a própria “criação” da sociedade, passou a ser compartilhado por culturas políticas
populistas, nacionalistas e desenvolvimentistas, em suas versões tanto conservadoras como de esquerda.
- Ms além da democracia liberal e do autoritarismo: versões plurais de uma cultura política que vão muito
além do (re) estabelecimento da democracia formal liberal. Novo significado às noções de direitos, espaços
públicos e privados, formas de sociabilidade ética, igualdade e diferença. Re-significacao!
A reconceituação do político no estudo dos ms latino-americanos
- Político dos Ms: algo mais que um conjunto de atividades especificas (votar, fazer campanha ou lobby) que
ocorrem em espaços institucionais claramente delimitados, tais com parlamentos e partidos. Ela deve ser vista
como abrangendo também lutas de poder realizadas em uma ampla gama de espaços culturalmente definidos
como privados, sociais, econômicos, culturais e assim por diante.
- poder: uma relação social difusa por todos os espaços.
- Proposta do livro: lançar nova luz sobre o modo como os discursos e praticas dos ms podem desestabilizar e
assim – pelo menos parcialmente – transformar os discursos dominantes e as praticas excludentes da
“democracia realmente existente”.
- Política cultural: a posta em pratica pelos ms, ao contestar e dar novo significado ao que conta como político
e quem – alem da elite democrática – define as regras do jogo político, pode ser crucial, sustentamos, para
promover culturas políticas alternativas e, potencialmente, ampliar e aprofundar a democracia na américa latina.
- Novo conceito de democracia: os movimentos populares, ao lado das feministas, afro-latino-americanos,
lésbicas e homo, assim como ambientalistas, foram instrumentais na construção de uma nova concepção de
cidadania democrática, que reivindica direitos na sociedade e não apenas do estado e que contesta as rígidas
hierarquias sociais que ditam lugares fixos na sociedade para seus não cidadãos com base em critérios de classe,
raça e gênero.
- Analises predominantes da democracia: centram-se no que os cientistas políticos batizaram de “engenharia
institucional”.
- Negligencia: ainda que as analises das relações dos ms com os partidos, o estado e com as instituições frágeis,
elitistas, particularistas e corruptas dos regimes civis da américa latina mereçam atenção, elas negligenciam com
freqüência a possibilidade de que arenas públicas não-governamentais ou extra-institucionais – inspiradas ou
construídas principalmente por ms – possam ser igualmente essenciais para a consolidacao de uma cidadania
democrática significativa para grupos e classes sociais subalternos. Ao chamar a atenção para as políticas
culturais dos ms e outras dimensões menos mensuráveis e, às vezes, menos visíveis ou submersas, da ação
coletiva contemporânea, nossos autores oferecem leituras alternativas da maneira como os ms contribuíram para
a mudança cultural e política desde que o neoliberalismo econômico e a democracia representativa (limitada e
em larga medida protoliberal) se converteram nos pilares da dominação na América Latina.
- Contribuições do livro: ajudam a transcender algumas das insuficiências inerentes às leituras dominantes do
político e lançar uma luz diferente sobre suas imbricações com o cultural nas praticas dos ms latino-americanos.
Entre esses estão os recentes estudos culturais, feministas e os debates pós-marxistas e pós-estruturalistas sobre
cidadania e democracia, bem como conceitos correlatos como redes ou “teias” de ms, sociedade civil e espaços
ou esferas publicas.
Cultura e política nas redes ou teias de ms
- Síntese e como analisar: uma maneira frutífera de explorar como as intervenções políticas dos ms se
estendem para dentro e para além da sociedade política e do estado é analisar a configuração das redes ou teias
dos ms. Chamamos atenção para as praticas culturais e redes interpessoais da vida cotidiana que sustentam ms
ao longo dos fluxos e refluxos de mobilização e que infundem novos significados culturais nas praticas políticas
e na ação coletiva.
- Movimentos sociais e vida cotidiana: os ms não apenas dependem e se baseiam em redes da vida cotidiana,
mas também constroem e configuram novos vínculos interpessoais, inter-organizacionais e político-culturais
com outros movimentos, bem como com uma multiplicidade de atores e espaços culturais e institucionais. Esses
vínculos expandem o alcance cultural e político dos movimentos para muito além das comunidades locais e
pátios familiares e, alguns de nossos autores sustentam, ajudam a contrabalancear as supostas propensões
paroquiais, fragmentarias e efêmeras dos movimentos.
- Abrangência: muitas redes de movimentos são cada vez mais regionais e transnacionais no seu alcance.
- Teia: imaginar mais vividamente os entrelaçamentos em múltiplas camadas dos atores dos movimentos com
os terrenos natural-ambiental, político-instuticonal e cultural-discursivo nos quais estão incrustados.
As teias dos movimentos abrangem mais do que suas organizações e seus membros ativos, elas incluem
participantes ocasionais nos eventos e ações do movimento e simpatizantes e colaboradores de ONG`s, partidos,
universidades, instituições, a igreja e ate o estado. Quando examinamos o impacto dos movimentos, devemos
então avaliar a extensão em que suas demandas, discursos e praticas, circulam de modo capilar, como numa
teia.
- Método para analisar: devemos levar em conta também como a dinâmica e os discursos dos movimentos são
moldados pelas instituições sociais culturais e políticas importantes que atravessam as redes ou teias e como os
movimentos, por sua vez, modelam a dinâmica e o discurso daquelas instituições.
Os movimentos sociais e a revitalização da sociedade civil
- Sociedade civil também se renova: ela tornou-se a celebridade política de muitas transições latino-
americanas recentes do regime autoritário e foi uniformemente vista como um ator significativo na literatura da
democratização.
- Sociedade civil quem é: constituiu amiúde a única esfera disponível ou a mais importante para organizar a
contestação cultural e política. Porem, eles também chamam a atenção para 3 ressalvas importantes, mas nem
sempre exploradas.
1º destacam que a sociedade civil não é uma família ou uma aldeia global homogêneas e felizes, mas um terreno
de luta, minado às vezes por relações de poder não democráticas e pelos problemas constantes de racismo,
hetero/sexismo, destruição ambiental e outras formas de exclusão.
2º advertimos contra o aplauso ingênuo às virtudes da sociedade civil em suas manifestações locais, nacionais,
regionais ou globais.
3º examinamos como a fronteira entre a sociedade civil e estado fica embaçada muitas vezes nas praticas dos
ms latino-americanos.
Os movimentos sociais e a transformação do público (nexo entre cultura e politica)
- Observar ação dos ms em todos os espaços: abranger também outros espaços públicos – construídos ou
apropriados pelos ms - nos quais políticas culturais são postas em pratica e se modelam as identidades,
demandas e necessidades subalternas.
Globalização, neoliberalismo e a política cultural dos ms
Cultura, cidadania e democracia: a transformação dos discursos e praticas na esquerda latino-americana
Evelina Dagnino

- o que estuda: identificar mudanças nas abordagens feitas pela esquerda latino-americana sobre a relação entre
cultura e política, em conseqüência do amplo procesos de renovação da esquerda que se iniciou no final dos
anos 70. Se discutirá o processo de democratização e, em particular, o papel crucial desempenhado pelos ms
nesse processo.
- Objetivo: 1º referencia das tendências marxistas, tradicionais sobre a relação cultura e política. 2º marco
teórico alternativo, sob influencia de Gramsci. 3º redefinições recentes de democracia e cidadania que
emergiram das lutas dos ms e contribuíram para novas visões da relação cultura e política. 4º visões expressam
uma confluência entre novas influencias teóricas e novas orientações políticas que surgem de contextos
concretos. 5º os resultados de pesquisa sobre as concepções dos ms de democracia e cidadania a fim de
substanciar essas novas orientações.
- Debates na esquerda: a linearidade das leis que regem o desenvolvimento histórico, o determinismo
econômico, a concepção de classe operaria como sujeito privilegiado da historia, o papel da vanguarda e sua
relação com as massas, a noção de revolução e o papel do estado e da sociedade civil, foram as questões mais
importantes submetidas a debate e revisão.
- Relação entre cultura e política foi desprivilegiada pela esquerda: condenada à subordinação e à
negatividade, aprisionada em seu eterno papel de coadjuvante e confinada a rápidos capítulos finais, onde sua
importância é retoricamente reiterada, a problemática cultural não desempenhou um papel visível, fundamental,
na dinâmica desse debate. A renovação da esquerda gerou interesse pelo papel transformador da cultura,
renovou conceitos, a visão de cultura e rompeu com a camisa-de-força do marxismo.
Um impulso para a renovação veio dos próprios ms e de suas lutas.
- Porque renovação aconteceu: resposta à dinâmica concreta da sociedade latina e global, bem como aos
desafios e impasses da pratica política da esquerda. Mas, mais do que isso, quero enfatizar o papel propositivo
dos ms ao colocar novas questões e gerar novas direções para a analise teórico-politica.
Do reinado da ideologia e do estado ao apogeu da hegemonia e da sociedade civil
- Que reinava: o marco predominante conceitual na analise das relações entre cultura e política estava
subordinado ao marxismo clássico, reforçado pelo althusserianismo. A cultura, especialmente a popular, era o
domínio da alienação, da falsa consciência e da mistificação; em suma, o reino da ideologia.
- Impacto do conceito de ideologia na cultura: impregnou o domínio da cultura de uma dupla negatividade. 1º
uma negatividade derivada do determinismo econômico, que retirou da cultura qualquer possibilidade de
dinâmica própria, estabelecendo-a como uma esfera separada, uma mera expressão epifenomenal de uma
essência econômica. 2º a cultura foi aprisionada na negatividade do sentido de que as idéias, e a própria cultura,
eram consideradas como obstáculos à trasnformacao social, que deveriam então ser eliminados nas massas e
substituídos pelo conhecimento verdadeiro, pela consciência de classe, por meio de ações iluminadas dos
intelectuais, da vanguarda e do partido.
- Política: sob a influencia do estruturalismo marxista, o estado foi concebido como uma condensação das
relações de poder e como o lócus especifico da dominação na sociedade. A única e decisiva arena das relações
de poder e, portanto, o único lugar e alvo relevante da luta política, no que veio a ser conhecido como uma visão
“estatista” da política. Cultura estava em 2º plano, era menor e secundaria.
- Cultura política latina ajudou a esse argumento: a concepção de estado forte e intervencionista reforçou,
pois essa idéia estava nas verões conservadoras ou progressistas – dos projetos nacionalistas,
desenvolvimentista e populistas.
- Novas definições e influencias no debate cultura/política: a contribuição de Gramsci revelou uma ruptura
nas visões da esquerda. Ajuda a compreender as relações estabelecidas entre estado e sociedade, novos aportes
teóricos e políticos.
- Base para suas contribuições: critica poderosa contra o reducionismo econômico. Afirma uma imbricação
profunda entre cultura, política e economia e estabelece uma equivalência entre forças materiais e elementos
culturais dentro de uma visão integrada de sociedade como um todo.
- Hegemonia: processo de articulação de diferentes interesses em torno da gradual e sempre renovada
implementação de um projeto de transformação da sociedade.
- Cultura para hegemonia: é no terreno da cultura que o consentimento ativo, o modo especifico de operação
da hegemonia, que define o conceito e o distingue da dominação, é produzido ou não.
- Transformação social: a revolução não é mais concebida como um ato insurrecional, mas como um processo,
no qual a reforma intelectual e moral é parte integrante, se cria uma nova concepção de mundo, uma nova
hegemonia.
Assim, o papel das idéias e da cultura assume um caráter positivo:
1º refere-se à própria noção de poder não como uma instituição, mas como uma relação entre forças sociais que
deve ser transformada.
2º ênfase no caráter de construção histórica da transformação social, diferente de um processo fatalista e
predeterminado.
- Hegemonia: resistência no campo da cultura, democracia substituiu revolução: avançar na socialização da
política na sociedade civil como base de uma socialização radicalmente democrática do poder.
- Importância dos conceitos de Gramsci: vontade coletiva, reforma moral e intelectual, intelectual orgânico,
sociedade civil, hegemonia, proporcionaram meios adequados para a construção intelectual e a ação política no
novo cenário.
- Método de estudo da cultura: a não subordinação das relações culturais e a imbricação constitutiva entre
cultura e política, estabelecidas como princípios pela teoria de hegemonia, levaram os que buscavam
abordagens novas a fazer de Gramsci referencial obrigatório.
- Transformações: a busca de uma nova linguagem, de um novo conjunto de temas, regras e procedimentos,
novas formas de fazer política – às vezes, por uma nova cultura – delineia o alcance das transformações
embutidas nesse projeto democrático.
Democracia e cidadania: a política cultural dos ms
- MS: 1º desenvolveram uma concepção de democracia que transcende os limites tanto das instituições políticas
enquanto tradicionalmente concebidas, como do modelo das democracias tradicionalmente existentes.
2º a operacionalização dessa concepção de democracia está sendo levada adiante por meio de uma redefinição
da noção de cidadania e de seu referente central, a noção de direitos.
3º Essa ênfase na sociedade não implica, como afirmava uma parte da literatura anterior sobre ms, uma recusa
da institucionalidade política e do estado, mas, ao contrario, implica uma reivindicação radical de sua
transformação.
- MS: como os ms não constituem atores sociais ou sujeitos políticos homogêneos, mas se caracterizam pela
heterogeneidade e diversidade.
- Outro olhar para Ms: enfatizar as implicações culturais significa reconhecer a capacidade dos ms de
produzir novas visões de uma sociedade democrática, na medida que eles identificam a ordem social existente
como limitadora e excludente com relação a seus valores e interesses.
- Inovações nos Ms: não tinham que lutar por seus direitos sociais, mas pelo próprio direito a ter direitos, na
ditadura. Ruptura com clientelismo, tutela e subordinação.
- Instrumento fundamental: apropriação da noção de cidadania, amplia visão de democracia.
- Neoliberalismo usa cidadania: criadas em conexão com a implementação de políticas de ajuste econômico e
social que hoje prevalecem em toda a AL, foram particularmente enérgicas em suas tentaivas de redefinir o
domínio político e seus participantes, baseadas numa concepção minimalista de estado e democracia.
- Disputa simbólica pelo uso da cidadania: prova sua relevância política e a importância atribuída pelos
diferentes contendores às redefinições apresentadas pelos ms.
- Nova cidadania: nessa noção provem da própria concepção de democracia que tenta por em ação: a nova
cidadania busca implementar uma estratégia de construção democrática, de transformação social, que impõe um
laço constitutivo entre cultura e política. Como o papel das subjetividades, o surgimento de sujeitos sociais de
um novo tipo e de direitos também de novo tipo, bem como a ampliação do espaço da política, essa estratégia
reconhece e enfatiza o caráter intrínseco da trasnformacao cultural com respeito à construção da democracia.
- Política cultural: chamamos atenção para o laço constitutivo entre cultura e política e para a redefinição de
política que essa visão implica. Esse alço significa que a cultura, entendida como concepção de mundo, como
conjunto de significados que integram praticas sociais, não pode ser entendida adequadamente sem a
consideração das relações de poder embutidas nessas praticas.
- Diferenças da nova cidadania para a liberal d século XVIII: 1º se refere à noção mesma de direitos. A
nova assume uma redefinição da idéia de direitos, cujo ponto de partida é a concepção de um direito a ter
direitos. Inclui a invenção e criação de novos direitos, que surgem das lutas especificas e de suas praticas
concretas.
2º não está vinculada a uma estratégia das classes dominantes e do estado de incorporação política gradual dos
setores excluídos, com o objetivo de uma maior integração social ou como uma condição legal e política
necessária para a instalação do capitalismo.
3º a nova transcende uma referencia central no conceito liberal: a reivindicação ao acesso, a inclusão,
participação e pertencimento a um sistema político já dado. O direito de participar na própria definição desse
sistema, para definir de que queremos ser membros.
4º A ênfase no processo de constituição de sujeitos, em tornar-se cidadão, na difusão de uma cultura de direitos,
coloca novamente a questão da cultura democrática, e aponta para uma outra distinção fundamental: a
ampliação do alcance da nova cidadania, cujo significado está longe de ficar limitado à aquisição formal e legal
de um conjunto de direitos e, portanto, ao sistema político-juridico.
5º Cidadania não está mais confinada dentro dos limites das relações com o estado, ou entre estado e individuo,
mas deve ser estabelecida no interior da própria sociedade.
- Síntese: Quando os ms disputam os projetos de democracia, oferecem novos parâmetros para essa disputa e
reagem contra as concepções reducionistas de democracia e política. Ao politizar o que não é concebido como
político, ao apresentar como público e coletivo o que é concebido como privado e individual, eles desafiam a
arena política a alargar seus limites a ampliar sua agenda.

Sobre história – ensaios - Eric Hobsbawn

* Prefácio
- Objetivo do ensaio: 1º preocupação com os usos e abusos da história, tanto na sociedade, quanto na política, e
com a compreensão e, espero, transformação do mundo. Discute o valor da história para as outras disciplinas. 2º
diz respeito ao que tem acontecido entre os historiadores e outros pesquisadores acadêmicos do passado.
Incluem levantamentos e avaliações criticas de varias tendencias e modas em história, além de intervenções em
debates.
- Verdade da história: aquilo que os historiadores investigam é real. O ponto do qual os historiadores devem
partir é a distinção fundamental e, para eles, absolutamente central, entre fato comprovável e ficção, entre
declarações históricas baseadas em evidencias e sujeitas a evidenciação e aquelas que não o são. Acredita que
sem a distinção entre o que é e o que não é, não pode haver história.
Reivindica o materialismo histórico, como o melhor guia para a história, principalmente para o estudo da
ascensão do capitalismo moderno e as transformações do mundo desde o fim da idade média.
- Tese central: a história está empenhada em um projeto intelectual coerente, e fez progressos no entendimento
de como o mundo passou a ser como é hoje. Contra a volta da narrativa, pela história problema.

* 1 Dentro e fora da história

- Importância do passado: ele legitima, tem um pano de fundo mais glorioso a um presente que não tem muito
o que comemorar.
- História e danos: temos uma responsabilidade pelos fatos históricos em geral e pela critica do abuso político-
ideológico da história em particular.
- Pós-modernismo: implicam que todos os fatos com existência pretensamente objetiva não passam de
construções intelectuais mais intransigentes, a capacidade de distinguir entre ambos é absolutamente
fundamental, não podemos inventar nossos fatos.
- Abusos da história: o abuso mais comum baseia-se em anacronismo que em mentiras. Tentativas de
substituir a história pelo mito e a invenção são apenas piadas intelectuais de mau gosto. História não é memória
ancestral ou tradição coletiva. Os historiadores também devem se isentar das paixões de identidade política.

* 2 O sentido do passado

- Passado: é uma dimensão permanente da consciência humana, um componente inevitável das instituições,
valores e outros padrões da sociedade humana. O problema para os historiadores é analisar a natureza desse
“sentido do passado” e localizar suas mudanças e transformações. Todo o passado, toda e qualquer coisa que
aconteceu até hoje – constitui a história.
- Passado como ferramenta: continua a ser a ferramenta analítica mais útil para lidar com a mudança
constante, mas em uma nova forma. Ele se converte na descoberta da história como um processo de mudança
direcional, de desenvolvimento ou evolução.
- Previsão do futuro: a forma do futuro é vislumbrada mediante a procura de pistas no processo de
desenvolvimento passado, de forma que, paradoxalmente, quanto mais esperamos inovação, mais a história se
torna essencial para descobrir como ela será.
- Problemas do uso social do passado: os do passado como genealogia e como cronologia. Genealogia: a
atração do passado como continuidade e tradição, como nossos antepassados, é forte. Cronologia: que nos leva
ao extremo oposto da possibilidade de generalização, uma vez que é difícil pensar em alguma sociedade
conhecida que, para determinados objetivos, não ache conveniente registrar a duração do tempo e a sucessão
dos eventos. Passado exige analise e discussão.

* 3 O que a história tem a dizer-nos sobre a sociedade contemporânea

- Comparar presente e passado: é inevitável fazer comparações entre o passado e o presente, não podemos
deixar de aprender com isso, pois é o que a experiência significa.
- O que a história pode fazer: descobrir os padrões e mecanismos da mudança histórica em geral, e mais
particularmente das transformações das sociedades humanas durante os últimos séculos de mudança
radicalmente aceleradas e abrangentes. Só fornece orientação, e todo aquele que encarar o futuro sem ela não só
é cego, mas perigoso, principalmente na era da alta tecnologia. O trabalho do historiador de descobrir de onde
viemos e para onde estamos indo não deve ser afetado enquanto trabalho pelo fato de gostarmos ou não dos
resultados propostos.
- Estrutura analítica de Marx: essa estrutura deve estar baseada no único elemento observável e objetivo de
mudança direcional nos assuntos humanos, independente de nossos desejos subjetivos ou contemporâneos e
juízos de valor, isto é, a capacidade persistente e crescente da espécie humana de controlar as forças da natureza
por meio do trabalho manual e mental, da tecnologia e da organização da população.
- História e formula: não tem nenhuma formula simples para descobrir as conseqüências exatas dessa mudança
ou as soluções para os problemas que provavelmente gerara, ou gerou. Mas ela pode definir uma dimensão
urgente do problema, a saber, a necessidade de redistribuição social.
- Forças que turvam a visão: 1º é a abordagem a-histórica, manipuladora, de solução de problemas, que se
vale de modelos e dispositivos mecânicos. 2º é a distorção sistemática da historia para fins irracionais.
- História: não pode ser instrumento de auto-justificativa.

* 4 A história e a previsão do futuro

- História, futuro, presente: a história não pode se esquivar do futuro, no mínimo porque não há nenhuma
linha separando os dois. Em lugar algum entre os dois há um ponto imaginário, mas constantemente móvel que,
se preferirem, podem chamar de presente. É desejável, possível e até necessário prever o futuro até certo ponto.
- Cuidado/previsões: cuidar em distinguir entre previsões baseadas em analise e previsões baseadas em desejo.
- Curso da história: não é inevitável, mas é possível considerar o alcance e os limites da previsão.

* 5 A história progrediu?

- História e progresso: o progresso está longe de ser linear, mas sua existência não pode ser contestada.
- Recorte do estudo histórico: implica uma seleção, minúscula, de algumas coisas da infinidade de atividades
humanas no passado, e daquilo que afetou essas atividades.
- Século XX e CS: os historiadores ortodoxos (1890) rejeitavam por completo: uma aproximação.
Se os historiadores progressivamente recorrem a varias ciências sociais em busca de métodos e modelos
explicativos, as CS progressivamente tentaram se historicizar e com isso recorreram aos historiadores.
Fica o fato de que a história se afastou da descrição e da narrativa e se voltou para a analise e a explicação; da
ênfase no singular e individual, para o estabelecimento de regularidades e a generalização. De certo modo, a
abordagem tradicional foi virada de cabeça para baixo, isso constitui um progresso modesto.
- Progresso da história: no curso das ultimas três gerações, principalmente pela convergência da história e das
ciências sociais, mas foi modesto e pode ser que, no momento, esse processo esteja obstado. 1º seus avanços
principais certamente foram obtidos por uma simplificação necessária, a qual, agora que o avanço foi obtido,
revela certos inconvenientes. É por isso que atualmente há um movimento nítido no sentido de reenfatizar
aquela história política que por tanto tempo foi detratada pelos historiadores revolucionários.
2º com o enorme desenvolvimento das ciências sociais, principalmente como um grupo de interesses
acadêmicos particulares, a convergência entre a história e as ciências sociais está produzindo agora divergência
e fragmentação.
- Não à fragmentação: não existe histórias, só historia.
- Conclusão: um progresso arrastado e em ziguezague, mas um progresso autêntico.

* 6 Da história social à história da sociedade

- Termo história social: sempre foi difícil de definir.


1º se referia à história das classes pobres ou inferiores, seus movimentos. Vinculo entre a história social e a
história do protesto social ou movimentos socialistas.
2º referencia a trabalhos sobre uma diversidade de atividades humanas de difícil classificação, exceto em termos
como usos, costumes, vida cotidiana.
3º o mais comum e para o nosso objetivo o mais pertinente: social era impregado em combinação com história
econômica.
- Annales: rompem a metade econômica de seu subtítulo e se proclamam puramente sociais.
- H. social: nunca pode ser separada ou especialização, pois seu tema não pode ser isolado. Requer a construção
de modelos novos e adequados – ou, pelo menos (afirmariam os marxistas), a transformação dos esboços
existentes em modelos.
- Marx: sabia que os modelos econômicos, para serem úteis à analise histórica, não podem ser separados das
realidades sociais e institucionais que incluem certos tipos básicos de organização comunal ou familiar, para
não falar das estruturas e premissas especificas a formações socioeconômicas particulares enquanto culturas.
- Escrevendo a história: 1º a historia da sociedade é historia, ou seja, ela tem como uma de suas dimensões o
tempo cronológico real. Não estamos preocupados apenas com suas estruturas e mecanismos de persistência e
mudança, e com as possibilidades gerais e padrões de suas transformações, mas também com o que de fato
aconteceu.
2º ela é, a história de unidades especificas de pessoas que vivem juntas, unidades que são definíveis em termos
sociológicos. É a história das sociedades e também da sociedade humana.
3º ela exige que apliquemos, se não um modelo formalizado ou elaborado de tais estruturas, pelo menos uma
ordem aproximada de prioridades de pesquisa e uma hipótese de trabalho sobre o que constitui o nexo central
ou complexo de conexões de nosso tema, ainda que naturalmente essas coisas impliquem um modelo.

* 10 O que os historiadores devem a Karl Marx?


* 11 Marx e a História

- Positivismo: filho tardio do iluminismo do século XVIII, sua maior contribuição foi a introdução de
conceitos, métodos e modelos das ciências naturais na investigação social, e a aplicação à história. - Marxismo:
ajudou a modernizar a historiografia, toma Marx como ponto de partida e não como de chegada, hoje é
pluralista, não é isolada do restante do pensamento e da pesquisa, criticou o positivismo. Marx não era nem
sociológico nem econômico, mas ambos simultaneamente. É possível com Marx defender a história e a
capacidade do homem de compreender como o mundo veio a ser o que é hoje, e como ele pode avançar para um
futuro melhor.
- Influencia nos historiadores: tanto em sua teoria geral (concepção materialista), com seus esboços, ou pistas,
sobre a compleição geral do desenvolvimento histórico humano a partir do comunalismo primitivo até o
capitalismo, quanto em suas observações concretas relativas a aspectos, períodos e problemas específicos do
passado.
- Materialismo histórico é a base para explicação histórica: uma vez que os seres humanos possuem
consciência, essa concepção é base da explicação histórica mas não a explicação histórica em si. A história não
é como a ecologia: os seres humanos decidem e refletem sobre o que acontece. Discute relação fundamental
entre ser social e consciência.
- MP: é a base do entendimento da diversidade das sociedades humanas e suas interações, bem como sua
dinâmica histórica.
- MP e sociedade: não é idêntico à sociedade: sociedade é um sistema de relações humanas, ou, para ser mais
exato, de relações entre grupos. O conceito de MP serve para identificar as forças que orientam o alinhamento
desses grupos.
- Pq ele serve: tentou formular uma abordagem metodológica da história como um todo, e considerar e explicar
todo o processo da evolução social humana.

* 18 O presente como história

- Problemas: o da própria data de nascimento do historiador: o das gerações; os problemas de como nossa
própria perspectiva do passado pode mudar enquanto procedimento histórico; e o de como escapar às
suposições da época partilhadas pela maioria de nós.
- Século XX: como as coisas mudaram. As fontes são abundantes.

Por uma história política – René Remond

* Introdução

- Objetivo: contra uma história política cada vez mais distanciada da realidade de nossa disciplina em
movimento.
- O que é o livro: Observam diversidade de setores: o cultural, o econômico, o social, o político, que se
influenciam mutua e desigualmente segundo as conjunturas, guardando ao mesmo tempo cada um sua vida
autônoma e seus dinamismos próprios.
A política é um lugar de gestão do social e do econômico, mas a recíproca não é verdadeira.
* 1 Uma história presente – René Remond
- História: objeto precípuo é observar as mudanças que afetam a sociedade, e que tem por missão propor
explicações para elas, não escapa ela à própria mudança. O historiador é sempre de seu tempo.
- H. do político: declinou e retorna.
- História Política tradicional: durante séculos, a do estado, do poder e das disputas por sua conquista ou
conservação, das instituições em que ele se concentrava, das revoluções que o transformavam – desfrutou junto
aos historiadores de um prestigio inigualado devido a uma convergência de fatores: 1º mais fácil de reconstituir
por basear-se em fontes que tinham a dupla vantagem de ser regularmente constituída. 2º se refletia nesse tipo
de história o brilho que emanava do estado;
- Objeto: em vez de fixar-se na pessoa do monarca, a história política voltou-se para o estado e a nação,
consagrando daí em diante suas obras à formação dos Estados nacionais, às lutas por sua unidade ou
emancipação, às revoluções políticas, ao advento da democracia, às lutas partidárias, aos confrontos entre as
ideologias políticas.
- Renovação: contra a hegemonia do político, herança de um longo passado, que, em nome de uma história
total, uma geração se insurgiu, e fez-se uma revolução na distribuição do interesse.
- História política: ao privilegiar o particular, o nacional, a história política privava-se, ao mesmo tempo, da
possibilidade de comparações no espaço e no tempo, e interditava-se as generalizações e sínteses que, apenas
elas, dão ao trabalho do historiador sua dimensão cientifica. Permanecia uniformemente narrativa, escrava do
relato linear, e no melhor dos casos, só temperava a mediocridade de uma descrição submetida à cronologia
pelo talento universal de uma descrição submetida à cronologia pelo talento eventual do autor, que então fazia
com que sua obra se aparentasse mais com a literatura que com o conhecimento histórico.
Esqueceu o povo, as multidões, as massas, o grande numero.
- Papel h: interrogar-se sobre o sentido dos fatos, formar hipóteses explicativas.
- Síntese da hpt: elitista, aristocrática, condenada pelo ímpeto das massas e o advento da democracia.
Anedótica, individualista, corria o erro de cair no idealismo. Por desconhecer as forças profundas e os
mecanismos, ela imaginava que as vontades pessoais dirigem o curso das coisas, e às vezes levava mesmo a
cegueira até ao ponto de acreditar que as idéias conduzem o mundo. Ela é factual, subjetivista, psicologizante,
idealista.
- Tarefa dos historiadores: passar da história dos tronos e das dominações para a dos povos e das sociedades.
- Contraposição à h. política: as novas orientações da pesquisa histórica estavam em harmonia com o
ambiente intelectual e político. O advento da democracia política e social, o impulso do MO, a difusão dos
socialismo dirigiam o olhar para as massas. A compaixão pelos deserdados, a solidariedade com os pequenos, a
simpatia pelos “esquecidos da história” inspiravam um vivo desejo de reparar a injustiça da história para com
eles e restituir-lhes o lugar a que tinham direito.
- Pq declinou e desapareceu: a história de fato não vive fora do tempo em que é escrita, ainda mais quando se
trata de hp: suas variações são resultado tanto das mudanças que afetam o político como das que dizem respeito
ao olhar que o historiador dirige ao político.
- Ajuda retorno da hp: 1º a história como realidade, tomada no sentido da seqüência dos acontecimentos, teve
seu papel nessa volta às boas graças do político: a experiência das guerras, cujo desencadeamento não pode ser
explicado apenas pela referencia aos dados da economia, a pressão cada vez mais perceptível das relações
internacionais na vida interna dos estados lembraram que a política tinha uma incidência sobre o destino dos
povos e as existências individuais; contribuíram para dar credito à idéia de que o político tinha uma consistência
própria e dispunha de uma certa autonomia em relação aos outros componentes da realidade social. as crises que
perturbaram o funcionamento das trocas e desajustaram os mecanismos da economia liberal, obrigando o estado
a intervir, também deram à política a oportunidade de penetrar num setor diferente.
A decisão política pode modificar o curso da economia para melhor ou pior.
2º a ampliação do domínio da ação política com o aumento das atribuições do estado.
- Renovação: reflexão critica e pressão externa fez a disciplina se renovar. Foi provocada, suscitada, pela
rediscussão dos conceitos clássicos e das praticas tradicionais.
- Fator decisivo da renovação: a diversidade das procedências, a variedade das formações: a
pluridisciplinariedade. E pelo contato com outras CS e pelas trocas com outras disciplinas.
- Como é: é total, 1º quantitativa (números idades), 2º não é elitista e personificadora, 3º curta, media e longa
duração.
- O político e a superficialidade: se o político tem características próprias que tornam inoperante toda analise
reducionista, ele também tem relações com outros domínios: liga-se por 1000 vínculos, por toda espécie de
laços, a todos os outros aspectos da vida coletiva.
Ele não constitui um setor separado: é uma modalidade da pratica social.
- Conclusão: abraçando os grandes números, trabalhando na duração, apoderando-se dos fenômenos mais
globais, procurando nas profundezas da memória coletiva, ou do inconsciente, as raízes das convicções e as
origens dos comportamentos, a hp descreveu uma revolução completa.

* 14 Do político – René Remond


- Político: se o político é uma construção abstrata, assim como o econômico ou social, é também a coisa mais
concreta com que todos se deparam na vida, algo que interfere na sua atividade profissional ou se imiscui na sua
vida privada. Não tem fronteiras naturais.
- Poder e política: Já não se pode defini-lo por um coleção de objetos ou um espaço, somos levados a
definições mais abstratas. A mais constante é pela referencia ao poder: assim, política é a atividade que se
relaciona com a conquista, o exercício, a pratica do poder, assim os partidos são políticos porque tem como
finalidade, e seus membros como motivação, chegar ao pdoer.
Só é política a relação com o poder na sociedade global: aquela que constitui a totalidade dos indivíduos que
habitam um espaço delimitado por fronteiras que chamamos precisamente de políticas.
- Política: praticamente não há setor ou atividade que, em algum momento da história, não tenha tido uma
relação com o político.
Estudar a história do político é estar convencido de que o político existe por si mesmo, professar que ele tem
uma consciência própria e uma autonomia suficiente para ser uma realidade distinta.
O historiador nem por isso crê que o político mantenha todo o resto sob sua dependência. Seria ingênuo
acreditar que o político escapa das determinações externas, das pressões, das solicitações de todo tipo.
Político e sociedade: é o lugar de gestão da sociedade global, ele dirige em parte as outras atividades: define
seu status, regulamenta seu exercício.
- Historiador e política: não reivindica como objeto de sua atenção preferencial essa hegemonia; não pretende
que tudo seja político, nem terá a imprudência de afirma que a política tem sempre a primeira e a ultima
palavra, mas constata que o político é o ponto de partida para onde conflui a maioria das atividades e que
recapitula os outros componentes do conjunto social. O político é uma das expressões mais altas da identidade
coletiva.

A PESQUISA HISTORICA: TEORIA E METODO


JULIO ARÓSTEGUI

* APRESENTAÇÃO
História ou historiografia? Ciência ou arte?
- Crise: se apresenta de forma agressiva na pós-modernidade, e que exalta a necessidade da reflexão
historiográfica.
- Problemática central: 1ª parte instauração de uma ciência historiográfica como alternativa a uma ciência
histórica, ou seja, no lugar do rotulo História, poríamos historiografia. 2ª parte rastreia intelectualmente a
construção da interpretação historiográfica, demonstrando a carência reflexiva, que deve ser recuperada
elevando o status da História/Historiografia no conceito das cs e ch. 3ª parte sobre o instrumental disponível
que, a serviço de um caminho, de uma metodologia, poria o historiador na senda do conhecimento.
- Aróstegui: visão concreta de historiografia, visão racionalista, mais próxima da ciência do que da arte, nada
complacente com o relativismo ficcional. Privilegia sujeitos corpóreos que formam e modificam classes,
estruturas e sistemas, ciência global (cincia síntese). Formação do h. não pode ser irracionalista, mesmo que isso
esteja na moda. Defende racionalismo e não pragmatismo.
- Historiografia: ênfase está na reflexão sobre a natureza do histórico, o modo pelo qual se conhece a história.
- Pós-modernismo: não é um gênero, mas uma matriz de gêneros. Nelas prevalecem os sujeitos sobre as
estruturas, realça os indivíduos, a cultura como receptáculo social, as identidades, a sociabilidade, os problemas
de gênero, raça, etnia, as marginalidades e memória como preâmbulo da história.
- Objetivo livro: instaurar uma ciência historiográfica que subsumiria e, por fim, substituiria a História como
disciplina. O discurso historiográfico seria a reconstrução ou a representação que a historiografia faz da história,
um produto elaborado, especifico, de feito artístico ou cientifico.
Prólogo
- Fundamento da historiografia: não se baseia no que os historiadores fazem, senão, e antes, na critica do que
fazem.
* PARTE 1 – TEORIA, HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA: A NATUREZA DA DISCIPLINA
HISTORIOGRÁFICA
- Teoria da história: toda disciplina constrói um corpo de explicações articuladas para definir o objeto ao qual
dedica seu estudo, o que é a história?
- Teoria da historiografia: nao responde o que é a história, mas como se conhece a história.
CAPITULO 1 – HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA: OS FUNDAMENTOS
- Escrever e teorizar a história: o historiador deve escrever e teorizar sobre ela, refletir e descobrir
fundamentos gerias a respeito da natureza do histórico e, além disso, sobre o alcance explicativo de seu próprio
trabalho. Sem teoria não há avanço do conhecimento. A insuficiência teórico-metodológica prejudica.
A história, a historiografia e os historiadores
Historiografia: o termo e o conceito
- 2 usos anfibológicos: aplicação a duas entidades diferentes: a realidade do histórico e a disciplina que estuda a
história. A história não é uma coisa, mas uma qualidade das coisas.
- Concepção sobre historiografia mais correta: a produção escrita acerca de tema históricos (Josep Fontana)
e para designar a função disciplinar da pesquisa e escrita da história.
- Linguagem: a historiografia não criou uma especializada, precisa criar para demonstrar vitalidade disciplinar.
Só usa categorias/conceitos literários, heurísticos ou das CS.
- Dificuldades dos historiadores: mesmo com a profissionalização (século 19) foi difícil de se consolidar
como atividade de historiar. A historiografia ainda não se desvinculou completamente da velha tradição de
cronista, da descrição narrativa e da ausência de preocupação metodológica.
- Motivos do atraso teórico-metodologico: a própria natureza de seu objeto, a função social e ideológica que
vem desempenhado desde há tempos e a atitude dos historiadores.
1) a história é uma qualidade inserida nas coisas, uma qualidade social, mas não é ela mesma uma coisa. Não
existe um fato histórico por natureza, assim nunca foi um objeto filosófico, analítico ou empírico de fácil
compreensão. Para os cronistas sempre viram a história como fatos da história (do passado).
2) ela nasceu a serviço do poder, era uma função instrumental, não constituía um conhecimento conjetural,
hipotético, mas antes uma forma de autoconhecimento. Era de reflexão teórica, não filosófica. Era e é uma
expressão de identidade e por isso sempre teve uma função subordinada: ao poder, às ideologias; seu
conhecimento tem estado ligado à elite dominante, à nação e ao estado.
3) a atitude do cronista e depois do historiador esteve sempre pautada em duas características: a imaterialidade
do fato histórico como fato puramente cultural e a subordinação de seu conhecimento a interesses externos. Por
isso sua figura se postulou quase sempre como a de quem pesquisa os sucessos do passado e os coloca na forma
de um discurso coerente e útil.
- Progresso da historiografia: veio com a busca de fazer dela um conhecimento peculiar, objetivo, auto-
suficiente, cientifico.
- Pressupostos para a pesquisa histórica: 1º o esforço teórico do historiador deve basear-se na, e dirigir-se à,
analise suficiente da natureza da história, do histórico. 2º a articulação de uma boa pratica historiográfica tem de
estar sempre preocupada também com a reflexão sobre o método.
- Formação do historiador: unilateral, distante de outros tipos de conhecimentos ou praticas, tanto em seus
fundamentos quanto em seus produtos. Não se prepara como oficio. As 3 dimensões necessárias são
humanística, cientifica e técnica.
1) cultura clássica, filosofia; 2) ciência e humanismo são hoje dimensões culturais unidas; 3) formação nos
fundamentos lógicos e epistemológicos da ciência com pratica em métodos de investigação social e técnicas do
campo à arquivística.
- Centro da formação: teoria historiográfica e metodologia da pesquisa histórica garantindo preparação técnica
e empírica. Não se deve pautar na idéia do que aconteceu na história, mas como se constrói o discurso
historiográfico de sua pesquisa. Aprender os fatos sim, mas também como eles se estabelecem.
A historiografia, a ciência e a ciência social
- Arquitetura do método da ciência: 1º toda busca parte de uma pergunta; que para tentar responde-la se
começa observando a realidade pertinente ao caso e elaborando conceitos; 2º logo se constroem enunciados ou
proposições, quer dizer, afirmações ou negações sobre as coisas e as relações entre elas, se emitem julgamentos.
3º o conhecimento que pretende chegar às ultimas conseqüências propõe certas explicações.
- Explicações: conjunto de proposições ordenado logicamente e que se encadeia por meio de um raciocínio do
tipo indução ou dedução, pelo qual se estabelece uma hierarquia de proposições deduzidas umas das outras para
formar uma argumentação fundamentada.
- Teoria: conjunto de proposições, referentes à realidade empírica, que tentam dar conta do comportamento
global de uma entidade, ou seja, explicar um fenômeno ou grupo de fenômenos entrelaçados.
- Dificuldade epistemológicas das CS: a) aos modos de observação dos fenômenos humanos e ao
estabelecimento de uma correta descrição deles; b) a questão da objetividade, que se põe à mesa sempre que se
trata de uma investigação social; c) o próprio significado do conhecimento do homem e da sociedade, os
objetivos finais de tal conhecimento e seu valor real.
- Cientificidade da prática historiográfica: depende do grau de elaboração e aplicação de um método que
participe das características da ciência e se adapte, mediante um trabalho teórico rico e suficiente, às
peculiaridades de seu objeto. O método ajuda a ter uma teoria do conhecimento historiográfico.
O conhecimento histórico não pode estabelecer leis da história nem, muito menos, produzir predições sobre a
história do futuro.
- Ciência da história (busca): a singularidade dos atos humanos, a globalidade do meio em que é possível
compreende-los e à temporalidade que constituiu sua sucessão.
A historiografia é um estudo cientificamente elaborado: 1º o trabalho profissional do historiador não é um
conjunto de atividades arbitrarias, meramente empíricas, subjetivas e ficcionais, mas diz respeito
principalmente, a atividades que tendem a estabelecer conjeturas sujeitas a regras ou princípios reguladores, a
um método. 2º o historiador trata de buscar, para os processos históricos de qualquer nível, explicações
demonstráveis, intersubjetivas, contextualizáveis, como as da ciência, e que conseqüentemente, pretende chegar
a elas mediante procedimentos lógicos conhecidos, explícitos e comprovados.
Não se mede o trabalho da ciência somente pela generalidade de seu resultado, mas também por seu propósito e
procedimento.
- Historiografia: constitui um tipo particular dentro das praticas cientifico – sociais e o historiador um
praticante do método cientifico.
O conteúdo da teoria e os fundamentos do método historiográfico
- Teorizar: teorizar sobre a história é função do historiador. Além disso, tem mais duas tarefas teóricas: 1)
elaborar uma teoria constitutiva de seu objeto de trabalho e que não é outra senão a teoria da natureza do
histórico e 2) à que de forma genérica temos de considerar uma teoria disciplinar, que nesse caso seria a teoria
da historiografia propriamente dita, uma teorização da disciplina da historiografia.
- Método: conjunto de prescrições que devem ser observadas e de decisões que devem ser tomadas em certa
disciplina para garantir um conhecimento adequado de seu objeto.
- O que estuda o historiador: fenômenos sociais, mas sua especificidade está no estudo dos fatos sociais
sempre em relação com o seu comportamento temporal. A historiografia possui um método menos formalizado,
menos estruturado sobre uma base canônica.
- Peculiaridades da historiografia: peculiaridades e constrangimentos particulares, são os problemas
derivados da observação e documentação, da temporalidade e os que provem da globalidade de todo o devir
histórico.
1ª Natureza de suas fontes de informação. Suas fontes não necessariamente o passado, mas o temporal. A
historiografia não pode construir suas fontes, elas já se encontram feitas. É preciso tornar inteligível e explicável
o que as fontes oferecem como informação.
2ª Temporalidade como natureza do histórico. Dar conta de como as sociedades se comportam e evoluem no
tempo, ao invés de descobrir coisas ocorridas no passado. A cronologia não representa a temporalidade.
3ª No processo histórico de qualquer sociedade, ou instancia humana, tanto como a própria história em escala
universal, são realidades globais. Quer dizer a história de uma sociedade reúne em si todas as atividades que os
homens realizam e que estão entrelaçadas de forma indissolúvel. A história de todas as sociedades do mundo,
por sua vez, se encontra também entrelaçada, ou tende a estar. Portanto a história é global.
4ª Preparação técnica e método. Método é o conjunto de princípios ligados à teoria, enquanto as técnicas, que
são as que realmente devem se adaptar em cada caso à natureza do objeto investigado, podem ser
compartilhadas e são intercambiáveis entre diferentes disciplinas.
CAPITULO 2 – O NASCIMENTO E O DESENVOLVIMENTO DA HISTORIOGRAFIA: OS
GRANDES PARADIGMAS
- Paradigma: pensado por Thomas Kuhn para designar uma amplo modelo de explicação cientifica de alguma
realidade global – o universo, a vida biológica, a história, etc.
- Paradigmas na história: se reflete claramente a evolução da ciência social em seu conjunto. A criação e o
desenvolvimento da ciência da história fez-se através da hegemonia de diversos paradigmas para os quais a
história da historiografia estabeleceu denominações do historicismo, positivismo, marxismo, annales e,
inclusive, o narrativismo ou o pós-modernismo.
Não tem havido uma substituição de um grande paradigma por outro, mas um combate entre vários.
O surgimento da “ciência da história”
- Profissionalização: a partir do século 19 (iniciação) passou a ser uma matéria de estudo obrigatório nas
universidades e começou a dotar-se de seu próprio método de trabalho.
No século 20 (cristalização) com a criação de alguns grandes paradigmas propriamente historiográficos que
dominaram a história da disciplina até a crise que começou a se acentuar a partir do final dos anos 20.
- Da história-crônica para a história-pesquisa: tem inicio no iluminismo com o nascimento da filosofia da
historia, um novo espírito analítico para julgar o processo histórico e o progresso decisivo dos meios
instrumentais do conhecimento histórico, abriram a época de fundação e fundamentação da historiografia.
- Datas simbólicas de abertura da historiografia moderna:
1ª 1824 Leopold Von Ranke com a profissionalização da história;
2ª 1876 Gabriel Monod sistemática fundamentação de uma “ciência da história” com as idéias positivistas;
3ª 1929 Annales Lucien Febvre e Marc Bloch criando uma historiografia oposta à de caráter documental.
- Escolas Nacionais (séc. 19): tem estreita relação entre o desenvolvimento historiográfico e a construção de
identidades e estados nacionais na Europa.
- Positivista: é a dos fatos, estabelecidos através de documentos e de sua critica, indutivista e narrativa. Mas
não pode ser confundida com a h. metódica (que não propõe a busca de leis universais da h., nem defendera
nenhuma forma de determinismo).
- Bernheim: distingue 3 períodos na evolução da ciência da história: o narrativo, o didático ou programático e o
evolutivo ou genético. Maneja corretamente a palavra historiografia como conhecimento da história, e não
apenas como um manual de método. Reafirma a indissolúvel unidade da história política e a cultural, seria
referencia até o segundo pós-guerra.
- Conclusão sobre 19 para 20: a disciplina da historiografia, no sentido moderno do termo, foi fundada através
de um primeiro corpo de regras e preceitos metodológicos estabelecidos sob a influencia do historicismo e do
positivismo e adquiriu então sua primeira concreção paradigmática duradoura.
- Polêmica central 20: o método histórico de inspiração positivista recém constituído já não satisfazia a
historiografia.
- Henri Berr: é uma ponte entre a metódico-crítica e os annales. Propunha uma história que congregasse todos
os setores da atividade social, contra a historicizante.
- Bauer: heurística e critica.
- Colingwood: explicação histórica baseada nas idéias e intenções dos sujeitos, extremamente individualista e
subjetiva.
- Croce: historiografia como arte, reconstruir o conhecimento histórico como um ato mental, subjetivo, que se
manifesta na mente d historiador. É imaginação e depois discurso.
A época dos grandes paradigmas
- Grandes paradigmas: 45 e 70 brilhantismo insuperado: florescimento da herança da escola dos annales, a
expansão geral de ativas e inovadoras correntes do marxismo ou a renovação introduzida nos métodos e temas
para a historia quantitativa e quantificada, esse progresso também se deu pela aproximação de outras disciplinas
sociais.
Foi a época das grandes proposições teóricas e doutrinais para a analise e a explicação dos fenômenos sociais. O
funcionalismo, hermenêutica weberiana, marxismo, estruturalismo, quantitativismo.
Foi o maior prestigio da teoria social como a forma de conhecimento superior da natureza dos fenômenos
sociais e praticamente insubstituível para alcançar sua explicação. Era a possibilidade de um conhecimento
social valido e útil atingindo a pratica historiográfica.
- 3 grandes do pós-guerra: marxismo, annales, historiografia quantitativista.
- Annales: contra a superficialidade e o simplismo na história superficial dos acontecimentos.
A história é social inteiramente, por definição. Novas temáticas, interesse por novos tipos de fontes, grande
atenção às condicionantes não históricas da história (geografia, antropologia, etc.).
História global, total renovação de todo o campo da história.
- Debilidade Annales: ecletismo generalizado, amalgama de influencias varias, ausência de renovação teórica
similar ao enriquecimento metodológico. Não forjaram uma nova concepção de história. Não discutiu a
natureza da história, nem sobre a natureza do conhecimento histórico.
- Marxismo e cientificidade da h: 1º não conhecemos outra ciência que não seja a ciência da História; 2º
estabelecimento de uma ciência histórica em nosso tempo, que está em construção.
- Thompson: marxismo de vocação essencialmente cultural, anti-estrutural, ocupando-se das formas de
representação e manifestação dos conteúdos de classe. Para ele a classe não é uma estrutura, mas uma cultura.
- História quantitativa: 2 projetos: cliometria (verdadeira) que se baseia em uma matematização de modelos
explícitos de comportamento temporal, que pretendem constituir em si mesmos explicações de processos
históricos a longo prazo. História estrutural-quantitativista que fez amplo uso da medida, do modelo
informatizado, da quantificação, mas não tem explicações completas não quantitativas, não matemáticas, nem
em outra linguagem que não seja verbal.
Considerava-se a historia cientifica, o limite está na idéia de quantificavel para ser cientifico.
CAPITULO 3 – A CRISE DA HISTORIOGRAFIA E AS PERSPECTIVAS NA VIRADA DO SÉCULO
- Crise 70: esgotamento dos paradigmas: marxismo, funcionalismo, estruturalismo, annales. Eles haviam
apostado no poder da explicação da teoria, pela continuidade, em geral, dos grandes modos de operar, da
ciência natural e pela superioridade dos métodos empíricos. Busca de novas formas de representação da vida
social e cultural nas C.S.
1º obriga a um redirecionamento dos instrumentos intelectuais e isso afeta as historiografias praticadas. 2º o
impulso do pós-modernismo e do giro lingüístico fazem aparecer novas propostas de entendimento do histórico.
- Historiografia avança: prosseguiu e não cessou o debate em todos os âmbitos. Ganhou maturidade, uma vez
que adquiriu melhores instrumentos para realizar diagnósticos mais realistas da crise. Foi se tornando uma
disciplina cada vez mais plural, com sintomas até de fragmentação.
- Pós-Modernismo: nova cultural intelectual e o que tem sido chamado de giro lingüístico na filosofia e na
analise da cultura em geral. Movimento complexo, multifacetado, surgido na arte, literatura, filosofia e na
critica da cultura, do qual também não estavam ausentes certas manifestações de novas atitudes mundanas que
foi o pós-modernismo. Incrédula frente às meta-narrativas, abandono do discurso ideológico e de todas as
formas de representação do mundo construídas pela modernidade (progresso, evolução, ciência).
Marcado pelo giro lingüístico, a teoria critica de literatura e a hermenêutica da narração.
- Crise pós-guerra último quartel do 20: enfraquecimento da idéia de uma ciência do homem.
- Escrita: Para Hayden White a história não se distinguiria substancialmente do relato literário de ficção, um
conto, o critério de verdade não tem importância
- Ruptura do PM com concepções modernas: a de que a história abarca todo o desenvolvimento temporal e a
de que seu curso é o progresso da racionalidade.
- Crise para Burke: não é um momento negativo, de retrocesso ou abatimento, tem que ser visto como uma
possibilidade de se repensar a história.
- Pós-modernismo: anti-cientificismo, a retórica do discurso frente às estruturas sociais, o descontrucionismo
frente ao contextualismo, o relativismo geral ou o ficcionalismo, as orientações da velha disciplina
historiográfica se voltaram nesses anos para a reconstrução literária do passado, a interpretação semiótica, a
exploração micro-antropologica e o relativismo geral que rechaça as anteriores.
- Crise e 2 tipos de realidades: 1ª desvalorização dos fundamentos anteriores da pratica especifica do
historiador produzindo buscas por caminhos externos à própria historiografia (pós-modernismo ajusta-se nessa
ordem). 2º no interior da própria h., e com seus próprios instrumentos, hist. Menos influenciáveis geraram
novas concepções e campos de estudo hist. Frente ao esgotamento dos antigos, de novos modelos de hist
(micro-h., h. sócio-cultural e h. sócio-estrutural).
- Paradigmas: podem substituir outros, estabelecer violentas oposições ou conviver. O pano de fundo da
polarização está em teoricismo X narrativismo, polemica reaberta com o pós-modernismo.
- mudanças: uma mudança de modelo historiográfico não é necessariamente uma mudança paradigmática, mas
é muito mais que uma mudança de caráter temático. O que se destaca de positivo na crise na historiografia é,
sobretudo, o aparecimento de tais modelos, de novos estilos e novos modos de entender o objeto historiográfico,
mais do que de novos paradigmas e muito mais ainda do que as meras novas formas de fazer h.
- Micro-história: forma sofisticada de narrativa antropológica. História local é um campo privilegiado para
essa perspectiva.
- Nova história cultural: penetrar na sociedade pela representação, busca pelo emntal ao invés do social
(Chartier), revalorização dos sujeitos e da consciência dos atores.
É o resultado da teoria critica da literatura, da semiótica, da antropologia. Proporcionou a passagem da analise
objetiva das realidades sociais em si mesmas à do discurso e da representação que os sujeitos se fazem de tal
realidade. Peter Burke, Michel Foucault.
- Ciência histórica sócio-estrutural: Christopher Lloyd. H. identificada com a sociologia, empirismo,
quantificação e analise teórica teriam um certo tipo de equilíbrio ideal.
- História oral: para a história recente com protagonistas ou testemunhos: locais, pequenas comunidades,
marginais, testemunhas com traumas.
- História da vida cotidiana: busca o povo comum, não centrando seu foco em estruturas ou macro-
condicionamentos como o estado ou o mercado. Sujeitos, micro-processos.
- História dos conceitos: história da semântica das palavras e das mudanças históricas dessas semânticas.
As perspectivas de mudança
- Programa ideal de historiografia: política e social que não esquecesse as dimensões culturais, os sujeitos e
suas interpretações das coisas.
- Novas sensibilidades: sujeitos, cultura e identidades. cultura como sistema de comunicação entre os homems,
de coesão entre as comunidades e como código que explica boa parte dos comportamentos. A do sujeito, como
entidade corpórea, rechaçando qualquer outro tipo de agente histórico. A das identidades, como uma das
atribuições mais sutis, frágeis e imprescindíveis dos sujeitos modernos.
- HTP: fazer história que não é passado, mas presente.
- Tendências e condicionamentos da historiografia: 1) ampliação do campo daquilo do que se faz “história”,
do campo das histórias. 2) dicotomia teoreticismo/empirismo. 3) separação dos setores ou ramos
historiográficos. 4) falta de resposta às inovações em outros setores da pesquisa e nos novos instrumentos
técnicos. 5) irrupção na h. das esferas político-midiaticas.
PARTE 2 – A TEORIA DA HISTORIOGRAFIA – A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO
HISTORIOGRÁFICO
- Especulação do historiador: não é filosófica, mas empírica.
- Debilidades do historiador: incapacidade de proposições teóricas e a falta de consciência explicativa no
discurso.
CAPITULO 4 SOCIEDADE E TEMPO. A TEORIA DA HISTÓRIA
- Teoria: se ocupa em analisar a natureza precisa do objeto de estudo, quer dizer, daquilo que a historiografia
conhece ou pretende conhecer. É a que tem que se pronunciar acerca do que é o histórico.
Sociedade e história
- História: é a qualidade temporal que tem tudo o que existe e também, em conseqüência, a manifestação
empírica – quer dizer, pode ser observada – de tal temporalidade.
- Sociedade e história: são realidades inseparáveis, não idênticas, podem ser analisadas diferentemente.
- Sociedade: é o campo comum em que as disciplinas citadas, e todas as CS, estabelecem seus objetos de
estudo. Não há teoria social que possa permanecer à margem da dimensão temporal, quer dizer, da história. Da
mesma maneira não é possível uma teoria da história que não seja ao mesmo tempo teoria social.
- Conotações para analise da dimensão histórica: para falar da história é, pois, imprescindível falar da
sociedade.
1) a de que a natureza e a sociedade, longe de serem realidades opostas, que necessitam de, ou são suscetíveis a,
tipos diferentes de conhecimento, formam um continnum sem ruptura intransponível.
2) a existência de movimento é uma constatação inevitável na explicação do mundo da natureza assim como do
mundo privativo do homem.
3) a idéia de sociedade adquire um perfil mais preciso ao falar do sistema social. A sociedade em abstrato e as
sociedades históricas concretas funcionam como um sistema. A história, o ser histórico, é algo que se realiza na
sociedade e somente nela.
- Objetividade da história: a história objetiva é uma dimensão, qualidade ou extensão, que reside na
sociedade, e é impensável fora dela.
A h. é o resultado da mudança social e essa mudança é sempre cumulativa.
- Fundamento do ser social como sujeito da h.:
a) a sociedade se entende como um processo ou confrontação dialética entre estruturas e ação social.
b) a sociedade pode ser entendida a partir da idéia de sistema social: para que haja sociedade é preciso haver
certas relações globais que a definam.
c) mudança social é substancial no entendimento do processo histórico, mas não se identifica com ele.
d) por ser a sociedade um processo, o sistema do social se encontra sempre modificado pelo acontecimento,
sujeito à invenção e relacionado com o meio.
Tempo e história
- Tempo: a percepção e conceitualizacao do tempo pelo homem partem da denotação da mudança no mundo
real. Não é a mudança, mas não pode ser apreendido senão através de algum tipo de mudança. É um produto da
história. O verdadeiro tempo da história é, pois, aquele que se mede em mudança frente à duração.
- Para Ontologia da historia: aparece como básico o fato de que o tempo é justamente o indicador
fundamental da existência histórica, enquanto a consciência do histórico se manifesta como conseqüência de
que o homem conceitualiza a mudança como elemento constitutivo da existência.
História como atribuição
- O que é história: é uma atribuição, um atributo, das coisas e, especialmente, dos seres humanos. Tudo o que
existe tem história, é uma realidade objetiva (uma atribuição objetiva do social, no mundo inanimado), existe
independentemente de nossa vontade, existe ainda que não conheçamos seu curso concreto (ontologia).
É também algo que conhecemos, ao menos em parte, que podemos refletir em um texto, que podemos ajuizar,
pesquisar, qual foi a mudança que uma determinada sociedade sofreu até agora, que podemos descrever. E,
finalmente, algo do que podemos dizer que é um discurso, é um elemento da cultura, um conhecimento.
- Consciência histórica e historicidade: consciência de estarmos no tempo, e de estarmos ligados ao passado e
ao futuro, é assim que chamamos.
- Histórico: é uma realidade dada, de algum modo, mas também, de outro modo, construída, e, enfim, sentida
ou vivida.
- 3 planos da história: ontologia, discurso e consciência são, pois, 3 planos da história indubitavelmente
conectados, complementares, mas de existências independentes, paralelas.
- Totalidade da história: 1) indivisibilidade: o processo não divisível em partes em sua realidade ultima, h
geral. 2) Universalidade: é de todos os homems, a verdadeira história é a universal, h universal ou mundial; 3)
Sistêmico: não pode haver um desenvolvimento ou processo de mudança de um setor ou parte da sociedade sem
que tal processo afete a todas as demais partes ou setores dessa mesma sociedade, não há h. isolada de alguma
parte da humanidade. História integrada ou sistêmica.
A totalidade não é o conjunto de todos os fatos históricos, de todos os acontecimentos e mudanças sociais
ocorridas no tempo e em todos os lugares, senão que é a representação feita pelo historiador desde o inventario
exaustivo das condições em que se produz cada processo histórico que pretende ser explicado.
CAPITULO 5 – O OBJETO TEORICO DA HISTORIOGRAFIA
A CONFORMAÇÃO DO OBJETO DA HISTORIOGRAFIA
- Conhecimento: parte de uma realidade empírica, de experiência.
- Campo do historiador: sobre as sociedades humanas concretas, reais, que existem, ou que existiram. O que
define disciplina não é seu campo, mas sim o objeto.
- Objeto da historiografia: os âmbitos da atividade humana. A complexidade das relações humanas é, sem
duvida, o problema essencial do objeto historiográfico. Ele é temporal, o eixo substancial que o historiador
persegue é o comportamento dos fatos sociais no tempo, a variação no tempo das atividades humanas, pessoas
ou coletivas e o resultado, visto também na escala temporal, dessas atividades.
O objeto não é diretamente observável, tem dê ser analisado através de seus vestígios, de suas relíquias, de seus
testemunhos.
- Objetivo do historiador: são os estados sociais, explicando estado e mudança.
- Aparato explicativo do historiador: como se manifesta o histórico (o acontecimento), onde é preciso
pesquisá-lo (estados sociais), qual é o conceito disso (a mudança dos estados sociais).
- Visão Agencial: a visão exclusivamente estrutural, holista, foi matizada pela agencial, visão dos sujeitos como
atores submetidos a um contexto e a papeis, mas onde sua liberdade e sua capacidade de escolher são
consideradas essenciais.
- Individuo e sociedade: são virtuais não explicáveis uma sem a outra.
- Movimentos sociais: tem 2 sentidos diferentes: um assimilável à noção de vida cotidiana, outro à de mudança
social.
1) nos referimos à vida e permanência das sociedades, à produção social, onde se inserem as relações do homem
com o meio e com os outros homens. Refirimo-nos ao trabalho e à divisão do trabalho, o qual sempre se baseia
em um continuo movimento, em um ir e vir na atividade humana normalizada, individual e coletiva: a
alimentação física, o trabalho diário, a relação de trabalho e afetiva, o mercado, a acumulação de recursos, o
conhecimento, etc. quer dizer o normal no desenvolvimento de qualquer grupo.
2) é o produtor real de acontecimentos, constituído precisamente por aquelas ações humanas que introduzem
alguma forma de modificação na estrutura do existente, como já comentamos antes. Trata-se de ações ou fatos
sucedidos extraordinários por não serem habituais e que em certos casos não podem ter lugar mais do que uma
vez na experiência humana: o nascimento ou a morte, por ex.
A diferença é que uns produzem acontecimentos, mudanças e outros não.
- Objeto teórico da historiografia: o movimento dos estados sociais. O comportamento das relações sociais
em função de seus movimentos recorrentes ou seus movimentos transformadores.
- Função da historiografia: medir as mudanças, por dar conta da “quantidade de mudança” e de seus ritmos e
isso se mede nos acontecimentos. O objeto ultimo da h. é, pois, absolutamente especifico: a analise e explicação
dos estados resultantes de determinadas quantidades de mudança.
A análise da temporalidade
- Tempo histórico para historiador: 1) cronologia; 2) análise da mudança ou duração (tempo interno); 3) a
determinação dos espaços de inteligibilidade.
Cronologia: tempo da história em relação ao tempo astronômico;
Interno: marcado pelo curso dos acontecimentos (regularidades e rupturas);
Periodização: fixação de épocas no futuro da humanidade, intenção de estabelecer um conceito de espaço de
inteligibilidade dos processos históricos.
CAPÍTULO 6 – A EXPLICAÇÃO E A REPRESENTAÇÃO DA HISTÓRIA
- Explicação: entre a explicação e sua escrita existe, certamente, uma ligação indissolúvel na pratica e que é,
também, perfeitamente analisável.
- Formas de explicar: 1) tradição positivista que defende que a sociedade deve ser explicada pelos mesmos
procedimentos de explicação da natureza; 2) tradição historicista e hermenêutica que tem afirmado que do
homem, da sociedade e da historia não é possível dar uma explicação e sim que seu conhecimento só pode
compreender.
- Discurso histórico: 1) discurso como articulação de fatos em estruturas hipotéticas. Interpretações hipotéticas,
atenção à ação dos sujeitos como às estruturas sociais onde tais ações sucedem. 2) diversas formas de narração,
relato, como maneira de expor a história.
A natureza da explicação histórica
- O que é: dar conta das ações humanas, da atuação social, de sua origem, seu motor e sua execução.
Argumentar porque um estado social se transforma em outro. Não só estudar as intenções humanas em aça, mas
o resultado da ação.
- Exigências para explicação: 1) a natureza de uma estrutura existente; 2) a origem de uma ação social; 3) a
natureza de uma nova estrutura emergente.
Tem de dar conta do movimento dos estados sociais, inclui os resultados, os produtos da mudança social; tem
de explicar a própria mudança das sociedades em seu sentido temporal, em sua dimensão global e nas
particulares, descrevendo seus estados anteriores e posteriores.
- Narrativa: é apenas uma das formas de representação da história e de forma alguma a melhor delas, é débil.
- Estrutura: não podemos nos referir à história sem sujeitos.
- Proposta de discurso: o discurso argumentativo como verdadeiro discurso da história. Que vão além dos
fatos e busca ser uma demonstração. É o mais adequado para representar uma história entendida como em
continua estruturação: uma h das ações dos homens dialeticamente relacionadas com as estruturas que essas
mesmas ações criam. O relato é imprescindível, mas não é a h, o discurso histórico é uma argumentação.
A explicação argumentativa se acomoda com uma seqüência de argumentos que encadeiam a relação temporal
dos acontecimentos, mas vistos sempre a partir da organização de uma estrutura explicativa explicita. Conta um
processo, mas obrigatoriamente dá razoes suficientes dele. É um conjunto de respostas a contínuos por quês.
- Argumentativo/assertivo: o discurso historiográfico é a analise de um processo bem delimitado, com limites
de sentido e espaços de inteligibilidade claros, é analítico. Esse discurso analítico contem descrições, narrações
e da conta da razão, não das intenções dos atores, mas sim dos resultados de suas ações, do que sucede, é um
conjunto de proposições demonstráveis.
Uma história não é uma narração, é uma argumentação, é uma teoria, do contrário seria literatura, não ciência
social.
PARTE 3 – OS INSTRUMENTOS DA ANÁLISE HISTÓRICA
O METODO DA HISTORIOGRAFIA
- Método: um sistema de orientação no transito dos caminhos que é preciso seguir para obter certezas, condição
necessária para êxito da descoberta cientifica, mas não é suficiente.
CAPITULO 7 – O METODO CIENTIFICO-SOCIAL E A HISTORIOGRAFIA
- Método cientifico: é um procedimento para obter conhecimentos através de determinados passos que
asseguram que aquilo que se pretende conhecer seja explicado (dar conta da realidade propondo afirmações
demonstráveis). Deve-se definir os problemas, formular as hipóteses e propõem explicações dos fenômenos e
soluções aos problemas observados.
- Método historiográfico: 1) participa do método geral do conhecimento cientifico do social; 2) é também a
tradução especifica dessas mesmas características gerais para uma disciplina concreta.
Peculiaridade são as fontes históricas.
O marco de referencia: o método das CS
- Metodologia (parte do trabalho teórico e cientifico que se ocupa da definição do método): arte de
aprender a descobrir e analisar os pressupostos e procedimentos lógicos em que se baseia implicitamente a
pesquisa.
- Método: conjunto de regras de procedimento. Estabelece o que não se deve fazer.
- Condições para o método: 1) pressupostos teóricos prévios; 2) Campo de estudo da ciência é, ou tem de ser,
uma realidade adequadamente definível e definida. 3) ele não se reduz a, nem se confunde com, um mero
catalogo de praticas para a descrição ou a classificação de “fatos”. 4) a ciência não termina, naturalmente, em
uma descrição de coisas, mas na definição de uma linguagem para apreende-las de forma universalizada.
- Dificuldades ontológicas: 1) a intencionalidade do comportamento humano; 2) a historicidade dos fenômenos
sociais; 3) a complexidade dos fenômenos sociais;
- Dificuldades da natureza: 1) os derivados da dificuldade de observação; 2) os derivados da não-neutralidade
do objeto de estudo da ciência social; 3) os derivados da problemática da objetividade; 4) os processos de
explicação e comprovação nas CS são tão dificultosos que alguns crêem que tais ciências nunca poderiam dar
verdadeiras explicações e tampouco, portanto, estabelecer predições.
- Progresso da ciência: é circular e linear ao mesmo tempo. Algumas teorias englobam outras, as completam,
não as eliminam, mas isso faz com que o conhecimento passe a estágios qualitativos novos, mais ricos.
- Métodos das CS: deve ser estabelecido uma clara hierarquia de conceitos que deve se refletir igualmente na
linguagem.
A natureza do método historiográfico
- Semelhanças do método historiográfico com CS: 1) apreensão de sociedades, de sistemas; 2) uma ciência
do comportamento humano, das estruturas que se criam ou se destroem, para alem das intenções humanas; 3) há
um método especifico da historiografia; Especifico do método historiografico: 1) o tempo, a temporalidade, a
mudança, é o determinante, o condicionante essencial de sua pesquisa; 2) para falar das regularidades, é preciso
estabelecer tipologias entre os fatos históricos; 3) a descrição tem um lugar de grande relevo.
- Peculiaridades ontológicas: 1) o objeto histórico tem, por definição a temporalidade; 2) o estudo da h tem,
naturalmente, como seu objeto teórico preciso a historicidade; 3) fixação do que se deve entender, no plano
teórico e em suas conseqüências metodológicas, por singularidade do devir histórico. 4) a singularidade é
acompanhada da generalidade do histórico como qualidade das coisas. Tudo é histórico!
- Dificuldades instrumentais: 1) sendo o histórico o resultado do comportamento dos fenomenos sociais no
tempo, o material empírico sobre o qual a historiografia trabalha consiste, numa proporção bastante elevada, de
restos; 2) o método da historiografia tem uma orientação essencial que é a comparativa. A comparação entre
processos simultâneos que se produzem em âmbitos diversos e a comparação sucessiva, entre o anterior e o
posterior (chave do historiográfico); 3) o método histórico capta seu objeto através de conceitualizacao sobre os
coletivos, mas também sobre os indivíduos; 4) é globalizante; 5) a história é uma visão do presente;
CAPÍTULO 8 – O PROCESSO METODOLÓGICO E A DOCUMENTAÇÃO HISTÓRICA
O processo metodológico na historiografia
- Pesquisa histórica: limites estão na falta de explicação de seus pressupostos e a falta de previsão de seus
desenvolvimentos. A pratica da pesquisa tem de ajudar à definição clara de problemas, à formulação de
hipóteses, à construção dos dados, à elaboração de explicações o mais consistentes possível e à construção de
mecanismos para provar comparativamente a adequação de suas explicações.
- Cuidados: prever os momentos cognoscitivos e técnicos pelos quais o trabalho vai passar. O planejamento
deve atender: a do que se quer conhecer, o de como conhecer e o da comprovação do conhecido.
Uma teoria da documentação histórica
- Como se forma conhecimento histórico: com informações e conceitos, com observação e com pensamento
formal, ligados dialeticamente.
- Fonte histórica: todo aquele material, instrumento ou ferramenta, símbolo ou discurso intelectual, que
procede da criatividade humana, através do qual se ponde inferir algo acerca de uma determinada situação
social no tempo. O correto é vê-la como informação documental.
CAPÍTULO 9 – MÉTODO E TÉCNICAS NA PESQUISA HISTORICA
- Técnicas: Qualitativa: classificar, tipologizar, reunir os dados em função de sua qualidade, de suas
características; Quantitativa: controlar a carga subjetiva, medição numérica dos valores das variáveis;
- Função: são as operações que o pesquisador realiza para transformar os fatos em dados. São o ponto de engate
entre a realidade empírica e a conversão desta em um corpo articulado de evidencias para a demonstração de
uma hipótese. O campo técnico do historiador é o da observação documental, a observação imediata, a
historiografia não pode construir seus documentos.

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