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A polêmica sobre o Materialismo de Engels

Codinome do Autor: NPC dev

Há recorrentemente em meios de “marxistas-leninistas” e de pessoas com conhecimento


parco em filosofia uma certa arrogância quanto a estudantes do marxismo e contra o comunicador
Ian Neves em particular sobre o mal-uso dos termos “materialismo” e “idealismo”. Ora, que
trotskistas e pessoas que não aderem à teoria Marxista-Leninista ou Marxista-Leninista-Maoísta
façam pouco caso da filosofia desenvolvida por Engels é de se esperar. Mas soa estranho que em
meios leninistas se desdenhe da teoria produzida por Engels, especialmente quando o tema é
Materialismo Histórico- Dialético, que ironicamente atacam como “Stalinismo”.
Apesar da pecha de “Stalinista” a qualquer um que use o termo Materialismo Histórico-
Dialético, é de conhecimento notório que Lênin recorrentemente voltou a Engels para pensar a
relação entre marxismo e o Estado Burguês em sua obra O Estado e a Revolução; Ora, que Engels
passe a ser desdenhado como um ignorante por membros de um partido que se dizia marxista-
leninista é de causar espanto.
Sobre os que arrotam suposto conhecimento em filosofia para desdenhar do mal-uso por
parte de marxistas recém-apresentados à teoria ou pelo Ian Neves dos termos “materialismo” e
“idealismo”, trata-se de um outro problema. Engels em seu prólogo à edição inglesa d’O Socialismo
Utópico ao Socialismo Científico discorre sobre a história do materialismo e a história do
Idealismo. De acordo com o próprio autor:

“Em todo caso, o que se pode assegurar é que, ainda que eu fosse agnóstico, não
poderia dar à concepção da história esboçada neste pequeno livro o nome de
“agnosticismo histórico”. As pessoas de sentimentos religiosos rir-se-iam de mim, e
os agnósticos perguntar-me-iam indignados, se pretendia zombar deles. Assim,
confio em que a “respeitabilidade” britânica, que em alemão se chama filistaísmo,
não se aborrecerá demasiado por eu empregar em Inglês, como em tantos outros
idiomas, o nome de “materialismo histórico” para designar esta concepção dos
roteiros da história universal que vê a causa final e a causa propulsora decisiva de
todos os acontecimentos históricos importantes no desenvolvimento econômico da
sociedade, nas transformações do modo de produção e de troca, na conseqüente
divisão da sociedade em diferentes classes e nas lutas dessas classes entre si”
Fonte: https://pcb.org.br/portal/docs/dosocialismoutopico.pdf
Mesma fonte em alemão: http://www.mlwerke.de/me/me22/me22_287.htm

Segundo Engels, o desenvolvimento das ideias está atrelado e é consequência do


desenvolvimento material das forças produtivas, conforme expresso no trecho:

Os novos fatos obrigaram à revisão de toda a história anterior, e então viu-se que,
com exceção do Estado primitivo, toda a história anterior era a história das lutas de
classes, e que essas classes sociais em luta entre si eram em todas as épocas fruto
das relações de produção e de troca, isto é, das relações econômicas da sua época;
que a estrutura econômica da sociedade em cada época da história constitui,
portanto, a base real cujas propriedades explicam, em última análise, toda a
superestrutura integrada pelas instituições jurídicas e políticas, assim como pela
ideologia religiosa, filosófica, etc., de cada período histórico. Hegel libertara da
metafísica a concepção da história, tornando-a dialética; mas a sua interpretação da
história era essencialmente idealista. Agora, o idealismo fora despejado do seu
último reduto - a concepção da história -, substituída por uma concepção materialista
da história, com o que abria o caminho para explicar a consciência do homem pela
sua existência e não esta pela sua consciência, que era até então o tradicional.
Fonte: https://pcb.org.br/portal/docs/dosocialismoutopico.pdf
Mesma fonte em alemão: http://www.mlwerke.de/me/me22/me22_287.htm

Ainda Sobre o Materialismo, n’O Livro de Citações do Presidente Mao Zedong, o tema é
discutido no seu segundo capítulo: “Luta de classes, umas classes triunfam e outras são eliminadas.
Assim é a história, assim é a história da civilização, desde há milhares de anos. Interpretar a história
a partir desse ponto de vista é materialismo histórico; sustentar o ponto de vista contrário é
idealismo histórico.”
Sobre a dialética, Engels discorre:
A consciência da total inversão em que incorria o idealismo alemão levou
necessariamente ao materialismo; mas não, veja-se bem, àquele materialismo
puramente metafísico e exclusivamente mecânico do século XVIII. Em oposição à
simples repulsa, ingenuamente revolucionária, de toda a história anterior, o
materialismo moderno vê na história o processo de desenvolvimento da
humanidade, cujas leis dinâmicas é sua missão descobrir. Contrariamente à idéia da
natureza que imperava entre os franceses do século XVIII, assim como em Hegel,
em que esta era concebida como um todo permanente e invariável, que se movia
dentro de ciclos estreitos, como corpos celestes eternos, tal como Newton os
representava, e com espécies invariáveis de seres orgânicos, como ensinara Linneu,
o materialismo moderno resume e compendia os novos progressos das ciências
naturais, segundo os quais a natureza tem também a sua história no tempo e os
mundos assim como as espécies orgânicas que em condições propícias os habitam
nascem e morrem, e os ciclos, no grau em que são admissíveis, revestem dimensões
infinitamente mais grandiosas. Tanto em um como em outro caso, o materialismo
moderno é substancialmente dialético e já não precisa de uma filosofia superior às
demais ciências. Desde o momento em que cada ciência tem que prestar contas da
posição que ocupa no quadro universal das coisas e do conhecimento dessas coisas,
já não há margem para uma ciência especialmente consagrada ao estudo das
concatenações universais. Da filosofia anterior, como existência própria, só
permanece de pé a teoria do pensar e das suas leis: a lógica formal e a dialética. O
resto dissolve-se na ciência positiva da natureza e da história.
Fonte: https://pcb.org.br/portal/docs/dosocialismoutopico.pdf
Mesma fonte em alemão: http://www.mlwerke.de/me/me22/me22_287.htm

Não fosse o destaque daqueles que arrotam suposto conhecimento filosófico, a penúria
intelectual (em não ler um texto que é tido como basilar na formação de qualquer um que deseja ao
menos se aproximar da literatura marxista) seria risível. No entanto, estes comentadores têm
ganhado destaque! Se ao rir do comunicador Ian Neves estes comentadores refutassem toda a obra
Engelsiana e o todo o desenvolvimento ulterior do socialismo científico, talvez tais comentários
seriam dignos de nota. No entanto, estes comentadores regozijam do mal-uso dos termos e fazem
troça da teoria sem sequer ter tido contato com a teoria desenvolvida por Engels nem propor-se a
refutá-la.

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