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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO


CURSO DE GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA

Maria Eduarda Silva

PRINCIPAIS CONTROVÉRCIAS ENFRENTADAS PELOS CONSPIRADORES PARA


COLOCAR EM PRÁTICA O “ROMPIMENTO COM PORTUGAL” DURANTE A
INCONFIDÊNCIA MINEIRA

Uberaba
2021
Maria Eduarda Silva

PRINCIPAIS CONTROVÉRCIAS ENFRENTADAS PELOS CONSPIRADORES PARA


COLOCAR EM PRÁTICA O “ROMPIMENTO COM PORTUGAL” DURANTE A
INCONFIDÊNCIA MINEIRA

Texto acadêmico apresentado à disciplina


História de Minas Gerais do Curso de História,
da Universidade Federal do Triângulo Mineiro.
Prof. Dr°. Flávio Saldanha.

Uberaba
2021
Quando se fala na Conspiração intitulada “Inconfidência Mineira” somos levados a pensar que tal
movimento foi um levante social em prol da libertação do Brasil tendo como principal líder a figura de
Tiradentes. Entretanto, é necessário relativizar essa visão construída acerca desse marco na história
brasileira e estudá-lo buscando fugir dos anacronismos à que estamos sujeitos, analisando as figuras por
trás desse movimento, suas reais motivações para idealizá-lo, seus objetivos e sobretudo, perceber que esse
processo não foi homogêneo e sim rodeado de controvérsias. Nesse texto farei uma tentativa de destacar as
controvérsias centrais as quais os conspiradores tiveram de enfrentar para colocar em prática o “rompimento
com Portugal”.
Em primeiro plano, devemos voltar nosso olhar ao contexto da capitania de Minas Gerais no século
XVIII. Nesse período ainda se explorava ouro de forma predatória na região e havia a idealização de uma,
Minas rica em que a ascensão social era facilmente alcançada, e com grande desenvolvimento interno, nesse
contexto dizia-se que Minas era a região mais rica da colônia brasileira. Entretanto, como destacado pela
autora Laura de Mello e Souza na obra “Desclassificados do Ouro”:

Em boa e pura verdade nunca houve a tão propalada riqueza, a não ser na fantasia
amplificadora de escritores inclinados às hipérboles românticas. (...) A realidade foi bem diversa.
Nem riqueza, nem grandezas. Apenas o atraso econômico e a pobreza, como herança dum
desvairamento fugaz, próprio de todas as Califórnias (SOUZA,2004, p.45).

Sendo assim, ao analisarmos o processo de desenvolvimento da conspiração, devemos considerar


esse cenário de desigualdades sociais e econômicas da região das Minas. Dando continuidade, e pensando
nesse contexto de oposição entre opulência e pobreza, vê-se a região das Minas saindo do seu cenário de
apogeu econômico da extração aurífera e entrando na escassez do ouro de aluvião extraído. Isso somado à
falta de tecnologia para se extrair o ouro de camadas mais profundas do solo e a alta cobrança de impostos
da Cora que mesmo com essa redução extrativa não diminuía, várias figuras da oligarquia Mineira naquele
momento se viram endividadas com a Fazenda Real correndo risco de perder toda a sua fortuna e ainda
como exposto no livro “A Devassa da Devassa” de Kenneth Maxwell figuras pontuais como Padre José da
Silva de Oliveira Rolim foi expulso da capitania e teve seu pedido de revogação negado prejudicando seus
esquemas comerciais corruptos. Todos esses pontos apresentados levaram os indivíduos centrais
classificados por Maxwell em três níveis — ativistas, ideólogos e interesses financeiros — a pensar e iniciar
essa empreitada disfarçada de levante social. Aqui esses indivíduos não pensavam em uma revolução que
proporcionasse mudanças profundas na estrutura social que se tinha e sim que sua situação financeira
retornasse à prosperidade.
Pensando nisso, vemos que não houve um levante social popular para a inconfidência. Os
idealizadores do movimento pretendiam se aproveitar do tumulto que provavelmente ocorreria com a
deflagração da Derrama para iniciar sua revolta armada, usando a população como massa de manobra. Por
isso, fica claro que não foi um movimento homogêneo e, além disso, estava cercado de controvérsias: eles
não se entendiam quanto ao tratamento que deveria ser dado ao Visconde de Barbacena, dado que
alguns defendiam sua expulsão da capitania e outros eram adeptos de sua execução. Figuras como a
de Tomás Antônio Gonzaga acreditava que a execução do governador expressaria a irreversibilidade
do levante e segundo o que se pode concluir, a segunda opção foi a aceita, ainda que contrariasse o
posicionamento de outros envolvidos.
Em segundo lugar, tivemos a questão escravista. A discordância central do assunto se pautava
na questão de primeiramente a maior população da região das Minas ser composta por negros
escravizados, desse modo temia-se uma revolta dessa camada popular em decorrência da promessa
de liberdade, fazendo esses escravizados se oporem à população branca livre. Para alguns como José
de Alvarenga Peixoto a libertação dos escravizados seria benéfica ao movimento, pois os
transformaria em defensores fiéis da nova República que pretendiam instalar. A segunda questão
estava em torno da visão de pessoas como José Alvares Maciel, que ao contrário de Peixoto pensava
na libertação dos escravizados como autodestrutiva, visto que com eles libertos os proprietários não
teriam mão-de-obra para trabalhar nas Minas. Por fim, a solução encontrada pelos inconfidentes
proposta e aceita: seriam libertos apenas os negros e mulatos nativos do Brasil, ou seja, apenas aqueles
que aqui nasceram, em prol da defesa do Estado, sem quaisquer menções de compensação.
Em terceiro lugar, a controvérsia enfrentada foi o destino dos estrangeiros que viviam na região.
Parte acreditava que a melhor solução seria executá-los, porém, para outros, esse tratamento foi
considerado impiedoso, pois pensavam que nem todos seriam contrários ao movimento e, além disso,
muitos parentes, credores e até mesmo alguns envolvidos no movimento de rompimento com a Coroa
eram estrangeiros portugueses e a República precisava do apoio dessa população. Decidiu-se então,
manter na capitania aqueles fiéis e defensores da nova República. Por fim, tivemos a questão da
bandeira e das armas da República à qual os dois principais pontos de vista são de Joaquim José da
Silva Xavier — mais conhecido como Tiradentes — e José Alvarenga Peixoto. Xavier sugeriu que a
bandeira tivesse um símbolo triangular que representasse a Santíssima Trindade, aludindo às cinco
chagas de Cristo crucificado de armas portuguesas, já Peixoto pensava que a melhor opção seria um
indígena quebrando a cadeia opressiva da Coroa com a inscrição em latim de Virgílio: “Libertas quae
sera tamen”, que significa “liberdade ainda que tardia”. Ao que se sabe a proposta de Peixoto obteve
maior sucesso.
Em suma, a Inconfidência Mineira foi um movimento extremante conservador, nada
homogêneo, sem qualquer proposta de mudanças estruturais das questões social e econômica da
região e sem participação de camadas populares. O levante e organização para que o “rompimento
com Portugal” ocorresse estava centralizado naqueles que detinham influência e poder econômico
que buscavam liquidar suas altas dívidas com a Fazenda Real, usando a população como disfarce de
seus interesses. Concluindo que os que tinham mais a ganhar com o rompimento com Portugal era,
evidentemente, os abastados plutocratas ameaçados de perder todo seu patrimônio nos processos da
Fazenda Real (MAXWELL, 2010, p. 212).

Referências bibliográficas

MAXWELL, Kenneth. Conspiração. In: A Devassa da devassa: a Inconfidência Mineira, Brasil – Portugal,
1750-1808. pp. 191-228.

SOUZA, Laura de Mello e. O Falso Fausto. In: Os Desclassificados do Ouro: a pobreza Mineira no século
XVIII. p. 33-75.

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