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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO
TRIÂNGULO MINEIRO
CURSO DE GRADUAÇÃO EM
HISTÓRIA

AVALIAÇÃO INDIVIDUAL

Teoria da História II

Discente: Maria Eduarda Silva

UBERABA, 17 de Outubro de 2022


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Para que serve a história?
Esta questão é levantada pelo filho do historiador March Bloch e é caríssima para os
historiadores, afinal, trata-se de pautar a finalidade de sua profissão, seu ofício. Diante de um
senso comum, havia a formulação de que a história seria um estudo do passado; dos grandes
fatos, datas, heróis e, além disso, um campo que analisaria documentos oficiais e seria uma
história oficial, ou seja, veiculada exclusivamente ao Estado e as suas concepções e
formulações.
Entretanto, em sua obra intitulada “Apologia da História ou o ofício do historiador”,
Bloch consolida a visão de que a história sobretudo é uma ciência e, além disso, faz um
estudo dos homens no tempo, desvencilhando-se da ideia de que a história veicula-se
exclusivamente com o passado. Dentre suas analogias excepcionais ele descreve que: “Já o
bom historiador se parece com o ogro da lenda. Onde fareja carne humana sabe que ali está
sua caça”. (BLOCH, 2001, P. 54)
Partindo desse princípio, é necessário compreender que por se tratar de uma ciência a
história se atrela a teoria e a algumas linhas teóricas que buscam formular como são feitas as
análises dentro desta ciência humana. Uma dessas linhas teóricas, não formulada por
historiadores e nem necessariamente para o campo histórico, é o Materialismo Histórico
Dialético de Karl Marx e Friedrich Engels. Popularmente é mais difundida como marxismo e
atrelada somente ao primeiro teórico, porém uma das excepcionalidades da mesma é ter sido
formulada em conjunto e fazer uma interdisciplinaridade entre filosofia, economia e política.
Nesse sentido, para entender-se as proposições da teoria, é crucial conseguir realizar a
seguinte análise: para Marx e Engels qual a relação entre o sujeito e o meio? A resposta
concerne no sentido de que o ser supre sua necessidade de existência material através do
trabalho, portanto transforma seu meio tal qual seu meio o transforma estabelecendo as
relações de trabalho e todo sujeito é portador dessa força de trabalho. Entretanto, no modo de
produção capitalista há uma hierarquia na qual aquele que vende sua força de trabalho é
explorado, estabelecendo assim o que estes teóricos nomeiam como mais-valia.
Além disso, a análise feita por eles conceitua uma passagem da história humana por
modos de produção e que estes modos se esgotariam, superados por outro e nesse meio são
estabelecidas as relações sociais que regem o funcionamento desses sistemas, além disso, o
próprio modo de produção cria a classe que teria de superá-lo, no caso do modo capitalista em
vigor, a classe seria a operária. Marx e Engels trabalham nesse sentido com as contradições
internas estabelecidas dentro das sociedades ocasionadas por essas hierarquias estabelecidas
nos modos produtivos. Sendo assim, segundo Eric Hobsbawn:

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“A importância dessas peculiaridades do marxismo se encontra no campo
da história, pois são elas que lhe permitem explicar – ao contrário de outros modelos
estruturais-funcionais de sociedade – por que e como as sociedades mudam e se
transformam: em outras palavras, os fatos da evolução humana”. (HOBSBAWAN,
2007, P. 161)
A consolidação da aposta de Marx na contradição pode ser vista na análise feita por
ele em “O 18 de Brumário de Luis Bonaparte”, no qual além de fornecer uma visão
importante da capacidade humana de transformar o meio:
“Os homens fazem a sua própria história; contudo, não a fazem de livre e espontânea
vontade, pois não são eles quem escolhem as circunstâncias sob as quais ela é feita,
mas estas lhes foram transmitidas assim como se encontram. A tradição de todas as
gerações passadas é como um pesadelo que comprime o cérebro dos vivos”.
(MARX, 2011, P. 25)
Sintetiza uma crítica à classe operária que cede a uma conciliação com a burguesia nos
movimentos revolucionários de 1848 e com isso, a revolução estava morta e o golpe
instaurado por Luis Bonaparte circunscrito, já que o novo não poderia se construir com a
conciliação, mas sim com as contradições que fermentam a revolução em busca de mudanças.
Outro ponto importante para a teoria é a relação de “base e superestrutura” na qual a
base representa a estrutura material, ou seja, as relações de força de trabalho e a superestrutura
representa uma estrutura espiritual na qual se pautam os aspectos das ideologias que regem as
relações internas e externas dos seres humanos. Estes dois aspectos se relacionam e se
determinam reciprocamente, dando proporção a vida em sociedade, impactando no constante
movimento e mudanças da sociedade.
Contudo, como adverte Hobsbawn, é necessário se atentar aos estudos teóricos sobre
Marx e dos estudos feitos pela herança marxista, pois há um movimento que ele denomina
como marxismo vulgar, no qual certos conceitos são simplificados e não aplicados de maneira
coerente. Além disso, alguns teóricos unem concepções contemporâneas à teoria e acabam
por assimilar à Marx conceitos não postos por ele ou por equivocar-se ao dizer que ele foi o
responsável pela criação de conceitos como o da “luta de classes”. Apesar de apostar na
contradição e admitir a existência desse conceito, Marx não o cria, apenas o engloba no
tocante interdisciplinar de sua teoria.
A principal característica dessa vulgarização é atribuir apenas um caráter econômico à
teoria, em alguns casos nomeando-a como “Determinismo Econômico”. Essa linha de
pensamento presume que a base determina a superestrura, o que nas relações estabelecidas no
meio social representaria-se apenas no campo da economia, não considerando as proposições
filosóficas e políticas da teoria. Desse modo, não é considerado a contribuição total de Marx e
Engels para o campo da história, dando um viés simplista as ideias por eles formuladas.
Em suma, o Materialismo Histórico e Dialético é uma teoria crucial que trouxe muitas

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contribuições para o campo histórico, mas deve ser compreendida dentro de suas devidas
proporções, considerando o período em que foi formulada. Hobsbawn, faz uma defesa dessa
importância no texto “O que os historiadores devem a Karl Marx?” – um capítulo da obra
“Sobre História”. Seu argumento central está na argumentação de que o valor principal de
Marx para os historiadores hoje reside em suas proposições sobre a história, enquanto
distintas de suas proposições sobre a sociedade em geral (HOBSBAWN, 2007, P. 160).
Portanto, é necessário compreender o que Marx e Engels propõe em relação à evolução das
relações humanas no tempo, afim de evitar vulgarizações.

BIBLIOGRAFIA
BLOCH, Marc. Apologia da História ou o Ofício do historiador. Rio de Janeiro: ed.Zahar,
2001.
HOBSBAWM, E. O que os historiadores devem a Karl Marx? In. HOBSBAWM, E. Sobre
história. Ensaios. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 155-170.
MARX, Karl. O 18 de Brumário de Luís Bonaparte. São Paulo: Boitempo, 2011.

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