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HISTORIOGRÁFICAS NO
SÉCULO XX
AULA 3
Crédito: Hydebrink/Shutterstock
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Propuseram um olhar sobre determinado ponto da história, pensando a
população de forma geral e os elementos econômicos, estabelecendo o que
chamamos de história crítica. Esse pensamento surge em oposição aos
preceitos da história positivista. Como vimos anteriormente, esse viés mais
crítico também aparece na Escola de Annales, na primeira e na segunda
geração.
Essa concepção crítica da história opõe-se à concepção positivista, à
medida em que compreende e trabalha os chamados grandes processos da
história, lidando com períodos que são relativamente mais longos e com grandes
estruturas, que têm relação com mudanças mais lentas que são trabalhadas no
nível econômico.
Ao invés de se trabalhar com uma história mais pontual, factual, a história
apenas de um elemento, como uma personalidade ou uma referência política,
grandes processos passam a ser pensados.
Nesse sentido, observamos que a concepção de história total ou global, à
medida que se aproxima das ideias da Escola dos Annales, se distancia da visão
positivista dos estudos e registros historiográficos.
O ideário de Marx e Engels influenciou os estudos e as produções
acadêmicas em diferentes áreas, como a sociologia, antropologia, filosofia etc.
“Karl Marx e Friedrich Engels foram uma das mais importantes duplas
intelectuais da História do mundo. A teoria desenvolvida pelos dois tornou-se a
base para o comunismo que molda visões até os dias de hoje, sendo o principal
fruto dessa parceria” (Barreiros, 2020).
Para a historiografia, o pensamento marxista influenciou gerações de
historiadores. Marx entendia a história como uma ciência em processo de
elaboração permanente. Em consonância com esse entendimento, podemos
pensar que a todo momento há uma modificação contínua da história.
Marx e Engels propõem que o vetor modificador da história se refere à
maneira como o homem produz e se organiza dentro de determinado período,
considerando o embate que se dá entre diferentes (para não dizer antagônicos)
grupos sociais.
Nesse momento de nosso estudo, convém contextualizar o cenário da
Europa na segunda metade do século XIX, com as mudanças que aconteceram
na Inglaterra na chamada Segunda Fase da Revolução Industrial. Marx e Engels
vivenciam esse momento de revolução, durante o qual observam o fosso que se
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estabelece entre dois grupos sociais, definidos como classes: o proletariado,
figura histórica daquele que vende a sua mão de obra para alguém que detém o
meio de produção, a burguesia.
Considerando esse embate entre as classes, Marx e Engels estruturam
os seus estudos, com base nos quais propõem conceitos que buscam entender
os elementos históricos que constituem a sociedade capitalista industrial inglesa.
Saiba mais
A leitura da obra Manifesto comunista, de Karl Marx e Friedrich Engels, é
de grande valia para você conhecer esse pensamento que tanto influenciou a
nossa sociedade. Já traduzida e publicada por várias editoras, a obra também
está disponível em domínio público. Acesse o link para conhecer:
TEMA 2 – CONCEITOS-CHAVE
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civilizações. Mas como podemos esmiuçar esse entendimento? Se pensamos
no escravismo, feudalismo ou capitalismo, por exemplo, há um embate entre a
classe que detém os meios de produção e a classe que emprega a sua mão de
obra na produção material.
Com esse entendimento, é importante reconhecer que, de acordo com a
teoria marxista, essas estruturas chegariam a um processo revolucionário, ou
ainda seriam desenvolvidos outros métodos em direção a uma sociedade sem
classes, sem distinções entre proletariado e burguesia. Podemos afirmar que, na
concepção marxista, teríamos um modelo socialista. Depois, com outras
mudanças estruturais, seguiríamos para um modelo definido como comunismo,
estágio marcado pela total eliminação das classes.
Aqui, devemos retomar o conceito de classe com a concepção de
estratificação. Ao analisar diferentes períodos históricos, veremos grupos
estratificados (dominantes e dominados), que de diferentes maneiras acabam
por estabelecer relações com base no viés daqueles que detêm os meios de
produção sobre aqueles que são tutelados.
Crédito: CC/PD.
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noção de trabalho, situação em que a mão de obra vendida é associada aos
meios de produção. As relações de produção referem-se a uma combinação que
se estabelece entre o trabalhador (escravo, servo ou proletário, dependendo do
momento histórico) e aquele que detém o meio de produção.
Marx e Engels definiam como mais-valia o processo de exploração da
burguesia, que detém o meio de produção sobre o proletariado. Porém, como
podemos conceituar essa ideia? É preciso entender que mais-valia é a diferença
entre o valor final da mercadoria produzida e a soma do valor dos meios de
produção e do valor do trabalho, resultando na base do lucro do sistema
capitalista.
No pensamento marxista, a noção de mais-valia é garantida pela relação
estabelecida entre a posse dos meios de produção (burguesia), a venda da mão
de obra (proletário), o valor da mercadoria vendida por uma soma superior ao
valor investido na produção e, por fim, o tempo de trabalho vendido por dinheiro.
Figura 1 – Mais-valia
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Saiba mais
O termo dialética vem do grego dialegos. Significa movimento de ideias,
sendo a arte do diálogo em forma de debate. São muitas as obras que abordam
a dialética marxista. Você pode ampliar seu repertório de leitura com a obra
Introdução ao materialismo dialético, de August Thalheimer, em acevo digital
disponível em:
Sob o viés marxista, a história deve ser pensada no seu conjunto e nas
relações de produção que se estabelecem nas sociedades. Nesse sentido, uma
das principais contribuições de Marx e Engels para os estudos da história é
pensar os períodos históricos em relação a uma categoria, aquilo que o ser
humano produz. No cerne desse pensamento, temos a reflexão sobre como o
homem sobrevive ou como ele se coloca dentro da história, manipulando a
natureza em seus meios de produção.
Ao considera a existência de diferentes civilizações, observamos que
esses processos de produção são, geralmente, coletivos, desenvolvidos em
grupos.
Vamos pensar nas seguintes questões: O ser humano é capaz de
produzir? Como e para quem ele produz? Há relevância dessa produção para
que ele sobreviva? Com esses questionamentos, chegamos à ideia de que o
homem, para sobreviver, precisou produzir. Daí advém a base dos estudos
históricos sobre o elemento material, o que chamamos de materialismo dialético.
Nesse sentido, é importante no momento entender o materialismo
dialético como sendo conspecção filosófica marxista em que os fenômenos
físicos, o ambiente e os seres que nele habitam moldam a cultura e a sociedade,
ao mesmo tempo em que são moldados por eles.
Na história dos agrupamentos humanos, é notável como o ser humano
desenvolveu maneiras diferentes de manipular e produzir a partir do que a
natureza provê. Daí temos a ideia de que a produção desse material nos ajuda
a identificar como o ser humano se organiza e vive em determinado contexto
temporal e geográfico.
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Para Marx e Engels, a ação produtiva humana tem caráter ontológico. O
que isso significa? O ser humano nasce com a capacidade e a propensão de
produzir meios para a sua subsistência. A forma como a sociedade utiliza essa
capacidade de produzir molda a sociedade.
Diante disso, entendemos que a forma de produzir molda todos os
aspectos da sociedade: aspectos sociais, políticos, econômicos, culturais etc.
Assim, temos para a historiografia a concepção de que, ao mesmo tempo em
que o homem produz a sua existência e constrói a vida em sociedade, ele
também é moldado por ela, em uma relação de via dupla. A partir do viés
marxista, pensamos a história como materialismo.
Saiba mais
A Revolução Bolchevique é o movimento revolucionário em que o Partido
Bolchevique, liderado por Vladimir Lênin, derrubou a monarquia russa e
estabeleceu o governo socialista soviético. Para saber mais sobre esse
movimento que marcou história, acesse o link:
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Figura 3 – Estátua de Vladimir Lenin. Moscou, Rússia
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de aspectos relacionados à teoria marxista em outras localidades,
disseminando-se pela Europa Ocidental.
Neste momento de nosso estudo, é importante entender que a
experiência ditatorial que aconteceu na Rússia abalou as ideias marxistas na
Europa. Além disso, na sequência dos fatos instaura-se o período que
chamamos de Guerra Fria, e com ele a seguinte bipolaridade: de um lado o
modelo capitalista americano, e do outro o modelo socialista soviético.
Nesse cenário, compreendemos que direcionar a atenção para um ou
outro modelo já era visto como ato de abraçar uma causa política. Diante disso,
temos o surgimento de diferentes vertentes no marxismo, com pulverização de
questionamentos a respeito da utilização da teoria. Os adeptos dividem-se entre
aqueles que pensam o marxismo sob um olhar político e aqueles que pensam o
marxismo como teoria para análise histórica, buscando outro modelo de
socialismo que não aquele aplicado na União Soviética.
Vamos avançar no entendimento dessa pulverização de ideias,
direcionando o nosso olhar aos estudos de Michael Löwy, na França da década
de 1990. Para esse estudioso do marxismo, o pensamento de Marx é crítico e
emancipador, integrando discussões mais contemporâneas. Sabemos que o
marxismo contribuiu para a criação de movimentos sociais espalhados
mundialmente. Podemos perceber isso nas manifestações mundiais que
aconteceram na segunda metade do século 20, nos anos de 1950 e 1960.
Nesta disciplina, é importante esclarecer que, a partir da década de 1960,
o pensamento marxista foi colocado em xeque, reformulado e revisitado. Vários
estudiosos realizam essas reflexões. Autores como Eric John Ernest Hobsbawm
(1917-2012) e Edward Palmer Thompson (1924-1993) revisitam o pensamento
de Marx e apresentam novas ideias sobre ele.
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Saiba mais
Intelectual com grandes contribuições no século XX, são muitas as
publicações de Eric Hobsbawm. Na obra Como mudar o mundo, o historiador
apresenta uma reflexão consistente e contextualizada sobre o marxismo
(Hobsbawm, 2011, p. 21):
• Nossa capacidade produtiva possibilitou, pelo menos
potencialmente, que grande parte dos seres humanos
passasse do reino da necessidade para o da afluência, da
educação e de opções de vida antes inimagináveis, embora a
maior parte da população do mundo ainda esteja por entrar
nesse domínio. No entanto, durante a maior parte do século
xx, os movimentos e regimes socialistas ainda atuavam
essencialmente dentro do reino da necessidade, mesmo nos
países ricos do Ocidente, onde surgiu uma sociedade de
afluência popular nos vinte anos que se seguiram a 1945.
Contudo, no reino da afluência, os objetivos de alimentação,
vestuário, habitação, empregos para garantir renda e um
sistema de bem-estar social para proteger as pessoas das
vicissitudes da vida, ainda que necessários, já não constituem
um programa suficiente para os socialistas.
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ao socialismo marxista, que se enquadrassem no contexto social e político do
século XX.
Saiba mais
Amplie seu repertório de leitura e conheça o livro A Escola de Frankfurt:
história, desenvolvimento teórico, significação política, de Rolf Wiggershaus.
Outra indicação é o livro Grande Hotel Abismo: a Escola de Frankfurt e seus
personagens, de Stuart Jeffries. Ambas as obras são uma leitura esclarecedora
sobre o pensamento frankfurtiano.
Crédito: CC/PD.
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Diante disso, neste momento de nosso estudo nos importa entender que
esse pensamento tem uma grande influência para a educação, atribuindo a ela
um possível processo de emancipação. Um dos conceitos defendidos por
Gramsci, o de contra-hegemonia, afirmava existir uma hegemonia imposta por
um grupo social, a classe social dominante, via Estado inclusive. Seria possível
reverter essa situação por meio da educação.
Neste momento de nosso estudo, convém questionar como Gramsci via
essa dominação. Para ele, a dominação não se dava apenas pelo viés
econômico. Tal domínio apresentava também uma característica política, pois
acontecia e se mantinha pela força ideológica. Essa força garantia o domínio
sobre as pessoas, alicerçando uma situação de sujeição de consentimento
dessas classes subalternas ou desses grupos.
Daí advém um dos pensamentos importantes dessa concepção filosófica
na figura do intelectual. Para Gramsci, essa pessoa era fundamental porque se
constituía como ser capaz de produzir uma cultura diferencial ou um elemento
diferencial em relação à chamada cultura dominante. Para isso, propunha uma
inversão, por meio da ampliação do leque de manifestações culturais que
abrangessem a cultura popular.
Vimos até aqui apenas alguns elementos sobre as duas vertentes que
foram importantes para a formação do pensamento filosófico contemporâneo e
para os estudos históricos e a historiografia como um todo. A partir das décadas
de 1950 e 1960, notamos grandes influências no Brasil, justamente porque
edições de obras produzidas na Europa começavam a chegar ao país.
Podemos citar, nesse contexto, estudiosos e filósofos como Theodor
Adorno, Max Horkheimer, Friedrich Pollock, Herbert Marcuse e Walter Benjamin.
Tais historiadores e filósofos tiveram influência do marxismo, e também
influenciaram, além da história, outras áreas do conhecimento, como a
psicologia e a sociologia.
NA PRÁTICA
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preferências e desejos? Qual é o grupo que, de alguma maneira, mantém ou
garante essa forma de condução ideológica da nossa sociedade?
FINALIZANDO
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REFERÊNCIAS
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